1.
O sistema de ar-condicionado da caminhonete até se esforçava. Ainda assim, o calor do Mato Grosso era demasiado para um veículo antigo. Sentindo-se sufocado, Raon abriu as janelas de sua cabine. Precisava de ar. E recebeu, contra o seu rosto, o bafo quente daquela tarde.
O cacarejar das dezenas de galinhas na carroceria também ficou mais incômodo com as janelas abertas. Um tumulto só. Suas passageiras não pareciam estar desfrutando do passei. Espremidas em pequenas gaiolas, as aves lamentavam por aquela que seria a última viagem de suas enfadonhas vidas.
Raon avistou uma lanchonete na beira da estrada. Precisava fazer uma pausa para o café. Desfrutar, nem que fosse por alguns minutos, de um ar-condicionado decente. Outros três caminhões ocupavam o estacionamento. Ao descer do seu veículo, uma nova onda de calor o confrontou. Se demorasse muito, transportaria um carregamento de galinhas assadas.
Entrou na pequena lanchonete e a temperatura regulada lhe saudou. A vida podia ser suportável. Moderadamente saciado, pediu um café e um salgado. Uma mulher de olhos cansados o atendia. Do caixa, um senhor idoso o acompanhava com desconfiança.
Antes que o pedido chegasse, ele ouviu a música do plantão jornalístico na TV. Em uma transmissão internacional, a presidente dos Estados Unidos, Michelle Dominguez, falava ao vivo. Ladeada pela bandeira do país e pelo brasão nacional, ela apresentava semblante sério. Enfim, o anúncio da guerra pela água, imaginou Raon.
Na tradução simultânea, ela dizia:
— Fizemos imediatamente contato com os mais renomados astrônomos, solicitando que confirmassem os dados apresentados pela NASA. Até o momento, todas as análises reforçam a informação. O cometa CPE94 está em rota de colisão com a Terra.
Em poucos minutos, funcionários da lanchonete e clientes se aglomeraram diante da televisão.
— Ainda não pudemos apurar se houve falha técnica ou negligência de nossa equipe. Os cálculos, inicialmente, indicavam que o cometa passaria perto da Terra, mas sem oferecer risco. Porém, com os dados atuais, podemos afirmar que haverá um choque sem precedentes. Essa colisão ocorrerá em 03 dias.
A presidente Michelle não conseguiu conter as lágrimas. A tensão na pequena audiência da lanchonete ficou ainda maior.
— Não existe alternativa tecnológica que possa evitar o impacto. Tampouco teremos tempo hábil para desenvolver algum dispositivo que possa desviar a rota do cometa. Lamentavelmente, estamos em contagem regressiva. A vida no planeta Terra está prestes a se extinguir.
Com o comunicado devastador, todos estavam perplexos. Na frente de Raon, o café e o salgado esfriavam. Comeu de forma apressada. Só mais 03 dias de vida. Ainda assimilando a informação, decidiu terminar aquela viagem o mais rápido possível. Não pelas galinhas ou pelas drogas que ocultava debaixo das gaiolas. Mas por Valentina. Se o mundo acabaria, precisava estar ao lado dela.
O celular vibrou.
— Raon, ainda bem que consegui falar com você. Acabei de receber uma notícia muito estranha…
— Eu vi o comunicado, estou numa parada na estrada. Alguma chance de ser informação falsa, deep fake ou algo assim?
— Está em todos os canais, Raon. Em todos veículos de mídia.
— Caramba…
— É verdade.
— E como estão as coisas aí na cidade?
— Por enquanto, acho que as pessoas estão processando a notícia. Mas dá para esperar um caos, né? Toma cuidado. Vem direto pra minha casa quando terminar seu serviço. Acho que estaremos seguros aqui. Vem logo.
— Assim que eu puder. Eu te amo.
— Eu também. Se cuida.
Ligou a caminhonete com um sorriso nos lábios. Tanta coisa acontecendo e ele continuava se sentindo estranho ao ouvir “eu te amo” em sua voz. O mundo dava voltas. Bom, ao menos por mais 03 dias.
2.
Com algumas centenas de quilômetros pela frente, Raon acelerou o máximo que pôde. Para ajudar, ele tomou uma das pílulas que transportava. Um comprimido verde que deixava o usuário com o raciocínio acelerado. Ele também levava comprimidos amarelos, de um sonífero forte, e laranjas, para quem preferia expandir a percepção sensorial. No momento, só precisava do verdinho.
Com o fim do mundo no horizonte, dificilmente algum policial iria abordar sua caminhonete. E, se recebesse multas pelo excesso de velocidade, não precisaria se preocupar com o pagamento.
Ele nunca foi um homem de planejar o futuro. Seu foco sempre foi o curto prazo: conseguir trabalhos, ganhar dinheiro, gastar o dinheiro. Há um tempo atrás, a notícia do fim do mundo seria um grande alívio para Raon.
Só que agora, com Valentina, ele era outra pessoa. Sua vida tinha um objetivo único: estar ao lado daquela mulher. O que não era simples. Eles pertenciam a universos diferentes. Eram uma espécie de “Dama e Vagabundo”, ou melhor, “A mulher casada e o vigarista”.
Tanta mudança começara há quase um ano. No dia em que ele recebeu a mensagem de Valentina, que queria contratar seu serviço de espionagem. Raon comemorou. Dentre as inúmeras atividades que desempenhava, ser detetive particular era a que mais lhe dava prazer. E, provavelmente, a menos ilícita.
Antes de receber Valentina, ele fez uma organização básica no quarto e sala em que morava. Varreu restos de comida e juntou peças de roupas sujas em um saco plástico. Não recebia visitas há um bom tempo. Borrifou perfume para disfarçar o cheiro modorrento do ambiente. Sua sala ficou minimamente parecida com um escritório de detetive.
Seria dinheiro fácil, ele pensou. Outra senhora desconfiada da fidelidade do marido, que provavelmente estaria envolvido com uma jovem com o terço de sua idade. Era sempre assim. Suas fotos de detetive rechearam dezenas de processos de divórcio.
Com essa expectativa, Raon se surpreendeu ao abrir a porta para Valentina. Apesar do nome, tratava-se de uma mulher jovem. Trinta e seis anos, ele descobriria depois. E bonita. Ela vestia um conjunto formal de blusa e calça, roupas bem mais elegantes do que aquele prédio decadente merecia. Os brincos e o colar combinavam com seus olhos verdes. Raon admirou a mulher sentada em seu sofá, as longas pernas cruzadas, o porte de modelo. Ofereceu água. Deixou a jarra na mesa de centro, junto com a caixa de lenços. Elas sempre precisavam de lenços.
Se errou na faixa etária de sua cliente, acertou no motivo da contratação. Jamais falhava. Com a voz firme que não combinava com seu rosto delicado, Valentina foi direto ao ponto: o marido se ausentava demais, recebia mensagens e ouvia áudios escondido. Para piorar, o homem tinha negócios em Marte, atuava como empreiteiro na colonização, o que fazia com que ele passasse parte do ano no planeta vermelho.
— Infelizmente, como a senhora deve imaginar, minha área de cobertura não contempla a colonização marciana. Posso lhe assegurar, entretanto, que seguirei os passos de seu marido enquanto ele estiver na Terra.
— Por favor, não me chame de senhora. Devemos ter a mesma idade. Pode me chamar pelo nome. Valentina. E tudo bem. Nem eu conheço Marte. Ainda. Meu marido diz que me levará de férias assim que a colônia se abrir para o turismo. Bom, se meu casamento se mantiver até lá, evidentemente.
— Espero que sim, Valentina. Detesto ver o fim de matrimônios. E, acredite, embora as suspeitas sejam legítimas, nem sempre que estamos diante de enlaces extraconjugais. Pode contar com minha competência. Entro em contato em uma semana com informações preliminares. Torço para que você possa conhecer Marte em breve.
Era mentira. Ele adorava apresentar fotos reveladoras para as esposas traídas. O marido obscenamente registrado no delito. Por dentro, ele se divertia ao ver a expressão de nojo das mulheres, seguida da decepção e da raiva. A cena terminava com a esposa prometendo arrancar até as calças do marido na justiça.
Raon tinha antipatia do projeto de colonização de Marte. Sabia bem que, por trás das justificativas científicas, havia um princípio excludente naquela redoma. Ricos, não satisfeitos com a segurança de seus condomínios fechados, criavam uma bolha luxuosa em outro planeta, bem afastados da tensão social que tomava a Terra. Com capacidade para 200 mil habitantes e robôs para desempenhar os serviços braçais, Marte era um oásis para aqueles que haviam se cansado de pagar gorjetas em Dubai.
Além disso, havia Valentina. Ele desconhecia o encanto que aquela mulher lhe despertava. A beleza, o ar levemente arrogante, quase uma repulsa por estar num apartamento tão simples. Ele sabia, aquilo era uma casca, uma proteção que ocultava uma mulher frágil, que precisava de aconchego. Antes de ir embora, ela chorou. Disse que doía ver o casamento acabar. Raon, de imediato, a socorreu com lenços de papel e com um abraço tímido. Um impulso mais para conter seus instintos do que oferecer conforto à mulher.
Durante suas pesquisas, ele descobriu mais sobre Valentina. Nascida de uma família rica, ela era proprietária de algumas lojas em shoppings centers. Jornalista, atuava na assessoria de imprensa da empresa do marido. Ele, Marco Scwruz, era seu namorado desde os tempos do colégio. Um casal popular. Estavam casados há sete anos. Pretendiam ter filhos assim que as obras em Marte acabassem.
Raon, por seu lado, conhecia romances através dos aplicativos de relacionamento. Ou de oportunidades que eventualmente apareciam. Os encontros agendados pela conveniência. Para saciar o desejo dos corpos. As despedidas sem a obrigação de salvar o contato no celular.
Agora, não via a hora de apresentar o relatório preliminar para Valentina. Só para revê-la.
Seguir os passos de Marco foi enfadonho. Ele era um típico homem de negócios, com uma rotina restrita ao trabalho. De fato, saia cedo de casa e retornava com a noite avançada.
Só saía do escritório para almoços e jantares, sempre acompanhado por outros homens. À mesa, o cardápio se restringia a negociações profissionais. E suculentos filés sintéticos, que Marco devorava com avidez. Enquanto os participantes das reuniões mal tocavam em seus pratos, o Sr. Scwruz jamais saia de uma reunião sem pedir a sobremesa.
Semanalmente, Raon se encontrava com Valentina para apresentar informações. A conclusão era óbvia: aquele marido era inofensivo. Ao menos na questão conjugal. O que ele escondia da esposa eram os esquemas corruptos dos quais se beneficiava. Nada surpreendente.
Ainda assim, o casamento estava em crise. O homem deixava o matrimônio em segundo, terceiro plano. O sentimento de abandono de Valentina ficou ainda mais forte ao descobrir que o marido não a trocava por outra mulher, mas pelo trabalho. Foi a brecha que aquele detetive de modos rústicos, que pouco se assemelhava aos homens que ela conhecia, precisava. Sempre atencioso, Raon se tornou uma presença, enquanto o marido se omitia.
Íntimos, quando o detetive apresentou a conclusão das investigações, a descoberta já não importava. A pulsação da carne, em ritmo acelerado, já tomava o controle das ações. Valentina, a mulher que desconfiava de traição do marido, se tornaria adúltera.
3.
Enquanto a noite avançava, a temperatura ficou tolerável. As galinhas, menos estressadas, faziam silêncio. Já no terceiro comprimido, Raon estava ainda mais agitado. E ansioso. Precisava chegar ao seu destino. O tempo, mais do que nunca, jogava contra.
Mandava mensagens para Valentina, informando sobre o seu progresso. Também pedia informações sobre como estavam as reações ao anúncio da catástrofe. Para saber o que o esperava no caminho.
A caminhonete, até então esforçada companheira, decidiu atrapalhar. Com o painel acusando superaquecimento, ele se preocupou com o som que vinha do motor. Só faltava essa, terminar seus dias preso na estrada. Precisou estacionar em um posto. Não havia ninguém para ajuda-lo, o que era compreensível. Com o mundo prestes a acabar, havia coisas mais importantes do que bater cartão na firma.
Raon abriu o capô da caminhonete e tentou entender o que se passava ali. Conhecia um pouco de mecânica. Aliás, atuava em muitas áreas. Sua especialidade era informática, onde tinha conhecimento suficiente para aplicar alguns golpes.
Com o fim dos tempos próximo, Raon se alegrou por não precisar mais desse tipo de trabalho. Aquela vida não era o sonho de ninguém. Mesmo que ele a achasse mais digna do que se cadastrar em plataformas como Google Works ou Uber Jobs. Como seu pai fizera a vida toda, procurando por trabalhos sazonais e mal pagos. Quando o velho morreu enfartado, o filho recebeu de herança os custos médicos de sua internação.
Para tentar ter uma vida melhor, Raon era eclético. Dirigia caminhões com mercadorias contrabandeadas, era motorista particular de fugitivos da política e participava de assaltos a caixas eletrônicos. Também era detetive, claro.
Não conseguiu identificar nenhum problema aparente no motor da caminhonete. Minutos preciosos se passavam e ele não encontrava uma solução para seguir a viagem.
Suas mãos tremiam, o que podia ser a ansiedade ou o efeito dos comprimidos. Para não perder mais tempo, resolveu improvisar. O superaquecimento poderia ser causado pelo excesso de peso. E, em tempos de apocalipse, não faria mal permitir que aquelas galinhas vivessem seus últimos dias em liberdade. Ninguém o mataria por não fazer a entrega. O cometa faria isso. Como as drogas não pesavam tanto, ele as deixou na carroceria. Poderiam ser úteis.
Também desligou o ar condicionado, que podia ser um dos motivos do superaquecimento. Ele faria um esforço de lidar com o ar quente da madrugada. Precisava chegar logo. Marco estava em Marte, sempre cuidando dos negócios. O trabalho havia salvado a vida do marido traído.
Para Raon, o importante era que Valentina estava disponível. Viveriam juntos o armagedom. Um fim bastante apropriado para aquela história de amor. Sem um futuro possível, o casal assistiria de mãos dadas a chegada do cometa.
4.
Raon entrava em São Paulo nas primeiras horas da manhã. A brava caminhonete resistira ao restante da viagem, mesmo com o seu condutor acelerando irresponsavelmente.
As ruas paulistanas denunciavam o cenário de uma guerra: barricadas, cinzas e vidros estilhaçados. A situação, aparentemente, estava pacificada. Viaturas da guarda robótica faziam o patrulhamento, enquanto pessoas vagavam sem destino pelas ruas. O que mais se via eram aglomerações religiosas e gente pelada. Entre a cruz e a orgia. O fim do mundo era, afinal, uma mistura curiosa.
Sem demorar pelo centro urbano, Raon se dirigiu ao condomínio fechado onde Valentina vivia. Na portaria, seu olho esquerdo estava cadastrado no leitor óptico.
Valentina abriu a porta e Raon foi envolvido por um abraço.
— Tina, eu preciso de um banho…
— Nem vem, não quero te soltar.
Raon sentiu as lágrimas quentes no rosto colado ao seu. Enfim, havia chegado. Também queria chorar, mas se manteve forte.
— Eu não estou acreditando que isso está acontecendo, Ra! Como assim, um cometa, fim do mundo… Que pesadelo!
— Quem esperaria por isso, né? É difícil de assimilar uma notícia dessas. E como ficou tudo por aqui? Deve estar todo mundo maluco.
— Sim, está uma confusão. As primeiras horas após o anúncio foram insanas, uma gritaria só, quebradeira nas ruas. Como se resolvesse alguma coisa. Eu fiquei aqui, quietinha, só vendo as notícias. Parece que agora acalmou. Líderes políticos e religiosos estão clamando para a população manter a calma. Para evitar que vida humana na Terra acabe antes do cometa chegar.
— Melhor assim, né.
— E tem o pessoal que acredita que algum milagre possa acontecer.
— Sempre tem. Falando nisso, será que acontece um agora e você me libera para tomar um banho? Nem eu estou me aguentando.
Raon foi para o chuveiro. Precisava tirar aquele cheiro de suor misturado com o galinheiro que transportou por tantas horas. Relaxou um pouco, na medida do possível. E aproveitou para pensar melhor no que estava acontecendo. Talvez a ficha ainda não tivesse caído para ele. Dois dias e o mundo acabava. Ao menos tinha chegado a tempo de passar esses últimos momentos com sua amada.
5.
Valentina sorria com timidez para Raon.
— Não desvia o rosto, amor, quero gastar o pouco que nos resta te olhando. Te venerando. Você é linda demais, caramba, que sorte eu tive de te encontrar.
— Ai, Raon, você me deixa sem graça.
— Eu sei. Para mim também é difícil dizer o que sinto. Até te conhecer, eu não sabia o que era amor. Era só um cara que tentava sobreviver, acordava pela manhã torcendo para estar vivo ao fim do dia. Você mudou minha vida. Me fez ser melhor. Eu te amo tanto. Eu preciso dizer isso, quero que você saiba.
— Ra, você é um querido. Também sou muito feliz por ter te encontrado. Você me deu carinho em um momento em que eu precisava. Eu fui tão certinha a vida toda, nunca imaginei que viveria uma paixão assim, intensa, parecendo roteiro de livro de banca de revista. Foi muita sorte a gente ter vivido essa história tão bonita.
— Não, bonita é você, Tina. Linda. Se tem uma coisa boa com esse cometa é poder estar ao seu lado. Quero que seu rosto seja a última coisa que eu verei antes do mundo acabar.
Valentina enrolou o lençol ao redor do corpo e se levantou.
— Ra, eu preciso te falar uma coisa.
— Bom, é algo mais importante do que o fim do mundo? Se não for, eu dispenso.
— Olha, me escuta, sem brincadeiras.
— O que foi, Tina?
— É que o Marco… Ele conseguiu uma passagem para mim. Para Marte. No último ônibus espacial que sairá do Brasil. Não sei como ele conseguiu, são poucas vagas disponíveis, o preço deve ter sido escandaloso.
— Poxa… E o que você disse para ele?
— Como assim?
— Você vai?
— Raon, meu bem, me desculpa. Eu pensei que… Olha, o que a gente viveu, o que estamos passando juntos… Isso tudo foi maravilhoso. Está sendo ótimo. Eu amo a sua companhia. Mas não quero morrer. Meu casamento está num momento difícil, mas podemos superá-lo. Talvez com a mudança de ares. Marco e eu temos planos em comum. Queremos construir uma família.
— Entendo.
— Eu sinto muito. Adoraria ter uma passagem para você também. Mesmo que nosso caso tivesse que terminar, eu não queria que fosse assim. Sinto muito.
— Claro, poxa. É que eu não esperava… Você está certa, que ótima oportunidade para recomeçar.
— Desculpa. Eu preciso fazer minhas malas, minha nave parte amanhã cedo da Estação Espacial de Campinas.
— Fica à vontade. Enquanto isso, vou dar um mergulho na piscina.
Raon ficou um tempo estirado na piscina. Com a cabeça submersa, os braços e pernas abertos, ele ouvia os ruídos da água enquanto assistia as pequenas bolhas de ar que eventualmente saiam de seu nariz. Ficava assim o máximo que conseguia, até precisar respirar. Era relaxante ficar daquele jeito, boiando, com o sol aquecendo suas costas.
Valentina havia feito a sua escolha. Preferia sobreviver ao lado do marido. Entre mergulhos e braçadas, Raon ia absorvendo aquelas frases. Era um monstro por não estar feliz por ela? Queria que fosse diferente.
Mas não seria. Era, mesmo, uma história de amor com vocação para a tragédia. Portanto, só lhes restava aproveitar o pouco tempo que teriam juntos.
6.
Ele olhava o céu e já via aquela grande lua crescendo em direção à Terra. O impacto ocorreria em poucas horas. Qual seria o barulho? Provavelmente, haveria um tremor insano. Uma nuvem de fumaça escureceria o céu e a luz do Sol desapareceria pela última vez. Morreriam todos imediatamente? Ele preferia não saber. Naquele momento, se interessava manter os pensamentos em Valentina. Sentia seu cheiro emanando das pontas de seus dedos. Uma fragrância saborosa, adocicada. Só dela.
Os últimos momentos do casal haviam sido silenciosos. Não tocaram mais no assunto indigesto. Se eram os instantes finais que passariam juntos, não valia a pena desperdiça-los com uma possível discussão. Restava pouca areia para escorrer na ampulheta.
Com os olhos fechados, ele pensava nela. Lembrava da despedida. O rosto sereno da sua amada, seus cabelos escorrendo no rosto. Vê-la dormir era uma visão que lhe dava tranquilidade. Ela conseguia ser bela mesmo no sono profundo ocasionado pelo sonífero.
Foi fácil para Raon trocar os dados de Valentina pelos dele. Coisa simples para quem já havia clonado cartões de crédito e cometido outros delitos cibernéticos. Com a operação, ele se incluiu na lista VIP dos terráqueos que embarcariam para Marte. Os privilegiados que escapariam do planeta moribundo.
Só lamentou que tivesse que ser assim. Deixando Valentina para trás. Preferia mil vezes morrer ao lado dela. Só que ela teria que escolher isso também. Não foi assim com Romeu e Julieta? Um não decidiu se matar após acreditar que o outro estava morto? A sua amada, porém, preferiu viver. E com o marido, em Marte. Isso ele não perdoava. Só fez o que deveria ser feito.
O amor por Valentina era o que o fazia se sentir uma pessoa diferente. Sem ela, era só mais um vigarista lutando para sobreviver.
Quando os motores do ônibus espacial foram ligados, ele sentiu o tremor tomar toda a aeronave. Fechou os olhos e se preparou para o longo trajeto que teria pela frente. E cheirou os dedos, para que Valentina permanecesse um pouco mais com ele.
– Ambientação: Perfeita. Muito plausível para um possível futuro do mundo que conhecemos. O contrastes entre as realidades de Raon, contrabandista transportador de galinhas e Valentina, herdeira rica que pode se dar ao luxo de fugir da tragédia anunciada ficou muito presente.
– Enredo: Um enredo conciso, que não cai na mesmice. Não sei como me sinto em relação à reviravolta no fim, mas não acho que isso seja um problema para a história que o conto entregou.
– Escrita: Excelente. Clara, dinâmica, sem erros, vai nos conduzindo pela leitura e pela vida de Raon com muita facilidade.
– COnsiderações Gerais: Um ótimo conto, com uma estrutura bem pensada e uma execução muito digna. Parabéns!
Oiiii. Abaixo falarei um pouco mais dos seguintes elementos do texto:
Ambientação: Na Terra um pouco antes da colisão de um cometa e também cita uma colonização somente para ricos que fica em Marte.
Enredo: A narrativa segue Raon que diante do fim do mundo deseja acompanhar a chegada do cometa com a sua amada Valentina e passar os últimos momentos com ela , porém Tina tem outros planos e planejava sobreviver fugindo para Marte. Mas ele age rápido e quem acaba indo para Marte é ele, depois de falsificar os dados dela.
Escrita: A escrita é boa e gostei da divisão em capítulos.
Considerações gerais: Achei o final surpreendente, pois mostrou que o amor que ele supostamente sentia era só da boca para fora, pois se ele realmente a amasse não teria falsificado os dados e ido no lugar dela mesmo sabendo o que isso significaria em vista do que ocorreria no planeta.
Boa sorte no desafio!
Ambientação: muito boa, quando ele chegou em São Paulo eu fiquei imaginando a situação na entrada da cidade.
Enredo: bom também. Focou na vida das personagens. Podia talvez ter falado um pouco mais do caos por conta do anúncio, e talvez elaborado melhor a virada do final.
Escrita: boa, poucos erros, e os que há são coisas facilmente resolvidas por uma revisão. Só não curti muito o diálogo apaixonado, achei um pouco brega.
Considerações gerais: conto bom, leitura fácil, que te faz ficar esperando o que vai acontecer.
Ambientação: Muito boa. Inteligente o uso de empresas que fazem parte do nosso cotidiano (google, uber) para marcar que estamos num futuro próximo. Ficou bem delineado que ainda é o nosso mundo, com nossa tecnologia um pouco extrapolada. Gosto desse conceito. Faltou apenas – imagino que tenha sido por falta de espaço – trabalho melhor as consequências do caos instaurado após o anúncio do apocalipse.
Enredo: Ótimo, porém com uma ressalva: pareceu inverossímil o anúncio da colisão do meteoro com três dias de antecedência. Mais fácil imaginar que nesse caso não seria feito anúncio algum. Mas, bom, é um acontecimento tão fora da nossa realidade que não posso afirmar o que aconteceria, rs. Apenas não me pareceu realista. Tirando essa questão do caminho, gostei muito de todo o resto. Particularmente, gosto quando a FC trabalha com personagens low profile. Achei o protagonista bem construído, interessante, é fácil torcer por ele. A história vai ganhando contornos diferentes ao longo do texto: temos os elementos de FC, um personagem trambiqueiro, uma jornada detetivesca, uma trama romântica e uma virada final realmente inesperada. Tudo muito bem feito e sem parecer superficial, mesmo com tantas facetas em pouco espaço. O enredo realmente me cativou.
Escrita: Muito boa, condução muito segura, boas descrições, sobretudo no início, o que é importante para já aproximar o leitor da história. Notei algumas pequenas falhas de revisão: uma letra faltando, um acento esquecido, errinhos que talvez denotem alguma pressa. Os diálogos ficaram um pouco abaixo; não são ruins, mas, em comparação com a narração de nível tão alto, destoam. De toda forma, fica clara a maturidade da escrita.
Considerações gerais: Não tenho tanto pra falar – o que é sempre um bom sinal, rs -, apenas ressaltar que gostei bastante da leitura. Acompanhei a trama com interesse e apreciei a escrita. Poderia ler muito mais dessa história. Certamente estará entre meus favoritos.
Desejo sorte no desafio.
Abraço.
Olá caro autor ou autora.
Ambientação: Achei eficaz ao se manter num futuro próximo, com certas previsões possíveis para esses tempos. Ficou bom sua dose e imersão e fidelidade ao tema.
Enredo: É basicamente uma história de amor orbitando o fim do mundo. É simples e não impressiona, mas não é ruim, com certeza não.
Escrita: Pouquíssimos erros que necessitem revisão. Mas o tamanho prejudicou um pouco a experiência de leitura.
Considerações gerais: Uma história básica com altos e baixos, com toques de boa criatividade bem vindos, mas apenas isso. Uma edição do tamanho do texto com certeza faria bem ao conto.
Parabéns pelo trabalho e sorte no desafio.
Quase profissional!
AMBIENTAÇÃO
Eficiente.
Entrega exatamente o que promete: um ambiente semelhante ao nosso, mas num futuro próximo. A sutileza em falar dos avanços, todos pertinentes ao conto, é admirável. A maioria apresenta as coisas de forma escancarada. Gosto disso.
O caos não é apresentado, apenas citado, e de forma coerente, mas senti falta de um conflito maior no trajeto da viagem. O veículo sobreaquecer e deixar as galinhas soltas é algo muito fácil. Meio artificial, como se tivesse sido inserido só pra criar um obstáculo. Então, a facilidade com que Raon chegou em Valentina não soa muito crível num ambiente dito caótico.
Fora isso, a ambientação foi concisa, certeira e, repetindo, eficiente.
ENREDO
Bem desenvolvido, na maioria dos momentos.
Alguns pontos são interessantes, como a menção da colônia de Marte e os robôs de defesa pública. São mencionados de forma orgânica, no tempo certo, sem qualquer afobação. Para mim, isso é resultado de uma maturidade na escrita.
Porém, em contrapartida, alguns pontos parecem estranhos, como o anúncio do meteoro ser tão escancarado e ainda feito pela presidente dos EUA. A história se passa no Brasil, não há qualquer menção duma unificação mundial, então por que diabos a presidente de outro país tem tanta importância assim? Digo, a ponta de ter uma rede unificada de canais e afins. Hoje em dia, de fato, esse tipo de mensagem seria televisionado através de outros métodos, como os jornalistas brasileiros acompanhando o anúncio e comentando sobre a mensagem. Eu sei que não seria pertinente para a história mencionar uma unificação mundial, mas para o leitor é importante. Detalhes que enriquecem o texto. Além disso, o anúncio, dias antes do acontecimento, pareceu inverossímil demais. O governo tentaria manter essa situação em segredo, até para não gerar o caos social e poder evacuar com tranquilidade. Um vazamento feito por hackers internacionais resolveria tudo, por exemplo. Do jeito que você fez, pareceu aqueles filmes clichês de Hollywood, ainda mais com a interlocutora emocionada.
Ás vezes, de fato, você faz isso, e a história fica num vai e vem, entre momentos de pura qualidade e outros mais pobres, mas ainda assim acima da média.
ESCRITA
Madura.
Ela é muito boa. Bem delineada, narrativa clara e costurada, sem erros, com revisão em dia e ótimo construção textual. Não identifiquei um estilo definido, aquele tempero que deixa a leitura mais saborosa, mas é inegável: sua escrita é de qualidade.
Continue assim!
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Como disse no início, é um texto com cara de profissional, mas que peca um pouco no enredo quando se trata de pontos comuns e situações um pouco fracas. De resto, é um trabalho excelente, um dos melhores do desafio até o momento e com certeza vai se dar bem por aqui!
Parabéns
Ambientação: Caramba, o pessoal tá mesmo na vibe de casal de fim de mundo. Aqui ainda tem uns toques sabrinescos, mas do jeito certo. É uma história bem humorada e bem estruturada, mesmo com suas diferenças quase paradoxais – um clima rural e um clima scifi. Posso dizer que a costura foi muito bem feita, embora soasse um tanto estranha do meio para a frente. O final foi a cereja do bolo.
Enredo: Quem nunca teve um tio detetive e trambiqueiro? A conexão é imediata. As descrições e as situações convencem, e o clima descontraído, mesmo que intimista e melancólico, funciona.
Escrita: Só vi um errinho bobo (“passei” em vez de passeio), mas o restante flui maravilhosamente bem, com seus flashbacks friamente calculados.
Considerações gerais: Outro texto que me cativou pela premissa inusitada, embora trabalhando com o mesmo clichê de sempre (meteoros e cometas). É um texto bem curioso, com um misto de Blade Runner, Romeu e Julieta, Cabras da Peste e Elysium. A parte final estava ficando muito melosa, mas o autor soube manter a peteca no ar e fechou com chave de ouro.
(Obs. essencial: não leio os outros comentários antes de comentar).
AMBIENTAÇÃO: gostei desse futuro pouco “futurístico”, apenas insinuado aqui e ali (presidente americana mulher e latina, robôs de serviço, colonização de Marte, etc.) Antigamente o futuro era retratado como drasticamente diferente do presente, mas com o tempo percebemos que as coisas não mudam com tanta velocidade assim. Dessa forma, seu cenário foi extremamente realista, ponto positivo!
ENREDO: foca em uma relação amorosa extra-oficial em tempos de apocalipse. Como o amor é lindo, até que se apresente o dilema da sobrevivência! O conflito vai se desenrolando muito bem, o uso de flashback não foi desmedido, e o final foi surpreendente.
ESCRITA: habilidosa, sem erros, escrita fluida.
CONSIDERAÇÕES GERAIS: achei um texto redondinho, gostei do conflito e do desfecho. Gostei da ambientação e dos detalhes. Texto muito bom, parabéns!
Ambientação: gosto de textos que exploram situações fora do contexto inicial, que contam uma historia antes da historia
Enredo: os detalhes da ambientação é que me chamaram a atenção, a presidente do país ser uma latina, o amor tentando sobreviver a uma possível catástrofe.
Escrita: boa escrita, diálogos bem concisos.
Considerações gerais: acredito que faltou apenas situar melhor a outra atividade do personagem principal, de uma hora pra outra apareceu a historia de ser detetive.
Ambientação: incrível como o conto conseguiu, através de uma técnica apurada, fazer daquele parágrafo o que eu mto vejo nas dicas de escrita, que é torná-lo marcante, causar uma primeira impressão mto boa para estimular a leitura e ainda fazer uma ambientação do local e personagem em poucas linhas.
Enredo: “Ainda não pudemos apurar se houve falha técnica(…)” com um pouco de suspensão de descrença, é um enredo bem interessante, planejado com cuidado, adequado pra uma narrativa do tamanho de um conto; não revela tudo logo de cara, apostando numa progressão gostosa de acompanhar. Infelizmente não fornece argumento suficiente pra esclarecer o ambiente socio-politico-economico que torna a Terra tão ruim.
O flashback entre o casal é clichê, mas não prejudica a história, só senti que já vi esse casal outras vezes. Contudo, o papel de Valentina como femme fragile, a torna uma personagem mto vazia, como se dependesse de um homem para fazê-la feliz. Então achei que o final deixou um gosto meio ambiguo: por um lado mto divertido e por outro nem tanto já que não me importo com Valentina que só estava lá servindo pra escorar Raon durante a narrativa.
Escrita: “ocorrerá em 03 dias”, creio ter sido um erro que passou despercebido, né?! Mas ele se repete outras duas vezes. Sempre ouvi dizer que o correto é escrever esses números. E esse zero a esquerda aí? Enfim, a escrita é boa, não tem excessos e me deixou bem agradável
Considerações gerais: a questão do calor para mim tem um toque pessoal, pois me fez lembrar de quando morei em Ribeirão Preto, lugar conhecido por ter 2 semanas de calor e o resto do ano de calor insuportável. Então esse trecho “Entrou na pequena lanchonete e a temperatura regulada lhe saudou. A vida podia ser suportável.” me fez lembrar de mta coisa.
Fiquei aqui pensando, presidente americana mulher e com sobrenome latino, será que rola algum dia?
O conto se passa aparentemente num futuro próximo, sem muita inventividade científica, aborda temais atuais, sem querer ser hard science fiction, e faz tudo isso mto bem. Parece até algo que eu gostaria de ter escrito, se não fosse pelo romance. Enfim, gostei!
Ambientação: Futurista, com Marte colonizada e um cometa pronto para arrebentar a Terra.
Enredo: O cara tem borogodó! Uma mulher rica, embora fragilizada, mesmo sendo um traficante e sujeito mequetrefe. A situação de cometa chegando é limite então acho que admite umas estranhezas. Lembra o “O Último Policial”, em que um detetive tenta desvendar um caso enquanto a Terra se prepara para ser aniquilada por um meteoro. A virada no final foi muito bacana e bem justificada. Me ganhou.
Escrita: Conduziu bem, mas falou explorar um pouco os sentimentos. Imagino um certo torpor em relação a situação, mas gostaria de ver isso melhor explorado, para além do amor a Valentina.
Considerações gerais: Conto bom, com final ótimo, mas não perfeito. O que faltou nem faz tanta falta assim. Adorei o final.
Ambientação:
Muito bem feita. O cenário é todo muito bem descrito, um clima noir muito interessante.
Enredo:
Um amor fadado ao fracasso em pleno apocalipse. Gostei muito da dubiedade do personagem principal e da reviravolta no final. Achei muito coerente e, ao mesmo tempo, surpreendente
.
Escrita:
Clara, correta, fluida, muito agradável. O conto não se perde em descrições ou elucubrações cansativas. É muito difícil parar de ler.
Considerações gerais:
Um conto muito bom, bem desenvolvido, bem conduzido. Uma leitura interessante e envolvente.
Ambientação:
Num futuro próximo, nem o verdadeiro amor sobrevive.
Enredo:
Gostei da história, mas encontrei demasiadas incoerências. É estranho que uma mulher poderosa tenha como amante um homem que entrega galinhas. Não é inédito, mas torna o conto estranho. O perito informático vê-se obrigado a transportar galinhas para sobreviver? A sério?
Escrita:
A escrita é competente e prende o leitor. Encontrei um ou outro erro, mas nada que tire mérito ao texto.
Considerações gerais:
Conto interessante, que poderia ter atingido a excelência não fossem algumas incoerências.
Jorge,
O amante não é entregador de galinhas. Ele está transportando drogas e as galinhas são uma forma de despistar a polícia. Pensei que isso tinha ficado claro no trecho: “decidiu terminar aquela viagem o mais rápido possível. Não pelas galinhas ou pelas drogas que ocultava debaixo das gaiolas (…)”.
Talvez eu pudesse ter dito isso de forma mais clara, mas parece que os outros avaliadores entenderam.
Abraço,
AMBIENTAÇÃO –
O ambiente da atualidade, exceto pelo início da colonização marciano, talvez só um pretexto para o adultério de Valentina. A tensão com a notícia do fim-de-mundo ficou verossímil.
ENREDO
Um triângulo amoroso nas vésperas do apocalipse. Os amantes juram amor, o marido, em Marte, envia passagem para a mulher encontrá-lo. O protagonista, indignado com a decisão dela de partir, pois acreditava que morreriam juntos, dá-lhe comprimidos para dormir, falsifica a passagem e se salva. Uma comédia, bem amarrada, digna do telão.
ESCRITA –
Texto fluente, leitura leve e divertida. Até os clichês são bem aproveitados para a construção dos personagens e a ironia da situação do casal.
CONSIDERAÇÕES GERAIS:
O texto me pareceu uma brincadeira com um romance diferente e a luta pela sobrevivência. Os protagonistas são caricaturas usadas para ridicularizar valores sociais, com uma linguagem zombeteira e exagerada. Como uma farsa provoca o riso sem intenção didática ou moralizante; e sim, a partir de exageros tirados da observação do cotidiano e depende mais da ação do que do diálogo; mais dos aspectos externos (cenários, roupas, gestos, etc.) do que do conflito dramático. Gostei muito — um dos favoritos.
Parabéns e boa sorte no desafio! Abraço.
Ambientação: Bem feita para um conto intimista.
Enredo: Ponto forte do conto.
Escrita: Não notei erros enquanto lia.
Considerações gerais: Foi muito fácil hackear o sistema. O sistema de uma agência aeroespacial não deveria ser comparável a clonar cartões de crédito. O diálogo final de Valentina com o protagonista foi muito bom.
Ambientação : foi bem elaborado, consegui sentir o calor que se fazia e o cheiro das galinhas… Rsrsrs…
Erendo : começou bem, porém houveram alguns furos, sei lá se ele disse que mudou por ela, que ela o tornou uma pessoa melhor, por que ele continuava com os negócios sujos? Cara ele passou por tudo aquilo para voltar para casa e descobrir que a amada o queria deixar… Eu cheguei a pensar e se a namorada tivesse o abandonado e indo embora antes que ele chegasse, e deixado uma carta de despedida, as drogas que ele carregava teriam um uso, porque se ele deixou as drogas era para fazer uso no fim e não houve.
Escrita : algumas coisas passaram despercebidas, o que acontece com todos.
Considerações : Eu acho que o autor poderia ter minimizado alguns detalhes e falas entre o casal, sem contar que acabou ficando previsível o fim, a história de amor, tomou um outro rumo.
AMBIENTAÇÃO: “Entre a cruz e a orgia. O fim do mundo era, afinal, uma mistura curiosa.”; mais um conto passado nas vésperas do fim do mundo, mas mais dedicado aos anseios do protagonista do que a explorar as múltiplas repercussões do apocalipse, o que é uma opção cabível, ainda mais na boa execução que é vista aqui.
ENREDO: Um homem procura reencontrar sua amada para que passem seus últimos momentos juntos. Ele descobre duas coisas: ele a ama e não é recíproco. A princípio, o romance cativa e dá a impressão de que lemos uma história de amor, expectativa que dirige a maior parte de leitura. Entretanto, a revelação dos verdadeiros planos dela dá uma reviravolta à história, nos fazendo indagar o que o personagem fará uma vez que tinha se decidido sobre como seria o seu fim do mundo. Com todo o espaço dedicado a estabelecer o personagem como uma espécie de trambiqueiro de todo o tipo, o final não chega a impactar, sendo mais a maneira como o personagem processa sua decisão o que impressiona.
ESCRITA: É uma das melhores partes do texto, balanceando a narração com os pensamentos do personagem de uma maneira que a personalidade do protagonista fica claramente definida. A ambientação desse fim do mundo iminente se pronuncia nos arredores da viagem de Raon, mostrando que o mesmo equilíbrio se dá na descrição do cenário, sempre mantendo nos olhos do personagem.
CONSIDERAÇÕES GERAIS: Achei que o autor poderia ter economizado um pouco na introdução, apesar de que, da maneira como foi escrito tudo ficou bastante orgânico, desde a casualidade como ele descobriu sobre o cometa como na maneira como os fatos repercutiram entre as demais pessoas, percebidas na tangente da jornada do protagonista. Outra economia poderia ter sido feita na recapitulação de como ele e a personagem se conheceram, talvez excluindo totalmente o diálogo entre os dois na ocasião da contratação do protagonista. Nesses momentos aprendemos informações sobre as personagens e os seus relacionamentos, fatos que mais tarde vem ter bastante importância, mas que com certeza poderiam ter sido transmitidos de forma mais sucinta. Com essa recomendação para enxugar, assinalo que este é mais um dos bons contos deste certame.
Ambientação= Dentro do tema. Ambiente tenso à espera do fim do mundo.
Enredo= Um meteoro irá cair na Terra com risco de extinção da humanidade. Um casal aproveita os últimos instantes para se amarem e morrer juntos. No entanto, o homem engana a companheira e se salva, partindo para Marte. Gostei do argumento. Poderia ser melhor trabalho no final.
Escrita=Boa. Normal. Frases perfeitas, leitura fluida.
Considerações Gerais= Apresentar o personagem como desonesto desde o princípio, foi um erro. É o que eu acho. Por isso, não foi surpresa em saber que ele enganou a namorada e fugiu. Poderia ter revelado o seu lado criminoso, um pouco antes do final, ressaltando o momento em que ele se divide entre morrer com a mulher ou se salvar. Uma luta interna entre o amor e o instinto de autopreservação. Boa sorte.
Ambientação: Muito bem feita
Enredo: Bem construído, gostei apesar de ser um pouco lento
Escrita: Gostei da divisão em pequenos capítulos, deixou tudo bem fluido
Considerações gerais: Que maluco FDP hahaha acho que é como já disseram aqui, não era amor era obsessão, ou um mero capricho
AMBIENTAÇÃO
Futuro relativamente próximo (a “chave” para imaginar isso é o fato de que Valentina, nome de tantos bebês atuais, é nome de “gente velha” na história). Há também menções ao aquecimento global e colonização de Marte. Construção bem feita da ambientação, com informações distribuídas ao longo do texto sem a necessidade de “apresentações enciclopédicas”, grande defeito da literatura de FC.
ENREDO
Cientistas descobrem que o mundo acabará em 3 dias. Raon, o protagonista, com um caminhão de galinhas e drogas, segue em direção a São Paulo, onde pretende passar o tempo que lhe resta ao lado de sua amada. Porém, Valentina tem planos de sobreviver ao impacto, indo morar com o marido em Marte. Enredo simples e diferente: não estamos diante de um amor convencional.
ESCRITA
Objetiva e competente.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Um conto que parece ser sobre amor, mas é sobre obsessão. O autor usa a ficção científica para tocar nesse tema central e também esboça outros assuntos, como a desigualdade econômica (só ricos se salvam indo para Marte) e o fim de direitos trabalhistas (uberização da mão de obra).
Isso é importante, FC não é falar de futuro, de robôs e tecnologias, mas pensar o presente através de alegorias futuristas.
Há um pouco de romances noir também (consigo imaginar a digressão de quando o casal principal se conhece em preto e branco) e road movie. Conto bem híbrido, criativo. Uma ideia que poderá ser amadurecida futuramente, se o autor desejar.
Ambientação: O autor escolheu ambientar a história em um futuro não muito diferente do nosso atual presente e, dentro dessa proposta, o conto está bem ambientado. Porém, não encontramos aqui muitos elementos da literatura de gênero (no caso, ficção científica).
Enredo: É uma história de amor (e de traição), que ocupa, mas não edifica – dela não se extrai ensinamentos relevantes. Há uma reviravolta no final, mas nada demasiado surpreendente.
Escrita: É uma escrita correta.
Considerações gerais: No contexto do desafio, é um bom conto. Nota 9,9.
Ambientação: Conto bem ambientado, apesar de ter me dado um estalo quando o autor citou as colônias em Marte. Achei que era uma história mais contemporânea e fui surpreendido. Não há tentativa de descrever detalhadamente esse futuro, o que deu espaço para a trama se desenvolver, pensando que ela nos é apresentada por um narrador muito próximo do protagonista.
Enredo: Tive um misto de sensações durante seu conto, muito por causa do enredo. Pensei que seria mais um conto de meteoro, depois algo mais futurista, até que finaliza com essa reviravolta do protagonista. Tenho problemas com o meio do conto, pois você insere personagens e explicações de maneira muito direta, como se abrisse um longo parêntese a cada parágrafo para falar sobre a vida dessas pessoas, o que fazem, como comem, como são, etc. Há formas mais sutis de fazer isso, porém, nada do que você escreveu está lá de bobeira: as pílulas, as várias profissões e o passado obscuro de Raon, suas habilidades, tudo isso é inserido à serviço da trama e revela um autor ou autora que pensa no que vai escrever, arquiteta e arremata. Mesmo que o diálogo entre os dois não seja bom, pendendo para o meloso e me fazendo duvidar da sagacidade de Valentina, por convidar Raon para a casa e decidir dar a notícia da fuga, a reviravolta dá muito vigor para o final do conto. Gostei!
Escrita: Bastante coerente dentro da proposta do enredo. Identifiquei um ou outro erro de digitação. Os diálogos poderiam ser melhores.
Considerações gerais: Poxa Romeu, você fez, no geral, um bom uso da história. O enredo me levou para altos e baixos, mas acabou no ponto. Mesmo com os probleminhas citados, a história se sobressaiu e com certeza me marcou no certame mais do que outros textos tecnicamente mais exitosos que encontrei por aqui.
Parabéns e boa sorte no desafio!
Ambientação: Achei a ambientação envolvente, pois se trata de um futuro não tão distante assim e ao mesmo tempo crível, com escassez de água e pesquisas já avançadas sobre Marte, por exemplo. Parabéns!
Enredo: Instigante. Quando se diz que o mundo vai acabar em 3 dias, nossa imaginação vai longe!
Mas confesso que fiquei um pouco intrigada com o protagonista na parte em que ele segue para finalizar o trabalho. Por que ele se importaria em entregar aquelas galinhas diante do fim do mundo? E por que galinhas e não traficar as pílulas? Afinal, ele é detetive e “descolado” em atividades ilícitas. Imaginei mesmo que as galinhas escondiam o “ouro” das drogas…
Gostei também da virada da história, quando na verdade Raon é que vai partir para Marte e não Valentina. Sua narrativa foi concisa e surpreendente! O problema, a meu ver, é que ao mesmo tempo, a virada enfraqueceu a história de amor. Durante toda a trama Raon nos convence de seu amor por Valentina. Mas no fim, com a sua atitude, prova-se que era apenas uma aventura. Aí fiquei meio perdida, meio esvaziada, rs.
Escrita: Texto fluente, sem dificuldades, sem “travadas”.
Considerações gerais: Acho difícil criar um ambiente de futuro a curto/médio prazo. Algo novo, mas não tão surreal. E acredito que você conseguiu (ônibus espacial para Marte é um bom exemplo). Não leio muito o gênero “apocalíptico”, por isso mesmo me aventurei aqui nesse desafio, para aprender. E estou gostando!
Ambientação: um pouco confusa quanto o tempo. Demora pra gente se situar em um mundo futurista.
Enredo: Cara, tem uns problemas graves. Bem graves. Primeiro, se ele amava tanto ela e não teria ninguém para cobrar caso ele não entregasse a carga de drogas, por que raios ele não voltou imediatamente? É a situação mais lógica! É deixado claro no texto que ele nem gosta de vender drogas. A minazinha fala pro rapaz: Então, você vai morrer sozinho porque eu vou pro espaço com o corno; ele nem se emputece de verdade. Não tem nenhuma reação de surpresa, nem nada.
Escrita: Achei um pouco truncado.
Considerações gerais: Cara, cara… Não sei nem o que falar. Foi complicado. O enredo da trama deu um breack muito ruim. Vai de 5,0/10,00
kkkkkk é o primeiro caso de corno espacial registrado no EntreMundos, parabéns aos envolvidos.