EntreContos

Detox Literário.

O destino de Acaé (Jorge Santos)

No ruído ténue da noite, enquanto o barulho da cidade se mistura com os uivos do cio dos vizinhos, olho desesperado para o monitor do computador à procura de inspiração. Acendo mais um cigarro, prometendo a mim próprio ser o último. No cinzeiro que trouxe de Roma repousam as cinzas das minhas últimas três promessas. Agora que o prazo de entrega se aproxima, cruel e irredutível como a noite que engole o dia, sinto que falharei também essa promessa. O trabalho não é mais do que um cigarro diferente, que nos consome a vida. 

Fecho os olhos como se a resposta se escondesse no escuro. Deixo que a minha mente me leve para outras viagens. Regresso por instantes ao Nepal. Estou no meio de monges budistas. É a minha primeira viagem com Ela. A primeira de muitas. 

Um ruído desperta-me do meu transe. Estou sozinho na sala. Ela dorme o sono das justas. Levanto-me. Vou à cozinha buscar uma cerveja. É então que o vejo, na penumbra. O índio está nu, armado com uma lança. Um homem normal ficaria com receio, talvez pegasse numa arma e resolvesse ali a questão. Mas eu era um escritor. Mesmo sem inspiração, seria sempre escritor. 

O índio apontou para o computador. Esperava ouvir algumas palavras de inspiração indígena, talvez num dialeto impenetrável. Mas não. Quando ele falou foi em português correto e disse: “Tem o antivírus desatualizado”.  

“Eu sei”, respondi, enquanto tentava digerir o surrealismo da cena. Estaria a dormir?

“Quer uma cerveja?”, pergunto. 

Ele abanou a cabeça.

“Os espíritos não bebem. E quando era vivo, também não bebia. Foi a última lição que o meu pai me ensinou.”, disse ele.

“E o que faz o espírito de um índio na minha sala, se me permite a pergunta? Tenho de entregar um texto, estou sem inspiração.”

Olhou em volta. Aproximou-se. Estava descalço, semi-nu, com uma folha a tapar-lhe o sexo, o corpo coberto de pinturas brancas. Era translúcido. Através dele via a parede da sala. 

“Posso contar-lhe a minha história. Pode ser que sirva de inspiração. Quando morremos não perdemos apenas a vida. As nossas histórias desaparecem como a neblina da manhã. É nesse momento que a nossa existência realmente termina. A vida não é mais do que uma passagem efémera entre dois nadas. Primeiro só existimos na vontade de duas pessoas, depois já não somos nada.”

Eu sento-me. O espírito do índio tinha o dom da palavra e a sua voz transmitia a serenidade de um Yoda.  

“Sou todo ouvidos”, disse eu, puxando uma cadeira para o meio da sala. 

“O meu nome é Acaé. Deram-me o nome de uma ave para que o meu espírito fosse livre e, durante algum tempo, foi livre. Vivia numa tribo, no meio da floresta. O meu avô era o tuxaua, ou cacique. Era um homem de grande sabedoria, que gostava de contar as histórias dos seus avós e dos avós dos seus avós. Todos tinham vivido ali. Há muito que sabiam do homem branco e das suas incursões na floresta, mas pensavam estar num local demasiado remoto para que eles chegassem. Mas chegaram, já no tempo do meu avô. A muito custo ele conseguiu negociar com eles. Deu-se especialmente bem com o chefe, Santiago. Tornaram-se amigos. Santiago foi convidado de honra na festa que o meu avô organizou para comemorar o meu nascimento. Passados alguns anos, Santiago faleceu, vítima de malária. Para o meu avô, esse foi um dia terrível. Ficou de luto como se tivesse morrido um familiar chegado. O seu substituto começou a pressionar o nosso povo, invadindo o nosso território de caça e impondo restrições ao nosso acesso ao rio. Por  fim, disseram que tínhamos de abandonar as nossas terras, que tinham deixado de ser nossas. O meu avô ofereceu resistência. O seu corpo foi encontrado na berma da estrada, cravejado de balas. Eu era muito pequeno na altura, mas lembro-me de quando o meu pai e mais dois homens entraram na aldeia transportando o seu cadáver. O meu pai era agora o chefe da aldeia, mas a morte do meu avô transtornara-o. Eu diria que o meu pai morreu várias vezes. Essa foi a primeira. A segunda foi quando saímos da aldeia, escoltados pelo exército, e viemos para a cidade mais próxima. Quando o meu pai se viu entre quatro paredes, morreu uma segunda vez e abandonou-se ao vício da bebida. A minha mãe tornou-se a pedra que sustentava a casa. Trabalhava onde podia, fazendo limpeza e cozinhando. Praticamente sozinha sustentava a casa e os seus três filhos. A tribo dispersara-se, indo cada um para seu canto. Dois anos depois o meu pai adoeceu gravemente e morreu de vez. Com ele aprendi o preço do vício. Prometi a mim mesmo que não tocaria no álcool nem nas drogas. Na altura eu já estava na escola. Era bom aluno. Com o pouco que tinha conseguia fazer melhor do que os outros, mas o meu desejo era abandonar os estudos. A minha mãe não permitia. «Tu serás alguém, meu filho. Tens de proteger o nosso povo»,  disse-me ela, vezes sem conta. Mesmo quando faltava de tudo lá em casa, a escola era o mais importante.”

Acaé parou. No exterior ouviu-se o ruído de uma ambulância a passar na rua,   o riso de duas pessoas, o choro de uma criança e, finalmente, o silêncio e a paz. Só depois continuou o seu relato. 

“Tinha dezoito anos quando conheci o amor. Yara tinha sangue indígena, como eu, os olhos negros da noite, a pele castanha da cor da terra, a voz suave como o vento e o sorriso brilhante como o sol.  Conseguia ler através de mim como nunca ninguém conseguiu, nem sequer a minha mãe. Não tínhamos segredos um para outro. Ela sabia que o meu destino ia ser difícil, mas nunca me abandonou. Eu tinha 19 anos quando terminei o ensino secundário. Quis deixar de estudar para ajudar a minha mãe. Os meus irmão já tinham saído de casa. Um já tinha família. A minha mãe continuava com a mesma opinião. Eu tinha de ir para a universidade, seguir os estudos. Venderia o pouco que tinha, trabalharia a dobrar, se fosse necessário. Eu também trabalharia a tempo parcial. Algumas pessoas ofereceram ajuda. Houve até um desconhecido que se ofereceu para pagar a universidade. Veio do nada. Apareceu lá em casa a dizer que tinha ouvido falar de nós. Durante anos cumpriu o que prometera. Tornou-se um dos meus maiores amigos. Eu formei-me em advocacia. Poderia ter ido trabalhar para uma boa firma de advogados, mas preferi regressar à cidade onde vivia a minha mãe e começar  minha luta. Se dependesse de mim, mais ninguém seria obrigado a sair das suas terras.”

Acaé pára o seu relato. Ouve-se um ruído. Ela abre a porta do quarto. Atravessa a sala numa provocante camisa-de-dormir. Passa por Acaé, sendo-lhe indiferente a presença de um índio na nossa sala. 

“Vem para a cama, amor”, implora ela ao meu ouvido. Tempos houve em que, com índio ou sem índio na minha sala, ter-me-ia levantado da cadeira como se tivesse uma mola e segui-la-ia como um cão atrás da dona. 

“Já vou, amor.”

“Porque é que estás sentado no meio da sala?”

“Estou à procura de inspiração…”

Ela beija-me. 

“Eu também. Não demores…”

Ela vai para a cozinha, ouço-a a deitar água num copo e a beber. Depois passa por mim aos saltos de uma infantilidade fingida que me deixa completamente doido, e regressa ao quarto. 

“É a minha mulher”, comento eu a Acaé. 

“Um tesouro. Tal como Yara. Elas não se limitam a passar pelas nossas vidas. Tornam-se as nossas vidas e o homem só é realmente pobre quando deixa de lhes dar valor. Tem filhos?”

“Deus não quis”, digo eu, com alguma amargura.

“A Natureza por vezes parece-nos ingrata e cruel, mas se estivermos atentos vemos que nos dá sem algo em troca. Deu-me dois filhos lindos, Amana e Yasaí. Duas crianças lindas que herdaram do bisavô a coragem. Eles e Yara deram-me a força para lutar pelo meu povo, de proteger a floresta que era nossa. Só se consegue lutar contra a lei usando as leis, e foi isso que fiz. Aos poucos a minha luta foi conhecida. Enveredei pela política quando vi que isso favorecia a minha luta. Subi muito alto mas, como aconteceu com o longínquo Ícaro, caí. Nada é mais incómodo do que um político íntegro, que luta por uma causa. Ganhei inimigos poderosos e um dia aconteceu: três homens, assassinos a soldo, crivaram o meu corpo de balas. Senti o preciso momento em que o meu espírito abandonou o meu corpo. Vi-os de longe. Senti-lhes o fedor intenso do seu ódio e o riso de escárnio. Abandonaram-me na berma da estrada, tal como tinha acontecido com o meu avô. Nesse dia acabaram os meus dias.”

O tempo parou. Senti-me minúsculo.

“Uma história triste, Acaé. ”

O índio olhou para mim. Tinha no olhar uma súplica que não consegui descodificar. 

“Seja a minha voz”, foi a última coisa que ele disse antes de desaparecer. Eu fiquei sozinho na sala, a fitar o vazio. Aproximei-me do computador onde a página vazia do editor de texto esperava por mim. Mas primeiro fiz uma pesquisa na Internet. Não encontrei nenhuma referência a Acaé. Advogado, político e defensor da causa do povo indígena. Depois de algum tempo a pesquisar,  encontrei uma notícia referente ao avô dele. Olhei para a data. Abanei a cabeça.

Não podia ser. 

* * *

Parei o carro à porta da casa de aspeto decrépito. Estava cansado, depois de quase dois dias de viagem por caminhos que só a mente mais criativa catalogaria como estrada. Duas crianças brincavam na rua. A pele escura e o cabelo negro não escondiam o seu sangue indígena. Bati à porta. Atendeu uma mulher baixa, dos seus quarenta e poucos anos. Parecia um misto de mulher-criança, com o cansaço visível no rosto.

Por trás dela estava o índio que tinha visto na minha sala. Aparentava não ter mais de dezoito anos, vestia uns calções desportivos e uma camisola da seleção brasileira. No seu olhar vi a firmeza de um guerreiro. Estava de mão dada com uma jovem de uma beleza simples. 

“Acaé?”, perguntei. 

“Sou eu.”

Acaé não pareceu minimamente intrigado com a minha presença ali – na verdade, esperava por mim. O espírito do avô aparecera-lhe num sonho e dissera-lhe que um homem branco viria de longe para o ajudar. A nossa amizade duraria para sempre. Eu e Ela seriamos os padrinhos do seu filho, Yasaí. Nunca revelei a visão que tivera. Para quem luta pelos outros é irrelevante saber o seu destino.

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13 comentários em “O destino de Acaé (Jorge Santos)

  1. marcoaureliothom
    27 de junho de 2020

    Olá autor(a)!

    Antes de expor minha opinião acerca da sua obra gostaria de esclarecer qual critério utilizo, que vale para todos.

    Os contos começam com 5 (nota máxima) e de acordo com os critérios abaixo vão perdendo 1 ponto:

    1) Implicarei com a gramática se houver erros gritantes, não vou implicar com vírgulas ou mínimos erros de digitação.

    2) Após uma primeira leitura procuro ver se o conto faz sentido. Se for exageradamente onírico ou surrealista, sem pé nem cabeça, lamento, mas este ponto você não vai levar.

    3) Em seguida me pergunto se o conto foi capaz de despertar alguma emoção, qualquer que seja ela. Mesmo os “reprovados” no critério anterior podem faturar 1 ponto aqui, por ter causado alguma emoção.

    4) Na sequência analisarei o conjunto da obra nos quesitos criatividade, fluidez narrativa, pontos positivos e negativos, etc.

    5) Finalmente o ponto da excepcionalidade, que só darei para aqueles que realmente me surpreenderem.

    Dito isso vamos ao comentário:

    RESUMO:
    O autor, carente de criatividade, usa do estratagema de o personagem, carente de criatividade, encontrar o mote que o levasse a criar a narração.
    No caso em questão, um índio volta do futuro e conta a história que não aconteceu.

    CONSIDERAÇÕES:
    A estratégia do personagem em crise de tanto que já foi usada, pelo menos para mim, não agrada mais. A ideia do índio vir do futuro narras fatos que ainda não ocorreram é o que salva o conto, pois foge ao lugar comum da maioria.
    Por outro lado, uma vez que se trata de acontecimento futuro, não dá para saber ao certo se de fato acontecerá, algo que não pode ser afirmado apenas pela existência do índio menino, supostamente o índio narrador.
    Independentemente da avaliação, aproveito para parabenizar-lhe pela obra e desejo sucesso na classificação final.

    Boa Sorte!

  2. Daniel Reis
    27 de junho de 2020

    10. O destino de Acaé (Acaé)
    Resumo: escritor carente de inspiração recebe a visita sobrenatural de um índio, que narra sua história, até ser morto como consequência da invasão dos brancos. Ao buscar informações, descobre que isso ainda não aconteceu e que o índio é ainda um menino.
    Comentário: a partir da PREMISSA um tanto batida do escritor em crise, o autor utiliza a visita do outro mundo para criar uma narrativa ambientada na Amazônia. Já a TÉCNICA, ainda que simples, conduz a história até o ponto de inflexão, que é a grande surpresa, o fato de que a história em questão ainda pode ser mudada pelas ações do protagonista. O EFEITO NO LEITOR, se não de surpresa total, é otimista e satisfatória. Boa sorte, e parabéns!

  3. Gabriela
    27 de junho de 2020

    Um escritor está em frente ao seu computador tentando escrever algo; porém divaga e não tem inspiração.
    Ao sair do local, se depara na sala, com a figura de um índio. Percebe ser um espírito. Os dois então conversam e o índio conta sua história:

    O início do conto me despertou curiosidade. Achei criativo o autor ter inserido o tema de forma indireta. A Amazônia foi colocada na história do índio que sofre com a chegada do branco. O vício da bebida que é comum nos indígenas que saem da floresta e socializam com o branco, foi colocado como pano de fundo, porém com a devida importância:
    Gostei especialmente do parágrafo em que o índio fala sobre a morte.
    O final gerou a continuidade do conto, para mim: o autor sabe tudo o que vai acontecer na vida de Acaé?

  4. Amanda Gomez
    26 de junho de 2020

    Resumo 📝 A história de um escritor que sem inspiração acaba recebendo uma visita inesperada de um espirito de um índio em sua casa. Este, conta-lhe sua história. Ao final o escritor descobre que a história é real. Busca Acaé ainda jovem e se faz cumprir o destino selado pelo avó de Acaé.

    Gostei 😁👍 A escrita do conto é boa e transcorre sem entraves, gostei do plot no final, fiquei me perguntando onde aquela história me levaria e fui surpreendida positivamente.

    Não gostei🙄👎 Acho que o texto tem pouca conexão, ele é contado sem se preocupar muito com a verossimilhança. O comportamento do escritor é muito aquém do esperado. Acho que foi uma estratégia para nos polpar de algum clichês, mas por esse motivo a história contada assim como as reações que deveriam existe depois dela são…vazias… o texto a partir do momento que o índio começou a contar a historia ficou automática…apática. Tanto que eu fui despertada da ”leitura automática” com a ” surpresa” ao final.

    Destaque📌 “O índio olhou para mim. Tinha no olhar uma súplica que não consegui descodificar.

    “Seja a minha voz”

    Conclusão = Um texto que executa tecnicamente bem uma ideia, mas sem muita emoção, personagem apático e história um pouco mais alongada do que o necessário.

  5. Regina Ruth Rincon Caires
    25 de junho de 2020

    O destino de Acaé (Acaé)

    Resumo:

    A história de um escritor que, na ânsia de produzir um texto com prazo pré-determinado (desafio do Entrecontos?), não encontra inspiração diante do computador. Quando se levanta para pegar uma cerveja na geladeira, encontra um índio nu na penumbra da casa. O índio quer contar a sua história, o escritor ouve. O índio diz que morreu cravejado de balas, e, quando termina a narrativa, ele desaparece. O escritor pesquisa sobre a história contada pelo índio e descobre um endereço ligado a ele, na Amazônia. Parte para lá, encontra o índio vivo, com a família.

    Comentário:

    Um texto de realidade e fantasia que traz um enredo encantador. É tão bom deixar a imaginação voar para além do palpável. Colega lusitano, a leitura do seu texto foi uma delícia. A linguagem impecável e o cuidado em pesquisar o tema deram muita sustentação para o trabalho. Fiquei encantada!

    A descrição é perfeita, tanto que tive a impressão de estar em outra cadeira, na sala, ouvindo o índio e vendo a impaciência primeira do autor. Gosto de narrativa perspicaz. Há “picância” dissimulada no texto, leve, marota, e isso enriquece aquilo que se deseja contar. É a vida. A brejeirice já aparece no parágrafo inicial. Sensacional!

    Quanto ao título e pseudônimo, pesquisei e vou colar aqui:

    ACAÉ – nome indígena das gralhas, espécie de ave
    Também conhecida como: acaém, japu
    Nome de afluente da margem direita do Paru do Oeste, bacia do rio Trombetas

    Do Tupi Guarani:
    ACA = esporão, chifre;
    É = o que; o esporão, o cornudo, o briguento;

    Do Parikotó (Kanb):
    ACAÊ = cobra.

    Parabéns, Acaé!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

  6. Tereza Cristina S. Santos
    22 de junho de 2020

    O conto inicia com um escritor que vê o espírito de um índio nu armado com a lança na sua sala e oferece uma cerveja, mas ele não aceita. O índio conta ao escritor que o nome dele era Acaé, fala da vida na floresta, a expulsão da tribo pelos homens brancos, a luta pelos direitos do seu povo e seu assassinato. Depois do relato, o índio desapareceu, o escritor procurou por Acaé, mas encontrou o seu neto e ficaram amigos.
    O texto é bem estruturado, possui início, meio e fim.O autor consegue desenvolver as idéias com coerência.O texto desperta a curiosidade do leitor.

  7. Anderson Do Prado Silva
    21 de junho de 2020

    Resumo: Escritor sem inspiração para escrever sobre a Amazônia recebe a visita de um índio, que lhe conta sua própria história e, com isso, influencia a escrita e o futuro do escritor.

    Comentário: O conto tem uma premissa interessante. Ao invés do autor enveredar rapidamente pelos caminhos da maioria dos desafiantes – tratar dos encantos da natureza virgem ou das mazelas do desmatamento ou, ainda, de animais bravios e selvagens ou, por fim, de povos nativos e suas lendas –, o autor decide tratar do ofício de escritor obrigado a escrever sobre tema que não domina (quem sabe, até, se não para participar de um desafio literário do portal EntreContos). Caso o autor possua interesse, leia o conto A Mente Atormentada Produz Assombros (deste mesmo desafio), que obedece à mesma premissa.

    Durante a leitura, sofri um estranhamento: Acaé, que foi incorporado à cultura ocidental, graduou-se e tornou-se advogado, surge na cozinha com a aparência de um índio não incorporado ao ocidente.

    O autor possui bom domínio da língua e das técnicas narrativas.

    O texto não possui erros gramaticais, de digitação ou de revisão que sejam dignos de nota.

  8. Gustavo Araujo
    20 de junho de 2020

    Resumo: escritor em busca de inspiração recebe a visita de uma espécie de fantasma, o índio Acaé, que conta a ele sua história, de como assumiu o lugar do avô e do pai, na busca pelos direitos indígenas, até ser emboscado e morto; no outro dia, o escritor encontra o verdadeiro Acaé, numa versão mais jovem, permitindo ao leitor perceber que na noite anterior ele tivera uma visão do futuro.

    Impressões: é um bom conto porque o autor conseguiu temperar a questão indígena com cenas de sua vida pessoal, com seus próprios conceitos, dando ao texto um toque intimista que, se inexistente, o tornaria próximo do panfletário. De fato, a questão indígena — a luta pelos direitos, as perseguições e os assassinatos por conta dos embates pela terra — são tratadas de modo competente, num contexto um tanto místico, ou melhor, misterioso, já que a visão do índio é uma representação do futuro, algo que ainda está por acontecer e que, dessa forma, pode ser impedido pelo escritor. Torcemos, claro, para que ele tenha sucesso, que consiga avisar Acaé dos perigos que o aguardam, porque nos identificamos com Acaé, queremos que ele vença, queremos que seus direitos sejam respeitados. É exatamente nessa mistura entre o impossível e a realidade crua que reside a força do conto, que o torna literatura para além da indignação simplória. Bem escrito, bem estruturado, dá seu recado sem parecer didático demais. Parabéns ao autor e boa sorte no desafio.

  9. angst447
    19 de junho de 2020

    RESUMO:

    Em uma fase de bloqueio criativo, um escritor tem uma visão ou visita do espírito de um índio. Ele diz que se chama Acaé e conta toda a sua história e de seus antepassados. O escritor depois de pesquisar sobre Acaé, descobre um endereço e encontra uma versão jovem do índio e se dá conta que a visão tinha sido na verdade uma viagem no tempo. Passa a ajudar o índio como estava predestinado.
    ………………………………………………………………………………………………….
    AVALIAÇÃO:

    * T – Título: Simples e eficaz, só revela o nome do índio.
    * A – Adequação ao Tema: Apesar do tema ter sido abordado apenas como pano de fundo, considero que esta exigência do desafio tenha sido atendida.
    ……………………………………………………………………………………………………
    * F – Falhas de revisão: Como o conto revela um forte sotaque lusitano, é irrelevante apontar a diferença de grafia. Só encontrei uma falha de digitação = Os meus irmão > Os meus irmãos.
    * O – Observações: O que parecia ser uma narrativa tendendo ao fantástico/mundo espiritual, mostrou-se um conto que conversa com o tema viagem no tempo. O ritmo inicia-se lento, como o vazio da falta de inspiração, e acelera um pouco com o relato de Acaé. Mas é mais um relato mesmo, sem muita ação. A leitura não esbarra em entraves ou rodeios desnecessários.
    * G – Gerador (ou não) de impacto: o final me surpreendeu de forma bem sutil, mas achei interessante.
    * O – Outros Pontos a Considerar: A personagem Ela ficou muito solta, sem função na trama. Poderia ser eliminada que nem faria falta. Tive de reler para entender que o índio da “visão” era o mesmo jovem Acaé do final. Primeiro pensei que avo e neto tinham o mesmo nome, mas quando o narrador citou o nome da criança que iria ser seu afilhado, tudo clareou.

    Parabéns pela sua participação!

  10. pedropaulosd
    19 de junho de 2020

    RESUMO: Um escritor encontra o espírito de um indígena que conta a ele sua estória. Ao final, o escritor descobre que está mais envolvido com a estória do que imaginava.

    COMENTÁRIO: O conto tem uma premissa interessante. A escrita é objetiva e fluida, inclusive parecendo seca em alguns pontos, o que caberia bem com a abordagem surreal que a trama evoca. Mas a ausência de uma maior elaboração não chega a ser problemática, só é um potencial perdido. A revelação final dá um impacto maior a estória, fazendo parecer que não se enxergou algo que estava lá o tempo todo e fechando o conto de forma bem redonda. O verdadeiro problema que encontrei aqui é a adequação ao tema. A Amazônia não aparece nem como espaço geográfico cedido ao conto – o que até então venho chamando como a abordagem mais pobre do tema. Isto é: não é porque se trata de um conto centrado num drama indígena que automaticamente enquadra a trama na Amazônia, ainda que eu reconheça que, sim, não existe Amazônia sem a questão indígena. A presunção, no entanto, tanto desvia o texto do tema como também subestima o potencial que o tema deste desafio nos dá.

    Boa sorte.

  11. Fabio D'Oliveira
    18 de junho de 2020

    Resumo: Escritor sem inspiração encontra espírito de índio que conta sua história e pede ajuda.

    Olá, Acaé.

    Você escreve bem, apesar das repetições, que você deve tomar cuidado, mas devo admitir que não gostei da história ou da forma de narrar. A forma como você conta a história é muito banal e aleatória. Isso pareceu intencional, mas não consigo relacionar isso ao empobrecimento do texto. A qualidade final, sem certa técnica, afinco e esmero, acaba caindo, consequentemente.

    Sobre o enredo, a história de Acaé é jogada em cima do leitor sem qualquer desenvolvimento do personagem. É impossível sentir algo por ele e pela situação da tribo. Aborda algo importante, que acontece em inúmeras tribos, mas não tem brilho na forma como você conta. Sem poder, sem carisma. Você conseguiu determinar bem a personalidade do escritor e do índio, mas fez isso de forma estereotipada.

    Pela forma como escreve, com certo domínio, imagino que foi apenas preguiçoso neste conto. Com certeza poderia fazer algo melhor. Foque nisso, na próxima vez. Preste atenção ao tema, também. Você escreveu sobre um índio e uma tribo que poderia ser situada em qualquer lugar do Brasil e até na América Latina. Faltou aquele tom amazônico, aquele clima, a alma da floresta tropical, sabe?

    Enfim, confie mais em si, deixe essa preguiça de lado e mete bronca nas palavras. Você tem potencial para isso.

    Muita felicidade para ti!

  12. antoniosbatista
    14 de junho de 2020

    Resumo= Escritor com bloqueio criativo, certa noite, recebe a visita do espirito de um índio, chamado Acaé que lhe conta a sua história. A vida na floresta e a expulsão da tribo pelos homens brancos, a sua luta pelos direitos indígenas e o seu assassinato. Pesquisando na internet, o escritor encontra Acaé ainda jovem morando numa casa humilde e decide dar-lhe ajuda tanto moral quanto monetária.
    Comentário= O conto tem um toque fantástico de viagem astral, ou projeção astral. As conexões (que levam à interpretação) do espírito de Acaé morto com o Acaé vivo, pode trazer alguma confusão sem acertar o significado real. Acho que acertei, porém, e apesar disso, gostei do argumento. É uma história que ficaria legal da mesma forma, com outro personagem qualquer, de qualquer lugar ou raça, só que estaria fora do tema, é claro. É uma boa ideia que gera outras histórias. O conto tem uma boa trama, é bem narrada, de escrita simples, sem firulas desnecessárias. Boa sorte Acáe.

  13. Emanuel Maurin
    11 de junho de 2020

    Acaé, tudo de bom
    Resumo: Um escritor sem inspiração estava refletindo sozinho no momento que apareceu um índio nu e translucido na sua frente e o índio começou a narrar acontecimentos de sua vida na tribo. Depois de narrar o fato, desapareceu. O escritor ficou curioso e foi procurar pelo índio, mas não o encontrou. Por fim, ele encontrou um jovem neto do índio e o ajudaria a estudar.

    A apresentação do enredo é boa, o texto flui bem e é de fácil entendimento. Teve uma surpresa no final que deu poder ao conto.

    “O escritor não é um homem normal”. Não é mesmo, né?

    Boa sorte.

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Publicado às 7 de junho de 2020 por em Amazônia, Amazônia - Grupo 1 e marcado .
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