EntreContos

Detox Literário.

O segredo em seus olhos (Fátima Heluany)

Quando botei o pé no primeiro convés da lancha, vi logo que estava pisando em um degrau de outro mundo. A linha d’água acompanhando a linha do horizonte, ribanceiras e barrancos como limites, as águas escondendo sombras, misturavam luzes e disfarçavam canais mais rasos e mais fundos. Nem os mosquitos conseguiam perturbar a rotina de trabalho. Ora passavam como o vento, ora caíam como farinha sobre o rosto. 

Nunca podia fazer sozinha as menores coisas. Perdi antigos tratos que sempre tive com a liberdade. Até as horas que passavam, deixavam de ser minhas. Mas não foi só a intimidade com as coisas que perdi. Perdi também a intimidade comigo mesmo. O mundo deixou de ser todo na mesmíssima linha; avultaram portos e cidades sempre trepadas em barrancos. 

Foi nesse espaço de tempo que tive a maior intimidade com os peixes. Não só. Havia também a maior intimidade que eu tinha com os pensamentos. Um gozo sereno de liberdade. Quase um peixe dentro d’água, uma árvore crescendo da terra úmida, ou um pássaro voando.

E havia o embaixo e o em cima d’água. Os pássaros que voavam em bandos, indicavam o rumo e a qualidade dos peixes em cardume. Peixes-pássaros, pássaros-peixes, tanto mergulhavam como voavam. O miuá caía em flecha dentro d’água pra agarrar o peixe bem no fundo. Levava tempos mergulhado, depois boiava como se fosse um peixe e voava como se fosse um pássaro. No céu, voando, ninguém dizia que podia nadar e vencer as correntezas. Boiando n’água, feito ariranha, ninguém dizia que também podia voar e vencer qualquer vento. Nadava como pássaro e voava como peixe.

 

Eu fazia parte de uma equipe do INPA, num comboio de balsas e lanchas, mapeando vegetação e bacia hidrográfica. Uma natureza totalmente distinta da que existia onde cresci, mas no fim das contas árvore é árvore, flor é flor, pássaro é pássaro, vento é vento. 

Depois que parte do grupo recebeu chamado para socorrer umas máquinas que estavam ameaçadas pela enchente grande, ficamos eu, mais três companheiros e um guia no meio do rio, entre o céu e a água, chegando nas fazendas e cidades por pontes e trapiches. 

E, tudo passou a ser marcado por chegadas e saídas, sem paradeiro certo, dependente da maré das águas, das pessoas e até dos objetos. Tentei encontrar os tucanos e papagaios coloridos (muita sorte), as preguiças de três dedos e os porcos selvagens (um pouco de sorte), o lendário boto-cor-de-rosa (sem sorte, talvez) e conheci alguns ribeirinhos.

Quando eu já tinha perdido os caminhos das muitas voltas, que já estava me acostumando com a vida assim mais agreste, foi que eu me compreendi. Estava me aproximando sem saber, do meu caminho.

 

O momento se deu numa ferra de gado, que era também uma festa de bebidas e comilanças, tudo à vontade. Vinha gente de fazendas de muito longe para comer de graça e beber até cair no chão. E quem ficasse porre, podia escolher um lugar para curtir a ressaca… 

Seu Délio abria todas as comportas. Além da ferra de gado, fazia matança e convidava patrícios de longe e fazendeiros para conhecerem seus cavalos. Nessas ocasiões, ele gostava de se gabar das machices dos filhos nas artes da fazenda. Apesar de entrado em anos, ainda arrotava uma valentia fora de qualquer propósito. Falava por ele e pelos quatro filhos: todos eles de boa estatura e se gabavam de fazer qualquer serviço de homem, homem macho.  O fazendeiro fazia dos filhos a maior propaganda da raça. 

 

A fazenda do velho ficava na beira do rio e o barco do projeto passava por ali justo nesses dias. A ferra ainda não tinha terminado quando entrei no curral e vi o homem, mais lindo que já conheci, pulando sem corda bem no meio da garrotada. Fiquei pensando que ele estava por demais doido e que ia ser pisado por aqueles garrotes acuados. Eram os mais taludos e os mais brabos que ficavam sempre pelo fim da ferra. 

O rapagão foi bem para frente da porteira e deu um grito: 

— Bota pra fora um garrote bem brabo e bem porrudo que eu quero mostrá quem sou. 

Os dois vaqueiros que estavam na porteira, olharam para o patrão trepado na trincheira, que gritou: 

— Solte, solte logo o bicho. 

No primeiro salto, ele se agarrou, atracou as orelhas do bicho e foi carregado no cangote. E rente às tranqueiras e aos moirões do curral, os vaqueiros saltavam de lado para deixar o bicho enfurecido arrastar o peão na lama. 

— Dá nele, bezerro macho! Dá nele: arrasta no chão esse macho de merda! — gritavam das trincheiras, enquanto o garrote saltava com o moço atracado no pescoço. Deu algumas voltas para cansar a fera e, quando encontrou o primeiro chão firme para se aprumar, aplicou o golpe de corpo no bicho, que caiu com ele na lama, em meio da maior algazarra de toda a rapaziada. Caiu por cima, já com o animal todo sojigado pelas orelhas. Aí, trepou no bicho que arfava de raiva. Com a mão esquerda abaixou o pescoço agarrando nas orelhas, e com a direita quebrou o rabo no toco para acabar com a força do bicho. Então gritou: 

— Olha o ferro, seus merdas! Cadê o ferro em brasa? — Limpou a anca com palmadas e quando o bicho levantou, já queimado com a marca de fogo, ainda correu com ele agarrado pelo rabo. Limpando as mãos em desafio, gritou de novo: 

— Joga outro pra fora — nem quis olhar para a turma da porteira nem para o pessoal que o tinha vaiado. Sabia que todos, então, aplaudiam. Tirou a camisa e agitou-a. A tatuagem no peito era chamativa. 

— Quem é ele? — perguntei a alguém do meu lado, que com sorriso cheio de sarcasmo, respondeu:

— É Matia, filho do patrão. Muita areia pro seu caminhãozinho! Eh, eh, eh… Vive na fazenda, só é visto em tempo de ferra e de festa.

— Moto-serristas! — comentou outro, de lado. — A moça sabe o que é moto-serrista? São esses que derrubam as matas com uma máquina na mão feito tinhosos. Esse aí há de sê moto-serrista afamado. Isso aqui é fazenda de gringos. 

— Deus me livre! — exclamei. Sem me ouvir o homem continuou como se falasse para si mesmo:

— Pois só ouço as notícias de tamanhas proezas. Derrubam com a máquina na mão mais de mil árvores: castanheiro, andirobeira, cedro, pequizeiro, mogno, os gigantes da mata. Árvore que leva anos pra grelar e que se gasta dias pra se derrubar com machado. Sozinho, um corta tudo com a máquina. Tudo numa hora, num minuto, olhe que isto é um estrago e uma desnatureza. Acho. Crime contra a vida. Muito pior, mas muito pior mesmo que roubar, que matar, que ser subversivo.

 — Essa família talvez seja inocente em toda essa malvadeza — interveio meu guia. — O senhor tem prova? Essa moça é do INPA e pode levar essa prosa adiante…

 

Não estava ali em serviço, mesmo assim aquela lenga-lenga me incomodou e me fez, naquela hora, perder de vista o tal Matia. 

Quando o anfitrião, já meio chumbado, lançou o desafio para montar potros brabos, eu me senti à vontade, acostumada que era à doma e esquecida. Queria chamar atenção. Mas, ouvi pelos cantos:

— Essa donzela…

— Mulher-paraíba?

Agora era enfrentar. Eu precisava demais da consciência alerta e da coragem reforçada. Cavalo é animal cioso, que conhece covardia pelo pisar do estribo e até pelo simples pegar do laço.

O cavalo já estava laçado, encabrestado, cavando o chão com as patas e soprando o vento pela venta, meio desconfiado. Castanho liso, de crina preta e rabo longo. Tremia todo suado e arrepiado de tanta raiva. Dois vaqueiros na cabeça e dois no rabo sojigando o bicho, foi o único sinal que me deram para montar, sem arreio. 

Agarrei a crina, colei a bunda e atraquei as pernas na barriga, tudo na mesma hora do primeiro salto. O resto era como se o mundo passasse, pelos meus olhos ou pela minha mente em pedaços. Pedaços de céu, de cores, de chão, de matos, de cercas, de gentes, de mim mesma saídos em gritos e lascas. Lascas que voavam das patas, do chão, das cercas, do céu, das gentes, por cima da minha cabeça. E de cores que viravam riscos e listas na minha vista. Só me lembro mesmo do princípio e do fim da carreira em saltos, quando os vaqueiros sojigaram o cavalo de novo para facilitar a minha descida. 

Mas, que enxerguei bem mesmo foi o xadrez-rosa-vermelho-preto da camisa. De todos os homens ali presentes, eu vi naqueles olhos, que ele tinha ficado satisfeito comigo. Eu não queria perder era aquela oportunidade de falar com o moço, mas precisava me lavar e ajeitar.

 

Quando voltei na varanda, carregada no balanceado do corpo e nos trejeitos da fala, descobri o meu desafio a minha frente, ali bem presente. Eu, toda vestida de vermelho, senti que estava fora do meu juízo perfeito. Já tinha montado a cavalo, só pra facilitar a nossa pura conversa, apertar aquelas mãos e chegar mais perto daqueles olhos. 

Nem dançar foi preciso. Somente o encostar do seu braço no meu, já sem aquele arrogo de macho, transmitia uma tremura que nunca havia sentido antes. Tive vontade de ficar apertando aquelas mãos e me esfregando naquele braço. Olhando para ele, senti que aquela luta que começava na varanda da fazenda, ia acabar ali pelos matos ou até quem sabe na rede que eu tinha sempre atada no barco. 

Fomos para o quartel dele, como me pediu. Ao atravessar a entrada da caverna, logo no início da mata, ouvia ainda distintamente o carimbó mudar de ânimo e ritmo, irrompendo na cadência saltitante de uma dança.  A formação se dividia em várias galerias que, encobertas pela escuridão, lembravam o interior de um palacete. O verde de fora emoldurado pelas rochas era a porta de entrada para um mundo perdido.

A cama parecia flutuar sobre o capim; um capim diferente, de folhas mais largas que o comum. Um capim molhado, mas com possibilidade grande para o incêndio. E foi pegando fogo. Nós, nesse fogo grande, a cama flutuava, fugindo às chamas.  Mãos, braços e pernas se amoleceram que eu pensei até que era outra; pois aquele rompante se transformou num abandono de maior desejo e de maior ânsia. 

E não era incêndio mais. Interessante: não havia crepitações, nenhum ruído, o fogo era tão mais que silencioso. E era verde a erva queimada.

Nem bichos em fuga:

— Que é isso, Matia?!! — No chão uma enorme sucuri se esticava ao lado de um labrador sonolento.

— Pô! meus bichos… a bicha é só um filhote. — parecia querer me acalmar — E, chamo Mateu. 

— Eles ficam aqui? — não tinha como não me assustar. Mais tensa.

— Lascou! A cobra via se tinha tamanho para engolir o cão! — Enxotava a cobra e levou o cachorro para o fundo da caverna.

A sós. Se a gente podia fazer um trato só com as mãos e só com os olhos, esse trato foi feito. Mais do que isso, juramento. Os corpos se misturavam com os pensamentos. Um rio inteiro dentro de mim transbordava. Eu sentia então, o gosto da correnteza, ouvia o barulho do remanso, sentia o travo de mato, ardume de cipó-ferro, e um vento solto entrando pelos meus olhos. Por isso que eu lhe digo: esse trato foi feito justamente naquela hora exata:

— Você ficará pra sempre no mato… pra sempre…

E eu fiquei três dias na gruta (com a condição que a sucuri estivesse sempre bem afastada). Presa em seus braços, ao seu porte; as cores verdes borbulhando pelos olhos e o cheiro do agreste exalando do corpo. Talvez eu tenha me deixado dominar pela paixão, encarcerada em cinco milhões quadrados de mitos e mistérios. Às vezes, aproveitando a beleza e a força que vem da água, da terra, do fogo e do vento ou brigando com a parte ruim:

— Como têm essas terras todas? — perguntei.

— Meu povo está aqui desde o Marañón. Para ter escritura, provaram que a terra estava ocupada, com moradia e produção. Eram pastos naturais — Mateu explicou, entre ofendido e intrigado. Eu, sem tato:

— Ah! Não desmataram? Não são grileiros? — Enquanto aguardava a resposta, a selva me pareceu, escura, densa, até primitiva, muito diferente da versão diurna a que vinha me acostumando.

— É isso que você acha? Eu sou é mateiro — saiu balançando a cabeça.

Eu me desculpei mais tarde, com um jeitinho que o obrigou a me perdoar. Já o conhecia um pouco. Sabia que guardava a feição de cada árvore por onde passava. Até o cheiro da mata ele conhecia. Sabia, pelo cheiro, quando a mata era alta ou baixa; quando a terra era firme ou lama. Descobria os caminhos menos adversos; sentia desde muito longe, onde ficava a água. Se o sol entrava nos galhos, ele sentia o cheiro antes da luz bater nos olhos. Se faltasse luz na mata, era capaz de despertar só mesmo pelo cheiro da manhã.

E, também, descobria e reconhecia as coisas e os viventes pelo som. Qualquer som ele ouvia nas distâncias. No silêncio da mata, era capaz de ouvir até o voo de uma borboleta ou a queda no chão de uma folha morta. 

Por isso acreditei. 

As cores verdes me tinha invadido toda a vista. Depois que eu entrei mais na mata, os verdes apagaram até as marcas dos meus passos. Sons, cheiros e cores arretavam os sentimentos, eu sabia que estava sendo conduzida por algum mistério. Mistério não, encanto: gostos e desejos. Por esses cheiros, por esses sons e por essas cores, eu ia me embrenhando para dentro da mata e para dentro de mim mesma. Mais para dentro, muito mais para dentro… Queria derramar a água no rio, o cheiro no vento, a terra na terra. Fazer como a chuva que sempre voltava a dormir com o rio no leito.

 

Mas tive que partir. O barco me esperava. Tinha um contrato. Voltaria assim que pudesse.

 

Poucos meses se passaram, o mundo rodou, e eu tinha como certo que minha vida estava à beira do Amazonas, onde encontrei meu homem para cumprir a nossa sina, para viver sonhos por alguns pedaços, na segurança do meu casulo de algodão:

— Seu Délio, preciso falar com Mateu.

— Num dá! — pausa — Quem? — o fazendeiro balançou o queixo, indicando meu ventre crescido.

— Mateu.

Au vaiêê! Vou chama eles aqui e a senhora escolhe outro. Mateu está morto, desde bebê. Num descuido da mãe foi levado por sucuri.

Sentiu um calafrio, tinha as pernas bambas, o coração disparado, nenhum dos irmãos trazia a tatuagem no peito, os anéis pretos que o atravessavam de um lado ao outro, em forma de sela.

A família escutou minha história e me acolheu. Durante poucos meses tentei encontrar respostas para certas questões cruciais. Eu poderia dizer que, o que aquele homem exerceu sobre mim, foi uma obscura fascinação, como se me desse uma oportunidade para despertar para uma nova vida. 

Encontrei um lugar para me sentir segura. Talvez tenha me perdido um pouco na paixão. Porém já me sentia desperta e viva como havia tempos não ocorria. Sabia aonde estava indo.

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13 comentários em “O segredo em seus olhos (Fátima Heluany)

  1. marcoaureliothom
    27 de junho de 2020

    Olá autor(a)!

    Antes de expor minha opinião acerca da sua obra gostaria de esclarecer qual critério utilizo, que vale para todos.

    Os contos começam com 5 (nota máxima) e de acordo com os critérios abaixo vão perdendo 1 ponto:

    1) Implicarei com a gramática se houver erros gritantes, não vou implicar com vírgulas ou mínimos erros de digitação.

    2) Após uma primeira leitura procuro ver se o conto faz sentido. Se for exageradamente onírico ou surrealista, sem pé nem cabeça, lamento, mas este ponto você não vai levar.

    3) Em seguida me pergunto se o conto foi capaz de despertar alguma emoção, qualquer que seja ela. Mesmo os “reprovados” no critério anterior podem faturar 1 ponto aqui, por ter causado alguma emoção.

    4) Na sequência analisarei o conjunto da obra nos quesitos criatividade, fluidez narrativa, pontos positivos e negativos, etc.

    5) Finalmente o ponto da excepcionalidade, que só darei para aqueles que realmente me surpreenderem.

    Dito isso vamos ao comentário:

    RESUMO: Um conto sobrenatural, de uma pesquisadora que engravida de um rapaz na amazônia e ao voltar para contar o ocorrido descobre que o sujeito havia morrido faz tempo.

    CONSIDERAÇÕES:
    Parabéns por ter contribuído com um conto sobrenatural que não envolveu lendas amazônicas e sim uma relação entre uma viva e um fantasma.
    Foi um conto agradável de ler e com um final inesperado, ficando inclusive, em aberto na minha cabeça, o que daria em um teste de DNA. 🙂
    Independentemente da avaliação, aproveito para parabenizar-lhe pela obra e desejo sucesso na classificação final.

    Boa Sorte!

  2. Daniel Reis
    27 de junho de 2020

    8. O segredo em seus olhos (Migrante)
    Resumo: uma pesquisadora do meio ambiente vai à Amazônia e apaixona-se pelo filho do dono de uma propriedade que interfere no meio ambiente, com criação de gado. Depois de um tórrido romance com ele, descobre-se grávida ao voltar. Depois, com o filho no ventre, volta para contar ao pai da criança, só que descobre que essa pessoa na verdade havia morrido ainda criança, mordido por cobra.
    Comentário: a PREMISSA, ainda que não exatamente única nesse desafio (o “estrangeiro” na Amazônia), soube utilizar o cenário como elemento da história. Como TÉCNICA, empregando um texto entre o “sabrinesco” e o “hot”, o autor criou uma história meio romântica, meio misteriosa, com temperos de sobrenatural, utilizando descrições e diálogos adequadamente desenvolvidos, com a linguagem regional e narrativa enxuta. O EFEITO NO LEITOR que restou ao final foi bom, ainda que a história que vinha por um ritmo tenha se desviado surpreendentemente para outro, do “causo do outro mundo”, no final.

  3. fabiolaterrabaccega
    27 de junho de 2020

    O conto narra a aventura de trabalho e amorosa de uma jovem pesquisadora do INPA.
    Ela chega em uma fazenda, e ao participar de uma festa, conhece e se apaixona pelo filho do fazendeiro.
    Volta a fazenda depois de algum tempo, grávida, e descobre que o rapaz na verdade tinha falecido quando criança, comido por uma sucuri.

    O conto é rico de detalhes, mostrando aspectos da natureza e da cultura da Amazônia.
    Traz misticismo no momento que descreve como animal de estimação do rapaz, uma cobra sucuri.
    Deixa a fantasia e o sobrenatural tomar conta da nossa imaginação quando a moça volta grávida, e descobre que a pessoa com quem ela esteve havia morrido ainda menino.
    Leitura agradável que nos leva ao tempo e local da história!

  4. Regina Ruth Rincon Caires
    25 de junho de 2020

    O segredo em seus olhos (Migrante)

    Resumo:

    Pesquisadora de um Instituto é designada para uma pesquisa em certa área da Amazônia. Por meio de uma festa típica da região, conhece Délio, fazendeiro, e seus filhos. Apaixona-se por um deles, e vive uma tórrida e curta história de amor. Depois de alguns meses, grávida, retorna e descobre que o moço (pai da criança) havia morrido quando criança.

    Comentário:

    Texto que trabalha com o real e com a fantasia. Bem escrito, poético, narrativa com belíssima estrutura. A leitura é fluente e muito prazerosa. Gostei muito da linguagem regionalista, da descrição minuciosa dos costumes.

    Pincei frases lindas em toda a narrativa, há parágrafos que produzem som, ritmo, música:

    “Havia também a maior intimidade que eu tinha com os pensamentos. Um gozo sereno de liberdade. Quase um peixe dentro d’água, uma árvore crescendo da terra úmida, ou um pássaro voando.”

    “Peixes-pássaros, pássaros-peixes, tanto mergulhavam como voavam. O miuá caía em flecha dentro d’água pra agarrar o peixe bem no fundo. Levava tempos mergulhado, depois boiava como se fosse um peixe e voava como se fosse um pássaro. No céu, voando, ninguém dizia que podia nadar e vencer as correntezas. Boiando n’água, feito ariranha, ninguém dizia que também podia voar e vencer qualquer vento. Nadava como pássaro e voava como peixe.”

    “O resto era como se o mundo passasse, pelos meus olhos ou pela minha mente em pedaços. Pedaços de céu, de cores, de chão, de matos, de cercas, de gentes, de mim mesma saídos em gritos e lascas. Lascas que voavam das patas, do chão, das cercas, do céu, das gentes, por cima da minha cabeça. E de cores que viravam riscos e listas na minha vista.”

    “Os corpos se misturavam com os pensamentos. Um rio inteiro dentro de mim transbordava. Eu sentia então, o gosto da correnteza, ouvia o barulho do remanso, sentia o travo de mato, ardume de cipó-ferro, e um vento solto entrando pelos meus olhos.”

    “Sabia que guardava a feição de cada árvore por onde passava. Até o cheiro da mata ele conhecia. Sabia, pelo cheiro, quando a mata era alta ou baixa; quando a terra era firme ou lama. Descobria os caminhos menos adversos; sentia desde muito longe, onde ficava a água. Se o sol entrava nos galhos, ele sentia o cheiro antes da luz bater nos olhos. Se faltasse luz na mata, era capaz de despertar só mesmo pelo cheiro da manhã.”

    “No silêncio da mata, era capaz de ouvir até o voo de uma borboleta ou a queda no chão de uma folha morta.”

    “Por esses cheiros, por esses sons e por essas cores, eu ia me embrenhando para dentro da mata e para dentro de mim mesma. Mais para dentro, muito mais para dentro… Queria derramar a água no rio, o cheiro no vento, a terra na terra. Fazer como a chuva que sempre voltava a dormir com o rio no leito.”

    Acredito que o título seja reflexo dos olhos de Mateu, e o pseudônimo (Migrante) deve ser a condição da personagem que foi para outra região: “Encontrei um lugar para me sentir segura. Talvez tenha me perdido um pouco na paixão. Porém já me sentia desperta e viva como havia tempos não ocorria. Sabia aonde estava indo.”

    Parabéns, Migrante!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

  5. Amanda Gomez
    23 de junho de 2020

    Resumo 📝 pesquisadora visita a amazônia a trabalho e acaba se apaixonando por um homem em um festa. Os dois ficam juntos e ela sente uma conexão muito forte. Mas precisa cumprir com suas obrigações, vai embora e tempos depois quando volta descobre que o homem por quem se apaixonou estava morto a muito tempo. Acaba usando essa experiência para descobrir mais de si mesma.
    Gostei 😁👍 O conto tem uma abordagem convidativa, fiquei curiosa com a personagem e qual seria sua aventura na amazônia. Consegue surpreender ao final, não esperava essa resolução, mesmo que toda a história tem um ar místico proposital, algo que beira a inverossimilhança algumas vezes. Tem uma escrita poética, por vezes imaginei está lendo uma outra língua. Não sei se é o estilo do autor ou foi feito uma pesquisa pra isso.
    Não gostei🙄👎 Embora a escrita tenha seu valor, ela me fez tropeçar bastante durante a história. Eu só entendi que se tratava de uma mulher quando o ‘’moça’’ foi usado. As descrições são muito confusas, ou eu não estava totalmente aberta pra criar essas imagens na minha mente, sobretudo na parte em que o homem doma os animais. Também não entendi essa questão de outras pessoas estarem vendo ele, e no fim dá a entender que era tudo na visão dela. Talvez uma segunda leitura, mas no momento só posso contar com minhas impressões iniciais. O casal não me cativou, talvez por ser bem…estereótipo ou por ser muito rápido e…sei lá, não rolou química.
    O final não nos trás muita bagagem…assim como o começo. Fica um final aberto que particularmente não gosto muito. Bem, me desculpe se estou sendo chata. 🙂
    Destaque📌 “Quando eu já tinha perdido os caminhos das muitas voltas, que já estava me acostumando com a vida assim mais agreste, foi que eu me compreendi. Estava me aproximando sem saber, do meu caminho.”
    Conclusão =🤔 O Conto está bem adequado, eu consegui sentir bem o clima de fazenda, gado, ribeirinhos… algo mais rural, mas bem comum na região. Uma escrita diferente que vai agradar ou desagradar muito facilmente. Depende.
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  6. Tereza Cristina S. Santos
    22 de junho de 2020

    O conto trata de uma funcionária do INPA que foi à festa na fazenda de seu Delio e os quatro filhos, que eram considerados a sua maior propaganda da raça. Ela avistou um homem lindo, Mateu, filho do patrão, pulando sem corda no meio da garotada. Mateu a chamou para seu quartel, a cama flutuava sobre o capim de folhas mais largas com possibilidade de incêndio e foi pegando fogo. Havia um trato, um juramento, os corpos se misturavam com os pensamentos. Ficaram três dias na gruta, mas ela teve que partir, o barco estava esperando e tinha um contrato a cumprir. Depois de alguns meses, ela retorna a fazenda grávida e pede a seu Delio para falar com Mateu, mas o pai diz que ele havia morrido quando era bebê, foi levado pela sucuri, À família de Mateu acolhe a pesquisadora e ela passa a morar na fazenda.
    O texto é bem estruturado, possui início, meio e fim. O texto desperta a curiosidade do leitor.O autor consegue desenvolver as idéias com coerência.O argumento do texto está dentro do tema proposto.

  7. Gustavo Araujo
    21 de junho de 2020

    Resumo: pesquisadora do INPA apaixona-se por homem misterioso, um tal Matia (depois Mateu) que alguns dizem ser responsável por desmate e grilagem. Ao se envolver com ele, convence-se de que não é nada disso, que ele é só um mateiro. Ela se vai e quando volta, agora grávida, fica sabendo que Mateu morrera quando criança, por causa de uma sucuri, e que não há ninguém com as características dele ali por perto.

    Impressões: confesso que fiquei meio dividido com este conto. Está muito bem escrito e possui passagens realmente inspiradas, principalmente no início, com essa mescla de consciência entre a protagonista-narradora e a floresta. Não curti, porém (pura questão pessoal), o momento sabrinesco entre ela e Matia. No entanto, o fôlego se recupera quando ela retorna à fazenda e descobre que seu amado (ou alguém que tinha o nome dele) morreu ainda menino. Apesar do clima meio “incrível-fantástico-extraordinário”, dá para levantar várias hipóteses aí: o cara era um aproveitador, um amante latino ou talvez um fantasma, já que tinha consigo uma sucuri de estimação. E nesse ponto o conto acerta porque não nos entrega uma resposta de bandeja, deixando essa interpretação em aberto, ao sabor do leitor. Enfim, um conto que mexeu comigo em perspectivas diferentes, mas que no fim possui saldo positivo. Desejo ao autor boa sorte no desafio.

  8. pedropaulosd
    18 de junho de 2020

    REUSMO: Funcionária do INPA se apaixona por um moto-serrista experiente que parece fazer da floresta a sua casa. Depois de sair, retorna para descobrir que o nome por que procura pertence a um falecido e que sua relação pode ter sido principalmente espiritual.

    COMENTÁRIO: O conto tem duas cadências. A primeira, da introdução ao meio do conto, é mais objetiva, com o texto nos apresentando à personagem e a situando como uma estrangeira da floresta. Há dois momentos desconcertantes, um em que a personagem parece feminina, mas depois de um “consigo mesmo” põe isso em dúvida. Fica esclarecido mais tarde, claro. Algo que me incomodou bastante é o seguinte trecho:

    “Eu fazia parte de uma equipe do INPA, num comboio de balsas e lanchas, mapeando vegetação e bacia hidrográfica. Uma natureza totalmente distinta da que existia onde cresci, mas no fim das contas árvore é árvore, flor é flor, pássaro é pássaro, vento é vento. “

    Há uma contradição que quebra a verossimilhança da personagem. No final do parágrafo ela diz que a natureza é distinta daquela de onde veio, mas em seguida faz uma anáfora para justamente negar o que acabou dizer, no sentido que “tudo é a mesma coisa”. Mas o que realmente me incomodou é que se a personagem é funcionária de um Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia, deveria saber, no mínimo, que a biodiversidade contraria as afirmações que encerram o parágrafo, ainda que constitua a sua visão de mundo, talvez de não levar a sério o próprio trabalho. Enfim, o erro técnico acima e essa falha de verossimilhança enfraqueceram a introdução.

    Entretanto, com a súbita mudança de tom com a chegada de Mateu (ou Matias?), a escrita se torna mais elaborada e poética – por vezes simplesmente confusa. O fantástico é evocado pelo metafórico e a relação entre as duas personagens explica a sua surrealidade pela natureza mágica que assume. Não só a relação como o próprio Mateu. O desfecho surpreende tanto quanto essa virada, mostrando que a personagem não só pisou em terras novas como se aventurou em terras místicas. Apesar disso, achei que a personagem em si careceu de desenvolvimento e não pareceu ser muito mais do que ocorre a ela, o que enfraquece um pouco o conto.

    Boa sorte.

  9. Fabio D'Oliveira
    18 de junho de 2020

    Resumo: Pesquisadora do INPA vive um romance fantasmagórico na fazenda do Délio. No final, é acolhida pela família do morto, mas está mergulhada no mistério que viveu.

    Olá, Migrante!

    Um sabrinesco fantasmagórico, haha, conseguiu me surpreender, não esperava por isso.

    Você tem um dicionário muito rico, sabe construir frases bonitas e tem certa veia artística. Alguns problemas técnicos, como o Anderson soube exemplificar com louvor, mas isso se ajeita com a prática! Talvez, se você tentasse ser um pouco mais simples, esses problemas poderiam ser reduzidos. Sua narrativa é charmosa e chamativa, meio densa, e isso exige um trabalho extra que talvez te prejudique.

    Apesar da surpresa do enredo, fiquei com a pulga atrás da orelha. Seria uma incoerência dá tanta forma para Matia, incluindo pessoas comunicando-se com ele e falando sobre ele, para depois matá-lo? Se houvesse mais espaço para desenvolvimento, poderia explicar isso, mas como não houve, pareceu-me uma ponta solta. Você quis surpreender, mas não teve um preparo no enredo para isso. O ideal seria deixar pistas despercebidas no decorrer do conto, como se ninguém o notasse de verdade, para depois revelar a verdade. A gravidez daria um tom onírico e misterioso.

    Outra coisa que me incomodou foi o relacionamento estereotipado deles. Ele, cabra macho, poderoso, sedutor, encantador. Ela, bela feminina, com convicções morais belas, poderosa do jeito feminino, elegante. A forma como ele domina ela, como dialogam, sem muitos entraves, sem conflitos, é muito banal, sabe? É o tipo de relacionamento que encontramos aos montes na literatura sabrinesca ou hot. Foi cansativo acompanhar esse romance. Não teve brilho. Não teve emoção. O ponto alto do conto foi a revelação final, na realidade. O restante, foi, de fato, entediante. Não pelo romance, amo romances, mas sim pela falta de desenvoltura na criação de personagens realmente carismáticos. E você tem potencial para isso, basta ver sua narrativa, sua forma de criar parágrafos. Você é habilidoso. Só tem que ousar e criar. Sair da zona comum.

    O conto está impregnado pelo clima amazônico. Muitos confundem achando que o tema precisa ser o foco central, mas ele estando bem encaixado no ambiente, tendo esse clima que você criou, já está bom. Está de parabéns pelo conto! Tem muito potencial, de verdade.

    Muita felicidade para ti!

  10. angst447
    16 de junho de 2020

    RESUMO:
    Funcionária do INPA chega à fazenda do velho Délio, na beira do rio, e se encanta pelo jovem Mateu, passa com ele três dias no meio da mata, mas tem que voltar ao trabalho. Parte no mesmo barco que veio e meses depois reaparece procurando pelo moço. Quando diz que o filho que espera é de Mateu, revelam que isso é impossível, pois o suposto pai foi levado por uma sucuri ainda criança.
    AVALIAÇÃO:
    * T – Título: Poético, lembrou-me de um filme hispano-argentino “O segredos dos seus olhos”, com Ricardo Darin.
    * A – Adequação ao Tema: Apesar do tema ter ficado mais como pano de fundo, considero que o conto tenha cumprido o exigido pelo desafio.
    * F – Falhas de revisão:
    Poucas falhas, diria que foram mais lapsos por distração. Já foram apontadas com detalhe pelo colega Anderson.
    * O – Observações:
    Narrado em primeira pessoa, o conto inicia-se em tom intimista, como se a narradora mergulhasse em suas próprias memórias numa viagem de autoconhecimento. O ritmo é mais lento, mas a leitura não sofre entravamento. Há uma mudança de perspectiva do que se vislumbrava no início para um final que mergulha no mistério/fantástico. A prosa poética domina o texto, dando-lhe leveza.
    * G – Gerador (ou não) de impacto: O final me surpreendeu. Não a gravidez da moça, pois isso eu já adivinhei logo, mas sim o pai ser um desaparecido/morto (quem sabe criado pelas sucuris???).
    * O – Outros Pontos a Considerar: Um ponto que não entendi direito e por isso, talvez seja preciso retomar a leitura para encontrar possíveis pistas nas entrelinhas. O jovem que ela viu domando o garrote era chamado por todos de Matia (Matias?), e apontado como moto-serrista. Já quando estão na caverna, ele se diz se chamar Mateu (Mateus) e ser mateiro. A mesma pessoa? Vou reler outra vez…
    Parabéns pela sua participação!

  11. Anderson Do Prado Silva
    13 de junho de 2020

    Entre Contos – Avaliação – O segredo em seus olhos

    Resumo (curto, porque prefiro me estender na crítica): Fiscal do meio ambiente visita a Amazônia, apaixona-se por um nativo, engravida e, depois de algum tempo, volta para a Amazônia para estabelecer-se em caráter definitivo.

    Título:
    ( x ) surpreende
    ( ) não surpreende

    O título se adequa ao texto e, dentro de um desafio que tem como tema a Amazônia, foge de obviedades.

    Abertura:

    ( x ) surpreende
    ( ) não surpreende

    O texto é bem escrito desde o primeiro parágrafo, residindo nisso a surpresa e o despertar do interesse do leitor.

    Desenvolvimento (fluidez narrativa):

    ( x ) texto fluido
    ( ) poderia ser melhor

    O texto, por bem escrito e com um bom enredo, flui bem. Apenas em alguns momentos, a forte carga poética impõe alguns freios na narrativa. No entanto, a poesia não deve ser trocada pela fluidez, eis que um dos grandes méritos do texto é, justamente, a poesia.

    Encerramento:

    ( x ) surpreende
    ( ) não surpreende

    O texto, que vinha prezando pelo realismo, sobre uma abrupta guinada para o fantástico no encerramento.

    Gramática:

    ( ) não identifiquei erros dignos de nota
    ( x ) possíveis erros gramaticais

    No segundo parágrafo, hora o narrador é masculino, ora é feminino: “Nunca podia fazer [sozinha] as menores coisas. Perdi antigos tratos que sempre tive com a liberdade. Até as horas que passavam, deixavam de ser minhas. Mas não foi só a intimidade com as coisas que perdi. Perdi também a intimidade comigo [mesmo]. O mundo deixou de ser todo na mesmíssima linha; avultaram portos e cidades sempre trepadas em barrancos.” Tome cuidado com “mesmo/mesma”, que varia em gênero a depender de ser advérbio ou adjetivo.

    O predicado está separado por vírgula do sujeito nestas frases:

    “Os pássaros que voavam em bandos[,] indicavam o rumo e a qualidade dos peixes em cardume.” Alternativamente, seria possível inserir uma vírgula aqui: “Os pássaros[,] que voavam em bandos, indicavam o rumo e a qualidade dos peixes em cardume.” No entanto, a depender da escolha (subtrair uma vírgula ou inserir uma vírgula), o sentido da frase muda um pouco, tornando, inclusive, o texto mais ou menos fluido.

    “Os dois vaqueiros que estavam na porteira[,] olharam para o patrão trepado na trincheira”. Alternativamente, seria possível inserir uma vírgula aqui: “Os dois vaqueiros[,] que estavam na porteira, olharam para o patrão trepado na trincheira”. No entanto, a depender da escolha (subtrair uma vírgula ou inserir uma vírgula), o sentido da frase muda um pouco, tornando, inclusive, o texto mais ou menos fluido.

    “Eu sentia então[,] o gosto da correnteza”. Alternativamente, seria possível inserir uma vírgula aqui: “Eu sentia[,] então, o gosto da correnteza”. As duas construções estariam corretas, embora seja preferível a segunda.

    O substantivo “condição” rege a preposição “de”: “com a condição [de] que a sucuri estivesse sempre bem afastada”

    Inserir vírgulas: “Sem me ouvir[,] o homem continuou como se falasse para si mesmo”.
    “ia acabar ali pelos matos ou até[,] quem sabe[,] na rede que eu tinha sempre atada no barco”
    “sentia[,] desde muito longe, onde ficava a água”

    Remover vírgulas:
    “a selva me pareceu[,] escura”

    Evite o uso de uma mesma palavra em locais próximos: “Até o [cheiro] da mata ele conhecia. Sabia, pelo [cheiro], quando a mata era alta ou baixa”. Por exemplo: [Até o cheiro da mata ele conhecia. Era o olfato que lhe dizia se a mata era alta ou baixa]. E a palavra cheiro retorna outras duas vezes no mesmo parágrafo: “Se o sol entrava nos galhos, ele sentia o [cheiro] antes da luz bater nos olhos. Se faltasse luz na mata, era capaz de despertar só mesmo pelo [cheiro] da manhã.

    Verbo na terceira pessoa do singular, quando o correto seria terceira pessoa do plural: “As cores verdes me [tinha] invadido toda a vista”

    Enredo:

    ( x ) surpreende MUITO
    ( ) não surpreende

    Talvez em razão dos limites impostos pelo gênero literário conto, a transição entre o “roçar de braço” e o “flutuar na cama” seja muito abrupta.

    Outra passagem inverossímil surge na atribuição de qualidades ao mateiro: “capaz de ouvir até o voo de uma borboleta ou a queda no chão de uma folha morta”. Era possível à protagonista-narradora se convencer da condição de mateiro sem tais exageros. O texto é realista e, não, fantástico, motivo pelo qual esses exageros não soaram bem.

    (As duas observações acimas foram escritas DURANTE a leitura. Bem, o fim do texto descambou para o fantástico, tornando as duas afirmações imprestáveis. No entanto, vou deixá-las a título de curiosidade para o autor. Espero que goste desse presente de grego. Sabe quando dizem “não julgue um livro pela capa”? Taí! Tive até que voltar ali em cima e mudar de “não surpreende” para “surpreende” e acrescentei um “muito”. Para provar que surpreende, deixo registradas minhas duas inúteis observações acima.)

    Linguagem:

    ( x ) surpreende
    ( ) não surpreende

    O autor pratica excelente prosa-poética.

    Estrutura:

    ( ) surpreende
    ( x ) não surpreende

    Não há subversões ou inovações em termos estruturais. É um texto com o clássico início, meio e fim.

    Estilo:

    ( x ) surpreende
    ( ) não surpreende

    A prosa-poética parece ser a marca do autor.

    Excertos dignos de nota:

    ( x ) sim
    ( ) não

    Não vou transcrever, porque são muitos. O texto inteiro é muito bem escrito.

    Inteligência:

    ( x ) desafia a inteligência do leitor
    ( ) não desafia a inteligência do leitor

    O texto obriga a refletir sobre a natureza do mal: seria um homem xucro, nascido no contexto rural, recriminável por sua ações devastadoras do meio ambiente?

    Criatividade:
    ( x ) surpreende
    ( ) não surpreende

    O autor opta por ambientar um romance rural na Amazônia.

    Abordagem do tema amazônico:
    ( ) aborda
    ( x ) tangencia:
    ( ) não aborda e, portanto, deve ser eliminado

    O romance rural poderia ser ambientado em qualquer lugar do Brasil. Ocasionalmente, o autor o ambientou na Amazônia.

    Avaliação final: O autor possui bom domínio da língua e aquilatada veia poética, portanto qualquer texto que vier a escrever será bom. O texto precisava ser entregue a um revisor. Sobre o enredo, eu preferiria (gosto pessoal, subjetivo), que tivesse permanecido no campo do realismo, sobretudo porque o autor escreveu diálogos extremamente verossímeis, além de ter descrito com perfeição aspectos da vida rural – nesse contexto, o final fantástico empobreceu o texto (consideraria repensar o final). Parabéns pelo texto! Você está de parabéns! É dos melhores que li neste desafio!

    Anderson do Prado Silva

  12. antoniosbatista
    12 de junho de 2020

    Resumo= Uma funcionária do Instituto de Pesquisas da Amazônia, visitando uma fazenda, num dia de festa, se apaixona por um dos filhos do proprietário, chamado Mateu. Naquela noite eles dormem numa caverna e na manhã seguinte ela volta para o barco e ao trabalho. Alguns meses depois, grávida, retorna a fazenda em busca de Mateu e descobre que ele tinha morrido ainda pequeno.

    Comentário= O conto tem um bom argumento, explorando uma das lendas fantásticas da Amazônia. A narração seria perfeita se não fosse a repetição de algumas palavras muito juntas uma das outras no início. Gostei das frases elaboradas, dando um toque poético e forte às ações e ambientes. Achei uma boa história, mas me pareceu que alguns pontos ficaram obscuros, indefiníveis. Tudo leva a crer que a jovem teve relações com o boto cor-de-rosa, que se transforma num homem bonito, em noites de festas e não com Mateu, que havia morrido quando criança. Ou talvez tenha sido um dos peões da fazenda. Achei estranho que a parte das motosserras derrubando a floresta, iniciou e parou no mesmo ponto, isto é, não deu continuidade, dando destaque aos sentimentos da moça. A parte da sucuri na caverna,em referência ao caso do menino morto pela cobra, me pareceu desnecessária. Em todo caso, porém, todavia, achei uma bom conto e uma excelente escrita. Boa sorte Migrante.

  13. Emanuel Maurin
    11 de junho de 2020

    Olá Migrante, tudo de bom.
    Resumo:
    Uma mulher pisa num barco de pesquisa para trabalhar inspecionando a floresta e numa dessas explorações encontra uma fazenda na qual tem uma grande festa. Lá conhece o anfitrião que tem alguns filhos fortes e corajosos, e se apaixona por um suposto filho do fazendeiro, que a leva numa caverna. Lá namoram e ela fica prenha, depois ela volta ao trabalho. Passaram-se alguns meses e ela volta a fazenda e pergunta ao anfitrião sobre o filho dele, o Mateu, e o homem lhe diz que ele foi levado por uma sucuri quando criança. O fazendeiro ouviu a história da pesquisadora e a deixou ficar por ali.
    O autor sabe descrever detalhado sem se tornar cansativo, a trama é legal e o final surpreende. A personagem principal tem uma personalidade forte e é cheia de atitude. Eita! Essa mulher é mesmo Paraíba. Dá pra fazer um filme desse conto.
    Boa sorte!

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Publicado às 7 de junho de 2020 por em Amazônia, Amazônia - Grupo 1 e marcado .
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