Henry Jekill nasceu em Londres no ano de 1886. Estudou medicina na Universidade de Edimburgo. Herdeiro de uma grande fortuna, como todo ser humano, possuía boas e más qualidades. Teve uma personalidade dupla, a de médico de boa reputação, honesto e benfeitor durante o dia, e à noite, um homem lascivo, às vezes violento, viciado em orgias sexuais.
Ao meditar sobre essas duas essências, o bem e o mal, Henry Jekill teve a ideia de separar esses dois elementos. Queria se desfazer do seu lado ruim. Para isso, estudou os escritos dos alquimistas Thomas Charnock e John Dastin. Depois de alguns anos de pesquisas trabalhando em seu laboratório nos fundos de sua casa, conseguiu criar uma poção química capaz de arrancar de seu íntimo, a essência do mal. Era o que ele acreditava conseguir.
Depois de beber a poção, deitou-se na poltrona e ficou à espera do efeito. Não levou muito tempo, começou a sentir uma dor horrível como se o corpo estivesse sendo puxados em todas direções. Em sua mente havia um redemoinho de sombras e luz. Sentiu suas carnes sendo rasgadas e arrancadas.
Perdeu os sentidos.
Quando acordou, ficou estarrecido ao ver a si mesmo, parado em sua frente. O homem era igual a ele, como se fosse um irmão gêmeo.
─ Por que está tão espantado, doutor Jekill? Queria se separar de mim, e aqui estou. Em carne e osso. Livre e autônomo.
Henry tentava compreender o que havia acontecido. Presumira que tomando a poção, acabaria com seus vícios, com o seu lado pernicioso. Mas o que aconteceu foi o seu duplo ser extirpado e materializado como uma pessoa de carne e osso.
Henry se sentia alegre e temeroso ao mesmo tempo. Satisfeito por ter realizado o seu objetivo, receoso por não saber que consequências aquilo traria.
─ Enquanto você estava desacordado, fui ao seu armário, peguei algumas roupas para me vestir e pensei que eu deveria ter um nome. Me lembrei de um certo Edward Hyde, personagem de um livro que lemos na adolescência. Pois meu nome vai ser Hyde, Edward Hyde. O que acha?
Henry permaneceu calado, não conseguia opinar. Tentando recuperar sua racionalidade.
─ Vou precisar de dinheiro para alugar um quarto e outras despesas, roupas novas, almoço num bom restaurante, charutos e outras coisinhas mais. Faça-me um cheque por favor, para o seu irmão de sangue.
Henry apoiou-se nos joelhos, levando as mãos à cabeça.
─ Nunca pensei que seria assim. Preciso de um tempo para assimilar isso.
A expressão de Hyde se alterou. Agarrou Henry pelo pescoço e o colocou de pé.
─ Quero dinheiro. Já, agora, ou mato você. – mas logo o soltou e recuou. ─ Ocorreu-me uma ideia. Eu sou você e sendo assim, posso ir ao banco e retirar dinheiro sem nenhum problema. Não saia de casa. Ninguém pode nos ver juntos. Voltarei amanhã para continuarmos esse assunto e tratar de um outro. Precisamos planejar umas coisas.
Henry respirou aliviado. Voltou a sentar-se porque o choque era tanto que se sentia enjoado. Ficou a pensar que Hyde tinha razão, não podiam ser vistos juntos. Haveria muita especulação e o seu segredo seria revelado, talvez com serias consequências. Ficou no laboratório o resto do dia e só entrou em casa para dormir.
****
No dia seguinte, Henry estava pensando naquela situação, considerando que havia cometido um grave erro, quando chegou uma carta. O remetente era, nada mais nada menos que Edward Hyde. Pedia para encontrá-lo no hotel Earle, quarto de número 622. Dizia para pegar a chave na recepção, entrar no quarto e esperar.
O Earle era um hotel decadente. Quando entrou no apartamento sentiu o cheiro de mofo e velhice. A decoração era escassa e insípida, uma cômoda num canto, uma cama de ferro no lado oposto, mesa pequena com duas cadeiras, uma escrivaninha perto da janela com uma máquina de escrever e um maço de folhas de papel ao lado, além de lápis e caneta-tinteiro dentro de um tubo de papelão.
Na parede, acima da escrivaninha, havia um quadro pequeno com a imagem de uma mulher na praia. Sentada na areia, com uma mão aberta sobre os olhos, ela olhava para o mar.
De repente, uma sombra materializou-se na parede.
A porta se abriu e entrou um homem de aspecto selvagem e primitivo. Carregava numa das mãos um pacote quadrado feito com papel pardo, amarrado com um barbante.
As sobrancelhas eram hirsutas, a base da testa projetando-se para a frente, aprofundava os olhos. Os lábios eram estreitos, os cabelos compridos, as mãos grandes e peludas.
Andava meio inclinado como se carregasse um peso nas costas.
Colocou o pacote sobre a cômoda e pendurou o chapéu e a capa num cabide atrás da porta. Esboçou um sorriso, exibindo dentes amarelados, tortos e espaçados.
─ Não se assuste, doutor Jekill. Essa é a minha verdadeira aparência. Afinal, sou o seu lado feio e mau. − disse Hyde numa voz rouca e sussurrante. ─ Não vou ficar me lamentando por isso. Eu o chamei por que temos um assunto importante a tratar.
Soaram batidas na porta. Hyde foi abrir. ─ Pedi o almoço para nós.
Uma jovem vestindo uniforme cor de vinho, entrou empurrando um carrinho com algumas travessas e pratos. Ela colocou a comida sobre a mesa. ─ Bom almoço, doutor Jekill. – disse e voltou a sair com o carrinho, as rodas guinchando como um porquinho assustado.
Hyde preparou os pratos e fez um gesto para Henry comer. Embora já fosse tarde, e a comida apetitosa, ele estava sem fome. Ingeriu um café ralo aquela manhã, mas seu estomago parecia pesado como uma pedra. Para não fazer desfeita, começou a comer o bife acebolado com creme de abóbora. Hyde serviu-se de um pouco de cada e lançou-se ao prato como um cão esfomeado.
Encheu a boca com arroz, salada de cenoura ralada e mastigou com vontade. Engoliu e atacou o bife, cortando um pedaço e o levando a boca. A gordura escorreu pelo queixo ossudo que ele limpou com o guardanapo, num gesto brusco.
Ergueu o rosto macilento olhando para cima enquanto mastigava um pedaço de carne e meditava.
Henry tentava imaginar qual seria o seu destino com Hyde como sua sombra. O que fazer dela? Aquela ignóbil consciência? Aquele espectro em seu caminho?
Estava arrependido por ter tido aquela ideia, de separá-lo de sua personalidade.
Hyde terminou o almoço, arrotou, e disse, apontando para a escrivaninha.
─ Ali tem papel e caneta. Quero que você escreva de próprio punho, o seu testamento nomeando-me como seu único herdeiro.
─ Por quê? Está com a intensão de matar-me?
─ Não, claro que não. Somos como irmãos, ligados por laços de sangue. Meu instinto de conservação me impede de fazer tal coisa.
─ Acho que o testamento vai despertar curiosidade, principalmente do meu advogado, o senhor Gabriel Utterson.
─ Por enquanto não vamos nos preocupar com Gabriel. Ele não precisa saber agora, a existência do testamento.
Hyde levantou-se e parou ao lado de Henry, intimidando-o com sua aproximação. Jekill sabia que, para chegar aos seus objetivos, Hyde usaria de violência se fosse necessário.
Ele ergueu-se e sentou-se diante da escrivaninha. Na máquina de escrever estava uma folha papel com o logotipo do Hotel Earle. Havia apenas uma única frase datilografada: Em um prédio residencial a Leste de Manhattan. O barulho do transito naquela manhã era intenso.
─ Isso era do antigo hóspede – disse Hyde por cima do ombro de Jekill.− Parece que ele era um escritor com bloqueio criativo. Use a caneta tinteiro para que a sua letra seja reconhecida, e a assinatura, é claro.
Henry escreveu o testamento e assinou. Hyde pegou o documento assoprou para que tinta secasse e guardou no bolso do paletó. Ficou de pé, encostado na cômoda.
─ Fiz uma visita a senhorita Jane Bennett. ─ disse, com uma expressão pensativa. Continuou, pausadamente. ─ Aquela que você ama e não tem coragem de se declarar. Esse sentimento bobo que você guarda no peito por tanto tempo. Eu a visitei, não com essa aparência, é claro. Antes da transformação. Ela pensou que eu era você. – Hyde lançou um sorriso cínico.
Jekill ficou preocupado com a jovem. Realmente, ele a amava, mas por ser dez anos mais velho, tinha medo de se decepcionar. Talvez Jane o tinha apenas como amigo e achasse ridículo se casar com um homem mais velho.
─ O que você disse à senhorita Jane?
─ Conversamos, tomamos um chá. Estava sozinha em casa. Os tios haviam saído para visitar um parente doente. A convidaram para ir junto, porém, não estava animada. Sentia-se um pouco indisposta para sair. A minha chegada a deixou surpresa, mas não demonstrou desagrado. Foi gentil e receptiva. Convidou-me a entrar e me serviu uma xícara de chá. Conversamos sobre diversos assuntos e percebi aos poucos que ela tinha por nós, completo desdém. Sabe? Aquele jeito de levantar uma barreira e não permitir que a ultrapasse? Que não lhe concede acesso a sua intimidade? Eu, aliás, tu, que foi amigo desde a universidade?
Hyde faz uma pausa e depois disse com uma entonação dura na voz− Jekill, Jane Bennett te achava um bobo! Um completo idiota por pensar que ela se casaria com você.
Henry estremeceu com um mau pressentimento.
─ Por que te referes a ela no passado? O que você fez a Jane, Hyde?
─ Àquele rosto sedoso como pele de pêssego? Àqueles olhos azuis como duas gotas de céu? Quando declarei que estava apaixonado por ela e a queria beijar, sabe o que ela fez? Me deu um tapa na cara. A ira inundou minha alma, o sangue ferveu nas veias e foi então que me transformei. Dei a ela um bom castigo e resolvi trazer uma lembrancinha para você.
Hyde acabou de falar dando palmadinhas sobre o pacote de papel pardo, amarrado com barbante.
Jekill aproximou-se do pacote. Hyde foi até a janela, e ficou olhando para o trânsito lá embaixo.
─ Quando finalmente beijei seus lábios, eles já estavam frios.
Jekill encolheu-se, com náusea. Não teve coragem de abrir o pacote. O cheiro era perceptível. Num ímpeto, pegou a máquina de escrever com as duas mãos e bateu com ela na cabeça de Hyde. Quando ele caiu, Jekill continuou batendo com a fúria embaçando seus olhos.
De repente sentiu um estalo na cabeça. Como se um relâmpago iluminasse as trevas na sua mente.
Viu-se de joelhos no chão, segurando a máquina de escrever. Edward Hyde havia sumido. Só ele estava no quarto. Concluiu que o monstro voltou para dentro dele.
Abatido, pegou o pacote e foi embora.
****
Henry Jekill viajou a noite toda em direção ao litoral. Precisava sair da cidade. Fugir para longe.
Parou no acostamento para dormir algumas horas e seguiu viagem.
O sol já estava alto quando estacionou o carro numa rua, perto do Forte Garrison. Pegou o pacote, desceu, trancou a porta e seguiu por um caminho estreito entre as dunas, os pés afundando na areia fofa. Sentou-se na areia a poucos metros das ondas.
Ficou meditando sobre sua vida, sobre a ideia louca de separar de si a parcela da maldade que há em todo ser humano. Uma coisa impossível de se descartar.
Jane Bennett estava morta e o culpado era ele.
Só havia uma coisa a fazer. Henry deixou o pacote sobre a areia e dirigiu-se para o mar. Achava que as ondas lavariam sua alma de toda a culpa e o seu corpo repousaria em paz no fundo do Oceano.
****
Uma mulher de maiô sentada na areia, levou a mão direita a testa para bloquear o sol, e ver ao longe o que era aquela mancha escura flutuando nas ondas.
Depois ela viu o pacote de papel pardo, amarrado com barbante.
———————————————————————————————–
A sombra na parede narra as vicissitudes que se passam com Henry Jekill ao separa-se do seu lado mal, graças a uma poção. O duplo, de nome Edward Hyde acaba assassinando Jane Bennett, por conta de tal consequência, Jekill mata sua outra metade suicida-se no mar.
Olá, Shadow! Parabéns pelo conto. Por mais que eu não tenha lido as obras que o(a) inspiraram eu compreendi muito bem, inclusive me despertou uma vontade de ler O médico e o monstro, achei isso um máximo! Literariamente falando: o autor(a) tem um bom domínio de narração, é ponderado nas descrições e criou um conflito interessante com maestria. Ao mesmo tempo que sentimos o desespero do protagonista, sua perplexidade letárgica, como se este estagnasse e não conseguisse muito bem calcular as consequências do seu ato. O fim é bastante chocante e interessante visto que não ficamos sabendo que parte do corpo de Jane está na caixa. Em relação à gramática: não encontrei nenhum erro denotando que o autor(a) revisou seu texto com atenção. Se por um acaso ficar entre os finalistas faço questão de revisitar o conto após minha leitura das obras homenageadas.
Resumo: Henry Jekill, um homem que possui duas personalidades, uma boa e outra má, tem a ideia de separar suas duas facetas, tomando uma poção que concretizou seu desejo. Ele cria seu gêmeo, Edward Hyde, uma entidade que ficou apenas com a parte sórdida de sua personalidade. No entanto, seu lado mau comete um assassinato – o da mulher pela qual Henry Jekill nutria uma paixão não correspondida, então ele mata Hyde antes que ele possa sujar mais seu nome, fazendo-o desaparecer, e então decide cometer suicídio se jogando no mar.
Comentários: Boas referências, conto imaginativo e com cenas interessantes, mas alguns elementos poderiam ter ficado mais claros. Corrido, poderia ter se demorado um pouquinho mais.
14. A Sombra na Parede (Shadow)
Original: Jekill e Hyde
Resumo: Uma variação da história de Jekill e Hyde, no qual a separação entre ambos assume uma característica “Clube da Luta” misturado com “Seven” – o duplo mau absorvido e confundido e a cabeça de Jane Bennett na caixa.
Comentário: O conto é bem construído e parte de uma premissa bem interessante – que os crimes de Hyde se tornam, pela própria natureza da ligação entre ambos, culpa de Jekill, levando este ao suicídio. A narrativa é um pouco explicativa demais, acho que o autor poderia trabalhar menos com as descrições e mais com ações entre os personagens. Pequenos erros de gramática atrapalham a leitura – “Intensão” – ç ; “àquele” – não tem crase. De qualquer forma, boa sorte no desafio!
Olá, Shadow.
Resumo do conto: Henry tem um lado mau que ele despreza e então resolve investigar como se separar de sua parte má: estuda alquimia e outras ciências e desenvolve uma poção. Ele bebe da poção e desmaia. Quando acorda, dá de cara com seu gêmeo do mal: Hyde. Hyde exige dinheiro e vai embora. Algum tempo depois, Henry recebe uma mensagem do gêmeo malvado e vai a seu encontro num hotel. Lá, ao notar que Hyde transformou-se num homem monstruoso, fica sabendo do encontro de Hyde com a mulher que ele tinha sentimentos e sobre o assassinato da mesma. Henry agride Hyde com uma máquina de escrever e este desaparece.
Henry, carregando um pacote com talvez a cabeça de Jane, afoga-se de propósito, consumido pela culpa.
Análise do conto:
a. criatividade. 3/5. não notei muitos elementos criativos, fora separar os doutores em duas pessoas físicas.
b. personagens. 3/5. não houve muito desenvolvimento de personagens: há o “bom” e o “mau”.
c. escrita. 3/5. a escrita é boa, em geral, com alguns pequenos “cochilos” somente.
d. adequação ao tema. 5/5 – é um fanfic de O Médico e o Monstro.
e. enredo. 3/5. achei a história pouco desenvolvida. o ponto de partida, a possibilidade da existência de um todo bom e um todo mau transitando ao mesmo tempo, era muito bom, mas não resultou num conflito maior.
Boa sorte no desafio e abraços!
A Sombra na Parede (Shadow)
Fala, Shadow.
Resumo: Um cientista tenta criar uma maneira de separar seus vicios e virtudes, no entanto, acaba criando uma outra personalidade. Sem controle sobre seu outro eu, o médico decide colocar um fim na história.
Inicialmente cumpre ressaltar que o conto cumpriu perfeitamente a proposta do desafio, trazendo aqui uma releitura do clássico “O médico e o Monstro”.
Bem, nesse trabalho o autor bebe, ou melhor dizendo, se embebeda da fonte original se aproveitando de toda a fantástica história construída, bem como seus sublimes personagens. Em um curto espaço conseguiu demonstrar a criação, os desejos dos personagens, um antigo amor e um desfecho. Além disso, penso que o conto foi muito feliz em construir camadas com sutileza, deixando o insólito preencher as lacunas. Para isso, o título e a figura escolhidos foram ótimos, e sua menção no conto flerta com a quebra da parede. Especialmente ao final, quando o quadro observa o homem. E, claro, é Shadow quem escreve.
Senti-me diante de uma coisa meio Twiligh-zone dirigida por David Linch (ok, roteiro dos Coen). O pacote com o barbante também me remeteu ao “Seven” e sua magnifica cena final, além do citado Barton Fink, donde também temos o hotel, o quadro, a praia e a máquina de escrever. Quase como um crossover entre os dois enredos, John Goodman como Dr. Jekill? Em efeito, dá até pra dizer que tem tanto do filme quanto do livro. E o protagonista torna-se o quadro.
O lance da referência do “jantar” é muito bacana porque remete ao observar, e quem observa quem? Afinal, todos temos um velho bruto e voraz dentro de si, ou teremos.
Enfim, adoro esse tipo de abordagem onde há uma metalinguagem e que explora os recônditos humanos, desnuda nossas contradições e as enfermidades psicológicas.
No que diz respeito a parte técnica, ela é muito competente e fica logo patente que o autor sabe o que está fazendo. Esse trecho emula muito bem o conto mencionado “Encheu a boca com arroz, salada de cenoura ralada e mastigou com vontade. Engoliu e atacou o bife, cortando um pedaço e o levando a boca. A gordura escorreu pelo queixo ossudo que ele limpou com o guardanapo, num gesto brusco.” Ficamos com a sensação de que estamos ali, observando tudo de perto.
Em suma, um ótimo conto!
Parabéns e boa sorte.
O conto consiste em uma nova vertente do clássico o médico e o monstro. A ideia é a reflexão do leitor sobre o bem e mal estar em todas as pessoas, sendo impossível separar uma característica da outra, o que é muito bem representado na primeira metade.
No entanto, na parte final, o texto perde um pouco de sua força. Mesmo com as alegorias de O Jantar, de Carice Lispector, denotando a diferença entre os protagonistas ou, ainda, no contexto de Barton Fink, dos irmãos Coen, a trama perde o fôlego da reflexão do próprio personagem.
O autor demonstra domínio sobre o tema, suas referências e sobre o universo ficcional. Não há qualquer falha que desabone o conto tecnicamente.
Porém, no final, fica a impressão de que a mensagem perde para a estética e forma do conto. Talvez, com mais linhas, o texto recuperasse a reflexão inicial, mas isso não ocorre.
Nota: 4.
Resumo
Henry era um médico respeitado de dia e um homem violento de noite. Decidido a librar-se de seus vícios e de suas atitudes condenáveis, cria uma poção que acaba materializando seu lado negativo em um outro igual a ele, Hyde. O duplo do mal mata a mulher por quem Henry é apaixonado e a este só resta o suicídio no mar.
Comentário
Olá, Shadow, gostei da sua fanfic, me envolveu e prendeu minha atenção até o final. Os diálogos deram agilidade ao texto e foram bem dosados.
Achei interessante ter incluído referências a outras obras, como O Jantar porque as cenas se encaixaram de forma coesa e coerente. Boa ideia.
Não entendi a importância do quadro no enredo. Como foi citado e colocado na imagem, gerou uma expectativa com relação a ele que não se cumpriu.
Notei alguns deslizes gramaticais, como os que exemplifico abaixo:
chamei por que (porque) temos
estomago (estômago)
levando a (à) boca
transito (trânsito)
Fiz uma visita a (à) senhorita Jane Bennett
Hyde faz (fez – o segundo verbo está no passado) uma pausa e depois disse com uma entonação dura na voz
Por que te referes a ela no passado? O que você fez a Jane, Hyde? – não entendi a mudança da terceira para a segunda pessoa aqui.
A mudança de nomes, usando ora o primeiro ora o sobrenome confunde um pouco e atrapalha a leitura.
Resumo: FanFic espelhado em “O Médico e o Monstro”. O médico decide-se por se livrar de seu outro lado de instinto do mal. E através de uma poção química ingerida vê que algo deu errado. Ao contrário do que esperava, seu lado lascivo tornou-se em outro indivíduo do mal. Este passou a fazer exigências.
Gramática: Nada a contestar. Leitura fluida, sem percalços gramaticais.
Comentário Crítico: Conto de enredo consistente. Bem desenvolvido, sinteticamente consegue incorporar as três tendências do qual o autor(a) se baseou. Que bem poderia ser um pouco mais explorado, pois ingredientes não falta para um maior desenvolvimento, entretanto, o suficiente ao que se propôs. Ótimo trabalho.
Olá, autor ou autora. Este é um Fanfic com diversas referências, sendo a principal o conto Dr Jekyl e Sr Hyde.
Se as múltiplas referências foi um recurso inteligente e criativo, a execução deveria ter sido mais impactante. Aqui e ali notei falhas na pontuação. Nada de mais a nível gramatical. Por outro lado, a opção de criar duas pessoas distintas desvirtua demasiado o original de Stevenson, baseado num distúrbio mental que causa múltiplas personalidades. Ao criar duas pessoas distintas, a magia é quebrada, mesmo que a conclusão seja a mesma.
Henry Jekill queria se desfazer do seu lado ruim e criou uma poção química que o arrancaria de seu íntimo. Mas, o que conseguiu foi criar um outro corpo, como um irmão gêmeo que escolheu chamar-se Edward Hyde e lhe exigiu dinheiro.
No dia seguinte recebeu um convite para um jantar em um hotel (referências ao filme Delírios de Hollywood e ao conto de Clarice Lispector). Hyde pede a Jekill um testamento que o favorecesse e confessa o assassinato da mulher que ele amava. Num ímpeto, o médico agride o gêmeo (agora com aparência terrível) e, acredita que o fez voltar para dentro de si. No litoral, Jekill se mata deixando na areia a caixa com a prova de que se envolvera no assassinato da senhorita Jane.
O “Médico e o Monstro” foi um excelente livro de horror e suspense, um clássico do mistério. Nesta releitura, os conflitos entre bom e mau, a exploração do autocontrole que lhe custaria a vida do protagonista não foram bem explorados. Faltou o tom sombrio e misterioso, não deixando que leitor se apegasse a nenhum personagem. Faltou dar mais vida à luta primal que existe em todos nós e que nunca se cansa de pressionar e impressionar.
Está bem escrito, as ideias fluem bem. O autor poderia ter focado mais no suspense, no “mostrar, não contar, pois é evidente que se trata de alguém com bagagem literária.
De qualquer forma, um bom conto.
Parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio. Abraço.
RESUMO
Dr. Henry Jekill possui personalidade dupla: a de médico de boa reputação, durante o dia, e à noite, um homem lascivo e violento. Tem a ideia de se desfazer do seu lado ruim. Cria uma poção química que julga ser capaz de arrancar de seu íntimo, a essência do mal. No entanto, só faz liberar o seu duplo – do Mal – Edward Hyde. Este se apossa do dinheiro de Jekill, exige que ele assine o testamento a seu favor e ainda visita e mata a mulher por que o médico era apaixonado. Jekill ataca Hyde com uma máquina de escrever e ele some. O médico conclui que o monstro voltou para dentro dele. Dirige-se para o litoral, remoendo suas culpas.Só há uma coisa a fazer, terminar com a sua vida. Henry deixa o pacote (com alguma parte do corpo da amada) sobre a areia e dirige-se para o mar.
AVALIAÇÃO
Como o(a) autor(a) já revelou, trata-se de uma fanfic de O Médico e o Monstro, com referencias também ao filme Delírios de Hollywood e ao conto O Jantar (de Clarice Lispector).
Conto narrado em terceira pessoa mesclando ficção científica e terror. O clima de suspense é mantido até o final, que apesar de não ser surpreendente, funcionou bem.
O ritmo da narrativa é confortável e os diálogos bem pontuados tornam a leitura fluída e agradável. O texto não é morno nem cansativo. Ponto para o(a) autor(a).
Percebi que há algumas falhas de revisão, lembrando que é intenção com Ç e não com S. “In tesão” é outra coisa, outro estado de espírito e corpo… 🙂
Um final melancólico, até com imagem poética da entrega de Jekill ao mar, como redenção dos seus pecados. Ficou bonito.
Boa sorte no desafio e que sejamos protegidos do nosso lado Hyde. 🙂
O doutor Henry Jekill tenta extirpar de si seu lado ruim, por meio de alguma substância alquêmica. Acaba criando um duplo seu, que carrega toda sua negatividade. O duplo mata a mulher amada pelos dois. Ao final, é revelado que Jekill não separou os dois, sendo todo o ocorrido um delírio seu. Ele se joga ao mar, e o pacote com a cabeça de sua vítima é encontrado por uma banhista.
Achei o conto competente, bem escrito e fácil de entender. Uma história simples, sem grandes pretensões. Divertida.
Apresenta alguns símbolos legais, como a ideia da sombra.
A história narrada em si poderia ter sido um pouco mais inovadora, ao meu ver. Como está, o conto é bom, porém um tanto comum.
Só uma tecnicalidade que achei interessante: em “Herdeiro de uma grande fortuna, como todo ser humano, possuía boas e más qualidades”, criou-se uma ambiguidade desnecessária, além de que a informação de ele ser herdeiro não tem nada a ver com o resto. São expressões que ocorrem na escrita livre, e que quis ressaltar.
Resumo:
Cientista cria uma fórmula que lhe permite separar o lado malévolo de sua personalidade. O problema surge quando esse lado ganha vida própria e comete perversidades.
Avaliação:
(Autor, não leia o presente comentário como crítica literária, pois se trata apenas de uma justificativa para a nota que irei atribuir ao texto.)
O autor possui pleno domínio da língua e das técnicas de narração. É um escritor “pronto”.
Não identifiquei erros graves de revisão.
Certos momentos, é detestável estar participando de um desafio e, portanto, ter que avaliar um texto e, mais ainda, lhe dar uma nota. Estou eu aqui agora diante de um texto executado com maestria, por um escritor muito competente, que em outras circunstâncias eu amaria incondicionalmente, mas que, no contexto do desafio, não receberá a nota máxima porque, comparado a outros trabalhos, não cativou especialmente meu coração. Explico-me: meu coração decide entre o 4 e o 5! Textos que me cativam especialmente, que me emocionam e sensibilizam, ficam com a nota 5.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!
RESUMO: O Dr. Henry Jekill tem duas personalidades, uma o contrário da outra. Num ímpeto de apagar aquela que odeia, acaba se dividindo em dois. Grande erro, já que sua verdadeira metade vai atrás de sua cara metade. Os dois que são um se reencontram num hotel, onde Jekill descobre o fim de sua amada. Quando decide vinga-la, percebe que só há uma forma de pôr fim ao seu suplício. O mar. A única testemunha de seu fim nem mesmo compreende o que está vendo quando avista a mancha escura de vez em quando quebra o vai e vem das águas. Mas olhe só, aquilo é um pacote de papel pardo?
COMENTÁRIO: A temática do duplo é uma que me intriga bastante, “O homem duplicado” de José Saramago sendo um dos meus livros preferidos e “O Duplo” sendo um livro que está na minha lista. Jekill e Hyde devem entrar na minha lista. A premissa é boa, o ruim mesmo sendo a introdução que teve um tom muito expositivo que dá um tropeço na leitura. Felizmente, o desenvolvimento garante uma leitura interessada. Uma vez que as duas personalidades se separam, o calmo agora espera pelas ações imprevisíveis do louco e o leitor espera junto. Quando as coisas vão se desdobrando, o horror de Jekill é partilhado por nós e o pacote pardo carrega um impacto similar. A resolução já não satisfaz tanto e não simplesmente por não ter se encaixado onde eu poderia querer – é um ponto positivo deste conto: eu não tinha ideia do que viria em seguida – mas por ter optado por um desfecho econômico, com o retorno à situação pregressa ao invés de aproveitar a potencialidade do confronto entre os dois distintos que são um só. Ainda assim, apesar do tropeço inicial, a narrativa flui bem, garantindo expectativa e um sentimento sincero pelo que passam os personagens. O finalzinho mesmo, com a moça da praia, dá um desfecho metalinguístico e provocativo que cabe no conto como uma cereja num bolo. Não captei se tem a ver com as outras obras homenageadas, mas conclui o conto fora de um lugar comum.
RESUMO:
Médico separa de si a parte maligna de sua alma. Essa “cara-metade” assassina a amada do médico.
Ele então ataca a metade do mal e a “reabsorve”. Foge em direção ao litoral e se mata afogado.
COMENTÁRIO:
Não li a obra original, mas de cara é possível associar ao famoso “o médico e o monstro”.
Apesar de alguns problemas de revisão (listados abaixo), o texto está muito bem escrito e a história bem amarrada.
Pelo meu desconhecimento da obra original, não sei dizer até onde o(a) autor(a) alterou a história ou apenas se inspirou.
Provavelmente tenha sido melhor assim, para não criar expectativas ou fazer comparações com o original.
– se o corpo estivesse sendo puxados
>>> puxado
– Já, agora, ou mato você. – mas logo o soltou
>>> esse “mas” vindo em seguida do ponto/travessão deveria começar com maiúscula
(o mesmo ocorre em outros diálogos)
– talvez com serias consequências
>>> sérias
– com uma mão
>>> melhor evitar essa cacofonia “u mamão”
– estomago
>>> estômago
– levando a boca.
– Fiz uma visita a senhorita
– levou a mão direita a testa
>>> à
– Ele não precisa saber agora, a existência
>>> da / sobre a
– transito
>>> trânsito
– Concluiu que o monstro voltou para dentro dele
>>> voltara
Muito bom.
NOTA: 4