A promessa era de um emprego decente que, se não pagasse um salário maravilhoso, pelo menos serviria para deixar as contas em dia. Bastava partir.
Cheguei em Botswana decidido a refazer minha vida, quando a desesperança dos anos 1970 dava lugar ao cinismo ingênuo dos anos 1980. Meu casamento tinha sido um fracasso e eu decidira recomeçar do zero, num local totalmente novo e desconhecido.
“Todo amanhecer traz uma nova esperança”, ela tinha dito enquanto eu batia a porta atrás de mim, para nunca mais voltar. Uma frase mofada tirada de algum livro de autoajuda que quase me deixava doente. Nem mesmo o Bruno me segurou lá. Nem mesmo ele.
Até então eu era instrutor de voo num aeroclube do interior de São Paulo e por indicação de um amigo, decidira tentar a sorte como piloto no sul da África, num país sobre o qual jamais tinha ouvido falar e que, na verdade, duvidava até que existisse.
Poeira, calor, pobreza, tudo de ruim que se associa à África estava ali, mas por algum motivo gostei do lugar. Do clima, das pessoas, de tudo o que um novo mundo significa. Daquele desejo de dias melhores, da página virada, do futuro promissor. Da possibilidade de enterrar lembranças ruins.
O serviço era tranquilo. A empresa não era grande, tinha meia dúzia de Cessnas-180, um avião que eu conhecia bem, pequeno mas corajoso. Asa alta, motor potente. Nossa base era Maun, uma cidade de 40 mil habitantes, ao norte do mapa. Na maior parte das vezes eu levava turistas às fazendas de safári que espalhavam num raio de 200km, mas também fazia passeios sobre o delta do Okavango e as Cataratas de Vitória, além de voos panorâmicos pelo Zambezi. Era a vida em sua máxima exuberância: os animais correndo livres, as zebras, as girafas, os elefantes. Os clichês da África eram muito mais interessantes do que os do mundo civilizado.
Havia ainda o trabalho social. Levar remédios, buscar missionários no Zimbábue e na África do Sul. Trazer médicos e enfermeiros daqui para lá e vice-versa. Equipamentos, encomendas urgentes. Não havia estradas, o que talvez fosse uma bênção, já que isso servia de freio à modernidade.
Depois de alguns meses eu já estava habituado às intensidades, às cores e aos sons daquele pedaço de mundo. Conhecia bem os outros pilotos e o pessoal de terra do aeródromo, com quem me divertia nos fins de semana entre latas de cervejas e jogos de futebol. Ganhei o apelido de “Snake”, por ser magro (e feio, diziam meus detratores) como uma cobra.
Foi no meu segundo ano em Maun que um pedido inusitado me foi feito em off pelo dono da empresa em que eu trabalhava, o Sr. Lurie. Sem qualquer registro, sem qualquer controle, num voo baixo, livre de radar, eu deveria levar uma caixa lacrada até uma fazenda próxima de Francistown.
“Preciso que alguém de confiança faça a entrega”, disse ele, um sujeito grande, de faces fartas e rosadas, do tipo que sucumbe ao sol em viagens tropicais. Sem muitas delongas, completou: “Estão pagando bem.”
Armas? Drogas? Provavelmente ambos. A guerra civil da Rodésia ainda estava fresca na memória, então não era difícil imaginar os motivos daquela encomenda especial. De todo modo, não cabia a mim investigar ou censurar quem quer que fosse. Eu nunca fora do tipo pacifista, altruísta nem nada assim. Por isso resolvi aceitar. Além disso, depois de tanto tempo, era bom escutar alguém dizendo que confiava em mim. Ah, a minha ex-mulher tinha que ter ouvido aquilo…
Deixei a caixa na sede da fazenda e pronto. Dei meia volta e retornei para Maun. O serviço me rendeu um bônus no fim do mês, além de um tapinha nas costas. “Muito bem, Snake.”
Isso aconteceu mais umas duas ou três vezes até o fim daquele ano. Um novo janeiro chegou e a partir dali me tornei uma espécie de entregador de confiança. Nada mais de turistas, remédios ou equipamentos. Nada mais de passeios pelas planícies alagadas, elefantes ou rinocerontes. Agora eu era um courier especial. Talvez outros pilotos fizessem entregas daquele tipo também, mas isso eu não podia confirmar. Havia entre nós um silêncio tácito, um acordo não escrito para deixar tudo quieto. Cada um cuidava de si.
Foram uns três anos assim. Até que em dezembro de 1988 o Sr. Lurie veio falar comigo, meio sem jeito. Mesmo naquele calor ele gostava de usar paletó, o que o levava a suar muito. Gesticulando como um italiano e enxugando a testa ampla com um lenço encardido, abriu o jogo depois de uns cinco minutos de enrolação.
Não, não se tratava de caixas, malas nem nada assim. Dessa vez, a encomenda era uma criança. Sim, uma criança, um menino, que deveria ser deixado em algum lugar próximo de Gaborone. Era um serviço perigoso, ele admitia, mas que colocaria a empresa em outro patamar de confiança. O único problema, pensei, é que era contra a lei.
Percebendo a minha relutância, o Sr. Lurie passou a mão sobre meus ombros e disse num tom conspiratório: “Esse é um serviço que só o Snake consegue fazer.” Fingindo ignorar minha expressão ainda anuviada, ele prosseguiu:
“Sei o que está pensando… Mas veja, esse tipo de criança não tem chance por aqui. Vai crescer num ambiente miserável, sem nada, sem futuro, escola ou emprego… Agora uma família de verdade quer adotá-la. Acho que são alemães. Alemães, Snake. Essa criança vai ter um futuro decente, diferente de todas aqui neste país esquecido. E nós, veja bem, além de ajudar isso a acontecer, ainda vamos lucrar. Repare como todo mundo ganha nessa história.”
“Vamos lucrar.”
“Sim. Bastante.”
“Bastante para compensar o risco?”
Ele fez que sim, mal conseguindo se conter.
“Mas… Por que esse casal alemão não faz as coisas conforme as leis? Dá entrada nos papeis…”
O Sr. Lurie soltou uma gargalhada.
“Ora, rapaz… Aqui é a África. Até parece que você não conhece a nossa burocracia…”
Eu sorri como quem é pego no contrapé e ele continuou:
“Quanto tempo levou para você revalidar sua licença de piloto? Três meses?”
“Bom, foram seis. Na verdade…”
“Seis meses! Imagine como funciona um processo de adoção! Esses casais não querem esperar. Pense nas crianças! É como se eles estivessem diante de um parque de diversões sem poder entrar porque alguém disse que demora muito para arranjar um ingresso…”
“Mas e as famílias delas aqui, Sr. Lurie? Alguém falou com eles? Eles concord…”
“Essas crianças não têm família, Snake. São andarilhos, meninos e meninas soltos nas nossas ruas revirando lixo. Preste atenção, não é hora de bancar o assistente social frustrado. Se seguirmos a burocracia todo mundo morre de fome. Pense, apenas pense. Temos a chance de dar a essas crianças uma nova vida. Sim, porque se tudo der certo com essa primeira, serão várias. Vamos içá-las sobre os portões do parque e deixá-las brincar também. E no fim, não sejamos hipócritas, também nós vamos nos divertir.”
Soltei o ar acumulado dos pulmões. Ele não estava errado. A criança poderia ter uma vida que prestasse, afinal de contas. E no final, a gente ainda sairia lucrando, o que nunca é ruim. Selei nossa concordância com um aperto de mãos enquanto ele secava a testa mais uma vez.
Cheguei cedo ao hangar da empresa e uma mulher bonita me aguardava próxima do portão. Ao lado dela, um menino na faixa de oito anos. Negro como uma pedra de opala, parecia desconfortável com uma camisa azul abotoada até o pescoço. Devia ter a mesma idade do Bruno àquela altura.
Sem dizer palavra, a mulher me entregou uma sacola com roupas para o garoto e se foi com um sorriso falsificado.
Era só mais uma mercadoria, eu disse a mim mesmo. Só mais uma entrega. Vai ser bom para ele. Não é errado. Ele não tem família. Não é como você, que fugiu da sua.
Lentamente seguimos até o avião, sem conversar. Coloquei o menino no banco de trás da aeronave, ajustei o cinto com firmeza e perguntei, monossilábico, se estava tudo bem. Ele fez que sim com a cabeça, mas não disse nada. Tomei meu lugar e acionei os magnetos. Com um soluço a hélice começou a girar e logo ganhou velocidade, tornando-se invisível. Em meio ao zumbido, chequei os instrumentos, conferi a rota e taxiei rumo à cabeceira da pista. Previsão de três horas até o destino.
Empurrando a manete à frente, acelerei o motor e decolei. O chavão africano se descortinava em potência máxima: o sol ainda baixo no horizonte alaranjado, as poucas nuvens em filamentos esparsos logo acima, o azul intenso ganhando a curvatura do céu. O garoto atrás, porém, não esboçou qualquer reação.
“Todo amanhecer traz uma nova esperança”, eu disse, quase sem querer, escutando a voz da minha ex-mulher na minha cabeça. Novamente não tive resposta.
Estávamos com cerca de uma hora voo, mais ou menos sobre a fronteira indefinida entre Botswana e África do Sul, quando o motor começou a tossir. Eu cuidava daquele avião mais do que qualquer coisa na vida, trocando as peças ao menor sinal de desgaste, porcas, parafusos, estais, rolamentos… Não podia imaginar o que havia de errado, mas o fato é que a hélice simplesmente parou de girar.
Religuei os magnetos, mas não houve reação. Com o nariz apontando para baixo, só me restou planar com cuidado, já examinando o terreno, por sorte plano. Olhei para trás de relance. O menino parecia absorto em pensamentos distantes, ignorando nossa situação. Mas estava com o cinto bem preso e era isso o que importava.
Felizmente estávamos numa região em que as árvores eram solitárias. Com o solo vermelho se aproximando, reduzi a velocidade, trazendo o nariz do avião para cima com cuidado para não estolar.
O avião tocou o solo engolindo os arbustos com as rodas. Solavancos, tropeços, tudo balançando, parecendo desmontar. Eu já tinha feito alguns pousos forçados, mas não podia dizer que era experiente o bastante ou que aquilo me agradava. Avançamos sem controle, a respiração suspensa, até que alguns buracos terminaram nos detendo.
Afora uns arranhões, escapamos bem. O avião também estava inteiro, felizmente. Bastava descobrir o que tinha acontecido com o motor e pronto, poderíamos retomar o nosso caminho.
Saímos da aeronave e eu pedi ao menino que se sentasse ali perto, sob a asa, para se proteger do sol. A amplidão em que havíamos pousado era opressora. Nada ao redor a não ser uma ou outra acácia, um ou outro arbusto perdido naquele solo rachado a perder de vista. Talvez o conserto demorasse um pouco.
Abri a tampa do motor e inspecionei o compartimento com uma lanterna. Parecia tudo em ordem, o que não era bom, pois me obrigaria a investigar peça por peça, todas as conexões. “Merda”, eu disse em português. Ali perto, o garoto me olhava com atenção, como quem procura entender o que está acontecendo. Seus braços envolviam as pernas encolhidas.
“Por que você não afrouxa esse colarinho?”, sugeri, fazendo um gesto de quem abre o botão da gola. “Está muito quente.”
Ele foi além. Acabou tirando a camisa e os sapatos. Parecia aliviado.
“Vou ter que abrir o motor para saber o que aconteceu”, continuei. “Talvez demore um pouco. Talvez a gente tenha que pernoitar aqui.”
A essa altura ele observava o horizonte.
“É, eu sei… Não precisa ter medo. Tenho um revólver se algum bicho aparecer.”
O sol estava alto e eu já havia removido a carenagem, desmontado os cabeçotes e inspecionado os cilindros, sem sucesso. O menino me observava em silêncio, os olhos estreitos como quem presta atenção.
“Venha”, disse eu, largando a chave de boca, indo até o compartimento de carga da aeronave. Apanhei uma caixa de isopor e ofereci ao menino uma garrafa d’água. “Você deve estar com sede.”
Ele se levantou, enfim. Pegou a garrafa e bebeu três ou quatro goles fartos.
“Ei, rapaz, devagar”, falei rindo, mas interrompendo o desperdício. “Economize, porque além dessa só temos mais uma e não sabemos quanto tempo vamos ficar aqui.”
Ele limpou a boca com as costas da mão e tampou a garrafa.
“Tive um filho da sua idade, sabia? Quer dizer, tinha não…. Eu tenho um filho da sua idade… O Bruno, só que eu e a mãe dele…”
Não sei se o guri estava entendendo alguma coisa. Mas nem era o caso de entender. Por que, afinal, eu tinha falado aquilo? Precisava me concentrar no motor. E só no motor. Não lembrar da minha família, do meu menino, nem nada. O defeito. Sim, o defeito. O defeito do motor. Arrumar e seguir viagem. Pedir socorro era a última alternativa. Porque com o socorro viriam as perguntas e com elas os problemas: a falta de plano de voo, de autorização para pouso no destino. E a carga? E esse menino? E os documentos? O esquema. Mesmo na África seria difícil escapar de uma encrenca.
Algum tempo depois, olhando para trás sobre o ombro, percebi o garoto de costas para mim. Ele estava acocorado e parecia se concentrar em algo rente ao chão. Assobiei, mas ele pareceu não escutar. “Ei, guri”, eu disse, mas ele não ouviu. Resolvi me aproximar, até perceber que ele se entretinha com uma planta. Parecia uma flor, uma flor do deserto. Sorri até notar que a garrafa d’água que dera a ele estava praticamente vazia.
“Você tomou toda a água?”, perguntei num reflexo. “Eu não disse para economizar?”
“Eu economizei, ntate…”, ele respondeu, a voz fina como a de um passarinho. “Mas ela estava com sede.”
Passei a mão na cabeça, quase em desespero.
“Meu filho, essas plantas são acostumadas com este clima dos infernos, você não sabe?”
Ele me olhou sério por um instante. Eu continuei:
“E de que adianta você regar uma flor? Já reparou quantas flores existem aqui?”
“Mas esta é a minha flor, ntate. Eu cuido dela. Para ela eu sou tudo no mundo.”
Observei-o sem compreender direito. Aquilo não podia estar acontecendo. Não tínhamos ideia de quanto tempo passaríamos ali e aquele menino desperdiçava nossa pouca água com uma porcaria de flor…
“Está bem, está bem…” eu disse bufando. Não adiantava reclamar. Agora já estava feito. “Mas é suficiente, certo? Nada mais de água. Já está de bom tamanho.”
Ele fez que sim com a cabeça e eu me pus em marcha de volta ao motor, praguejando, angustiado com as peças que se acumulavam no chão.
À noite dividimos o único sanduíche que eu trouxera. A última garrafa d’água evidentemente seria racionada.
Consegui fazer uma fogueira com alguns arbustos. A madrugada prometia ser fria naquela imensidão. Enfrentaríamos a baixa temperatura com as mantas que eu normalmente usava para proteger as caixas dentro da aeronave.
“Como é seu nome, guri?”, perguntei enquanto me deitava sobre a lona desdobrada no chão.
“San”, ele respondeu. “É San.”
“Muito bem, San. Vamos dormir. Amanhã será um dia bem comprido.”
Durante alguns minutos tudo o que ouvimos foi o crepitar dos gravetos engolidos pelo fogo. Até que o menino perguntou:
“Ntate… Eu vou morar com o senhor?”
“Eu… Não… Não é comigo, não.”
“É porque o senhor já tem um filho da minha idade?”
“Sim, eu tenho, mas não é por isso. Eu não vejo ele há muito tempo. Eu…”
“O senhor entregou ele para os africâners também?”
“Os africâners? Não, claro que não… Eu mesmo saí de casa. Eu deixei ele, o Bruno, deixei ele com a mãe e vim embora. Nós brigamos eu e ela… E eu vim embora para cá.”
“Entendi… Ele não é o único menino na sua vida, não é? Ele não é especial…”
Respirei fundo, tentando apagar as imagens do Bruno, pequenino, segurando a minha mão.
“Claro que ele é especial. É meu filho…”
“Então por que…”
“Vamos dormir, San. É complicado… Perguntas demais para uma noite.”
Acordei com o som de risos.
Ali, junto do menino, havia um bicho. Parecia um cachorro, mas logo vi que era uma raposa. Sim, as orelhas alongadas e pontudas, o corpo delgado, os olhos minúsculos e os dentes pontiagudos. Instintivamente, busquei meu revólver debaixo da manta.
“Não precisa ter medo, ntate”, disse o menino. “Ela é minha amiga.”
“Ela vai te machucar”, eu respondi, a arma já em punho.
“Não vai não. Ela estava me esperando, não vê?”
De fato, a raposa parecia bem mansa, aninhada no colo do menino.
“Ela gosta de mim”, ele continuou. “Quer saber se estou bem.”
Chequei o local rapidamente. Tudo parecia normal. O avião, as peças desmontadas, a fogueira já extinta fumegando. Não podia ser um sonho.
“Ela quer saber se você está bem” repeti, agora me levantando.
“Sim”, respondeu o menino encolhendo os ombros. “É assim que os amigos são. Não querem falar deles… Querem saber da gente.”
“Como é o nome dela?”, perguntei chegando mais perto.
“Raposa.”
“Claro. Raposa.”
“Sim, mas é a minha raposa. Diferente de todas as raposas que há por aí. Porque me importo com ela.”
“Que nem a flor.”
“Sim, que nem a flor. O senhor entendeu.”
“É, acho que entendi. Ela vai ficar para o café?”
O menino riu. Era bom quando ele ria.
“Não, né? Não tem mais nada para comer…”
Eu sorri também, mas o meu sorriso escondia a preocupação.
“Preciso consertar este avião”, murmurei para mim mesmo.
Pelo meio da manhã eu avançava sobre o eixo da hélice quando finalmente enxerguei o defeito: um rolamento havia se desprendido, provavelmente devido a um parafuso mal apertado. Trepidação excessiva, claro. Eu devia saber. De todo modo, tudo o que tinha a fazer agora era montar a peça novamente e pronto. Poderíamos seguir viagem.
O menino então se aproximou.
“Onde está a Raposa, San?”
“Ela se foi. Ficamos tristes. Não há nada pior do que se despedir de um amigo.”
“Essa é a maior verdade do mundo.”
Como ele permanecia quieto, eu continuei, o espírito renovado, já remontando o motor:
“Conte mais sobre sua amizade com os bichos”.
“É normal. Na minha tribo, todos conversam com eles. Os homens, as mulheres, os velhos e as crianças.”
“Todo mundo, é?”, perguntei, recolocando os mancais.
“Sim, mas as crianças têm mais facilidade. Os bichos não têm medo da gente. E nem dos velhos.”
“Só dos adultos?”
“Sim, porque os adultos acham que são donos de tudo, que sabem tudo. Pelo menos quando ficam velhos acabam percebendo que a gente, quer dizer, as pessoas, são só um bicho a mais que existe nas terras.”
Deixei o silêncio nos calar por um instante. Então, sucumbindo à curiosidade, perguntei:
“Onde você estava quando eles pegaram você?”
“Eles quem?”
“Você sabe, as pessoas. Quem foi que te levou até aquela moça bonita de ontem de manhã?”
“Aquela moça não era bonita.”
“Tudo bem… Talvez não fosse mesmo… Mas, enfim, onde você estava quan…”
“Lá na tribo mesmo. Na minha, nas outras… Nós, as crianças. Os adultos dizem que as crianças vão passear e que voltam depois de alguns dias. Mas nunca ninguém voltou. A gente sabe que é mentira. É muito fácil ver quando um adulto está mentindo.”
“E faz tempo que isso acontece?”
“Não muito. Os pais ficam tristes quando as crianças se vão, mas os chefes dizem que isso é o melhor para todo mundo”.
“Entendo. O melhor para todo mundo.”
Com o motor refeito, estávamos prontos para partir. Em duas horas chegaríamos a Gaborone. Usando o mapa, tracei a nova rota até a fazenda em que deveríamos pousar.
O menino já estava com a camisa abotoada novamente. Fiquei pensando no que fariam com ele de verdade. Se realmente existia um casal de alemães prontos para levá-lo para Bonn ou Frankfurt. Ou se tudo não era somente mais uma mentira. Uma imagem terrível cruzou a minha mente. Aquele garoto que se importava com as plantas e com os animais trabalhando até morrer nas terras de algum traficante filho da puta. Ou vítima do comércio ilegal de órgãos…
“O senhor vai voltar para o Bruno?”, ele perguntou, subindo no avião.
Senti um nó na garganta.
O Snake nunca falha.
“Vai, não vai?”
Numa fração de segundo me vi fugindo com aquele menino dali. Mas não adiantava voltar para Maun ou para qualquer outro lugar. Minha alma rachava. Olhei para meu reflexo na janela de acrílico. Era o Snake. A Cobra.
Liguei os magnetos. A hélice girou. Ganhamos velocidade e altura. Nosso destino não demoraria a chegar. Quis acreditar que haveria um casal germânico pronto para dar àquele menino uma casa. E que no futuro, isso era certo, eu e o Bruno o visitaríamos em Berlim ou o diabo que fosse. Mas sabia que era mentira.
Aquele menino, aquele principezinho da savana, sabia que terminava ali seu reinado de criança, sabia que eu não tinha escolha e que aquele desfecho era decorrência direta da minha natureza.
……………………………………………
Texto atualizado em 03/11/2020
O conto narra a história de um brasileiro, piloto de avião, que depois do fracasso de seu casamento acaba se mudando para África para pilotar aviões. Certo dia ele é chamado para fazer levar um menino africano, de forma clandestina, para entregá-lo a um casal alemão.
É um bom conto. A narrativa é simples e muito bem conduzida. é uma fanfic do Pequeno Príncipe. Este livro não é um dos meu favoritos, na verdade, tenho uma certa cisma dele, kkkkkkkk. No entanto, a história apresentada é boa e nos prende. Achei que o desenvolvimento do personagem do Carlos foi um pouco longa demais, poderia ter usado mais palavras para falar mais sobre o garoto, que pareceu ser um menino bem especial, só que ficamos sabendo pouco dele. Boa sorte no desafio.
Piloto de avião brasileiro trabalhando na África, envolvido em negócios ilícitos, tem como uma das missões levar um garoto africano a um suposto casal adotante. Uma pane no meio da viagem e as conversas com o garoto fazem com que ele reflita sobre os caminhos que escolheu em sua vida, e mude de rumo.
Releitura de “O Pequeno Príncipe”, escrita com delicadeza e apuro técnico. Foi maravilhosa a forma como o drama interior do personagem se manifesta ao longo da narrativa. Excelente final.
O que me incomodou um pouco foi apenas a maneira rasa com que o menino foi descrito. Ele sabia para onde estava indo? Como se sentia? O que ele esperava encontrar? Ele tinha pais? Entendo que o personagem do garoto precisava se assemelhar ao enigmático Pequeno Príncipe, mas o conto não é uma fábula, pelo contrário; é até “pé no chão” demais, com suas menções à tráfico de órgãos, missionários com segundas intenções, drogas etc.
Mas é um conto lindo, muitíssimo bem escrito e envolvente! Parabéns, Cadu! 🙂
Ei, Cadu, que coisa mais legal esse seu conto tendo como pano de fundo O Pequeno Príncipe. Um aviador que deixa o Brasil, após perder a família e parte para a África. Lá se torna piloto de turistas até que começa a fazer trabalhos mais “secretos”. Isto até o dia em que o chamam para transportar um menino. O avião tem uma pane e o menino encontra a sua raposa, presenteando-o também com uma rosa (a sua rosa). No meio do caminho então, lhe bate a consciência e ele resolve mudar a rota. Ele queria voltar a ser bom. Claro que essa mudança não fica totalmente clara se acontecerá mesmo, ou se ficará no plano da intenção, mas é assim, bem aberto que o seu conto termina. Uma história bem bonita, muito bem contada. Trata-se de alguém que sabe da arte da escrita. Parabéns. Muito legal mesmo seu conto. Tive dificuldades, estranheza, melhor dizendo, mas nem sei se estaria mesmo incorreta, com essa frase: “às fazendas de safari que espalhavam num raio de 200km”.
Carlos Eduardo “Snake” se afasta da família para tentar a vida na áfrica como aviador. Após um início honesto e promissor, começa a se envolver com tráfico e no fim termina aceitando traficar crianças. Após um pouso forçado no deserto e uma pernoite não planejada, onde Carlos e San trocam palavras que mudaram sua vida, ele decide se entregar para a polícia e salvar o menino.
É um conto excelente. Ele anda no limite da definição de fanfic – eu diria que é mais uma referência ao Pequeno Príncipe – mas ainda assim, aceitável no tema. É um conto com muito sentimento, escrito com muito esmero e que nos faz pensar tudo de novo; tudo o que pensamos quando lemos o Pequeno Príncipe. A história de uma vida e um conto de três mil palavras – isso é escrita de verdade.
Seu estilo é o que considero ideal: eloquente, bem escrito, com leitura fluida, simples na medida certa. Remete o leitor a sentimentos inesperado, bem revisado, bem acessível.
Conto nota máxima, com certeza!
Carlos Eduardo é um piloto de avião que é contratado para leva rum menino da África à Alemanha, porém no caminho acaba tendo um problema no motor e tendo de pousar, neste pequeno período descobre o quão especial é o menino de nome San, o final é em aberto.
Olá, Cadu! Olha, vou ser sincero seu conto fora um dos melhores textos que li esse ano, sem sombra de dúvidas. Que texto bem construído, não só a construção de Carlos quanto a situação de San. Por mais simples que seja o enredo este fora o suficiente para fisgar minha atenção e me deixar pensativo com o final em aberto. O “tráfico” de crianças africanas retratado através do menino é extremamente delicado e comovente, e você mesclou muito bem a obra original com o todo o drama pessoal do protagonista, olha não quero me demorar aqui porque se não escreverei um ensaio! Sobre a narração, olha, invejei! Vocabulário enxuto, ambientação perfeita, olha só elogios! Mais do que boa sorte!
Resumo: O personagem principal, Carlos Eduardo, decide se mudar para a África, depois de seu casamento fracassar, deixando sua ex-mulher e filho para trás. No novo local, Snake, como passa a ser chamado, que é piloto de aeronaves, tem a oportunidade de ganhar mais dinheiro fazendo entregas para o dono da empresa em que trabalha. Um dia, seu chefe pede que ele faça a entrega de um menino e ele relutantemente aceita, com a informação de que o menino será entregue a um casal alemão. No entanto, quando o avião tem problemas e ele precisa fazer um pouso forçado, ele faz amizade com o garoto e começa a ter dúvidas sobre as intenções com que o seu chefe pediu que o transportasse. Por fim, ele decide entregar-se para a polícia e não levar o menino para onde havia combinado.
Comentários: Achei a ideia do conto muito criativa, a narrativa fluiu de forma agradável. O conto traz elementos d’O Pequeno Príncipe na narrativa e denuncia que crianças africanas constantemente são vitimas do tráfico humano. Muito bom.
6. O Dilema da Serpente (Cadu)
Original: Pequeno Príncipe
Resumo: Carlos, apelidado de Snake, um piloto privado de aviões vai trabalhar na África, de certa forma se afastando de uma separação conflituosa e traumática para seu filho. Lá, entre serviços honestos e transportes suspeitos, é contratado pelo Sr. Lurie para levar um menino pobre para adoção de alemães em outro país. A princípio reticente, aceita a missão e acaba fazendo um pouso forçado com o menino no meio da savana. Sem poder pedir ajuda, ele estabelece um diálogo com o menino paralelo ao livro de Saint Exupery, mas de certa forma discutindo a questão do tráfico de crianças e abandono parental. Ao final, decide não entregar o menino, e a voltar a ser Carlos e ver o filho.
Comentário: Sem dúvida, um texto excelente, muito bem escrito, que não é exatamente fanfic, mas uma derivação em outro contexto de uma história muito famosa. Exatamente nisso se concentra o seu mérito, em transcender a história original e em fazer o leitor pensar sobre as condições e colocar-se no lugar do protagonista. Parabéns, autor, és um dos meus favoritos, e te tornaste eternamente responsável por me cativares.
Resumo
Enquanto trabalhava como piloto de avião em Botswana, Snake aceita o serviço de levar umas caixas lacradas até outra cidade. Mesmo imaginando serem droga ou armas, aceita, e realiza as entregas por três anos. Um dia, a entrega é um garoto de oito anos, que ele aceita fazer, convencido de que seria bom para o menino, que não tinha família e seria adotada por um casal alemão. No dia do voo com o menino, o avião tem uma pane e ele consegue pousar em um lugar, onde pernoita com o menino e conversa com ele. Descobre que não era bem como haviam dito e decide se entregar à polícia.
Comentário
O texto está muito bem escrito, narrativa fluida, gostoso de ler. Houve um grande cuidado com a gramática, nenhum erro gramatical que eu tenha notado.
Enredo bem desenvolvido, personagens interessantes e bastante complexas para um conto curto. O fato de ter utilizado a primeira pessoa contribuiu para esta empatia com o protagonista. Parabéns.
Legal ter incluído a questão do Snake com seu filho, o que tornou o enredo ainda mais forte e interessante, justificando as suas atitudes no final.
Não sei se o enredo se afastou um pouco demais do original ou se há uma referência a outra obra também que eu não consegui identificar.
Parabéns pelo belo texto.
Resumo: Piloto de pequenos aviões deixa a família em detrimento a um novo emprego no Sul da África, onde iria trabalhar para uma empresa particular de aviões para frete. Mas, que em seguida passa a fazer rota de tráfegos, de prováveis armas, e ou, drogas e em seguida foi incumbido de transportar uma criança que parecia tratar-se de um tráfico.
Gramática: Nada consta que desabone a gramática. E com ótima fluência.
Comentário Crítico: Um enredo muito bem desenvolvido. Uma história simples, e que flui sem percalços. Pena que eu não consegui identificar em que obra se baseou o enredo, nem mesmo o Google me deu uma pista. O máximo que me aproximei foi do filme, Ovo da Serpente de Ingmar Bergman, sugerido pelo título; e, pelo pequeno avião e o espaço inóspito, O Pequeno Príncipe, mas que, em nada espelha o enredo do conto. Mas valeu pela qualidade do conto em si.
Este conto é um Fanfic do livro O princepezinho, de Saint Exupéry. Narra a história de um aviador que tem de entregar uma criança destinada a uma adopção ilegal. A meio da viagem têm de fazer uma aterragem forçada. Durante este tempo, o aviador fica com dúvidas e decide denunciar o caso às autoridades.
Pontos fortes: A narrativa é fluída. A caracterização dos personagens está bem conseguida, em especial a do aviador. Quanto à criança já temos uma grande indefinição.
Pontos fracos: a necessidade de explicar o conto faz com que o leitor perca algum interesse por ele. É necessário encontrar um equilíbrio sobre o que o leitor precisa saber e o que ele precisa sentir. Na dúvida, dê sempre prioridade ao segundo, ou encontre o meio-termo.
RESUMO
Carlos Eduardo, depois de enfrentar o fracasso do casamento, resolveu refazer sua vida aceitando um emprego em Botswana, na África. Deixou para trás, tudo, inclusive seu filho Bruno, ainda pequeno. Como piloto no sul da África, depois de alguns meses, Cadu já estava habituado às particularidades daquele pedaço de mundo. Recebeu, além do apelido de Snake, novas incumbências do dono da empresa em que trabalhava e, depois de três anos, foi informado de que deveria levar um menino para uma fazenda. O garoto seria entregue para um casal alemão, que o adotaria, isso segundo o chefe de Snake. O avião tem uma pequena pane e Cadu faz um pouso forçado. Enquanto tentava consertar o avião, percebe que o menino fez amizade com uma pequena raposa. Quando tudo parecia estar certo, os dois conversaram sobre suas vidas e Cadu falou sobre o filho que havia abandonado. No dia seguinte, antes de partirem, San, o menino, dá uma flor do deserto ao seu companheiro de voo. Repensando sobre a sua vida e sobre o possível destino de San (trabalho escravo ou tráfico de órgãos), Carlos mudou seus planos. Decidiu se entregar para a polícia em Windhoek, como tentativa de ser um homem bom novamente. Talvez no futuro voltassem se ver: ele, o menino, a rosa e a raposa, além do filho Bruno.
AVALIAÇÃO
FanFic de O Pequeno Príncipe, apresentando os elementos – o menino, a serpente, rosa, a raposa e a ideia de que “você se torna eternamente responsável por quem cativa” . O(A) autor(a) mudou algumas coisas, dando um contexto diferente ao conto – ainda bem – confesso que tenho um pouco de ranço do texto original. Mas a ideia principal, a de ser responsável pelos que cativamos, e com quem criamos laços afetivos, continua funcionando com o fio condutor do conto.
Bem escrito, o texto leva o leitor À reflexão sobre valores que alguns julgam ultrapassados.
O final do conto traz um alívio ao leitor – a “redenção” de Cadu, que deixa de ser uma serpente e volta a ser um homem bom, responsável pelos seus atos e zeloso por aqueles que dependem dele.
A linguagem é precisa e clara, os diálogos bem pontuados emprestam fluidez ao texto.
Boa sorte no desafio e que a rosa do deserto te proteja da serpente que há em todos nós.
Olá, Cadu.
Resumo da história: Carlos Eduardo, vulgo Snake, deixa o Brasil pela África, onde ganha a vida como piloto de transporte. De início, ele trabalha com coisas corretas e de fundo humanitário, mas depois se rende a outros negócios mais rentáveis. Certo dia, algum de seus contatos oferece um trabalho novo: o transporte de um menino para uma família de afrikaners que supostamente adotaria o menino. Durante o voo, acontece um problema técnico e eles são forçados a pernoitar no meio do nada. O menino então revela-se alguém especial: observador, curioso e com talento em fazer amizade com animais. Carlos Eduardo tem a alma tocada pela ternura e, apesar das consequências para si, resolve levar o menino às autoridades legais, pois não tinha certeza do destino do menino, que talvez fora vendido ou sequestrado. Carlos passa, então, a se importar, a não ser mais a cobra (snake).
Análise do conto:
a.criatividade. 5/5 – achei muito criativa a ideia de trazer O Pequeno Príncipe para a dura realidade africana.
b. personagens. 4/5 – estão bem desenvolvidos, em especial o narrador. O menino está um pouco fantasioso, mas é bom personagem tbm.
c. escrita. 4/5 – é boa e funcional, sem comprometer o conto, mas dentro do “normal”, sem grandes arroubos ou transgressões.
d. adequação ao tema. 5/5 – é uma fanfic do Pequeno Príncipe.
e. enredo. 4/5 – é bom e criativo, com um final um tanto anticlimático, porém bom.
Boa sorte no desafio!
O Dilema da Serpente (Cadu)
Fala, Cadu.
Resumo: A história de um homem desiludido que deixa tudo para trás e acaba embarcando em uma aventura longe de casa. Lá se vê em uma situação inusitada e acabe repensando em sua vida. Uma escolha e a possibilidade de redenção.
Inicialmente, tenho tentado analisar a adequação ao tema. Nesse caso, resta claro que o conto atendeu perfeitamente a proposta do desafio criando um história com claras referências ao clássico “O pequeno príncipe”.
Nessa história de desesperança e, por fim, a chance de redenção, acompanhamos a trajetória de Snake, Carlos Eduardo. Sem percebermos somos levados seguir a jornada do herói do Vogler/Campbel, em praticamente todas as suas etapas. Do mundo comum, ao chamado a aventura, travessia, mentor, caverna ocult, recompensa, caminho de volta, ressurreição. Está tudo aqui, talvez até de forma instintiva.
A ambientação é muito bem feita, com descrições e marcações dos locais. Bem como toda a parte da ação, como os pormenores do avião e sua dinâmica.
Na parte técnica, perceba a importância de uma frase bem elaborada. Quantas informações deixadas de forma sutil. Local, resumo de duas décadas, animo do narrador, passado amoroso. “Cheguei em Botswana decidido a refazer minha vida, quando a desesperança dos anos 1970 dava lugar ao cinismo ingênuo dos anos 1980. Meu casamento tinha sido um fracasso e eu decidira recomeçar do zero, num local totalmente novo e desconhecido.” Creio que essa é a diferença entre um escritor calejado e um iniciante. Aqui todo espaço é aproveitado, nada sobra.
Adianta, temos uma grande característica do conto; instigar o leitor através de lacuna propositais, do tom hermético. “Nem mesmo o Bruno me segurou lá. Nem mesmo ele.” Quem é Bruno? Se pergunta o espectador. E isso faz a gente querer avançar na história.
Aqui, temos como exemplo como uma repetição de vocábulo pode ser usada com eficiência. É proposital e tem por objetivo demonstrar quão grave é esse ponto do relato. “Dessa vez, a encomenda era uma criança. Sim, uma criança, um menino”.
Nesse trecho, temos uma referência bem utilizada, uma pedra característica, e os primeiros indícios de revelação de quem era Bruno, mas ainda de forma sutil “Negro como uma pedra de opala, parecia desconfortável com uma camisa azul abotoada até o pescoço. Devia ter a mesma idade do Bruno àquela altura.”
Uma das grandes virtudes deste conto é a sua verossimilhança. Em determinados momentos é como se o autor tivesse vivenciado tudo aquilo. A tecla que Hemingway tanto batia.
Os diálogos funcionam e emulam muito bem o jeito de falar dos filmes de ação que ficamos acostumados a assistir na televisão. Não por outra razão, tem algo de familiar. Aliás “Snake” me lembrou do famigerado “Fuga de LA” e “Nova York”.
Algumas frases são bem inspiradas:
“Os clichês da África eram muito mais interessantes do que os do mundo civilizado.”
Por fim, deixo meu único “porém”, senti algumas redundâncias que sobraram um pouco, tipo essa “Havia entre nós um silêncio tácito, um acordo não escrito para deixar tudo quieto”. Enfim, apenas uma questão de perspectiva diante de toda toada.
Parabéns, autor.
Boa sorte no desafio.
O protagonista-narrador abandona a família para trabalhar como aviador na África, primeiro com turismo e trabalho social, depois com encomendas de risco. Assim, ele deve entregar um menino africano para adoção. Ele teria a mesma idade do seu filho. O avião tem uma pane e os dois travam amizade, tendo que passar a noite na savana.
Tudo resolvido no dia seguinte, o aviador, com a consciência despertada e sem conhecer ao certo qual o destino do garoto, decide procurar a polícia.
Em Terra dos Homens, Exupéry relata suas memórias de piloto do correio aéreo francês, assim como suas primeiras aspirações na profissão e seu convívio com outros pilotos e amigos. Em O pequeno príncipe, a raposa, a serpente, a rosa, os planetas, os baobás emocionam ao abordar dilemas cruciais do mundo. Este fanfic traz meditação sobre o senso de responsabilidade, o prazer de uma conversa, celebra a natureza, faz apelo ao melhor que existe dentro de cada um como nas obras de Exupéry.
Gostei do estilo de contador de história, das divagações, dos sentimentos expressados. Um convite a refletir. Bem escrito, diálogos críveis e bem estruturado, só faltou mesmo um impacto maior, já que o desfecho era previsível.
Agradeço-lhe, Cadu, por emocionar-me com Exupéry!
Parabéns pelo trabalho e sucesso. Abraço.
Piloto trabalhando com tráfico ilícito na África do Sul recebe a missão de transportar uma criança. No meio do caminho o avião dá defeito, forçando-os a pousarem e se conhecerem um pouco. A criança acaba influenciando o homem a não realizar o serviço, se entregar à polícia e reencontrar seu filho.
O conto está bem escrito, redondinho.
Única coisa que eu observaria é: você parece estar querendo mostrar durante a narrativa que entende de aviões hahahah É bom ter conhecimento dos elementos da história, ajuda na imersão. Mas temos que tomar cuidado, porque muita informação estranha, como palavras difíceis e técnicas, resultam em efeito contrário. O ideal, em tese, seria dominar o assunto, mas se concentrar na história, deixando que os detalhes e o domínio sobre o assunto apareçam sutilmente, organicamente. Veja se isso faz sentido pra você…
Demorei um bom tempo pra entender (se é que compreendi) que o universo explorado é o do Pequeno Príncipe, pelos personagens e elementos existentes na história.
Utiliza-se do cerne da história original, sobre a perda da inocência na vida adulta, dentro de um universo mais árido e trazendo junto uma questão social pertinente, triste e real.
O autor usa uma linguagem simples e consegue imprimir ritmo e equilíbrio à história. Fora uma ou outra pequena falha na revisão, o texto alcança seu objetivo de fazer o leitor refletir e se envolver nesse universo.
Talvez, minha única crítica ao texto seja quanto a forma de termino do conto. Peço desculpas antecipadas se não enxerguei a verdadeira esperança, mas me parece fantasioso demais que numa historia sobre perda da inocência, assunçao de responsabilidades, dentro do contexto árido e do cenário do tráfico humano na África , que o protagonista, ciente da vida adulta, ainda mantenha a esperança que ele manifesta ao final. Sei lá, parece um pouco um inverossímil demais.
Contudo, não acho que deva julgar o conteúdo das ideias convertidas no texto pelo autor.
Nota 4.
RESUMO:
Após terminar o casamento, aviador vai morar na África, longe da ex (quem pode culpá-lo?) e do filho (aqui o bicho pegou).
Depois de alguns anos entregando cargas, surge a proposta de levar uma criança, supostamente para um casal de alemães que a adotaria.
Um problema no motor obriga-os a permanecerem mais tempo juntos do que o previsto e acabam desenvolvendo laços de amizade.
No final, o aviador, preocupado com as reais intenções do “casal alemão”, desiste do serviço e se entrega à polícia.
COMENTÁRIO:
Dá até um pouco de vergonha falar isso, mas… eu nunca li “O Pequeno Príncipe”. Mesmo assim, a história parece tão universal que os elementos soam familiares, permitindo a identificação.
No meu conceito, esse texto se enquadra mais como “releitura” do que como “fanfic”, mas o regulamento previa essa possibilidade e, de todo modo, não estou levando isso em conta na nota.
A escrita é perfeita, como sempre (a menos que eu esteja muito enganado sobre a autoria kkkk). A apresentação de informações técnicas (as peças do avião, no caso) estão lá e a trama que caminha para a construção de vínculos e apego emocional e a tomada de uma difícil decisão final.
Como não sou muito emotivo, essa criação de vínculo me soou bastante abrupta, tipo… de uma minuto para o outro o moleque começa a soltar frases de amor e sabedoria, a ponto de fazer o Snake voltar a se importar. Imagino que o Pequeno Príncipe possa ser bem nessa linha, mas aqui pareceu ter faltado um pouco de espaço para se construir melhor essa amizade, apesar do(a) autor(a) ter feito mágica com 3.500 palavras.
Sobre a decisão final… confesso que tava esperando o finalzinho Disney e a resolução mais pé no chão acabou quebrando essa expectativa, mas não de um jeito bom. Tipo, realmente não me parece uma boa ideia deixar o garoto nas mãos da polícia e, principalmente, ficar preso num país onde possivelmente você acabou de dar para trás com traficantes de órgãos. Um plano mais louco paradoxalmente teria soado mais verossímil.
– ela tinha
>>> cacofonia “é latinha”
– Vá dar uma volta por aí, está bem?
>>> ótima sugestão para se dar a uma criança no meio da savana! kkkkkkkkk
Uma leitura muito boa, que certamente ficaria melhor numa noveleta.
NOTA: 4
Resumo:
Aviador é contratado para transportar um garoto vítima de tráfico infantil, mas desiste da empreitada criminosa e se entrega à polícia.
Avaliação:
(Autor, não leia o presente comentário como crítica literária, pois se trata apenas de uma justificativa para a nota que irei atribuir ao texto.)
O autor possui pleno domínio da língua e das técnicas de narração; é um escritor “pronto”.
O texto está bem revisado.
É um enorme prazer me deparar com um clássico da literatura no desafio, mas, em alguns momentos, isso me provoca uma sutil decepção. Este conto está muitíssimo bem escrito, com um enredo bom. No entanto, O pequeno príncipe é uma obra prima, com linguagem extremamente poética e aforística. Bem, quando me deparei com este conto, esperava isso: linguagem poética e aforística. E nenhuma das duas coisas foi entregue. Há alguma poesia e aforismos sim, mas apenas algum; não passa disso. Se este texto não fosse uma FanFic, eu o teria achado excelente, mas, como fã que sou d’O pequeno príncipe, não fui recompensado. Eu queria tanto que alguém escrevesse sobre O pequeno príncipe, que cheguei a considerar o sugerir para alguns amigos! Mas eu queria O pequeno príncipe mesmo, com tudo o que ele tem de melhor. Enfim, darei uma nota alta para esse texto, porque foi escrito com competência, por um autor com pleno domínio da língua e das técnicas de narração, mas não darei a nota máxima porque, como “fan” que sou, não encontrei a “fic” que procurava.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!
RESUMO: Carlos Eduardo abandonou sua família em prol de um recomeço no outro lado do Atlântico, fazendo voos para turistas no continente africano. Em algum ponto, rebatizado de Snake, o aviador é encarregado de trabalhos diferenciados, caixotes de conteúdo desconhecido. Um dia tem que levar uma criança, um garoto de 8 anos que supostamente seria entregue a uma família de alemães. Após o avião quebrar, Snake é surpreendido pela habilidade do rapaz de fazer amigos dos animais e, sobretudo, da percepção afiada e curiosa que a criança tem. Os dois ficam amigos também. E Carlos Eduardo, que ganhou uma rosa de presente do seu novo parceiro, decide que aquele rapaz não seguirá para a tal fazenda.
COMENTÁRIO: É O Pequeno Príncipe, né? Não tem os aforismos famosos e poderosos, mas tem os elementos da estória: rosa, raposa, garoto, avião… seja como for, é um belíssimo conto, Cadu. Acredito que a vida pregressa do personagem poderia ter sido realocada para o meio do conto ao invés da introdução, mas levo que isso é gosto meu, pois são informações relevantes que dão sustância à escolha final que o protagonista faz frente ao seu dilema. Aliás, achei interessante que as referências se juntam todas mais pro final, pois dá um clique no leitor sobre o que se lê. A mesma magia do Pequeno se encontra aqui, representada em San e sua perspicácia infantil, sua amizade com a raposa e a rosa presenteada. Em outras palavras, você capturou o tom perfeitamente, ao mesmo tempo em que deu um novo enredo, com uma personagem cativante. Digamos que você é responsável pelo que cativou, o que é um bom sinal.
Boa sorte.