EntreContos

Detox Literário.

Quem Eu Costumava Ser (Priscila Pereira)

Quando acordei  não existia nada. Apenas um completo e silencioso vazio. Daqueles que sugam tudo ao seu redor. Mesmo que não haja nada para sugar.

E depois de uma eternidade algo começou a surgir. Uma coisa totalmente nova. Tão pequena ainda que era muito difícil de reparar. Mas foi crescendo, tomando forma, até se tornar completamente visível.

Uma ideia.

“Quem sou eu? Não sei.”

E por que ?

Um acidente de carro. Eles disseram.

Uma batida tão forte na cabeça que me deixou em coma por vários meses. E quando acordei, só havia o vazio.

E depois dessa primeira ideia, várias outras começaram a brotar. Como plantas, algumas boas e outras, meras ervas daninhas.

“O que torna um ser humano único? O que diferencia uns dos outros, excluindo a aparência? A alma ainda é a mesma quando perdemos a memória de quem somos?”

Muito barulho e caos no antes silencioso “nada” em meu cérebro.

Resmungo palavras desconexas e logo uma enfermeira aplica uma injeção em meu braço e uma névoa gostosa silencia meus pensamentos.

Sonho pela primeira vez. Que me lembre. Mas nada que me diga quem sou. Ou era. Só um emaranhado de coisas. Árvores. Céu azul. Vento no rosto. Estrelas em um céu escuro.

Fragmentos despedaçados de coisas que vi, senti e vivi. Imagino que seja isso.

Gasto minha curta paciência tentando lembrar. Alguma coisa, qualquer coisa. Nada!

Os médicos falam comigo, mas não entendo totalmente. Algumas coisas não fazem sentido nenhum. Outras me preocupam.

Amnésia total irreversível. Reaprender a viver. Paralisia parcial temporária. Afasia consciente temporária. (Parece que falo só quando estou dormindo, ou sob efeito de analgésicos, mas apenas palavras desconexas.) Família ansiosa para uma visita.

Que família? Eu tenho uma família? Então eles devem saber quem sou… ou era.

Muita informação!

Hiperventilação… taquicardia… tremores…

Injeção, névoa, sono, vazio reconfortante.

A família:

Marido

Homem, uns  quarenta anos, mais ou menos bonito, olhos tensos, ansioso. Fala gentil, mas não chega muito perto. Olha sempre para os médicos esperando aprovação.

Filha

Pré adolescente, uns doze anos. Bonita, aparência infantil ainda. Sorri para mim, mas não consigo sorrir de volta.

Filho

Adolescente, uns quinze anos, rosto apático, triste. Olhar indeciso. Tenta chegar perto de mim, mas alguma coisa em meus olhos faz com que se afaste.

Deve ser medo.

Estou morta de medo.

Não conheço essas pessoas. Não tenho a mais leve sensação de algum dia ter visto qualquer deles.

Muita pressão!

Hiperventilação… taquicardia… tremores…

Injeção, névoa, sono, vazio reconfortante.

Estou sozinha. A cama é quente e confortável. O despertar é suave e tranquilo. Meu cérebro parece mais forte e estável.

Os médicos parecem confiantes. Trazem um espelho. Explicam que pode ser um choque me ver, mas é necessário.  Perguntam se sei como me pareço. Dou de ombros. Não faço a mínima ideia.

O rosto que me encara é completamente desconhecido. Levanto as sobrancelhas só para ver se sou eu mesma. O espelho devolve uma imagem inquisidora.

Olhar vazio. Rugas de preocupação. Linhas de expressão. Cabelo na altura dos ombros, liso armado. Castanho claro, com fios brancos espalhados.

Me explicam que a cicatriz da operação fica escondida pelos cabelos. Passo a mão no couro cabeludo até encontrar. Uma linha fina de fora a fora no meio da cabeça.

Dou de ombros. Isso não me importa. Nada parece importar.

Fisioterapia para voltar a andar. Dor.

Fonoaudiologia para voltar a falar. Dor.

Terapia para voltar a pensar normalmente. Dor.

Terapia em grupo com a minha família para poder voltar para casa. Dor. Dor. Dor.

Como posso voltar para um lugar onde nunca estive?

Minha voz é rouca. Pela falta de uso. Consigo formular frases pequenas e simples.

Estou com fome.

Preciso ir ao banheiro.

Vou dormir.

Nada além disso. Ainda. Mais por não ter o que dizer do que por não conseguir. 

O que mais eu falaria?

Meus filhos vem me visitar bastante agora. Não sei o que perguntar. Não tem nada que eu queira saber. Eles trazem fotos. Dezenas delas. E tudo o que vejo é uma estranha sorridente, em várias fases da vida. E eles pequenos, tão diferentes. Parecendo tão felizes.

Meu terapeuta diz que sofreram muito. Todo esse tempo que fiquei em coma. Mas eu não sinto pena. Não sinto nada.

Meu marido vem todos os dias. Senta do meu lado e fala. Fala sobre tudo. Conta como nos conhecemos, como casamos, como tivemos as crianças. Eu fico só ouvindo. O que mais posso fazer?

Do nada surge uma ideia.

— Eu tenho mãe?

Talvez por ser mãe agora e não ter a mínima noção do que fazer.

— Você tinha. Mas ela morreu. Alguns anos atrás… e seu pai morreu também, faz uns dez anos.

Não sinto nada. Talvez alívio. Se eles estivessem vivos seria mais pessoas com quem teria que conviver.

Consigo andar sozinha agora, mesmo que com dificuldade. Mas não tenho lugar nenhum para ir. Sugerem o jardim do hospital. Mas não tenho vontade.

Quanto mais meu mundo parece expandir, mais angustiada fico. O vazio era reconfortante. Pessoas, coisas, lugares, cores e sons são exaustivos.

Receitaram (além dos remédios, da terapia e do acompanhamento com a equipe multidisciplinar) baixa exposição a coisas novas. E aumento gradativo com o tempo.

É normal. Pelo que dizem. Passei por muita coisa. Meu cérebro está se curando ainda. Um dia voltarei a sentir normalmente. Um dia estarei confortável com minha família e comigo mesma.

É o que dizem.

“Faça uma lista do que gosta e do que não gosta.”

Gosto:

Café com leite.

Pão novo.

Manteiga.

Geleia de framboesa.

Suco de maracujá.

Silêncio.

Vento na janela.

Sol ameno.

Chocolate amargo.

A música que a menina disse que era minha preferida.

O livro que o menino lê para mim quando vem me visitar. 

Perfume que o marido usa.

Não gosto:

Café puro.

Torrada.

Geleia de pêssego.

Suco de caju.

Barulho.

Luz forte.

Muitas pessoas.

Perguntas.

Abraços.

TV ligada.

Campainha do hospital.

Vou aumentar a lista com o tempo.

É o que dizem.

Estou indo para casa. Mesmo sentindo que a única casa que conheço é o hospital.

Olho para o mundo pelo vidro do carro. Muita coisa, muita gente. Meu cérebro registra tudo, mas nada me causa qualquer sentimento.

Não sinto nada além de apreensão. Nada passa pela barreira que meu cérebro criou. Só queria sentir alguma coisa além do medo. Qualquer coisa.

Minha casa é boa. Tudo está em seu lugar, limpo e confortável. Fotos por todos os lados. Desenhos de criança em molduras de palito de picolé. Almofadas artesanais, que dizem que fui eu quem fez.

Fotos que tirei. Livros que comprei. Móveis que planejei. Cortinas que escolhi. Livros de receitas que usei.

Acordo ao amanhecer.. O marido dorme no sofá do lado da cama. Levanto e por intuição, vou até a cozinha. Olho para o fogão. Para a cafeteira.

Imagino que sabia fazer café. Então ainda devo saber. E simplesmente vou fazendo. Não tem pão, mas tem bolo. O menino fez ontem de noite. De banana com gotas de chocolate. Disse que é meu preferido.

Pego um pedaço generoso e uma caneca enorme de café com leite e me sento em uma poltrona posicionada no sol fraco que entra por uma janela enorme.

Pela primeira vez sinto algo como familiaridade.

O bolo é delicioso e o café tem gosto de lar.

O marido me olha com os olhos cheios de lágrimas.

— Era seu lugar preferido da casa… pensei que nunca mais ia te ver aí ,como sempre…

Parece que meu corpo tem memórias que minha mente não possui.

A menina me abraça tão forte e por tanto tempo que a aflição vai passando e automaticamente meus braços correspondem e o cheiro de seus cabelos traz lágrimas aos meus olhos. Mas não sei por que estou chorando.

Elogio o bolo que o menino fez e ele sorri orgulhoso.

— Foi você que me ensinou.

Parece querer tanto um abraço quanto a menina, mas já perdeu a coragem que só a infância dá.

Chego perto dele e ensaio um carinho estranho. Um abraço de lado, dando tapinhas em suas costas.

Ele coloca os braços ao meu redor e encosta o rosto no meu. Ele é mais alto. Tem que se abaixar um pouco.

O marido está chorando agora. Mas não tenho forças para mais abraços.

Os dias passam lentamente. A memória do corpo é incrível. Sei cozinhar. E tudo que cozinho parece ser o que as crianças mais gostam.

Passo as tardes lendo os livros que já li. Alguns gosto. Outros coloco de lado para doar. A música é a primeira coisa a me maravilhar de fato. Não todas, é claro. Algumas. Mas fico satisfeita de saber que alguma coisa pode me trazer sentimentos fortes.

 Estou aprendendo mais sobre as crianças. São boas crianças. Às vezes me pego conjecturando (não sabia que sabia essa palavra) sobre o que se passa na cabeça delas. Quase perderam a mãe. E agora, a mãe que elas têm, não é a mesma de antes.

— Como eu era antes?

— Você sorria mais… e falava mais… fazia biscoito pra gente, e me arrumava pra ir na escola… você abraçava e beijava mais. — A menina diz sem rodeios.

— Desculpe…

— Não é sua culpa. — O menino responde.

Aos poucos vou conseguindo fazer o que esperam que eu faça. O que parece que devo fazer. E a vida vai seguindo. Aos poucos vou sentindo. É bom sentir.

Não sei como sentia antes, mas agora é um sentimento calmo. Gostos simples, mas que satisfazem a alma. Minha lista do que gosto e não gosto agora tem também o que gosto muito e o que detesto.

Algum dia espero que tenha o que amo e o que odeio.

A interação com os filhos está indo muito melhor do que a com o marido. É diferente. As crianças são parte de mim. Agora, ele… não sei ainda por que o escolhi entre tantos.

Vejo que ele sofre muito por minha completa falta de interesse, mas não consigo me importar ao ponto de realmente tentar algum avanço sentimental em nosso relacionamento.

Ele ainda dorme no sofá do quarto. Não o trato mais como um estranho completo e sim como um bom colega de quarto.

Não sei se antes do acidente ainda o amava. Podia ser que não. Depois de tantos anos de casamento…

Prefiro não perguntar. Talvez ele não saiba, ou talvez minta, dizendo o que for mais conveniente para ele. Na realidade nunca vou saber a verdade.

Procurei diários pela casa, mas não achei nada. Nenhuma linha escrita por mim dizendo como me sentia nem nada sobre meus pensamentos e sonhos.

Então passei a escrever. O mais detalhado possível. Sentimentos, pensamentos, dúvidas, sonhos, medos. É uma segurança. Ver meu eu se formando lentamente diante de meus olhos enquanto folheio as páginas.

É quem costumava ser? Não sei. Mas é o que posso ser agora.

Desenvolvi uma coisa que chamo de intuição. Mas nada mais é do que a incrível memória do corpo. Às vezes sei de alguma coisa, não porque me lembro, mas apenas porque sei.

Foi assim que senti que as crianças eram realmente meus filhos. Que haviam nascido de mim e que eu as amava muito antes e que voltaria a amar um dia.

Foi assim que descobri meu amor por literatura, música e culinária.

Foi assim que descobri minha preferência pela praia, dentre todas as pequenas viagens em família.

E foi assim que um dia descobri que poderia voltar a amar meu marido. Quando me peguei rindo de uma frase boba que ele disse, e quando espontaneamente o ajudei com a gravata. Quando ele me abraçou e beijou meu rosto, sabia que ele era muito importante para mim.

Ainda sonho com fragmentos da realidade passada. Pequenos retratos de antes. Nada que me faça lembrar, mas que me mostra que eu existia antes. Que ela também era eu e que eu também sou ela.

Recomeçar nunca é confortável. Porque se pressupõe que o que quer que havia antes não existe mais.

Pelo menos não como era antes.

 E o novo pode ser pior.

 Mas também pode ser melhor.

 Quem pode saber?

E o vazio foi se enchendo. Até que as lacunas não faziam mais falta. Até que uma nova eu foi surgindo.

Segundo as crianças, diferente de antes, mas tão boa quanto a outra.

É o máximo que eu poderia esperar, afinal de contas.

Sobre Fabio Baptista

33 comentários em “Quem Eu Costumava Ser (Priscila Pereira)

  1. Matheus Ribeiro
    14 de março de 2024

    Incrível, Pri!!! deixei pra ler e desfrutar de seu conto em um momento onde eu pudesse realmente depreender toda minha atenção e estou extasiado!

    a temática em que você envolveu o tema me prendeu do início ao fim… quase me transportando aos sentimentos de aflição dela.

    a ideia subjetiva que me marcou bastante em seu conto foi o fato de que ainda que tudo seja igual, nada é o mesmo. e essa é uma constante real na vida humana.

    fem um dos parágrafos finais, trouxe de forma despretensiosa, leve e magistral um dos questionamentos mais presentes na história humana.

    Recomeçar nunca é confortável. Porque se pressupõe que o que quer que havia antes não existe mais.

    Pelo menos não como era antes.

     E o novo pode ser pior.

     Mas também pode ser melhor.

     Quem pode saber?

    quem pode saber?!

    • Priscila Pereira
      14 de março de 2024

      Oi, Matheus!! 😍

      Que bom que leu e que gostou! Fico muito feliz! 💖

  2. Fabio Baptista
    11 de março de 2024

    É engraçado ler o conto depois de ver o resultado e constatar que se tivesse lido antes teria sugerido coisas que, se aplicadas, talvez viessem a prejudicar o desempenho no certame.

    Por exemplo, eu senti (sempre sinto) bastante falta de uma ou outra construção mais elaborada, uma metáfora que gruda na cabeça ou algo do tipo. Talvez isso soasse exagerado para alguns avaliadores. Nunca saberemos.

    O fato é que o conto faz o arroz com feijão, mas faz muito bem feito, bem temperado, daqueles que a boca saliva só de sentir o cheiro ao entrar na cozinha (desculpe, estou com fome e acho que isso está influenciando o raciocínio). A simplicidade pode parecer demérito, ou crítica, mas não falo nesse sentido. Para o desafio (e para leitura, de um modo geral), mais vale o simples bem executado do que uma tentativa de rebuscado mal executada.

    O premissa aqui (perda de memória), apesar de não exatamente original, foi abordada de um jeito criativo. Pelo menos não me recordo de bate pronto de alguma obra abordando a reinserção de uma pessoa com amnésia dentro do núcleo familiar antigo. Isso estimulou a curiosidade de saber o desenrolar da história, confesso que já esperando alguma nova tragédia que (ainda bem) não ocorreu. O conto está muito bem revisado e as frases curtas não deixam o ritmo cair em nenhum momento. Algumas estruturas diferenciadas dão um toque especial, por exemplo os parentescos servindo como subtítulos e m determinado momento e a repetição das rotinas do hospital terminando em dor (minha parte preferida do conto, tecnicamente).

    Eu concordo com o Gustavo sobre esticar a história para um romance ou, no mínimo, uma noveleta. Essa premissa tem toda cara de livro premiado.

    Parabéns pela primeira colocação, título mais do que justo e merecido.

    • Priscila Pereira
      11 de março de 2024

      Olá, Fábio!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Escrevi o conto tão despretensiosamente que não me imagino esticando a história, mas quem sabe né… 😁

      Até mais! 😘

  3. claudiaangst
    10 de março de 2024

    Oi, Pri, tudo bem? Só fui ler agora o seu conto porque não estava entre os meus obrigatórios. Mas antes tarde do que nunca, né?
    O pseudônimo chamou minha atenção. Edelvais, no original edelweiss, é uma florzinha branca, típica dos alpes. O branco remete ao vazio de uma mente destituída de memórias. E por ser uma florzinha que sobrevive a baixas temperaturas, também me fez pensar na memória como algo que resiste ao congelamento da mente e ressurge aos poucos, no momento certo.
    Gostei do texto construído com frases curtas. Acho que esse tipo de construção causa maior impacto, além de contribuir para a fluidez da leitura.
    O conto não traz o recomeço como um momento de alegria, mas há esperança. A esperança que surge lentamente, entre camadas de gelo, sugando tudo o que pode do solo. O solo é a realidade.
    Parabéns pelo conto e pelo pódio. Mereceu!

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Claudia!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Fico muito feliz que tenha gostado! Você é uma inspiração pra mim! 🥰

      Até mais! 😘

  4. Regina Ruth Rincon Caires - Caires
    3 de março de 2024

    Quem Eu Costumava Ser (Edelvais)

    EDELVAIS = Planta ornamental perene da família das compostas nativa das montanhas da Europa, muito comum nos Alpes, de folhas em tufos e inflorescência densa, formada por pétalas brancas inseridas em capítulos de flores amarelas. Edelvais também é conhecida como flor do amor eterno. ESSA PLANTA TEM A PROPRIEDADE DE SE MANTER SECA POR MUITO TEMPO, mas floresce novamente. As raízes são perenes.

    Um conto que trata da vida após um acidente que trouxe perda parcial da memória para a paciente. Não é sobre o cérebro que se torna uma “tábula rasa”, condição mental caracterizada pelo vazio completo. Não. A personagem sofre amnésia dissociativa de identidade. Tem noção de espaço, domina a fala, os conhecimentos adquiridos, sabe compreender a situação, mas não tem memória de qualquer relacionamento pessoal. Realidade torturante.

    Mesmo sendo uma leitura carregada de angústia, traz uma nova e interessante vertente para o tema “recomeço”. E o contar foi bem estruturado, as tramas costuradas com muita lógica e muito sentimento. Enternece.

    O recomeço, neste texto, reafirma a importância do amor da família: as raízes são perenes.

    Edelvais, “flor do amor eterno”, parabéns pelo trabalho!

    Boa sorte no desafio!

    Abraço…

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Regina!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Acredita que não sabia nada sobre a Edelvais? Só sabia que era uma flor… Inacreditável como combinou tão bem com o conto! Muito obrigada por descobrir isso! 🥰

      Até mais! 😘

      • Regina Ruth Rincon Caires - Caires
        10 de março de 2024

        Imagine! Tenho mania de estudar tudo, faço tudo para entender todas as mensagens dos textos, nem sempre consigo. Parabéns pela vitória! Abração…

  5. Daniel Reis
    2 de março de 2024

    Quem Eu Costumava Ser (Edelvais)

    Comentário: Uma história sobre recomeço após um acidente com perda de memória, narrado com muita sutileza e até mesmo alguma frieza (característica marcante do novo eu da narradora). As relações familiares com marido e filhos, transformadas pela nova pessoa que ela se tornou pelas limitações, são muito coerentes e o eu leitor consegue se colocar naquela situação. O conto é bem conduzido até o final, onde uma espécie de redenção limitada satisfaz positivamente, pois o autor não escolheu enveredar pelo drama e manteve um ar de esperança e transformação.

    Critérios de avaliação:

    Premissa: excelente premissa, totalmente aderente ao tema proposto pelo desafio e promissora desde o começo.

    Construção: narrativa simples, com palavras comuns (linguagem que também tem a ver com a reaprendizagem da narradora), que torna a leitura bastante fluente. Condução episódica, mas mostrando cada um dos aspectos dessa nova vida e relações da narradora.

    Efeito: muito positivo, uma história que, se não é incomum, soube mostrar os aspectos envolvidos numa redescoberta de si mesmo (a essência do recomeço). Parabéns!

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Daniel!

      Muito obrigada pela leitura e comentário tão generoso! Fiquei tentada a colocar mais drama dando um plot qualquer, mas felizmente senti que estragaria o texto… 🤭 Gostei muito do seu comentário!

      Até mais! 😘

  6. Antonio Stegues Batista
    1 de março de 2024

    A personagem narradora começa sua história contando como acordou de um coma, depois de ter sofrido um acidente, tenta lembrar quem é e onde está. Tudo é desconhecido e vazio. O médico conta sobre o acidente e as condições dela. A família vem visitá-la, mas ela não reconhece o marido nem os filhos. Voltando para casa, tenta lembrar e reconhecer as coisas que a cercam. Começa a escrever, procurando montar o mosaico que é sua vida, colocar cada peça em seu lugar. E por fim ela consegue se adaptar à nova realidade, a sua família, como uma nova mãe e esposa. O conto é bem escrito, a estrutura um pouco enfadonha para ler cada detalhe, mas consegue criar uma bela estética na estrutura e narrativa. Um conto de alguém acostumado a escrever com excelente criatividade. Não encontrei nenhum erro. Achei  um bom conto.

    …………………………………………………………………………………………………

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Antônio!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Ficou bem enfadonho de ler mesmo pra quem não gosta muito de drama, mas fico feliz que mesmo assim tenha gostado!

      Até mais! 😘

  7. Givago Thimoti
    27 de fevereiro de 2024

    Quem eu costumava ser (Edelvais) 

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

             Impressões iniciais

    + Conto fragmentado como a memória da personagem; o que foi muito bem feito, na minha opinião — um estilo de escrita apropriado à personagem e à história.

    + Recomeço extremamente pertinente com o tema

    + Achei o conto extremamente bem escrito

    + Um dos meus favoritos! Torcendo por você, escritor (a)!

             Alma (o que tocou ou não o leitor):

    Eu gostei muito desse conto. É um conto que reflete o esmero do escritor. Ele foi muito bem trabalhado. O estilo de escrita simples — voz em primeira pessoa, parágrafos quebrados, fragmentados, rápidos — reflete o status mental desmemoriado da personagem (que merecia um nome, assim como os demais integrantes). 

    Depois de um grave acidente, a apatia da personagem é completamente verosímil e palpável dentro do conto. Este leitor, diante do estado da mulher, conseguiu se conectar com a personagem. Uma mulher entrando no papel de X (porque faltou o nome rsrs). Aos poucos, podemos perceber o recomeço dela, se encontrando no amor pelas coisas que gosta, pelas coisas que não gosta, pelos filhos e até mesmo redescobrindo o amor pelo marido.

    Parabéns pela escrita e pelo conto! Muito bem trabalhado e fechadinho. Irretocável!

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Givago!

      Muito obrigada pela leitura tão atenta e pelo comentário tão incrível!! Amei! 🥰 Um dos melhores comentários que já recebi na vida!

      Até mais!😘

  8. Fernanda Caleffi Barbetta
    27 de fevereiro de 2024

    Olá, Edelvais

    Seu texto é muito bom, bem escrito. Bonita a forma como descreveu a personagem recuperando os laços familiares. É um texto sensível.

    Vamos conhecendo não apenas a personagem principal, mas a sua relação com a família. Existe um subtexto que vai se desenrolando enquanto você conta a história corrente.

    Apesar de a escolha mais óbvia para um texto como este ser a primeira pessoa, por conta da introspecção, ouso dizer que, no caso do seu conto, a terceira pessoa pode funcionar melhor. Como o enredo é sobre uma personagem com amnésia, se recuperando aos poucos, em muitos momentos eu me questionei se ela saberia daquelas coisas, daquelas palavras, se ela saberia falar de sentimentos que ela diz não sentir, dos quais não se lembra. Como saber que não possui aquilo que não reconhece? Para evitar cair nestas armadilhas, sugiro tentar a terceira pessoa.

    O primeiro parágrafo não me agradou tanto porque dá a ideia de que não existia nada no espaço, no mundo. Meu cérebro já ligou a chavinha da ficção científica. E, na verdade, ela sentia como se não existisse nada em sua mente. Cito esse incômodo porque o primeiro parágrafo para mim é muito importante, é o que apresenta o texto, gosto que ele me prepare para o que vou ler.

    A mesma coisa com o final, achei um pouco aquém do texto, meio largado, desinteressante.

    “Minha lista do que gosto e não gosto agora tem também o que gosto muito e o que detesto.

    Algum dia espero que tenha o que amo e o que odeio” – interessante isso, gostei.

    E por que? – quê

    “Alguns gosto” – de alguns, gosto

    “Mas fico satisfeita de saber” – em saber fica melhor

    Em certo ponto do texto você abandona as aspas.

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Fernanda!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Interessante a ideia da terceira pessoa, nem me passou pela cabeça… Mas como disse pro Gustavo, não pretendo mexer no conto, talvez piore ao invés de melhorar 🤭

      Até mais!😘

  9. Vladimir Ferrari
    26 de fevereiro de 2024

    Emocionante, elucidativo e inspirador. O coma é um dos temas que me atrai bastante e não posso garantir que respeitarei a autoria de certas ideias (desde que não copie as palavras, certo?). Um texto bem escrito e claro, direto para povoar a mente do leitor de imagens. Não concordo com o título, apesar de respeitar a ideia. Algo poético como a frase do final: “Até as lacunas não fazerem falta”, ficaria digno de nota 11. Sucesso.

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Vladmir!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Eu quase coloquei esse título ou um muito parecido que agora não lembro mais, mas acabei optando por esse, mais direto…

      Até mais!😘

  10. fabiodoliveirato
    24 de fevereiro de 2024

    Quem Eu Costumava Ser
    Buenas!
    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.
    Vamos lá!
    TÉCNICA
    Gramaticalmente, parece perfeito. Não encontrei nenhum erro, nenhum descompasso. Nada. O conto tem ritmo, tem personalidade. Arrisco a falar, inclusive, que o conto tem um estilo próprio. Frases curtas para impactar, parágrafos cirúrgicos.
    Se pudesse mexer em algo, diria que o conto se estendeu mais do que precisava. Pular grande parte da recuperação e das ânsias do hospital poderia ser benéfico. Fiquei com a sensação de que muitas ideias estavam sendo repetidas, reforçadas em excesso. Tanto que, quando ela estava no carro, fiquei com a sensação de que o conto ia começar de verdade ali. E ele realmente ficou melhor a partir dessa cena.
    CRIATIVIDADE
    O conto não executa uma premissa original. E nem tenta ser original. É o típico drama de uma pessoa com amnésia que precisa reaprender a conviver com sua família. Até os personagens parecem retirados de um filme de Hollywood, daqueles bem dramáticos, com direito a cena com todo mundo se abraçando (ou quase todo mundo, hahaha).
    O que faz com que a leitura seja um pouco mais interessante é o estilo da narrativa, como mencionei na parte técnica. Mas, fora isso, admito que fiquei com sono grande parte do texto, principalmente depois da apresentação da família dela, no hospital.
    CONSIDERAÇÕES FINAIS
    O conto não é ruim, Edelvais. Está muito bem escrito, história bem executada. Eu que não me atraio por esse tipo de trama e fico entediado. Diria que é um autor experiente, que já está desenvolvendo um estilo próprio, e isso é um mérito enorme. Acho maravilhoso, até. Feliz é aquele que se encontra na arte.

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Fábio!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Puxa vida, ganhar assim o selo de soneca do Fábio foi uma punhalada no coração, viu! 🤭 Mas concordo, está bem chatinho mesmo, drama é assim mesmo, fazer o quê, né!

      Até mais!😘

  11. Marco Aurélio Saraiva
    22 de fevereiro de 2024

    É um texto pesado e melancólico. A leitura me fez sentir uma apatia que estava refletindo até na minha expressão física – só notei quando terminei de ler. O conto carrega essa apatia do início ao fim, especialmente com todas as pausas e pontos finais, e mesmo que a mulher na conclusão fale que está melhor, que ama e que sente, a impressão que fica é que ela apenas aprendeu a fingir estas coisas, que teve que se forçar a identificá-las, mas que na verdade não sente nada daquilo, e que era agora apenas uma casca vazia. Ao menos, foi o gosto que ficou na minha boca.

    O que não gostei: é uma abordagem interessante sobre o tema de “recomeço”, mas não diria que é um dos textos que mais me agradou. É bem escrito, sim! Mas caramba… não é um texto que eu gostei de ler, nem que eu recomendaria a alguém. Não por ser um texto ruim – ele passa bem a realidade da personagem – mas por ser uma leitura que te deixa se sentindo mal depois que você termina.

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Marco!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Acho que um dos melhores elogios que um escritor pode receber é o de que seu texto fez o leitor sentir alguma coisa, sendo ela boa ou ruim! Então vou considerar seu comentário um baita elogio 😁!

      Até mais! 😘

  12. Simone
    17 de fevereiro de 2024

    Um conto maravilhoso, exatamente no tema recomeço. Uma mulher desmemoriada por um acidente volta para a vida de antes e descobre sua família amorosa. Engraçado sentir-se no lugar dela, quanta curiosidade sobre o passado. Fiquei pensando que ela esqueceu traumas e infelicidades que viveu, portanto seu recomeço pode ser para uma vida mais feliz. Gostei muito das frases curtas e exatas, da objetividade, das cenas. Tive compaixão do marido, precisará reconquistar sua esposa. No subtexto a vida passada. Enfim, muito bom!

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Simone!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Gostei bastante do seu conto e fico feliz que tenha gostado do meu!

      Até mais! 😘

  13. Kelly Hatanaka
    17 de fevereiro de 2024

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Aí sim! Um conto que não resvalou no tema, não botou um “recomeçar” lá só pra encaixar, mas que sim, deitou e rolou no tema, se lambuzou com o tema, se refestelou com o tema. A maníaca do tema aqui agradece.

    Escrita
    Irretocável. Adoro quando os diálogos refletem a personalidade do personagem (“personalidade do personagem” é feio demais, mas é isso, né).

    Enredo
    Uma mulher perde a memória totalmente e relata seu reencontro com a família e sua adaptação à vida normal. Gostei da maneira como foi possível sentir o vazio da protagonista. Difícil sentimento de invocar, esse, e você mandou muito bem, Edelvais. Partido deste ótimo começo, é possível sentir o amor ressurgindo nos pequenos detalhes do cotidiano.

    Impacto
    Um conto que começou prometendo nada e terminou entregando tudo. Meu favorito até o momento. Você apertou todos os botõezinhos de sentimentos: vazio, inquietação, ansiedade, medo, ternura, amor, saudade. Raiva, porque não fui eu que escrevi esse conto lindo (brincadeira…).

    Parabéns e boa sorte!

    Kelly

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Kelly!

      Muito obrigada pela leitura e comentário tão generoso! Amei! Quando vc colocou um pedaço no grupo imaginei que pudesse ser pra mim e fiquei tão feliz 😍 valeu mesmo!

      Até mais! 😘

  14. Jowilton Amaral da Costa
    15 de fevereiro de 2024

    Um bom conto. Uma mulher sofre um acidente e fica em coma por um tempo, ao acordar ela não lembra de nada e nem de ninguém. Acompanhamos toda o recomeço dela com a vida e seus familiares. A narrativa é boa e segura. A trama é simples, mas envolve. O conto tem um ar melancólico que gosto muito. Não percebi erros. O tema foi bem desenvolvido. As personagens são bem conduzidas. O impacto não é muito grande, já que o conto é bem linear e não há reviravoltas impactantes. Boa sorte no desafio.

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Jowilton!

      Muito obrigada pela leitura e comentário! Fiquei com vontade de deixar ele mais interessante com algum plot, mas desisti… 😁

      Até mais! 😘

  15. Andre Brizola
    12 de fevereiro de 2024

    Olá, Edelvais!

    Quando o Entrecontos voltou, e o desafio com o tema Recomeço foi lançado, a primeira coisa que pensei foi que a criatividade dos autores seria realmente testada. Trata-se de um tema difícil, e que acaba por nos levar por um caminho natural de escolher a retomada de um personagem. E, de todos os contos que li até o momento, acho que o seu tratamento do “recomeço” foi o mais distinto do comum, embora tenha, sim, enveredado pela tal “retomada de um personagem”. Normal, assim também o fiz. Dito isso, tenho que especificar aí que, quando digo que a nossa criatividade seria testada, digo que esperava realmente ler contos que fugissem do normal, que apresentassem um algo a mais, pois eu acreditava que o tema giraria em torno de doenças, falecimentos, falências e drogas. E isso, até agora, se mostrou certo em 100% da minha expectativa, em sete contos lidos.

    Agora, tratando do seu conto especificamente, gostei bastante da forma como a amnésia da personagem foi retratada, e como as reações familiares, com suas delicadezas e limites, deixaram o enredo denso mas, de certa forma, leve, sem apelar para o drama novelesco, e nem para o drama hospitalar. A gradação com que a personagem vai percorrendo os espaços, revisitando as memórias musculares, fazendo as outras funcionarem, é interessante, e não parece ter sido criada sem pesquisa.

    O estilo do texto é bem próprio e me parece familiar. Frases curtas, diálogos pontuais, listas, e parágrafos bastante objetivos. Tudo acompanhando o desenvolver de uma mente que também se apega a tempos curtos, por não ter acesso, ainda, a tempos maiores. Muito bem escrito e equilibrado, indo do começo ao fim sem variação.

    Gramaticalmente o texto é impecável. Aponto somente o parágrafo “Acordo ao amanhecer.. O marido dorme no sofá do lado da cama. Levanto e por intuição, vou até a cozinha. Olho para o fogão. Para a cafeteira”, que ficou com um erro de digitação com dois pontos finais, ou reticências incompletas (e, como há reticências no texto todo, poderia ser essa a opção do autor). E na frase “levanto e por intuição, vou até a cozinha” senti falta de uma vírgula separando o “por intuição” do restante da construção, ou uma separação diferente. Não está errado, mas poderia soar melhor.

    No geral acho que é um conto que se destaca da maioria, sobretudo na forma como aborda o tema do desafio e, o que é bastante importante para mim, tem o “recomeço” como algo realmente relevante na trama. É muito bem escrito gramaticalmente, e estilisticamente, e tem um ritmo muito adequado ao enredo. Gostei bastante.

    Parabéns!

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, André!

      Muito obrigada pela leitura tão atenta e pelo comentário tão generoso! Não esperava que o conto que escrevi tão despretensiosamente tivesse tão boa acolhida! Fico muito feliz!

      Até mais! 😘

  16. Gustavo Castro Araujo
    12 de fevereiro de 2024

    Existe uma linha muito tênue entre a realidade que conhecemos e a realidade que de fato acontece (ou aconteceu). Neste conto somos convidados a mergulhar nas dificuldades de (re)adaptação da mulher que, por um acidente de trânsito, viu-se despida de todas as suas memórias. Como fazer para (re)conhecer os filhos, o marido, os gostos, a própria rotina?

    A situação não é tão incomum quanto se imagina. Um passeio pelas notícias em geral mostra que diversas pessoas passam por esse périplo. Eu mesmo me lembro de ter lido a respeito um par de vezes.

    Contudo, reportagens jornalísticas tendem a simplificar os fatos. Para que a jornada da infeliz pessoa desmemoriada caiba nos padrões e limites impostos, o que se vê são resumos, dramas gigantescos condensados em poucas linhas, que deixam ao leitor a tarefa de preencher as lacunas.

    Este conto trata de humanizar esse drama, oferecendo uma visão mais detida sobre o processo de despertar a que alguém privado de sua própria história deve encarar. O início é a parte mais interessante, já que trata especificamente do momento em que a nossa personagem volta à realidade. Ali estão o espanto, a confusão, os medos e as expectativas diante dos desafios que se avizinham.

    É tudo muito verossímil. Dá para perceber e imaginar as dificuldades de uma readaptação desse tipo, em que é preciso aceitar certas condições, porque são inegociáveis, como o convívio com os filhos, a morte dos pais e a presença de um estranho (no caso, o marido). Daí a necessidade terapia, a predisposição para aceitar o novo bem como os fatos do passado esquecido que, como tais, não podem ser alterados.

    Creio, porém, que a despeito da excelente escrita do(a) autor(a), o limite de palavras acabou por prejudicar o desenvolvimento, já que a readaptação da protagonista é mostrada de modo mais acelerado do que o despertar do início do texto, o que se reflete no uso contínuo de frases curtas, que substituem as digressões mais reflexivas do princípio da narrativa.

    O que quero dizer é que essa história tem muito potencial para ser desenvolvida. Creio que a pessoa que a concebeu possui um material excelente nas mãos, podendo desdobrá-lo em subtramas diversas, indo mais fundo, de modo a demonstrar as demais fases desse recomeço. A diferença entre o trauma e o enlevo.

    De todo modo, mesmo curto, é um texto que há de agradar bastante, já que trata de valores universais como amor e aceitação (própria e dos outros). Parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio.

    • Priscila Pereira
      10 de março de 2024

      Olá, Gustavo!

      Muito obrigada pela leitura e comentário impecável! Não sei se conseguiria aprofundar essa história como ela merecia… Melhor deixar como está! 😁

      Vida longa ao EC!

      Até mais! 😘

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Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Contos Campeões, Recomeço e marcado .