Ele tem poucos minutos para compor o cardápio com o que tem na despensa. Afinal, hoje é um dia muito especial na vida dos meninos. Não demora muito e fica decidido o que seus três filhos terão para o desjejum. Ovos mexidos misturados a farinha de milho socada e um delicioso cozido de raízes nordestinas. Itens especialmente reservados para o primeiro dia dos pequenos na lida. Rapidamente ele acende o fogo, usando restos de madeira deixadas ao lado do fogão a lenha improvisado. A água, retirada do fosso na noite anterior, começa a ser fervida. Emiliano, o caçula do grupo, ajuda o pai mantendo o lampião aceso. De vez em quando, ele se esquece da sua importante função e brinca de prender mariposas que insistem em rodear sua luz. O pai, curvado sob sua muleta, o repreende. Ele deve aprender desde cedo que sua existência depende do seu aprendizado sobre responsabilidade. Emídio, o mais velho, parece não se importar. Ele vê a movimentação, vira do lado e, põe se a dormir novamente. Sabe que precisara de forças para dar conta do pesado cabo da enxada, até então, usada pelo pai. Minutos depois, o cardápio está sendo servido. Louças antigas encontradas na última roçada compõem a mesa. Eduardo, o filho do meio, se farta. Agradece o pai com os olhos marejados, pois, há dias, não comia com tanto prazer. Não há como não se emocionar.
Lá vão eles, oito, nove e dez anos. Tentam suprir a deficiência do pai, rememorando a gentileza da mãe que, há dois anos, foi de encontro ao Senhor. O dia amanheceu acinzentado e úmido, difícil para a lida. Eduardo parece não se importar, ele segura firme o cabo da enxada que insiste em escorregar das suas mãos. Emídio sempre foi um preguiçoso, ele senta para descansar antes mesmo de começar. Tem a mesma personalidade geniosa do pai, demonstrando ser o líder nas atividades. Apesar de não ser nenhum exemplo, ele chama a atenção do irmão caçula uma, duas, três vezes. O menino parou o que fazia para caçar insetos. Sem que se dessem conta, Eduardo já preparou quase 1/3 do terreno. Obstinado, ele quer que até o final do dia as sementes de milho que tem nas mãos tenham sido plantadas. Pela primeira vez depois de mais de duzentos dias o sol resolveu não aparecer. Seu João, agradece pela chance que a mãe terra deu aos seus meninos. Eles podem cumprir com a sua missão não precisando sofrer com o intenso calor que costuma fazer na região.
A vida no sertão é relativamente simples, eles moram em uma pequena casa feita de pau-a-pique, em dois cômodos médios divididos entre quarto e cozinha. O lugar onde depositam suas necessidades fica há trinta metros da casa principal. Um pequeno barracão feito de madeira do cerrado, coberto com folhas de palmeiras ressequidas. Próximo, existem dois estábulos vazios. Os cavalos morreram por causa da seca.
De longe, o pai os observa com semblante triste. Sabe que o destino é impiedoso com aqueles que nascem em terras que não comportam vida. De-repente, ele sente a perna direita. Ela vem praticamente sustentando todo o peso do seu corpo, desde que, a esquerda, começou a aumentar de tamanho. Ele não sabe exatamente o que tem. Faz uma semana que os dedos do pé esquerdo começaram a ficar enegrecidos. Não há médico nas proximidades, motivo pelo qual, teve de enterrar sua esposa antes mesmo dela receber qualquer atendimento de saúde. Subitamente ela deixou de respirar. No ano que ela os deixou, eles tiveram a mais intensa seca de todas as que já viveram.
Maria tinha 36 anos quando partiu, mas, aparentava ter cinquenta pela lida. A pele enrugada pelo sol e pela fuligem do fogão a lenha fizeram com que ela perdesse qualquer tipo de vaidade pela sua pessoa. Escondia na leveza de seus olhos claros a tristeza que carregava pela falta de recursos. Teve dois, dos seus três filhos em casa, apenas com a ajuda do marido, nunca reclamou do tipo de mulher que se tornou. Embora pobre, é descrita pelos seus como sendo uma mulher feliz, quando ainda estava com vida.
João, herdou dos pais as terras onde mora. Conheceu Maria quando foi tentar a vida na cidade de São Paulo. Infelizmente, não fora bem acolhido na grande metrópole. Analfabeto e inexperiente, ele teve de voltar para sobreviver, mas, trouxe consigo o seu grande amor. Ele tinha dezessete e ela quinze quando se casaram numa singela cerimonia feita na cidade de Marajá do Sena, no estado do Maranhão.
“Parece que vai chover”, ele diz. Faziam seis meses que aquelas terras não eram umedecidas pelas lágrimas do nosso senhor. Ele se lembra que, toda vez que chovia, Maria dizia que Deus chorava em meio a sua pobreza. Neste dia, ele derrama sobre o solo as lágrimas de dor de João. Ele está inconformado por não conseguir se movimentar como sempre fizera. Teve de pôr na lida seus filhos que não tiveram a chance de ter uma infância feliz.
Assim que os primeiros pingos de chuva intensificam, os meninos retornam correndo para casa. Rapidamente eles colocam os vasilhames para encher com as águas formadas das lágrimas do senhor.
Eduardo não se contenta, ele quer que hoje mesmo as sementes de milho estejam plantadas. Ele volta sozinho para o terreno e dedilha sobre a terra pequenos buracos que ganham forma pelo chão umedecido. Depois de duas horas pontilhando, ele completa a sua missão, não restando um só grão esquecido. Depois que termina, ele se senta de onde Emídio o observava. Pensa numa forma de levar felicidade ao pai que hoje lhe preparou a mais maravilhosa de todas as refeições.
Os dias seguem e os meninos dão continuidade as suas vidas. Caminham por cerca de duas horas para chegar no local onde recebem instruções básicas de matemática e português. Eduardo é o mais esforçado. Ele diz ao professor que seu desejo é o de se tornar o cozinheiro mais famoso do Brasil. Seus colegas riem, afinal, ele sequer tem o que comer, com o que vai aprender a cozinhar?
Quando menos se espera, uma briga foi começada. Emídio fora quem a começou. Ele está irritado com os comentários do colega sobre o sonho do seu irmão. O professor os repreende e acaba expulsando o justiceiro Emídio da sala de aula. O menino sai todo nervoso, chutando o pequeno cãozinho que dorme recostado na entrada. Eduardo pede ao professor que reconsidere. Emídio tem bom coração, mas, está muito triste desde a partida de sua mãe.
O tempo, impiedoso, faz os dias virarem semanas, meses, anos. Eles continuam com o plantio do milho, fazendo valer todo aprendizado que tiveram com o pai. Produzem mensalmente o básico para o seu sustento. Infelizmente, o pai também se foi deixando os filhos sob os cuidados da terra onde moram. Eduardo, agora com dezoito, decide que nunca mais se permitirá levar uma vida assim. Ele viu a mãe falecer subitamente. Viu o pai definhar sem receber ajuda. Vê os irmãos passar fome sem que ninguém pareça se importar. A mesma escora de madeira que servira de muleta para o pai, agora lhe serve como apoio para sua pequena trouxa de roupas despejada sobre os ombros. Ele decide arriscar e conquistar o mundo que seu pai não fora capaz de fazê-lo. Os irmãos lhe desejam sorte, sabem que não podem fazer nada para impedi-lo. Emiliano, todo emotivo, entrega para o irmão o mais belo de todos os seus tesouros. Um pequeno colar feito das pequenas ramas de uma roseira plantada pela sua mãe. A única que floresceu antes dela subitamente deixar este mundo. Ele lhe diz que o objeto lhe trará sorte e proteção. Mas, Eduardo parece não se importar. Não acredita muito em sorte dadas as condições que sua família tem de viver.
La vai ele, o garoto que leva na alma todo peso do sofrimento de sua família. Este, não se permitirá perder. Enquanto isso, Emídio prepara o seu pequeno barracão esperando poder receber sua amada. A partida do irmão parece ter lhe servido de ajuda. Ele faz ajustes para que todos possam viver em harmonia. Emiliano também se prepara para trazer sua nova namoradinha até sua casa. Todas as noites eles caminham sertão adentro, buscando nas cidades vizinhas suas almas gêmeas.
Quanto ao pobre Eduardo, por quanto tempo deverá caminhar? Ele pegou a estrada rumo ao oceano, carregando na bagagem um sonho. Quem sabe um dia poder preparar uma refeição tão deliciosa quanto a que lhe preparou seu pai. Sobre a extensa estrada de terra a sorte começa a lhe guiar. Um caminhoneiro que por ali passa lhe estende sua mão. Na boleia ele se lembra. Tanta dor e tantos sofrimentos foram deixados para trás. Depois de dias viajando, ele parece sentir pela primeira vez o cheiro da maresia. O ar salgado, rodeado pelas águas de areias brancas o convidam a ficar. Ele desce agradecendo o caminhoneiro que fora o primeiro deste novo mundo que se propôs a lhe ajudar.
Emídio sente a falta do irmão. Apesar de bem acompanhado ele sabe que talvez nunca mais o reveja. Há seis meses ele não tem nenhuma notícia. Emiliano, agora casado com Cacilda, divide com o irmão as responsabilidades do lar. Os tempos são outros, as terras prosperam. As raízes de mandioca recém-plantadas começam a brotar. Eles se assustam com a rapidez com que suas terram germinam.
Nas primeiras noites vividas na Paraíba, Eduardo dorme sob a luz das estrelas. Ele não se importa muito por não ter onde ficar. O medo, também não parece que possa lhe importunar de qualquer forma. Quem tudo perdeu não tem muito com o que se preocupar. Ele segue com o seu plano de arrumar um bom emprego e se tornar o mais famoso cozinheiro que já existiu. Por sorte, e ele está tendo muita desde que saiu do sertão, o famoso “NAU FRUTOS DO MAR” procede com a sua contratação. Com a ajuda de um amigo que recém fizera, ele consegue lugar para ficar, trabalhar, se vestir e logo, custear suas poucas despesas.
Sete anos já se passaram e, Eduardo, agora com pouco mais de vinte e seis, aprendeu as mais avançadas técnicas usadas no cozimento de peixes e frutos do mar. Seu risoto de camarão cremoso acompanhado do saboroso vinho “Château Haut Brion” se tornou uma especialidade oferecida pela casa, estando no rank dos pratos mais sofisticados servidos na região. No início das temporadas, o NAU recebe mais de três mil visitantes numa única semana.
No dia 23 de dezembro do ano que completara seis anos trabalhando como ajudante no maior restaurante da cidade da Paraíba, Eduardo recebe uma carta dos seus irmãos.
A/C EDUARDO
Eduardo! É com muita satisfação que comunico a você que o seu terceiro sobrinho está a caminho. Eu vou dar a ele o seu nome, acrescentando o júnior ao final. Mesmo sabendo que você ainda não se casou e não tem filhos, eu te cumprimento pelos seus esforços. Sei que você está em busca da realização dos seus sonhos e, com certeza, vai conseguir meu irmão. A vida no sertão não é mais como era antes. A sorte, nos sorriu, conseguimos mudar nossa pequena casa, fazendo dela um sitio de médio porte. Terras que, como dizia nosso pai, um dia iriam jorrar leite e mel. Produzimos leite e queijo, frutas e hortaliças para a cidade. Não faz muito tempo, fiz um curso do SEBRAE, onde aprendi sobre a importância de distribuir parte do que não usamos para as famílias mais carentes. Nós sabemos como a vida no campo pode ser dolorosa quando os recursos são poucos. Emiliano está bem e lhe manda um abraço. Cacilda está ansiosa para vê-lo. Vimos no jornal que o restaurante onde você trabalha possui a melhor refeição de toda região. Espere um pouco e chegaremos até você para comemorar todos os nossos esforços. Estive revendo as escrituras que estão no nome do nosso pai. Temos mais terras do que um dia sonhamos ter. Estou cuidando da sua parte. Felizmente, a vida sorriu para nós. De vez em quando, vejo nosso pai, sentado embaixo da grande árvore onde sempre brincamos. Eu sei, parece loucura, mas, tenho certeza de que ele olha por mim, assim como olha por você. Mamãe também aparece nos sonhos do Emiliano. Ele sempre diz que ela o protege através do colar que ele lhe deu. Por favor, use-o sempre. Fique em paz meu querido irmão. Breve nos reencontramos. Até lá se torne o mais famoso chefe de cozinha que um dia este país já conheceu. PS: Emídio e família. Nós te amamos muito.
Deste dia em diante, Eduardo nunca mais foi o mesmo. Abrir as portas para um jovem sem referências foi a melhor de todas as apostas feitas pelo NAU desde que o restaurante foi inaugurado. Os clientes vêm de longe para experimentar as refeições preparadas pelo, agora conhecido, Subchefe Eduardo Freitas que compõe graça e leveza a cada um dos pratos que prepara.
Seus títulos crescem, assim como, a sua fama. Os críticos se perguntam: Como é possível que um garoto do sertão que nunca havia experimentado pratos sofisticados, consiga combinar iguarias com tamanho requinte?
Os jornais locais queriam conhecer os segredos que levaram o restaurante aos mais elevados índices de aceitação. Em entrevista Eduardo lhes conta sobre quem foi, suas perdas e sobre a importância da realização do seu sonho. Enquanto responde às perguntas para três dos mais importantes jornalistas do país, ele lhes prepara a mais formosa de todas as surpresas culinárias. O cardápio básico composto de leite de coco, farinha de milho e um delicioso preparo com raízes nobres, deu origem ao famoso cuscuz nordestino, predominantemente feito de iguarias simples. Eduardo lhes fala sobre a sofisticação de seu prato, mas, reserva para si os seus segredos, mantendo vivo dentro de si o desejo de um dia poder reencontrar aquele que mais amou na sua vida.
Um otimismo que atrapalha.
Resumo: Três irmãos batalham para sobreviver ao sertão. Até que, depois de muito esforço, as coisas começam a dar certo.
Querido autor, admiro sua postura positiva. E sua coragem. Inundar um conto com tanto otimismo assim é perigoso, haha. Eu sou um otimista, na realidade, mas geralmente escrevo com toque de tragédia e tristeza. O problema é que você afogou o conto com positivismo.
Entenda: não há problema algum dar um tom positivo ao conto. Mas, quando exagera, a ponto de criar situações irreais para ajudar o personagem, como a terra ficar fértil magicamente, você sem querer empobrece o texto.
Outro fator que enfraqueceu o conto foi a narrativa desorganizada. Saltos temporais bruscos demais, variação no tempo verbal, etc.
Você precisa colocar mais conflitos no conto. Eduardo, por exemplo, conseguiu ajuda de todos os lados e conquistou o sonho sem maiores desafios. Por que, por exemplo, não colocar uma situação onde o caminhoneiro o roubou? Por que não colocar que outra pessoa ganhava os méritos por suas criações? Conflitos que incitam o leitor e fazem com que criemos mais simpatia pelo personagem.
Enfim, pratique mais! E seja um pouco mais cruel pra seus personagens!
Querido Leitor. Lhe sou grato pela leitura e pelas criticas pra lá de construtivas. É fato que vivemos inundados de desgraças e de coisas ruins. Conseguir ajuda então…nem se fala…O orgulho e o egoismo estão tao presentes que, ser positivo, parece até ser algo ruim. Vamos deixar morrer este aspecto, inclusive, na literatura.
🗒 Resumo: o texto conta a história de uma família que vive uma vida sofrida no sertão nordestino. A mãe morre cedo (provavelmente de sede) e o pai cria e ensina seus filhos como pode. Após a morte do pai, o do meio arrisca a vida na cidade grande e os outros dois cuidam da plantação. Tudo, então, dá certo no fim: Eduardo vira um renomado chef de cozinha e os outros conseguem prosperar com a fazenda.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): a história é boa, apesar de não ser totalmente nova. É bonita a relação do pai com os filhos e a amizade deles.
Depois que o pai morre, porém, a trama acelera demais. Acontece muita coisa no curto espaço do texto. Aquele ritmo bom aplicado no início se perde e uma sucessão de coisas simplesmente acontecem, sem maiores detalhes. Usando jargões da literatura, o texto usa bastante o artifício de mostrar (show) no início, criando uma boa conexão com os personagens. Mas depois acaba usando demais o contar (tell), afastando o leitor. Fiquei feliz de saber que eles melhoram de vida e conseguiu realizar o sonho, mas não vivi nem vi como foi isso. Percebe a diferença?
📝 Técnica (⭐⭐▫▫▫): o autor mostrou no início que sabe contar uma história. Precisa, primeiro, escolher uma que caiba no limite do desafio ou distribuir melhor as palavras entre as cenas iniciais e finais. Geralmente é aceito correr no meio, mas não nos pontos chave. Além disso, ajustar alguns pontos na revisão:
▪ *põe se* (põe-se) a dormir novamente
▪ Sabe que *precisara* de forças
▪ Sem que se dessem conta, Eduardo já preparou quase 1/3 do terreno. Obstinado, ele quer que até o final do dia (em alguns momentos, os verbos ficam no passado e em outros, como este, no presente)
▪ Pela primeira vez depois de mais de duzentos dias *vírgula* o sol resolveu não aparecer
▪ Seu João *sem vírgula* agradece (não se usa entre sujeito e verbo)
▪ Teve dois *sem vírgula* dos seus três filhos em casa
▪ João *sem vírgula* herdou dos pais
▪ dão continuidade *as* (às) suas vidas
▪ Quando menos se espera, uma briga foi começada. Emídio *fora* quem a começou (aqui é outro exemplo de tempo verbal errático; o pretérito mais-que-perfeito deve ser usado qdo nos referimos a um tempo anterior ao período da narrativa, oq não é o caso)
▪ Mas *sem vírgula* Eduardo parece não se importar.
▪ *La* (Lá) vai ele
▪ Sobre a extensa estrada de terra *vírgula* a sorte começa a lhe guiar.
▪ Apesar de bem acompanhado *vírgula* ele sabe que talvez nunca mais o reveja.
🎯 Tema (🆓️): regional 🏜
💡 Criatividade (⭐⭐▫): na média para contos do tipo.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): o conto, como disse, ganha pontos pela boa apresentação dos personagens, mas encerra com narração muito distante, diminuindo o impacto.
🔗 Links úteis:
▪ Mostre, não conte (Show, don’t tell): https://www.ronizealine.com/2016/09/mostre-nao-conte-tecnica.html
▪ Vírgula entre sujeito e verbo: http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/minigramatica/mini/avirgulaosujeitoeoverbo.htm
▪ Vírgula no adjunto adverbial deslocado: https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/adverbio-deslocado
Obrigado Leo pelos comentários. Muito bem observado cada ponto. Nao tinha percebido esta questão do (Show, dont tell). Confesso que ja tinha lido a respeito, mas, não me situei o suficiente. Gostei muito da sua analise.
RESUMO:
Os irmãos Emídio e Eduardo vivem uma rotina dura de trabalho no árido sertão. Em meio a toda escassez, o pai prepara um prato de cozido, que Eduardo se lembraria por toda a vida e lhe faria perseguir o sonho de ser cozinheiro.
Morre a mãe, o pai, e os irmãos se separam. Emídio se casa e tem filhos, enquanto Eduardo consegue realizar seu sonho e se tornar uma grande chef.
COMENTÁRIO:
É um conto bonito, inocente até, eu diria. A narrativa não me agradou, principalmente por ser no presente, eu acho. Ficou muito com cara daquelas narrações em off dos programas da Globo descrevendo a rotina das pessoas antes do repórter entrevistar, sabe? Isso tira bastante o envolvimento do leitor (bom, pelo menos o meu).
O final, no entanto, tem um forte apelo emocional, como se tudo que estava represado aparecesse de uma vez com a lembrança do pai.
NOTA: 3,5
Como vai Xara? Honrado com a sua leitura e criticas. Conhecendo seu talento, sei que, sofreu pela analise. 3,5 superou minhas expectativas. Esperava algo de você em torno de 0,5, talvez 1,0. RSRSRSRS…Sabe que, baseei meu conto numa historia real. Mal formulado com certeza, mas, tem sim um gostinho de programinhas ao estilo Globo. No ritmo descrito, Tv Globinho. (Garotinho que morria de fome se dá bem ao conseguir um trabalho e não se tornar mais um perdido na vida).
O que entendi: 3 irmãos órfãos cuidam das terras herdadas no sertão nordestino em extrema pobreza. Eduardo, o mais obstinado e dedicado, decide se tornar um grande cozinheiro, em homenagem ao falecido pai. Vai para o litoral da Paraíba e realiza seu sonho. Os irmãos prosperam misteriosamente nas mesmas terras antes mortas.
Técnica: Embora esteja dentro dos padrões cultos da língua, não me agrada o fluxo descritivo sem manejo das emoções.
Criatividade: Interessante, a história é linda, mas a forma como foi construída não desperta empatia ou originalidade.
Impacto: Pequeno. O conto não surpreende.
Destaque: “Sabe que o destino é impiedoso com aqueles que nascem em terras que não comportam vida.” – Momento inspirado do texto.
Sugestão: Dar mais asas aos personagens. É tudo correto demais para convencer.
Obrigado Catarina pela sua leitura. É bem mais fácil acreditar em algo fantasioso do que na sorte de um garoto que se deu bem apesar das dificuldades enfrentadas. Alias, um garoto que perdeu a mãe ainda pequeno, viu seu pai definhar, sofreu pela fome e pela seca e, por esses acasos do destino, não morreu as mínguas na beira da estrada como muitos desejaram. Correto demais para convencer? Num próximo enredo talvez possamos transforma-lo num ladrão (ao estilo alladin), ou, um contrabandista que se dá bem as custas da desgraça alheia. Fica ai a reflexão.
Acho que não fui clara o suficiente. O que está “correto demais” não é a tragetória do personagem (muito boa por sinal), e sim a forma linear, sem emoção e contida com que o autor o apresenta. Peço desculpas pelo engano.
Resumo: Três irmãos sucedem ao pai na lida com o campo, quando ele já está adoecendo e a mãe já havia morrido. Eduardo resolve ir para a capital, enquanto os outros dois, Emídio e Emiliano, permanecem no agreste cultivando o solo árido. Eduardo se destaca como chefe de cozinha, enquanto os irmãos constituem família – Emídio lhe escreve (e Emiliano some na história) e fazem cursos no Sebrae para melhor a produção.
Método de avaliação: “Análise Jacquiana”
Receita: história de superação, ainda que com estrutura da “estética da miséria”, ou seja, enfatizando as dificuldades dos moradores do sertão. Prato feito, arroz e feijão com muita farinha.
Ingredientes: Pobreza, trabalho, suor e dignidade.
Preparo: a história em si é edificante e inspiradora, porém tem uma construção um tanto quanto explicativa demais, e a meu ver falta um eixo dramático, uma oposição ao desejo dos personagens – p. ex., Eduardo poderia querer ir, mas o irmão não deixa.
Sabor: um pouco mal passado, acho que a mistura está pronta, falta o fermento pra história crescer.
Frases motivacionais (quase aleatórias) do Eric Jacquin (ou coisas ele possivelmente diria) : “Quer me ver mau humorado? Me deixe com fome.”
Analise Jacquiana também conta meu caro. Quem sabe se a critica fosse nível Henrique Fogaça…kkk…Teria tido um pouco do bom gosto brasileiro.
Ficou com fome?
Pena.
Teve gente que se deliciou.
Pão com ovo não encanta os olhos, mas, mata a fome de muita gente.
Eu gosto de pão com ovo. E agradeço a chance de ter lido e comentado seu conto, pois também aprendi. Grande abraço!
Suplica do Sertão (Rosa do Deserto)
Resumo: A história triste e dura de uma família que sobrevive no meio de sertão brasileiro.
Fala, autor. Então, apesar da história ser crível, como um quadro realista bem pintado, não consegui me comover. Digo, por óbvio a história genérica me comove, porém não consegui me conectar aos personagens, nem mesmo ao Eduardo, que de longe foi o melhor elaborado. Suas motivações e sacrifícios não foram bem explorados, talvez pelo limite de palavras, mas fiquei com a sensação de mais do mesmo.
Usar o sonho de ser chef foi uma boa sacada, porém, mais uma vez creio que foi pouco detalhada a ligação com o personagem, creio que faltou um pouco de “estômago” para citar um clássico nacional, algo que desse mais verdade para a jornada do protagonista. Nesse tipo de narrativa a odisseia é a que faz a diferença e aqui ele foi realizada através de elipses. Ocorreu a apresentação do personagens, o mundo comum com suas dificuldades e depois temos já o final de redenção. O cozimento do meio ficou faltando. Enfim, apenas uma questão de opinião.
De todo modo, creio ser importante trazer a realidade do Brasil para nossas obras e fico feliz de me deparar como mais um exemplo disto. Parabéns e boa sorte.éns e boa sorte.
Obrigado pela sua leitura e pelos seus comentários. Tem pontos falhos sim. Não vou culpar o limite de palavras, pois, desde sempre sabemos que o texto deve se basear nestes limites. Quem sabe com treinos eu consiga chegar a atingir o estomago de alguém algum dia.
Emídio, Eduardo e Emiliano são filhos de família sertaneja, crescidos em ambiente rústico, de pobreza, que os faz trabalhar no campo desde criança. A mãe faleceu de doença e o pai, mesmo sem saber ao certo o que tem, não demora a deixá-los. Eduardo tem o sonho de ser um chefe famoso e parte para a capital aos 18 anos. Ele trabalha em restaurantes e vai subindo na carreira até, de fato, fazer sucesso com prato inspirado na comida que o pai fazia. Seus irmãos continuam trabalhando no campo e eles também conseguem uma sorte melhor do que a dos pais e a colheita prospera.
Rosa do Deserto, seu texto é simples e muito delicado. Gosto de como suas palavras passam a emoção, se esforçando para fazer um retrato da aridez da vida no sertão, sem deixar de passar a ternura que envolve seus personagens. Seu conto é isso, um sopro de carinho, uma história que exalta a força do amor fraterno.
Enquanto narrativa, seu conto apresenta fragilidades. Falta tensão nele. É uma história muito plana, começa nas dificuldades na família dos três irmãos que ficam órfãos e segue até o final feliz para todos. Acaba ficando tudo muito previsível, os personagens apresentam pouca complexidade. Nada contra histórias com final feliz. Mas é interessante que haja um desenvolvimento básico, do tipo: apresentação de um quadro, dificuldade para alcançar um objetivo, conclusão, com o objetivo alcançado.
Tenha cuidado com algumas questões de revisão. A frase “João, herdou dos pais as terras onde mora”, com esse sujeito separado por vírgula do verbo, dói nos olhos. Revisão é sempre bom, ainda que seu texto tenha poucos erros.
Boa sorte no desafio!
Sim Fernando. Algumas falhas que quando as vejo novamente, também me doí os olhos. Obrigado pela sua analise.
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado: drama, cotidiano
Resumo: a história de uma família sofrida do sertão. Os três irmãos, após perder os dois pais, se viram e lutam todos os dias contra as dificuldades que encontram no sertao. Apesar de tudo, conquistam seus sonhos.
Comentário: cara, que bela história você tem aqui! O conto, na verdade, se aproxima muito de um tipo de biografia fictícia muito bem construída. Vamos por partes.
(Meu teclado tá falhando, desculpe se eu comer letras).
Sendo sncero, o começo do conto me pareceu pouco pretensioso. Logo percebi que se trataria da vida da família e dos irmãos, e não via muito que pudesse ser dito pra me conquistar na leitura. Mas foi o oposto!
Li o conto sem parar, pendurado nas palavras. Algo na beleza poética, na poesia triste que emana da vida no sertão, e que você retratou tão bem, me pegou. Acompanhar a vida sofrida daquela família, os sonhos das crianças, a força do pai pra continuar protegendo-os, os pequenos atos de amor em meio á miséria – especialmente muito bem retratada pela excelente refeição que o pai prepara, cujo principal ingrediente é o amor.. tudo no tom certo,tudo bonito e emocionante.
Aliás, o fato de o amor do pai ao preparar aquela simples refeição ter despertado no filho o amor pela culinária foi algo de muito bom gosto no enredo.
Continuando, a história segue num crescendo que me encantou bastante. A luta diária, o passar do tempo, a personalidade de cada um dos irmãos. Tudo cresce no leitor ao passar do conto.
Acho que a carta final é a cereja no bolo. Adorei. Em geral, cartas caem bem em contos hahahah. Não foi diferente aqui. Singela e bonita.
O conto retrata, especialmente, o amor e união dos irmãos, ferramenta essencial no caminho de superação que trilharam. Acredito que sozinhos, não seriam capazes.
A história, como não poderia deixar de ser, foi triste e emotiva, especialmente pq retrata a realidade de milhões de brasileiros diariamente.
O desfecho me emocionou e arrepiou. Muito bom!
Um ponto que gostaria de colocar é qe o conto apresenta vários errinhos de pontuação, especialmente de vírgula. Por exemplo:
– “Maria tinha 36 anos quando partiu, mas, aparentava ter cinquenta pela lida”
– ” João, herdou dos pais as terras onde mora.”
– “A sorte, nos sorriu, conseguimos mudar”
Entre outros.
Não gosto muito de fazer isso, ficar listando erros. Entenda que não faço isso por prazer, mas sim pq notei que você comete um erro recorrente, separando o sujeito do predicado – Jõao , herdou
Além disso, fiz questão de falar da parte gramatical simplesmente pq gostei mto do conto, e acho que, com uma revisãozinha gramatical, pode ficar ainda melhor!
Enfim, bom trabalho. Muito bonito e real.
Ah, tem alguns erros de pontuação, também, inclusive no título “Súplica”. algo que pode causar má vontade em alguns leitores. Erro no título é algo que é sempre bom evitar.
Parabéns e boa sorte!
Obrigado Guilherme pela sua leitura e pelas suas observações. Muito pertinentes por sinal. Feliz de saber que captou a mensagem deixada no texto.
Resumo: História de uma família do sertão nordestino, que sofre com a seca, fome e ausência de tratamento médico. Apesar das adversidades, os filhos conseguem superar e seguir em frente. A terra onde moram prospera e Eduardo, o filho mais velho, se torna um cozinheiro famoso na capital, realizando seu sonho de criança.
Um conto singelo e muito bem escrito, que trata das dificuldades do sertão brasileiro. As adversidades são relatadas no texto de forma natural e refletidas no posicionamento dos personagens, atingindo-os de diferentes maneiras. O caminho de superação que os irmãos percorrem dá um gosto especial à leitura. Eu cresci com a minha experiência como leitora desse conto. Nele tem muito mais que delicadeza: tem verdades, uma realidade tão presente até os dias de hoje. Parabéns pelo conto, Rosa do Deserto. Uma história de uma beleza forte e singela ao mesmo tempo. 🙂
Carolina. Muito importante seu comentário para mim. Não são todos que podem ou conseguem realizar um sonho. Na literatura, isso é possível.
Resumo: Um menino muito esforçado que sonha em ser o chef mais famoso do mundo cresce nas dificuldades do sertão mas não deixa de seguir seu sonho, fazendo-o acontecer!
Olá, autor!
Mesmo o conto precisando de revisão, não atrapalhou a compreensão da história, muito singela e bonita. Uma história de lutas, sofrimentos, fé, superação e força de vontade! Eu gostei do conto! Sua escrita é direta e sua ambientação é muito boa! Com certeza os colegas vão enumerar o que precisa ser revisado, não deixe que isso o aborreça, aprenda sempre e se aperfeiçoe! Um conto que mostra muito o potencial do autor. Continue praticando! Parabéns e boa sorte!
Priscila…Que pertinente seus comentarios. Sei do seu talento e da sua pratica. Alias, suas narrativas são demais de impressionantes. Obrigado pela leitura e pela analise.
Resumo: a história de três irmãos – Emídio, Eduardo e Emiliano – desde a roça no sertão nordestino, até a vida adulta, quando superam as dificuldades, com destaque para Eduardo, que se torna chef no restaurante Nau.
Impressões: o conto me parece como um esboço, um resumo de uma história de maior fôlego. Isso porque temos os alicerces da trama fincados de maneira genérica, mais como um relato jornalístico do que como uma história propriamente dita. Abranger longos períodos de tempo em um conto é sempre arriscado, dada a possibilidade de se parecer superficial demais. Creio que foi isso que aconteceu aqui. Muita coisa se passa na vida dos três meninos, mas não há tempo para o leitor se identificar ou ver-se cativado por qualquer delas. Creio que se o autor tivesse optado por fechar o foco em apenas algum dos capítulos — como a viagem de Eduardo entre o sertão e o litoral, mesmo entre lembranças — o resultado seria melhor, já que seria possível, aí, dedicar-se aos detalhes necessários para tornar uma história singular e, nesse sentido, permitir ao leitor se emocionar. A história é triste, reconheço. Verdadeiramente triste, mas sucumbe ao generalismo, parecendo-se como tantas outras que ouvimos ou vemos a respeito do nordeste brasileiro.
Apesar de envolver superações, apesar, também, de estar bem escrita, a trama não traz o leitor para o meio do sertão de fome, nem faz com que ele, o leitor, torça por um pouquinho de chuva. Ao contrário disso, o relato trata quem lê como mero espectador, como alguém que acompanha os dramas de longe, como quem assiste a um episódio do Globo Repórter sentado em uma confortável poltrona e que, mesmo lamentando o que vê, não dispensa uma boa taça de vinho, enquanto planeja, no fundo da mente, um jantar romântico num restaurante chique.
Enfim, se o texto se trata de um esboço para algo maior, creio que o resultado foi válido. Enquanto conto, porém, ficou amplo demais.
De todo modo, parabenizo o autor e desejo boa sorte no desafio.
Obrigado Gustavo pelo seu comentário. Mestre na arte, diga-se de passagem. Eu ainda questiono este meio que deve expor sempre o sertão como um ambiente totalmente hostil, onde ninguém é capaz de vencer. Creio que eu tenha tentado passar essa mensagem. Foi arriscado sim a cronologia, mas, é um desafio. É uma faca de dois gumes. Teve quem gostou. Teve quem odiou. Teve quem achou mediano. Tal como o comentário do Fabio, ter saído no estilo jornal ou programa de teve, não foi intencional. Mas, se fosse, talvez tivesse tido melhor aceitação. De todo modo, agradeço.
Resumo: um pai, no interior do sertão, tenta dar uma refeição digna aos filhos antes de mostrar o trabalho pesado a eles. Um desses filhos, anos depois, consegue seguir a vida na cidade grande como cozinheiro renomado, repetindo o mesmo prato que seu pai tinha feito.
A introdução do conto é muito boa e consegue contextualizar bem a história, trazendo a questão da pobreza e da seca, do trabalho árduo e da fome. Não conhecia a palavra “lida” pra trabalho e gostei como, nas entrelinhas, também trouxe questões como a falta de médicos e a dificuldade de se viver nos lugares afastados, como a cena em que as crianças levam os baldes pra encher na chuva. Percebi alguns errinhos, como umas vírgulas trocadas de lugar, mas nada que atrapalhe a leitura. Por trazer essa carga de dramaticidade, que sempre está presente nas melhores histórias desse Brasil, acho que faltou um pouco de ousadia em ir mais além. A volta por cima, a ida pra cidade grande e a homenagem ao pai através da culinária é bonito, mas achei um pouco simples em relação ao contexto e à escrita, que é muito boa. A carta do irmão, citando o SEBRAE, pareceu um pouco comercial de curso.
Obrigado Felix. Relevâncias consideráveis na sua analise. Muito Obrigado.
Car(x) autor(x)
Estou aproveitando esse desafio para desenvolver um sistema de avaliação um pouco mais técnico (mas não menos subjetivo). No geral, ele constitui nas três categorias propostas no tópico de avaliação: técnica, criatividade e impacto. A primeira refere-se à forma, à maneira com a qual x autor(x) escreve, desde o uso de pontuação, passando por ortografia e mesmo escolhas de estruturação. A segunda refere-se ao conteúdo, ou seja, a que o conto remete e quais as reflexões que podem ser levantadas a partir disso. Por fim, a terceira refere-se ao estilo, quais as imagens construídas e as emoções que elas evocam. Gostaria de pontuar, também, que, muitas vezes, esses critérios têm pontos de intercessão entre si, sendo que uma simples palavra pode afetar dois ou mesmo três deles. A pontuação final é dada, portanto, pela média dos três critérios, sendo que uma nota elevada em um deles pode elevar a nota final. Dito isso, prossigamos à avaliação.
Resumo: A história de três irmãos que enfrentam a seca do sertão. Um deles parte, e se torna um famoso cozinheiro.
Técnica: A escolha de utilizar o presente do indicativo não funcionou aqui. A narrativa acaba perdendo um potencial caráter épico que poderia adquirir caso narrada no passado. Isso acabou por limitar um pouco conto. Além disso, alguns problemas com a pontuação e o paralelismo também afetaram a leitura.
Criatividade: O tema da fome é sempre interessante e o paralelo traçado com um dos irmãos ter tornado-se um grande cozinheiro também tinha grande potencial. No entanto, justamente pelo motivo mencionado no tópico anterior, o conto acabou por impor um limite a si próprio.
Impacto: Apesar dos problemas apontados, a emoção consegue impactar x leitor(x). Os personagens conseguem ser empáticos o suficiente para que seus dramas acabem extrapolando a mera dimensão do conto e alcançando o efeito catártico desejado.
Classificações interessantes no seu modo de julgamento. Pelo menos, impactou, um pouco. Não esperava chegar alem disso. Obrigado pela sua leitura Evandro.
Sinopse
E meio ao sertão, lugar regado pelas lágrimas de Deus, uma família tenta sobreviver lavrando a terra, separando com a enxada o capim seco das pedras, buscando a fertilidade de uma terra arrasada. O viúvo tenta sustentar seus três filhos, mas a idade avança e as doenças já se fazem presente. Os meninos crescem cercados de desesperança, mas mantendo seus sonhos vivos.
Comentário
Parabéns entrecontista, de minha parte, elejo sua história como o melhor conto da série A. primeiro, foi relato foi totalmente crível, me identifiquei com essa história, sou interiorano, filho de um casal de agricultores e fiquei muito comovido. Acho que um bom conto, para além das técnicas e do primor da escrita, deve sim apelar para os sentimentos. Afinal de conta, somos humanos, e como diria Nietzsche, a arte existe para que a realidade não nos destrua. Fico ainda mais feliz de ver autores, assim como você, abordando os nordestinos com o respeito e a dignidade que nós merecemos. Não apenas falar da miséria, que de modo infeliz, mesmo com tantas mudanças políticas-econômicas ainda se abate sobre nós, mas você também tratou de esperança, de ação e mudança. Isso, fez o seu conto receber nota máxima em todos os sentidos. O caminho apontado foi excelente: educação e conhecimento. Esses são os dois pilares que que retiraram nosso povo da miséria e impedir que uma senhora de oitenta viva ao lado de uma turbina eólica e não tenha energia elétrica em casa. Mas moralizar a pobreza não é a via correta, como foi mostrada no conto, sem oportunizar e democratizar a educação e conhecimento, os nordestinos continuaram subdesenvolvendo-se, ou melhor, vegetando como cactos, relembrando o que Euclides da Cunha disse: “O nordestino é antes de tudo um forte. Mas, mesmo o forte as vezes sente dor. E a piro de todas as dores é a desesperança, olhar para um lado, olhar para o outro e não ter motivos pra sonhar e quando se sonha, você vira piada. Me identifiquei muito com o personagem Eduardo, assim como ele, não queria a lida na roça, não por ingratidão ao meu pai, mas porque sabia que tinha meu próprio caminho a seguir (ser historiador e professor de História) e por saber que a agricultura familiar de subsistência hoje é algo improdutivo. Por tudo isso, lhe agradeço por partilhar essa experiência de leitura, foi muito agradável. E realmente, um cuscuz com leite de coco é bom que só!
Notas de Leila Carmelita
– A Gata de Luvas – 4,0
– A Hora da Louca – 4,5
– A Onça do Sertão – 3,6
– A Pecadora – 5,0
– App Driver – 1,0
– Estantes – 5,0
– Famaliá – 3,5
– Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada – 5,0
– Lágrimas e Arroz – 1,0
– Muito Mais que Palavras – 1,5
– Na casa da mamãe – 3,5
– O Legado da Medusa – 4,5
– O que o Tempo Leva – 1,8
– O Regresso de Aquiles – 4,0
– O Vírus – 2,5
– Suplica do Sertão – 5,0
– Trilátero Ourífero – 4,5
– Uma História de Amor Caipira – 1,0
Contos favoritos:
Melhor técnica – Estantes
Mais criativo – Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada
Mais impactante – A Pecadora
Melhor conto – Suplica do Sertão
Caríssimo participante deste certame. Lisonjeado com a sua pontuação. Nem de longe esperava atingir nota assim de algum concorrente. Eu confesso que quando reescrevi este conto, por que de inicio ele foi produzido com meras 250 palavras e, eu o transformei em 2500, me emocionei bastante. Esperava cativar mai, isso é fato. Mas, cativou você. Obrigado pela sua analise tao importante.
RESUMO:
João, viúvo, vive com os seus três filhos no sertão. Doente e incapacitado para o trabalho na roça, tem que contar com os filhos ainda crianças para substituí-lo na lida. Emiliano, Emídio e Eduardo possuem personalidades diferentes, mas carregam o mesmo fardo. O pai acaba falecendo e os filhos seguem suas vidas, mas um deles resolve tentar a vida na cidade grande, alcançando o sucesso como chefe de cozinha. ao mesmo tempo, a vida dos irmãos no sertão também prospera. A culinária de Eduardo baseia-se em uma receita feita pelo seu pai nos tempos difíceis no sertão, utilizando as raízes nordestinas. Final feliz para os três irmãos.
AVALIAÇÃO:
O conto traz o universo do sertão brasileiro, representados por três irmãos e o pai. Ao contrário do que poderia se supor, a narrativa leva a um final feliz, fugindo do padrão seca-miséria-mortandade.
Há um tom poético na caracterização dos personagens, principalmente do pai. Isso torna a leitura mais suave, um mergulho no universo da família retratada com realismo, mas ao mesmo tempo delicadeza.
Alguns pequenos lapsos de revisão:
misturados a farinha > misturados À farinha
De-repente > de repente
cerimonia > cerimÔnia
Faziam seis meses > fazia seis meses
O ritmo da narrativa é constante, mantendo a atenção do leitor, mesmo sem grandes momentos ou reviravoltas surpreendentes. O conto é um história simples, singela, que tempera com amor o solo seco.
Parabéns por participar da última rodada da Lia 2019. Feliz Natal e que 2020 traa muita saúde, inspiração e realização de projetos.
Querida leitora. Obrigado pelos seus comentários. Feedback maravilhoso. Desejo a voce tambem boas festas.
Resumo
Eduardo mora com o pai e dois irmãos no sertão do maranhão, onde levam uma vida simples e sofrida. A mãe faleceu dois anos antes e o pai os cria sozinho, ensinando os a plantar para ajudá-lo. Um dia o pai também morre e Eduardo resolve ir embora atrás de seu sonho de ser cozinheiro. Com o passar do tempo ele se torna um reconhecido chef e seus irmão também se ajeitam na vida.
Comentário
A mensagem do texto é bonita, mostrando que devemos lutar pelos nossos sonhos. Porém ela não deixa de ser algo já utilizado demais, o que tornou o texto bastante previsível.
Acho que a morte do pai poderia ter sido melhor trabalhada, pois quase passou despercebida em minha leitura.
Os tempos verbais são alterados durante o texto, ora é presente ora é passado.
Também acho que faltou uma coesão entre os parágrafos, o que garantiria uma maior fluidez ao texto.
“Emídio sempre foi um preguiçoso, ele senta para descansar antes mesmo de começar. Tem a mesma personalidade geniosa do pai, demonstrando ser o líder nas atividades.” –preguiçoso e líder nas atividades me parecem qualidades conflitantes.
Suplica – súplica
vira do (de) lado
precisara – precisará
foi de encontro ao Senhor – ao encontro do Senhor
O menino parou (para) o que fazia (está fazendo) para caçar insetos – o texto até agora estava no presente.
Embora pobre, é (era) descrita pelos seus como sendo uma mulher feliz, quando ainda estava com vida.
João, (tirar a vírgula) herdou dos pais as terras onde mora.
Faziam (fazia) seis meses
Vê os irmãos passar (passarem) fome
Sete anos já se passaram e, (tirar a vírgula) Eduardo,
rank – ranking (talvez fosse melhor utilizar a alavra em português)
“Eu vou dar a ele o seu nome, acrescentando o júnior ao final” – pode isso?
A sorte, (tirar a vírgula) nos sorriu,
“Estive revendo as escrituras que estão no nome do nosso pai. Temos mais terras do que um dia sonhamos ter.” – não entendi essa parte. Se tinham terras por que viviam no sofrimento?
Súplica do Sertão
Resumo:
Três irmãos e um pai pelejam pela sobrevivência no sertão. A mãe já se foi, o pai também. Ficam os três irmãos. Um deles se manda em busca do seu sonho. Quer ser o melhor cozinheiro do pedaço, e corre em direção ao mar. Fica famoso. Os outros dois irmãos ficam na terra que foi do pai. A terra prospera, a família prospera. A vida fica boa para todo mundo.
Comentários:
Cara Rosa do Deserto,
Um conto sobre as dificuldades do povo do sertão nordestino.
Creio que este seja o quarto ou quinto que leio neste desafio.
Todo conto conta, já disse isso em outro conto, e esse conta uma história de três irmãos e um pai, uma danada de uma terra que não deixa a vida florescer com facilidade.
Acredito que o autor tenha optado por contar uma história sem grandes reviravoltas, sem grandes conflitos, salvo pelo conflito de viver a vida sobre uma terra seca.
Creio que a opção de tornar quase todas as frases não recursivas, picadas e curtas, deu ao conto um ritmo pouco usual, onde cada pensamento começa e acaba tão rapidamente quanto começou. As frases acabam e terminam, dizem o que têm a dizer e não derivam a pensamentos consequentes, concludentes, adversativos. Isso dificulta a leitura, que funciona como uma espécie de luz estroboscópicas que se acende e se apaga repetidas vezes, e não se abre em largos pensamentos, dando profundidade ao discurso.
Recomendaria ao nobre autor uma revisão no modo narrativo do conto, tornando-o menos retilíneo, um pouco mais conflituoso.
No que se refere à escrita propriamente, anotei alguns pontos que merecem revisão:
“…põe se…” [põe-se]
“…fosso… [poço], dado que retira-se água de poço e não de fosso.
“…foi de encontro…” [foi ao encontro]
“…pau-a-pique…” [pau a pique]
Notei, também, problemas com a colocação de vírgulas
Súplica do Sertão (Rosa do Deserto)
Resumo:
A história de uma família do sertão nordestino. João (pai), Emídio, Eduardo e Emiliano (filhos). A vida dura, a seca, a fome, o desespero. Tudo é retratado. Eduardo, o filho do meio, depois de perder os pais, resolve tentar a sorte na cidade grande. Vai em busca de se tornar um grande cozinheiro. E consegue. Torna famosa a receita criada pelo pai e incrementada por ele.
Comentário:
Este é um conto comovente e que expõe as agruras da vida no sertão nordestino, as dores que marcam a caminhada do sertanejo. O texto possui muitos deslizes na escrita, carece de uma revisão bem cuidadosa. O autor demonstra ter grande sensibilidade, percebe-se em sua descrição detalhada durante toda a narrativa. É um conto que segue minuciosamente a estrutura tradicional: início, meio e fim, sem qualquer inversão. A linguagem é simples, direta. A narrativa mostra a ideia de uma conquista, reforça que a luta sempre é premiada, que vale a pena confiar e batalhar. Acho que a mensagem mais bonita que o texto traduz, é a gratidão que Eduardo nutre pelo pai. A homenagem em criar o “CUSCUZ NORDESTINO”, que nada mais é do que o prato que o pai preparava para a família, lá atrás, é o agradecimento que o filho concretiza. O segredo fica com ele.
Parabéns, Rosa do Deserto!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Regina. Obrigado. Que analise tão criteriosa. Vê-se que a mensagem foi captada. O texto foi lido com paciência e carinho. Não esperava menos de uma das pessoas que esta entre os que apresentam melhor escrita nestes certames. Meu respeito e minha admiração pelo seu trabalho.