Euterpe já não era mais a mesma: a rotina pesada e monótona do bacharelado fazia com que ela questionasse sua decisão de carreira. Parecia que toda aquela beleza e inspiração contidos nas peças de seus compositores favoritos, que tanto a emocionaram outrora, não passavam apenas de uma coleção de partes pré-fabricadas, dispostas na partitura seguindo as rigorosas leis dos tratados de harmonia e dos manuais de composição.
Ela se levantou da cama, ainda grogue de sono. Tentava se lembrar do sonho que tivera, mas não conseguia, o que era frustrante, pois parecia ter sido um sonho bom. Aliás, sentia que os sonhos eram o único espaço onde se sentia bem nos últimos dias.
Olhou para o relógio: eram sete e meia da manhã, um pouco mais cedo do que costumava acordar. O som abafado do trânsito pesado do bairro do Flamengo entrava pela janela. Seus pais já tinham ido pro trabalho, o que significava que ela estava sozinha em casa. Ainda com os pensamentos embaçados pelo sono, Euterpe se sentia um pouco desorientada, sem saber o que fazer. Até que um rápido pensamento a atingiu e ela se lembrou o porquê de ter acordado mais cedo: “o artigo”.
Euterpe se sentou na escrivaninha e ligou o computador. Logo, estava diante daquele documento de texto, que parecia encará-la como Clint Eastwood durante um duelo em um de seus famosos filmes de faroeste. A jovem tentava prosseguir com o texto, uma análise de uma peça de um compositor de música experimental, coisa que ela detestava.
Após algumas palavras apenas, porém, a ansiedade a fez parar. Na sua cabeça, o verdadeiro problema, como sempre, começava a martelar: Euterpe estava passando por um longo e terrível bloqueio criativo. Fazia semanas que não conseguia mais colocar nem uma mísera nota no papel. Todos os questionamentos e o desgaste emocional da faculdade simplesmente haviam matado qualquer traço de criatividade, por menor que fosse. Ela se questionava se deveria desistir do curso, afinal, que valia tem alguém que se diz uma compositora mas não consegue mais criar nada? Percebendo que não conseguiria mais trabalhar naquele artigo naquele momento, Euterpe se arrumou e decidiu ir mais cedo para a faculdade.
Ao sair do metrô e andar alguns metros, logo avistou sua alma mater, a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Era um belo prédio em estilo eclético, com vários adornos com motivos musicais em sua fachada, recém-pintada em tons de ocre. Antes de entrar, porém, Euterpe notou mais um problema que a abalou: desde que acordara, ela não tinha falado com ninguém naquele dia, nem ao menos um simples ‘bom dia’. Começou a se questionar se seria mais um dia em que ela passaria sem dizer uma única palavra, como muitos haviam sido ultimamente. Pensar sobre isso a deu um sentimento de solidão e melancolia bastante pesado. Porém, essa sensação logo deu lugar a um certo alívio ao entrar no prédio e ver Calíope, sua grande amiga, cantarolando uma ária de Donizetti no hall de entrada.
– Cali, querida! Que bom te ver! – Euterpe deu um breve abraço em sua amiga.
– Bom te ver também. Que cara é essa? Tá tudo bem? – Era visível que Euterpe não estava com uma cara boa, apesar de ter gostado de ver Calíope.
– Ah, você sabe… são aqueles problemas ainda.
– Quer conversar? Ainda tenho um tempinho antes da minha aula. Vamos lá para a varanda.
As duas subiram as escadas, rumo à pequena varanda no andar de cima. Ao passar pela antessala, Euterpe notou a bela decoração, com enormes pinturas pontilhistas nas paredes. Apesar de todos os problemas que enfrentava, aquele lugar tão belo realmente a fazia se sentir aconchegada. Chegando na varanda, Calíope segurou as mãos da amiga e pediu que ela contasse o que a afligia.
– Então… eu ainda não consigo compor.
– Nossa, desde aquele dia?
– Pois é! Acho que essas exigências todas do curso, eu acho que conseguiram matar a minha criatividade. Já não consigo distinguir mais na minha cabeça o que sou eu, o que é o Rimsky-Korsakov e o que é o Schoenberg…
– Eu entendo… a faculdade faz isso com a gente mesmo. Eu mesma já passei por isso no começo do curso. Com todas aquelas técnicas e vocalizes que meu professor começou a me exigir, por um tempo eu achei que não ia mais conseguir cantar. Mas eu acho que depois consegui achar um equilíbrio. Qual era a diferença pra você compor antes de entrar aqui?
– Ah… eu acho que eu tinha mais liberdade. Não tinha que pensar tanto em tanta coisa. Era só escrever o que eu quisesse.
– Então, tenta fazer isso de novo. Conhecendo a compositora talentosíssima que você é, eu tenho certeza que a sua criatividade está bem longe de morrer!
– Obrigada. Vou tentar, mas não sei…
– Tentar, não! Você vai conseguir! Olha, minha aula já vai começar, mas se quiser, vem almoçar comigo hoje e a gente continua esse assunto. Vou ir naquele restaurante novo que abriu na Praça Tiradentes.
– Claro. Vamos sim. Muito obrigada mesmo!
– Não precisa agradecer, querida! Eu adoro você! – Calíope abraçou a amiga, pressionando seu corpo com vigor contra seus seios fartos, que protuberavam do decote de seu vestido. Euterpe gostava muito de ser abraçada por ela. Se sentia aconchegada e segura como não se sentia em mais nenhuma situação. Aliás, aquela amizade para ela era diferente de tudo. Euterpe realmente sentia por Calíope algo que nunca sentiu por outra pessoa. Não sabia, porém como lidar com isso. Se declarar poderia deteriorar aquela amizade tão importante, temia ela, caso sua amiga não sente suas famílias, muito tradicionais, nunca aceitariam. Já havia sido difícil que seus pais aceitassem sua carreira artística, o sonho deles sempre foi que ela cursasse direito.
Na hora do almoço, Euterpe esperou por Calíope na porta do prédio. Logo, ela chegou e as duas trocaram sorrisos. Calíope fez uma proposta:
– Vamos cortar caminho pela catedral? A gente anda menos e chega mais rápido.
Euterpe concordou. Saíram do prédio, atravessaram a enorme praça ao lado da Escola de Música e passaram por baixo dos famosos arcos brancos do Aqueduto da Carioca. Em pouco tempo, estavam cruzando o estacionamento da Catedral Metropolitana. Aquela gigantesca construção redonda e acinzentada de concreto, remanescente do Brutalismo brasileiro, era ao mesmo tempo imponente e assustadora. O pai de Euterpe dizia em tom jocoso quando passava por ali que caso alguém pintasse aquele cone gigante de laranja, o trânsito da cidade entraria em colapso.
Adentrando um pouco mais pelo estacionamento, Euterpe e Calíope se viram a sós. Apesar do sol do meio dia, que aquecia aridamente o pavimento, Calíope parou. Euterpe notou que as bochechas rosadas do rosto redondo de sua amiga estavam vermelhas, e não era apenas plo calor. Ela estava envergonhada por algum motivo. Calíope pegou a mão de Euterpe e começou a falar de forma tímida:
– Tepinha, meu bem, eu sei que somos boas amigas há bastante tempo, mas também há muito tempo que eu queria te pedir uma coisa. Mas eu nunca tive coragem…
– Pode falar.
– Eu… posso te beijar?
Euterpe não podia acreditar: se soubesse que Calíope também nutria tais sentimentos, já teria feito essa mesma pergunta muito antes. Havia, porém, mais um risco a se consideraar: o que suas famílias pensariam sobre? Valia a pena correr tal risco? Após alguns segundos, Euterpe finalmente declarou seu veredito:
– Claro que sim. Na verdade, eu já queria te pedir isso há um tempo, mas não sabia como.
– Bom, agora não precisa mais pensar em como, não é? – As duas riram de forma tímida. E após um momento de vergonha e sem muito jeito, seus lábios finalmente se tocaram. Euterpe nunca havia sentido sensação tão boa e prazerosa em sua vida, apesar de já ter beijado alguns meninos antes. Porém, aquilo que acontecia naquele momento não era só pelo prazer ou pela libido, tinha também a satisfação de se envolver com uma pessoa tão querida e amada. Era reconfortante como nada tinha sido. Achava irônico também o fato de um relacionamento homossexual ter começado justamente na sombra de uma catedral.
Após alguns minutos de beijos e carinhos, elas prosseguiram o caminho até o restaurante, com as mãos dadas. Euterpe sentia que algo diferente estava começando a florescer dentro dela. Era como uma chama, para além do amor e do afeto que sentia pela jovem ao seu lado: era como se aquela velha vontade de criar e compor estivesse renascendo com força! Sentia que chegaria em casa e escreveria as mais belas melodias, e não mais pararia, e Se sentia tola pela vontade de desistir que sentira mais cedo. Agora, era como se magicamente o mundo tivesse mais cor, mais som, como se o canto dos pássaros, o burburinho das pessoas, o farfalhar das árvores e o trânsito dos carros se unissem na mais divina sinfonia. Era inspirador!
Chegaram então na Praça Tiradentes. A estátua equestre de Dom Pedro Segundo no centro da Praça as saudava, segurando em suas mãos bronzeadas a primeira constituição do país. Precisavam ainda atravessar uma movimentada avenida, e tal tarefa não era fácil devido à ausencia de um semáforo ou de uma faixa de pedestres. Se protegiam do sol na marquise da fachada em Art-Decó do Teatro Carlos Gomes, até que Calíope percebeu uma brecha no trânsito e atravessou rapidamente a rua, soltando a mão de Euterpe e a deixando sozinha na calçada. Elas trocavam sorrisos entre elas, Euterpe ainda inebriada pelos beijos da amada e pela sinfonia urbana que tocava em fortíssimo. Com uma aparente nova brecha no trânsito, ela tentou atravessar. Mas, rapidamente, o sorriso de calíope deu lugar à preocupação:
– Euterpe, cuidado!
Logo, ela se encontrava diante de um outro monstro, dessa vez de vidro e aço: A bela sinfonia havia sido atravessada pelo som dissonante dos freios de um ônibus. Em menos de um segundo, veio o impacto, que a deixou imediatamente inconsciente, para desespero de Calíope, do motorista, dos passageiros e de todos os transeuntes que acompanharam a cena.
Euterpe já não era mais a mesma: Em um mísero instante, a criatividade se apagou, a sinfonia parou de tocar e a paixão se desmanchou no asfalto quente. Ela estava morta.
Olá, como vai?
Primeiramente, não serão considerados gosto pessoal e nem adequação ao tema, já que o mesmo passou a ter entendimento extremamente esparso. Para evitar injustiças por não compreender que o autor fez uso dos termos escolhidos, ainda que em sentido figurado, subjetivo, entenderei que todos os contos terão os pontos correspondentes a este quesito.
A minha avaliação é sob a ótica de um mero leitor, pois não tenho qualquer formação na área. Irei levar em questão aquilo que entendo por “qualidade” da obra como um todo, buscando entender referências, mensagens ocultas e dar algumas sugestões, se achar necessário.
Agora, meus comentários sobre o seu conto:
Euterpe e Calíope, ambas musas na mitologia grega. Euterpe é musa da música, porém a jovem homônima do conto estava “travada” para criar. Neste ponto, acredito que a maioria dos colegas escritores irá se identificar um pouco. Qual é o escritor que também não trava em algum momento do seu processo criativo, principalmente quando passa a dar mais importância à forma do que ao seu conteúdo?
Achei esse “romance” no meio do conto um tanto sem sal. Talvez funcionasse melhor se elas já tivessem um relacionamento desde o começo, evitando algumas falas desnecessárias. Seguindo para a parte final, a tragédia parecia iminente; um tanto previsível.
“Euterpe já não era mais a mesma: Em um mísero instante, a criatividade se apagou, a sinfonia parou de tocar e a paixão se desmanchou no asfalto quente. Ela estava morta.”
A última oração me soou desnecessária. A construção ficou muito boa, você fez bom uso das metáforas (“a criatividade se apagou, a sinfonia parou de tocar e a paixão se desmanchou no asfalto quente”). Se a sinfonia parou de tocar é porque a jovem musicista tinha deixado de viver.
Boa sorte.
ola,
Muito obrigado pelo comentário. Irei levar em consideração as observações.
Euterpe (Léonin)
Comentário:
O conto traz uma estrutura perfeita, e a escrita é invejável. Dá gosto de ler um texto tão cuidado, a leitura vem embalada para presente. A fluência no contar deixa o leitor próximo, e a descrição clara da situação consegue transformar o escrito em “falado”. Tive a impressão de que estava (invisivelmente) ao lado de Euterpe. Ou escondidinha nos seus sentimentos.
O enredo traz a luta que a personagem (Euterpe) trava com a ausência da criação. Vive um tempo improducente na música, aridez de inspiração. O conto é desenvolvido no espaço de tempo de apenas um dia, mas é denso no seu teor. Neste curto prazo, há a descoberta de um amor (que estava latente), há a ideia da composição a ser colocada no papel, há o encantamento do beijo tão esperado, e há a morte, fim de tudo. Sinfonia abissal.
Interessante a forma de narrar que começa mansa, e, aos poucos, gradativamente, tudo vai tomando um movimento acelerado, intenso, até ficar estridente. No desfecho, o silêncio. A morte. Texto de construção primorosa.
Não há nada para falar de deslize, isto não aconteceu. A escrita é das mais cuidadas que encontrei nesse desafio.
Leónin, seu trabalho é lindo, você está no caminho certo. Obrigada pelo presente!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Olá,
Muito obrigado pelo comentário. Fico feliz que gostou do texto!
A protagonista cursa a faculdade de música e está atravessando uma crise de criatividade – não consegue compor. Essa situação lhe consumia e a deixava de mal do mundo, guardada em sua própria solidão. Somente Calíope lhe trazia luz e ânimo. Nesse momento do conto revela-se um sentimento amoroso e apaixonado entre as moças que logo, apesar dos receios e da presumida problemas que esse amor enfrentará, eles se declaram e o amor revelado, traz de volta a inspiração. Euterpe consegue ouvir uma sinfonia sendo criada em sua mente. Infelizmente ocorre um acidente e a moça morre atropelada.
E na minha singela opinião, o conto foi atropelado. A sinfonia abortada, o amor cancelado e restou uma grande frustração. Também, creio que fugiu um pouco ao tema. boa sorte no desafio e sucesso!
Olá,
Muito obrigado pelo comentário. Como eu poderia fazr para que o conto não passasse essa sensação de ser “atropelado”?
Ah, meu amigo, quem dera eu tivesse fórmulas para dar e vender! Foi somente a minha impressão e leitura. NÃO ME DÊ IMPORTÂNCIA. Apenas achei que sua história me conduziu e me deu várias possibilidades de arremate. E no final a protagonista não consegue cumprir essas expectativas. Literalmente é atropelada. Aí, me frustrou. Abraço. Continue escrevendo.
Prezado Entrecontista:
Para este desafio, resolvi adotar uma metodologia avaliativa do material considerando três quesitos: PREMISSA (ou Ideia), ENREDO (ou Construção) e RESULTADO (ou Efeito). Espero contribuir com meu comentário para o aperfeiçoamento do seu conto, e qualquer crítica é mera sugestão ou opinião. Não estou julgando o AUTOR, mas o produto do seu esforço. É como se estivéssemos num leilão silencioso de obras de arte, só que em vez de oferta, estamos depositando comentários sem saber de quem é a autoria. Portanto, veja também estas observações como anotações de um anônimo diante da sua Obra.
DR
Comentários:
PREMISSA: duas amigas musicistas (ou melômanas) descobrem-se apaixonadas, ainda que por tanto tempo tenham temido assumir diante da outra esse sentimento. Um amor possível, que se impossibilitou pelo destino.
ENREDO: a construção da aproximação entre as duas é muito tocante, feito com sensibilidade e muita inocência, no bom sentido. O tom geral, de esperançoso encontro, se transforma em trágica separação, e ainda que não seja original, é bastante impactante para quem acompanhava o “mar de rosas” até ali.
RESULTADO: gostei bastante da narrativa, simples, sem firulas desnecessárias. Apenas não senti muita integração com os temas do desafio novamente (outros vários textos tem essa mesma pegada, de abordar criação ou engrenagens somente de forma transversal). Boa sorte no desafio.
Olá,
Muito obrigado pelo comentário. Minha intenção era justamente ser impactante. Sei que não é original, mas estava tentando treinar esse tipo de construção da narrativa.
Olá, Leónin.
Sendo sincero, acredito que seu texto ainda está bastante cru. O que não é um grande problema, estamos todos aqui para evoluir. Vou apontar os aspectos que creio que precisem ser melhor trabalhados. Lógico que essa é somente a minha opinião, posso estar errado, sou tão aprendiz quanto qualquer um. Apenas faço meus apontamentos para uma possível reflexão e, quem sabe, eles possam te ser úteis de alguma forma.
– Você repetiu muitas vezes o nome da protagonista. Ele aparece 25 vezes no texto. Para um conto curto, é realmente muita coisa. Você poderia substituí-lo por algum pronome ou adjetivo. Ou mesmo suprimi-lo de vários trechos, sem que gere nenhum dano ao entendimento do leitor. Nesse trecho, por exemplo:
“Euterpe se sentia um pouco desorientada, sem saber o que fazer. Até que um rápido pensamento a atingiu e ela se lembrou o porquê de ter acordado mais cedo: “o artigo”.
Euterpe se sentou na escrivaninha e ligou o computador.”
Veja como o nome aparece duas vezes num curtíssimo espaço. Como você falou o nome da garota perto do final do primeiro parágrafo, poderia ter iniciado o segundo sem dizer o nome dela, simplesmente com “Sentou-se na escrivaninha”. Ela era a única personagem em cena, a ausência do nome não prejudicaria o entendimento.
Essa repetição excessiva de algum termo incomoda, tira a dinâmica do texto.
– Você faz algumas explicações desnecessárias em transições de ideias. Usando um exemplo para facilitar:
“Seus pais já tinham ido pro trabalho, o que significava que ela estava sozinha em casa”
Se você retira o “o que significava que”, a frase continua com o mesmo sentido: Seus pais já tinham ido pro trabalho, ela estava sozinha em casa.
Entendo a preocupação em deixar a narração clara, mas essa “gordura” em alguns momentos gera um estranhamento. Parece tudo mastigado demais, tira a naturalidade do texto.
– É preciso ter um pouco mais de cuidado na revisão. O conto tem alguns erros que obviamente não são por falta de conhecimento, apenas por falta de uma revisão mais apurada. Há um “consideraar”, com dois as, um “Se” com maiúscula no meio de uma frase, dentre outros. Enfim, erros que denunciam uma revisão desatenta.
– Os diálogos estão abaixo do nível da narração. É normal, diálogos são sempre difíceis. Até por isso eu diria pra você dar mais atenção a ele. Algumas falas aqui simplesmente não saíram naturais.
– Por fim, enredo parece meio sem foco. Incialmente acompanhamos Euterpe às voltas com seu bloqueio criativo. Logo o foco passa para o romance e, num salto de raciocínio bem difícil de entender, os primeiros beijos entre elas aparentemente cura o bloqueio de Euterpe. E então ela é subitamente atropelada por um ônibus, num desfecho que, embora tenha seu valor por surpreender, não resolve os conflitos iniciados e parece bem deslocado do restante do conto.
Também é estranho que Euterpe passasse dias sem dizer uma palavra, quando tinha uma amiga tão próxima estudando no mesmo local.
E confesso que foi bem difícil de aceitar também uma Euterpe encontrando uma Calíope assim casualmente, rs.
Bom, sei que meu comentário foi bem chatinho. Mas espero que você entenda que a intenção é a tentar contribuir, não destruir. A ideia do desafio é promover essa troca. Espero ter ajudado.
Abraços e boa sorte no certame.
Olá, raposa.
Muito obrigado plas observações. Estou anotando todas. São de grande valia.
Criação: Um daqueles contos que a gente se apaixona pela personagem (ótimo nome) e morre de raiva com o final. O bloqueio criativo traz identificação imediata com essa sofrida profissão de criador. O fim foi cruelmente real. Boa sequência.
Engrenagem: Cabe uma boa revisão ortográfica, o que não interfere na trama de agonia e esperança. Ambientação bem física em contraste com os pensamentos de Euterpe. A última frase: “Ela estava morta.”, na minha humilde opinião, quebra totalmente a força dramática do parágrafo anterior. Eu a arrancaria à fórceps.
Destaque: “Logo, estava diante daquele documento de texto, que parecia encará-la como Clint Eastwood durante um duelo em um de seus famosos filmes de faroeste.” – Assustador, a partir de hoje o olhar de Clint Eastwood sempre surgirá com o cursor piscando na tela em branco.
Não foge ao tema do desafio, mas “força a barra” para atendê-lo.
O bloqueio sexual da protagonista (inconsciente), como razão da engrenagem de bloqueios criativos, é tratado rapidamente e de forma superficial. Enquanto que o texto se alonga em descrições do entorno da ação: formas arquitetônicas dos prédios, estátuas e detalhes decorativos – tudo imponente, mas a qual sentido se prestam?
Ao não deixar claro, não significar essas referências físicas e espaciais, a autora parece utilizá-los apenas como elementos decorativos e situacionais da ação, E, assim, perdem qualquer força narrativa (como estabelecer o clima que cerca a ação, os acontecimentos, o estado psicológico da protagonista).
A autora tem dificuldade de exprimir de forma ficcional os sentimentos, sensações da protagonista: “que parecia encará-la como Clint Eastwood durante um duelo em um de seus famosos filmes de faroeste.”; “a fazia se sentir aconchegada”).
O texto apresenta erros aparentemente de digitação e alguns de pontuação: “e não era apenas plo calor”; “e Se sentia tola”; “a mesma: Em um…”)
Ao contar dessa história falta profundidade e clareza, originalidade e arte.
Euterpe (Léonin) | EntreContos
Ah! Aquele texto que tem uma referência onomástica perfeita! E não só uma, são duas. É interessante quando o autor de forma proposital ou não, cria aquele clima ideal de leitura ou, em alguns casos magníficos, utiliza-a para brincar com o sarcasmo e passar para o leitor atento toda a ironia que a narrativa pode oferecer. Aqui, a escolha dos nomes das duas personagens são identitárias. Euterpe – εὖ (bom, bem) e τέρπειν (dar prazer) , Doadora de Prazeres, que na mitologia grega é a musa da música, tenta doar, com suor e lágrimas, uma nova música para o mundo. Calíope, A Bela Voz, também musa grega, é a personagem que canta do conto.
E o pseudônimo ser também uma referência na Música foi uma jogada interessante.
O conto é interessante, tem muitas informações sobre o mundo jovem e estão lá problemas de enfrentamento de identidade, insegurança na escolha da carreira, problemas de atrito familiares com a escolha do curso universitário, bloqueio criativo e dúvida quanto sua competência artística, problemas de aceitação à suas escolhas, insegurança com a verdade de seus sentimentos e medo de assumir sua identidade sexual. Tudo sem carregar o texto e sem torná-lo panfletário. Entretanto há em tudo uma crítica social embutida, um restolho dos temores sociais que todos enfrentamos na mesma faixa-etária da personagem.
O tema é a Criação. Ou melhor o aborto dela. E nisso também está um ponto alto do conto. Quando uma pessoa morre, leva junto suas obras inacabadas, todas as criações abortadas pela chegada sorrateira da morte.
O ambiente é urbano, estende-se por alguns bairros do Rio de Janeiro, como uma indicação turística, seguindo do Flamengo, passando pelo Centro, indo pelo Aqueduto da Lapa, Catedral Metropolitana, Praça Tiradentes e Teatro Carlos Gomes, um mapa mental da caminhada de ambas, juntas, bem detalhada.
A Estrutura, com introdução marcada nos sentimentos e inseguranças de Euterpe, já a mostra mudada, mas o texto nos nega em que, como a vida. Seus defeitos e qualidades sob sua própria visão vão se apresentando durante o desenvolvimento, a introdução de nova personagem é suave, sem agressão à narrativa, a ambientação é crível, a linguagem interessante. A ideia de usar a figura de Clint Eastwood para comparar o enfrentamento de Euterpe com o artigo é muito bem pensada e todo mundo que já teve um embate com um ou dois artigos durante a formação entende bem.
A construção encadeada da ideia de nascimento ou surgimento da inspiração é muito interessante passando pela visão – das cores; audição – dos pássaros, burburinhos, folhagens e até o trânsito. É como se fosse criando um espaço entre o plano imaterial até desembocar no material e ser o que ela ansiava, sinfonia. E tudo ter sido desencadeado pelo sentimento recém-descoberto por Calíope, que na mitologia grega é a inspiradora da poesia lírica torna o texto muito atraente.
Enganador, o conto inicia a promessa de que agora desbloqueada Euterpe irá sair de sua masmorra criativa e criar sua obra prima, sua magnum opus. A leveza, apesar do ambiente, uma via sem travessia de pedestre, engana o leitor e então, ela morre.
A descrição da morte em si, desde a construção do monstro de vidro e aço, um elemento de uma ópera de terror, a ideia da sinfonia ainda in vitro sendo destruída pela desarmonia do choque, uma instabilidade musical que não combina como o que está na mente dela, sua última memória e, a construção da estupefação dos espectadores inesperado da última cena.
E o conto, volta ao início: “Euterpe já não era mais a mesma.” E agora a vemos mudada. E flui o desfecho pós clímax que é desconstrução do momento em que a inspiração surge. Agora o que acontece é bruto, é o imediato – a criatividade se apaga; a interrupção sonora – “a sinfonia para de tocar” e, em um espetáculo dissonante de sentido e de linguagem, que faz até lembrar “Construção”,“a paixão se desmanchou no asfalto quente”. Euterpe não tem nem tempo para perceber que acabaram seus planos, que se esgotaram suas possibilidades feito a morte de “Uma flor antes do fruto” (Froidmont).
A frase final é curta e dolorosa: “Ela está morta”.
Boa sorte no Desafio, Leónin.
Olá, Léonin!
Me parece que você é novato/a na escrita, digo isso pelas falhas na revisão que encontrei no texto. Isso é resolvido muito facilmente. Deixe o texto descansar alguns dias e quando voltar a ele, leia pausadamente e em voz alta, isso ajuda a encontrar os erros de digitação e frases que soam estranho como essa: “Vou ir naquele…” , “vou” já seria suficiente. E várias coisinhas que lapidam o texto e deixam mais “profissional” por assim dizer.
Essa história ficaria bem melhor com um limite maior, onde você poderia aprofundar os pensamentos e sentimentos da protagonista, como esse é o último dia da vida dela, poderia dar maior ênfase ao que ela vivia, sentia, pensava, isso deixaria o final mais chocante, porque nos sentiríamos mais ligados a ela. Do jeito que está ficou morno, raso e pouco empático, infelizmente. Espero que não fique chateado/a com meu comentário e que seja útil.
Parabéns pela participação!
Boa sorte 😘
A protagonista cursa a faculdade de música e está atravessando uma crise de criatividade – não consegue compor. Essa situação lhe consume e a deixa de mal do mundo, guardada em sua própria solidão. Somente Calíope lhe trazia luz e ânimo. Nesse momento do conto revela-se um sentimento amoroso e apaixonado entre as moças, que logo, apesar dos receios e da presumida resistência que esse amor enfrentará, elas se declaram e o amor revelado, traz de volta a inspiração. Euterpe consegue ouvir uma sinfonia sendo criada em sua mente. Infelizmente ocorre um acidente e a moça morre atropelada.
O conto foi atropelado. Sinceramente, não sei o que acrescentar. E as engrenagens? E a criação? A criação era a sinfonia abortada? Peço perdão ao autor (a), mas eu não entendi sua obra. Boa sorte.
Olá autor. Gostei deste seu curto conto, que mais parece uma tragédia grega. Nele, Euterpe, estudante de música com bloqueio criativo, finalmente decide declarar-se à amiga Calíope. Depois do beijo, o bloqueio criativo desfaz-se, mas Euterpe morre de seguida.
O facto de parecer uma tragédia grega é propositado. Euterpe e Calíope são duas das nove musas da mitologia grega. Euterpe é a musa da música, Calíope a musa da poesia épica. O cuidado destas referências revela o primor na execução do texto, mas o mesmo deveria ter sido mais desenvolvido – mesmo com limite tão baixo, poderia ter sido mais desenvolvido, se bem que a narrativa é fechada com um desfecho inesperado mas que satisfaz o leitor.
Resumo: Garota buscar criar notas para um artigo e recebe ajuda de sua melhor amiga. Ambas demonstram sentimentos uma pela outra. Final trágico.
Ponto forte: Adequar o tema ao enredo criação. Neste caso criação musical que acho lindo e me chamou a atenção. Gostei da forma como as amigas ficaram juntas. Num momento de dor e de angustias, os sentimentos revelaram-se trazendo à tona algo belo.
Ponto fraco: Final clichê, comum, sem sentido eu acho. Foi a escolha do autor evidentemente, mas foi como se matasse tudo de criativo que havia surgido.
Comentário geral: Texto muito bom, de boa escrita, envolvente. Final absurdo na minha opinião. Se bem que, isso é muito comum. A vida nem sempre trás finais felizes.
Boa sorte no desafio!
A excelência do conto reside em parte de sua temática: romance homo afetivo. O domínio do léxico está bem encaminhado. Pareceu-me obra de um escritor em formação e, portanto, passível de algum amadurecimento, que virá com leituras de qualidade e insistência na escrita. O enredo, inicialmente romântico, acabou por, no desfecho, me entristecer um pouco, pois descambou para o realismo. Mas é isso, a morte é da vida. E da arte.
Meu caro Léonin, você me apresenta o encontro e o encanto das musas da música e da poesia lá na Escola de Música ali pelas bandas do Passeio e da Lapa, né? Me trouxe vontades, nesses tempos pandêmicos, de passear ali pelo Centro antigo do Rio. Bem, o conto preenche bem os requisitos do nosso desafio sobre Criação, não é? Afinal, Euterpe vive uma crise criativa. Não consegue produzir nada. Bonito ver o amor brotar entre as duas. Você conta isto com leveza e delicadeza. Mas achei que seu conto ficou devendo mais alguma coisa, sabe? Tudo bem, o final com a morte dela quebrando o encanto gera a surpresa, mas tive dificuldades com ele. Achei que a nossa personagem poderia mesmo haver morrido, mas de uma morte mais trabalhada. Bem, aqui se trata de mera opinião de um cara chato. Depois dê uma última olhadinha na sua narrativa. Há uns detalhes que precisam serem revisados. Coisas pequeninas, mas que valerá muito a pena acertar. Bem, Léonin, é isto. Obrigado pelo seu conto e muito sucesso.
A protagonista é estudante de composição musical e sofre um bloqueio criativo. Procura aconselhar-se com uma amiga; as duas confessam se amarem e ela sente que a inspiração retorna. Ao deixarem o local onde se encontraram, Euterpe morre atropelada, diante da amada.
O argumento, sem a complexidade da obra de Clarice Lispector, fez-me lembrar “A hora da estrela”, ao investigar o ato da criação e sua importância na vida das pessoas.
O texto certamente tem estilo, soube apresentar a protagonista e descrever o ambiente em que ela vive. Mas me surpreendi com o epílogo que, mesmo marcante, pareceu-me apressado.
Há algumas possibilidades de melhoria técnica e uma revisão ajudaria bem a tornar o texto ainda melhor. Por exemplo, os diálogos escritos de maneira informal (“vou ir”), , são arriscados; algumas frases me pareceram truncadas, como “Se declarar poderia deteriorar aquela amizade tão importante, temia ela, caso sua amiga não sente suas famílias, muito tradicionais, nunca aceitariam”, em que parece ter pulado algumas palavras. Apesar dos deslizes, a leitura, no geral, é fluida e tranquila.
Parabéns pela participação, boa sorte. Um abraço.
Conto com inspiração na mitologia grega, suponho pelos nomes das personagens.
Euterpe (em grego clássico: Ἐυτέρπη; romaniz.: Eutérpê; “a Doadora de Prazeres”) foi uma das nove musas da mitologia grega, as filhas de Zeus e Mnemósine, filha de Oceano e Tétis. Era a musa da música.
Calíope – “a da Bela Voz”) foi a musa da poesia épica, da ciência em geral e da eloquência e a mais velha e sábia das musas, e é considerada por vezes a rainha destas.
Euterpe sofre de bloqueio criativo e não consegue mais compor. Musa da música sem criação. Encontra a amiga-paixonite Calíope cantarolando uma ária de Donizetti, afinal segundo a mitologia grega, era amusa da bela voz. A musa da música encontrou seu par, a musa da poesia, da bela voz, alguém que faz a sua arte fluir livre.
Ao revelarem seus sentimentos, as duas jovens descobrem que a reciprocidade existe. Euterpe sente que a inspiração voltou e que será capaz de criar muitas músicas, já se sente dominada por uma sinfonia. É o amor.
Há pequenas falhas de revisão como ausência de acentos ou letras faltando. Nada que não possa ser rapidamente acertado.
A linguagem empregada é simples, clara, com um quê de narrativa juvenil. Ritmo ágil que torna a leitura agradável.
O final do conto é triste, uma verdadeira tragédia grega. A morte de Euterpe, atropelada por um ônibus, o monstro de vidro e aço. Não sei se a morte da protagonista está relacionada à mitologia. O desfecho foi repentino, mas com um tom poético.
Boa sorte.
Olá, Leonin.
Resumo do conto:
Euterpe é uma estudante de música que está num branco criativo por excesso de cobrança de si mesma. Ela vai a universidade no centro do Rio e encontra sua amiga Calíope. Calíope dá a ela alguns conselhos e Euterpe pensa que se sente atraída pela amiga. Num passeio pelo centro, junto da catedral, elas acabam falando do segredo de ambas e beijam-se. Num lance infeliz, contudo, ao atravessar uma rua movimentada e sem faixa de segurança, Euterpe morre atropelada, sem conseguir dar vazão ao que poderia ser um impulso para suas criações musicais.
Análise do conto:
Não gostei muito do texto. Achei que o nome da protagonista foi excessivamente repetido, podendo muitas vezes ser substituído por “a moça”, “ela”, “a garota”, “a estudante”, etc. Percebi o uso do nome de duas musas, mas achei mui estranho existirem duas amigas estudantes de artes com tais nomes. Os diálogos ficaram um pouco “quadrados”, não refletindo muito do falar jovem ou da personalidade das moças.
A escrita é boa, em geral, com poucos erros. O enredo, contudo, ficou um tanto fraco e o final achei pouco criativo. Notei que se usou uma estrutura semelhante ao parágrafo de abertura, mas achei a última frase bem dispensável.
Boa sorte no desafio!
O conto é um drama do cotidiano. Compositora em crise criativa e sentimental, tem afeição por uma amiga. Quando declara seu amor e é correspondida, ela recupera a confiança, a criatividade, a inspiração, mas um acidente de trânsito, acaba com seus sonhos.
A história é bonita e triste. Bem escrita, o nome dos personagens homenageando, aludindo às musas da música e poesia.
Existem algumas pequenas falhas que não comprometem o valor do conto. Ficou ótima as descrições, e citações, sobre a arquitetura da cidade. Temos Euterpe, deusa da música, Calíope, deusa da poesia, faltou Héstia, já que a arquitetura se destaca em um momento.
Um detalhe que eu gostaria de apontar, quanto a condução do personagem pela história; nem sempre é necessário escrever o nome do personagem no início de uma ação. A repetição do nome do personagem em cada momento, é enfadonho, desconfortável para uma leitura fluida. Por exemplo: no primeiro parágrafo foi necessário dizer o nome dela, no segundo, não, correto, terceiro não, mas no quarto parágrafo o nome dela é repetido, se não tivesse sido, não faria diferença. Em outros parágrafos, quando sabemos que é ela, o nome é escrito.
Claro, cada um escreve como quer, porém, nós autores, criamos cacoetes, vícios na escrita. É bom evitar. Boa sorte.
Euterpe
Olá, autor.
Duas musas gregas emprestam seus nomes às personagens de uma história trágica. Uma tragédia grega, seria?
Critério de avaliação CRI (Coesão, Ritmo e Impacto):
Coesão – O texto, no princípio, parece que vai nos guiar por um enredo relacionado à música, à incerteza quanto a carreira escolhida, ao bloqueio criativo…e dá uma virada, remetendo todas as suas forças (meio que de supetão) para um sentimento “proibido”, que parecia já há muito escondido pelas personagens. Não há problema com viradas, aliás, elas são desejáveis nos enredos, contudo, elas podem ser melhor desenvolvidas em textos longos como novelas ou romances. Num conto tão curto quanto os desse desafio, pareceu-me uma perda de foco.
Ritmo – O texto é bem fluido e construído numa linguagem bastante acessível, o que torna a leitura prazerosa.
Impacto – Esse é um aspecto mais pessoal da avaliação. Textos me decepcionam um pouco quando apresentam as ideias de forma óbvia, explicativa, e isso aconteceu algumas vezes com o seu. Outra observação é com relação à escolha do narrador, que não me pareceu a mais adequada. Seu texto tem um claro tom confessional (pela personagem, digo), inclusive na expressão de ressentimentos com a religião e com o tradicionalismo, como demonstrado na passagem da Catedral Metropolitana. Penso que um narrador em primeira pessoa, ou seja, a própria Euterpe, teria trazido mais verossimilhança e proximidade com o leitor.
Grande abraço e espero ter contribuído.
Olá, Léonin.
Texto com início cotidiano, com pintadas de crônica nas descrições do estado emotivo da protagonista. Adorei o trecho do Clint Eastwood; um texto que te encara com tal ameaça realmente aparenta hostil. Sobre o tema do desafio, você trouxe à tona um problema que acomete todo artista: o bloqueio criativo. Achei que trabalhou bem esse conflito na protagonista que, amassada pelas responsabilidades, pelo pedantismo acadêmico, a solidão e o medo de se assumir num relacionamento homoafetivo, vê a arte que tanto ama escapar-lhe dos dedos. O fato do conto se passar no Rio também traz um calor para a história, e você descreve com propriedade a cidade, como uma moradora: os bairros, o clima, a igreja e a praça, tudo converge para o estado emocional de Eutérpe. O beijo no pátio eclesiástico foi uma escolha proposital e acho até que nem precisava da protagonista pensar sobre a ironia de iniciar um relacionamento naquele local, pois já estava exposto na construção da cena, mas isso não foi um problemão.
Confesso que estava gostando do rumo do texto, do tom conciliador e pacífico que a história estava tomando, de resolver um conflito cotidiano sem grandes reviravoltas ou tragédias. Sua personagem me gerou empatia, e creio que fará isso com os demais leitores e leitoras pelo fato de sermos todos criadores em certo grau, por isso o choque com o final.
Tem se discutido muito na ficção como histórias de temática lgbtqia+ geralmente tem um final trágico e amargo, colocando sempre nesse tipo de relacionamento um fatalismo traumático. São representações que refletem boa parte do sofrimento dessa população, principalmente no nosso Brasil, mas ocultam e desnaturalizam o fato de que existem relacionamentos saudáveis, complexos como qualquer outro, e que, inclusive, encontram a felicidade. Assim sendo, chegando perto da conclusão do seu conto, confesso que pensei “uffa, vai acabar num tom pra cima” e aí vem o carro e atropela a Eutérpe, selando definitivamente seu destino, calando-a.
Me gerou uma frustação enorme, o que é mérito também da sua escrita. Quero ressaltar que essa discussão não é uma regra, e que cada autor ou autora conta a história da maneira que bem entende, dando a conclusão que deseja, mas essa reflexão veio a tona para mim quando cheguei no final do seu conto: quando a homofobia em todas suas manifestações não mata a personagem, vem um automóvel esmigalhar qualquer possibilidade de felicidade.
Parabéns pelo conto.
Grande abraço!
Uma história simples, sem grandes surpresas. A beleza está na forma, na poesia presente nas descrições e nas cenas. Senti falta de mais tempo para conhecer melhor as personagens e me apaixonar por elas, sentir por elas. O final, brutal, um lembrete de que o futuro não nos pertence. Gostei!
Resumo: Duas garotas passam por prédios históricos do Rio de Janeiro. Após o passeio uma delas morre atropelada.
Crítica: Parece que o autor queria apenas demonstrar seu conhecimento do centro histórico do Rio de Janeiro. A isso acrescentou nomes gregos e uma trama fajuta e mal acabada.
Nota (de 0 a 10): 1.
O texto merecia um pouco mais de edição e revisão. Creio que há frases muito longas e que poderiam ter ficado mais ágeis, com menos informação.
Outra coisa é que, geralmente, o primeiro parágrafo server para dar o tom do texto e prender o leitor. Eu acho que o segundo parágrafo funcionaria muito melhor se tivesse sido usado para iniciar o texto, já que a informação do primeiro parágrafo tem muito pouco a ver com os outros e não prende o leitor.
Um outro ponto é que é sempre melhor mostrar do que falar. O “Euterpe estava passando por um longo e terrível bloqueio criativo” está claramente a mais, porque o “Fazia semanas que não conseguia mais colocar nem uma mísera nota no papel.” já mostra que ela está com um bloqueio criativo.
Diálogos são complicados. Usá-los, só se tiver muita certeza de que estão muito bem escritos. Se não, mas vale deixar um diálogo subentendido, talvez em discurso indireto livre. Aqui, os diálogos soaram um tanto quando falsos, e não consgo ver duas amigas a conversar com estas palavras.
Não gostei absolutamente nada do final por uma única razão: ele não resolve o conflito.
O conflito de Euterpe é não conseguir escrever por estar muito cansada por causa da faculdade e tal, dá ela encontra algo que lhe dá alegria que parece resolver este conflito (mas que é superforçado, porque o conflito não é ela não ter amor, mas estar cansada) e por fim acontece o que acontece e fim. Nada do que aconteceu resolve o conflito inicial, por isso não gostei.