EntreContos

Detox Literário.

O Regresso (Yuri)

1

André perdeu-se no azul infinito dos olhos de Inês. O rosto suave da esposa não esconde a tensão. Há um silêncio incómodo que os habita desde que André comunicara a sua decisão. A pequena Rafaela aparece a correr. Pede água. A mãe estende-lhe a garrafa que a menina agarra com as minúsculas mãos e bebe sofregamente. André finge que esconde algo. Ela dá a garrafa à mãe e tenta abrir as mãos do pai para descobrir o que esconde, numa brincadeira que repetem com frequência. Por fim, o pai revela o pássaro em origami que tinha feito com um guardanapo. Ela pega no pequeno pássaro de papel e corre com ele, para o fazer voar.

Cai uma lágrima dos olhos de Inês. André abraça-a com ternura.

“São só três anos”, argumenta. Como se os dias afastados da família não fossem um suplicio.

“A Rafaela vai ter 7 anos quando voltares, André.”

“Depois podemos ter tudo o que sempre desejámos, Inês.”

“Eu já tenho tudo o que quero. Promete-me que regressas.”

“Prometo.”

André esboça um sorriso ténue. Por dentro estava cheio de dúvidas. A incerteza tomava conta dele à medida que a data de partida se aproximava.

2

No Espaço, os dias são todos iguais. Yuri pôde verificar isso in loco na sua primeira viagem. Não existe dia, nem sequer noite. A luz das estrelas é suficiente para iluminar o exterior que admirava com Anya. Gostavam de dar nomes alternativos às estrelas mais importantes. Pollux transformava-se assim em Gelado de Morango e Procyon era Unicórnio, o animal preferido de Anya.

O facto de serem amantes não era segredo nem para os outros dois tripulantes, nem para o Centro de Controlo, no México. Pediam apenas para tomarem cuidado. A extensão da viagem tornava uma gravidez um risco acrescido. Mark pedia apenas para usarem preservativos. No entender dele, não havia nada de mais desagradável do que ter de lidar com o esperma dos outros a flutuar em gravidade zero. Para Hugo era indiferente, perdido que estava nos seus pensamentos, focado num único objetivo: a parte científica da missão. Yuri tinha sérias dúvidas de que Hugo não fosse um robot enviado pela empresa de exploração espacial para a qual trabalhavam. Sim, como no filme Alien.

A Eagle era a nave onde viajavam. Mais valia terem-na chamado de Supositório, porque era isso que parecia, costumava comentar Anya. A missão tinha dois objetivos. O principal era levar maquinaria para a colónia em Tritão, a maior das luas de Neptuno, onde deveriam chegar dentro de ano e meio. O outro objetivo era menos agradável. Deveriam entrar na órbita de Saturno, recolher os corpos dos tripulantes da Cygnus, a missão anterior que sofrera uma colisão que levara ao colapso dos sistemas de manutenção de vida. Na altura, a comunicação social explorara o acontecimento até à exaustão. Yuri lembrava-se das imagens dos jornalistas a tentarem chegar à fala com a esposa do comandante André Rivera. As imagens mostravam também a filha, nova demais para perceber a perda do pai.

3

“Apetecia-me ir à praia.”, disse Anya, que flutuava de cabeça invertida. Yuri sorriu. Na Terra, no hemisfério norte, era verão. No Espaço, as estações do ano na Terra eram irrelevantes.

“Quando voltarmos vamos ter dinheiro suficiente para comprarmos uma casa à beira-mar. Agora isso não interessa. Estamos aqui no meio do nada. Longe das nossas terras.”

Mark apareceu a flutuar.

“Vocês importam-se de não falar em russo? Já é suficientemente estúpido estar enfiado num supositório com o tipo mais aborrecido do universo, para ter de gramar com o vosso russo.”

“Desculpa Mark. De qualquer forma, é uma conversa privada, qualquer que seja o idioma. E o Hugo é um cientista conceituado.”, explicou Anya.

“Eu sei que ele é um cientista conceituado, mas podia saber anedotas. É sempre tão sério que parece que lhe enfiaram um pedaço de carvão no cu.”

“Anedotas. Eu conto-te uma anedota, Mark. Era uma vez um brasileiro, um americano, um russo e uma ucraniana que viajavam numa bala que teria de entrar em contacto com outra bala que orbita Saturno.”, disse Yuri.

“Ah, ah, ah. Vamos ver o jogo logo à noite?”, perguntou Mark.

“O Liverpool ganhou ao Manchester United. E não posso. Tenho um exame.”, respondeu Yuri.

“Ok. Fica para depois. ”

Noite. Dia. O conceito é estranho quando se está no espaço. Até o tempo parece dilatar-se. Por isso Yuri tirava uma segunda licenciatura, desta vez em engenharia civil, e Anya tirava um mestrado em biologia. O passatempo de Mark era ver filmes e jogos de futebol. Hugo escrevia a sua tese de doutoramento em Astrofísica.

Yuri flutuou em direção ao módulo de controlo, onde Hugo digitava comandos num teclado. Como resultado, apareceu “12:00” num dos monitores. Yuri sabia o que isso significava: dentro de 12 horas, Yuri iria sair da Eagle e iria entrar pela escotilha de acesso da Cygnus.

“Terminei. Sabes porque é que estamos a fazer isto?”, Perguntou Hugo, enquanto flutuava até à janela. Saturno ofuscava com o seu brilho. A cintura de asteróides, que parecia não passar de um adereço interessante visto da Terra, àquela distância tornava-se um muro quase intransponível. A Cygnus orbitava próximo do pólo sul, o que significava que, caso Hugo tivesse feito bem os cálculos, estariam a uma distância segura da cintura de asteróides.

“Porque é o correto. Devolvemos os corpos às famílias. Também gostaria que fizessem o mesmo comigo.”

Hugo riu. Tanto quando se lembrava, era a primeira vez que Yuri o via rir.

“A empresa para a qual trabalhamos está-se a borrifar para o que as famílias querem. Só querem ficar bem na figura, para limparem a imagem perante a opinião pública e os acionistas. É por isso, Yuri, que amanhã vais arriscar a tua vida. Nenhum de nós foi contratado para isto.”

O cosmonauta russo abanou a cabeça.

“Devemos isto aos nossos colegas falecidos, Hugo.”

4

“Não vás. Tenho um mau pressentimento.”

Yuri e Anya partilhavam um casulo improvisado a partir de dois casulos individuais, afastados do resto da tripulação. A nave não dispunha de acomodações para casais, mas Yuri e Anya rapidamente encontraram uma solução.

“É o meu trabalho, Anya. Tenho de ir. Não existe mais ninguém com experiência suficiente.”

O russo beijou-a, especialmente excitado. Se aquilo fosse um adeus, teria que valer a pena. Sentiu-lhe o calor da pele e a suavidade dos seios. Perdeu-se no mistério dos mamilos de Anya e percorreu o seu corpo com as mãos ávidas. Acariciou-lhe o sexo ao mesmo tempo que lhe beijava o pescoço. Os gemidos de Anya excitavam-no. Desapertou ligeiramente o velcro que apertava o casulo. Ela flutuou alguns centímetros, apenas os suficientes para que ele a penetrasse. Anya arranhou-lhe o pescoço.  Yuri urrou de dor. Atingiram o orgasmo ao mesmo tempo, num sussurro discreto, como se os companheiros ignorassem ou se incomodassem com o que faziam.

Quatro horas depois, avistaram a Cygnus. Yuri vestiu o exofato e entrou na câmara de ar. Anya assistia-o, tentando manter-se o mais profissional possível. Yuri disse-lhe adeus enquanto ela fechava a escotilha. Passados alguns minutos, abriu a escotilha exterior (teve de tentar mais do que uma vez) e o seu amante flutuou para o espaço exterior,  dirigindo-se para a Cygnus com a ajuda dos jatos que transportava nas costas. A superfície de Saturno era uma visão quase hipnotizante, com enormes nuvens que ameaçavam a qualquer momento abraçar as duas naves. Yuri concentrou-se na tarefa de se dirigir à escotilha. Respirou de alívio quando o conseguiu. Abriu-a com bastante dificuldade e entrou. A Cygnus estava completamente às escuras, tendo perdido a totalidade da sua energia. Só com a ajuda das luzes do seu exofato conseguia ver. A nave era idêntica à Eagle. Não teve problemas em encontrar o que pretendia.

O primeiro corpo estava enegrecido pelo tempo e ainda tinha os olhos abertos. Procurou outros três.  Desistiu rapidamente de os enfiar dentro dos sacos: a manobra era impossível com o exofato vestido. Amarrou-os com uma corda, tirou o disco da memória da nave, e saiu da Cygnus, puxando pela corda os quatro corpos.

5

Anya ajudou Yuri a enfiar os cadáveres dentro dos sacos.

“Há cem anos, nos nossos antepassados faziam a mesma coisa.”, comentou a ucraniana.             Tanto o bisavô dela como dele tinham estado em guerra. Ou melhor: tinham estado na guerra que os tinham obrigado a fazer. Nenhum deles sabia a razão do conflito. No final, não tinha havido vencedores, apenas derrotados.     

Yuri observava o cadáver de André Rivera, comandante da Cygnus. Casado, pai de uma menina que se tornara um símbolo depois da perda do pai.

“No fim não somos nada, apenas recordações.”, disse Yuri. Teve de fazer mais força do que tinha acontecido com os outros corpos. O corpo de André estava aninhado. Parecia estar a rezar quando faleceu. O rosto denotava uma expressão calma, como se ainda estivesse vivo. Yuri forçou mais uma vez. O corpo entrou no saco, mas sem antes projetar uma nuvem de fragmentos de pele na direção de Yuri, que estava protegido por uma máscara. Ignorava os minúsculos fragmentos que se alojavam na ferida que Anya lhe fizera no pescoço e que ele não protegera.

Quando guardaram os quatro corpos no porão da Eagle, pensavam que a tarefa estava concluída. Não podiam estar mais longe da verdade.

6

Yuri demonstrou os primeiros sintomas 12 horas depois da infeção. Anya, a médica da tripulação, assistiu-o imediatamente, seguindo os procedimentos normais. Fez uma análise ao sangue de Yuri, cujos resultados enviou para o Centro de Controlo, para uma segunda opinião. Aparentemente, era uma simples gripe – mesmo assim, Yuri ficou em isolamento. Anya tratava dele com proteção completa, deixando apenas uma parte do rosto visível. Durante esses dias, Yuri vivia para as breves visitas dela. À noite, delirava. Não havia nada que indicasse a origem desses delírios. Sonhava com sítios onde nunca tinha estado e com pessoas que não conhecia. Parecia ter uma ligação afetiva com esses desconhecidos. Acordava invariavelmente empapado em suor e com uma breve noção do que tinha sonhado. Comentou o facto numa das avaliações de Anya e ficou com a noção de que deveria esconder esses delírios. Anya era a sua amante, a mulher a quem, quando regressasse, pediria que fosse sua esposa. Ou seria o contrário, e seria Anya que pedisse que ele fosse o seu marido. Yuri estava-se a borrifar para as convenções chauvinistas do passado. Queria que Anya fosse sua, mas sabia que tinha de guardar segredo dos seus sonhos e pesadelos.

E o que dizer da voz que começou a ouvir algumas semanas depois do início da doença? Nesta altura já não estava em isolamento e pensou que fosse um devaneio de Mark, mas a voz tornou-se mais forte. Yuri decidiu não revelar a Anya, se bem que a sua perspicácia feminina já se tida dado conta das alterações.

Um dia, depois de terem voltado a dormir juntos, ela revelou que, durante um sono mais agitado, ele falara em castelhano.

“Castelhano?”, perguntou Yuri, “Por que raio havia de falar numa língua que não conheço?”

Anya encolheu os ombros. Yuri não revelou que lidava diariamente com uma voz que falava nesse idioma e que se tornava cada vem mais forte. Para além disso, sentia-se diferente. Perdera o interesse pelo curso, isolara-se de Mark e de Hugo. Até sentia um desejo grande de se separar de Anya, o que era complicado quando se viaja numa nave do tamanho de um pequeno apartamento. Era invadido por um único desejo: regressar a casa. Cumprir a missão e regressar. Dois anos que antes seriam um prazer na companhia de Anya. Agora, só queria estar sozinho. Sempre que podia, olhava pela janela que ficava na direção da Terra.

7

“Ouve, Yuri, não sei o que se passa, mas desde que regressaste da Cygnus estás diferente”, disse Anya em russo.

O problema é que Yuri, que olhava para ela com um ar de profundo fastio, deixara de perceber russo. Como se adivinhasse, Anya repetiu em inglês.

“Não se passa nada. Estou com saudades de casa. Só isso. Perfeitamente normal.”, respondeu Yuri.

“Normal, o caralho! Tu estás doente, mas escondes isso de mim. É isso que me magoa, percebes? Sentir que não confias. A partir de hoje dormimos separados e vou ter de reportar ao Centro de Controlo. Desculpa, mas tem de ser.”

“Como quiseres, Anya”, disse Yuri, sem perceber sequer que o tinha dito em castelhano. A cabeça doía-lhe. Sabia o que tinha de fazer. Era algo que já estava a preparar há algum tempo. Algo que não lhe daria prazer algum, mas que tinha de acontecer para garantir que regressava a casa.     Agora, com a ameaça que ela tinha feito, tornara-se inevitável.

“Precisamos de falar”, disse Yuri em inglês.

“Sem segredos?”, perguntou Anya.

“Sim.”

Mark e Hugo dormiam. Yuri levou Anya para o compartimento contíguo à câmara de ar. Sem que ela percebesse, prendeu-se à estrutura da nave.

“Diz-me. Conta-me a verdade.”

“Eu não sei a verdade. Pelo menos, não sei a razão do que aconteceu.”

“Eu conheço-te, Yuri, e tu mudaste radicalmente. Até os outros já perceberam.”

“Eu já não sou Yuri. Sou André Rivera, tenho uma mulher e uma filha à minha espera.”

O que aconteceu de seguida foi rápido e violento: Yuri colocou uma máscara de oxigénio  e carregou num botão. As portas internas e externas da câmara de ar abriram-se e a despressurização sugou tudo para o exterior. Yuri conseguiu ver o olhar de Anya, um misto de súplica e de raiva, antes dela desaparecer no espaço exterior. Os alarmes soaram. Mark e Hugo apareceram de imediato.

“Foi um acidente”, disse Yuri, aproximando-se de botão que fechava a escotilha externa.

“Anya?”, perguntou Hugo.

8

Mesmo sem terem conseguido recuperar o corpo de Anya e com fortes suspeitas sobre Yuri, conseguiram cumprir a missão. Dois anos depois, regressaram a casa. O inquérito foi inconclusivo. Yuri tinha preparado bem o assassinato de Anya. Conhecia as fragilidades do sistema e os problemas bem conhecidos da câmara de ar. Yuri foi convidado a estar presente nas exéquias fúnebres dos quatro astronautas mortos na Cygnus e cujos corpos ele tinha recuperado. A basílica de Saint Dennis em Paris foi pequena para a multidão que compareceru. Os quatro caixões ocupavam a nave central (nome estranhamente apropriado para ilustrar o local da sua morte).

Mark e Hugo, com a respetiva companheira (no caso de Mark) e companheiro (no caso de Hugo), mantinham-se afastados de Yuri, que não tirava os olhos de Inês e da pequena Rafaela, que tinha agora 10 anos mas que continuava a mesma força irrequieta de antes. Demonstrava-o mesmo numa ocasião tão inapropriada como o funeral do pai.

Yuri observava cada movimento da menina com um misto de saudade e dúvida. Como aproximar-se da mulher e da filha sem que estas pensassem que estavam perante um doente mental? Como explicar o inexplicável? Diziam que Deus escrevia certo por linhas tortas, mas no caso de Yuri/André, mostrava o seu cinismo. Preferia estar morto. Yuri, que não tinha culpa nenhuma nesta história, seguiria a sua vida com o seu mais do que perfeito amor. Em vez disso, o espírito de André parasitava-lhe o corpo, roubara-lhe tudo o que antes tinha sido de Yuri.

No final da cerimónia, aproximou-se de Inês. Era apenas mais uma das muitas pessoas que faziam fila para lhe apresentar as condolências. Quando chegou a sua vez, viu que o semblante da mulher que amava se alterou.

“Yuri… eu queria falar consigo”, disse-lhe Inês. Os últimos anos tinham cobrado o seu preço, visível no aprofundado das rugas e no cabelo branco que desistira de tentar esconder. Combinaram tomar um café. Depois, ela regressaria no primeiro vôo para Madrid.

“Gostaria de lhe agradecer o que fez pelo meu marido”, disse Inês. Estavam sentados na esplanada do café. Inês ficara algo surpreendida porque Yuri pedira para ela exatamente o que teria pedido se ele não se adiantasse. Ficou algum tempo sem palavras. Rafaela olhava para a montra, escolhendo um bolo especialmente apetitoso, coberto com creme. 

“Fiz apenas o meu trabalho. É justo que as famílias possam despedir-se dos seus entes queridos.”

Yuri falava num castelhano perfeito.

“O mesmo não aconteceu à sua colega.”

“Ter o universo inteiro como túmulo é um privilégio. Alguns só podem ter um pedaço de terra.”

“Mesmo assim. Ela tinha a vida toda pela frente e, tanto quanto sei, era uma excelente pessoa.”

Rafaela veio e sentou-se, declarando-se esgotada.

Yuri pegou num guardanapo e fez o origami que costumava fazer para a Rafaela quando era pequena. 

“Olha, mamã, é igual ao que o papá costumava fazer!”

Inês olhou e esboçou um sorriso discreto. Parecia ter ficado bastante incomodada com a situação.

A Rafaela saiu e entrou no café.

“Posso perguntar porque razão fez o origami?”

“Da mesma forma que sabia que preferes o latte com caramelo.”

Houve um silêncio. Ela acendeu um cigarro, mostrando o seu nervosismo.

“Acabei de enterrar o meu marido. Deve compreender que não estou com disposição para brincadeiras.”

“A última coisa que quero é brincar consigo, Inês. Não percebo o que aconteceu e compreendo a sua irritação. No seu caso faria o mesmo. Vou escrever neste guardanapo o meu número e a prenda que demos à sua mãe no último natal antes de eu partir.”

Yuri passou-lhe o guardanapo. Inês leu, guardou-o na bolsa e começou a chorar.

“Vou estar em Madrid. Quero estar perto de vocês, mas não quero impor a minha presença. Quando quiser falar, ligue, por favor. Estarei à espera.”

9

No quarto do hotel, Yuri desesperou durante três dias, os olhos fixos no telemóvel. Quando finalmente tocou, ouviu do outro lado a voz de Inês, num tom nervoso.

“Pensei durante bastante tempo se ligava. Nada faz sentido. Tive tanto tempo para me habituar à ideia de te ter perdido… Agora dizes que voltaste, e parte de mim não se importa. Se desse ouvidos ao meu lado racional, André continuaria morto e a Rafaela não teria pai. Podemos tentar. Tens de ter paciência. Já sabes como eu sou. Ninguém pode saber a verdade, muito menos a tua filha.”

Para Yuri, aquele foi o dia mais feliz da sua vida: o dia em que sabia que, realmente, tinha regressado a casa. Para todos os efeitos, era apenas um namorado de Inês. Aos poucos aproximou-se da menina, até que ela começou a perguntar por ele à mãe. Seis meses depois, Yuri pediu formalmente Inês em casamento. Ela aceitou. Foi uma cerimónia simples, apenas para a família mais chegada, que estranhava tanto a predileção dela por astronautas como a perfeição com que ele falava castelhano. Por último, estranharam também que Yuri adoptasse o apelido de Inês, passando a chamar-se de Yuri Rivera.

Na semana em que celebraram o primeiro aniversário de casamento, Yuri recebeu duas notícias inesperadas. A primeira, a gravidez de Inês, deixou-o louco de alegria. A segunda deitou-o abaixo. A notícia da reabertura do inquérito da morte de Anya lançou-o nas profundezas do inferno: sabia que tinha de abrir o jogo com Inês.

“O que significa este inquérito? Tens culpa na morte de Anya? Estou casada com um assassino?”, perguntou Inês ao ler a intimação a requerer a presença de Yuri no tribunal em Londres.

Houve um silêncio entre eles, que ela entendeu como uma prova de culpa.

“Se não o tivesse feito, não estaríamos juntos. Ela sabia, amor…”

Inês virou-lhe as costas. Yuri conhecia suficientemente bem a esposa para saber que não havia forma de se reconciliarem. Despediu-se de Rafaela, que desatou a chorar e não queria parar de o abraçar. Depois, fez as malas e partiu para Londres.

10

Durante o processo, Yuri assumiu a culpa. Foi condenado a 20 anos de cadeia por homicídio premeditado. Recebeu uma visita de Inês com os papeis do divórcio, que assinou de imediato.

“Refaz a tua vida, Inês. Sê feliz.”

Inês guardou os papeis, e saiu sem dizer uma palavra. Yuri voltou para a cela completamente destroçado. Tornou-se um homem irascível, que berrava todas as noites. Primeiro em castelhano, depois, gradualmente, em russo. Por fim, berrava por Anya.

Ano e meio depois da prisão, Yuri recebeu a visita de Inês, que estava fisicamente diferente.

“Se vem à procura do seu marido, já não está, saiu.”, disse Yuri, em inglês, com um misto de escárnio e raiva.

Inês percebeu o sentido das palavras do russo. Seria a única no mundo a entender que o espírito de André já não possuía o corpo de Yuri. 

“O Yuri culpa-me por esta situação? Eu nunca quis que as coisas acontecessem desta forma.”

“Mas aconteceram. Foderam-me a vida. Estou preso, acusado de ter matado a mulher que amava. Consegue compreender a raiva que sinto?”

“Eu não posso fazer nada quanto a isso. Ninguém acreditaria. Posso, apenas, dizer-lhe que não está só no mundo, dar-lhe uma razão para viver.”

Inês colocou na mesa a fotografia de um bebé.

“Chama-se Pablo. E aconteça o que acontecer, Yuri, será sempre seu filho.”

O russo pegou na fotografia e desatou a chorar descontroladamente. Quando voltou à cela, pousou a fotografia num lugar bem visível e sentiu-se em paz. 

Sobre Fabio Baptista

23 comentários em “O Regresso (Yuri)

  1. Givago Thimoti
    8 de maio de 2024

    O REGRESSO (YURI)

    Bom dia, boa tarde, boa noite!

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Viagem/Roubo – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, inspirado pelo Marco Saraiva, também optei por adotar um estilo mais explícito de avaliação, deixando um pouco mais organizado quando comparado com o último desafio. E também peguei emprestado do que o Leo Jardim fazia antes, com categorias e estrelinhas, e também deixando no final um “trecho inspirado”, que é uma parte do conto que achei particularmente digno de destaque.

    Mesmo diante de tudo isso, as notas e os comentários podem desagradar, como percebi hoje, dia 29/04/24. Como já está no meio do desafio, e eu já avaliei alguns participantes, eu vou manter o estilo de avaliação, “anunciando” a nota e tecendo minha opinião do mesmo jeito. A diferença é que essa nota é provisória e sujeita a alterações. Obviamente isso se estende aos contos já avaliados.

    Outra coisa que eu percebi que deu ruído até o momento também foram os critérios. Vamos lá, para tentar esclarecer: refleti bastante sobre o assunto e a minha conclusão é a seguinte: não consigo avaliar um texto literário como um conto, dentro desses critérios, sem considerá-los como um todo.  Afinal, uma técnica apurada pode beneficiar a história do mesmo jeito que o contrário pode ocorrer; um conto com a escrita não tão boa pode afetar a história, seu desenvolvimento e seu impacto e assim por diante.

    Por fim, é isso! Meu critério é esse e não sofrerá mais alteração. Creio que é o mais justo entre meu jeito de avaliar, a lisura do certame e o respeito e a consideração pelo autor/pela autora.

    AVALIAÇÃO + IMPRESSÕES INICIAIS

    O Alien tá estranho né??

    Eu sei que chupão no pescoço pode ser meio perigoso, mas aí não foi exagerado???

    É um bom conto de ficção científica, que promoveu uma coisa diferente: possessão através de radiação espacial.

    HISTÓRIA  (2/3)

    “O Regresso” conta a história de dois casais: André e Inês e Yuri e Anya. O conto começa mostrando um pouco da natural apreensão antes de uma longa missão espacial. Então, adiantando-se um pouco no tempo, o conto foca em Yuri e Anya, dois astronautas que estão numa viagem para Netuno, que terá uma parada em Saturno, para recuperar os corpos da última excursão promovida pela empresa, capitaneada pelo falecido André Rivera (plot twist).

    A missão é perigosa e até mesmo desnecessária, segundo alguns tripulantes. Ainda assim, Yuri dispôs-se a ir. Antes, ele é Anya tem uma última noite de amor (aqui vem o meu único ponto de crítica). Nessa última noite de amor, um chupão de Anya no pescoço de Yuri provoca nele um ferimento que o infecciona depois que a pele/carne entra em contato com os fragmentos da pele de André, falecido há algum tempo e exposto às radiações que alteraram o corpo e a consciência do defunto, permitindo que ele, depois de um tempo, ressuscite na consciência de Yuri…

    Então, André/Yuri, ao perceber que Anya já compreendeu a possessão do falecido espanhol em seu amante russo, mata ela, para garantir sua chance de voltar à Terra, para os braços de Inês…

    O conto termina com Inês se recusando a ficar com o velho/novo marido, por conta de seu homicídio… E André abandonando ou Yuri retomando o seu corpo.

    Qual a crítica no final? Eu acho que, a partir desse momento em que Yuri resgata o corpo e é “possuído” por André, em termos de história, o conto dá uma desandada. Primeiro, a forma como ele “se contamina com a consciência de André”, a partir de um ferimento de um chupão (que raios de chupão é esse? Dá até casquinha, sai sangue) … Achei meio tragicômico, o que quebra um pouco a toada trágica de uma FC que beira o drama.

    Além disso, para mim pelo menos, foi meio repentina demais essa “cura” de Yuri e a ida de André para qualquer plano astral que ele tenha ido. Creio que a ideia do autor tenha sido mostrar (e resumindo a totalidade da) a crise de consciência de André a partir de sua confissão para Inês (embora ele já estivesse sido pressionado por conta do processo criminal). Contudo, creio que seria interessante demonstrar a culpa, sem a presença de um processo que o force a admitir. Acho que seria mais “natural”.

    TÉCNICA  (3/3)

             Quanto à técnica, tenho 0 comentários para serem feitos. Técnica irretocável, português de Portugal, texto claro e bom de ser lido.

    TEMA  (1 /1)

    Tem como ter tema demais? Vemos viagem pela galáxia, vemos roubo… Extremamente adequado.

    IMPACTO  (1/2)

             Por mais que o conto seja bom, esse ponto da história meio que quebrou a dramaticidade da história porque foi um tanto estranho para mim.

    ORIGINALIDADE  (1/1)

             É um conto originalíssimo!

    Trecho interessante: “Gostaria de lhe agradecer o que fez pelo meu marido”, disse Inês. Estavam sentados na esplanada do café. Inês ficara algo surpreendida porque Yuri pedira para ela exatamente o que teria pedido se ele não se adiantasse. Ficou algum tempo sem palavras. Rafaela olhava para a montra, escolhendo um bolo especialmente apetitoso, coberto com creme. 

    “Fiz apenas o meu trabalho. É justo que as famílias possam despedir-se dos seus entes queridos.”

    Yuri falava num castelhano perfeito.

    “O mesmo não aconteceu à sua colega.”

    “Ter o universo inteiro como túmulo é um privilégio. Alguns só podem ter um pedaço de terra.”

    “Mesmo assim. Ela tinha a vida toda pela frente e, tanto quanto sei, era uma excelente pessoa.”

    Rafaela veio e sentou-se, declarando-se esgotada.

    Yuri pegou num guardanapo e fez o origami que costumava fazer para a Rafaela quando era pequena. 

    “Olha, mamã, é igual ao que o papá costumava fazer!”

    Nota: 8

  2. Queli
    27 de abril de 2024

    A história é excelente! Um enredo envolvente e muito bem tramado, bem delineado e descrições ótimas.

    Percebe-se, pela forma como você escreve, que não é brasileiro, mas isso não atrapalha a compreensão textual, apenas devemos considerar esse pormenor ao lermos texto.

    Como já disse em outra oportunidade, a ausência de travessão para os diálogos me incomoda bastante. O uso de aspas não faz distinção se é fala ou pensamento do personagem.

    De toda sorte, gostei muito do teu texto, foi surpreendente e me prendeu, mesmo sendo extenso. Parabéns!

  3. claudiaangst
    25 de abril de 2024

    Oi, Yuri, tudo bem?

    O conto aborda o(s) tema(s) proposto(s) pelo desafio: há uma viagem no espaço. E diria mais, percebi um roubo de organismo também, afinal, André apropriou-se do corpo de Yuri.

    A linguagem empregada é clara e objetiva, sem apresentar grandes entraves para o entendimento. É perceptível o forte sotaque lusitano, o que me faz desconsiderar possíveis falhas de revisão. Fez bem em não tentar disfarçar as diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal. Além de inútil, privaria a todos nós do charme.

    No entanto, a troca de tempos verbais, ora no presente, ora no pretérito, me incomodou um pouco, mas nada de grave.

    A narrativa traz tom de suspense, e apesar de ser uma ficção científica, não me desagradou. Personagens bem caracterizados, de modo que o leitor não se confunde com o desenvolvimento da trama.

    O desfecho foi magistralmente escrito, e deixou um impacto possível. A esperança sempre nos acena com bons olhos.

    Desejo-lhe sorte!

  4. Luis Guilherme Banzi Florido
    24 de abril de 2024

    Olá, Yuri. Tudo bem?

    Estou voltando aos desafios após longos anos, então estou um pouco enferrujado, mas muito empolgado em ler os contos e deixar minha opinião! Obrigado por enviar o seu, e vamos lá:

    Um resumo rápido do conto: André é um astronauta Espanhol que parte numa missão espacial na qual morre. Uma equipe é enviada para resgatar os corpos, e de algum modo, por meio do contágio de partículas da pele do falecido, o corpo do astronauta russo Yuri acaba sendo possuído pelo espírito de André. André comete um homicídio, e, após reconquistar sua esposa, admite o crime, perde a esposa, acaba preso, e liberta o corpo de Yuri na prisão, provavelmente devido ao arrependimento. No final, Yuri tem um novo sopro de esperança ao saber que será “pai”.

    Opinião e comentários gerais:

    É um excelente conto! Li com interesse contínuo do início ao fim, aproveitando e me divertindo durante toda a trajetória. Achei o enredo primoroso, a forma como os acontecimentos se desenrolam me fez visualizar mentalmente as situações, me deixou curioso e me envolveu no mistério. A respeito do enredo, minha única ressalva é: me pareceu que o André aceitou rápido demais confessar seu crime para a esposa. Quero dizer, não me parece impossível que isso acontecesse, mas sinto que esse trecho final foi muito acelerado e não soou convincente, destoando do restante do conto. Talvez, se ele lidasse com algum conflito interno e o autor demonstrasse mais claramente quais foram as decisões que precisou tomar e o quanto isso custou, soaria mais realista e até mesmo impactante. Ainda assim é uma ótima história. O desfecho é a cereja no bolo. Gostei muito da cena final, foi bonita e me tocou.

    Outras observações:

    Os personagens são muito bons. Gostei da construção, são carismáticos e verossímeis. Especialmente a relação entre Yuri e Anya é muito boa (aliás, a cena de sexo é primorosa, trabalho de alguém que sabe escrever muito bem – e deixa livros como 50 tons de cinza no chinelo! hahahah). Essa boa construção de personagem e do casal é essencial para criarmos empatia pelos dois e sofrermos pela interrupção injusta de uma bela vida que poderiam ter. Além disso, por criarmos empatia pelo Yuri, a cena final é ainda mais bela e comovente.

    É o tipo de conto que, mesmo sendo um dos primeiros que leio, me dão a impressão de que devem figurar no tipo do desafio.

    Enredo:9,0

    Ritmo: 10,0

    Desfecho: 9,0

    Técnica 8,0

    Construção de personagem: 10,0

    Total: 9,2

    Parabéns pelo trabalho e sucesso no desafio!

  5. Regina Ruth Rincon Caires
    20 de abril de 2024

    Quando me deparo com um conto que explora FC/Fantasia, nestes momentos de leitura, tenho a sensação de que sou uma estrangeira ou uma remanescente da Idade Média. Há um abismo entre a minha compreensão e o conteúdo do trabalho tão bem cuidado feito pelo autor. E eu me esforço. Leio, releio, “trileio”, “quadrileio”.

    Estou feliz! Este conto eu acho que consegui entender “tudinho”!!! E, no desfecho, até me emocionei. E, outra coisa, encontrei traços “cruzando” FC/fantasia com Cassandra Rios! Ah, Yuri, menino danadinho!!!

    Vamos lá. A história de André, Inês e a pequena Rafaela. Ele era um dos tripulantes de missão espacial. Partiu, mas ocorreu um erro e todos morreram. Então uma nova missão é enviada para buscar os corpos que ficaram no espaço. E Yuri era um dos novos tripulantes. Resumindo, ao recuperar o corpo de André no espaço, Yuri se contamina com partículas expelidas do corpo do morto. E então passa a ter “dupla personalidade”. Yuri era amante de uma mulher que fazia parte da tripulação, num desentendimento (doideira/fruto da confusão de personalidade) ele a empurra para fora da nave. Esse assassinato rendeu a Yuri uma pena de prisão. Antes de ser descoberto o crime, voltando para a Terra, Yuri se apaixona por Inês, viúva de André, e passam a viver juntos. Quando foi condenado, Yuri foi para a cadeia. Passado um tempo, Inês vai até lá e leva uma foto de Pablo, filho que nasceu da união dos dois. Yuri ainda não sabia. O desfecho do conto também é muito bem conduzido.

    Enredo bem construído, escrita clara (lusitana|), alguns poucos deslizes, mas a leitura fluiu bem. Apesar das descrições mirabolantes e inusitadas (nunca havia imaginado a cena em levitação kkkk.).

    Parabéns pelo trabalho, Yuri!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço…

  6. Priscila Pereira
    19 de abril de 2024

    Olá, Yuri! Tudo bem?

    Vou deixar minhas impressões sobre seu conto, lembrando que é a minha opinião e não a verdade absoluta. (Obviamente)

    Muito interessante o seu conto! Nunca tinha visto um espírito se apoderar de um corpo através de ferimentos na pele, achei original essa abordagem.

    O texto está muito bem escrito e nota-se que o autor é estrangeiro (inclusive aprendi algumas palavras novas!), mas a leitura foi fluída e rápida, sem entraves. A escrita é firme e confiante, de quem sabe o que faz.

    O enredo foi bem legal, gostei da ambientação no espaço e na nave, o convívio com os colegas, e a invasão do espírito e como tomou posse mesmo do corpo de Yuri (coitado). A mudança de personalidade foi bem descrita e ficou verossínil.

    Achei que fosse terminar quando Yuri/André enfim volta pra casa e consegue Inês de volta, mas ficou melhor ainda quando Inês descobre o que André fez com Anya e não consegue ficar mais com ele e então o espírito deixa Yuri sozinho pra sofrer as consequências. Mas no final ainda tem um fiozinho de esperança com o bebê… Gostei bastante da história e de como foi contada.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  7. Antonio Stegues Batista
    17 de abril de 2024

    O conto começa mostrando o encanto de André por Inês, prólogo para o mote do conto. Ele é astronauta e vai cumprir uma missão espacial. A astronave de André sofre um acidente e morre com os companheiros. Uma nave de resgate parte para resgatar os corpos com os tripulantes, Yuri, Anya, Hugo e Mark. Yuri desconfia que Mark seja um andróide, mas não se sabe se é ou não é, parece que é apenas desconfiança de Yuri, ou apenas uma citação do filme Alien, o Oitavo Passageiro. Yuri e Anya se tornam amantes. Achei que o sexo com mordida  entre os dois foi desnecessário pra justificar o ferimento em Yuri, nada contra o sexo, mas um cortezinho no dedo numa aresta de metal, seria mais simples. Achei também, que a morte de Anya foi desnecessária, faltou aqui algumas ideias, evidentemente, mais pacíficas para a separação dos dois. “ A cintura de asteroides, que parecia não passar de um adereço interessante visto da Terra…” O certo seria “cinturão de asteroides”, já que cinturão cinge a cintura. Não entendi o sentido de “borrifar”.creio que é borrar, ou borrar-se, defecar nas calças, popularmente falando, cagar-se. Mas me parece ser o português de Portugal. Fragmentos de pele de André, penetraram no ferimento de Yuri e alterados por radiação cósmica, transmitem a Yuri o DNA de André e adquire as características de André.. Tem um filme, esqueci o nome, onde um astronauta volta de uma missão no espaço com as memórias de um companheiro morto e ele vai ao encontro da esposa do outro, ao lembrar-se de uma chaminé. Só me lembro dessa parte. Então, o mote não é novo. O enredo não é ruim, os termos técnicos são condizentes, só precisa consertar os erros, deixar algumas partes mais críveis, coerentes.

  8. Emanuel Maurin
    16 de abril de 2024

    O conto é uma aventura espacial de um homem que se despede da esposa e filha.  O cara promete voltar, tá cheio de dúvidas e incertezas, mas mantem aparência. O conto é mais contado que mostrado, tem fluência, bom ritmo e boa estrutura. Os diálogos poderiam ser melhorados. Os personagens tem profundidade, o drama é bem criativo e a tensão é bem desenvolvida. Tem emoção e uma pitada irônica. A leitura foi agradável.

  9. Kelly Hatanaka
    15 de abril de 2024

    Costumo avaliar os contos com base nos seguintes quesitos: Tema, valendo 1 ponto, Escrita, valendo 2, Enredo, valendo 3 e Impacto, valendo 4. Abaixo, meus comentários.

    Tema
    Conto dentro do tema. Uma nave viaja até Saturno para recuperar os corpos de tripulantes de outra viagem, esta, malsucedida.

    Escrita
    Excelente, clara, correta. A narrativa é bem conduzida, coisa de quem sabe o que está fazendo.

    Enredo
    Astronautas são enviados para Saturno para recuperar corpos de outros astronautas, falecidos durante a missão. O contato com material que estava em um dos corpos leva o astronauta Yuri a ser possuído pela consciência do falecido Andre Rivera.
    Gostei muito. Achei criativo e interessante. Segui a leitura intrigada, esperando o que iria acontecer. Fiquei com dó de Yuri. Esse deu um azar danado. Perdeu tudo. O consolo veio na forma da compreensão de Inês e da existência de Pablo.

    Impacto
    Muito envolvente esta ficção científica bastante humana. Adoro este tipo de ficção, em que os sentimentos e a humanidade ficam no foco. Não fica claro de que forma Yuri se livra de Andre. Fiquei com a impressão de que, seu corpo iria expelir as partículas aos poucos e voltaria ao normal. Senti também por Anya. Anya e Yuri foram duas vítimas de circunstâncias inimagináveis.
    Difícil ler e ficar impassível.
    Excelente conto.

    Parabéns e boa sorte.

    • Iuri
      16 de abril de 2024

      Olá, Kelly. Obrigado pelo comentário. O final ficou algo precipitado e alguns pontos não ficaram claros. O espírito de André abandonou Yuri porque a promessa que tinha feito a Inês já tinha sido cumprida e porque ela não iria perdoar.

      • Kelly Hatanaka
        17 de abril de 2024

        Oi Yuri.

        Ah, realmente esta ideia, de que André se apossou de Yuri por causa da promessa de que foi embora porque não tinha esperança de perdão é bem interessante mesmo. Mas, ao menos para mim, do jeito que está, está ótimo. Não faltou nada e nem me deu a impressão de ter sido precipitado.

        Kelly

  10. Angelo Rodrigues
    15 de abril de 2024

    Olá, Yuri.

    Conto bom de ler. de fácil compreensão. Embora relativamente bem povoado, os nomes escolhidos não atrapalharam a interrelação entre as personagens.

    O enredo não é complicado. Tem um gosto bom das ficções científicas, com acontecimentos extraterrestres, em naves espaciais danificadas e coisa e tal, já bastante vistas no cinema, assim como contaminações por diversos agentes e/ou patógenos.

    Curiosamente, vi no conto um caráter bastante psicanalítico com roupagem futurista. A contaminação por meio do toque da farinha de pele de Rivera penetrando na ferida de Yuri, nada mais é do que o mote para justificar o apoderamento de uma personalidade pela outra.

    É marcante o trecho: “Yuri observava o cadáver de André Rivera, comandante da Cygnus. Casado, pai de uma menina que se tornara um símbolo depois da perda do pai.”. Provavelmente a indução dessa imagem tenha levado até Yuri um desejo de viver em Rivera e ser pai da menina, ter uma vida familiar que até aquele momento não tinha.

    É interessante saber que não houve elemento marcante que justificasse a reversão do processo. Isso é notado no trecho

    “Inês percebeu o sentido das palavras do russo. Seria a única no mundo a entender que o espírito de André já não possuía o corpo de Yuri. ”

    O que aconteceu para que a possessão se desfizesse.

    Seguindo adiante, ao final. Não posso dizer que houve efetivamente essa reversão.

    Movendo minha leitura em direção às subliminaridades do texto, achei curioso a escolha dos acontecimentos. Um russo expele da capsula uma ucraniana, matando-a. Parece uma continuação do atual conflito em curso entre os dois países.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

    • Yuri
      16 de abril de 2024

      Olá Angelo. De facto, existe uma coincidência entre o conflito atual entre a Rússia e a Ucrânia. A diferença é que no caso do conto, Yuri está arrependido.

  11. Vladimir Ferrari
    15 de abril de 2024

    Em “1”, há repetição em demasia do nome “André”. Para cenas fechadas, sugiro suprimir esses excessos. Em “2”, temos um excesso de nomes que, na minha opinião, fogem da proposta de “conto moderno” (restrição de tempo e espaço e poucos personagens). A parte “3” apresenta mais informações extras, para compor um cenário de quatro viajantes no espaço. A pergunta do eu-leitor para esse trecho é: “O que isso contribuirá para a narrativa?” A partir de “4”, temos o início da ação. O conto poderia iniciar daí, aliás. Li algumas repetições, um excesso de personagens e informações desnecessárias, mas um bom “pulso” narrativo. O tema de viagem espacial onde há uma possessão (um roubo de alma), atende a premissa do desafio. Impactou-me como uma história em quadrinhos de terror, muito bem desenhada, mas enrolada demais para “dizer a que veio”. Sugiro ao autor/autora, uma revisão da narrativa para um embate entre André e Yuri, concentrada na psique dos personagens e em como elas se misturam e se partem novamente. As interações com os demais personagens do conto, seriam frases soltas. Por exemplo: “Três homens e uma mulher. Ela sorriu para mim. Sexo e paixão no espaço podem ser idílicos, mas não recomendáveis. Mas quem resiste ao desejo?” Isso resumiria toda a relação entre Yuri e Anya, na minha opinião. Sucesso no desafio.

    • Alguém Aí
      16 de abril de 2024

      Por que não reescreve todos os textos do desafio, oh, grande mestre da escrita? Está sempre dizendo como os outros devem escrever.

      • Vladimir Ferrari
        16 de abril de 2024

        O regulamento diz “como se pode colaborar”. Apresento uma ideia, que é minha opinião. Aceite-a se quiser. Não há imposição alguma. É uma maneira de comentar e trocar impressões para crescermos todos. Se não achou interessante, desconsidere, afinal o conto é seu.

      • Alguém Aí, Puto
        16 de abril de 2024

        Não, não sou o autor do conto. Só alguém que observou seus comentários, e notas, desde o desafio anterior, e suas “colaborações” possuem uma medida muito baixa. De “ajuda” assim, ninguém precisa. Você distancia o autor do verdadeiro caminho dele ao desrespeitar a forma como ele escolheu conduzir sua história.

      • Vladimir Ferrari
        16 de abril de 2024

        Que o autor então desconsidere meus comentários. Todos desconsiderem, aliás. Ninguém está obrigado a aceitar. Democracia é isso. Você fala, eu falo, os outros falam e escuta quem quiser. Ou você vai obrigar as pessoas comentarem conforme você gostaria que comentassem? Soa ditatorial, não?

      • Alguém Aí, Suave na Nave
        16 de abril de 2024

        Não, não vou. Mas sou livre pra reclamar dos seus comentários. Democracia, como você mesmo disse. Quando entender que não se trata do que se fala, mas como se fala, vai se tornar um comentarista melhor. Nem todas as pessoas tem discernimento para filtrar os comentários, também não custa nada considerar que existem outros estilos narrativos fora da sua bolha.

    • Vladimir Ferrari
      16 de abril de 2024

      Pois é, citei um estilo. Não é apropriado? Ok. Não nasci sabendo. Mas fique sossegado. Uma hora aprendo e vou lhe agradar

    • Yuri
      16 de abril de 2024

      Olá, Vladimir. Obrigado pelo seu comentário. Tomei os conselhos em consideração. A minha intenção era ainda prolongar mais o texto, reduzindo o desequilíbrio narrativo que existe entre a primeira parte e o fim do texto, que surge precipitado.

  12. Thales Soares
    15 de abril de 2024

    Escrita:

    No início eu estranhei alguns usos de palavras. Mas após um tempo, me habituei com a peculiaridade da escrita, e isso não me atrapalhou. Pelo que entendi, o autor deste conto não é brasileiro, é isso? A narrativa, por sua vez, é fluente e envolvente, com a medida certa de descrições, e fazendo com que a leitura não fique cansativa. Gostei bastante da forma como a história foi apresentada. A divisão em capítulos contribuiu para a leitura, pois dessa forma não ficou cansativo, por mais que seja um conto bastante longo. Os diálogos são legais e também revelam as nuances dos personagens e suas relações, contribuindo para uma experiência de leitura imersiva.

    Adequação ao Tema:

    O tema “Viagem” foi muito bem explorado, se enquadrando na temática “viagem espacial”. Apesar que de início essa abordagem pareça um pouco clichê, a forma como tudo aqui foi apresentado mostrou que essa história é bastante criativa. Além da viagem física, o conto também aborda a viagem emocional e espiritual dos personagens, especialmente Yuri, cuja identidade é trocada com a do castelhano que eu esqueci o nome. Aliás, agora que toquei nesse ponto, percebo que o castelhano meio que roubou o corpo de Yuri, e isso se enquadra também ao tema de “roubo” do nosso desafio, devido à possessão espiritual. Muito bom!

    Entretenimento:

    Confesso que nos três primeiros capítulos eu estava lendo essa história com um pé atrás. Ela só me ganhou lá pelo 4 ou 5, que foi onde as coisas realmente começaram a engrenar. Vou fazer uma observação um tanto quanto aleatória, mas o nome da ucraniana me incomodou um pouco, pois Anya, por ser um nome bastante ímpar, me remete diretamente à personagem do desenho animado Spy Family, que é uma criança… e os trechos em que o Yuri estava descendo a lenha na Anya, fazendo ela gemer com gosto, me causaram um pouco de desconforto… é tipo aquela sensação de quando o leitor vê uma cena de sexo onde a personagem tem o nome da mãe dele, sabe? É estranho! Mas enfim… onde eu estava? Ah sim! A história deste conto é bem criativa e interessante. A mistura de drama, romance e elementos de ficção científica cria uma identidade incrível para este conto. A habilidade do autor em manter o suspense, especialmente através dos conflitos e dilemas éticos enfrentados pelos personagens, tornou tudo muito interessante. Achei engraçado o fato de o castelhano roubar o corpo do Yuri, foder com a vida dele, e depois devolver o corpo para ele. Isso culminou num final bastante inusitado e interessante. Aliás, a história parecia que ia acabar quando a viagem espacial terminou, mas foi na Terra onde as coisas começaram a ficar ainda mais interessantes!

    Conclusão:

    PONTOS NEGATIVOS:

    • Começo um pouco devagar, de início me pareceu que a história seria chata.
    • Algumas palavras sendo usadas de forma estranha. Mas creio que isso se deva à nacionalidade do autor, então tudo bem.

    PONTOS POSITIVOS:

    • Abordagem única e criativa, conseguindo enquadrar os dois temas do desafio.
    • Diálogos e narração bastante interessante, que são leve, ricas e prendem o leitor.
    • Final bastante interessante, com uma boa reviravolta.
    • Divisão em capítulos, que favorece a história e torna a leitura ainda mais agradável.
    • Yuri
      16 de abril de 2024

      Excelente comentário, Thales. Acertou nos pontos-chave do conto. Vou dar boa nota na sua avaliação… 🙂

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Informação

Publicado em 14 de abril de 2024 por em Viagem / Roubo.