Carpe diem, quam minimum credula postero. A frase do filósofo Horácio Flaco é uma máxima que, se eu voltasse no tempo, tatuaria no pulso da criança que fui. Uma tatuagem com letras garrafais, para aprender logo e jamais esquecer. Não precisaria, evidentemente, ser em latim. Poderia ser “aproveite o dia de hoje, confie o mínimo no amanhã”. Sem a tatuagem, precisei aprender na prática. Um aprendizado um tanto doloroso.
As primeiras lembranças que tenho de mim são de expectativa. Eu, um pequeno de três anos, de pijama e banho tomado, tentando domar o implacável sono. Mamãe tentava, com suas histórias, me fazer adormecer. Eu, valente, fazia um esforço hercúleo contra a queda das pálpebras. Até que, finalmente, podíamos ouvir o carro estacionando na garagem. Quando a porta se abria, papai me encontrava na sala, olhos brilhantes, sedento por atenção.
Ele mal tinha tempo de deixar a maleta no sofá e eu estava em seus braços. Meu pai me erguia, eu sentia que estava na altura dos aviões. Ele me rodava, me lançava para mais alto. Eu ria, todos ríamos. Minha mãe assistia a tudo com satisfação. Então, eu corria até meu quarto e voltava com a bola e os carrinhos. Ensinava papai como brincar, ele aprendia rápido.
Não sei o quanto duravam aqueles momentos. Provavelmente, algo em torno de cinco minutos. Era tarde para uma criança ficar acordada, minha mãe dizia, fazendo com que eu desacelerasse o ritmo e fosse para a cama. Obediente, eu aceitava a sentença. Ansioso para, na noite seguinte, continuar a brincadeira.
Então, entrei na escola e, como precisava acordar cedo, mamãe não me deixava esperar até tarde. Papai, em contrapartida, demorava cada vez mais para chegar. Passavam-se dias sem que nos víssemos. E, quando acontecia, não era como antes. Eu estava crescido, ele não me levantava mais tão alto. Meu pai chegava cansado e eu precisava aprender matemática.
Então, papai se foi. Vítima de um enfarto fulminante no trabalho. Um divisor de águas na minha vida. Ainda que aqueles momentos de brincadeira já não ocorressem mais, havia esperanças de que, assim que eu decorasse a tabuada, voltaríamos a viver aquela alegria intensa. Agora, estava acabado. Eu sentiria falta daqueles momentos por toda a minha vida.
Ainda que fosse um menino, passei a ser preparado para assumir a empresa da família. Fui para escolas exigentes, comecei a frequentar o local de trabalho do meu pai. De forma nada sutil, meu destino estava traçado. A empresa, legado milionário que papai deixou, precisava de um presidente e minha infância estava acabada.
Demorou um pouco até eu assumir o posto. Formei em administração, fiz cursos na área de economia no exterior. Nossa empresa lida com soluções em tecnologia e exigia que eu estivesse em constante processo de atualização. Não era uma vida ruim. Há prazer quando você fecha um contrato lucrativo, quando aumenta as receitas. Claro que há. Mas não era como driblar meu pai com uma pequena bola, ainda que ele claramente ficasse parado de propósito.
Alegria nesse nível eu só viveria com Madalena. Estatura mediana, porte esguio, as curvas na medida certa. Seus cabelos encaracolados, castanhos escuros, contrastavam com olhos de um verde absurdo.
Nós nos conhecemos em um jantar na casa de amigos em comum. Madalena estudava biologia, mas não sabia o que queria fazer da vida. Era tímida, com movimentos contidos e boa ouvinte. Enquanto eu falava de minha rotina enfadonha no trabalho, ela mantinha um sorriso. Ninguém sorria como ela, de forma tão doce. Em poucos minutos, soube que precisava me casar com ela.
E nos casamos. Uma cerimônia pomposa, igreja lotada e com uma recepção cujo preço faria corar o maior dos perdulários. Eu estava feliz, sentia finalmente que aqueles anos de dedicação aos negócios seriam recompensados com a satisfação pessoal. E, de certa forma, voltei a ser aquele menino esperando ansioso a chegada do pai. Só que, dessa vez, era eu que vinha do trabalho tarde da noite e Madalena quem me aguardava.
Valia a pena. Tínhamos uma sintonia. Ficar em silêncio ao lado dela era excelente; conversar, melhor ainda. Qualquer jantar, uma omelete que fosse, se compartilhada com ela, era especial. Os beijos de Madá eram suficientes para me lançar a uma altura superior à do voo dos aviões.
Eu continuava trabalhando muito. A empresa passava por um momento turbulento, o mercado estava inconstante e minha presença era muito exigida. Sobrava pouco tempo para o casamento.
Nossa primeira viagem foi para Portugal. Após passar por Lisboa e Porto, descemos para o sul do país e ficamos na praia de Zavial. A água do mar tinha um azul bem claro, era fria como o sol, que não agredia nossa pele. Ali, sem muitos turistas por perto, éramos exclusivos um do outro, sem obrigação alguma. Minha única função era admirar Madalena serpenteando pelas areias grossas da praia.
Encantado com minha bela esposa, banhando-se naquele mar gigantesco, pensei no quão frágeis nós somos. Minúsculos, até. Foi quando entrei em pânico. E se Madalena se afogasse? Ou bandidos aparecessem e, de forma precipitada, alvejassem minha mulher? Ou se ela adoecesse com aquela brisa? O medo se instalou em mim e acabou com a minha tarde.
No quarto do hotel, naquela noite, Madá foi especialmente voraz. A forma como ela me olhava, o desejo transbordando por aqueles grandes olhos verdes, me fazia perder os cinco, dez quilos do sedentarismo. Eu me sentia poderoso, capaz de fazê-la plena. Isso só acentuou o temor. Definitivamente, eu não poderia perdê-la.
Voltamos ao Brasil, para nossa rotina. Madalena era uma mulher muito simples, não inventava desejos, pedidos ousados. Ela só queria minha companhia, que fizéssemos coisas juntos. Podia ser uma ida ao cinema, um sorvete em dia quente.
Passaram-se anos e eu garanto que nada me deixava mais feliz do que meu casamento. Claro, tínhamos fases de instabilidade. Todo relacionamento tem. Mas nada que não pudesse ser contornado. Madalena nunca se encontrou profissionalmente, era uma infelicidade que a acompanhava. Em compensação, minha esposa era uma excelente anfitriã, organizava recepções impecáveis, que me ajudavam nas relações de trabalho. A decoração de nossa casa e, sobretudo, nosso jardim, eram impecáveis, mérito dela.
Não tivemos filhos. Não era algo que desejássemos. O amor entre nós bastava. Não posso mentir, eu me ausentava demais da casa, privilegiei o trabalho em muitos momentos. Um erro, admito. O conforto que Madalena me proporcionava valia muito mais do que qualquer ganho profissional.
Custei a aprender a máxima de Horácio Flaco. O medo de perder minha esposa, como havia ocorrido com meu pai, me assombrava diariamente. Só consegui me livrar desse terror quando recebi, por e-mail, um anúncio do projeto Eternize. Uma empresa japonesa, a MK2, especializada em construir ciborgues, prometia, por meio de alta tecnologia, produzir “clones” robóticos de pessoas.
Achei curioso. Um clone androide? A MK2 afirmava que a construção do corpo era a parte mais simples. Através de moldes, a empresa reproduzia em minúsculos detalhes a pessoa clonada. O backup da personalidade era a etapa mais complexa, já que a empresa prometia a experiência de ter a pessoa duplicada no ciborgue. Para isso, eram realizados inúmeros mapeamentos neurológicos, entrevistas e exames. Esse era o motivo de só ser possível ter androides do projeto Eternize baseados em pessoas vivas.
Na época, ciborgues ainda estavam sendo assimilados pela sociedade. Havia um alto custo que inibia pessoas de adquirirem androides para cumprir tarefas que não queriam fazer, por exemplo – para isso, era mais barato contratar pobres. Mas, para quem o dinheiro não fosse obstáculo, a tecnologia era uma possibilidade.
Era uma ideia polêmica. Li muitos comentários dizendo se tratar de um projeto pretensioso, que colocava em risco a humanidade como a conhecemos. Ler sobre o Eternize, porém, me deixou inquieto. De fato, Madá e eu éramos tão felizes que eu gostaria de congelar nossas vidas naquele momento. Como isso era impossível, garantir a presença dela, independente de qualquer adversidade, poderia ser uma solução.
Apresentei para minha esposa o material sobre o Eternize. Pedi que ela avaliasse participar do projeto não só por mim, mas como uma contribuição para a ciência. Não colou. Madalena achava a ideia ridícula, substituir pessoas por androides. Era cética, disse que eu gastaria dinheiro e, no fim, receberia uma boneca falante.
Tentei argumentar, disse que era uma empresa séria, com anos de mercado. Valia a aposta. Mas, por fim, o que convenceu Madá foi meu choro. Sim, chorei como uma criança. Um choro sincero, incontrolável. Era a única forma de demonstrar que eu não suportaria viver sem ela.
O pranto foi convincente. Madalena concordou em participar, mas me garantiu que era desperdício de dinheiro, afinal ela sobreviveria a mim.
Consegui uma rara licença na empresa e fomos para Tóquio. Passamos um mês lá, com Madalena sendo examinada, medida e entrevistada por uma equipe multidisciplinar da MK2. Nunca havíamos passado tanto tempo juntos. Voltamos ainda mais conectados.
Ao fim dos testes, os cientistas me garantiram que, com os dados obtidos, estavam aptos a produzir uma versão androide de minha esposa. Segundo palavras deles, ela estaria eternizada a partir de então.
O medo de perder minha mulher passou. Finalmente, aproveitei o momento. Vivemos contentes por mais quinze anos. Então, em um dia nublado, Madalena se foi. Tudo aconteceu muito rápido, não tive tempo de fazer nada por ela. Repentinamente, ela ficou abatida, desleixada, sem interesse pelas atividades que costumavam motivá-la. Seus olhos, tão expressivos, tornaram-se opacos, com olheiras profundas. Minha esposa estava afligida por um mal da alma, e eu, imerso em outros problemas, não percebi. Sem me dar conta do que se passava, perdi minha Madalena.
O abatimento no qual submergi foi estrondoso. É um milagre eu ter sobrevivido. Vivi nove meses de um luto austero, amargo. Havia semanas em que era um workaholic, trabalhando dois, três dias sem interrupção. Sobrevivia do pão-de-queijo e do café da empresa, sem dormir nem tomar banho. Em outros períodos, não saía da cama, bebia garrafas de uísque, tinha alucinações com Madá.
Até o dia em que, finalmente, o luto passou. Era preciso seguir em frente.
***
Quando fui à sede da MK2 buscar o ciborgue encomendado, não fazia ideia do que encontraria. Poderia, como Madalena havia dito, ser uma boneca falante. Mas eu tinha esperanças na ciência, acreditava que receberia algo melhor.
Estava certo, mas não podia imaginar o quanto. Era perfeito. Os cabelos, a boca, os olhos. Até a voz, o jeito de falar. Toquei em sua pele, com medo de sentir uma textura de tecido, mas não: eu podia jurar que tocava minha esposa. Mesmo o cheiro era idêntico ao de Madá. Era o clone exato de minha esposa de 15 anos atrás, quando os moldes haviam sido feitos. A personalidade era idêntica. A nova Madalena seguia com seus gestos cuidadosos, ar decidido e a postura carinhosa.
De volta ao Brasil, vivemos uma situação interessante. Ela era idêntica à Madá, mas era uma nova esposa. Eu a conhecia muito bem, mas ela ainda estava se acostumando a mim. A adaptação, entretanto, foi rápida. A inteligência artificial baseada em minha ex-esposa fez Madá reconhecer em mim as qualidades que haviam encantado sua antecessora. Em poucos dias, ela estava apaixonada.
Sofremos preconceito. Amigos e vizinhos rechaçavam a convivência conosco. Para eles, minha Madalena era uma bizarrice, uma excentricidade que deveria ser guardada na intimidade. Eles até não se importavam que eu namorasse uma ciborgue comum. O extremo mal gosto, segundo eles, era ela ser uma réplica de minha ex-mulher.
A tecnologia havia avançado sensivelmente nos últimos anos. Ciborgues eram mais comuns do que quando o projeto Eternize fora lançado. Agora, eles estavam difundidos na sociedade, com utilizações variadas. Podíamos encontrá-los em atividades militares, praticando modalidades esportivas e como requintadas garotas de programa, por exemplo. Provavelmente por algum fetiche masculino, a utilização de androides para fins sexuais era a mais comum.
Não era isso que eu procurava com o clone de minha esposa. Para saciar uma possível curiosidade, sim, o comportamento sexual também estava reproduzido de forma exemplar. Ter aquela jovem Madá sobre mim, seus seios eretos, o corpo em ebulição, era uma verdadeira máquina do tempo. Eu perdia minhas varizes, a barriga, o princípio de calvície. Também rejuvenescia.
Nós nos mudamos para um condomínio afastado. Não precisávamos daqueles amigos antiquados. Tínhamos uma segunda chance. Ninguém se importava com o fato de Madá ser um ciborgue. Minha esposa participava de projetos sociais, clubes de leitura e estava empenhada em ter o jardim mais bonito do condomínio. Tudo estava bem. Eu era imensamente grato ao projeto Eternize. Graças a ele, seria feliz até o fim de minha vida, pois sempre haveria Madalena ao meu lado. Era o que importava.
***
Passaram-se anos. Até que, numa tarde de sexta-feira, senti uma imensa saudade de minha esposa. Havia sido uma semana com expediente até tarde da noite. Resolvi me dar meia folga de presente. Por isso, fui para casa sem avisar, pensando em beber um bom vinho com Madalena, relaxarmos à beira da piscina.
Mas minha esposa tinha outros planos. Ao entrar em nosso quarto, a vi na cama com nosso jardineiro. Fiquei sem reação diante da cena. Nunca gostara daquele homem, de seus modos arrogantes e do sotaque de imigrante. Tinha pele morena, queimada de sol, e corpo musculoso. Eles não perceberam minha presença imediatamente, de modo que fiquei ali, de forma patética, observando tudo. Foram segundos, talvez, mas pesaram como uma eternidade. Quando me viu, a nova Madalena, em um reflexo inútil, puxou o lençol para se cobrir, assustada. Em contrapartida, o homem não se importou, exibindo orgulhosamente sua nudez. Parecia querer que eu lhes desse privacidade.
Como isso não aconteceu, ele juntou suas roupas encardidas e se foi. Pediu licença, mas não ouvi desculpas.
Foi humilhante. Encontrar minha esposa copulando com um desqualificado. Ainda assim, não podia perdê-la novamente. Implorei para Madalena não me deixar. Eu perdoaria a traição, fingiríamos que nada havia acontecido. Qualquer coisa, desde que ela ficasse. Não adiantou. Ignorando minhas súplicas, ela partiu.
Horas depois, liguei para a primeira Madalena. Apesar das circunstâncias traumáticas do divórcio, quando ela buscou judicialmente cortar todas as relações comigo enquanto eu surtava, não foi difícil obter seu contato. Ela agora vivia na Alemanha, havia se casado novamente. Contei a ela sobre como seu clone era perfeito, reproduzindo-a nos mínimos detalhes. Até na tendência à infidelidade e, sobretudo, na incapacidade de me suportar por toda a vida. No fim, eu havia sido abandonado por duas Madalenas. Do outro lado da linha, minha ex-esposa, constrangida, lamentou por mim.
Não precisava. Como eu disse no começo dessa história, carpe diem, quam minimum credula postero. Eu nunca mais seria a criança que rodopiava nos braços de meu pai. Mas eu poderia viver feliz o momento de agora. Para isso, bastava uma rápida ligação internacional e a próxima Madalena estaria encomendada.
____________________________________
CONTO AVALIADO: Madalena Eterna
____________________________________
Olá Major Matoko; tudo bem?
O seu conto é o décimo primeiro trabalho da Série B que eu estou lendo e avaliando.
————————————-
O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
————————————-
Gostei bastante do seu domínio de pena, demonstrado pela escrita prolixa, direta e isenta de erros gramaticais.
Gostei também da forma que você consegue controlar e desenvolver, de maneira crescente, a carga emocional colocada no texto. Isso atrai o leitor para a narrativa e o ‘fideliza’ à história. Parabéns!
O ótimo ritmo narrativo também foi bem sentido por mim; principalmente na primeira metade do trabalho. Talvez, devido à limitação de palavras exigida pelo Certame, a inserção da FC na história (que se dá com o aparecimento da MK2 na narrativa), ficou um pouco abrupta, se comparada à forma com que a mesma vinha fluindo até então. Porém, creio que o espaço para se desenvolver o segundo conflito (já de raiz FC) ficaria pequeno demais caso não tivesse sido inserida naquele momento. E, depois disto, a segunda metade da história volta a se desenvolver com fluidez novamente. Talvez uns dois ou três parágrafos de ‘preparo’ para a introdução da FC na história a deixassem com um ritmo perfeito; mas imagino que você tenha tentado isso de início e depois foi obrigado a ‘apressar’ sua contextualização, cortando um pouco aqui e ali para conseguir se adequar ao limite proposto.
Gostei do final também e da ironia contida na escolha do nome da personagem da esposa, que serve de título para a história.
Parabéns pelo bom trabalho e desejo-lhe boa sorte no Desafio!
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho da história avaliada, para comprovar minha leitura. Então, vamos lá:
——————————
RESUMO DA HISTÓRIA
——————————
Corno manso abastado, traumatizado pela morte prematura do pai, desenvolve tendência de substituir sua(s) esposa(s) por androides idênticos à primeira, após ser sistematicamente traído e abandonado também pela(s) réplica(s) dela. (Nota: 4 + Melhor Conto)
Um homem, apaixonado por sua esposa Madalena, encomenda um projeto de torná-la imortal numa réplica robótica. Após um término traumatizante, ele recebe o clone da empresa e, apesar dos bons momentos, percebe que as circunstâncias são cíclicas.
É um conto interessante que aborda um tema recorrente, o convívio entre homens e máquinas, principalmente esse lado sexual, além de eternizar alguém num corpo metálico. Por tratar da infância do protagonista e em seguida sua grande paixao da vida toda, fica um conto aberto a interpretações e, nesse sentido, bastante completo por dar ao leitor uma maneira de tentar compreender o personagem e o que levou a se prender à figura da esposa, seja pela infância frustrada, a perda do pai ou as responsabilidades que vieram cedo. Um outro ponto interessante é a reviravolta, já que a Madalena não morreu, mas o largou depois de uma espécie de depressão. Também utiliza do segundo término pra mostrar que nem sempre é possível replicar o que já ocorreu, reforçando a frase inicial. Curta o momento, pois nada é para sempre.
Categoria: Sabrinesco com teor 60% / FC com teor 40% (maravilha do absurdo)
Desde criança, o narrador conta sua história com perdas, como o pai, até chegar a conhecer Madalena, com quem se casou e viveu as atribulações normais de uma vida em comum. Não tiveram filho, porém o medo de perder a esposa o rondou, até que conheceu o projeto Eternize, no qual se fazia uma matriz do cônjuge, caso viesse a faltar, para copiar mais tarde. Após ter feito o processo, o narrador perdeu (achei que tinha morrido, mas não) Madalena. Depois que a perda passou, resolveu ativar a cópia e pediu uma “Madalena” sobressalente, que substituiu em tudo a original. Só que a cópia acabou sendo pega em traição pelo marido, e vai embora. Ele procura a ex-mulher, mas ela não deu pelota pra ele, que acabou encomendando mais uma cópia da fábrica.
PREMISSA: uma das premissas mais interessantes do certame, digna de Black Mirror. A ausência e a substituição da amada deram um toque de absurdo e a dramaticidade que o conto precisava.
TÉCNICA: a história é seguramente bem narrada, porém o trecho em que fala da perda de Madalena me deixou confuso, se ela tinha morrido, como inicialmente imaginei. Depois entendi que não.
EFEITO: muito bom, uma história bem contada, ainda que sem arroubos de grandiosidade. Parabéns!
Resumo
Um homem é abandonado (novamente) pela esposa, sendo que a segunda era um clone da primeira.
Sensação:
Achei que o título foi perfeito, também gostei da graça do final do texto, com a próxima Madalena encomendada e a ideia da história em si foi muito bacana em si.
Execução
Já nesse aspecto não gostei tanto, achei que a história contou muito e não mostrou quase nada. Ao invés de despertar sentimentos, senti apenas uma onde de muita informação.Tipo, toda a parte em que o personagem se forma para assumir a empresa foi muito didático, poderia ter focado um pouco mais nas sensações dele passando por aquela experiência. Para mim, foi muito nessa pegada.
Título
Sensacional.
RESUMO: Personagem (se o nome apareceu no conto, não percebi em duas leituras) lembra da morte do pai e não quer que o mesmo sentimento de perda ocorra com sua amada esposa Madalena.
Então ele faz um clone dela. A esposa humana “se vai” e o clone é acionado. Tempos depois, a andróide o trai com o jardineiro. Descobrimos então que a Madalena original não havia morrido, mas sim se separado. Um novo clone é requisitado.
COMENTÁRIO: Vou começar falando da parte ruim: há uma infinidade de “contar” para um quase nada de “mostrar”. Isso faz a história ficar um pouco distante na maior parte do tempo, com os eventos passando sem muita profundidade, apesar da escrita possuir uma técnica excelente.
A figura do pai foi importante para estabelecer um vínculo com o medo da perda, mas talvez, dentro do limite dracônico de 2500 palavras que não sei quem inventou, fosse melhor sacrificar essa parte para desenvolver melhor a relação com a primeira esposa, alguns diálogos, algo que trouxesse mais empatia.
Agora a parte boa, que supera em muito a parte ruim: além de muito bem escrito, esse conto é de fato surpreendente. Confesso que minha primeira reação foi pensar que que fosse um erro de continuidade a citação à Madalena original “ela morreu, pô…”.
Daí percebi que fui enganado direitinho e o final do conto ganhou um peso dramático sensacional. Muito bom!
NOTA: 4,5
Madalena eterna
Resumo: Um homem que carrega um medo insuportável da perda. Traumatizado pela morte do pai, tenta de toda maneira evitar que esse sentimento retorne e que dessa vez não consiga suportá-lo. Para tanto busca eternizar sua esposa em um clone.
Até o presente momento esse é o conto com o melhor primeiro parágrafo do desafio. É sempre delicioso quando um autor sabe usar uma referência, uma citação, agregando valor a história, dando mais charme ao texto.
O tom confessional do texto casou muito bem o tipo de enredo. É possível enxergar o protagonista contando sua experiência, ele sabe usar as pausas, os comentários e hora de avançar. Ou seja, em suma, sabe dialogar com quem está lendo.
O enredo é muito bem bolado, a ficção cientifica aparece na segunda metade do conto e dá conta do recado. Tem algo do drama de Black Mirror, porém aqui com uma roupagem mais pesada. O conto parece ser simples, mas ao avançarmos percebemos carga dramática de todo o texto e a complexidade que não está tão evidente. O final surpreende, temos uma revelação e abre-se algumas linhas de raciocínio. O que se passou com Madalena? O caso da ciborgue já era algo que acontecia com a Madalena Original? O experiência teve algum reflexo na saúde de Madalena? Essas perguntas são deliciosas e fazem despertar o leitor de sua zona de conforto e participar ativamente da jornada.
Como sugestão, talvez observar com maior cuidado o uso dos pronomes, alguns podem ser suprimidos sem qualquer pudor, gerando automaticamente mais agilidade para o texto. O terceiro paragrafo é um bom exemplo disso, com alguns “eu” e “ele”.
As descrições de Madalena são pouco inspiradas. Não há qualquer paixão, ninguém se refere a um amor com “estatura mediana e porte esguio”. Isso traz distanciamento, é uma descrição de quem observa, de quem não possui outros elementos. Jamais de um narrador presente, que tem relação com a personagem.
O que entendi: Um homem carente de atenção a vida toda resolve encomendar um clone da esposa. Ela morre e ele se casa com o clone. O clone o trai. A esposa ressuscita como ex. E ele se arrepende de não ter trabalhado menos e se dedicado mais à mulher que amava.
Técnica: Bem desenvolvida através do declínio psicológico, doentio e carente, do personagem.
Criatividade: Clone é um assunto bem batido, mas a forma como foi tratada a narrativa me surpreendeu positivamente.
Impacto: Negativo. Sinto-me traída como leitora. Madalena estava morta e ressuscitou do nada para justificar a trama.
Destaque:” Ensinava papai como brincar, ele aprendia rápido.” – Genial. Nunca parei para pensar que a criança acredita que o adulto sempre foi adulto.
Sugestão: Rever a forma como a morte de Madalena foi colocada. Se a ideia era ser uma morte figurativa, não funcionou.
O personagem principal, herdeiro de uma empresa multimilionária, ama Madalena que, por sua vez, o ama. Ele, sem tempo para passar com ela, resolve cloná-la e, quando ela o abandona por outro homem, ele passa a viver com o clone, que o trai igualmente. Ele, então, parte para o segundo clone, e fará isso até morrer.
Seu conto me surpreendeu. Ele tem muito de black mirror, especialmente do episódio “Be Right Back”, mas não senti que lia uma cópia descarada. O principal aqui foi como você conseguiu contar a história inteira do personagem, desde a sua infância até a velhice, sem parecer corrido e em um espaço curto. E isso tudo com sentimento – tanto sentimento, para dizer a verdade, que cria uma ligação muito forte entre leitor e personagem. O que começa com uma criança que ama o pai e vive um dia de cada vez, termina com um homem atarefado, cansado, extremamente dedicado ao trabalho e frustrado amorosamente. Nesta odisséia narrada em tão curto espaço de tempo, senti-me criança, adolescente e adulto. Muito bom!
Em um primeiro momento não gostei da forma como você escolheu narrar o conto: uma narrativa generalista, narrando momentos pesados em meras linhas, sem cenas; apenas uma história contada por alguém, um “resumão”. Mas, para dizer a verdade, conforme fui lendo, percebi que você fez isso muito bem. O conto fluiu perfeitamente, a narrativa está bem montada e em momento nenhum notei pressa ou senti falta de algum detalhe importante. Acho que, na sua técnica, o máximo que notei de errado foram algumas confusões no tempo verbal, já que, às vezes, você coloca alguns verbos no presente no meio da narrativa feita no pretérito.
Achei a resolução da história interessante, e você me pegou ao me enganar achand que Madalena havia morrido. Te xinguei mentalmente, rsss!!
Parabéns!
RESUMO: Num futuro inexato, um milionário não nomeado, temeroso de perder a esposa pela qual é apaixonado, vê numa nova tecnologia a possibilidade de tê-la ao seu lado até o último dos seus dias, ainda que não em carne e osso, mas física e psicologicamente reproduzida num androide.
TÍTULO E INTRODUÇÃO: O título, apesar de alinhado com a história, não tem grande atrativo. O parágrafo de abertura, por sua vez, possui elementos dignos de nota tais como a ausência de um preâmbulo, ou seja, o autor não vê necessidade de situar o leitor, introduzindo-o de imediato ao narrador-protagonista através de suas reflexões; faz-se promissor ao inciar com uma clássica citação em latim, ainda que posteriormente use de artifício para apresentar a tradução da frase, propiciando ao leitor uma comodidade desnecessária (se não ofensiva, ao subestimá-lo) em tempos de acesso fácil e democrático à informação; defende o “carpe diem” enquanto estilo de vida e encerra com a promessa de justificar, através de sua história, essa defesa. Nota: 8
PERSONAGENS: Lugar comum em contos de ficção científica, o delineamento dos personagens é preterido em benefício dos fatos. Aqui, apesar de contar a própria história desde os primeiros anos de infância, o narrador não nos propiciou elementos que nos permitisse projetar de si uma imagem física. Em contrapartida, aspectos psicológicos ficam bastante claros, como seu caráter obsessivo e preconceituoso. Personagens secundários, por sua vez – mesmo a esposa, objeto de sua obsessão -, recebem um enfoque menor. Nota: 7
TEMPO E ESPAÇO: A tratativa dada aos espaços não diverge em muito daquela dada aos personagens; cenários são citados, mas rapidamente descritos. Aliás, a velocidade, ou melhor, a pressa, da narrativa, é recorrente em contos do gênero. Seria recomendável que, eventualmente, o narrador desacelerasse, permitindo ao leitor apreciar a paisagem, ou seja, inserir-se no contexto, mas não, o tempo voa e, por vezes, dá saltos de até quinze anos. Nota: 6
ENREDO CONFLITO E CLÍMAX: O conflito inicial, ou seja, o medo de perder a esposa, nos soa um tanto injustificado, mal embasado, mal defendido, não convence, exceto à medida que o protagonista começa a demonstrar traços de obsessão e paranoia. O desfecho é bem idealizado, há uma guinada, a apresentação de um fato oculto que dá um novo “gás” à história. Porém, o ideal seria que antes o autor distribuísse pistas que consolidassem o elemento surpresa. A história é bem idealizada, porém mal conduzida, porém, este critério será tratado noutro tópico de avaliação. Nota: 7
TÉCNICA E APLICAÇÃO DO IDIOMA: Certificar-se de estarmos diante de um texto praticamente irrepreensível no que tange ao uso da língua é, por si só, um motor da leitura. Madalena Eterna, salvo por uns poucos clichês como “enfarto fulminante”, “divisor de águas” e “cerimônia pomposa”, é um desses textos. Sobre a técnica, o autor gasta mais de mil palavras até apresentar a ideia central do conto e, convenhamos, em se tratando de um conto, é muita “embromação” apenas para construir um contexto, uma atmosfera, personagens, e fazer deslanchar um enredo. Outro ponto, a narrativa é cronologicamente linear, o clássico e arcaico formato “história da minha vida”. Experimentemos pedir a alguém que alinhe para nós, em sequência lógica, todas as peças antes de montarmos um quebra-cabeças. A posterior experiência de composição da imagem seria algo similar à leitura deste conto. Então, aproveito para deixar uma sugestão para que o autor experimente “bagunçar” um pouco a sequência de apresentação dos fatos. Que tal Madalena morre, Madalena trai, Madalena se divorcia, Madalena se casa, Madalena conhece o amor… e inserido em algum ponto disso tudo, amor de Madalena perde o pai? Essa “desordem” é, via de regra, um desafio intelectual para o autor, mas uma prazerosa provocação ao leitor. Mais: um conto narrado em primeira pessoa apresenta a grande vantagem de facilitar a construção do protagonista e ainda que isso tenha sido feito aqui, o personagem inicialmente se apresenta culto, inteligente (um bom papo), depois terno e carismático ao evocar as memórias de infância, mas, à medida que a narrativa se apressa na apresentação dos fatos, o conto se faz burocrático e cansativo, mesmo quando o narrador externa sua paixão, voltando a se fazer novamente interessante apenas quando ele se mostra preconceituoso. Em suma, uma história narrada em primeira pessoa é um papo com o leitor, há de se apresentar uma “retórica de vendedor”. Nota: 8
VALOR AGREGADO: A clonagem de um corpo humano (mesmo que não biológica) tem dado margem a muitas discussões e reflexões. Quanta polêmica geraria, pois, a reprodução da identidade e personalidade de um ser humano? Pois eis que esse conto tem todo esse potencial e ele é praticamente desprezado ou, no mínimo, mal utilizado. Nota: 7
ADEQUAÇÃO À TEMÁTICA: Totalmente adequado ao gênero ficção científica, ainda que do pouco ineditismo. Nota: 7
Caro(a) escritor(a)…
Resumo: Um homem ama tanto a esposa (ou está acostumado a ela) que faz um clone da mesma substituindo-o sempre que a traição acontece.
Técnica: Bem escrito, sem erros, de leitura agradável, sem entraves na construção ou na escrita. Uma ficção científica leve e, até, bem humorada.
Avaliação: Gostei de como a trama se construiu. Apesar de linear e do início ser um pouquinho arrastado pela contação da história de como conheceu Madalena, o resto fluiu muito bem. Acho que a surpresa fica para o final, quando se tem noção de que ele era realmente ligado na Madalena, apesar de constatar que o clone também possuía a mesma tendência à infidelidade que a ex-esposa. Um conto muito bom. Parabéns.
Boa sorte no desafio.
Resumo: um homem conta sua história, desde criança,quando era apegado ao pai, que morreu, até a idade adulta, quando se apaixona por Madalena. Com medo de perdê-la (e reviver o indesejado luto que experimentara com a morte do pai), decide providenciar um clone-ciborgue dela. E sim, Madalena se vai e ele, o protagonista, acaba buscando o ciborgue dela lá no Japão. Passam a viver juntos, felizes até, mas então ele descobre que ela, o ciborgue, o traía com o jardineiro. É a segunda Madalena que perde, mas ele, nosso protagonista, é um homem de fé e logo estará encomendando um terceiro exemplar.
Impressões: é um conto interessante para dizer o mínimo. Começa com uma ótima citação filosófica (que provoca espasmos de nostalgia em qualquer um que assistiu Sociedade dos Poetas Mortos) e se desenvolve por caminhos tortuosos que misturam a ética com a vontade do homem em ser Deus. Nosso protagonista é um sujeito de múltiplas facetas: é um homem moderno, apegado ao trabalho, mas que está constantemente preocupado em ter uma vida com mais significado. As lembranças da felicidade que tinha com o pai falam mais alto e ele transfere esse desejo de voltar a ser feliz para Madalena. Por muitos anos, pelo que se vê, ele deposita nela essa esperança. E quando ela se vai ele se vê obrigado a recorrer à ciência para recriá-la. Achei que a Madalena original tinha morrido (acho que foi intenção proposital do autor em passar essa impressão), mas no fim ela ressurge para explicar que o desejo de trair sempre lhe foi presente. E, ao que parece, o protagonista percebe isso. Na verdade, ao encomendar a terceira Madá, faz transparecer que tudo bem, a traição virá eventualmente, mas que se dane. A ciência estará sempre ao seu lado com um exemplar novinho a sair do forno.
O conto, de fato, levanta questões perturbadoras. Até que ponto o egoísmo de um homem deve prevalecer? O futuro será assim? Poderemos viver eternamente com versões clonadas de nossos grandes amores? Realmente, dá o que pensar… E na verdade essa é uma grande qualidade de qualquer conto que deseje sair do lugar comum. Devo confessar que não aprecio muito narrativas que abrangem uma vida toda num conto — como ocorre aqui — pois tudo assumo o aspecto de um relatório, mas casos há, e este conto é prova disso, que mesmo tramas lineares e de grande amplitude podem guardar mensagens instigantes.
Enfim, é um conto bom, que convida o leitor a meditar. Parabéns a(o) autor(a) e boa sorte no desafio.
Resumo: Um homem que sofreu muito com a falta do pai quando criança, vive um casamento perfeito e com medo de perder a esposa manda fazer um clone ciborgue perfeito dela. Eles vivem juntos e felizes por muitos anos até que ele perde a esposa e começa a viver com o ciborgue. Depois de muito tempo sua esposa robô trai ele e vai embora, aí ele liga pra ex esposa humana que está casada com outro e reclama que o clone dela era tão perfeito que o traiu e abandonou também, mas ele não irá perder tempo e irá encomendar outra cópia dela.
Olá Major! Eu gostei muito do seu conto, está muito bem escrito, com um ritmo constante, seguro, mostrando tudo que temos que saber sobre o narrador. No começo pensei que fosse sabrinesco, depois que vi que seria FC, mas sem deixar de ser sabrinesco 😀
A ideia, apesar de já ser batida,(mas qual não é, né?) casou muito bem com os dois temas e foi muito bem usada e aproveitada.
Gostei de como você conduziu a trama para pensarmos que ela havia morrido, pelo menos eu imaginei assim, pra no final mostrar que ela tinha ido embora… ficou muito mais interessante e não tão previsível… Muito bom! Parabéns e boa sorte!
Homem casa-se com uma mulher e, temeroso de um dia perdê-la, providencia a confecção de um potencial ciborgue, clone dela, à uma empresa japonesa. Quando o homem perde a mulher, aciona a entrega do ciborgue e volta a sentir a felicidade de antes. Até que certo dia, ao retornar de surpresa para casa, depara-se com a ciborgue nos braços de outro homem.
Um conto sobre adultério com elementos de SciFi. Achei seu conto engenhoso e envolvente. Seu narrador personagem soou verossímel e empático. As referências da infância com o pai, embora desnecessárias à trama, contribuíram bastante para tal. A conexão do desfecho do conto com a abertura ficou muito boa e a temática FC, muito bem encaixada.
Entendo sua escolha por deixar a traição da verdadeira Madá subtendida, somente a revelando no desfecho, criando um efeito de surpresa para o leitor. Mas para o meu gosto, o conto ganharia se você tivesse dados algumas pistas sobre a insatisfação da primeira Madá com o casamento.
Sobre a linguagem e a revisão, achei seu conto impecável.
A impressão geral foi a de um autor com pleno domínio da narrativa, que conduz o leitor com maestria. Fez de um enredo simples uma história agradável e plenamente compatível com a proposta do desafio. Parabéns!
Um abraço!
O protagonista encomenda um ciborgue da esposa, porque temia perdê-la, baseado no bom relacionamento com o pai que falecera. Imaginando que Madalena morreu, o leitor vê o robô chegar e repetir o comportamento dela, até que, por um telefonema descobre que o casal havia divorciado, por infidelidade da Madalena e incapacidade de suportar o marido por toda a vida. A ciborgue repetiu essas atitudes, era clone perfeita. A solução seria encomendar outra Madalena e curtir o tempo que a tivesse junto.
Comédia romântica que utiliza os clichês do comportamento humano para funcionar. Uma situação bastante comum – um homem apaixonado que teme perder a mulher – sustenta a história. Em cima disso, o autor desenvolve a ficção científica. O protagonista/narrador conquista a simpatia do leitor com sua paixão incontida. Gostei da sugestão que vem do nome Madalena, apropriado para a trama.
O desenvolvimento do texto é criativo, o princípio de Horácio ficou bem comprovado, a ambientação futurista, apesar de sutil, convenceu. A linguagem é precisa, sem travas na leitura, as imagens foram bem construídas. Único senão é o ritmo lento. O prólogo ficou extenso, com muitas divagações e informações repetidas, a história demorou a deslanchar, custei a perceber que era um sabrinescos, sem cenas eróticas, com tecnologia do futuro: robô-clone, inteligência artificial, etc.
Parabéns pelo trabalho. Sorte na Liga. Abraços.
Boa tarde, amigo. Tudo bem?
Conto número 30 (estou lendo em ordem de postagem)
Pra começar, devo dizer que não sei ainda quais contos devo ler, mas como quer ler todos, dessa vez, vou comentar todos do mesmo modo, como se fossem do meu grupo de leitura.
Vamos lá:
Resumo: homem, obcecado pelo medo de perder a esposa, faz um clone dela, mas acaba sendo abandonado pelo clone, assim como fora pela primeira. Ainda assim, pede um novo clone (imagina no que vai dar heheh)
Comentário: gostei bastante! Adoro essa temática, e você soube conduzir muito bem o conto, tornando uma leitura muito gostosa.
Mas vamos por partes.
Pra começar, como eu disse acima, a temática já me ganha de cara. Adoro esse debate sobre a criação de copias humanas. Tipo, depois que você copia ou clona alguem, o que sai é humano? Tem “alma”, ou a denominação espiritual que você quiser usar?
Não sei se sabe, mas na Coreia, por exemplo, já existem várias clínicas de clonagem de cachorros. Pessoas do mundo todo já viajam pra lá procurar esses serviços, mas os principais consumidores são a polícia federal coreana, que já substituiu boa parte dos cães farejadores dos aeroportos por clones. Clonando um cão já treinado para o serviço, garante-se que os clones já “nascerão” sabendo faze-lo, dispensando a necessidade de novos treinamentos. Louco, né? Tem causado muita polêmica na Coreia e no mundo.
Enfim, você deve ter notado que adoro o assunto. E você conseugiu introduzir algo a mais na história, que não se trata apenas disso. Na verdade, o centro do enredo é a insegurança e os problemas do protagonista. Quer dizer, se pensar bem, o medo de perder a esposa fez com que ele se afastasse dela a ponto de perdê-la, né? Pelo menos, perder a real, a verdadeira.
Aliás, foi uma boa surpresa descobrir que ela não tinha morrido hahahah. Me enganou totalmente.
eu fiquei pensando que caminho a história seguiria. Achei que a esposa-clone fosse se tornar um tipo de robo mortal. Fui positivamente surpreendido pelo desfecho.
Aliás, a teimosia do cara em repetir o erro no final diz muito sobre os humanos, né? Tipo, se ele tem a consciência do “carpe diem”, e queria ter aprendido isso no passado, pq ele não usa no presente? Essa ideia fantasiosa de que seria bom poder mudar o passado, mas não mover o dedo pra mudar o presente, é algo muito humano e real.
Seu conto acaba, de proposito ou nao, causando varias reflexoes sobre comportamento humano e o futuro da robótica. Gostei mesmo.
Ah, e a escrita tá excelente. Parabéns e boa sorte!
Resumo
Homem se lembra de sua infância e do quanto eram importantes para ele os momentos com seu pai, já falecido. A falta do pai foi amenizada pela presença de Madalena, mulher com quem se casou e por quem nutria uma paixão e um amor muito fortes. Com medo de perdê-la também, ele a convence a participar de um projeto que replica seres vivos, garantindo que nunca ficará longe dela, mesmo que ela morra antes dele. Por um motivo que não fica claro, madalena o abandona e, após um período de muito desespero e sofrimento, ele resolve ir ao Japão buscar o clone de sua esposa. Vive bem com ela até que a encontra na cama com o jardineiro. Resolve perdoá-la porque não conseguiria viver sem ela, mas o robô Madalena o abandona, o que o faz pensar em encomendar mais um exemplar da ex-esposa.
Comentário
O conto é bastante interessante, bem desenvolvido, bem escrito. Parabéns. Fui lendo os primeiros parágrafos, ansiosa, sem saber se ele se tornaria um FC ou um sabrinesco…Boa história. Gostei.
Uma coisa que me incomodou é que eu não sei se fui mais surpreendida pelo fato de a primeira Madalena estar viva ou pela revelação tardia de que ela possuía uma “tendência traiçoeira”… pareciam um casal tão perfeito rsrs.
Encontrei apenas este equívoco: Formei(-me) em administração.
RESUMO:
Homem rememora seus tempos de menino que sofreu com a ausência e morte do pai antes próximo e amoroso. Ele mesmo se torna muito ocupado para perceber o distanciamento da mulher Madalena, que lhe traz a alegria que só experimentou com o pai. Mas ela também o abandona. Então, ele resolve recorrer à clonagem da sua Madalena. A nova mulher, um clone, o trai e vai embora. Horas depois, liguei para a primeira Madalena. Horas depois, liga para a primeira Madalena, de quem se divorciou. Pensa em encomendar uma nova Madalena e curtir o dia de hoje, sem se preocupar com o futuro.
COMENTÁRIOS:
Conto com temática FC e toques sabrinescos.
Não sei foi intencional (acredito que sim), mas fiquei com a impressão de que a primeira Madalena havia falecido como o pai do narrador. E pelo jeito, as Madalenas da sua vida não tinham nada de arrependidas.
O conto pode ser dividido em três partes: a infância do narrador e sua alegria junto ao pai; o casamento feliz com Madalena; a nova vida com o clone de Madalena.
Não encontrei grandes falhas de revisão. Somente alguns pontos a rever:
– Formei em administração > Formei-me em administração OU Graduei-me em
– Nossa empresa lida com soluções em tecnologia e exigia > escolher um dos tempos verbais – presente ou pretérito.
– era fria como o sol > o sol pode ser frio?
– É um milagre eu ter > foi um milagre eu ter (mas não sei se chega a ser um erro)
O ritmo do conto é bom e o enredo prende a atenção. Não há entraves de linguagem que atrapalhem a leitura, que segue fácil e fluida.
Parabéns pela sua participação no certame. Boa sorte!
Madalena Eterna (Major Matoko)
Resumo:
História do “Major Matoko” e Madalena. Uma bonita história de amor, e, temendo perder a esposa, o Major a convence de entrar no projeto Eternize, que se resumia a criar um clone androide/ciborgue. Com o tempo, Madalena se cansa da solidão que o Major lhe proporcionava por trabalhar em excesso, abandona-o. Ele entra em desespero, guarda um período de luto. Em seguida, busca o androide de Madalena e vive feliz mais um bom tempo. A felicidade terminou, para ele, quando surpreendeu a esposa-androide na cama com o jardineiro. Ela também o abandona. Então ele liga para a primeira Madalena, que vive com outro, e reclama. Conta que a clone era exatamente a cópia dela, até mesmo na infidelidade. Mas a tristeza dele logo passou. Carpe diem, quam minimum credula póstero, este era o seu lema. E pensa em pedir uma nova Madalena.
Comentário:
Este é um texto primorosamente escrito, sem qualquer deslize que eu tenha percebido. Enredo perfeitamente costurado, um misto de FC e leve tom sabrinesco. O autor tem total domínio da narrativa, sabe cadenciar o “contar”. Narrado em primeira pessoa e de maneira perfeita. E o mais interessante foi a surpresa de que a Madalena (original) não havia morrido. Quando li a “partida” dela, entendi que a morte a havia levado. Não foi a morte, foi a ânsia pela vida que a fez partir. O final surpreende. Tudo perfeito, mas o encanto não aflorou. Parabéns pelo trabalho, Major Matoko, muitos elogiarão o seu trabalho, pode esperar.
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Madalena Eterna
Resumo:
Homem com problemas de rejeição por conta de uma infância meio que abandonada, ao se casar, temendo perder a mulher que ama, manda que seja feito dela um ciborgue. Quando a mulher morre ele pega a falsa mulher para viver com ele. A mulher o trai porque isso já estava nos planos dela. Então ele liga para uma outra Madalena, sua outra esposa, que está vivendo na Alemanha.
Comentários:
Caro Major Motoko,
Conto de Ficção Científica.
O conto avança sem problemas, embora demore a engrenar. Apenas lá pelo meio o autor dá a dica de onde pretende chegar. Há uma empresa que clona pessoas, e o protagonista aceita fazer um clone da esposa.
Com um senso de rejeição à flor da pele, ele não quer largar aquilo que dá prazer a ele. O desfecho disso não poderia ser bom. E não foi. Levou um chifre da mulher (a segunda) que já estava programada para tratá-lo como como devido.
Nesse ponto há – pareceu-me — uma perda de tônus do conto, que não deixa claro o que realmente aconteceu. A esposa teria morrido ou se divorciado dele?
A morte está aqui:
“[…] Então, em um dia nublado, MADALENA SE FOI. Tudo aconteceu muito rápido, não tive tempo de fazer nada por ela. […] Sem me dar conta do que se passava, perdi minha Madalena.
“[…] É um milagre eu ter sobrevivido. Vivi nove meses de um LUTO austero, amargo […]”
O divórcio está aqui:
“[…] Horas depois, liguei para a PRIMEIRA Madalena. Apesar das circunstâncias traumáticas do DIVÓRCIO, quando ela buscou judicialmente cortar todas as relações comigo enquanto eu surtava, não foi difícil obter seu contato. Ela agora vivia na Alemanha […]”
Acho que isso foi capaz de me deixar confuso quanto ao que aconteceu com Madá. Imaginei que tivesse faltado algum texto de transição, mas não vi como isso seria.
Bom, de resto o conto vai bem, com uma linguagem tranquila de compreensão e dócil para tratar o problema psicológico do moleque que perde o pai.
Fiquei imaginando se essa história não poderia tomar um rumo diferente, por exemplo, quando a ciborgue o trai, ele descobre que a esposa com quem ele viveu por um tempo era de fato a ciborgue e aquela, a que ele pegou como ciborgue, era de fato a sua esposa que havia propositalmente sido trocada pela empresa construtora de clones, com o aval dela, que resolveu separar-se dele.
Bem, isso são devaneios.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.