Sobre a reportagem publicada domingo p.p. na página oito deste respeitável jornal, sob o título “Transamazônica: 50 anos incompletos”, gostaria humildemente de prestar meu testemunho, como leitor e participante, ao menos em parte, da História. Peço somente ao sr. editor que, por gentileza, se houver interesse em publicar este relato, que o faça na íntegra, dada a importância emocional que os fatos aqui narrados têm para mim, para os demais envolvidos e para suas famílias.
(Nota do Editor: após análise, devido ao interesse histórico, o Conselho Editorial deste veículo decidiu publicar esta carta sem quaisquer edições; e optou por não fazê-lo no Espaço do Leitor, como seria habitual, mas na terceira página, como artigo de opinião. Entretanto, por questão de espaço, foi preciso desdobrá-la em partes, as quais devem ser publicadas, consecutivamente, nas próximas edições.)
Ao passar os olhos pela matéria, que parece tratar agora de um assunto tão distante, quase um sonho ou lembrança de outra vida, qual não foi a minha surpresa ao encontrar uma foto em preto e branco, pŕoximo ao rodapé da página. Sob ela, a legenda: “Trabalhadores anônimos em torneio de futebol durante a construção da rodovia | Autor desconhecido | Doação ao acervo da Biblioteca Municipal.”
Pois bem. Anônimos, não mais.
E nem desconhecido permanecerá o autor da foto.
Estão ali dez rostos que ainda me são bem familiares, sendo oito peões e dois chefes da equipe de trabalho da qual fiz parte durante a construção da BR-230, a Transamazônica. São eles: na fila de acima, da esquerda para a direita, Hélio de Moura, o Bigode, e Genival dos Santos, supervisor de pessoal; Eng. Siqueira (nunca soubemos seu primeiro nome), responsável técnico; Raimundo, o Ratazana, e Hercílio, o Bombril. Agachados, na fileira de baixo, estão Ravel, Fuinha, Tarugo, Mané e Paraíba. Mas seria injusto não contar a história justamente do colega que não aparece nesta foto. Além de ruim de bola, era ele o dono da máquina fotográfica: chamava-se Miguel Corvelo e, pelo apelido, era o Frei.
Quando o Frei se juntou ao nosso grupo, a maioria dos peões já estava embrenhada na selva a pelo menos um mês e meio. Frei foi o único que apareceu por conta, de carona num caminhão vindo de Brasília, atravessando as estradas de Goiás só Deus sabe como. Ao parar por ali, onde estávamos trabalhando, desceu e pediu emprego ao supervisor. Só tinha uma carteira de trabalho vazia e muita vontade de ajudar, além de ter o de comer, vestir e dormir. Como um dos peões do Recife havia desistido da obra, Genival, o supervisor, autorizou que ele se agregasse, enviando a carteira de trabalho para registro em Recife, sede da empresa. Era 1970 e a única forma de mandar documentos dali era malote por via aérea. Mas a pista de pouso mais próxima ficava a quatro horas de caminhão, e o avião só aparecia uma vez a cada mês — ou demorava até mais.
“Abrir uma estrada no meio do nada”, como está escrito na reportagem do seu jornal, não corresponde exatamente à verdade. A rodovia Transamazônica foi cortada em meio a tudo o que se possa imaginar — a densa mata fechada, exuberante e perigosa, com troncos centenários, animais selvagens, doenças e desafios imprevistos de topografia e de relacionamento humano. Era o período mais perigoso do regime militar, e o governo decidiu abrir uma estrada cortando o Brasil de leste a oeste, o que praticamente abriria caminho até o oceano Pacífico; essa obra era questão de segurança nacional. Além disso, havia a intenção de colonizar o máximo possível a região, ou, nos dizeres do presidente Médici, “ “integrar para não entregar”. Projetos de colonização nas margens da rodovia, planejados para atrair os nordestinos sofridos, castigados pelas secas e pela pobreza, ofereciam riqueza num futuro próximo, nas chamadas agrovilas. “Uma terra sem homens para homens sem terra”.
Mesmo nós, trabalhadores sem estudo, sabíamos o que estava sendo feito ali. O rádio ondas curtas trazia notícias oficiais, quando havia sinal e energia. Se não, era tentar sintonizar de madrugada, para melhorar a recepção; e, quando acabavam as pilhas, esperar a próxima ida à cidade e então comprar essas e outros gêneros de primeira necessidade naquele fim de mundo.
O Frei tinha como função ajudar no roçado e corte das árvores, tarefa à qual se dedicava com afinco, mesmo não tendo perfil físico ideal. Ainda que fosse novo (não tinha nem 25 anos), além do cabelo ralo no topo da cabeça (daí o apelido, parecia a tonsura de um franciscano), carregava uma magreza de dar dó, e sempre a barba mal aparada. Mas, ao contrário do que pensávamos, tinha muita força nos braços e vontade nas mãos. Os outros peões ficavam admirados da quantidade e peso de troncos e galhos cortados que ele conseguia carregar em cada viagem, até a área de descarte, para a queima nos fornos de barro.
(Nota do Editor: a seguir está a segunda parte do relato enviado pelo leitor, iniciado na última edição, sobre a vida dos trabalhadores durante a construção da Transamazônica. Conforme dito então, não realizamos copidesque ou correção no texto do autor, para maior fidelidade).
Com exceção dos momentos de refeições ou à noite, recolhidos aos alojamentos provisórios, conversávamos muito pouco. Éramos rudes e toscos. A maioria ainda não sabia ler ou escrever nada além do próprio nome. O Frei era um dos poucos que sabia, e por isso era chamado pelo engenheiro ou pelo supervisor para conferir documentos ou realizar outras tarefas administrativas. Mesmo com a fama de “peixe” dos chefes, era considerado boa praça e cordial nas horas vagas, pois nos ajudava a escrever e a ler nossas cartas de familiares e namoradas. Inclusive, eram tantos querendo ajuda que ele passou a ensinar a quem quisesse aprender, à luz da vela do galpão do acampamento. Poucos foram além de uma ou duas aulas com ele.
Os alunos que mantiveram uma certa regularidade nessas classes, os mais dedicados, eram o Paraíba e o Ravel. Vieram juntos, da mesma cidade —Campina Grande, na Paraíba — mas não se conheciam até embarcarem no caminhão de transporte. Não eram amigos. Ravel tinha sido menino de rua, e esse também não era seu sobrenome — como praticamente todos ali, ele era tratado pelo apelido que a peãozada havia inventado ou com o qual já vinha batizado da terra natal. No caso, ele ganhou esse nome por ter o cabelo crespo e fisionomia parecida com um cantor que fazia sucesso na época, em dupla com o irmão Don, os autores da marchinha “Eu te amo, meu Brasil’. Já o Paraíba era uns dez anos mais novo do que ele; e também o mais jovem no pequeno grupo. Tinha dezessete anos, mãe e doze irmãos para mandar notícias e a maior parte do ordenado. Quando havia folga, a cada quinze dias, íamos de caminhão da firma até a cidade mais próxima da obra. Ele era praticamente o único que não ia com moça da vida para os quartos de pensão. O Frei também não frequentava os inferninhos, e só ia pra cidade quando precisava mandar suas cartas ou o dinheiro. Ninguém sabia de onde era a família dele, mas sabíamos que mandava praticamente todo o ordenado acumulado, pago em espécie a cada semana, em envelopes pardos. Numa dessas idas à cidade, finalmente, ele gastou algum dinheiro com uma câmera fotográfica Yashica, bem simples; a mesma que usou para fotografar nossa equipe no campeonato de várzea entre as equipes que trabalhavam na obra, reunidos pela companhia uma única vez, em outubro de 1970, na cidade de Marabá. Procurem nos arquivos: Copa Transamazônica. Se é que eu não estou enganado.
(Nota do Editor: nossa equipe tentou localizar, mas não encontrou nos arquivos da época quaisquer referências à competição esportiva citada).
O serviço era puxado, mas tínhamos o descanso noturno para recuperar as forças e começar de novo no outro dia o abate das castanheiras, andirobas e jacarandá, algumas dessas centenárias, com troncos largos, derrubadas a machado e corrente no trator. Depois, eram levados às serrarias, onde seriam transformados em móveis caríssimos ou portas de residências luxuosas. Para nós, naquele tempo, eram somente obstáculos à passagem do progresso.
A vida seguia assim já há uns seis meses e avançávamos mata adentro, quando surgiu uma grande epidemia de malária entre os trabalhadores. Em algum momento da obra, praticamente todos os companheiros apresentaram os sintomas de febre, suor e calafrios. O Frei não havia manifestado a doença, pois disse ter sido contaminado anos antes. Quando ela finalmente o pegou, ele ficou isolado vários dias no alojamento, delirando, como muito frio. Tremia, mesmo exposto ao sol. Numa ocasião, esteve tão mal que o supervisor designou o Paraíba para cuidar dele e verificar se não aconteceria algo de mais grave.
No dia seguinte era domingo, data da ida quinzenal à cidade, e num intervalo de febre o Frei pediu ao Paraíba que levasse sua correspondência, já que não conseguiria sequer levantar dali. Fez prometer que não comentaria com os outros, pois não queria problemas. Por tudo o que o Frei havia feito por ele, o Paraíba deu o seu deixa comigo e guardou bem o envelope. Mas não a promessa.
No ônibus, a caminho da cidade e das moças, algo na mochila aberta do Paraíba chamou a atenção do Ravel.
— Isso aí, é do Frei?
— É favor de amigo que faço.
Ravel esticou o pescoço, tentando ler.
— E para quem é?
O Paraíba ergueu os ombros. Não sabia ler.
Mas o outro insistiu:
— Quanto será que tem aí dentro? — provocou.
O outro segurou firme a mochila. Mas, no resto da viagem, Ravel ficou insistindo que também sabia guardar segredo. Até que num momento de distração:
— Deixa eu ver — Ravel agiu rápido, tirando o envelope da mochila do outro.
Procurou o endereço. Também ainda não lia bem, mas conseguiu decifrar que era para um convento dominicano. Em São Paulo.
Permaneceram pensativos até chegar à cidade.
Lá, afastaram-se do grupo e foram direto ao Correio. No meio do caminho, o Ravel insinuou que o dinheiro ali seria mais útil para eles do que para os padres de São Paulo. Aos poucos o Paraíba se deixou convencer que poderiam abrir o envelope, dividir a grana e colocar a culpa nos Correios. Afinal, nenhum dos dois nunca tinha visto o Frei receber resposta, portanto era improvável que fosse avisado da falta do dinheiro no envelope. Principalmente, o Paraíba imaginou que sobraria mais do seu ordenado para a mãe e os irmãos, que recebiam tão pouco dele.
Assim fizeram.
Ao contar as suas notas, o Paraíba reparou que havia rabiscos a caneta esferográfica, em algumas delas; como não lia direito, ficou com vergonha de perguntar ao Ravel o que estava ali. O outro também viu, mas não deu atenção; porque, para ele, o que importava era gastar logo aquele dinheiro. Parte das cédulas rasuradas ficou com Ravel, parte com o Paraíba. E quase todas, naquele dia, passaram às moças da cidade.
De volta ao alojamento onde estava acamado o Frei, ambos foram visitá-lo. Parecia bem pior, olhos fundos, encovados, e uma febre muito alta, com delírios e frases desconexas. Ravel saiu para buscar água, e nesse momento o Frei começou a murmurar sentenças estranhas, jurando que não sabia onde os outros estavam. Falava do acampamento, emboscadas e clemência. Ravel voltou com a água a tempo de ouvir esse trecho da confissão.
Então, ele era um daqueles terroristas…
(Nota do Editor: terceira e última parte do relato anônimo recebido por este jornal, publicado em partes mas na íntegra por interesse histórico. Finalmente, pede-se aos citados e/ou envolvidos, e a seus descendentes, que entrem em contato conosco para esclarecer os pontos obscuros do relato. P. ex., não houve como identificar em qual agrupamento ou área da BR-230 aconteceram os fatos em questão. Ou se permanecem vivos alguns dos personagens que deles fizeram parte.)
Outros dias se passaram e, com eles, a febre e os calafrios do Frei. Aos poucos, recuperou a consciência e não deu pistas de ter falado em seus pecados. Pelo contrário, sentiu-se muito grato ao Paraíba por ter permanecido ao lado, durante os momentos de delírio, e principalmente pelo favor prestado. Mas o Paraíba temia três coisas: que o Frei descobrisse o roubo, que o Correio abrisse as correspondências do comunista ou que o Ravel resolvesse tirar proveito da situação. Foi essa última o que acabou acontecendo.
De volta ao trabalho, Ravel passou a se aproximar mais do Frei, e a falar reservadamente com ele, tirando-o de perto dos outros. Olhando agora, era claro que estava a chantagear nosso colega para não delatá-lo. Percebemos o comportamento estranho do Frei, mas só o Ravel sabia quais eram os termos dessa negociação. Aos poucos, o Frei foi se afastando dos outros, mas não conseguiu se afastar das investidas do chantagista.
Até que uma noite, já alta madrugada, o Frei acordou o Paraíba e fez sinal para que o acompanhasse até o lado de fora do galpão. Era uma noite clara, e ele foi bem franco — perguntou se o outro havia mostrado o envelope a alguém. Esse negou sem muita convicção, mas ele insistiu e o rapaz disse que pode ser tenham visto o envelope com ele, na viagem. O Frei ficou chateado, mas não imaginava que havia confessado, durante um delírio, ou que havia sido roubado pelos dois. Acreditava que o Paraíba poderia ajudá-lo.
Foi por isso que fez a ele a sua confissão definitiva.
Contou sobre o abandono do convento pela ideologia, as mortes feitas na guerrilha, as tocaias e escapes pela floresta do Araguaia. Que fora capturado e acabou por entregar a localização de seus companheiros. Devido à fraqueza dele, dezessete homens e duas mulheres foram mortos pelo Exército brasileiro.
Depois de ter usado seu depoimento, decidiram que ele deveria ser fuzilado também. Mas, antes que isso acontecesse, conseguiu escapar do acampamento militar. Fugiu até uma estrada próxima, pegou carona até Goiânia e lá conseguiu a carteira de trabalho, usando certidão de nascimento falsa. Depois, para despistar seus perseguidores, voltou de carona num caminhão até as imediações da obra onde trabalhavam agora.
O Paraíba não entendia por que o Frei estava contando tudo isso para ele. E o Frei contou da chantagem, e disse que tinha que ser honesto: precisava de ajuda para resolver a questão.
Era preciso dar um fim no Ravel.
O Paraíba ficou confuso, e sem saber o que dizer, perguntou por que o Frei o havia escolhido.
Nisso o Ravel apareceu, no meio do mato, com um sorriso cínico no rosto.
— Ora, mas estão casados, então? E eu que achava que o marido era meu sócio… que coisa feia, roubar seu próprio baitola!
Surpreendido, a adrenalina da raiva subiu num jorro à cabeça do Paraíba, e ele deu um soco brutal no rosto do Frei.
Ravel se espantou, mas fez graça.
— Eu é que não vou me meter, briga de marido e mulher…
Nisso o Paraíba virou-se e ergueu o Ravel pelo pescoço, enfiando a faca toda no bucho dele. Ainda torceu o cabo de um jeito que nem se houvesse médico por perto ele poderia ser salvo. O grito ficou preso na garganta, mas o sangue jorrou sobre o Frei, que ficou desacordado tempo suficiente para acabar com a faca suja nas mãos. Minutos depois, ao ser surpreendido na cena pelos outros, permaneceu em silêncio.
De Miguel Corvelo, após ser entregue à Polícia Militar da cidade mais pŕóxima e, depois, ao DOPS em Marabá, não se soube nada. Seu verdadeiro nome não nos foi revelado e nem há registros sobre a prisão dele. Porém, com a publicação desta foto no jornal, fiquei com a certeza de que ele sobreviveu e levou consigo essa lembrança da nossa equipe de trabalho. Espero, sinceramente, que também esteja bem, depois de tudo o que deve ter passado.
Ravel acabou sendo enterrado na beira da obra, pois a empresa não tinha contato de familiares em sua cidade natal. Eu fui um dos que ajudou a cavar a cova. Apesar de hoje aquele trecho da estrada ter se tornado inacessível pela invasão da floresta, até a alguns anos eu ainda teria condições de mostrar onde foi o local do enterro, caso alguém se interessasse. Mas ninguém quer saber disso, e agora eu não tenho mais condições. Como a floresta e a rodovia, essas memórias voltaram como mato, tomando conta de mim, e escondendo o caminho que segui depois disso. Eu sou o Paraíba.
Pingback: Resultados do Desafio “Amazônia” | EntreContos
Uma foto de um time de futebol publicada em um jornal dá início, por parte de um leitor, à uma série de relatos enviados por ele, ao jornal, em quais conta sobre as pessoas daquela foto.
Eram trabalhadores da construção da rodovia transamazônica.
Fiquei impressionada com a riqueza de informações colocadas no conto.
O conto é informativo, o quê me fez gostar. Nunca havia lido nada sobre a construção dessa rodovia, e ler sobre forma de conto foi a melhor forma.
A trama que acontece entre os trabalhadores, de traição e morte, é perfeitamente factível, na situação em que viviam.
Os aspectos humanos de cada personagem, suas origens e vidas, exemplificam acuradamente o brasileiro daquela época, daquele lugar e daquela situação.
Não bastasse tudo isso, o escritor acrescentou dados do regime militar e suas ocorrências de então!
História, fantasia, imaginação…
Resumo: Em formato de matéria de jornal, conhecemos a história por detrás da Construção da Transamazônica pelos olhos e palavras de Paraíba.
Olá, Lábrea.
Sua escrita é gostosa de acompanhar e tem uma naturalidade invejável. Narrativa acessível, de fácil leitura, e que agrada qualquer tipo de leitor, por ser tranquila e rica. Aparenta ser um escritor hábil, sim, e merece parabéns pelo trabalho, bem executado e bem desenvolvido.
O enredo não me agradou tanto, fui me entediando no decorrer da leitura, mas seu desenvolvimento é excelente. A humanidade embutida nos personagens, de forma crua e realista, é algo que aprecio muito. Queria que a história fosse contado de outra forma, para me aproximar mais dos personagens. É literalmente um relato, e isso está de acordo com o modelo escolhido, mas impede que você mostre o que acontece para nós, ficando limitado em contar muitos trechos. Estes que exigiram uma aproximação maior dos sentimentos dos personagens, que fica muito nebuloso. A reação do Paraíba, no final, pareceu-me brusca demais, um impacto para mim, mas não de forma positiva, pois, até aquele momento, ele não parecia ser o tipo de pessoa que faria isso. Ele tinha o caráter duvidoso, etc, porém, não parecia ser uma pessoa fria. De fato, poderia conhecer um pouco mais num relato mais íntimo, talvez uma carta de desculpas, que daria possibilidade de ao menos explorar as emoções dele. A história é boa, não é atrativa para mim, mas é boa. Mas fico com a sensação que poderia ser melhor com outra abordagem.
Sobre o tema, ele está presente e não está. Eu insisto muito nisso, mas quando o conto não aborda diretamente a Amazônia, espero que, ao menos, sua ambientação seja extremamente forte, não apenas nominal. No caso, você se focou demais nos acontecimento da obra e deixou a Amazônia de lado. Nada que prejudique muito o conto, mas é um parâmetro pessoal que utilizo para avaliar. Seu conto está ótimo, você escreve muito bem e está de parabéns.
Muita felicidade para você!
RESUMO:
Ao ver no jornal uma foto de um time de futebol, formado por trabalhadores da Transamazônica, um dos retratados envia uma carta para a redação contando a história do grupo. O relato acaba sendo publicado em forma de episódios num jornal cinquenta anos depois de um crime ser cometido. O autor da carta/confissão
é o próprio assassino.
…………………………….
AVALIAÇÃO:
* T – Título: Simples, indicação de uma rodovia.
* A – Adequação ao Tema: O conto aborda o tema proposto pelo desafio.
……………………………………..
*F – Falhas de revisão:
Percebi só um pequeno deslocamento de acento (digitação precoce) em “pŕoximo”.
> A vida seguia assim já há uns seis meses> […] já havia uns seis meses
> […] na selva a pelo menos um mês> […] havia pelo menos um mês
> […] até a alguns anos > até alguns anos atrás
* O – Observações: O conto em forma de carta/relato começa com um ritmo mais lento, mais descrições do que ações, mas acaba engrenando e prende a atenção com a situação/crime envolvendo Paraíba, Ravel e Frei. A partir daí, o suspense cresce e o final não frustra o leitor.
* G – Gerador (ou não) de impacto: o final com a revelação da autoria do crime foi impactante. A habilidade com as palavras também impressiona.
* O – Outros Pontos a Considerar: Também não entendi bem porque dos rabiscos a caneta nas notas roubadas. De qualquer modo, o(a) autor(a) revela ter um grande domínio da arte de escrever. Tudo muito bem cuidado e trama bem construída.
Parabéns pela sua participação!
Resumo: a foto de um time de futebol, publicada por um jornal, faz chegar à redação uma cata anônima que traz à tona uma história de crimes e detalhes da época em que o governo brasileiro abriu a rodovia Transamazônica.
Avaliação: É uma história cuja estrutura muito me agradou. Criativa e interessante, bem narrada. O autor parece conhecer bastante os episódios relacionados à guerrilha do Araguaia e às decisões governamentais de povoar a Amazônia. Também demonstra um bom domínio do vocabulário
Acredito que os personagens deveriam ser um pouco mais aprofundados, especialmente Ravel. Talvez pela limitação do número de caracteres, o autor não o tenha feito.
É um dos meus favoritos para finalista.
Boa sorte!
História de trabalhadores na construção da Transamazônica no período Médici. Conto feito a partir de fatos históricos. Três homens: um com caráter duvidoso, o outro honesto e um guerrilheiro comunista. Tudo desenrola-se a partir destes três personagens. Quem narra é um deles. O relato é um envio à publicação do veículo utilizado pelo autor.
A trama não me surpreendeu, pois acabei adivinhando o que aconteceria. O relato não é muito detalhado em descrições do ambiente; o que poderia ter ajudado a criar uma atenção maior neste aspecto. Não houve tempo para criar empatia ou repulsa pelos personagens, pois a atenção maior foi na contextualização dos fatos históricos, talvez se o conto se estendesse e esmiuçasse mais neste sentido o resultado da minha percepção poderia ter sido diferente.
Oiiiii. Um conto sobre um homem conhecido como Paraíba que envia uma carta para um jornal depois de ver uma foto no mesmo jornal. Na foto mostra trabalhadores durante um torneio de futebol. Paraíba ao longo da carta dá nome aos antes anônimos e conta principalmente uma história que envolve ele mesmo, Frei e Ravel. Ficamos sabendo que o Paraíba matou o Ravel e deixou com que o Frei levasse a culpa. No fim o autor da carta se identifica como Paraíba, o que dá um impacto ainda maior na narrativa presente na carta.
O conto é principalmente sobre segredos que ficaram enterrados no passado e também sobre o fato de sempre ter uma história por trás das fotos. Foi interessante a reviravolta final, pois foi como se a carta se transformasse de uma carta histórica para uma carta de confissão. Também achei legal aquele trecho em que o autor da carta tem a certeza que o Frei sobreviveu por causa da foto publicada no jornal, pois esse trecho deixo no ar o mistério sobre como o Frei teria escapado e sobrevivido. Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
Resumo: Um leitor do jornal vê uma foto de um time de futebol e manda uma carta contando a história por trás da foto.
Olá, Autor!
Uau! Que texto! Muito bem escrito, ambientado e com um enredo realmente interessante. Os personagens são muito críveis e bem profundos! O conto todo fiquei me perguntando qual deles seria o narrador, imaginei que fosse o Frei… Foi legal descobrir que o assassino foi quem escreveu a carta… E ele não demonstrou nenhum arrependimento nem remorso por ter matado um companheiro e colocado a culpa em outro. Sinistro!!
Gostei bastante! Ótimo conto!
Parabéns e boa sorte!
Até mais!
Leitor de jornal envia carta à edição do mesmo, após ver foto sobre a construção da Br-230, a Transamazônica, com personagens até então desconhecidos, contando a história – impressionante – que há por trás daqueles rostos, pessoas que poderiam simplesmente se perder no tempo.
Nessa carta há uma revelação, uma confissão e explicação de fatos acontecidos.
Bom… que conto espetacular, que ideia brilhante e forte você teve, Lábrea Cabedelo, parabéns pelo conto, um dos melhores, certamente.
Você simplesmente acertou em tudo, aqui. Desde a história, até o desfecho, passando pela abordagem da ditadura, do trabalho que levava homens ao sonho de um futuro melhor,as doenças, tudo, tudo.
Quanto ao autor da carta, já desconfiava, mas isso não atrapalhou em nada.
Paraíba mudou o destino, deu sorte, isso fiquei pensando, pois era um analfabeto e no final lia jornais, escrevia cartas aos mesmos…bom, 50 anos são 50 anos, muito tempo…
Excelente, excelente seu conto….
Parabéns!!
Resumo:
Um ex-operário que participou da construção da Transamazônica narra os acontecimentos em que o mesmo se metera décadas atrás envolvendo os segredos de um ex-guerrilheiro.
Impressões:
É um trabalho em formato epistolar, que muito me agrada.
O vocabulário empregado, as construções e a forma como o enredo foi conduzido, denotam muita experiência no ofício narrativo.
O pano de fundo que vai se descortinando chega a instigar num primeiro momento, porém os momentos finais do conto com Paraíba, Ravel e Frei, ao meu ver, não foram satisfatórios.
Creio que o trabalho aguçara demais minha curiosidade e esse término com o Paraíba subitamente investindo contra Ravel não me convenceu.
No mais, é um grande conto.
Carta anônima chega a um jornal depois da publicação de foto comemorativa da rodovia transamazônica, relatando desafios e desventuras dos trabalhadores na construção da obra. Frei passa a fazer parte do grupo depois de mais de um mês de trabalho. O único que sabia ler e escrever, logo ganha a confiança de todos. Paraíba, o mais jovem, cuida de Frei depois que a malária ataca o grupo. Frei pede-o que leve uma correspondência ao correio. Ravel convence Paraíba de ficarem com o dinheiro do envelope. Quando voltam, Frei, com muita febre, faz confissões que Ravel ouve e assim que Frei melhora, começa a chantageá-lo sobre a verdade. Frei, cansado de ameaças, pede ajuda a Paraíba para dar um fim em Ravel, contando-lhe a verdade: que fugiu do exército brasileiro. Ravel chega e vê-os conversando e caçoa deles. Paraíba enfurecido nocauteia Frei, deixando-o desacordado e mata à faca Ravel, colocando em seguida a arma nas mãos de Frei, que acaba sendo o culpado pela morte do companheiro e posteriormente desmascarado pela sua falsa identidade. Todavia, como a foto de alguma forma foi parar num jornal, Paraíba acredita que ele não foi morto pelo exército, já que ele foi quem tirou a foto. Ao final, o autor da carta revela-se sendo o próprio Paraíba.
Li duas vezes. A primeira achei um pouco confuso, devido a muitos personagens no início, depois reli, anotando os fatos. Fiquei com algumas dúvidas. Por que Paraíba socou Frei? Foi já na intenção de matar Ravel e culpá-lo? E por que o matou também? Já que Ravel estava chantageando o Frei e não ele? Um assassino frio, apenas? Pela forma que a carta foi escrita, Paraíba saiu do trabalho e se deu bem na vida, passou de um analfabeto para um letrado. Ah, e o que eram as marcações nas notas do Frei?
Um belo texto, muito bem escrito, do tipo que o autor deve se orgulhar, com certeza.
Abraços ❤
Resumo:
O texto epistolar narra acontecimentos ocorridos durante a construção da rodovia transamazônica, nos anos 70. Motivado pela publicação de uma foto de time de futebol no jornal, o autor escreve sobre as interações entre as pessoas que aparecem na foto, de onde alguns vieram, o que faziam no trabalho e etc. A história termina com um final trágico e uma revelação na última frase.
Análise
O texto está muito bem escrito e certamente vai estar entre os finalistas do desafio. A forma como o autor conseguiu descrever o trabalho na floresta e os desafios daqueles trabalhadores faz o leitor ficar engajado na leitura e acompanhar o desenrolar da narrativa.
Confesso que só fiquei um pouco em dúvida no final. Não entendi direito pq o Paraíba quis matar o Ravel. Era para mandar o frei embora e não ser descoberto pelo furto do dinheiro? Bastaria denunciá-lo. Foi por ter sido chamado de gay pelo conterrâneo e ficado ofendido? Não senti naquele momento que essa seria motivação suficiente para aquilo. Só fiquei com essa dúvida.
No final das contas, o paraíba estava mais para assassino calculista, capaz de matar um colega e ao mesmo tempo incriminar o outro, do que para peão de obra semianalfabeto.
Mesmo assim, achei a história muito bem escrita e a revelação no final foi a cereja do bolo. Ótimo trabalho.
Parabéns
O conto conduz o leitor pelo cotidiano e os conflitos de uma equipe que trabalhou na construção da Transamazônica. Em formato de uma carta anônima enviada a um jornal, que a publicou em quatro trechos em série, o relato traz informações fortes sobre a vida dos trabalhadores no desmatamento da floresta pra abrir espaço para o “progresso”, das amizades, ajudas e conflitos, das idas à cidade e dos surtos de malária. Ao final, revela-se que o autor da carta é também autor de um assassinato que aconteceu à época e foi atribuído a um colega. O relato é bem construído e a história é instigante. A leitura é fluida e prazerosa. Parabéns!
Olá, autor
Um ex trabalhador na construção da Transamazônica, ao ver no jornal uma foto antiga do seu time de futebol da obra, decide escrever ao veículo para contar uma história e tirar do anonimato os rostos da fotografia. A carta escrita por ele mostra não somente a rotina dura dos trabalhadores, mas revela uma das muitas histórias e segredos do período da ditadura militar.
Esse é o tipo de texto que me faz pensar: quero um dia escrever assim. Abaixo explico os porquês.
Farei minha avaliação conforme os seguintes critérios: Técnica + CRI (Coesão, ritmo e impacto).
Técnica – O motivo da minha admiração por esse tipo de texto é a linguagem que escorrega de tão fluida. Não dá trabalho pra ler, nem pra pensar, não tem atropelos nas palavras, restando-nos apenas saborear os fatos, os personagens, os sustos e o desvelar da criatividade do autor. Esse é o tipo de texto que me faz ter certeza de que a literatura (a boa) é a simples, sem rodeios ou rebuscamentos excessivos. Outra coisa é a voz narrativa muito bem escolhida, deixando transparecer a pressa com que o Paraíba desejava contar ao mundo a sua versão da vida daqueles homens. Com relação ao tema, a princípio despretensioso, como se uma simples lembrança, mas revela no final, de forma muito equidistante (sem ideologizações) o dilema do duro período ditatorial, expondo inclusive a violência também das guerrilhas.
CRI – Coeso, tendo como conflito o desejo do protagonista em desvelar as vidas anônimas até então. Ritmo adequado e impacto muito positivo por tudo que já relatei anteriormente.
Única ressalva é a forma de revelação do narrador protagonista. Se o leitor prestar muita atenção verá que não poderia ser outro senão o Paraíba, pela descrição detalhada da cena do assassinato. Entendo porém, que poderia fugir aos olhos mais desatentos. Mas você poderia ter feito de forma menos direta.
Parabéns pelo excelente texto.
Este conto narra a história dramática do conflito entre três trabalhadores da Trans-amazónica. É interessante a sequência pela qual nos é revelada a trama: primeiro, por uma fotografia, que é encontrado por uma das pessoas que aparece nela e que conta a história ao jornal. O resto da narrativa funciona como a própria notícia, quebrada pelos comentários dos editores do jornal. Achei o expediente bastante criativo.
A trama anda à volta de um desconhecido que pede trabalho na obra da estrada. Quando ele adoece, pede a dois colegas que coloquem um envelope no correio. Eles abrem o envelope e decidem gastar o dinheiro. Depois, um deles chantageia o outro, ameaçando que o denunciaria. Descobrem que o desconhecido era um homem que tinha fugido da polícia militar. Envolvem-se numa luta e um dos colegas mata o outro. No final descobre-se que o autor do artigo era precisamente o assassino.
O conto prende o leitor e tem o ritmo adequado, numa prosa segura, sem falhas. Nota-se que o autor não é novo nestas andanças. A temática é interessante. Foca vários assuntos sem se deixar cair numa pedagogia irrelevante: O tempo da ditadura, o movimento dos Sem-terra, o desmatamento da floresta amazónica.
Mesmo eu, com o meu profundo desconhecimento da história do Brasil, consegui seguir bem o texto, o que prova a qualidade do mesmo.
Ao se deparar com uma foto publicada em jornal, numa reportagem sobre a rodovia Transamazônica, um leitor se reconhece na foto e envia para a redação seu testemunho sobre aqueles tempos e uma confissão.
A prosa é tão cativante que relevamos alguns detalhes que me parece pouco verossímeis, como o fato de tão breve relato ser publicado em partes, pelo jornal – claro que nada disso é importante. A construção da narrativa é muito boa. Outro ruído é que o conflito final e a motivação do crime de assassinato e depois a manipulação da cena do crime para parecer que foi o Frei que matou o Ravel, creio que mereça maior desenvolvimento, mas… Sei que aconselham que devemos evitar o “GOSTEI!” pura e simplesmente, mas gostei! Boa sorte !
Estarei analisando os aspectos que EU considero mais importante, baseado nas minhas participações anteriores no certame. Sinta-se a vontade para descartar minha singela opinião se não concordar.
ENTRETENIMENTO (foi um conto chato de ler? Maçante? Legal?) : As notas do editor acabaram, algumas vezes, tendo um efeito de “quebra” da fluidez narrativa. É como uma interferência abrupta, que tira você da história. Mas, devido a forma que o autor decidiu apresentar a história, talvez fosse meio inevitável. Mesmo assim, gera um desconforto na leitura.
” caso alguém se interessasse. Mas ninguém quer saber disso,”KKKKKKKKKK achei engraçado demais essa parte.
COMPREENSIBILIDADE (levando em consideração a formulação de orações e a história em si. Há diálogos confusos e etc?): Narrativa compreensível. Claro que havia no autor o desejo de ocultar do leitor a identidade do “escritor” da carta. Mas pensando do ponto de vista realístico, não deixa de ser estranho o “Paraiba” falar sobre ele mesmo em terceira pessoa durante seu contar da história. Não me parece verossímil, já que ele também foi descrito como um homem simples que nem sabia ler, de repente sair escrevendo cartas onde ele é um personagem em terceira pessoa.
CRIATIVIDADE/ORIGINALIDADE (eu gosto de ler histórias de coisas que não vi ou não pensei antes. Ideias óbvias não se sairão bem neste quesito.): A ideia de falar sobre a “transamazônica” não passou pela minha mente ao pensar numa das possíveis histórias a serem escritas sobre a Amazônia, porém, não chega a ser uma ideia surpreendente. Mas também não é super clichê, e você conseguiu dar veracidade NA PARTE que falou sobre o Regime militar, comunistas, etc; Isto, eu jamais esperava encontrar num conto sobre o tema Amazônia. E,NISTO, vc foi bastante original – a meu ver. Há, portanto, pontos fortes e fracos no seu texto. Sendo os mais fracos questões de verossimilhança da história citados no quesito anterior.
Esqueci de fazer o resumo.
“Paraíba escreve uma carta a um jornal após reconhecer uma foto publicada no mesmo. Se trata dele e de seus antigos colegas de trabalho. A foto foi tirada por “Frei”, guerrilheiro comunista. No meio da trama, Paraíba assassina seu colega, Raviel, e coloca a culpa em Frei, que vai preso. Frei também havia sido roubado pela dupla Raviel e Paraíba.”
De uma velha foto de um time de futebol composto por trabalhadores brota uma história ocorrida na Amazônia há muitos anos e que muito tempo depois é publicada num jornal.
O conto é muito bem desenhado, personagens consistentes, a história evolui numa voltagem crescente até desembocar num desfecho de impacto. A narrativa é conduzida com firmeza e ótima escrita.
A competência para dar densidade aos personagens é sempre um ponto que impressiona, ainda mais se tratando de um conto, que é uma narrativa breve e tudo nele precisa ser condensado, mas eficiente. No caso deste conto, esse objetivo foram alcançados com louvor.
A divisão em partes se utilizando do artifício jornalístico foi bem sacada.
A criação muito bem cuidada dos personagens, cada um com suas malícias e contradições distintas, são o ponto alto da história. Como leitor, fui envolvido pela tensão e pela psicologia do conto.
Impecável. Gostei.
Boa sorte!
BR-230 (Lábrea Cabedelo)
Resumo:
Relato contado em fases por um jornal. Crimes que se sucedem. É uma obra grandiosa, a construção da transamazônica. O povo que a construiu, com seus segredos e peculiaridades.
Comentários:
Gostei do conto. Bem estruturado, a leitura é fácil, embora os nomes e os apelidos se alastrem (algo bastante comum naqueles anos, onde o ‘politicamente correto’ ainda estava distante), criando em alguns momentos uma certa confusão.
A história tem um caráter bem interessante, pois fica entre a ficção elaborada e a realidade contada. As duas coisas quase não se distinguem. O que é bom, dado que, uma história que pode ser real, transparece como tal, embora seja um conto. Fica a dúvida exatamente pela lisura dos relatos.
Uma história com muitos vieses, que acaba desaguando no machismo preconceituoso que culminou num soco e numa facada, e não querendo assumir a responsabilidade, Paraíba culpa Frei, que sofre todas as culpas. Um drama amazônico.
Boa sorte no desafio.
Resumo: a foto de um time de futebol, formado por trabalhadores da Transmazônica, traz à tona uma história de mistério e assassinato, publicada em episódio num jornal cinquenta anos depois.
Impressões: Gostei do conto. A atmosfera criada é muito boa. O mistério crescente foi dosado de forma bastante hábil, sem entregar de bandeja as características de cada personagem. A reconstrução da época é outro ponto alto, com os apelidos, as alusões à cultura dos anos 1970 e, obviamente à ditadura, sem a qual o conto não teria funcionado tão bem. A narrativa empolga de maneira que não conseguimos nos dispersar, curiosos que ficamos pelo desfecho, não querendo crer que o lazarento do Paraíba seria, de fato, o agente criminoso. Sim, o conto acerta em levar o leitor a se identificar com o Ravel e até mesmo com o Frei, afinal, ninguém é 100% bom ou 100% mau. Essa é uma qualidade e tanto no conto, que torna os personagens humanos, sem se aferrar a estereótipos. Outro aspecto que me agradou foi a questão da culpa que parece ter atingido o Paraíba, já que é ele o autor das memórias publicadas no jornal. Não sei se a confissão expressa quanto à autoria era de fato necessária. Talvez fosse mais interessante deixar essa conclusão para o leitor. Eu mesmo já estava desconfiado disso, mas acho que seria mais interessante ter ficado na dúvida. De todo modo, o conto é muito bom e, sou capaz de apostar, estará entre os finalistas. Parabéns e boa sorte no desafio.
Foto em uma reportagem jornalística sobre os 50 anos da Transamazônica leva o protagonista a confessar, em uma carta do leitor, uma história de traição da confiança e crime, no mesmo jornal. No desfecho é revelado que o autor foi o assassino e que se escondeu bem.
Narrativa bem construída, ambientação verossímil, boa dose de suspense. Titulo, pseudônimo e trama se completam.
Paraíba, apesar de traidor, ladrão e assassino, era inteligente, pois soube como culpar outro por seu crime e, passou de analfabeto, aos dezessete anos a leitor de jornal e autor de carta transformada em artigo, com um bom uso da Língua.
Parabéns pela criatividade, pela fluidez e pela técnica empregada. Sucesso no desafio. Abraço. 💖
BR-230 (Lábrea Cabedelo)
Resumo:
A história de Paraíba, Ravel e Frei (Miguel Corvelo), três camaradas que trabalharam na abertura da Transamazônica (perto dos anos de 1970). Período brabo da ditadura, onde “fugitivos” eram caçados feito onças. História escrita a partir de uma matéria no jornal que falava sobre os 50 anos do início da rodovia. O conto termina com a morte de Ravel (dedo-duro), e com a identificação do autor da narrativa. SENSACIONAL!!! “FELOMENAL”!!!
Comentário:
Texto excelente! Bem escrito, emocionante, criativo, inteligente. Narrativa bem estruturada, totalmente costurada, que cria e mostra uma das muitas histórias que poderiam ter acontecido por ali. A ambientação linda é tão bem descrita que parece real. O leitor presencia, vira peão.
Ideias geniais. Iniciar uma história por uma matéria de jornal, contar em formato de carta escrita a este mesmo jornal e juntando notas do editor, isso tudo mostra a competência do autor, a capacidade que ele tem para laçar o leitor no jogo da escrita. Domínio total do ofício. Cabra bom da peste!
Se houve deslize de escrita, nem vi. Esse é daqueles textos que, quando termina a leitura, gente mais erada (como eu sou) leva um tempo para voltar ao presente. Eu adorei. Cada leitura dessa qualidade aumenta a minha admiração pela literatura, e me faz sentir um orgulho danado desse grupo. Gente boa da peste!
O título é localizador, farol. Quanto ao pseudônimo, tentei compreender: Lábrea é cidade do Amazonas (pode ser o lugar em que Paraíba vive – ou o autor?!), e Cabedelo (cidade da região metropolitana de João Pessoa/PB) deve ser homenagem ao Paraíba.
Lábrea Cabedelo (acho que sei quem você é), parabéns pelo trabalho, que coisa mais linda!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
RESUMO: Na forma de uma memória relatada num jornal, o conto transmite a estória de um grupo de trabalhadores da Transamazônica, centralizada no dilema de três deles: o misterioso Frei, Paraíba e Ravel. Revelado que Frei era um dos guerrilheiros do Araguaia, acaba chantageado por Ravel e depois incriminado por Paraíba pela morte do seu chantagista. No fim, revela-se que quem escreveu ao jornal se tratava do próprio Paraíba, certamente com algum arrependimento de como as coisas se sucederam.
COMENTÁRIO: Conto excelente! Logo de início se dá como será o formato do texto, misturando um tom de depoimento pessoal com uma peça jornalística. Daí, a narrativa, redigida de uma forma simples que dá a naturalidade de um relato retirado da memória, ainda permite entrever o contexto sócio-político da época, a partir dos limites que o personagem encontra, do modo de vida que descreve como comum e das demais vicissitudes da ditadura militar brasileira que aparecem, seja nas palavras do presidente e nas contradições do projeto. A verossimilhança faz parecer que se lê um jornal de verdade e que as pessoas da foto realmente existiram, sendo um relato de alguma historicidade. Isso só pode ser porque o conto foi muito bem escrito. Além disso, a conclusão ainda guarda alguma surpresa e também encerra o relato em aberto, com uma conclusão que escapa ao próprio protagonista. Muito bom.
Boa sorte!
Entre Contos – Avaliação – BR-230
Resumo: Um ex-operário da Rodovia Transamazônica se depara com uma foto em um jornal e escreve uma carta à redação contando alguns fatos relativos aos retratados.
Abertura:
( x ) surpreende: excelente, excelente, excelente! Bela maneira de começar (excerto de jornal). Se bem que a ideia não é original (Jorge Amado, por exemplo, usou em Capitães da Areia). Porém, a falta de originalidade não retira o mérito da sua abertura (que verdadeiramente instiga a seguir texto adiante)! Ótima forma de iniciar a abordagem do tema Amazônia!
( ) não surpreende
Desenvolvimento (fluidez narrativa):
( x ) texto fluido: estou com dificuldade para escrever sobre esse texto. É que a palavra excelente não sai da minha cabeça.
( ) poderia ser melhor
Encerramento:
( x ) surpreende: revela que a carta é uma confissão de culpa. O que poderia ser mais surpreende do que isso? A penúltima frase do texto também é (mais uma vez a palavra!) excelente: “Como a floresta e a rodovia, essas memórias voltaram como mato, tomando conta de mim, e escondendo o caminho que segui depois disso.”
( ) não surpreende
Gramática:
( x ) não identifiquei erros dignos de nota: fiquei com as seguintes dúvidas: uso do a versus há: “estava embrenhada na selva [a] pelo menos um mês”; “até [a] alguns anos”. Também fiquei com dúvida sobre esse “a” não craseado aqui: “havia rabiscos [a] caneta esferográfica”.
( ) possíveis erros gramaticais
Enredo:
( x ) surpreende: perfeito! Adorei as diversas “notas do editor” espalhadas pelo texto. E a abertura e o encerramento são demais, demais, demais!
( ) não surpreende
Linguagem:
( ) surpreende
( x ) não surpreende: prevalência do sentido denotativo, até por se tratar de uma carta escrita por um leitor (não jornalista, não literato etc.) O texto praticamente não possui poesia. O mais poético talvez seja a penúltima frase: “Como a floresta e a rodovia, essas memórias voltaram como mato, tomando conta de mim, e escondendo o caminho que segui depois disso.”
Estrutura:
( x ) surpreende: ter feito do conto uma “carta à redação” e ter inserido as “notas do editor” trazem louvor à estrutura do texto.
( ) não surpreende
Estilo:
( ) surpreende
( x ) não surpreende: não foi possível identificar algo que eu classificaria como um “estilo” do autor do conto. Talvez essa dificuldade decorra do autor não ter se preocupado em exibir seu “estilo” e, sim, em ser fidedigno e crível à sua proposta (qual seja, fazer do texto uma “carta de um leitor”.
Excertos dignos de nota:
( x ) sim: “ou, nos dizeres do presidente Médici, “ “integrar para não entregar”. Projetos de colonização nas margens da rodovia, planejados para atrair os nordestinos sofridos, castigados pelas secas e pela pobreza, ofereciam riqueza num futuro próximo, nas chamadas agrovilas. “Uma terra sem homens para homens sem terra”.”; “Como a floresta e a rodovia, essas memórias voltaram como mato, tomando conta de mim, e escondendo o caminho que segui depois disso.”.
( ) não
Inteligência:
( ) desafia a inteligência
( x ) não desafia a inteligência: a ideia do contista para abordar o tema Amazônia foi muito inteligente, muito perspicaz. Porém, não é isso que julgo neste item. Minha preocupação aqui é com o desafio à inteligência do leitor. Bem, neste sentido, o texto não é um desafio intelectual – a linguagem é simples, comedida e contemporânea (o que decorre do fato de se tratar de uma “carta à redação”). O entendimento do texto também não exige profundas reflexões ou complexas analogias. Talvez, aqui e ali, seria importante ao leitor ter algum conhecimento de história (especialmente do período da ditadura militar brasileira).
Avaliação final: Recebeu avaliação positiva em sete itens e avaliação negativa em três. Desisti da competição ao ler esse texto! O autor foi genial na forma como escolheu abordar o tema Amazônia e na forma com que apresentou seu conto (carta à redação de um jornal). O enredo também é muito bom! O autor desse conto pratica MUITO boa literatura! Parabéns!
Anderson do Prado Silva