Sempre gostei de palavras desde pequeno, segundo relatos de minha mãe. Do pouco que me lembro da minha infância, recordo que gostava de brincar com os sons das palavras, não me conformava com os nomes das coisas. Por que cavalo tinha que se chamar cavalo? Eu pensava em tantos outros nomes mais legais. Aquilo me incomodava, olhava para uma cadeira de madeira e via a matéria, via a alma do objeto. Esse nome lhe fora dado, mas eu me recusava a achar que estava sentado numa “cadeira.” Lembro-me que gostava de ler bastante e gostava de inventar estórias, mas grandes estórias mesmo ─ daquelas que todo mundo gosta de ouvir ─ nunca fui capaz de produzir. Sempre tive muitas ideias de estórias que seriam best sellers sobre os mais variados temas, todavia essas obras primas da Literatura universal nunca saíram da minha cabeça para tornarem-se textos vivos. Ah! Como eu queria escrever um livro onde estivessem todas as verdades da vida, um livro com todas as respostas e que mudasse não o mundo, mas as pessoas.
Crescido, o trabalho, as emergências e as contingências da vida me inibiram as possibilidades de tentar colocar para fora todos aqueles personagens do mundo das ideias com seus sonhos, suas dores e suas alegrias. Perseguido fui durante parte da minha vida por essas estórias que povoavam minha mente. Hoje, depois de muitos anos de espera, posso dedicar um tempo à criação e ao prazer que é produzido ao fim do parto de uma estória qualquer.
Não é fácil escrever uma boa estória. Quando a ideia chega, tenho que escrever, anotar. Não importa a hora, o lugar ou o momento. A memória é traidora, se descuido por um segundo, ela se ocupa com coisas que pra ela são mais urgentes: a água, a luz, o telefone…
Durante algum tempo, tenho que prender a ideia cuidadosamente na mente, se vacilo, o personagem que outrora se apresentava imponente, resoluto se esvai por entre tantos pensamentos. Os mundos criados a partir da ideia são rapidamente destruídos e desaparecem, o que era uma grande aventura some tão rápido quanto chegou.
O papel em branco em frente a mim é um universo de possibilidades, espero preenchê-lo com um mundo que sairá de dentro da minha cabeça. Onde está a inspiração? Pergunto a mim mesmo, mas não encontro resposta, talvez ela esteja guardada lá no fundo do meu cérebro. Passo as noites em meu quarto riscando e rabiscando frases, busco as palavras certas, porém como saber se serão as certas para aqueles que as lerão? Esse pensamento corrói meu ser, às vezes, escrevo várias páginas rapidamente, e mais rapidamente ainda as destruo; volto à página em branco.
Estou no meu quarto mais uma vez, fechei a porta para não ouvir o barulho da rua, estou trancado. Em minha frente, uma cadeira de madeira me espera, a escrivaninha com algumas canetas e lápis exige minha presença; sobre ela um abajur. Este me deu a luz necessária para atravessar noites a fio em busca das melhores palavras. Às vezes me pergunto por que estou escrevendo isso? Por que deixei todo aquele entretenimento para trás para ficar aqui sentado durante tantas horas, maquinando, catando palavras nos dicionários e lançando-as depois de polidas num papel? A palavra me persegue, a estória me vem de algum lugar e fica pendurada no trapézio de minha mente, insistente, ela não me dá sossego até que saia de mim em forma de arte. As estórias estão por toda parte.
Até que ponto fui fundo em mim mesmo para acessar uma ideia? De onde ela veio? Por que hoje ela apareceu pra mim? Chamou-me para o seu mundo? Perguntas sem respostas inundam meu pensamento. Estou só, procuro palavras em meio a um imenso jardim, mergulhado num infinito de possibilidades me desespero tentando colher as melhores flores para formar o meu buquê-estória.
Sentado, a simbiose entre mim e a cadeira começa. A caneta torna-se a extensão de minha mão, as palavras vão sendo transportadas lentamente através dela para o papel. Muito de mim agora tinge a folha com símbolos que, antes de serem estória, para muitos não valem nada. Tento construir algo sólido.
Estou tateando no escuro. Procuro agradar alguém que não conheço, alguém que talvez nunca conhecerei, mas sei que está em algum lugar, em todo lugar. Por que penso tanto nessa gente sem rosto e que comanda, de certa forma, minhas palavras? Por que essa ideia me sufoca se é pra mim que escrevo? Posso guardar todas essas páginas, todas essas pessoas, seres e mundos fictícios em minha gaveta, deixá-los apodrecer pouco a pouco tendo apenas a visita de ratos e baratas que habitam toda escrivaninha guardada naquele nosso quarto em que se guardam coisas que amamos e guardamos só para nós. Mas uma estória que ninguém lê é como um passarinho que passa a vida cantando para alegrar uma pessoa só.
O prólogo é apenas o início da jornada, é a ponta de um iceberg que se esconde. Quanto mais escrevo mais ele parece insuficiente e fraco e tênue. Por incrível que pareça ainda não decidi em minha cabeça se ele vai ser o início, o fim ou o meio. Ah! O tempo passa e o tormento aumenta. Na ânsia de escrever uma grande aventura o quanto antes, peço inspiração aos grandes mestres. Sei que tenho todos eles em mim, mas tenho a certeza de que não sou igual a eles e eles nunca serão iguais a mim.
Depois de muitos dias sentando e levantando da cadeira silenciosa, domino finalmente a estória começada. O papel agora não mais em branco exige mais palavras. Os personagens que criei, ainda sem formas concluídas, pedem um rumo para suas vidas. Indeciso, sem saber direito qual direção tomará a minha estória procuro, entre as muitas que já li, pessoas e lugares que jamais existiram, na tentativa de agradar ao “outro”. Esse “outro” que anseia por novas aventuras a cada dia.
Ponho os personagens no papel finalmente, se falta mais algum, não sei. Tenho um esqueleto, uma espinha dorsal de uma estória que vai me guiar pelo resto do meu caminho. Tenho a vida de pessoas em minhas mãos, tudo o que elas farão depende de mim, de minha vontade. Aos poucos vou construindo o mundo ao redor delas. Nessa hora pensamentos, os mais diversos, me vêm à cabeça: afinal, eu estou construindo o mundo para os personagens, mas até que ponto o ambiente define os personagens e os personagens definem o ambiente?
Simplesmente não posso fugir do meu destino, cartas na mesa e jogo começado preciso dar vasão às coisas que estão em minha mente. Personagens pululam pedindo um destino. Depois que a gente cria alguma coisa é responsável por ela, não posso por meus personagens em qualquer lugar, de qualquer jeito. Começo pelo mundo: era uma terra muito distante… não, não, não! Era uma vez, num planeta muito distante…
Quantas questões sobre a terra e sobre o universo me afligem? São as mesmas que incomodam meus personagens. Agora que eles têm um lugar posso descansar um pouco minha mente. Tomo um café ou um copo de vinho e, nesse momento, tento vagar sem rumo por terras distantes e mares nunca d’antes navegados. Deixo-me levar pela imaginação até onde Deus duvida, vejo mundos que criei outrora e me lanço em outros tantos que me foram mostrados pelas infinitas palavras que li. O café acaba. Agora de pé estico os braços e pernas, saio de perto da janela e volto à cadeira, volto a suar.
Ao iniciar cada parágrafo uma infinidade de ideias e rumos e desfechos e novidades e termos invadem minha cabeça. Arrumar e controlar o turbilhão que se forma nessa hora não é fácil, é preciso cortar aqui, aparar ali e tentar manter a ordem.
Definidos o tempo, o lugar e as pessoas, posso deixar os personagens caminhar. Algumas pessoas dizem que alguns personagens caminham com suas próprias pernas, outros dizem que eles têm que fazer sombra; outros ainda, que são eles que, em algum momento, fogem do controle do seu criador e tomam um rumo inesperado. Fugindo ou não, sou eu que estou no comando desse barco, e sendo assim, eles vão para onde eu os mandar ir. É certo que assim como a estória está presa a mim, eu também estou preso a ela. No comando ou não, não me sentiria feliz se a estória não conseguisse emocionar as pessoas, alegrar as pessoas, marcar as pessoas por minha causa, por culpa do meu egoísmo.
Depois de muitas horas de reclusão, depois de criar, organizar e montar tudo deixando todos os personagens em seus devidos lugares é chegada a hora do fim. Definitivamente, acho que ainda não sei qual a melhor maneira de terminar essa estória. Qual final eu devo usar? Seria melhor um final feliz ou triste? Enquanto a noite passa a dúvida persiste. Pergunto aos personagens, mas não obtenho resposta. Se algum deles tivesse vontade própria certamente me diria: eu quero ir por ali ou eu quero acabar assim… O tempo passa e as respostas não vêm, minha cabeça dói. Mas eu não paro, porque sem a arte não há vida.
Eu deveria estar alegre por ter terminado essa estória, mas um pouco de tristeza me acomete, talvez um misto de saudade e satisfação. Depois de muito suor gasto e de milhares de palavras desenhadas no papel, posso sentir aquela sensação de dever cumprido.
É uma parte de mim que foi criada, entrego-a nas mãos de todos. Não sei o quão longe ela vai chegar. Toda vez que uma estória chega ao fim eu me renovo. Amanhã, porém, devo iniciar uma outra.
Já tentei parar inúmeras vezes, me escondi atrás do trabalho e de outros afazeres tentando negar minha verdadeira natureza. É difícil viver com tantos mundos estranhos e tantos personagens diferentes andando de um lado para outro em sua mente pedindo para se libertar, pedindo para deixar de ser ideia e passar a ser coisa. Eu nasci assim, não posso mudar mais, mesmo que queira. É a palavra o que me mantém vivo, sou um artista da palavra, é assim que vivo.
Verter palavras é a minha sina. Só me reconheço por causa da palavra, acho que escrevo para curar as feridas, faço isso para aliviar a dor da dúvida. A dúvida de não saber quem sou, de onde venho ou para onde vou, espero encontrar a resposta em algum desses mundos que criei ou que algum personagem, de alguma forma, possa me mostrar como continuar vivendo de cabeça erguida até a hora de encarar o fim de toda criatura.
Quando escrevo não me preocupo muito com o final da estória: se o mocinho morre no fim ou se foram felizes para sempre; se foi comprida ou se foi curta, ou ainda, se agradou a dez ou a dez milhões. Para mim, isso pouco importa, porque o mais valioso, no fim de tudo, é o caminho. Pois é durante a construção da estória que eu me reconheço, é nessa hora que olho para dentro de mim mesmo e para dentro do Outro. É quando minha alegria aumenta, pois enfrento e destruo meus medos, meus fantasmas. Digo o que eu quero, e não o que querem que eu diga. Digo o que precisa ser dito, ainda que seja dito por alguém que só existe como palavra.
🗒 Resumo: escritor divaga sobre o tortuoso caminho de escrever uma história e sobre os personagens e mundos que povoam sua (nossa) mente.
📜 Trama (⭐⭐▫▫▫): Parando pra pensar um pouco, cheguei à conclusão que a trama é quase inexistente. O conto é mais um metaconto, um texto, uma crônica talvez, sobre as dificuldades de escrever e de não escrever.
Eu me senti representado e acredito que praticamente todos os avaliadores (escritores) também se sentirão. O problema é que o texto tem muita divagação e pouca coisa de fato: falta um conflito, um clímax… justamente aquilo que o narrador/autor do texto fala.
Só deixando claro que gosto muito desse tema de “sobre a escrita”, é um mote fantástico, mas como estamos avaliando contos, faltou uma história. O conflito até existe: um escritor com dificuldades de escrita, mas não houve resolução para esse conflito, nem clímax e outros elementos importantes para a história.
Queria ter visto, por exemplo, mais do menino que inventava nomes para as coisas e exemplo desses nomes. Acho que seria um bom ponto explorar as dificuldades dele com os nomes “padrões” e coisas do tipo. Só estou citando isso porque foi algo logo no início que me animou, mas depois ficou esquecido.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): a técnica é boa e apurada, apesar de um pouco simples. Em algumas frases, a pontuação ficou estranha, como em:
▪ Durante algum tempo, tenho que prender a ideia cuidadosamente na mente, se vacilo, o personagem que outrora se apresentava imponente, resoluto se esvai por entre tantos pensamentos (sugestão: Durante algum tempo, tenho que prender a ideia cuidadosamente na mente. O personagem que outrora se apresentava imponente, resoluto, se esvai por entre tantos pensamentos.)
▪ Esse pensamento corrói meu ser, às vezes, escrevo várias páginas rapidamente, e mais rapidamente ainda as destruo; (sugestão: Esse pensamento corrói meu ser. Às vezes escrevo várias páginas rapidamente e, mais rapidamente ainda, as destruo;)
🎯 Tema (🆓️): escrita 🖋
💡 Criatividade (⭐⭐▫): é um tema comum, mas não dá pra dizer que é totalmente clichê.
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): como o autor divaga, divaga e não chega à uma conclusão de fato, achei que o impacto do conto ficou reduzido.
RESUMO:
Devaneios intimistas sobre o ato de escrever, os objetivos, as frustrações, as procrastinações, etc.
COMENTÁRIO:
Então… infelizmente não considero que temos um conto aqui. É muito mais uma crônica, um artigo, uma página de diário, do que uma história.
Apesar da inevitável identificação com muitas partes, infelizmente não posso dizer que apreciei a obra como um conto.
NOTA: 2,5
Algo que parece muito pessoal…
Resumo: O processo criativo de um escritor explicado passo a passo, recheado de opiniões e direções.
Querido autor, espero que seja um conto mesmo, não uma declaração do que sente durante o processo criativo.
Não me entenda mal: não é desafio algum desabafar e revelar o que pensa e sente durante o processo criativo. É algo que pode ser difícil para alguns falar em público, mas num diário, sozinho, é algo muito fácil.
Se foi um exercício a parte, um conto mesmo, tendo você como autor opiniões diferentes do personagem apresentado, parabéns! Ficou sólido. Não encanta, infelizmente, mas sua escrita é bonita e simples. Fácil de acompanhar e entender.
Continue escrevendo e se desafiando!
Resumo: um texto confessional, no qual o autor conta do seu fascínio e luta com as palavras, em busca de histórias (ou estórias), sua motivação interna e sensações externas. É um texto onde nada acontece para fora, só para dentro do narrador, que ele mesmo admite, “só existe como palavra”.
Método de avaliação: “Análise Jacquiana”
Receita: Quase um mini ensaio sobre a escrita e o amor pelas estórias e palavras.
Ingredientes: digressões, pensamentos e sensações do autor, em vista da criação literária. Uma sopa, seria.
Preparo: o autor cozinhou bastante os ingredientes, mas a história permaneceu no mesmo lugar. É claro que a gente se identifica, mas falta efetivamente um complemento, uma história que vá do ponto a ao ponto b.
Sabor: apesar dos ingredientes, não há história, somente pensamentos e sensações. Ficou meio aguada, no meu paladar.
Frases motivacionais (quase aleatórias) do Eric Jacquin (ou coisas ele possivelmente diria) : “Sopa não é janta”.
Muito Mais que Palavras (Chico Spirro) (3;0)
Resumo: Um processo de escrita esmiuçado de dentro, de alguém que busca entender as motivações e sabe que jamais encontrará respostas objetivas.
Então, há uma certa repetição da palavra “estória” no texto, quase como uma obsessão., e como diria Pablo Neruda até as coisas mais sublimes da vida quando repetidas várias vezes tornam-se tolas.
É difícil não simpatizar com a história de alguém que também escreve e que é atormentado pelos mesmos demônios. O processo tão pouco sistemático, orgânico e sem muitas explicações. A busca do entendimento de quem o destinatário, que sabe existir, mas não identificar. O texto é recheado de questionamentos sem respostas, fato que reflete o estado ter “estar perdido” do protagonista.
Essa frase é muito boa, e traz a velha discussão da arte que se não é vista não é “Mas uma estória que ninguém lê é como um passarinho que passa a vida cantando para alegrar uma pessoa só.”
Comentários cretinos e aleatórios:
Para um texto onde o protagonista tem tanto apreço pela palavra, uma metáfora tão batida tira a credibilidade da premissa “é a ponta de um iceberg”, “ou eu que estou no comando desse barco”, o cuidado com a nova estória clama por novidade.
“preciso dar vasão às” no caso o correto seria dar “vazão”, deixar vazar, ou você estava querendo dar um Vaso grande e eu entendi tudo errado, rs.
O último parágrafo é a joia do texto! Preciso confessar que concordo com grande parte do que foi dito “Quando escrevo não me preocupo muito com o final da estória: se o mocinho morre no fim ou se foram felizes para sempre; se foi comprida ou se foi curta, ou ainda, se agradou a dez ou a dez milhões. Para mim, isso pouco importa, porque o mais valioso, no fim de tudo, é o caminho. Pois é durante a construção da estória que eu me reconheço, é nessa hora que olho para dentro de mim mesmo e para dentro do Outro. É quando minha alegria aumenta, pois enfrento e destruo meus medos, meus fantasmas. Digo o que eu quero, e não o que querem que eu diga. Digo o que precisa ser dito, ainda que seja dito por alguém que só existe como palavra.”
O texto de Chico Spirro é narrado em primeira pessoa, com um escritor descrendo sua relação com a escrita. Ele inicia relembrando a infância, sua paixão pelas palavras. A partir daí, ele mostra seu lado de criador, muitas vezes domado pela criatura, o que dá a impressão de ser o escritor, de certa forma, um prisioneiro de seu ofício.
O conto é muito bem escrito e, pela temática, não poderia ser diferente. Seria muito contraditório se o narrador/ autor, com tanto apreço pelas palavras, tivesse um texto pobre. Não é o caso aqui. O autor, Chico, é habilidoso na construção de suas frases e, enquanto estética, o texto é impecável.
Sobre a narrativa em si, acredito que a escolha do autor merece ser questionada. É um texto sem ação, basicamente descritivo. O que não é um defeito, evidentemente. Foi uma opção. Na minha opinião, entretanto, textos monótonos acabam destoando em um desafio competitivo. E o conto é um gênero do qual a gente espera ritmo, o desenvolvimento de uma tensão. O “Muito mais do que palavras”, nesse sentido, é bem lento, quase um grande desabafo do narrador.
Eu gostei, entretanto, da forma como a relação do autor com o texto lembra, de certa forma, a visão que muitos têm de Deus com o homem. Um criador que, em determinada medida, perde o controle de suas criaturas, vira refém delas. Não sei se era a intenção do autor, mas é uma interpretação possível. Enfim, boa sorte no concurso!
O que entendi: Um escritor “nato” passeia por seus fantasmas e anjos da criação. Algo como o “ser ou não ser” do processo criativo.
Técnica: Escrito dentro da norma técnica padrão. No fluxo de consciência não encontro uma estória e sim uma história. O que me leva a interpretar como uma “autocrônica” e não um conto.
Criatividade: Está exatamente no desespero de sua ausência, na autocrítica e no desenvolvimento caótico que o trabalho exige.
Impacto: Talvez por eu mesma passar a vida toda nesse autoflagelo, não houve impacto. Mas claro que me identifiquei. Quem cria sofre.
Destaque: “Procuro agradar alguém que não conheço, alguém que talvez nunca conhecerei, mas sei que está em algum lugar, em todo lugar.” Eis aqui o maior aliado do bloqueio criativo.
Sugestão: Trocar para a terceira pessoa, criar um escritor, personagem.
Resumo: Um conto sobre a arte (e labuta) de escrever. Um escritor que divaga e descreve sobre o ato de criar histórias e personagens.
Essa coisa de criação, o trabalho do ficcionista, é sempre muito interessante de se ler. Eu me surpreendi com um conto nesta linha, simples e bem escrito. Falar sobre a criação de personagens, de histórias, sempre me agrada. Compactuo com o narrador: “tentando negar minha verdadeira natureza”. Esses dias me peguei pensando sobre isso e cheguei numa conclusão: podiam me tirar tudo, menos a minha vocação (e ato) de criar histórias. Outro ponto que achei interessante foi “Digo o que eu quero”. Essa frase é muito interessante, porque ser ficcionista é isso, é exercer a sua vontade, ao contrário do que muitos dizem, o personagem não tem vida própria (digo, fora do autor). Gostei da leitura, fez-me refletir sobre minhas próprias criações. Parabéns! 🙂
Resumo: os devaneios de um autor, sua relação com as palavras, a escrita e o processo criativo de criar uma história.
Seu conto soa também como uma crônica, quase que um desabafo sobre o processo criativo da escrita, sobre como nós damos a vida aos personagens, mundos e situações que saem de nossa mente. E também é um texto sobre as palavras. Curiosamente, tenho duas palavras que estão entre as que menos gosto: efeminado e estória; duas palavras consideradas “corretas” no meio mais elitizado e culto para afeminado e história. Estando todas as quatro corretas e dicionarizadas (e como o protagonista do conto), acho a sonoridade de estória e efeminado horríveis. Mas voltando ao conto, um dos pontos interessantes é trazer a relevância da escrita (ou da arte em geral) na vida de muitas pessoas, que na verdade é uma necessidade. Não conseguimos viver sem criar, seja se será vista por muitos ou simplesmente guardada. É o que considero como arte verdadeira (sim, tenho essa visão romantizada…). E também cita o percurso da história sendo mais importante que o final. Em partes também concordo. Um conto que traz a relação de um autor com as palavras e seu próprio universo linguístico e artístico, sem trazer um grande conflito, mas que traz bons questionamentos.
Resumo: o fluxo de consciência de um escritor, desde a concepção mental da história até o fim do processo de escrita.
Impressões: evidentemente não se trata de um conto na acepção clássica do termo, mas uma espécie de monólogo consigo mesmo sobre as dificuldades que permeiam o ato de escrever. Não chega a ser algo novo, mas reflete muito bem os fantasmas que assombram qualquer pessoa que se dedique a fazer literatura. Claro que todos nós, autores, iremos nos identificar com esses momentos, seja com a profusão de ideias inspitradoras, seja com a tortura que, por vezes, é transferi-las para o papel, seja com o clima de fim de festa quando concluímos os trabalhos. Nesse aspecto, dá para dizer que este texto está bem escrito, já que consegue, como eu disse, resumir esse processo. No entanto, em vista dessa identificação imediata por parte do leitor-que-também-é-autor, a narrativa pode se tornar enfadonha, eis que nada de diferente acontece. Talvez funcione melhor com quem está há menos tempo na labuta literária. De todo modo, parabenizo o autor e desejo boa sorte no desafio.
Resumo: Metalinguagem expondo o processo criativo do narrador.
Olá, autor!
Não gosto de contos onde não há uma ação concreta, um começo, meio o fim, personagens… essas coisas… sou meio chatinha mesmo…
Os pensamentos do narrador são válidos e me fizeram lembrar de mim mesma em inúmeros frases, mas pra mim isso não é um conto… é um ensaio, um monólogo, sei lá o nome… entende? Se tudo isso estivesse no meio de ação e personagens o texto teria outro peso pra mim. Veja bem, não está ruim, só não se encaixa no que eu espero de um conto ficcional, seu texto me lembrou mais um diário de autor. Espero que os outros que vão julgar a série possam apreciar mais do que eu. Desculpe. Boa sorte!
Bom dia/tarde/noite, amigo (a). Tudo bem por ai?
Pra começar, devo dizer que estou lendo todos os contos, em ordem, sem saber a qual série pertence. Assim, todos meus comentários vão seguir um padrão.
Também, como padrão, parabenizo pelo esforço e desafio!
Vamos lá:
Tema identificado: biográfico, reflexões
Resumo: as reflexões de um escritor sobre o processo da escrita, as aventuras e desventuras que enfrenta para dar vida a todo um universo que se cria em sua mente.
Comentário:
Seu conto me pareceu algo meio que autobiográfico, como se você tivesse transferido para o papel todos os sentimentos, desafios, emoções, amores e desamores desse difícil (e apaixonante) ofício.
Digo isso pois consegui perceber claramente o quanto de você tem no conto. Também me identifiquei em muitos momentos. Acredito que você descreveu coisas que, em graus variados, todo escritor sente ou já sentiu.
Assim, o conto é muito eficiente em nos transportar para a realidade do narrador-personagem, algo quase empático.
Por outro lado, devo dizer que o conto, como está, acabou sendo um pouco cansativo pra mim. Talvez a ausência de diálogos, personagens e um enredo propriamente dito tenham tornado a leitura um pouco cansativa depois de um tempo.
De certa forma, no lugar de enredo temos mais uma auto-divagação, trazida por meio dos pensamentos do narrador. Isso, em si, é uma técnica interessante de narrativa. Acho que o que aconteceu, pelo menos pra mim como leitor, foi que o conto ficou um pouco longo demais pra essa técnica.
De qualquer forma, é um conto bem interessante. Também achei que tem uma linguagem poética bem bonita, e utiliza muito bem das metáforas como ferramenta pra tocar a imaginação.
Enfim, um conto muito interessante, com uma linguagem poética e boas metáforas, mas que acabou ficando um pouco cansativo pela extensão.
Parabéns e boa sorte!
Sinopse
Um homem divaga sobre as palavras e termina com uma análise crítica da sua produção literária. Movido pela curiosidade e o desejo de expressar ideias e emoções, o personagem escreve.
Comentário
Embora o texto esteja bem escrito e concorde em quase tudo, ele tem uma veia “ensaística”, não há nenhum grande conflito ou descoberta, nem sequer trama explícita. Toda a discussão do texto é válida, mas num desafio literário de contos, ainda por cima livre, vendo tudo que já li até agora, esse tipo de texto, sem uma trama para mobilizar as ações dos personagen(s), acaba por receber uma nota menor. A repetição da palavra “estória”, então de uso obsoleto, foi um outro fato negativo.
Notas de Leila Carmelita
– A Gata de Luvas – 4,0
– A Hora da Louca – 4,5
– A Onça do Sertão – 3,6
– A Pecadora – 5,0
– App Driver – 1,0
– Estantes – 5,0
– Famaliá – 3,5
– Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada – 5,0
– Lágrimas e Arroz – 1,0
– Muito Mais que Palavras – 1,5
– Na casa da mamãe – 3,5
– O Legado da Medusa – 4,5
– O que o Tempo Leva – 1,8
– O Regresso de Aquiles – 4,0
– O Vírus – 2,5
– Suplica do Sertão – 5,0
– Trilátero Ourífero – 4,5
– Uma História de Amor Caipira – 1,0
Contos favoritos:
Melhor técnica – Estantes
Mais criativo – Festa de Santa Luzia: Crônica de uma Tragédia Anunciada
Mais impactante – A Pecadora
Melhor conto – Suplica do Sertão
Resumo
Desde sua infância, o protagonista sempre gostou das palavras e de criar histórias em sua mente. Porém, mesmo tendo ideias muito boas, ele nunca as colocou no papel. Conforme foi crescendo, as preocupações do cotidiano o afastaram ainda mais da intenção de escrever algo. Porém, em dado momento de sua vida, ele decide escrever, colocar finalmente suas histórias no papel.
Comentário
É um bom conto, talvez pendendo para a crônica. Está bem escrito, porém, a mesma ideia foi se repetindo durante todo o conto, tornando-o, de certa forma, cansativo.
Na minha opinião, o último parágrafo contradisse o que foi dito no restante do conto. Quando ele diz que “Quando escrevo não me preocupo muito com o final da estória: se o mocinho morre no fim ou se foram felizes para sempre; se foi comprida ou se foi curta, ou ainda, se agradou a dez ou a dez milhões. Para mim, isso pouco importa” ou quando diz: “Digo o que eu quero, e não o que querem que eu diga.” Durante todo o conto ele se mostra preocupado com o que escreve, com o seu leitor… na minha opinião ficou um pouco contrastante.
“ao prazer que é produzido ao fim do parto de uma estória qualquer” – achei essa frase estranha.
A palavra estória já não se usa mais. Dê preferência ao uso da grafia história, mesmo sendo fictícia.
Car(x) autor(x)
Estou aproveitando esse desafio para desenvolver um sistema de avaliação um pouco mais técnico (mas não menos subjetivo). No geral, ele constitui nas três categorias propostas no tópico de avaliação: técnica, criatividade e impacto. A primeira refere-se à forma, à maneira com a qual x autor(x) escreve, desde o uso de pontuação, passando por ortografia e mesmo escolhas de estruturação. A segunda refere-se ao conteúdo, ou seja, a que o conto remete e quais as reflexões que podem ser levantadas a partir disso. Por fim, a terceira refere-se ao estilo, quais as imagens construídas e as emoções que elas evocam. Gostaria de pontuar, também, que, muitas vezes, esses critérios têm pontos de intercessão entre si, sendo que uma simples palavra pode afetar dois ou mesmo três deles. A pontuação final é dada, portanto, pela média dos três critérios, sendo que uma nota elevada em um deles pode elevar a nota final. Dito isso, prossigamos à avaliação.
Resumo: Um(x) escritor(x) se depara com o maior drama de todos: o conflito entre o escrever e o não-escrever. Durante tal processo, elx tem uma série de divagações.
Técnica: Gosto da aplicação do fluxo de consciência aqui, já que ele permite ao conto um aspecto mais intimista e permite a(x) leitor(x) mergulhar no drama dx narrador(x). Talvez uma coisa que tenha atrapalhado um pouco foi a aplicação de um vocabulário um pouco irreal. Em alguns momentos, essx narrador(x) perde um pouco sua humanidade justamento por soar estranhx.
Criatividade. O tema em questão é sempre interessante. Refletir sobre o processo de escrita é algo que todxs fazemos. Apesar de certas reflexões interessantes, em muitos momentos o conto acaba caindo no cliché, utilizando-se de frases prontas para apontar o processo. Isso acaba por afetar o potencial do conto.
Impacto: Justamente em razão do supramencionado uso de clichés, o conto é menos impactante do que deveria. Ele não atinge x leitor(x) de forma apropriada. A empatia não é desenvolvida para que a emoção possa se desenvolver e, portanto, impactar.
RESUMO:
Escritor relata a sua vida literária desde a infância quando brincava com as palavras, mas não passava as ideias para uma forma mais concreta. Com a chegada da vida adulta, e as atribulações e responsabilidades, não há espaço para desenvolver a escrita, que fica relegada a um segundo plano. Depois de muitos anos de espera, consegue se dedicar à criação e tira as estórias da imaginação. Passa a enfrentar as dificuldades da escrita – inspiração, o papel em branco, a busca por uma estória interessante, a fugacidade das boas ideias, os personagens, etc. Por fim, assume que escrever é uma sina e serve para curar suas feridas, um processo pelo qual se reconhece, uma catarse necessária.
AVALIAÇÃO:
Mais do que um conto, o seu texto é um relato/crônica sobre o processo de criação. Está bem escrito e faz com que haja empatia da parte dos outros escritores. Não há nada de surpreendente, muito pelo contrário, acredito que a intenção tenha sido criar uma familiaridade com o assunto abordado.
Não percebi falhas importantes de revisão. Tudo parece muito adequado quanto à forma.
O ritmo da narrativa é mais para o lento, contínuo, mas não deixa de ser agradável. Não há mudança de foco, ou entraves que dificultem a leitura.
Devido à provável identificação do leitor com o tema abordado, acredito que este conto alcance o seu objetivo de passar a ideia do processo criativo, com seus altos e baixos.
Parabéns por participar desta última rodada do desafio 2019. Feliz Natal e um excelente e inspirador 2020.
Muito Mais que Palavras (Chico Spirro)
Resumo:
É a narrativa do processo criativo de um autor. Ele nos conta as várias fases pelas quais passa até que um texto é colocado no papel. E, também, a sensação que tem ao terminar.
Comentário:
Na minha limitada compreensão, encontrei, aqui, uma crônica. Uma reflexão sobre o processo criativo de escrita, como ele se processa dentro do “autor”. Percebe-se que o trabalho foi feito por alguém que conhece um pouco de tudo. Vai de Camões a Manoel de Barros, de Saint-Exupéry a Raul Seixas. (“…e mares nunca d’antes navegados” – “recordo que gostava de brincar com os sons das palavras, não me conformava com os nomes das coisas. Por que cavalo tinha que se chamar cavalo?” – “Depois que a gente cria alguma coisa é responsável por ela”. – “…em minha cabeça se ele vai ser o início, o fim ou o meio.”. Viajei?! O autor tem espírito “espevitado”, curioso. Da qualidade do texto, posso dizer que achei excelente. A leitura ficaria mais fluente se a pontuação fosse mais cuidada. Há muitas vírgulas em lugar de ponto. Daria fôlego ao leitor, e daria mais encanto à escrita. Agora, a capacidade de envolver o leitor é constante. O texto traz uma profundidade tamanha daquilo que matutamos em nossos silêncios, que parece que o autor fala para ele mesmo. Existe verdade, dá a impressão de que é a alma falando. Interessante o dilema que toma o “autor” quando ele fica em busca de agradar o outro (leitor), e o desapego que ele mostra, ao final, quando diz: “Quando escrevo não me preocupo muito com o final da estória: se o mocinho morre no fim ou se foram felizes para sempre; se foi comprida ou se foi curta, ou ainda, se agradou a dez ou a dez milhões…”. Contrapontos que me levam a pensar que o autor, mesmo se apresentando como pessoa mais velha (idosa), mostra um espírito de iniciante na escrita. Cheio de dúvidas, de questionamentos, de virtudes incipientes. Falo do “autor” (personagem), não do autor do texto. E, para o “autor” (personagem), acho que é Chico Spirro (?), “o negócio num é mole, não”. Escrever é pensar muuuuuito, é ser meio louco. Ou completamente. A descrição das indecisões do autor, da sua luta interna para “escrever”, a preocupação com o destino dos personagens, uma vez que o traz para ele a responsabilidade pela sorte que os guiará, é de dar aflição até mesmo no mais insensível dos leitores. O texto é um grito de desconforto, de busca dolorosa, tira o sossego. Confesso que, se eu sentisse um tiquinho só dessa angústia para “criar” um texto, sei não… Misericórdia…
Chico Spirro, Chico Spirro!!! Parabéns pelo trabalho!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Muito Mais que Palavras
Resumo:
Reflexões de um sujeito que não consegue parar de imaginar e escrever seus textos, suas histórias.
Comentários:
Caro Chico Spirro,
Conto-reflexão acerca da escrita. Provavelmente o personagem narrador sofre de hipergrafia; é possível.
O conto corre bem, sem problemas, mostrando as necessidades do personagem em realizar seus sonhos, seus pensamentos, transformando-os em histórias.
Bem, todo conto, em princípio, conta, conta algo, uma história. E foi isso que aconteceu. A história de alguém que sente necessidade de escrever suas histórias e as escreve, e ao fazê-lo, volta a sentir a compulsão por escrever novas histórias.
O texto, por escolha do autor, não tem drama – salvo o drama evidenciado pelas dúvidas do protagonista -, não tem conflito com terceiros, onde tudo funciona permeado pelos conflitos internos do personagem narrador. Uma risco, efetivamente, tal escolha.
Tem um viés poético abordando temas já bastante conhecidos e discutidos entre os participantes do EntreContos. Escrever para quem? Para si ou para os outros. Há importâncias íntima em não ser lido por terceiros, ainda que haja a pura satisfação de criar histórias, mundo, personagens?
Uma boa reflexão, essa.
O texto precisa de poucas correções, que talvez tenham sido deixadas de lado pelo autor quando focou seu interesse no construtivismo do conto, o que não é mal, embora precise de acertos mesmo assim.
A única coisa que, neste construtivismo imaginado pelo autor, me deixou desconsertado, foi quando criou um conflito subliminar entre a adoção das palavras para os objetos – “cadeira” para cadeira, por exemplo – e a sua própria arte de escrita. Achei uma correlação frágil. Seria interessante abdicar de tal escolha, focando o centro do discurso na própria necessidade de cumprir sua hipergrafia.
Boa sorte no desafio.