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Detox Literário.

Samsara (Jorge Santos)

1

O pequeno corpo estava enrolado sobre si próprio, confortável no escuro do ventre materno. Escuta com atenção os sons que ouve, em especial uma voz que sobressai. A ternura do timbre da voz da mãe deixa-lhe uma marca profunda, um verdadeiro contrato de amor.

Observava-o desde o seu primeiro pensamento. Faço parte da vida, mas só alguns conseguem dar pela minha existência. Existo em todos os seres que têm consciência, independentemente da espécie, da raça ou credo. Alguns chamam-me de Alma.

Já habitei um número infindável de vidas e aprendi que cada ser é uma forma diferente de sentir. Cada vida é um filme por estrear, sempre único e surpreendente. Gosto especialmente de ser a alma dos animais. Dizem que o animal não tem alma só porque não não consegue exprimir o que pensa. Quem isso afirma engana-se. Admiro a lealdade e frontalidade dos animais, sem um pingo de hipocrisia. No homem, só encontro este estado na infância. À medida que cresce a pureza dilui-se. Transforma-se em arrogância e inveja no contacto com os outros da sua espécie, num processo de corrupção que sempre estranhei.

A mãe está mais agitada do que é hábito. Sente que está na hora. O bebé dorme aquele que será o seu último sono intrauterino.

2

De entre todas as espécies de bicho inteligente, o homem é o único que pressente a minha existência. Usa-me nas suas religiões, corrompendo aquilo que na realidade sou. O conceito de Céu e de Inferno é especialmente anedótico. Entregar a alma ao criador, vender a alma ao diabo. Sou usada para aterrorizar e controlar, mas continuo sempre incompreendida.

Só o ser mais puro sabe a verdade: habito no brilho do olhar de quem ama e na lágrima de quem perde. Promovo a empatia, uma tarefa destinada ao fracasso no meio do ódio e da guerra: mas não desisto. Um dia assistirei ao triunfo do Homem, quando este perceber que a verdadeira força reside no respeito pelos outros. Até lá, habitarei nos seus espíritos, terei ilusões e desilusões.

3

Hoje é o dia mais importante da vida do pequeno ser cujo espírito habito. Agita-se no útero materno. Pressente que está na hora. Mesmo assim, a primeira contração atinge-o de surpresa. Sente a pressão que o expulsa. A ansiedade aumenta. O pequeno coração acelera. Parece que lhe sai do peito. Não tenta compreender o que se passa. Confia na natureza. Sabe que faz parte dela.

A segunda contração é mais forte. Sente o sofrimento da mãe. Neste momento, são um, partilhando do mesmo corpo.

Já assisti a milhares de lutas como esta. A Morte assiste também, torcendo, tal como eu, para que a criança sobreviva, porque nada há de mais triste do que uma vida que não acontece. É assim desde sempre. a dualidade eterna da morte e da vida. Os extremos que apenas se encontram no momento do nascimento, e isso diz tudo da importância da tremenda luta que a mãe e o filho partilham.

A nova contração faz a mãe berrar. O bebé ouve. Também quer gritar. A dor é partilhada. Dizem que as mães devem ter dores no parto para que os bebés não as tenham. Eu, que vivi milhares de nascimentos, sei que isso é uma mentira: a dor da mãe é a dor do bebé, e vice-versa.

Ouvem-se as vozes aflitas dos médicos e enfermeiros. Sinto nas suas almas uma ansiedade crescente que se transforma num medo contido. São, acima de tudo, profissionais que não podem levar para casa as dores alheias. Por mais empatia que tenha a alma, sentir em excesso a dor dos outros pode destruir a pessoa. Há limites e estes profissionais sabem disso. Hoje é apenas mais um exemplo, uma mãe que luta pelo filho. Um filho que luta pela vida. 

Já exausta, a mãe arranja forças de onde pode para expulsar aquele que amou durante nove meses. O parto é um ato de amor violento, como todas as separações. A vida tem um preço elevado.

O bebé é tirado com a ajuda de ferros. Os médicos pegam nele, observam-no. Vejo nas suas almas a apreensão dos seus espíritos – são minhas velhas conhecidas, mas o momento não é de socializar.

A criança não respira.

É meu, diz a Morte, num ar impassível.

Sinto nas almas dos médicos o desejo de desistir. É neste momento que intervenho. Reclamo o meu direito à vida. Berro na linguagem das almas, à qual os ouvidos humanos são particularmente insensíveis. Os médicos começam a fazer o impossível. Usam máquinas e drogas que, no fundo, são a sua maneira de amar.

Nada parece funcionar.

Desisto. Preparo-me para abandonar aquele corpo que acompanho desde que ganhou consciência. Abandono os sonhos que tinha de o ver crescer. Partilho estes desejos com as almas dos pais. Partilho também as despedidas. Serei a alma de outro ser consciente. Recomeçar o caminho que faço desde sempre. Os hindus chamam a este processo de Samsara, reencarnação.

Preparo-me para partir. Abandono o palco desta vida.

No último instante, o milagre acontece: primeiro, o bebé, dois quilos de gente de pele arroxeada pelo esforço,  começa por respirar de forma irregular, depois irrompe num choro incessante, que é a forma como os humanos anunciam a sua chegada.

A Morte, na sua infinita paciência, fica à espera do seu inevitável momento. Por enquanto, o bebé é meu e acompanharei o seu destino, estarei nas suas alegrias e nas suas tristezas, nas dores e angústias. Ajudá-lo-ei a ser grande, a florescer e a tornar-se Luz.

Sobre Fabio Baptista

16 comentários em “Samsara (Jorge Santos)

  1. Regina Ruth Rincon Caires - Caires
    3 de março de 2024

    Samsara (Atman)

    Átma, ou Atman, é o termo usado no hinduísmo para alma (espírito, ou consciência) e princípio de vida (sopro). A alma individual é semelhante à alma universal (Brama). No hinduísmo também significa aquilo que é imutável, indivisível e eterno, a verdadeira natureza das coisas.

    Samsara ou Sansara é uma palavra páli/sânscrita que significa “mundo”. É também o conceito de renascimento e “ciclicidade de toda a vida, matéria, existência”, uma crença fundamental da maioria das religiões indianas. Popularmente, é o ciclo de morte e reencarnação.

    Um texto que exterioriza a eterna retórica sobre vida e morte, que mostra como a relação entre elas sempre foi e sempre será infinitamente estreita.

    Impecável a maneira de contar os momentos que precedem o parto e o instante da expulsão (neste caso, com fórceps). Descrição feita com primor. Dar à luz é momento bonito, mas sofrido. Ainda bem que, em pouco tempo, essas dores caem no esquecimento.  E a humanidade cresce. Confesso que a leitura de alguns parágrafos provocou um constante “ajeitar” na cadeira. As contrações, a força, a dor, a exaustão, tudo isso traz lembranças. E mexeram com a leitora…  

    O autor colocou em debate a luta entre a vida e a morte sem demonizar a reflexão. Não há bem e mal nessa dialética. Havendo vida, a morte é inevitável. E neste intervalo de tempo, apenas SOMOS (ou não somos).

    Conto bem estruturado, trama perfeita, desfecho que apazigua a alma. Jesus!

    Samsara, parabéns pelo trabalho significativo!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço…

  2. Daniel Reis
    2 de março de 2024

    Samsara (Atman)

    Comentário: um conto diferente, no qual a alma (ou atman, aqui atuando no papel de “espírito guardião”) é o narrador de uma criança ainda no ventre da mãe. Dissociada do corpo ou mesmo do espírito desse ser (uma das muitas digressões filosóficas/ontológicas ao longo do texto), essa consciência reflete sobre a questão da existência e narra o processo traumático de um nascimento complicado, com fórceps e parada respiratória.

    Critérios de avaliação:

    Premissa: o ponto de partida seria a situação do nascimento de um ser, do ponto de vista de uma entidade superior (a alma), constrói o caminho óbvio para o clímax (que seria o nascimento tumultuado) e conclui na redenção do ressuscitamento (aí sim, o ponto que identifiquei como aderente ao tema do desafio – o recomeço).

    Construção: o texto é visivelmente construído em português de Portugal, tanto em escolha vocabular quanto na grafia de determinadas palavras (com c dobrado, p. ex.). No entanto, é perfeitamente entendido por nós, brasileiros, e isso em nada prejudica a avaliação – acho até que, ao contrário, nos mostra uma maneira diferente de construção de narrativa. O texto flui bem, ainda que tenha muitos pontos de reflexões filosóficas complexas, e conduz satisfatoriamente até a conclusão.

    Efeito: o efeito geral é bom, ainda que, em alguns pontos, as elucubrações filosóficas forcem um pouco a uma visão ontológica própria ao autor, da qual nem sempre os leitores poderão compartilhar  – um ponto de vista próprio, mais do que compartilhado, praticamente “estabelecido” ao leitor, que precisa ao menos compreendê-lo para fruir a leitura até a conclusão.

  3. Antonio Stegues Batista
    1 de março de 2024

    O narrador do conto é a Alma. Na primeira parte explica o que é, onde habita, quem habita. Expõe seus sentimentos como alma que é. Na segunda parte, destaca alguns conceitos de ser e estar sendo. Tem uma certa afeição pelo ser humano, ou seja, o corpo que habita, detém-se nos detalhes do parto. A criança não respira e nesse momento entra a Morte em cena e reivindica o recém nascido, mas não é a Vida como personagem que reanima a criança e sim os médicos com seus aparelhos, a criança ressuscita, a Morte vai embora e a Alma volta a habitar a criança. Acho que essa parte poderia ser melhor elaborada, achei frágil o argumento, mas o texto como metáfora é interessante. Escrita normal, coerente e precisa.

  4. Givago Thimoti
    29 de fevereiro de 2024

    Samsara (Atman)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

    Impressões iniciais 

    + Texto tão curtinho (parece que faltou até um pedaço) e bem escrito. Um relance da vida; tão curto e distante para o leitor, mas para quem viveu, um verdadeiro enorme instante de sufocamento.

    – História toca, mas não empolga

             Alma (o que tocou ou não o leitor)

    Eu tive que reler algumas vezes para ter a sensação que eu realmente entendi a história. A relação de uma entidade sobrenatural (Alma) com a humanidade. Não foi a primeira vez que vi essa relação num conto neste desafio e, assim como nesse outro, vou replicar meu comentário-crítica. Não sei se retratar essa entidade enquanto Alma é apropriado para o que a personagem-entidade transpareceu para mim. Eu enxergo muito mais como “Humanidade” ou um espírito meio do espiritismo, talvez. Alma, ao meu ver, é algo tão individual, tão único e característico de cada humano que não consegui comprar a ideia dessa entidade-Alma meio universal que já habitou diversos corpos e experimentou diversas experiências. 

    Sem essa ligação, o conto fica meio frágil demais, dependente de arrebatar o leitor a partir daquele trecho clímax do “e aí, o bebê sobrevive ou não?”. Por outro lado, me agradou bastante a Alma, uma entidade com certeza poderosa, e a Morte, um tanto quanto sem o que fazer diante dos planos de um ser mais poderoso e, fora do alcance delas.

    Por ele ser pequenino demais e essa questão pessoal minha com a entidade-Alma, não acabei gostando do conto. Ainda assim, creio que o conto foi bem escrito e tem o seu valor tanto lúdico quanto literário dignos de reconhecimento. 

  5. Fernanda Caleffi Barbetta
    27 de fevereiro de 2024

    O texto é bom, mas em alguns momentos me questionei se é realmente um conto.

    Boa ideia colocar a alma como narradora.

    Pude ouvir em muitos trechos a voz do escritor, interessado em colocar sua opinião. Mas pode ser só uma impressão minha.

    Sugestão: começar o conto pelo número 3, que é a parte realmente boa. Na minha opinião 1 e 2 são desnecessários e enfraquecem o conjunto.

    “O pequeno corpo estava enrolado sobre si próprio” – achei estranha esta construção. Enrolado sobre? Talvez enrolado em si próprio. Ou apenas “o pequeno corpo estava encolhido”.

    Por que começa com pretérito imperfeito (estava), depois vai para o presente e volta ao pretérito?

    “um verdadeiro contrato de amor” – sugestão, tirar a palavra verdadeiro.

    Hoje é o dia mais importante da vida do pequeno ser cujo espírito habito – a alma habita o espírito?

    “À medida que cresce (vírgula) a pureza dilui-se”

    “É meu, diz a Morte, num ar impassível” –ela não torcia pela vida?

    Não entendi o finalzinho… tornar-se Luz? O que seria tornar-se Luz?

    • velhaescrita
      10 de março de 2024

      Olá, Fernanda. A ideia do ser humano tornar-se Luz tem a ver com a perfeição. Durante a vida, a pessoa segue o seu percurso. Transforma-se. Cada pessoa é diferente, com objetivos mais ou menos vulgares. Algumas superam-se nas suas áreas. Tornam-se seres de exceção, tornam-se Luz.

      • Jorge Santos
        10 de março de 2024

        Fernanda, onde está velhaescrita, leia-se Jorge Santos. Isto de ter várias contas do wordpress dá nisto. Mil desculpas.

  6. Vladimir Ferrari
    27 de fevereiro de 2024

    A propósito do texto, na “parte 1” é perceptível a falta de revisão, a repetição de termos desde o princípio (por exemplo: “ESCUTA com atenção os SONS que OUVE”), poderia ser mais cuidadosa, não “embolando” a narrativa. Já a “parte 2” se assemelha a outra narrativa, apesar da primeira frase soar um pouco estranha. A premissa em si é muito interessante, mas na minha opinião, retratar a alma como uma entidade, como a Morte, não “caiu” bem. Sucesso.

  7. fabiodoliveirato
    24 de fevereiro de 2024

    Samsara
    Buenas!
    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.
    Vamos lá!
    TÉCNICA
    Um conto lusitano. Não tenho como opinar sobre a parte gramatical, então vou me limitar à experiência como leitor.
    Gosto quando o conto é dividido em atos. Ajuda a organizar as ideias, facilita a leitura, no geral. Mas, neste caso, achei desnecessário. O segundo ato é apenas um comentário avulso, que poderia ter sido implementado no texto como um todo, e a divisão em atos confunde mais do que esclarece.
    No mais, a leitura foi tranquila, apesar da quebra de ritmo causado pelos atos, indicando uma boa escrita. 
    CRIATIVIDADE
    Admito que a história me causou certo estranhamento. Não pela Alma, não pela Morte, achei as ideias bem interessantes, principalmente a concepção e execução. Num dado momento, ao invés de focar no recomeço, a Alma, tão sábia e entendida, parece fazer uma crítica bem forte contra a humanidade. E isso não me pareceu ser opinião da Alma, mas sim do autor. Não costumo gostar quando panfletam na história. É possível criticar algo de forma mais sutil.
    O conto cumpre bem o tema, abordando os ciclos de forma geral (nota-se pelo título, haha), mas apresentando um recomeço sólido.
    CONSIDERAÇÕES FINAIS
    Não gostei muito do conto, admito. Alguma coisa no texto não me passa confiança, é como se fosse um emaranhado de ideias, tendo algo sólido e interessante apenas no final.

  8. Marco Aurélio Saraiva
    22 de fevereiro de 2024

    O texto lê mais como um poema do que como um conto. Ele também estica um pouco a definição do tema “recomeço”, mas com certeza o tema é aplicável aqui (eu gosto de contos que exploram o tema de forma diferente). Não há trama, nem cenas, nem evolução de personagens. É um momento, narrado de forma poética e cortado por várias reflexões sobre a natureza da alma e sobre a realidade humana na Terra.

    Gostei do final. Fiquei segurando a respiração enquanto o bebê não respirava, e realmente achei que ele não conseguiria. A tensão ali foi trabalhada muito bem.

    O que não gostei: achei uma leitura interessante, mas não muito mais do que isso. É um texto que vem e passa, bonito de ler mas sem muito impacto. Como se fosse mais uma narração de um fato – o nascimento de uma criança – do que uma história.

    Uma opinião pessoal (que não vai impactar na nota): eu costumo discordar de quem trata os animais de forma tão angelical e pura. As pessoas tendem a esquecer que os animais podem ser cruéis, implacáveis e extremamente violentos e sanguinários, sem se preocupar com o sofrimentos de suas vítimas. E animais também sentem inveja e lutam por poder e controle dos seus grupos. Só abrindo este parêntese mesmo, por que eu vejo muita gente falando que os animais são estas criaturas fofas e inocentes e sinceras e leais, sem verem o lado brutal da natureza, enquanto falam que os humanos são seres horríveis e invejosos e gananciosos, sem verem o lado bonito da arte e do amor e da camaradagem humana também. =)

  9. Kelly Hatanaka
    17 de fevereiro de 2024

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Atende ao tema. Uma alma observa o nascimento do humano que vai habitar e reflete sobre sua natureza e suas muitas vidas.

    Escrita
    Correta e segura, não encontrei erros.

    Enredo
    O enredo é simples. Uma alma espera o momento do nascimento de um bebê. Ele parece ter nascido morto, mas, por fim, respira e vive. Enquanto isso, a alma reflete sobre sua existência e sobre a humanidade.

    Impacto
    Um conto bem escrito e bem desenvolvido, mas que não me empolgou. É questão de gosto pessoal mesmo, tenho certeza de que muitos vão gostar da pegada filosófica. Neste sentido, filosófico, é mesmo um texto bem rico. Talvez seja impressão minha, mas sinto que tem muito do autor nas reflexões da alma protagonista. Não que isso seja errado, acho que sempre resvala algo nosso em qualquer texto ficcional. Mas, não gosto quando isso transparece.

    Parabéns pela participação e boa sorte.

    Kelly

  10. Simone
    17 de fevereiro de 2024

    Nascimentos são recomeços para os que creem na reencarnação. Gostei muito da narrativa no tempo presente, colocando o leitor no espaço e na emoção da cena, aflito, quase gritando: respira! Então um conto cheio de sentimento. Quem é mãe se lembrou dos seus partos. O narrador é a alma que aguarda sua nova “roupa” física. Destaco este trecho: “O parto é um ato de amor violento, como todas as separações. A vida tem um preço elevado.” Entre tantos outros muito bons. Não consegui identificar um subtexto, pois achei a história clara na sua proposta, que explica a vida espiritual. Almas vem de muitas vidas, carregam a soma de suas experiências terrenas. Achei muito criativo um narrador personagem, uma alma. O autor deu voz ao desconhecido. Parabéns!!!!

  11. Priscila Pereira
    16 de fevereiro de 2024

    Olá, Atmam! Tudo bem?
    Seu conto é bastante filosófico. Embora eu discorde de seus argumentos quanto a alma, não vou me apegar a isso na avaliação do seu conto, obviamente. Você começa o conto de uma maneira muito feliz, já lançando uma isca para o leitor, que se vê envolvido e expectante do que acontecerá com o bebê. Logo em seguida sabemos que o narrador é a alma, o que é inusitado. Gostei de algumas divagações da alma e discordei de outras, mas isso faz parte de toda leitura, não é mesmo? Torci para que o bebê sobrevivesse e me alegrei com o adiamento da hora em que a morte colheria aquele corpo, pois sim, acredito como você que a alma é imortal. Você entregou sua nacionalidade com a grafia de duas palavras apenas, se não fossem por elas, não perceberia. Um conto muito bom sobre recomeçar. Parabéns!
    Boa sorte no desafio!
    Até mais!

  12. Jowilton Amaral da Costa
    16 de fevereiro de 2024

    Um bom conto. Uma alma aguarda o nascimento de uma criança para recomeçar sua trajetória na terra. O tema foi usado de uma forma bem original. A narrativa é boa, segura. Não percebi erros ortográficos ou gramaticais. O enredo é simples. Acho, e é só achismo mesmo, que quando a alma encarna, ela vem tão pura quanto a criança que ela vai compor, e não com experiências de outras vidas, como faz entender o texto. Isso fez com que eu achasse as características da alma um pouco exageradas, dando uma pequena enfraquecida, ao meu ver, na história. A parte final tem um bom suspense, angustiando o leitor. O impacto não foi tão grande. Boa sorte no desafio!

  13. Andre Brizola
    14 de fevereiro de 2024

    Olá, Atman!

    Um conto bem escrito sobre uma alma que aguarda seu próximo “veículo”, rondando a criança no ventre da mãe, esperando o nascimento e a definição, se será sua, ou será da Morte. É interessante, e levanta algumas questões.

    A divisão do conto em três partes me sugere um tom meio frio. As duas primeiras me pareceram explicativas demais, como se fossem introduções, atrasando a entrada do verdadeiro enredo, contido na terceira parte. Para o meu gosto, inclusive, a segunda parte poderia ter sido condensada em menos linhas e incluída na primeira parte, se não suprimida totalmente.

    Quando chegamos na terceira parte, temos a sensação de que a história enfim começou, e aí o conto desabrocha, deixando de lado o aspecto opinativo da alma, para acompanharmos o acontecimento para qual ela está ali. O texto muda, passa a apresentar construções mais interessantes (“profissionais que não podem levar para casa as dores alheias” e “berro na linguagem das almas”, por exemplo), o ritmo vai num crescendo acompanhando a tensão do que acontece na trama, e isso foi muito bem conduzido pelo autor. Bom domínio da narração.

    Mas, como disse antes, me surgem alguns questionamentos que eu não esperava serem mesmo respondidos num conto com apenas 2500 palavras. Mas, mesmo assim, quando estamos criando o texto, alguns leitores vão querer respostas. Eu sou um desses leitores, mas entendo que a opção aí foi ser mais sucinto.

    No geral é um bom texto, mas que precisava de um pouco mais de equilíbrio, já que a terceira parte é muito mais interessante do que as duas primeiras.

    Parabéns!

  14. Gustavo Castro Araujo
    12 de fevereiro de 2024

    Temos aqui um texto conciso que nos traz a visão da Alma em oposição à Morte, como se dois entes antagônicos se postassem diante de um recém nascido para sabem quem irá toma-lo. O conto é narrado pela primeira, sendo a segunda um acessório que não chega a ser desenvolvido. Com efeito, é pela visão da Alma que entendemos o mundo, ou melhor, as pessoas enquanto seres providos de sentido de existência. O monólogo na primeira parte é que cuida de demonstrar esses aspectos; já na segunda o se vê é o drama do difícil nascimento de um bebê que, pelo dito acima, poderá ser preenchido com a Alma que lhe é destinada, ou reclamado pela Morte que o espreita.

    É uma boa premissa, mas creio que poderia e deveria ter ousado mais no sentido de trazer ao leitor uma visão mais abrangente por parte da Morte, como, talvez, o ente necessário para dar significação à existência de todos nós, até mesmo sob o prisma filosófico. Claro que não falar disso é uma opção válida do autor, mas enquanto leitor não tenho como deixar de demonstrar minha frustração com o que poderia ter sido desenvolvido. De fato, o ar de fábula roubou um tanto do dualismo que o tema sugeria no início. Enfim, é um conto bem escrito e que se mostra coerente com a proposta do desafio, mas acredito que pode ser desdobrado de modo a despertar mais interesse.

E Então? O que achou?

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Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .