“Caraca, o bagulho está podre. Isto que dá subir o morro na madrugada para comprar de algum avião perto da boca. A cara, a roupa e o jeito de playboy fizeram com que dançasse vivendo o clássico roteiro do babaca de classe média na comunidade. Acho que comprei bosta de vaca com capim. Um perfeito idiota eu fui. Ter que passar por isto porque o sacana do meu fornecedor sumiu e a fissura bateu mais forte que a larica de depois do tapa na pantera”.
A guitarra dorme na poltrona marrom e a folha de papel recheada pelos versos de Carliu Colorido descansa diante da cadeira. Sem sono, carinho de mulher e muito menos um bom fumo visando atrair ideia que desse pegada na criação do rock. Paulo Caporanga, o futuro famoso em todas as mídias, por enquanto conhecido em meio às bandas, olha pela janela do sobrado a falta de movimento na rua. Passa em revista a lista de probabilidades para uma improvável companhia até chegar em Tamires. Balança afirmativamente a cabeça e, mais de um ano depois de haver desaparecido, decide ligar para ela.
Na aflição de queimar logo a erva acabou por esquecer carteira e celular no carro. “Essa não é uma boa noite”, pensou enquanto, chaves na mão, saltava os degraus da escada rumo à garagem. Sobre o banco não havia nada. Bagageiro, portas, piso… lhufas. A lembrança veio à galope. Antes de subir a ladeira havia separado a nota de vinte, para não ter que abrir a bolsa diante dos caras. Ao passar pelo primeiro ponto de controle os soldados adolescentes lhe mandaram acender a luz interna, só usar farolete e abrir os vidros do automóvel. Ao parar o carro lá no alto viu que uns cinco meninos o rodearam, afora, mais atrás, o pessoal da segurança com os potentes Nike47 brilhando. Claro que algum garoto enfiara a mão pela janela no lado do carona e tinha pegado o telefone, carteira, documentos, dinheiro, tudo.
Era evidente o que deveria ser feito. Retornar depressa ao morro, procurar o chefe da boca e dar queixa do roubo havido em seus domínios. Pareceu-lhe óbvio que ele não só devolveria os pertences, como iria punir severamente os moleques safados que o tinham surrupiado. Ao chegar próximo aos pés da favela repara em alguns carros cruzando com ele em alta velocidade, como se em fuga. Corta o som delicioso do Big Big Train e ouve nitidamente a festa de variados calibres dos pipocos. Precisa se safar daquela ratoeira. Reduz a velocidade e é impedido de fazer o retorno. Um comboio, liderado pelo caveirão, o ultrapassa.
“Essa não é, definitivamente, uma boa noite”, grita aos próprios ouvidos. Claro que não iria considerar ainda como definitivo o “perdeu playboy”. Amanhã, pela hora do almoço, que traficante acorda tarde, iria voltar para resolver a encrenca. Enquanto isto, deixaria rolar o resto da noite, sem telefone, sem Tamires, sem dinheiro, sem documentos, sem baseado e tentando criar na guitarra um som legal.
Esforça-se para pensar em algo diferente. Não pode entrar em pânico. Visita-o a melodia de Maurice Ravel. Quem seria a tal princesa defunta da famosa pavana? Diziam que se tratava da infanta Margarida da Áustria, a lourinha retratada no centro do quadro As Meninas do Diego Velázquez. Mas então, aí estava a chave: nenhuma garota da realeza europeia morrera nos finais do Século XIX que valesse a homenagem do criador. Em meio aos pensamentos desvairados em hora tão imprópria, faz a constatação de que a música fora criada para um infanta falecida duzentos e cinquenta anos antes. E o paradoxo de se criar a dança para o velório de uma princesa? Dá para imaginar um salão com a corte bailando em volta de um caixão com a jovem nobre dentro? Mais uma vez Paulo Caporanga se dá conta de que quando em meio a grandes problemas, ao buscar refúgio na música, não raciocina em rock, mas mergulha profundamente nos clássicos da sua formação. Recorda-se do quanto foi apaixonado por Ravel.
Tão desvairadas digressões são interrompidas pela luz cegante de faróis altos. Vem descendo a toda velocidade uma caminhonete da polícia. Ainda nem consegue enxergar e já estão batendo os canos nos vidros, dessa vez cerrados, das janelas. Exigiam, aos gritos, que saísse com as mãos para o alto. “Parece que o garotão veio buscar uma encomenda e deu de cara com a gente, não é? Péssimas notícias: a boca fechou para balanço. Passa aí seus documentos e os do carro.” Só então repara, mais que na inocência, na grandiosidade da sua babaquice e dentro dela algo inerente a todo idiota: a falta de sorte. Além de não portar nenhum documento estava liso. Sem nem uma graninha que fosse para a possibilidade de ter que solucionar a confusão a partir de um estratégico arrego.
“Falar o quê?” Constata o óbvio: poderia ter ficado quieto em casa tratando da criação musical, mas resolveu sair para comprar uma ervinha básica. A posição era ridícula. Pernas abertas e deitado sobre o capô do carro como se tentasse apanhar os limpadores de para-brisa. À sua volta o pelotão de policiais agressivos e mascarados com esparadrapos a lhes cobrirem as identificações. No quase nenhum tempo de que dispunha para pensar, chegou a inventar enredos (ah, agora, ao contrário das tentativas de criar a música, lhe vinham ideias incríveis), só que cada uma mais mirabolante e fantástica do que a outra. Aquilo só iria complicar a sinistra situação.
Totalmente perdido optou pelo sincericídio e abriu o bico geral. Subira o morro poucas horas antes para adquirir um pouquinho de maconha. Coisa mínima suficiente para um mísero cigarrinho, fez questão de frisar receoso de acharem que comprava para revender, o que elevaria o problema ao patamar dos traficantes de droga. Finda a narrativa o policial deu uma risada e se dirigindo aos colegas disse: “gostaram da história da carochinha que o cidadão nos relata?” Em seguida invadiu seu carro ordenando que se assentasse no banco do carona.
Enquanto seguiam em direção ao subúrbio acontecia um papo estranho e cheio de voltas do tira: “então, se entendi bem, o rapaz que é músico e trabalhava na criação de um rock para a sua banda, tomou a decisão de queimar uma birra. Resolveu largar o asfalto e vir buscá-la no morro. Lá em cima, além de enganado, foi roubado perdendo celular, dinheiro e documentos. Entendi corretamente, cidadão?” Respondeu esforçando-se para demonstrar segurança, mas a voz trêmula denunciava o medo.
“Já viajamos muito, melhor parar e dar início a uma conversa mais séria, tipo olho no olho. Ou, quem sabe, o cidadão teria alguma proposta a fazer para que possa me animar a dar meia volta no carro?” Captou a deixa e lhe disse que depositaria uma boa grana na conta que lhe fornecesse, assim que o banco abrisse. Arrancando a balaclava o polícia retrucou agressivo. “E eu, por acaso, tenho jeito de retardado? Então, passo os meus dados bancários para o garotão e o libero? E se ao invés de ir ao banco o jovem me alcaguetar no Batalhão? O mais interessante disso tudo é que o novo amiguinho em nenhum momento tratou de valores… Pois então, de dinheiro eu é que vou falar. Vou te deixar aqui mesmo, voltarei só. Fica tranquilo, não sou bandido para te enganar. Daqui a meia hora o primeiro ônibus da madrugada passará. Sim, eu sei, você está duro. Toma essas dez pratas para a passagem e se ficar bonzinho o empréstimo nem será descontado. Vou guardar seu carango até que venha aqui, nesse mesmo lugar, amanhã às vinte horas e sozinho. Traga-me quinze paus em cascalho bom e não curto as notas de duzentos. Porra, para de fazer expressão de assustado. Sim, só quinze mil reais porque simpatizei com você. Além de devolver o carro do jeito exato que estou levando, apagarei da memória tudo que nos aconteceu desde essa madrugada lá no morro. E não me venha dar uma de esperto. Tenho ranço de malandro. Pela placa do potente, em cinco minutos, levanto todos os seus dados. Nesse caso entenderemos que o carango ficou de presente, mas não me darei por satisfeito, irei atrás de você e a conversa prosseguirá em outro padrão”.
No ônibus lotado de domésticas e peões, Caporanga, de pé, fazia esforços para esconder o rosto. Evitar que o vissem apavorado e chorando. O dia amanhecia bonito quando chegou em casa. Durante a longa viagem decidiu manter em segredo a patética aventura vivida. Tomou um banho e tentou dormir. De repente, eis a melodia querendo saltar para o mundo. O rock a fluir líquido, leve e luminoso. A criação brotava, estava pronta em sua mente. Levantou-se de um salto, apanhou a guitarra e o papel da letra, anotou as posições, tocou-a uma, dez, vinte vezes e sorriu antecipando o tremendo sucesso. Aquele rock iria render muitas mil vezes o prejuízo sofrido. O filho da puta do policial corrupto iria conhecer de verdade quem ele era: alguém, enfim, reconhecido por todos. Famoso de não poder andar nas ruas.
Estava aceso, sentia-se elétrico. De novo lhe bateu a aflição por um beck para relaxar. Do armário que servia de adega apanhou a garrafa de vinho. A derradeira à espera de alguma ocasião que valesse muito a pena. Pois enfim chegara a hora de se deliciar com aquela bebida especial. Botou a guitarra de lado para melhor se ajeitar na poltrona. Apanhou o controle e ligou a televisão no canal de notícias. Avanço da pandemia, fura fila de vacinas, tensão em Brasília e, enfim, a notícia principal da cidade: Em operação no morro do Calango Frito a polícia havia apreendido grande quantidade de drogas. Os bandidos tinham escapado, mas só que na correria deixaram para trás os documentos e o celular do chefe do tráfico na Região. O repórter, ao vivo da Delegacia, exibia para todo o país a foto de Paulo Porfírio de Navarrete, de apelido Caporanga, que além de guitarrista e cantor da banda de rock Zum Kalum, comandava a venda de drogas no Calango Frito.
Passa ao largo do tema proposto. É preciso um certo esforço e conceder ‘liberdade poética’ ao autor para relacionar tema à história..
A narrativa, ao relatar uma noite de contratempos e prejuízos na vida de um jovem músico em de maconha para relaxar e inspirá-lo a compor, pressupõe um leitor mais ou menos familiarizado com o assunto e o linguajar do universo da droga.
Mas está em total acordo com o mundo do protagonista – seus interesses, consumos e linguajar, o que faculta e, até mesmo, normaliza o emprego de muitas gírias e expressões relacionadas ao assunto ‘drogas’. Assim como a música, a maconha é um dos ‘refúgios’ a que ele, Paulo Caporanga recorre quando enfrenta dificuldades.
A linguagem coloquial e simples, com diálogos que parecem bastante reais e verossímeis, ajuda o texto a fluir e a narrativa agradável de ler.
O ritmo da narrativa é ágil, o clima de suspense, como pedem o desenvolvimento da trama e a natureza dos acontecimentos. O insólito ‘imbroglio’ vivido por Paulo Caporanga prende a atenção e gera um envolvimento total com a história.
No emaranhado de acontecimentos, que se sucedem numa crescente de tensão, o desfecho é bastante criativo: leva de roldão e de forma inesperada o protagonista a viver uma viagem sem volta.
A parte não atender o tema desafiador, entrega um bom Conto.
Olá, como vai?
Primeiramente, não serão considerados gosto pessoal e nem adequação ao tema, já que o mesmo passou a ter entendimento extremamente esparso. Para evitar injustiças por não compreender que o autor fez uso dos termos escolhidos, ainda que em sentido figurado, subjetivo, entenderei que todos os contos terão os pontos correspondentes a este quesito.
A minha avaliação é sob a ótica de um mero leitor, pois não tenho qualquer formação na área. Irei levar em questão aquilo que entendo por “qualidade” da obra como um todo, buscando entender referências, mensagens ocultas e dar algumas sugestões, se achar necessário.
Agora, meus comentários sobre o seu conto:
Apesar de bem escrito, descrevendo bem a “dinâmica” do tráfico num morro carioca qualquer, o protagonista não me convenceu e também não me despertou simpatia.
Quer dizer que ele subiu o morro só para comprar “erva” para alguns baseados? De onde moro é possível comprar sem andar muito, e olha que não moro em “quebrada”. Sei porque convivo com vizinhos maconheiros e, vez ou outra, sou incomodado com um cheiro desagradável invadindo o meu quintal.
Outra coisa que me incomodou foi essa coisa de “compor um rock”. Não me leve a mal, mas é uma fala de “tiozão tentando ser descolado”. Sugiro usar a expressão “compor uma música”. Se o artista tem uma banda de rock/heavy metal/progressivo, é claro que ele irar compor um “rock. Seria legal mostrar isso na construção do personagem, explorando seu estilo e influências. Sim, foi citada a influência na música erudita (ponto para o conto), mas também dos estilos mais ligados à música que Paulo Caporanga compõe.
O enredo é interessante, mas a execução que não me agradou. Ortografia ok, pelo domínio da Língua Portuguesa. O final não convenceu muito. Ser incriminado apenas porque acharam seus documentos lá durante uma batida policial não quer dizer muita coisa. A verdade é que a sua banda vai bombar depois que abaixar toda a poeira. Enfim, Paulo Caporanga vai ficar famoso.
Boa sorte.
Um jovem com ambições artísticas musicais vive uma comédia de sucessivos erros, quando decide comprar uma porção de maconha numa comunidade no morro. Vivendo o cúmulo da falta de sorte, ele fica sem a droga, carteira, celular, documentos, é parado numa blitz e tem seu nome ligado aos traficantes do morro. No meio disso, imagina ter composto uma canção que lhe trará o tão sonhado sucesso.
Um conto que me obrigou a consultar o Google. What is Pavana? Gostei bastante da sua escrita. Arrisco-me a dizer que seu estilo – você tem um estilo – lembra muito a forma como eu escrevo, então, pintou uma identificação. rs. Meu único reparo é que não achei muito verossímil a abordagem dos policiais – considerei um exagero a extorsão. Sim, talvez eu seja inocente! E também, a vinculação do infeliz músico ao comando dos traficantes, apenas porque encontraram seus documentos. Nada que tire o brilho da sua narrativa. Parabéns e boa sorte!
Pavana para um jovem no morro (Maurice Ravel)
Comentário:
Talvez aqui esteja o encanto que esses desafios provocam em mim. Os participantes, colegas, formam um grupo tão eclético que não há como não se envolver. O autor deste texto é (ou deve ser) um amante de música instrumental, contexto em que eu sou completamente leiga. Mas descreve a sua paixão de maneira tão convincente, de modo tão íntimo, que, em poucos minutos, estou eu, lá, investigando o que significa essa danada de “pavana”. E a gente aprende, a visão se abre, um novo mundo se desenha. Aqui, nesta narrativa, o universo da música se apresenta, é mostrada a árdua criação de uma peça.
Paulo Caporanga, cara, que noite azarada, hein?! Daquelas que encenam o dito popular: o pão do pobre sempre cai com a manteiga pra baixo. No trecho em que Paulo está no ônibus, quase chorei com ele… Que aperto no coração.
Interessante a mescla dos pensamentos do Paulo, tão ligados ao seu intento de criação, e os acontecimentos que povoam a tumultuada noite. A realidade concreta e o mundo das ideias. O leitor fica envolvido, chega mesmo a se remexer para encontrar uma posição mais confortável na poltrona. O desconforto é mimético.
A engenhoca da criação é sentida no esforço que Paulo faz para colocar a sua música no papel. É uma sensação quase palpável.
Narrativa bem construída, conectada, técnica perfeita. O autor laça o cabra, não há como desviar os olhos do texto. O desfecho, apesar de mostrar o real para o contexto, é primoroso. No meio da “malandragem”, a solução que a “polícia” mostra segue o de sempre. Com essa parte nefasta, empatando já está no lucro.
O texto é bem escrito, sem deslizes, proporciona leitura fluente. Trabalho muito bom.
Parabéns, Maurice Ravel!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
A Pavane pour une Infante Défunte ( Pavana para uma infanta defunta ) é uma obra musical do compositor erudito francês Maurice Ravel. É classificada como pertencente ao movimento musical impressionista. Devido às suas raízes bascas, Ravel tinha uma predileção especial pela música espanhola. A pavana era tradicional dança em movimentos lentos que gozou de grande popularidade entre os séculos XVI e XVII. Ele ainda utilizaria o tema em outras obras suas, tais como Ma Mère l’Oye, Rapsódia Espanhola e Bolero.
Olá, Maurice Ravel.
Anos ouvindo o Bolero de Ravel e não sabia que o nome vinha do compositor. Sou meio burro? Talvez, rs. ¯\_(ツ)_/¯
Achei o seu conto… muito maluco. Mas não leve a mal, adoro uma maluquice. 😀
Eu tive que ler mais de uma vez pra entender como me sentia em relação a ele. Na primeira vez, achei meio esquisito; na segunda, achei engraçado; na terceira, já não sabia mais o que achar.
Tem um humor nele que é realmente interessante. E meio sádico, rs. Vamos acompanhando um sujeito muito azarado que só queria comprar um baseado, acaba sendo roubado e daí pra frente entra numa espiral de desastres que chega ao absurdo. Gosto da ideia de pegar uma coisa simples e ir escalando ao máximo, extrapolando limites. E não há limites, na verdade, tudo vai depender de como você contextualiza.
Acho que nesse ponto o texto pecou um pouco. É bastante questionável um policial cobrar quinze mil de suborno por um “flagrante” tão fraco. Aliás, nem há um flagrante real, a rigor o sujeito só estava sem documentos. Ser pego na subida do morro não é crime. E nem drogas ele tinha. Quinze mil por isso?
A forma como o policial o trata também não soa muito verossímil. E o final é completamente absurdo. O sujeito foi indicado como chefão do crime simplesmente porque os documentos dele estavam ali no chão? E ainda o acusam assim em rede nacional? Aí é forçar demais a suspensão de descrença. É muita maluquice, Ravel, rs.
Eu conseguiria aceitar tudo isso se fosse construído um contexto que sustentasse essas loucuras. Aqui, parece não haver. Ao menos assim não me pareceu.
Mas… bom, o conto é maluco. Tudo nele parece acima do tom. A começar pelo narrador que parece ser meio cúmplice do protagonista, narrando impressões do personagem como se fossem dele e usando o mesmo linguajar. As gírias também são estranhas, principalmente o uso de “tira” no sentido de policial, algo que só vi até hoje em filme dublado. Meio sessão da tarde, rs.
Então, se nada funciona para deixar a história crível, tudo funciona para deixá-la engraçada. É um dia horroroso levado ao extremo. E o cidadão só queria fumar unzinho, coitado.
Aliás, o protagonista é um idiota por quem temos empatia, ele não merece passar por esse tanto de confusão. Mas é um idiota. Toma decisões ruins, fala demais pro policial desnecessariamente, não sabe lidar com a situação e quando chega em casa compõe uma música que acha que vai deixá-lo imediatamente rico e famoso. Que mané, rs.
Há até espaço para questionar se essas coisas todas aconteceram dessa forma ou se ele não teve uma visão distorcida por estar chapado. Ou se tudo não passou de uma bad trip dele por ter fumado o bagulho podre do começo. Tudo é possível quando se trabalha com o impossível.
Gostei muito do trecho em que o narrador fala que todo idiota é azarado. Casa muito bem com o clima doidão do conto.
Tecnicamente, não teve quase nada que tenha atrapalhado minha leitura. Mas há um erro bem grave na variação temporal: você começa o conto narrando no presente e, em algum ponto na segunda metade do teto, vai para o passado.
Mas vai ver foi tudo culpa de algum cogumelo na bosta de vaca com capim que o sujeito fumou, rs.
Enfim, acho que meu comentário ficou meio doido que nem o conto. Ainda não sei dizer ao certo como me sinto em relação a ele. Mas certamente a leitura foi uma experiência diferente. É um texto bastante criativo e bem humorado.
Um abraço, Ravel. E boa sorte no desafio.
O músico não tem inspiração para criar um rock para a sua banda e decide buscar erva no morro. É roubado, perde o celular, dinheiro e documentos. Pego pela polícia é extorquido. Na manhã seguinte, sente-se feliz porque consegue compor; mas é surpreendido pelo noticiário: consideraram o celular e os documentos como do chefe do tráfico que fugira.
Uma história dramática, mas o humor nas entrelinhas quebrou o clima pesado. O conto prendeu meu interesse pois mescla crítica social com humor, sem pesar a mão em nenhum dos dois aspectos. O narrador é bastante interessante e traz um toque cômico muito apropriado que ao invés de apenas distrair o leitor, faz com que reflita sobre a probabilidade do enredo se tornar real.
O texto traz, até um ar de fábula infantil, em que os exageros aparecem para dar uma lição de moral. Consegue-se manter o equilíbrio graças a uma boa dose de ironia e de sarcasmo, que emprestam ao texto um ar leve, ainda que a introdução e o final optem pelo clima soturno, de azaramento.
Parabéns pelo trabalho! Boa sorte no desafio! Abraços.
O jovem subiu o morro para comprar bagulho, encontrou barulho. Topou com a puliça, desceu a ladeira, perdeu a carteira, sem dinheiro, sem documento, tocava uma música no seu pensamento. Paulo Porfírio de Navarrete, se ferrete, levou um cassetete.
O conto é uma história do cotidiano, muito comum nos tempos de hoje, onde alguns jovens vivem a vida adoidado em busca de seus sonhos, muitas vezes por caminhos errados. Gostei, muito bom.
Quando comecei a ler o texto, pensei: “este vai ser um grande conto”. Mas logo deparei-me com frases muito confusas e compridas, e uns termos mais complicados que acho que não casam bem com o resto da prosa. Sinceramente, a ideia é boa, mas este texto tem muitos problemas de ritmo. Além do mais, eu achei muito ténue a ligação do texto com o tema da “criação”.
Gosto da reviravolta final e da ideia em si.
Apesar de não ser o tipo de texto que eu goste, não posso negar que
chega bem perto de ser instigante, pois esse texto relata os Paulos da vida que na busca de ser um grande autor, apenas se revela um maconheiro( parafraseando Carnal). Esses Paulos Porfirios que quase sempre acolhem o nada em sua busca por um lugar ao sol no mundo dos famosos. Esses “desafortunados ” que por capricho do destino acabam por serem vítimas de um sistema corrupto e omisso. Mas essa personagen, mesmo que por vias torta realizou seu sonho de fama, embora sem a fortuna.
Pavana para um jovem no morro (Maurice Ravel)
Como diria sei lá quem que nem me importa quem diz besteira, a análise é minha e eu falo nela o que bem entender. Mentira, tento fundamentar com ideias que não venham da minha cabeça porque como ando sonhando em ser alguém nessa quebrada que é a vida tenho mais que saber como falar o que quero, usando a boca de outros. E assim o faço. Certo é que pavana dizia minha avó, era aquele tapaço de polícia na orelha de moleque idiota que não sabe se comportar com ética e moral. Estava certa, no dicionário a segunda definição é exatamente descompostura. Está lá, s.f 1 – pula por agora, 2 – reprimenda acrimoniosa; descompostura.
Agora vamos à definição primeira do senhor dicionário: pavana, s.f. ocorrência: DANÇA•MÚSICA: tipo de dança renascentista, processional, de origem italiana, em andamento (‘tempo’) lento e compasso quaternário. Até aqui bem. Nosso personagem que se acha o cara, mas é um personagem de Bezerra da Silva que nem sabe a hora certa de apertar e acender e não ouviu o conselho de velho sambista: ”Se segura malandro, P’ra fazer a cabeça tem hora” (Malandragem dá um tempo). E há também a definição popular, que segue a onda do Malandro do Samba, “tocar uma pavana” é o mesmo ser “grampeado por Kojak e levar couro”, de acordo também com Aulete, totalmente aceito pela Linguística e Semântica porque normalmente “a gíria é uma alteração de sentido de um vocábulo já existente na língua” (Dino Preti).
Dado o pontapé inicial passamos à estrutura. Perfeita. Introdução bem elucidativa casada com o desenvolvimento, anticlímax com ares de clímax e esse, quando realmente acontece, é apoteótico, com cara de Bezerra da SIlva e tal. O narrador, em terceira pessoa, conhece nossa personagem e visita seus pensamentos, logo sua condição na narrativa ou foco é onisciente: “A criação brotava, estava pronta em sua mente.”
O conto inicia-se com um desabafo interno sobre o fato que dá origem a tudo, a impensada subida ao morro. Com toda a formatação idiomática das bocas de fumo e das imediações desse espaço, a fala reproduzida denota também a “oposição a um contexto social”, marcando não só um grupo, mas também estendendo-se para o “asfalto” e sendo usada por um “babaca da classe média”. Entretanto o fato de nosso ser observado usá-la não o insere no meio, caso contrário não teria comprado “bosta de vaca com capim” e menos ainda sido assaltado na subida do morro pois, reconhecido como um do meio, seria respeitado – as leis do morro protege o povo de seu entorno, nunca os do asfalto, que é o ambiente do visitante noturno.
A linguagem da narrativa no todo não abarca o espaço da gíria. A manifestação idiomática do grupo (morro) está localizada no ponto exato da espaço da compra da droga e da forma que o ser narrado se percebe no contexto, quando se vê lesado no tocante a qualidade do material adquirido. Depois tanto os pensamentos que o narrador nos traz, quanto os poucos diálogos internos e de lembrança de Paulo não são marcados pela voz do morro. Ele realmente não pertence ao morro – nem ao rock, porque se alimenta da música clássica quando fica perdido.
E aqui já não estamos atados ao plano da linguagem, como escorregamos para o aspecto geral da personagem. Para validar, basta olhar o fato de como Paulo Caporanga pensa. A passagem do texto em que ele pensa em suas atitudes e digressões em momentos de crise mostra que ele realmente não deixou suas origens nesses “refúgio na música, não raciocina em rock, mas mergulha profundamente nos clássicos da sua formação. Recorda-se do quanto foi apaixonado por Ravel.” Sua paixão por Ravel pode estar apenas adormecida na pretensa virada do adolescente para o adulto – talvez tardia, afinal o conto não deixa brecha para descobrirmos mais do que interessa à narrativa.
A descoberta do roubo da carteira, a valorização de sua pessoa que decide confrontar o dono da boca e pedir que esse ajuste contas com os moleques que lhe surrupiaram celular, dinheiro e documento, a descoberta do cerco ao morro, a aproximação da polícia, a “pavana” do policial corrupto e a promessa do suborno fazem do desenvolvimento do texto uma história bem montada. Todos os elementos estão postos ali de forma a criar o ambiente para o clímax que se aproxima.
Então o Clímax e Desfecho surgem.
Aqui o texto dá um espetáculo. Ao criar um rock fenomenal, Paulo Caporanga deixaria de ser o Bonito e Pequeno – significado dos nomes Porfírio e Paulo – e seria enfim nobre como a Púrpura em seu sobrenome, “Famoso de não poder andar nas ruas.” E óbvio, o policial seria exposto em toda sua vilania. Que clímax! – Ah, mas tem o desfecho, vejamos
A composição musical grandiosa que expõe a corrupção de toda a Instituição que o policial representa está pronta, consumido pela ansiedade, não há mais nada a fazer além de sentar e esperar o sucesso e os louros da glória que espera e que fará dele o grande ícone do Rock.
Ele, que se julgava já um Roqueiro cheio do conhecimento da música clássica, produtor de uma maravilhosa obra até aí inimaginável, agora senta, liga a televisão e descobre a nova trama: Ele não será nem o novo Ravel, nem um misto de Renato Russo e Gabriel Pensador (eu sei é rap), é só mais uma personagem de Bezerra da Silva, o típico Zé Mané que se deu mal e “pagou o pato” como malandro raso que é.
Aqui, ao vermos o final, a verdade inserida de forma anônima que validam a diferença, o verdadeiro dono da boca é também o sono do dinheiro – e talvez o policial corrupto, afinal existe isso como possibilidade, então, segue a ciência exata de bezerra da Silva para resumir o personagem do conto: “Malandro é o cara/ Que tá com dinheiro/ E não se compara/Com um Zé Mané.”
Texto maravilhoso. Até aqui, que me lembre, um dos poucos que segue exatamente a estrutura canônica do conto com surpresa no final. O outro foi “O sopro do vento criador”, que também até o final faz-nos crer que o personagem ainda tem mãe e na verdade, no final descobrimos que ele não está só, tem mãe, cachorrinho e até visitantes para seu parque de diversão particular – sendo que todos são feitos como máquinas de trilhos.
Sucesso no Desafio.
Acho que esse foi o conto mais “conto” que eu li até agora nesse desafio. Gostei bastante. Tem um quê de machado de assis, sei lá kkkkk
Impressionante o azar do protagonista. chega a ser cômico. Aliás, os contos que usam do humor são alguns dos melhores desse desafio, este incluso. Me pergunto de onde você conhece esse vocabulário dos tóchicos, fizeste uma pesquisa, ou já teve a experiência de fumar um prensado com bosta dentro?
Olá, Sr Ravel!
Muito bom o seu conto! Gostei bastante mesmo!
Prende a atenção, é interessante até o final, muito visual e o protagonista sem sorte, todo fodido gera muita empatia. Gostei da filosofada de chapado com a música de Ravel e o quadro do Valázques. Parece que o/autor/a conhece de perto os paranauê 😂🤣 brincadeirinha! 🤫
Está bem escrito, com um enredo muito divertido e o final foi muito bom! Se ferrou mais do que poderia imaginar! Gostei muito!
Parabéns pela participação e pelo conto tão legal!
Boa sorte!😘
Prezado Entrecontista:
Para este desafio, resolvi adotar uma metodologia avaliativa do material considerando três quesitos: PREMISSA (ou Ideia), ENREDO (ou Construção) e RESULTADO (ou Efeito). Espero contribuir com meu comentário para o aperfeiçoamento do seu conto, e qualquer crítica é mera sugestão ou opinião. Não estou julgando o AUTOR, mas o produto do seu esforço. É como se estivéssemos num leilão silencioso de obras de arte, só que em vez de oferta, estamos depositando comentários sem saber de quem é a autoria. Portanto, veja também estas observações como anotações de um anônimo diante da sua Obra.
DR
Comentários:
PREMISSA: uma história de ação e suspense, onde o tema do desafio entra de forma transversal – a criação de uma canção inspirada pela cannabis. Toda a estrutura é baseada (sem trocadilho) no conflito do personagem em ter perdido/sido furtados sua carteira e celular quando foi comprar erva no morro. Ao tentar recuperá-los, enfrenta uma operação policial e, mais tarde, a extorsão e a situação de ter sido identificado como chefe do morro.
ENREDO: o autor constrói bem cenário e personagens, com uma linguagem moderna e direta, ainda que a meu ver alguns diálogos ou frases seja bem chavões da pulp fiction (“Essa não é uma boa noite”, por exemplo).
RESULTADO: o resultado é interessante, uma literatura bastante jovem e comercial, mas que parece mais uma introdução à história do que um conto em si. O tema do desafio também está vagamente esboçado, o que prejudica compará-lo aos outros desafiantes. Boa sorte!
Criação: Mané do asfalto sobe o morro atrás de uma perna de grilo e só se ferra. Ri muito com a submissão do personagem aos movimentos fora de controle ao seu redor. Bom domínio do cotidiano.
Engrenagem: O conto começa lento e desconexo, mas depois engrena numa vertiginosa desventura. O discurso do “valente PM carioca” está muito bom e o final digno dos fatos.
Destaque: “Só então repara, mais que na inocência, na grandiosidade da sua babaquice e dentro dela algo inerente a todo idiota: a falta de sorte. “ Máxima perfeita!
Olá. Este conto narra a história de um guitarrista que é roubado e tenta recuperar os seus documentos. Ele, que tenta desesperadamente atingir a fama, consegue-o da pior maneira, sendo confundido pela comunicação social com o líder de traficantes.
Gostei do final e da forma dinâmica como a história foi contada. Não consegui encontrar grande adequação ao tema, a não ser que ele foi mais uma vítima da engrenagem do sistema.
Olá, Maurice Tavel.
Resumo da história:
Paulo Caporanga foi ao Morro do Calango Frito comprar maconha para ajudá-lo a compor. Acaba por comprar droga falsificada e já em casa descobre que tbm perdeu os documentos, dinheiro e celular. Volta ao morro para recuperar suas coisas, mas é chantageado pela polícia, que fica com seu carro como garantia e exige 15.000 reais de propina. Sem dinheiro, carro, documentos, droga ou celular, Caporanga tem uma inspiração súbita e compõe rapidamente algo que provavelmente será um grande sucesso de sua banda.
Elétrico, resolve beber vinho e liga a tevê: no noticiário revelam que a polícia “descobriu” que ele era o chefão da droga do morro do Calango Frito.
Análise do conto:
A história é boa e engraçada, mas tem algumas falhas que incomodam. Primeiro: variação temporal, com alternância de presente e passado. Segundo, alguma mistura de vozes do narrador e do personagem, feito em “A cara, a roupa e o jeito de playboy fizeram com que dançasse vivendo o clássico roteiro do babaca de classe média na comunidade”. Fora isso, a escrita é boa, e o personagem superazarado é engraçado. O final, contudo, é um pouco forçado, pois apenas documentos encontrados no morro não entregariam a identidade do chefe do tráfico, que certamente já era há muito conhecida pela polícia e pelos moradores do morro.
Boa sorte no desafio!
Resumo: Jovem Rockeiro se mete numa grande furada ao subir o morro para comprar maconha e tentar saciar sua larica. Teve seus documentos e pertences roubados e foi chantageado por um policial que não acreditou na sua história. Se deu mal ao acreditar que poderia se safar compondo a letra de uma canção com o que havia vivenciado.
Pontos fortes: Eu diria que se a narrativa fosse nos termos ficção, policial, drama, até suspense, estaria muito bem encaixada no tema proposto “Engrenagens da Criação”. Achei o texto ousado, bem escrito, bem detalhado. Ate senti pena do pobre maconheiro. Não me pareceu ser uma pessoa de má índole. Apenas, um viciado, disposto a correr riscos para saciar sua ânsia momentânea.
Pontos fracos: Como disse, parece que o texto não se encaixa na condição proposta no desafio. Tentei achar uma conexão pensando que o intuito era criação. Criação de uma música de rock, talvez. Não acho que tenha sido uma boa arriscar dessa forma. Evidentemente, esta é uma interpretação pessoal.
Se fosse para associar com engrenagem, diria que o personagem esteve envolvido num contexto altamente reverso. Tudo deu errado. Nada o ajudou, do começo ao fim.
Comentário geral: Autor(a), seu texto é excelente, mas será que está adequado a este desafio? Infelizmente, teu texto foi o ultimo que li desde que comecei minhas avaliações. Pode ser que ter lido tantas obras que se encaixavam, me tenha feito perceber que tua narrativa esta divergente demais das demais. Mas, insisto. O texto é pra lá do caralho de bom. Confesso que amei a leitura. Deu gosto de ler. Quisera eu ter a tua habilidade.
Te desejo Boa Sorte com a interpretação dos demais.
Gostei da temática abordada. Teria gostado mais ainda se o foco tivesse sido mais na realidade da vida no morro do que na lição de moral que o desfecho acaba por imprimir ao conto. A ambientação do conto serviu para me manter preso a ele. Apesar do final moralizante ter me frustrado um pouco, o senso de humor nele presente acabou por me divertir. Faltou mais de refinamento na escrita e eu abandonaria para ontem o uso de aspas para indicar diálogos.
É, aquela definitivamente não era uma boa noite! Caporanga caiu numa cilada da qual fazia parte o policial? Acho que sim. Ou só deu um azar monumental? Pode ser. E a pavana de Ravel? Este é um conto que levanta muitas perguntas e responde poucas. Isso é ruim? Não. Mas também, não sei o que dizer. Com certeza não é um história “neutra”, bege, morna. Ela parece querer dizer algo maior do que está na superfície. Gostei. Mas vou precisar ler mais vezes.
Caro Ravel, adorei seu conto. Ágil, contemporâneo, com uma linguagem moderna e urbana, abrangeu o tema de maneira bastante inesperada. Um guitarrista doidão, compositor e viciado se complica diante dos policiais e quando, finalmente tem seu encontro catártico com a criação artística, percebe-se capturado por uma armadilha do destino. Definitivamente, aquele não era um bom dia, e o seguinte, muito menos.
Os diálogos entre aspas dão continuidade para o texto e funcionam bem dentro da ideia corrida que a história se propõe, e as referências à Ravel e sua música para a infante falecida, dialogam com o fechamento de Caporanga: compôs, de certa forma, a música que marcou sua derrocada, o velório da carreira e, quiçá, da vida.
Grande abraço!
Pavana para um jovem no morro
Olá, autor.
Gostei do seu modo simples de contar a história, com uma linguagem muito próxima à informalidade das ruas. Na minha pesquisa, Pavana é uma dança espanhola, mas também é uma espécie de reprimenda, de correção severa, ou seja, me parece a história de um garotão de formação clássica tentando criar um rock e que tomou uma baita taca por se meter com bandidos.
Avaliação CRI (Coesão, Ritmo e Impacto)
Coesão – Você passa boa parte do seu texto narrando no tempo presente e, de repente, quando desce o carro dos policiais, passa a narrar no passado. Proposital ou um lapso narrativo? O texto é coeso porque mantém a experiência da rua e da aventura marginal no centro da narrativa, contudo, não consegui apreender muito bem a questão da música clássica enquanto um ponto tão essencial do enredo, isso porque você deu ao texto inclusive um nome associado à questão. O final em que o garotão se ferra de vez ao ser confundido com o chefão, não me pareceu tão fechadinho, pois, faltou convencer o leitor de como alguém desconhecido é de repente apontado como chefão do tráfico. Geralmente, os policiais já sabem dessa informação muito antes de qualquer operação.
Ritmo – A linguagem é bastante informal e torna o texto fácil de ler. Acho que uma reorganizada nas pontuações, em especial nos primeiros parágrafos, ajudaria a torná-lo mais fluido. Percebi também que na fala longa do policial você utiliza uma formalidade maior em alguns momentos (“apagarei da memória tudo que nos aconteceu desde essa madrugada” ou “entenderemos que o carango”…).e informalidade em outros. Pareceria mais verossímil uma linguagem sempre informal.
Impacto – É um texto leve e com um final interessante, apesar de não muito convincente. Uma história daquelas em que poderíamos dizer “nada é tão ruim que não possa piorar” para esse músico sem muita sorte.
Parabéns pela participação no desafio. Espero ter contribuído. Um abraço.
RESUMO
Paulo Porfírio de Navarrete, de apelido Caporanga, guitarrista e cantor de banda de rock, descobre que sua carteira e celular sumiram após ele ter subido o morro atrás de um pouco de maconha. O uso do entorpecente talvez afetando-lhe a mente faz com que ele resolva voltar ao covil dos lobos para tomar satisfações quanto ao roubo dos seus pertences. Lá depara-se com uns policiais não tão legais assim que tomam o seu carro como garantia enquanto aguardam que ele lhes traga vultuosa quantia como cala boca. Em meio a tudo isso, Caporanga dá vazão à criação de nova música, que acredita será um sucesso fenomenal. Quando liga a TV depara com a sua foto e a notícia de que era dito como o sujeito que comandava a venda de drogas no Calango Frito.
AVALIAÇÃO
Conto ágil, narrativa linear e cativante. A linguagem de acordo com o jargão dos envolvidos confere credibilidade à narrativa.
O tema do desafio abordado parece ter criação, de uma música a partir de um cotidiano caótico, ou mesmo engrenagem – como cada um dos personagens se encaixa na engrenagem da corrupção.
Referências ao quadro As Meninas do Diego Velázquez e ao compositor Maurice Ravel dão um toque erudito que se destaca no texto com uma pegada mais popular.
Interessante que o termo “pavana” tem dois significados distintos segundo
1. tipo de dança renascentista, processional, de origem italiana, em andamento (‘tempo’) lento e compasso quaternário.
2. reprimenda acrimoniosa; descompostura.
Será que no final a criação musical baseada na pavana induziu a uma reprimenda ao roqueiro?
Enfim, um bom conto com ritmo agradável de leitura, sem entraves no desenvolvimento do enredo.
Boa sorte.