EntreContos

Detox Literário.

Mulher-Dama (Regina Ruth Rincon Caires)

Não fosse a dor lancinante nas pernas, não sairia da cama antes que o sol estivesse a pino. Mas tornou-se insuportável. Precisava de café forte. 

Tateando as paredes, chega à cozinha. Noite fechada. Requenta a sobra do bule, despeja na caneca e completa a medida com conhaque. Sorve tudo em três goladas. Ajudaria a suavizar a dor. 

Destranca a porta e arrasta a cadeira para o quintal. Brisa minguada, silêncio. Castigados pelos porres sucessivos, garganta e peito queimam. Sensação de garras afiadas rasgando as carnes. O suor brota sob os ralos fios de cabelo prateados, escorre pela nuca, encharca a roupa. Calor do tempo, do conhaque, das pernas intumescidas. Fogo. 

De início, Lucila não bebia. Era feliz. Ou pensava ser. Casada de pouco, amoldada, sem fantasias, horizonte limitado. Até conhecer aquele outro. Primeiro notou o bigode, depois os olhos de fisga. A cor jambo da pele realçava os dentes perolados que rasgavam o sorriso malicioso. Foi flecha no juízo, desatino do sossego. Ali teve início a luta da decência, o total desvario. Ambos casados.

Não adiantava a repetição silenciosa ecoando no pensamento de que “não poderia ser”, Lucila percebia que “seria”. E foi por muito tempo. Encontros arriscados, insanos, beirando a loucura. Perdeu-se o limite da ousadia. Riscos não eram avaliados, aventura alucinante.

O marido passou a beber com mais frequência. E não bebia sozinho. Trazia para casa, além do costumeiro rum, vinhos doces e suaves. Bebidas que Lucila apreciava. Logo o vinho passou a ficar insosso para ela, o rum misturado ao licor de groselha trazia mais prazer, depois com gengibre e, finalmente, rum puro, gin, uísque…

E veio a primeira gravidez. Depois, a segunda, terceira… 

Nos olhos dos dois primeiros filhos e na cor da pele, transpareciam sinais traiçoeiros. Quanto mais cresciam, mais lembravam a figura do pai. Aquele outro.

Com o tempo e os comentários aumentando, o cerco fechando, os encontros se escasseando, a bebida ocupava noites e dias. A convivência familiar não mais se mantinha, os cuidados com os filhos caíam no desleixo, e crises de fúria acometiam o marido. Violência estabelecida.

Assim, numa noite de muita dor, Lucila fugiu de casa. Caminhou rapidamente por entre as casas e ruas até ganhar a estrada. E, de boleia em boleia, atravessou cidades, cruzou o Pantanal. Chegou a vilarejos que cercavam áreas de garimpo e parou na capital rondoniense. 

Formosa, não demorou a formar uma clientela seleta. Pagamentos feitos em ouro. Em pouco tempo, construiu um vistoso prostíbulo e contratou várias meninas. Enriqueceu. Sabia administrar e as meninas seguiam à risca suas determinações. 

De mulher de meia volta na chave, tornou-se cofre. Cravou trancas em todas as portas e janelas da alma. Dizer que não sentia saudade daquele outro, nunca disse. Calava. Boca e coração.

E os filhos? Ela nunca soube desenredar o remorso da dor. Tudo era uma só navalha a lhe retalhar as entranhas. 

Inconscientemente, sublimou. Nada de lembranças dolorosas, nada de pensamentos incômodos. Concentrava energia nas demandas que sempre resultavam em negócios bem sucedidos. Dias e dias somando. Anos. Não pode afirmar que foi amorosa, foi prática. Valorizava o serviço na casa, mas exigia. Foi generosa. Menina nenhuma saiu de seu domínio sem norte na vida. Cada qual escolhia o seu destino, e levava seu quinhão.

De repente, cansou.  Por um bom período, depois de encerrar o expediente do bordel, e até que o dia clareasse, bebia incontrolavelmente. Sem tristeza, sem mágoa. Apenas bebia. Por gosto. Ou desgosto…

Silenciosa, foi se desfazendo dos compromissos. Ajeitou o que deu para ajeitar, abandonou o que não deu. 

Não demorou muito a se acomodar numa casinha de fundo. A frente era ocupada por Genivaldo, inquilino antigo e dono do bar. Amigo leal, parceiro de bebedeira, ouvido de aluguel. Se bem que ela falava pouco, quase nada.

Quis resguardo, privacidade. Mais que isso, buscou invisibilidade. Teria conseguido, não fosse Genivaldo, seu anjo da guarda. E isso irritava Lucila. Não gostava de cuidados.

O negrume da noite começa a se desfazer, é possível vislumbrar formas, perceber recortes das copas das árvores. O sol dá sinais do parto diário. A luz incontida vai tomando o espaço, e os olhos de Lucila, involuntariamente, mostram a turvação. Quem sabe formada pelas lágrimas represadas. E essa claridade a incomoda. Deixa à mostra as mãos envelhecidas, judiadas. As unhas encardidas em nada lembram os tempos dos esmaltes carmins. Febris, as pernas agigantadas pelo inchume deixam um brilho estranho na pele. Desagradável aos olhos. 

Indisposta, quer entrar. Chega de olhar, de ver. Já viu de tudo, nada mais importa. As pernas pesam mais que sempre, difícil caminhar. Joga-se na cama desfeita, aconchega-se ao travesseiro e cerra os olhos. Porcaria! Não sente nada além da fraqueza. Queria sentir, mas não sente. E não queria pensar. Escolheu a vida que teve? Errou? Se tivesse chance, faria tudo de novo, da mesma maneira? Não tem resposta alguma, nem quer ter. A vida só lhe mostrou o dia seguinte, foi sempre assim. 

Para espantar o incômodo, o engolir sem sabor, tenta levar o travesseiro ao rosto como se quisesse abafar um grito. Não consegue. Quer tentar novamente, mas nem sabe onde está o travesseiro. Mergulha num vácuo. Inerte, o braço desliza para o lado da cama.  

Distante dali, milhares de quilômetros, os primeiros raios de sol apontam. No ambiente solitário da terapia intensiva, um velho agoniza e, ofegante, balbucia palavras. A enfermeira se aproxima e ouve: “Lucila, espere, estou indo, pegue a minha mão”. Generosamente, a cuidadora aperta a mão do homem. Os olhos dele continuam fechados, não mostram a fisga. Mas o sorriso malicioso esboçado ainda marca o rosto. Daquele outro.

 

Guadalupe, simplesmente Lu

27 comentários em “Mulher-Dama (Regina Ruth Rincon Caires)

  1. iolandinhapinheiro
    10 de maio de 2020

    Olá, querida. Vim ler o seu conto, como prometi. A trama corre toda sobre a vida de Lucila, mulher que teve um caso extraconjugal e depois da experiência não conseguiu mais retomar a sua vida de mulher casada. -O romance foi perdendo a graça e ela não hesitou em deixar tudo para trás e tentar uma vida completamente diferente em outra terra, trabalhando como prostituta e cafetina.

    As duas histórias se linkam no momento da morte do amante, que ainda pensa nela.

    O conto é feito a partir de frases curtas que procuram nortear o leitor sem maiores descrições ou um enredo mais complexo, embora a história em si contenha densidade e emoções. Talvez o tamanho obrigatório para o texto tenha atrapalhado o tal mergulho maior que se esperava sobre a vida e as escolhas da Lucila.

    O texto está bem escrito mas careceu de mais envolvimento entre o leitor e a personagem.

    É isso. Uma boa noite.

  2. Eneida Ferrari
    11 de abril de 2020

    6) Mulher Dama
    Mulher casada trai marido com outro casado. Os filhos denunciavam ser do amante. Marido bebia e ela também. Fugiu de casa sem os filhos. Construiu prostíbulo na capital Rondoniense. Administrou bem o negócio, depois cansou e começou a beber demais. Fechou o prostíbulo e foi residir em casinha nos fundos. Ficou velha e com fraqueza e fica a relembrar os tempos antigos. Longe dali, homem solitário em terapia intensiva, agoniza e balbucia com o sorriso malicioso daquele outro: Lucila, espere, estou indo, pegue minha mão.
    ANÁLISE: Bom português. História criativa, com ação. Texto um pouco confuso. Final confuso.

    • Regina Ruth Rincon Caires
      14 de abril de 2020

      Menina, levei um susto com a sua nota! Final confuso? Será que leu direito? Quando ela morre e o braço desliza, o amante (distante) estende a mão. Partem juntos. “Bom português, história, criativa, com ação” – Nota 1,0. Muito estranho. Avaliação bem confusa. Mistéééério!!!!!!!!!!! Obrigada pela leitura…

  3. sergiomendessola
    11 de abril de 2020

    6. Mulher-Dama (Guadalupe)

    História de dois amantes e, por fim, da amante e da bebida… o fim de uma vida de desleixo e bebida.

    Uma história de uma amor quase impossível, e por fim, da enterga à bebida e à prostituição…
    Escrita desenvolta, mas um pouco inconsequente para uma história que merecia um pouco mais…

    Pontuação: 3

    • Regina Ruth Rincon Caires
      14 de abril de 2020

      Obrigada pela leitura! Abraços…

  4. Rafael Carvalho
    11 de abril de 2020

    Parabéns pelo conto, nos primeiros parágrafos estava meio incomodado com a quantidade de orações curtas, com pontos finais a cada duas três palavras. Mas conforme fui me envolvendo na narrativa esse senti que essa leitura mais “travada” dá um ar duro e denso para a narrativa, que abraçou muito bem tudo que é escrito.
    Por todo caminho feito até o final, esperava algo cruel, um tapa na cara mesmo de quem esta lendo. Mas gostei desse desfecho romantizado.
    Mais uma vez parabéns pelo texto, boa sorte.

  5. Bia Machado
    11 de abril de 2020

    Resumo: A história resumida da vida de uma mulher, da juventude até a velhice.

    Desenvolvimento do Enredo: O enredo não me envolveu. A forma de escrever não deixa o texto ser cansativo como a princípio parecia que seria, mas foi uma leitura sem grandes atrativos, apesar de algumas construções interessantes, como o trecho “A vida só lhe mostrou o dia seguinte, foi sempre assim”. Foi um texto muito “contado”, como se fosse mesmo um resumo da história. Talvez se o foco do conto fosse mais a velhice da mulher, ela lembrando de algumas partes antes do momento derradeiro, ficasse melhor. O tom da narração em alguns momentos me fez lembrar textos da época do Romantismo.

    Composição das personagens: A impressão que me dá, inclusive com Lucila, a principal, é a de que os personagens serviram apenas ao própósito do narrador. Infelizmente digo que não me cativaram.

    Parágrafo inicial: Poderia ser melhor. O segundo parágrafo cumpre melhor o papel de criar alguma expectativa no leitor/leitora.

    Finalização: O último parágrafo parece estar deslocado das ações que vêm antes. Achei desnecessário. Tivesse terminado no penúltimo, se encaixaria melhor. Não entendi a “assinatura” após o término do conto.

    • Elisabeth Lorena
      25 de abril de 2021

      Amana, a assinatura dá um toque de referência, pois mostra Marcos Rey e sua personagem Lu. A Regina ao terminar o texto, usou sua narradora, que era até aí só um pseudônimo, como articulista de algum jornal hipotético.
      Marcos Rey figura entre os grandes nomes tais como: Moreira Campos, Machado de Assis, Nélida Piñon, Rubem Braga, Cora Coralina, Clarice Lispector, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan todos contistas brasileiros que não devemos esquecer.

  6. Claudinei Maximiliano
    10 de abril de 2020

    Resumo: Lucila, casada há pouco tempo, sente-se atraída por outro homem, o qual se torna seu amante. Dessas aventuras, ela engravida do amante por duas vezes, e tem filhos que em nada lembra o marido. Este, ressentido e desconfiado das traições passa a beber com mais frequência e Lucila também passa a beber cada vez mais. Por fim, diantes das constantes acusações, Lucila abandona o lar, deixando o marido e os filhos para trás. Distante de casa, torna-se, inicialmente garota de programa, e, posteriormente, dona de bordel. Mas ela nunca se esqueceu do amante. E o amante, em seu leito de morte, distante dali, expressa seu amor pela mulher.

    Comentários: Narrativa interessante, com desfecho surpreendente. Conto bem escrito, com gramática quase impecável e linguagem clara.

  7. Pedro Paulo
    9 de abril de 2020

    Um conto com uma escrita econômica e certeira. A princípio, parece querer contar a vida sofrida de uma mulher, mas ouso dizer que se trata também de uma história de amor, em que sabemos em maior parte da vida da protagonista, narrada com agilidade mas com grande impacto e emoção, nos trazendo desde o casamento falido, por através da paixão não por muito tempo segredada, da violência domiciliar da fuga, da prostituição e do enriquecimento. Tudo é passado com rapidez, mas ainda sentimos pela e com a personagem, pois, afinal, apesar das mudanças drásticas, as memórias do que se passou ainda acompanham a personagem, não só como meras lembranças, mas também como influenciadoras de quem a personagem é e de como ela age porque age.

    O que para mim faz dessa história uma história de amor é o último trecho, que subitamente nos transfere à verdadeira paixão de Lucila. Achei brilhante o resgate da primeira atribuição do personagem: “daquele outro”. Um demonstrativo do talento com as palavras detido pela autora. Não só na economia, dado que lê-se um conto de frases curtas que dizem muito, mas também na reutilização.

    Parabéns!

  8. Ana Carolina Machado
    8 de abril de 2020

    Oiiiii. Um conto sobre uma senhora chamada Lucila. A história começa com ela levantando da cama e logo em seguida sabemos mais da vida dela. De uma época em que ela não bebia, um pouco antes de começar a ter um caso com um homem que ela intitula apenas como aquele outro. Depois disso o comportamento do marido mudou,ficando mais violento, e ela teve que fugir e deixar os filhos. Longe de casa ela abriu um bordel e o tempo foi passando,continuou bebendo, até que se cansou e encerrou o expediente e se isolou em uma residência com privacidade . Perto do fim ela faz questionamentos sobre a vida que teve, se tinha errado. No fim o amante dela morre e vemos que ele não tinha a esquecido assim como ela. A narrativa é poética e o final surpreende, pois não esperava que fosse reaparecer o amante. Fica entendido que mesmo tendo se separado foi como se eles continuassem de alguma forma relacionados, até porque a consequência deve ter os perseguido principalmente devido a toda ação ter uma reação . É uma história poética que reflete sobre escolhas e como um momento pode mudar todo o rumo de uma vida. Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  9. Jorge Santos
    8 de abril de 2020

    Este conto foi o melhor que li até agora. Numa linguagem simples e cuidada, conta a história de uma mulher, depois de ter três filhos do amante, foge de casa. Abre um bordel, sendo bem sucedida. No final da vida não resiste ao cansaço e desiste, virando-se para a bebida, nunca esquecendo o seu amante nem os filhos que tinha abandonado. No final do conto vemos que o amante está nos cuidados intensivos e que também pensa nela.
    A forma como a história é narrada prende o leitor do princípio ao fim. A linguagem mantém o ritmo do texto, na falsa simplicidade das obras de qualidade. Qualquer autor a querer ganhar experiência pode ver aprender com este texto lições preciosas: não é necessário usar perderem-se em jogos linguísticos se a força da história não consegue sustentar a narrativa. O coração é que ordena, tanto na literatura como na vida.
    Parabéns.

    • Regina Ruth Rincon Caires
      15 de abril de 2020

      Fiquei emocionada… Obrigada pela leitura, pelo comentário, por tudo. Abraços…

  10. Fabio D'Oliveira
    7 de abril de 2020

    Resumo: Lucila reflete, depois de uma bela dose de café com uísque, no alpendre de casa. Seu passado, marcado por seus erros, e seu destino, consequências de suas imprudências.

    Olá, Guadalupe.

    Que conto lindo… Toda a narrativa é carregada de uma poesia primorosa. Aquele tipo de leitura que mergulhamos no mundo e personagem, entendemos tudo como se fosse a realidade e emergimos com reflexões interessantes. Sua escrita é maravilhosa.

    Cada detalhe, cada traço de humanidade da Lucila, cada palavra bem encaixada. É um trabalho de qualidade inquestionável.

    Parabéns por isso! Está tudo perfeito: escrita, enredo, tema, desenvolvimento. Não vou me alongar no comentário, pois, de fato, não tenho muito o que adicionar, só te encher de elogios, haha.

  11. Rubem Cabral
    7 de abril de 2020

    Olá, Guadalupe.

    Resumo da história: mulher idosa e alcóolica lembra-se de seu passado, quando foi casada e teve um amante que tbm era casado. Teve filhos com o amante e qdo tudo foi descoberto, fugiu. Foi viver em Rondônia, onde começou a ganhar a vida como prostituta e depois como cafetina. Com o passar dos anos, contudo, a amargura, a saudade do amante e dos filhos, começou a cobrar seu preço, arrastando-a novamente para os braços do álcool. Longe dali, numa UTI, seu ex-amante morria ainda chamando por seu nome.

    Conto muito bem escrito, com descrições deliciosas e poéticas. Boa a história da mulher amargurada e envelhecida, talvez empurrada para tal vida pelas convenções e preconceitos da sociedade.

    Boa sorte no desafio!

  12. Paula Giannini
    6 de abril de 2020

    Olá, Autor(a),

    Tudo bem?

    Resumo: As escolhas e suas consequência, na vida de uma mulher, de dona de casa e mãe, à prostituta e cafetina solitária e envelhecida.

    Escrito em terceira pessoa, o conto traz a sensação, após a leitura, de uma narrativa na primeira. Sem arrependimentos ou julgamentos (seja de si mesma, seja dos outros), a protagonista faz desfilar sua vida diante do(a) Leitor(a). Uma vida na qual as escolhas, pouco ortodoxas, desaguam em um tipo de solidão amarga, porém orgulhosa e de fria constatação.

    Interessante notar que, ao não demonstrar arrependimentos no caráter da personagem solitária, o(a) autor(a) demostra a mais perfeita isenção, sem julgamento de caráter de sua personagem, exatamente como deve ser. O texto é quase um retrato, uma pintura realista da dura vida desta mulher.

    Se posso deixar aqui uma sugestão, embora entenda o último capítulo como um tipo de redenção desta mulher “pouco amada”, eu o suprimiria. Só uma sugestão. 😉

    Parabéns por seu trabalho.

    Beijos
    Paula Giannini

  13. Paulo Luís
    5 de abril de 2020

    Resumo: Mulher vive angustiada entre doenças e bebedeiras, trai marido e tem filho com amante. Abandona a família, decide-se ganhar o mundo e viver o mundo da prostituição como dona de bordel. Por fim, destrói tudo o que havia construído. Termina no mesmo estado do princípio, doente e bêbada, com o antigo amante implorando por seu nome.

    Gramática: A leitura flui sem problemas, sem erros aparente.

    Avaliação: Um conto pretensioso. A personagem protagoniza uma vida epopeica. Mudando de estilo de conduta como se troca de roupa. Evolui da água para o vinho quase num passe de mágica. A narrativa não esclarece ser a personagem uma desequilibrada emocional, ou uma simples ignorante que não sabe o que quer da vida, ou o autor(a) não soube dar uma conduta para a própria. De todo modo, acredito ter ávido um excesso, ao imputar vários desígnios a personagem sem, entretanto, fundamentar uma lógica de sentido. Deixando a personagem sem um norte definido. Mas não deixa de ser um enredo rico em significados.

  14. Elisabeth Lorena Alves
    4 de abril de 2020

    Mulher-dama
    Olá, Lu.
    Como está Marianinho?
    TrisTE com as notícias de Marcos Rey, seu pai? Meus sentimentos…
    Bem, mas falando de seu texto, minha linda.
    Que história maravilhosa. E triste. Tem uma boa condução para manter o leitor atento e parece ouvir sua voz a sair doce por entre os lábios vermelhos.
    De fato, acho que aproveitou para dar uma espezinhada nessa sociedade tão falsamente construída que aceita a violência e despreza os deslizes das mulheres…
    Texto rico. E quantas informações interessantes! Gostei do jogo com a palavra Outro.
    Narrativa bem dirigida e sem cortes.
    Fico feliz com a produção textual de alguns participantes, sempre bem direcionadas, firmes e conduzem a história com elegância.
    Esse elogio serve também para outro que li: “Amanhã vou ao Cinema”.
    Até indiquei ambos em um grupo de literatura.
    Maravilha lê-los sempre.

  15. cgls9
    3 de abril de 2020

    Lucila, a mulher-dama, sente o peso da idade e do álcool em seu organismo, informa-se que foi casada e talvez fosse até feliz até conhecer o “aquele outro” com olho de anzol, paixão loucura, desvario e fogo no parquinho… o marido percebeu o bastou desconfiar e o casamento virou-se num inferno. Fugiu. Era bonita, não lhe faltou propostas, juntou dinheiro, abriu um negócio, de sucesso, mas nunca fechou a ferida em seu coração, entregou-se à cachaça ou rum… parece conformada apesar de amarga, foi o que a vida lhe deu. Londe dalí o “aquele outro” também parece sentir a mesma angústia.

    Considerações
    Outra historinha amarga. Parece que nesses tempos de pandemia, estamos, naturalmente, bem angustiados. É essa aflição que o autor (a) trabalha com enorme delicadeza, a tristeza que essa mulher carrega chega a ser sentida pelo leitor, graças a construção muito bem elaborada na prosa do autor (a). Parabéns, boa sorte.

  16. Fernando Cyrino
    1 de abril de 2020

    Olá, Guadalupe, você me traz a história de Lucila, a bela mulher que se apaixona, mesmo sendo casada, por um outro homem, também casado. O caso se torna escândalo, ela bebe demais (primeiro com o marido), até que decide fugir. Torna-se prostituta no Norte. Vamos encontra-la bem idosa, já nos estertores da vida. Fazendo um balanço, já viu tudo, já viveu o que viveu e se pergunta se faria tudo de novo. Lá distante aquele amante antigo também está no fim da existência e, delirando, diz o nome do seu antigo amor. Pois é, Guadalupe, seu conto começa bem, segue num crescendo. Você domina muito bem a arte da escrita. Sabe o valor de cada palavra e de onde ela funcionará melhor. O texto está muito legal, trata-se de um bom enredo, mas achei que claudicou no final. Senti, esta é a minha opinião, que você não conseguiu manter o nível da história até então. Achei que o final fez com que a sua bela narrativa escorregasse para o melodrama. Foi como se quisesse terminar logo a história e não pensou muito (faltou tempo?, quem sabe) para bolar algo mais legal para encerrar o conto. Receba o meu abraço. Realmente, você escreve muito bem.

  17. angst447
    28 de março de 2020

    RESUMO:

    Lucila, uma jovem casada e feliz, conhece sujeito sedutor e tem um caso extraconjugal. Tem três filhos e dois deles parecem ser do amante, o Outro. O marido começa a beber e a trazer bebidas doces para casa. Assim, Lucila começa a beber também, descuidando dos filhos e do lar. O vício pela bebida a acompanha pela vida inteira a partir daí. Com a violência estabelecida no lar, Lucila resolve fugir de casa, abandonando a família. Torna-se prostituta bem longe e, com o tempo, constrói um prostíbulo e enriquece. Depois se cansa e se acomoda numa casinha de fundo, tornando-se reclusa. Envelhece e chega ao fim da vida com suas lembranças e remorsos, ainda ligada ao Outro, o amante da juventude… que, muito longe dali, também chega se despede da vida, chamando pelo nome de Lucila.
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    F  Falhas de revisão  Esta é a parte que menos importa na minha avaliação. Só para constar mesmo. Só percebi a ausência do circunflexo em “Não pode afirmar que foi amorosa” > Não pôde

    I  Impacto do título O título faz referência a uma fase da vida da protagonista, mas não chega a entregar o enredo.

    C  Conteúdo da história  O conto desenvolve-se de forma linear no passado, entre duas fatias do presente. O começo e o fim pertencem ao tempo presente, enquanto o meio diz respeito à trajetória de vida da protagonista. A história de Lucila prende a atenção, pois é contada de forma direta, simples, mas com uma linguagem que beira a poesia. As frases empregadas são no geral curtas, sem desperdício de palavras ou imagens. Tudo parece ter sido pensado para causar o impacto desejado, sem um pingo a mais ou a menos. Maestria na escrita.

    A  Adequação ao tema  Como o conto narra a vida de Lucila até a sua morte, o envelhecer está presente na trama. Portanto, tema abordado com sucesso.

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    E  Erros de continuação  Guadalupe, simplesmente Lu é uma assinatura? Lu é de Lucila? Isso me deixou confusa.

    M  Marcas deixadas  Um rastro de melancolia misturada a um romantismo tardio. Um suspiro liberto após prender o fôlego durante a narrativa. Sensação de alívio.

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    C  Conclusão da trama  Pelo o que entendi, Lucila morre e um lugar distante também falece seu antigo amante, o OUTRO. Ligados até o final.
    .
    A  Aspectos quanto à originalidade do conto  Nada de surpreendente ou inovador, mas também nada de banal. Nada se cria, tudo se recicla… 🙂

    S  Sugestões  Tiraria a tal assinatura de Guadalupe. Acho que ficou fora de contexto.

    A  Avaliação final  Conto muito gostoso de ler, sem entraves ou voltas desnecessárias. Uma vida contada com delicadeza e poesia de olhar. Gostei muito.

  18. Catarina Cunha
    28 de março de 2020

    Resumo — Mulher se apaixona pelo amante e pelo álcool, abandona filhos e marido fugindo da violência doméstica. Torna-se prostituta e cafetina bem sucedida, mas envelhece solitária e alcoólatra. O ex-amante nunca a esqueceu.

    Técnica — A melancolia permeia todo o trabalho, nitidamente apurada pela pontuação seca. No começo incômodo de ler, mas depois percebi o recurso utilizado. O título entrega boa parte da trama desnecessariamente.

    Trama — Uma odisseia de uma vida escrita de forma bem enxuta. Não há aprofundamento porque a própria personagem não se aprofundou em suas emoções.

    Impacto — “Se tivesse chance, faria tudo de novo, da mesma maneira? Não tem resposta alguma, nem quer ter. A vida só lhe mostrou o dia seguinte, foi sempre assim.” – a força da personagem está neste retrato do aqui e agora.

  19. Inês Montenegro
    26 de março de 2020

    O conto foca-se em Lucila: o seu envolvimento o outro, estando ambos casados, o cerco que se apertou e a levou à fuga, a prostituição e a habilidade que a levou a montar um prostíbulo, até ao envelhecer do final na vida, onde se questiona sobre as suas escolhas e reconhece não saber se as repetiria ou alteraria.
    Apesar de cobrir grande parte da vida de Lucila – e de conter uma variedade de eventos –, a narrativa consegue manter um equilíbrio, expondo-os sem se tornar maçadora com exagerados alongamentos, ou de limitar as descrições ao ponto de parecer que simplesmente empilha os eventos. Narra o que necessita à construção e compreensão da personagem de Lucila: o leitor vê-a desenvolver-se e modificar-se, não apenas em termos literários, mas também dentro do universo narrativo. Em simultâneo, não escapam os elementos que se mantêm consistentes, seja a bebida, seja o outro – o qual, aliás, se revertei num óptimo final.
    Em relação à narrativa, a escolha em favorecer o “tell” em detrimento do “show” resultou bem aqui, visto haver muito a dizer com um pouco limite de palavras. Resultou bem pelo bom uso vocabular, de encaminhamento do enredo, e pelo ritmo colocado à leitura, usando-se para isso a alteração entre frases curtas e longas, por exemplo, e entre a introspecção e a narrativa dos eventos mais “práticos”, por assim dizer.

  20. Cicero Gilmar lopes
    25 de março de 2020

    Lucila, a mulher-dama, sente o peso da idade e do álcool em seu organismo, informa-se que foi casada e talvez fosse até feliz até conhecer o “aquele outro” com olho de anzol, paixão loucura, desvario e fogo no parquinho… o marido percebeu o bastou desconfiar e o casamento virou-se num inferno. Fugiu. Era bonita, não lhe faltou propostas, juntou dinheiro, abriu um negócio, de sucesso, mas nunca fechou a ferida em seu coração, entregou-se à cachaça ou rum… parece conformada apesar de amarga, foi o que a vida lhe deu. Longe dali, o “aquele outro” também parece sentir a mesma angústia.

    Considerações
    Outra historinha amarga. Parece que nesses tempos de pandemia, estamos, naturalmente, bem angustiados. É essa aflição que o autor (a) trabalha com enorme delicadeza, a tristeza que essa mulher carrega chega a ser sentida pelo leitor, graças a construção muito bem elaborada na prosa do autor (a). Parabéns, boa sorte.

  21. Cilas Medi
    24 de março de 2020

    Olá Guadalupe.
    Uma paixão fulminante, trouxe uma mulher para o desvarios de encontros escusos, sem ao menos pensar, raciocinar sobre a devassidão que acometia nos seus atos. Casada, um primeiro filho, segundo, terceiro, com a clara noção dos amigos e vizinhos que não eram “legítimos”, e, sim, filhos do outro.
    Fugiu quando a vida lhe trouxe embaraços e muita amargura. Tornou-se influente, cheia de clientes, formando um espaço, convidando meninas, sendo gentil e tornando-se rica. A vida amarga, lhe trouxe o desleixo e a tendência, cada vez mais, afogando na bebida. A morte como consequência, em agonia.
    Conto forte, imagens quentes e triste, enormemente triste da degradação humana, onde o sofrimento faz parte da vida diária. Envelhecer sofrendo dilacera a alma e torna amarga, mais e mais solicitada, a bebida.
    Um conto rápido, literal, extremamente triste.
    Boa sorte no desafio.

  22. Fheluany Nogueira
    23 de março de 2020

    Balanço de vida de uma mulher que passa de simples dona de casa a amante, meretriz e cafetina e, quando deixa tudo torna-se uma velha solitária. Ela continua amando o “outro”, que morre pensando nela.

    Um drama denso que trata dos desafios da vida, intensificados com a velhice. O enredo é interessante, pois faz analisar a convivência saudável e amorosa entre pessoas, sobre a fuga de problemas e o modo como se desliga das normas sociais. A protagonista repensando as próprias atitudes traz reflexões para o leitor.

    Leitura fluida e agradável, mas plana de certa forma. Talvez o texto ganhasse mais impacto se o leitor conseguisse maior empatia com a protagonista, conhecendo-a mais profundamente, sentindo melhor a sua dor, a decepção, a maneira cruel como o mundo trata os rebeldes.

    De todo modo, é um texto, bem escrito e que demonstra personalidade. Parabéns pelo trabalho e boa sorte. Abraço.

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Publicado às 22 de março de 2020 por em Envelhecer, Envelhecer - Grupo 2 e marcado .