A menina urgente tinha pressa. As horas passavam lentas, os dias eram meses e ao fim de um mês era como se houvesse se passado uma década.
Dormia estática a avó. Calma. A morte era certa. Que sentido a demora?
Arquitetava mil planos, a menina urgente. Sobretudo pensava o que faria do quarto a família. Seria dela, a mais velha? O maior, mais ventilado e com vista, o melhor da casa, onde jazia a avó que já quase não era.
Matá-la? Seria, mas faltava-lhe o como. E a coragem. E sobrava-lhe consciência. De tudo: dos riscos, de sentir sob os dedos desfazer-se a vida — medo! — e da culpa. Do futuro cobrar-lhe.
Bastava um travesseiro. Que mal haveria? A morte era certa. Questão de tempo (mais uns dias meses, décadas?) e espaço: o quarto onde amontoavam-se os irmãos, ela e mais três, desde que a quase-avó, quase viva, quase morta, ocupara o melhor quarto da casa.
Bastava um travesseiro. De madrugada, os olhos arregalados, o medo, o desgosto de si própria. Mas seria o melhor para todos. Ela no colchão, no chão, para dar lugar na cama aos irmãos menores que odiavam a avó, tinham uma espécie de asco, como se a avó fosse um monstro com seus excessos de pele e a quase vida, que faltava. Apenas ela, a mais velha a havia visto mais jovem, menos morta, menos velha.
Apenas cinco minutos, talvez menos, lera em uma enciclopédia na biblioteca da escola.
A mãe também liberta daquele trabalho inócuo. E da despesa com os remédios, o médico que vinha em casa. Tudo resolvido, bastava ela ter coragem de levantar daquele colchão raso, a dureza do chão por baixo não a deixando dormir.
Quatro horas, seu relógio de pulso marcava, a hora em que os espíritos retornavam aos corpos. Levantou-se para urinar, estava apertada e beber um pouco de água.
A porta do quarto entreabriu justo no momento em que passava. A avó a chamava, clamava sair daquele limbo; sempre tivera, dizia na sua voz quase ausente antes daquele outro quase, curiosidade de saber como seria do outro lado.
Pôs as costas da mão à frente de suas narinas, a respiração era calma. Suspendeu delicadamente sua cabeça com uma das mãos, com a outra retirou o travesseiro de baixo.
Tremia, faltava-lhe a coragem.
Às suas costas, a mãe, uma presença como um fantasma, sussurrou:
[ deixa que eu faço ]
Relaxou.
.
.
Acordou sentindo frio, a urina encharcando o colchão fino desde a nuca até as solas. No quarto ao lado, já não mais quase, a vó já não era.
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Quase (Laylah)
Que triste!
Imagino o cenário psicológico que essa menina viveu para tirar dela a doçura e colocar nela o desejo de matar a avó.
Doeu ler.
Não há memórias boas ou ruins que justifiquem sua escolha. Olhando assim de fora, parece que a menina sofreu algum tipo de manipulação que retirou dela a doçura que se espera de uma criança.
Obviamente que eu sei que crianças podem ser perigosas e até podem matar, mas elas não possuem preocupação com culpa, por isso penso em situação formulada de fora para dentro.
Texto bem escrito. A violência foi muito bem descrita,
Sucesso no Desafio.
Que conto sensível e terrível! Achei que colocou uma perspectiva muito cruel, porém muito realista em relação à velhice. Os pensamentos da menina representam muito bem uma visão que permeia a sociedade: de que os idosos deixam de ter a sua função útil e passam a “ocupar” espaços que poderiam ser melhor empregados, e o alívio ao transferir a responsabilidade de ter que lidar com a situação (seja do jeito que for, cuidando do idoso ou “resolvendo”o caso. É muito horrível, mas não é estranho a quem já viu de perto uma realidade assim. Fiquei muito sensibilizada e a escrita excelente contribuiu muito para o impacto do texto. Parabéns!
A autora tem uma voz narrativa bem peculiar. O verbo “ser” como intransitivo, a última vez que vi algo assim foi numa declamação de “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto. Particularmente acho isso um bocado bonito. De verdade, chego a reler as palavras, só pra saborear as construções.
Sua história é pesada. Uma escolha entre a vida e a morte posta pelo “quase”. A quase vida da senhora, a quase coragem da neta, o quase afeto de todo mundo. Aliás, não há “quase afeto” aí, mas apenas um pesado fardo. As coisas chegaram a um ponto tal que a quase morte da senhora fazia todos na casa terem uma quase vida (excelente escolha a tua). Uma escolha dramática é posta aí e a autora quis colocar os leitores diante desse drama, dessa situação extrema. Conseguiu, não tenha dúvida. A maioria provavelmente discorda da decisão da protagonista, mas não existe aqui apologia a coisa alguma, apenas a exposição dos leitores a uma situação extrema que muitas pessoas vivem e quem está a distância não faz ideia do quanto tudo aquilo é difícil.
Parabéns pelo conto, principalmente pelo final.
Achei a leitura um pouco travada em alguns pontos do texto, não sei dizer se pela escolha das palavras ou da pontuação. Mas claro que isso é algo subjetivo e provavelmente seja uma dificuldade minha como leitor de não estar acostumado com o estilo de escrita.
Quantos de nós já não tivemos esse mesmo pensamento da garotinha, não quanto a isso especifico, mas de pensarmos em situações que poderiam se resolver de forma muito mais fácil, não fosse os nossa consciência de certo e errado. Gostei muito ta escolha da mãe ter resolvido a história no lugar da criança. hehe
Mais uma vez parabéns pelo conto, obrigado por proporcionar a leitura dele. Boa sorte.
Oi, Laylah!
Adorei seu conto! A trama, ainda que simples, é bem desenvolvida e a narrativa nos envolve completamente. O final aberto, dúbio, foi uma boa escolha, na minha opinião.
Tenho que confessar que à primeira leitura, rápida, achei o conto sensacional. Com a segunda, mais atenta, alguns probleminhas técnicos se revelaram. Acho que houve um excesso de perguntas na primeira parte do texto, o que causou uma certa quebra de ritmo. Eu também sofro desse mal, como já me alertaram, então sei que ficamos tentados a colocar uma interrogação aqui e ali, mas até a mim soou excessivo: há uma pergunta em cada um dos cinco primeiros parágrafos.
A pontuação me pareceu falha em alguns momentos, como no trecho abaixo, onde deveria haver uma vírgula depois do aposto:
“Apenas ela, a mais velha a havia visto mais jovem, menos morta, menos velha.”
E meio redundante também: mais jovem = menos velha.
Já este trecho me causou estranheza: ao que se refere o “seria”?
“Matá-la? Seria, mas faltava-lhe o como.”
Mas são todas coisinhas muito pequenas mesmo. De um modo geral, é um conto excelente, com um enredo intrigante e bem escrito. Gostei de verdade.
Parabéns e boa sorte no desafio! 🙂
Oi!
Como fórmula de avaliação utilizo os quesitos: G -gramática, F-forma e C-conteúdo, onde a nota é distribuída respectivamente em 4, 3 e 3, e ainda, há que se levar em conta minhas referências, gostos e conhecimentos adquiridos como variável para tanto (o que é sempre um puta risco para o avaliado. KKK). Se não for isso é quase 😊
G=4. Só uma observação antes. Acabei de comentar o “NUANCES” e agora me deparo com o seu “QUASE”, e é engraçado como os títulos parecem se relacionar assim como há elementos em comum. Haha! Coisas do EntreContos.
Voltando, o conto pareceu bem escrito e bem pontuado com termos dispersos, sem repetições e sem misturas. Parabéns!
F=3. A forma como vc utilizou as palavras, dando sempre vazão para os sentimentos da menina, desenrolando os acontecimentos sem pressa, pontuando o universo da personagem… Com poucos elementos já está tudo apresentado e ficamos somente esperando a constatação do que se anuncia. O final ficou sugestivo de que tudo foi sonho, mas com ar sobrenatural suficiente para por a pulguinha atrás da orelha. Muito bom.
C=3. Então, a velhice requer atenção, cuidados e requer preparo, mas como preparar-se para algo quando não se tem o básico? Os pontos que cimentam o universo da menina já deixam claro que não tem como oferecer mais, tanto para os menores que acabam se amontoando, quanto para a idosa. Isso faz torna crível os pensamentos e atos dela, porque o meio influencia. Gostei bastante.
Parabéns e boa sorte!
Média final: 10
Laylah, gostei do conto. Já o tinha lido antes e me assombrado com a qualidade, agora, voltando para avaliá-lo, continua o assombro. Há coragem por parte da autora: toca no tema da morte de uma pessoa indigesta para seus familiares; traz um protagonista infantil como narrador, fugindo da ideia de que crianças não tem sentimentos negativos como ódio, ressentimento, vingança; há tensão no ritmo e, o final, longe de ser satisfatório ou pessimista, é reflexivo, nos fazendo pensar sobre os dilemas da vida e da morte que estão em nossas mãos.
Só tenho duas ressalvas: há, no conto, pequenas justificativas de ações e informações que o narrador obtém, como o fato dele ter lido na biblioteca que 5 minutos é o suficiente para uma pessoa morrer sufocada e quando o relógio de pulso marca 4 da manhã. Ausentes do conto, manteriam o mesmo ritmo e tensão. Se o cenário todo for um sonho, como me pareceu, um desejo reprimido do narrador, as justificativas são ainda mais desnecessárias.
Porém, são detalhezinhos percebidos por alguém que não chegou na final HAHAHAHA. Da minha parte, o conto receberá nota máxima!
Oiiii. Um miniconto angustiante e forte sobre uma menina que pensa em matar a própria avó que se encontrava doente no quarto que seria o mais espaçoso da casa. No fim quem mata a avó da menina é a mãe da garota, o que gera a teoria que talvez ela tivesse os mesmos pensamentos que a filha. Achei assustadora a frieza com que a menina e até os irmãos olhavam para a avó, pois chega a dizer que os irmãos menores a odiavam. Acho que talvez a falta de amor tenha feito a avó ficar ainda mais doente. Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.
Resumo: O texto fala de uma menina que cobiçava o quarto da avó e planejava mata-la, arquitetou, planejou e, quando foi executar, deu pra trás só para ser impedida pela mãe e que, talvez, terminou o serviço.
Pontos que gostei: Achei o texto muito bem trabalhado, achei sensacional a descrição das ações, das restrições e dos pensamentos, gostei muito pelo fato de como as ações foram desenroladas com o limite de palavras.
Pontos que não gostei: Eu gostei do texto em uma totalidade.
Drama muito bem desenvolvido em poucas palavras. Magistral!
No final, fica aquele suspense: foi sonho ou outra coisa?
Excelente conto, sucesso!!!
MINI – Embora dentro do limite do desafio, a tensão nos leva a acreditar que o conto tem, no mínimo, 1000 palavras.
CONTO – Pesado no conteúdo, mas leve na narrativa. Técnica interessante para o gênero “terror”. Estilo único já consolidado. Gosto disso.
DESTAQUE – “A menina urgente tinha pressa. “ A primeira frase de um conto é tão importante quanto o primeiro parágrafo de um romance. Você começou muito bem, ótima construção.
Olá, Laylah, que texto pesado, hein?
Gostei da forma como usou a palavra “quase” durante o texto.. o quase ser, quase existir, quase avó.
“No quarto ao lado, já não mais quase, a vó já não era” – bonito e triste este final.
Notei alguns problemas com vírgulas:
Dormia estática (vírgula) a avó
Sobretudo pensava o que faria do quarto (vírgula) a família
mais uns dias (vírgula) meses, décadas
para urinar, estava apertada (vírgula) e beber
sempre tivera, dizia na sua voz quase ausente (vírgula) antes daquele outro quase, curiosidade
“A porta do quarto entreabriu justo no momento em que passava. A avó a chamava, clamava sair daquele limbo; sempre tivera, dizia na sua voz quase ausente antes daquele outro quase, curiosidade de saber como seria do outro lado” – achei este parágrafo confuso.
“encharcando o colchão fino desde a nuca até as solas” – aqui parece que o colchão tem nuca e solas…
colchão raso – ?
Quase (Laylah)
Comentário:
De início, parabenizo o autor pela excelência da escrita. Texto limpo, caprichado, feito com muito cuidado. Parabéns pelo empenho, eu aprecio autor que zela por sua produção.
O conto é bem estruturado, o enredo é muito criativo. O autor consegue descrever magistralmente o mundo interior da “menina urgente”. Acredito que, até aqui, este conto é dos melhores do desafio. Trabalho de mestre, de gente que entende do riscado.
A dramaticidade da narrativa é assustadora, foge à candura do mundo infantil. A ”menina urgente” é uma criança com espírito adiante do tempo, e, com isso, o texto choca.
O autor trabalha perfeitamente a condução do drama. De frase em frase, a expectativa vai adensando, o leitor fica retesado aguardando o desfecho. Ave Maria!
Laylah, este texto é daqueles que, quando termina a leitura, você fica olhando pro nada. Desnorteia. Depois que li, fui tomar banho e deixei a porta aberta! Brincadeirinha…
Parabéns, Laylah!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Resumo: A neta divaga nas formas de cometer a morte da avó pelo desejo de ganhar seu quarto.
Gramática: A narrativa discorre numa linguagem um tanto peculiar, não transgredindo, mas usando de certa formatação que subverte a construção de algumas sentenças.
Comentário: Um conto de enredo forte, onde, ora transmite a ideia de uma morte natural, que já deveria ter acontecido, mas a demora, a impaciência da espera um homicídio/parricídio deve ser urgente. Numa narrativa cheia de subterfúgios, com um desfecho ainda mais impactante.
Uau! Odeio esse papo de “era tudo um sonho”, mas parabéns viu! Socorro! Toda a agonia e o passo, tudo muito bem executado, bem delineado, achei muito bom. Nem tenho muito o que dizer, além de que está de parabéns, o conto é excelente em tudo o que propôs!
O conto é denso, pesado e muito bom. Debruça-se sobre um dilema moral pouco abordado na literatura -pelo menos que eu tenha conhecimento- e gerou um belo conto.
Foi muito interessante o final da história, gerando uma quebra de expectativa do leitor, ao colocar a mãe com o mesmo ensejo e logo já descobrir que a jovem dormia e que também o desejo da mãe era um devaneio seu.
Por fim, gostaria de pontuar alguns aspectos que poderiam ser melhorados.
Eu, particularmente, gosto de frases curtas, ainda que quebrem a narrativa. Mas admito que essa quebra da narrativa não é boa para o leitor, que vê a leitura andar mais devagar e quebrada do que gostaria. É o que ocorre no segundo e no quarto parágrafos, em especial, e no início de outros. Soma-se a isso, a repetição de que a protagonista tremia e que lhe faltava coragem. Poderia substituir essas palavras por sensações que remetessem ao mesmo sentido, a fim de não ficar repetitivo.
Parabéns pelo conto.
Eita! Laylah, nem sei o que dizer.
Tive uma avó que sofreu muito e demorou muito para ir. Digo que demorou muito não por que fosse muito velha, mas porque a sua vida estava muito limitada. Dependia dos outros para muita coisa e acredito que estar viva era um peso para ela.
Depois de um grave AVC passou a morar na casa dos meus pais, como a sua personagem e eu tinha uns onze anos. Morreu quando eu tinha 24. Vi minha avó no seu conto. Claro, eu não era como a neta da sua história. Ninguém lá em casa era, mas eu imagino que muita gente sinta vontade de se aliviar e aliviar o doente do sofrimento.
Seu conto é bem escrito, é uma história com um fim impactante como deve ser um conto. Eu gostei muito. Está entre os melhores que li no desafio. Não encontrei defeitos. Um abraço e sorte no desafio.
Parabéns pelo conto, um dos melhores que já li nos desafios do site. O dilema da personagem interior da personagem, entre resolver uma situação prática diante da vida precária, e o peso na consciência de tirar a vida da própria avó. Logo no começo, quando ela comenta o desejo de ganhar um quarto maior, a motivação parece superficial, mas aos poucos vamos descobrindo que não se trata de resolver apenas uma questão própria, mas do conjunto da sua família, haja vista o final quando sua própria mãe assume a tarefa de pôr um fim no drama de todos, inclusive da avó doente. Muito bom, boa sorte!
Durante a leitura lembrei de um filme italiano “Parente é Serpente”, ninguém da família quer ficar com a matriarca. A obra é uma comédia, muito diferente do tom do seu conto, do suspense que você criou e a face nua e crua que emerge no seio de uma família.
A narrativa está muito fluída e bem desenvolvida. Ela é uma crescente, a cada frase algo se mostra, frio, triste, mas não se revela totalmente, o mistério perdura e a vontade de saber a ação seguinte cativa o leitor, assim me deixei ser conduzido, envolto pela história, para a revelação final. Um ótimo final.
Quero pontuar uma frase que gostei muito “Quatro horas, seu relógio de pulso marcava, a hora que os espíritos retornavam aos corpos”, achei muito massa. Me remeteu ao passado, coisas assim ouvi dos mais velhos, se encaixou perfeitamente no clima do seu conto.
Olá, Laylah!
Seu conto é muito bem escrito, embora tenha algumas construções bastante incomuns. É uma forma de composição que pega um enredo simples e o envolve em complexidade. Admiro quem consegue utilizar esse tipo de recurso, sobretudo porque eu raramente consigo.
O enredo pega basicamente a ideia da menina em conseguir livrar a família da avó, que entende ser um fardo. Um fardo que ocupada espaço, que consome recursos e que toma gasto emocional. A menina, não isenta das culpas que a convenção social dita, hesita no assassinato. É cruel, mas não inverossímil.
Traduzir tudo isso em sonho é o que me chama a atenção, sobretudo no “relaxou”.
A tensão noturna, gerada pelo sonho, e a liberação de seu próprio fardo, o assassinato, faz o corpo da menina relaxar a ponto de urinar na cama, algo muito comum na criança. Muito bem feito e muito bem traduzido em texto, ainda mais com limite tão curto de palavras.
Não vou me prender a erros técnicos no texto. Acredito que a ideia foi passada com segurança e não é um desvio gramatical que tirará o mérito do conto. Achei muito bom.
É isso. Boa sorte no desafio!
Terá a menina apenas sonhado o que tanto desejava fazer? O tempo é presença marcante neste conto, a direcionar a precisão dos atos e dos fatos. A quase vida tornou-se afinal morte definitiva.
Gostei da forma que nomeou a menina urgente e fez com que os pedaços do tempo cronológico se encaixassem em toda a trama.
Tudo muito bem costurado e linguagem precisa. A vida exigindo uma frieza de raciocínio de uma menina, a realidade cutucando o desejo de um pouco de conforto.
Parabéns pela participação e boa sorte no desafio.
BOI (Base, Ortografia, Interesse)
B: Um texto que traz uma sensação estranha. Com essa sucessão de verbos “depois” do acontecido, parece que estou lendo um texto do avesso, ao contrário (faz sentido?). Tem uma pegada lírica interessante e quase rítmica.
O: Então, isso que eu disse acima travou um pouquinho a leitura. É um ótimo texto dramático, com uma virada bem planejada, mas difícil de digerir. Estou acostumado à literatura “travada” da era de ouro dos anos 50-70, mas aqui ficou travada demais.
I: Contudo, gostei da história, do plot-twist e dos personagens sombrios. O final dá a entender que tudo não passou de um pesadelo, mas como a mãe, em teoria, ficou responsável pelo “negócio”, creio que realmente a velinha passou dessa para a melhor com uma ajudinha.
(Aliás, só eu tentei ler o texto ao contrário? De baixo pra cima? Funciona, por incrível que pareça).
Nota: 9
Olá, Laylah!
Então foi tudo um sonho? A avó morre quando a neta sonha que está quase matando ela? É isso?
Interessante a sua escrita, parece meia ao contrário, meia sem lógica, mas funciona, e ainda traz uma novidade… No geral eu gostei do conto, mais da forma do que do conteúdo… Eu já pensei nisso, em matar alguém que está demorando pra morrer… Mas acabei matando só em um conto mesmo… Essas coisas a gente pensa, mas não faz.
Boa sorte! Até mais!
Este é o texto de uma menina que tentou matar a avó porque tinha pressa de fazer algo que eu não faço ideia do que seja e que de uma filha que matou a mãe por alguma razão ainda mais absurda.
Tipo, o que eu vejo neste texto é uma personagem que é muito rasa e que não tempo porquê de sentir ou de fazer o que fez, então eu não consigo importar-me com ela.
O teu texto precisa que eu me importe com a menina e com a avó, mas falhaste em fazer com que eu me importasse. Isso tem a ver com falta de contextualização.
A partir daí, tudo o que acontece torna-se irrelevante.
Laylah,
caramba, que conto!
Gosto de histórias com personagens realistas, que mostram as falhas e fraquezas de qualquer um. A menina e a mãe fazem coisas horríveis, porém é impossível não se identificar de alguma forma com o desespero e o cansaço delas. A própria avó explicita não aguentar mais; pede ajuda para se libertar.
O “quase” do título está em todo lugar. A avó quase viva, ou quase morta. A menina quase matando. A mãe quase aguentando. A família quase vivendo.
Tenso e lindo.
Parabéns.
Kelly
Neta deseja a morte da própria avó. E vê seu desejo se concretizar. Ou, mesmo, concretiza-o.
Mais um conto de excelência, desses que me fazem rasgar de inveja (e de vergonha por ter escrito o que escrevi). Desses que fazem as leituras no EntreContos valerem a pena. É um conto muito bem escrito, conciso, com ótima pontuação, excelente escolha de palavras e construções. O desfecho é suficientemente aberto e suficientemente fechado: embora a morte da avó seja certa, sua execução resta incerta. Fosse tudo apenas um sonho, e o conto seria uma verdadeira merda; mas o autor foi suficientemente perspicaz para deixar plantada a dúvida: houve a execução ou não? A neta dormiu após executar a avó (após a mãe executar) ou apenas sonhou com tudo isso e, quando acordou, viu seus sonhos concretizados? Uma coisa é certa: a representação do drama social dessa família é coisa de excelência – a mensagem política é passada com sutileza, com elegância, com garbo.