EntreContos

Detox Literário.

A Canção de Laura (Antonio Stegues Batista))

Inspirado em Safo de Lesbos, poetisa

grega do século VII a.c.

 

Segurando a mão de Ismênia, Laura a guiou pela trilha ascendente.

– Onde me levas?

– O dia está magnífico, minha querida Ismênia! Vamos desfrutar a brisa do mar e os aromas dos lírios no campo. 

A jovem parou sobre o topo da elevação e abriu os braços, olhando ao redor. Para o norte via-se o perfil escuro do Pão de Açúcar para oeste, a Urca, leste o Atlântico.

– Vamos aproveitar esse último dia! –disse Laura, deitando-se com ela na grama.

 – Por que último dia? – indagou Ismênia, confusa.

– Para estarmos juntas – respondeu, beijando-a na boca. Era a primeira vez que fazia tal coisa com uma menina. Por sua vez, Ismênia ficou surpresa com a atitude impetuosa da amiga. Sempre pensou que seu primeiro beijo seria com um rapaz, imaginava o que sentiria. O beijo de Laura lhe despertava novas sensações a tal ponto que ela não conseguiu rejeitar suas carícias.

Laura afastou-se o suficiente para despi-la. – Como sabes, meu pai é comerciante e ele decidiu se mudar para São Paulo. Não posso ir sem confessar meu amor por você.  – ela inclinou-se e sussurrou em seu ouvido – Quero matar o desejo que corrói minh’alma, quero explorar teu corpo, escalar esses montes, sonhar nesses vales, beber nessas fontes…

***

Cleis, a mãe, vomitou a tarde toda, depois, melhorando um pouco, meteu-se na cabine do navio e não saiu mais. Fernando o pai, passou o dia conversando com os passageiros. Alheia a tudo, Laura mantinha-se na amurada, observando Copacabana desaparecer aos poucos no horizonte. Havia se despedido de Ismênia às pressas, não dando tempo para choros.  Prometeu escrever cartas para ela e disse que um dia voltaria ao Rio. 

***

Na nova casa em São Bernardo, São Paulo, preocupada com o futuro de Laura, Cleis a matriculou no colégio de boas maneiras de madame Leopoldina Duarte. Queria que ela fosse uma pessoa fina, requintada. Que se casasse com um homem rico e fosse uma dama da alta sociedade. Coisa que Laura achava ridículo, porém, não falava nada, não queria conflitos com a mãe. O que queria mesmo era arranjar um emprego, ganhar um salário, ser independente. Nas horas vagas escrevia suas poesias e cartas para Ismênia.

“ Aqui em São Bernardo, há prados onde cavalos pastam a relva coberta de flores. A brisa sopra um gosto de mel doce e suave. Diante da imagem de Nossa Senhora, junto a esse gracioso bosque de macieiras e altares de incenso fumegante, mirra e cássia, peço bênçãos sobre nós. A água da fonte é límpida e fria e o som cálido me deixa sonolenta. Me deito sobre essas folhas macias e penso em ti, minha querida Ismênia. Espero sonhar contigo“.

***

O pátio da casa do coronel Lourenço Cícero, produtor de café, estava enfeitado com flores, cortinas coloridas, tapetes do Oriente, estatuetas, guirlandas púrpuras pendiam das colunas da varanda, tapetes de pele de onça enfeitavam as paredes. Junto a fonte, uma mesa comprida estava coberta de pratos com comidas diversas, ânforas com vinho, pratos com carnes, frutas e doces. Num tablado de madeira, uma bandinha entretinha os convidados com suas músicas.

No colégio, Laura havia conhecido Aimée, filha do anfitrião, que a convidou para a festa. Elas se reuniram a outros jovens, Pedro, Adriana e Adélio, irmão de Aimée. Pedro ficou encantado com a beleza de Laura e tentou de todas as maneiras conquistá-la, fazendo pose de aristocrata, tecendo elogios elaborados. Laura se divertia com as atitudes dele. Enquanto o rapaz não ultrapassasse os limites da educação, tudo bem.

– Laura escreve poesias – disse Aimée.

– Verdade? –perguntou Pedro, apoiando-se no ombro de Adélio.

– Gosto de escrever- respondeu a jovem. Ela mantinha uma atitude reservada e tímida porque não gostava de se exibir. Adélio aproveitou para dizer;

– Nós temos um grupo que promove concursos de canto e poesias no ginásio. O evento chama-se, Entrecantos. Se você quiser participar, falarei com os organizadores para incluir você no grupo.

– Claro! –respondeu Laura. Adriana tocou no braço dela, dizendo;

– Amanhã nós vamos fazer um piquenique. Você não quer participar?

– Gostaríamos de sua companhia – disse Adélio.

– Certamente. Vou, sim.

A voz do dono da festa elevou-se, pedindo silêncio.

– Amigos! Por gentileza, façam silêncio e ouçam o que tenho a dizer. Em primeiro lugar, quero agradecer a todos pela presença. Não vou falar de política, embora minha língua esteja coçando para dizer certas verdades sobre esse regime ditatorial do governo Vargas. – Lourenço fez uma pausa para que os murmúrios cessassem e continuou- Fiquei sabendo que entre nós se encontra alguém que escreve poesias e canta. Alguém que acabou de chegar a nossa comuna. Estou falando de Laura Coutinho de Menezes. Dito isso, convido a poeta a subir ao palco para nos proporcionar uma amostra de sua arte. Venha senhorita, cante algo para nós.

Surpresa, Laura olhou para Aimée e a garota abriu as mãos e ergueu os ombros como quem diz, não tenho nada com isso. Colocando a timidez de lado, Lura subiu ao palco. Um dos músicos trocou o acordeão pelo violão e esperou pelo tom. Laura encarou a plateia, dizendo; – Vou recitar o poema intitulado, Canção do Amanhecer.

– O sol nasce, brilha, resplandece.

Na beira das fontes, na copa das árvores

Soam cantos, estridentes sibilos

Melodiosos gorjeios

Zumbidos, murmúrios

Sons graves, vagos

Das flores fluem fluidos

Odores suaves…

(…)

 

***

Os rapazes limparam o chão, tirando pedras e galhos para as garotas estenderam a toalha e depositarem a cesta com doces e salgadinhos. Todos se sentaram na borda da tolha. Laura sentou-se ao lado de Aimée, com os pés para o lado, puxando o vestido e deixando as pernas à mostra, para o deleite de Pedro. Ele era o mais velho do grupo, devia ter uns 20 anos. Laura gostava de provocar o rapaz, mas o que que a atraia era o pescoço e parte do busto que as roupas de Aimée revelavam.

– É a primeira vez que faço piquenique- comentou ela. Adriana tirou o chapéu capeline e colocou ao lado. 

– Você já beijou alguém?  Ou alguém já te beijou? – perguntou, esboçando um sorriso provocativo.

Aimée ralhou com ela.

– Adriana! Isso é pergunta que se faça? .

– Ué! Não é nada demais!

– Claro que já fui beijada – respondeu Laura com desenvoltura. – Deixei um amor no Rio.

Adriana perguntou – Como ele é? Baixo, alto, gordo, magro. Atlético e bonito, ou feio como o Pedro?

– Feia és tu! – replicou o rapaz.

– Não sejas indiscreta –reclamou Aimée. – Deixe Laura nos cantar um poema. 

– Isso! Um poema erótico.- pediu Pedro, excitado.

– Nos encante com teu canto- pediu Aimée.

Ela assentiu e recitou;

– Esse sentimento implacável, desejo que queima como brasa.

Afoga a razão nos confusos meandros das incertezas.

Agita a alma.

Esquecer, fugir, é impossível.

A ânsia do querer. No enlevo das carícias, nas curvas, cantos e recantos e o coração pulsa, a paixão aflora pelos poros. O desejo por ti me alucina…

Aimée olhava nos olhos de Laura. A mão dela na sua, podia sentir na pele a energia, uma chama furtiva percorrendo seu braço até as profundezas de seu ser. Ela ergueu-se rápido.

– Já volto – disse, e saiu correndo entrando na mata. Pedro exclamou; 

 – O que deu nela? Dor de barriga? Nem comemos ainda!

Laura também se ergueu e a seguiu. – Vou ver o que houve.

Entrou na mata, caminhou alguns metros e encontrou Aimée encostada a uma árvore, de olhos fechados. Ao ouvir ruído de passou, abriu os olhos. Ficou aliviada ao ver que era Laura.

– Ouvindo a tua canção, bebi a poção do amor.

Laura aproximou-se, a beijou e com mãos hábeis, começou a abrir os botões da blusa dela. Logo as duas estavam nuas. Dois corpos alvos no meio do verde. A folhagem sussurrava, cantando com suas línguas verdes. Uma voz destruiu o encanto.

– O que é isso? Não posso acreditar! – era Adélio, pasmo com a cena.- Minha própria irmã! Isso é pecado mortal.

Envergonhadas, as duas se vestiram rapidamente. 

– Meu irmão, ela me forçou. Laura é uma feiticeira. – Aimée se afastou correndo, passando por Pedro e Adriana que chegavam naquele instante.

– O que aconteceu?

– Elas estavam nuas, se beijando e se esfregando uma na outra. A culpa é dela – disse Adélio, referindo-se a Laura e saiu atrás da irmã. Laura começou a ir embora, mas Pedro segurou-a por um braço. O rapaz sentia-se decepcionado e de certa forma, traído.

– Vagabunda! – disse, cerrando os dentes.

Adriana pegou uma pedra e com uma expressão de raiva e nojo, desferiu uma pancada na cabeça de Laura.

***

Escurecia. Cleis estava preocupada com a demora de Laura. Ela tinha saído com os amigos e não voltou. Falou com Fernando e ele decidiu ir à casa de Aimée. A jovem disse que, depois do piquenique no Morro do Sabiá, tinha se separado de Laura no caminho de volta para casa.

Depois que deixou o morro com Adélio a agredindo com palavras insultuosas, Aimée decidiu desafiá-lo. Acusou o irmão de ter queda por rapazes, de ser afeminado e ameaçou contar aos pais caso ele falasse coisa sobre o que viu na mata. Adélio percebeu que era melhor ficar calado. Assim, os irmãos selaram um acordo, guardando segredo.

Munindo-se de lampiões, Fernando e Cleis foram a procura da filha. Primeiro indagaram nas casas vizinhas se alguém a tinha visto, depois subiram a trilha que levava ao morro. Em todo o trajeto a chamavam pelo nome. Andaram pela clareira, iluminando o caminho, chamando, até que ouviram uma voz angustiada pedindo socorro. Ultrapassando a barreira de arbustos, Fernando foi o primeiro a se espantar com aquela visão.  Cleis se desesperou ao ver a filha naquele estado. Laura estava deitada num buraco, sem roupas, o corpo lambuzado de mel, coberta de formigas vorazes. Os insetos, além de comer o mel, arrancavam pedaços da pele. Ela não tinha forças para se levantar, estava gelada. Uma macha de sangue coagulado marcava a têmpora esquerda.

Com um lenço, Fernando limpou como pode o corpo da filha, depois despiu o jaquetão, a enrolou nele e a carregou para o hospital. Desidratada e com uma crise de hipotermia, Laura ficou internada. 

Cinco dias depois, ela já estava em casa. Um tratamento com pomadas cicatrizantes e antibióticos, amenizaram a dor e as feridas. Com a cabeça enfaixada, permaneceu alguns dias na cama, se recuperando. Fernando queria saber quem eram os culpados para denunciá-los à polícia. Ela disse que voltava para casa quando dois homens a atacaram e a levaram para a mata para que as formigas a comessem. A acusaram de pecadora, de feiticeira.

 Laura achou que era hora de revelar.

– Me acusaram de ser lésbica. Só por isso…

– Lésbica?  O que significa isso? –perguntou a mãe, ignorando o significado do termo. Fernando pensou alguns instantes, procurando a melhor maneira para explicar a uma pessoa tão apegada a moral e os bons costumes como Cleis.

– Bem, existem algumas mulheres que sofrem de uma forte febre nos lábios, e para aliviar o calor elas esfregam na…- fez uma pausa e tentou de novo – Existem algumas mulheres que gostam de outras…

– E o que tem isso? Eu gosto da comadre Ondina…

– Vem comigo. 

Ele pegou a esposa delicadamente pelo braço e a conduziu para o corredor. Alguns minutos depois, Laura ouviu o choro dela. Era natural a decepção de Cleis. Os planos e sonhos que a mãe tinha por ela, caiam por terra.

O pai voltou e parou ao lado da cama. Laura temia que ele ficasse furioso, porém, Fernando limitou-se a mirá-la por alguns instantes e depois sentenciou:

– Acho melhor você ir morar com sua tia no Rio de Janeiro. Por algum tempo. Para evitar falatórios. Um escândalo agora pode prejudicar meus negócios.

Laura não disse nada. Era o que ela desejava. Não queria acusar aqueles que se diziam seus amigos, se bem que os conhecia há pouco tempo, nem poderiam ser chamados de amigos. Para evitar problemas maiores, decidiu esquecer o ocorrido e ir embora da cidade. Era hora de deixar o ninho, ser independente. Tinha planos para o futuro no Rio, abrir uma escola de etiqueta social para moças, trabalhar como colunista em algum jornal.

Enquanto se recuperava para a viagem, escreveu uma carta para Ismênia. Pagou a um menino da rua para que a levasse ao posto dos correios.

Querida Ismênia

Estou voltando. Me espere naquele mesmo lugar…

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20 comentários em “A Canção de Laura (Antonio Stegues Batista))

  1. Ricardo Gnecco Falco
    15 de setembro de 2019

    ____________________________________
    CONTO AVALIADO: A Canção de Laura
    ____________________________________

    Olá Alceu; tudo bem?
    O seu conto é o segundo trabalho da Série B que eu estou lendo e avaliando.
    ————————————-
    O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
    ————————————-
    Gostei bastante do cenário de fundo e da linguagem utilizada na história; ambos de época.
    Gostei também do tema abordado, mostrando os conflitos internos (e externos!) de alguém “fora do normal/comum”. Tantos anos, gerações, acontecimentos se passaram e, ainda hoje, nos “tempos modernos”, tais conflitos permanecem.
    Gostei da leitura e da roupagem! Parabéns pelo trabalho e desejo-lhe boa sorte no Desafio!
    Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho da história avaliada, para comprovar minha leitura. Então, vamos lá:
    ——————————
    RESUMO DA HISTÓRIA
    ——————————
    Jovem homoafetiva (é assim que se escreve?) é flagrada nua na floresta, juntamente de outra jovem a qual beijava e acariciava de forma impudica. Acusada de feiticeira e após quase ser morta por outros jovens, ela é mandada de volta pelos seus pais para o Rio de Janeiro, cidade onde morava anteriormente e onde deixara outra paixão, pregressa. (Nota: 4,3)

  2. Daniel Reis
    14 de setembro de 2019

    Categoria: Sabrinesco
    Sinopse: Laura é uma adolescente que está descobrindo sua sexualidade e paixão por outras garotas. Num tempo repressivo, a década de 50, ela tem um flerte com Ismênia, no Rio de Janeiro. E, ao ir para São Bernardo, envolve-se com uma turma mais convencional, que inclui Aimée, Pedro, Adriana e Adélio. Pedro sente atração por ela, mas Laura deseja Aimée. Num piquinique, seduz a menina e é brutalmente espancada pelos outros. Seus pais a resgatam, e ao saber que ela tem orientação lésbica, resolvem que seria melhor ela se afastar e morar com a tia no RJ. Com isso, retorna aos braços de Ismênia, sua primeira paixão.
    PREMISSA: a amizade que se transforma em desejo proibido. O autor utilizou do tabu e da localização temporal para dar o toque de drama que a história exigia.
    TÉCNICA: escrita bem desenvolvida, segura, ainda que em alguns diálogos e momentos (como nos poemas) a história se torne mais do que ambientada no passado, um pouco datada.
    EFEITO: a impressão é de que a inclusão da agressão teve um tom trágico de reviravolta, enquanto pareceu, pelo menos para mim, um pouco exagerada a reação. E o retorno ao Rio, deixando a história em aberto, deu um toque de capítulo de romance, mais do que conto, para a história.

  3. Shay Soares
    14 de setembro de 2019

    RESUMO:
    Conta a história de uma menina lésbica na época em que viajar de navio era uma opção rápida.

    Sensação
    A primeira impressão que tenho é que o final do conto foi escrito às pressas. No texto ficam evidentes alguns erros de falta de revisão e o final um tanto contido para quem teve certo domínio ao escrever todo o resto.

    Acho que por conta da imagem, achei que seria um conto grego haha principalmente quando apareceu uma Ismênia na história rs

    Narrativa/Técnica
    O conto já consegue capturar a atenção nas primeiras linhas e li sem qualquer esforço até o fim. Bem articulado, a narrativa é fluída e muito gostosa de ser lida.

    Depois de tantos sabrinescos lidos com seus adjetivos cheios de “voluptosas curvas”, confesso que foi um alívio ler uma abordagem diferente sobre sensualidade e despertar do desejo.

    Completo gosto pessoal, as declamações dos poemas soaram para mim como aquela parte do filme onde alguém começa a cantar e eu, particularmente, não gosto de musicais rsrs Outra coisa que também ficou um pouco forçada para mim foi o mel e as formigas, pareceu meio cruel demais para personagens que não estavam tão desenvolvidos assim (mas sei lá, né rsrs)

    Obrigada!

  4. Fil Felix
    14 de setembro de 2019

    Uma jovem deixa o Rio de Janeiro e também o seu amor, Ismênia. Em São Paulo ela faz novos amigos, se encanta por outra garota e, no momento derradeiro, é descoberta pelos outros amigos, que a acusam de feitiçaria e a deixam à deriva num buraco. Ao se assumir para os pais, é enviada de volta ao Rio.

    Talvez esse tenha sido um dos contos mais sabrinescos do desafio que li, justamente por trazer a questão do amor em grandes doses e apenas uma pitada de erotismo, não caindo nas cenas de sexo cheias de figura de linguagem que dominaram outros textos. Percebi alguns errinhos de gramática ou digitação, mas nada de grave. Apesar de se inspirar na história de Lesbos, o conto consegue se distanciar o suficiente e cair bem no contexto Rio-SP. Infelizmente existe o preconceito, ela é violentada e os amigos viram a cara, até o próprio pai sugere que ela saia da cidade para que não o prejudique. Mas como nada é por acaso, tudo funciona para que no final possa retornar ao Rio e à sua primeira namorada, como uma história de amor.

  5. rsollberg
    13 de setembro de 2019

    A canção de Laura

    Resumo: A história de uma jovem que é obrigada a abandonar o surgimento de um novo amor. Em uma nova cidade, em razão de circunstâncias trágicas vislumbra a esperança de reencontrar o amor deixado para trás.

    Um conto singelo, triste e avassalador. Melancólico porque é real, e apesar de certa datação não podia ser mais atual. Lembrou-me um pouco aso contos de Ana Cristina Cesar e Caio Abreu, especialmente “Aqueles Dois”..

    O estilo com um toque mais poético casou perfeitamente com a narrativa. Conseguimos em pouco espaço e pouco contato captar algo da natureza de Laura. O ponto alto do texto é que ele marca seu ponto sem precisar do discurso ostensivo. Evita explicar certos comportamentos, e quando o faz, usa um fio condutor mais orgânico e menos racional. È bom porque não compreendemos por inteiro os personagens, agrega muito também pelo não dito.

    Em suma, uma obra necessária nesse mundo cada vez mais monocromático e perverso.
    Parabéns pelo refinamento e ousadia.

  6. Fabio Baptista
    11 de setembro de 2019

    RESUMO: A família de Laura tem que sair do RJ e vir para SP. A moça se despede de sua amiga Ismênia de um jeito… sabrinesco… e promete voltar. Em São Paulo, Laura conquista outra garota (tá parecendo minha prima… rsrs), mas seu amor LGBTQI+ é descoberto e Laura é agredida por isso. Diante do ocorrido, os pais decidem mandá-la de volta ao Rio de Janeiro, onde Ismênia a aguardava de braços abertos. Tudo que Laura queria…

    COMENTÁRIO: Um bom sabrinesco, gostei bastante do modo que foi escrito, com alguns trechos poéticos e boas descrições. Sempre me incomodam essas referências ao desafio, quebram um pouco a imersão. Outra coisa que me incomodou, essa o suficiente para influenciar na nota, foi que o texto parece sofrer de certo anacronismo. No início pensei algo bem de época, século retrasado e tal. Acredito que ficaria melhor nesse período, inclusive. A acusação de feitiçaria, por exemplo, me parece combinar mais com 1800 do que com os anos 30… mas enfim. A explicação do pai foi engraçada kkkkk.

    NOTA: 4

  7. Catarina Cunha
    5 de setembro de 2019

    O que entendi: História de uma jovem lésbica na conservadora era Vargas. Obrigada a se mudar do Rio para o interior de São Paulo com os pais, sente falta de seu primeiro amor com quem se corresponde por carta. Conhece um grupo de jovens e ensaia um sexo selvagem com uma das meninas. São flagradas e Laura sofre agressão. Os pais mandam Laura de volta ao Rio para salvar as aparências. E todos foram felizes para sempre.

    Técnica: Não sei se foi proposital, para ambientar a época, ou se é estilo do (a) autor (a). Ficou aquele ar de pecado inocente, sabrinesco mesmo.

    Criatividade: A história é simples, mas eu gostei muito da ousadia. Não é fácil escrever sobre costumes do século passado.

    Impacto: Embora tenha sido bem escrito, não me envolvi o suficiente com o conto para sentir alguma emoção.

    Destaque: “Me deito sobre essas folhas macias e penso em ti, minha querida Ismênia.” – Muito sabrinesco mesmo!

    Sugestão Se considerarmos que o Pão de Açúcar estava ao norte de Laura, fica difícil a Urca estar a oeste, já que o marro fica na Urca. Foram de navio para São Bernardo que fica a mais de 60 Km do oceano? Sugiro rever as coordenadas. Cabe revisão, exemplos: “passou” em vez de “passos”, “Lura” em vez de “Laura”, “macha” por “mancha”, etc.

  8. Cirineu Pereira
    4 de setembro de 2019

    RESUMO: História de uma garota com inclinação homossexual que, quando do regime Vargas, muda-se do Rio – onde deixa Ismênia, com a qual teve sua primeira experiência romântica – para o interior de São Paulo – onde tem sua segunda experiência, com outra moça. Descoberta, Laura sofre um atentado e é deixada à morte por seus amigos preconceituosos.

    TÍTULO E INTRODUÇÃO: Título sem grande poder de apelo. A abertura, apesar de relativamente ousada, é excessivamente direta. Precisaria ser melhor preparada, melhor contextualizada e melhor conduzida. Nota: 6

    PERSONAGENS: Personagens com pouca profundidade, até em razão do pouco espaço que recebem. Precisariam ser melhor construídos, pois se apresentam um tanto estereotipados e artificiais. O autor peca pela ausência do detalhe. Nota: 6

    TEMPO E ESPAÇO: Nota-se clara preocupação em contextualizar o conto no tempo e no espaço, no entanto o autor falha ao sugerir, sem maiores explicações, que a protagonista e sua família viajaram, do Rio a São Bernardo, de navio. Ademais, quer me parecer que as falas, principalmente da protagonista, não condizem, mesmo considerado o período histórico, com uma garota de uma metrópole como o Rio de Janeiro. Nota: 7

    ENREDO CONFLITO E CLÍMAX: Não obstante o enredo propicie momentos de excitação, ansiedade e até suspense, a técnica narrativa se mostrou impotente em transmiti-los ao leitor. A narrativa é linear, superficial, rápida, não propiciando a imersão. Nota: 6

    TÉCNICA E APLICAÇÃO DO IDIOMA: Alguns problemas de edição, principalmente nos diálogos, com ausência de quebra de linha após fala, ausência de travessões ou ausência de espaço entre palavras e travessões. Por vezes, não fica claro quem é o sujeito na oração, como em “A jovem (qual delas?) parou sobre o topo da elevação e abriu os braços, olhando ao redor.” As metáforas (e outras figuras de linguagem) são desgastadas, fracas e pouco originais, mesmo considerada a contextualização pretérita. As limitações estilísticas e ausência de verossimilhança é uma constante ao longo do texto. Nota: 5

    VALOR AGREGADO: A história, apesar dos pecados de técnica e estilo, é capaz de remeter a reflexões sobre o preconceito e a intolerância ante à homossexualidade – particularmente feminina -, ainda presente em nossos dias. Nota: 7

    ADEQUAÇÃO À TEMÁTICA Alinhado com a temática erótica, ainda que incapaz de imergir o leitor nessa atmosfera. Narrativa pouco empolgante. Nota: 7

  9. Fernando Cyrino
    2 de setembro de 2019

    olá, Alceu, vim aqui ler o seu conto lésbico. Viajar com Laura para São Paulo, onde termina agredida, até que possa voltar ao Rio, para os braços do seu amor. Você sabe contar uma história. parabéns.

  10. Evelyn Postali
    1 de setembro de 2019

    Caro(a) escritor(a)…
    Resumo: Laura é uma garota romântica, que se muda para São Paulo. Ela ama Ismênia e poemas. Depois de sofrer com preconceitos dos novos ‘amigos’ o pai decide mandá-la de volta para o Rio.
    Técnica: Linguagem delicada, bem construída. Sem erros de escrita – não que eu tenha percebido. Roteiro simples, mas tratando de um tema delicado. Personagens poderiam ter mais profundidade.
    Avaliação: É um conto bem escrito, com conteúdo, mas senti falta de um pouco mais dos personagens, talvez sobre o pensamento dos pais de Laura, por exemplo. A cena da procura dos pais por Laura provocou desconforto, mas considero bom, uma vez que conseguiu contar o que houve com ela de forma pouco sutil. É um bom conto. Não sei se posso considerá-lo sabrinesco, uma vez que Ismênia não atuou muito junto de Laura.
    Boa sorte no desafio.

  11. Elisa Ribeiro
    24 de agosto de 2019

    Jovem descobre-se atraída pela amiga em seu último dia no RJ antes de partir com os pais para viver em SP. Na nova cidade, sente-se atraída por outra amiga e é correspondida quando se declara. O irmão da amiga as surpreende em flagrante o que precipita o desfecho da trama, que sinaliza para a retomada do romance original.

    Um sabrinesco lésbico. O enredo é correto mas não surpreende, o mesmo se aplicando aos personagens. O espaço é bem marcado, Rio e São Paulo aparecem explicitamente no texto, o que não acontece com a temporalidade. A linguagem sugere que não se trata de uma história contemporânea, mas faltam elementos para fixar a época exata em que a história se passa. A mim, isso causou um estranhamento que não chegou a atrapalhar a leitura, mas fez falta.

    A linguagem é direta, sem entraves, porém pálida. A leitura foi agradável, sem a necessidade de releituras ou retomadas. Não notei maiores problemas de revisão.

    A cena de violência com Laura e depois as formigas e o mel sugeriram uma atmosfera de terror que, embora tenha fugido um pouco do “sabrinesco”, acrescentou um tempero à história. O mesmo vale para a inserção dos poemas. As duas coisas me agradaram.

    A impressão geral foi de uma história correta, porém não muito empolgante.

    Parabéns e boa sorte! Um abraço.

  12. Priscila Pereira
    21 de agosto de 2019

    Resumo: Laura tem sua primeira relação com uma amiga antes de mudar para outra cidade, onde conhece a família de uma colega de escola. Os irmãos da colega pegam as duas em flagrante e quase a matam, seus pais a socorrem e a mandam de volta para a cidade de onde saíra.

    Olá, Alceu! Seu conto está bem escrito, notei que houve uma pesquisa pra ambientar na época e me parece que conseguiu muito bem. Senti falta de mais romance, tipo, ela diz amar a amiga, mas logo tá se pegando com a menina que acabou de conhecer, depois manda carta pra amiga avisando que está voltando… ficou inconsistente o romance, não vai diminuir sua nota nem nada disso, mas eu preferia ler contos em que o foco fosse o amor verdadeiro levando a consumação dos desejos, e não simples consumações de desejos, quase todos os sabrinescos falharam nisso (na minha opinião, é claro).
    A cena da que os irmãos pegam as duas e quase matam a Laura ficou bem forte, mostrou a intolerância e violência que, infelizmente, acontece até hoje.E a escolha dela se calar, não acusar os “amigos”, apesar de triste é verossímil, abafar o caso parece menos doloroso e constrangedor, fazendo com que a violência continue sempre impune. Felizmente o conto não teve um final trágico, parece que a família não condenou totalmente e ela pode voltar para ficar com a amiga.
    Desejo boa sorte!

  13. Gustavo Araujo
    19 de agosto de 2019

    Resumo: Laura é uma garota que gosta de outras garotas. Está para deixar o Rio, mas isso não a impede de se despedir de Ismênia, no sentido bíblico da palavra. Agora em São Paulo, conhece novos amigos, mas não demora a se sentir atraída por outra menina, Aimée. Ocorre que o pessoal descobre as duas na floresta, em plena atividade, e se escandalizam com a cena. Aimée é resgatada pelo irmão, enquanto os outros agridem Laura e a deixam para morrer num buraco infestado por formigas. À noite, seus pais a descobrem e a levam ao hospital, onde ela revela suas preferências. Com medo de um escândalo, o pai resolve encaminhá-la de volta ao Rio.

    Impressões: gostei muito do início do conto. As descrições são ótimas, a linguagem é encantadora. Me senti envolvido pela história de Laura, por seus dilemas e por sua luta consigo mesma para escapar da doutrinação familiar que seguia as rígidas regras da sociedade da época. De fato, o conto vai muito bem até o momento do piquenique com os novos amigos paulistas, especialmente quando Laura declama o sedutor poema que faz Aimée se derreter.

    A partir daí, a trama desanda um pouco, acelerada, talvez, pelo limite imposto pelo desafio. Tudo acontece muito rápido: o beijo, as roupas no chão, o sexo. E piora, com a descoberta dos amigos e a reação desproporcional, extremamente forçada. Creio que esse tipo de resposta a algo socialmente reprovável poderia ocorrer no século XVIII ou XIX, mas não nos anos 1940. Ao contrário da vida real, a ficção precisa fazer sentido, o que não foi o caso.

    Talvez, liberada dessa limitação de 2500 palavras, esta história possa ser reescrita com parcimônia, com a sedução paulatina e com as reações num crescendo. Creio até que vale a pena investir nisso porque a escrita é ótima, a escolha de palavras, muito feliz, e a construção dos personagens, exemplar. Dos contos que li até agora — lá se vão vinte — este foi o que melhor trabalhou o jogo de sedução, sinal da competência de quem concebeu a trama.

    De todo modo, parabenizo o(a) autor(a) e desejo boa sorte no desafio.

  14. Fernanda Caleffi Barbetta
    16 de agosto de 2019

    Resumo
    Laura sente desejo por uma amiga e revela a ela um dia antes de se mudar do Rio de janeiro para São Paulo. A amiga, que nunca havia se imaginado homossexual acaba correspondendo. Laura se muda para São Bernardo e começa a conhecer novas pessoas. Um dia, ela é convidada a participar de um piquenique, onde, após uma conversa sobre relacionamentos, ela recita uma poesia, com as mãos dadas á Aimée. Após a poesia, ela corre para a mata e Aimée a segue. As duas se beijam e, quando já estão nuas, são surpreendidas pelos demais amigos, que a ofendem e a machucam. Os pais de Laura acabam a encontrando com o corpo ferido por formigas e a cabeça ferida. Quando está se recuperando, Laura revela aos pais o motivo da agressão e eles se decepcionam e a mandam para o Rio de janeiro para morar com a tia. Ela envia uma carta ao seu amor no Rio de janeiro avisando que está voltando.

    Comentário

    O texto é bom. Mas acho que faltou explorar melhor o romance, pois eu senti que acabou pendendo mais para uma crítica social. No início, por exemplo, a parte do primeiro beijo, o relacionamento entre as duas amigas poderia ter sido melhor explorado… quando eu li “beijando-a na boca” me deu a impressão de um selinho e não de um beijo apaixonado, como percebi depois.
    Também não gostei do final que pareceu meio óbvio. E o sonho de abrir uma escola de etiqueta social para moças me pareceu incoerente dentro do contexto.
    Outra coisa que me soou sem coerência é o fato de a mãe, uma pessoa preocupada em defender a moral e os bons costumes, não saber o que é ser lésbica e demorar tanto para entender a explicação do marido.

    Achei estranha a confusão entre música e poema. No meu entender, poemas são recitados e não cantados: “Laura afastou-se o suficiente para despi-la” soou um pouco estranha. “Um dos músicos trocou o acordeão pelo violão e esperou pelo tom. Laura encarou a plateia, dizendo; – Vou recitar o poema intitulado, Canção do Amanhecer.” Nesta parte, ficou confusa a relação entre poema e canto.

    O mal uso das vírgulas dificulta o entendimento neste trecho: Para o norte (vírgula) via-se o perfil escuro do Pão de Açúcar (vírgula) para oeste, a Urca, leste (vírgula) o Atlântico.
    Fernando (vírgula) o pai, passou. É uma vírgula importante pq sem ela, vc separa sujeito do verbo.
    Junto a (à) fonte
    Fernando e Cleis foram a (à) procura da filha
    tão apegada a (à) moral

    – Adriana! Isso é pergunta que se faça? (após a interrogação não deve-se colocar ponto final)

    Atlético e bonito, ou feio como o Pedro? (neste caso não usar a vírgula antes de ou)

    A pontuação dos diálogos está confusa em vários casos. Vou dar um exemplo: – Claro! –respondeu Laura. Adriana tocou no braço dela, dizendo; (sugiro colocar a Adriana em outro parágrafo e terminar com : no lugar de 😉

    Não entendi essa frase: “Ao ouvir ruído de passou, abriu os olhos.”

    Os insetos, além de comer (comerem) o

    Fernando limpou como pode (pôde) o corpo

    Os planos e sonhos que a mãe tinha por (para) ela, caiam (caíam) por terra.

    Laura com grafia errada (Lura)

  15. Fheluany Nogueira
    14 de agosto de 2019

    Laura acompanha os pais na transferência do Rio para São Paulo. Despedindo-se de Ismênia, vive sua primeira experiência sexual com a amiga. Promete voltar.
    A jovem, na nova escola, forma um grupo de amigos e torna-se popular graças às suas poesias. Em uma incursão com a turma, declama poemas e tem a oportunidade de envolver-se com a irmã de um rapaz que a assediava. Todos a agridem e a deixam para trás. Os pais a encontram besuntada de mel e picada por formigas, mas ela não acusa ninguém. Para não dar o que falar, Laura volta com uma tia para o Rio e feliz escreve para Ismênia que a espere.

    O conto é escrito como uma homenagem a Safo, cujo próprio nome é usado para descrever o amor romântico entre duas mulheres na palavra “sáfico”. Até o nome da mãe de Safo foi mantido para a mãe da protagonista: Cleis. Confesso que comecei a leitura sem muitas pretensões, mas acabei presa num enredo interessante e bem ambientado nos meados do século passado.

    Percebe-se muito cuidado para que a narrativa não pareça nem preconceituosa, nem uma apologia ao homossexualismo. O tom é de literatura dirigida a adolescente, as cenas eróticas são, de certa forma, contidas, mas atendem o tema sabrinesco.

    Quanto à linguagem, o texto está bem escrito, notei apenas algum lapso de digitação e achei que os primeiros diálogos soaram meio artificiais, talvez por conta do vocabulário e da pessoa gramatical (2ª), que não combinam bem com o ambiente.

    Uma leitura agradável. Parabéns pelo trabalho. Boa sorte na Liga. Abraço.

  16. Marco Aurélio Saraiva
    7 de agosto de 2019

    Laura é lesbica e está saindo do Rio de Janeiro por causa dos negócios do pai, então decide se revelar para Ismênia, sua paixão. Uma vez em São Paulo, troca cartas de amor com Ismênia e faz amigos. Estes amigos logo descobrem sua identidade sexual e a atacam, afinal, eram outros tempos. Laura é enviada de volta para o Rio para que os murmúrios sobre quem era não atrapalhassem os negócios do pai. Era tudo o que ela mais queria: estar de volta ao lado de Ismênia.

    Um dos objetivos óbvios do conto era mostrar as dificuldades da vida de uma homossexual em tempos onde o ato era crime; um pecado mortal. Neste sentido acho que o conto perdeu uma grande oportunidade de explorar mais o relacionamento entre Ismênia e Laura. Logo no início Ismênia descobre a própria homossexualidade, e começa a entender a si mesma, graças à condução de Laura. O momento é único e amarra o leitor, mas passa rápido; apressado. Ismênia logo se torna um artefato; alguém que ligava Laura a lembranças de seu antigo lar. Logo, Laura encontra outros amores e Ismênia se torna uma “mais uma” que volta no final como “a verdadeira”. Acho que, de todas as personagens da história, Ismênia era a que tinha mais potencial, justamente por ainda estar na fase de “descoberta”, e ela se perdeu.

    O enredo é o de um simples confronto. Laura tem um dom único com as palavras e é sedutora. Ela deserta o desejo em tanto homens como mulheres, mas se interessa apenas por um deles. Ela é descoberta e rechaçada, e é isso. Os personagens de São Paulo são rasos, sem muitas dimensões. Passam rápido, agem rápido e somem da história. Os pais de Laura, por outro lado, remetem a um realismo maior; a mãe ignorante do que era o lesbianismo, o pai que aceita mas que tem que se preocupar com os negócios da família.

    A técnica é muito boa. Você tem construções muito belas, e poemas interessantes e bonitos. Enxerguei um problema em algumas vírgulas que travavam um pouco a leitura, mas eles sumiam na beleza das suas palavras. A única coisa que eu achei que realmente me incomodou foi a pressa: a história é exibida com uma velocidade que não condiz com os poemas, com suas metáforas e afins.

    Emfim: um conto bonito de se ler, com uma lição interessante, uma fotografia de uma sociedade passada, mas que de perde um pouco nos personagens superficiais, na falta que Ismênia fez e na pressa da narrativa.

    PS: O “Entrecantos” foi muito bom!!! rs rs rs

  17. angst447
    5 de agosto de 2019

    RESUMO:
    Laura e família partem do Rio de Janeiro para uma nova vida em São Bernardo de Campos. Laura deixa um amor – Ismênia, com quem se corresponde enquanto tenta fazer novas amizades. Acaba se envolvendo com Aimée, e quando as duas são pegas se amando, Laura é acusada de feiticeira, de ter seduzido a amiga. Aimée vai embora com o irmão e Laura é agredida por Adriana e Adélio. Acaba sendo encontrada “deitada num buraco, sem roupas, o corpo lambuzado de mel, coberta de formigas vorazes”. Passa um tempo se recuperando no hospital e conta aos pais que foi agredida por ser lésbica, porém esconde quem foram os reais torturadores. O pai decide que é melhor que ela vá para o Rio até que as coisas se acalmem. Laura gosta da ideia e escreve para Ismênia marcando um encontro.

    AVALIAÇÃO:
    Conto sabrinesco, com romance entre meninas. A imagem me fez pensar em algo de época remota, mas o enredo parece se passar lá nas primeiras décadas do século passado.
    O ritmo é um pouco truncado, mas se acelera em alguns momentos, por conta dos diálogos. Os versos são simples, mas bem sabrinescos, embora eu considere que não sejam elementos que contribuam muito para a trama.
    A passagem da tortura e abandono de Laura à morte foi bem descrita e me causou aflição. Pobre moça, vítima de tanto preconceito. O final já dá um tom mais leve e cheio de esperança para o romance entre Laura e Ismênia.
    Não encontrei erros que chamassem a atenção. Se houve algum, não percebi.
    Parabéns pela sua participação no desafio. Boa sorte!

  18. Luis Guilherme
    5 de agosto de 2019

    Boa tarde, amigo. Tudo bem?

    Conto número 3 (estou lendo em ordem de postagem)
    Pra começar, devo dizer que não sei ainda quais contos devo ler, mas como quer ler todos, dessa vez, vou comentar todos do mesmo modo, como se fossem do meu grupo de leitura.

    Vamos lá:

    Resumo: menina apaixona-se por outra, mas logo que têm sua primeira relação, muda-se com os pais, afastando-se da amada. Na nova cidade, conhece Aimée, com quem se envolve, porém são pegas no ato e ela quase é morta. O pai acha melhor mandá-la de volta pra casa, e assim ela vai reencontrar a amada.

    Comentário:

    Achei um bom conto. Foi uma leitura agradável e que fluiu bem. Vamos por partes.

    Pra começar, gostei bastante da ambientação e dos diálogos. Você foi muito eficaz em criar o ambiente da época em que a história se passou. Os diálogos são naturais e críveis, inclusive com a linguagem adequada. Muito bem! acho bem difícil escrever história de época, pois se não for bem ambientado, pode virar um desastre. O único porém que fiquei foi: será que já se usava a palavra lésbica, à época? Não tenho certeza… de qualquer forma, não vai pesar na análise, é só um ponto que estou levantando.

    Sobre o enredo, acho que tem alguns pontos que ficaram um pouco frágeis. Por exemplo: achei que a cena na floresta ficou forçada. Naquela época, a homosexualidade era ainda mais demonizada que hoje em dia, como ficou claro pela própria reação do grupo, que quis matá-la. ENtão não me parece muito plausível que duas meninas começassem a ter relações sexuais abertas, a poucos metros dos amigos e do próprio irmão, ainda mais sabendo que obviamente mais alguém iria atrás pra saber o que aconteceu com a Aimée.

    Como é uma cena crucial pro desenrolar do enredo, achei um pouco prejudicial que ela tenha acontecido assim, meio forçada. Acho que vale a pena repensar isso. Elas poderiam ter sido flagradas num local mais íntimo, escondendo a relação proibida que estavam mantendo (obviamente proibida na visão da época, e não na minha visão, que acho que toda forma de amor é válida e linda ^^)

    Sobre a escrita, tenho uma observação positiva e uma negativa:

    – Positiva: gostei muito de como você coloca situações comuns na história, dá uma riqueza pro enredo. Por exemplo, quando fala que ela pagou um menino pra levar a mensagem aos correios. É uma info que não tem muita importância, mas que dá um charme na escrita.

    – Negativa: achei que o conto apresenta repetidos problemas de pontuação, que precisam ser revistos. Exemplo: “A jovem parou sobre o topo da elevação e abriu os braços, olhando ao redor. Para o norte via-se o perfil escuro do Pão de Açúcar para oeste, a Urca, leste o Atlântico.”

    Outro ponto forte do conto foram os poemas, muito bem colocados e muito bons, também. Gostei mto!

    Por fim, achei as cenas “picantes”, ainda que bem leves e comportadas, muito bem retratadas. Soaram bem e trazem consigo uma certa sensualidade que foi um mérito na escrita.

    Parabéns pelo trabalho e boa sorte!

  19. Angelo Rodrigues
    5 de agosto de 2019

    A Canção de Laura

    Resumo:
    História passada nos anos de Vargas, talvez na primeira investidura, anos 1930-40, onde duas meninas se apaixonam. Uma delas deve partir para São Paulo e a outra deve fica no Rio de Janeiro. Ocorrem peripécias num morro onde outra menina se diz apaixonada por aquela que saíra do Rio, e a família resolve mandá-la de volta ao Rio, justo aos braços de seu primeiro amor.

    Comentários:
    Caro Alceu,
    Conto sabrinesco.
    Não sei se intencionalmente ou não, seu conto tem o cheirinho de um poema de Safo, que diz assim:

    — Adolescência, adolescência,
    Você se vai, aonde vai?
    — Não volto mais para você,
    Para você volto mais não.

    Óbvio que ela volta, como voltou em seu conto.
    Gostei do conto, da trajetória das meninas, de suas descobertas amorosas. Faz isso com docilidade, passando uma certa esperteza e picardia das meninas.
    Tem uma linguagem simples e condizente com a proposta do texto, buscando dar a ele um tom de época. Ficou bem legal, inclusive no processo de escolha dos nomes dos personagens, que também me pareceram marcar uma época quando marcado pela presença de Vargas como indicativo temporal.
    Notei alguns poucos desvios de escrita, tal como “Junto a [à] fonte…”, algo sem relevo.
    Uma outra coisa que notei foi quanto ao uso da palavra antibióticos, lembrando que os antibióticos começaram a chegar significativamente ao mundo por volta dos anos 1930, parecendo um pouco deslocado do uso vocabular para a época. Talvez fosse interessante contornar o termo “antibióticos” por um outro, de época, ou mesmo omitindo-o por conta de uma necessária verossimilhança.
    Bem, e como você lembrou de Alceu em seu pseudônimo, aqui vai outro poema, agora dele, e não de Safo:

    Ebro, o rio mais bonito […]
    […]
    Muitas meninas louvando as suas águas
    Doces (com a concha das mãos pelas coxas
    Durinhas), como um óleo […]

    Estes dois poemas estão no compilado poético de Décio Pignatari
    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.

  20. Regina Ruth Rincon Caires
    3 de agosto de 2019

    A Canção de Laura (Alceu)

    Resumo:

    A história de amor de Laura e Ismênia, num tempo em que o amor entre pessoas do mesmo sexo era visto, principalmente pelos mais velhos, como algo socialmente inaceitável. Pela descrição, conto ambientado no início do século passado. Laura frequentava “colégio de boas maneiras de madame Leopoldina Duarte”, e em São Bernardo havia prados onde cavalos pastavam a relva coberta de flores… Houve uma separação em virtude da mudança da família de Laura para São Paulo. Quando o pai descobriu que a filha era lésbica, para preservar o bom nome da família, ele organiza tudo para que Laura volte para o Rio, para morar com uma tia. E Laura reencontrará Ismênia.

    Comentário:

    O conto é bem narrado, tem uma linguagem simples e direta. Ambientado no início do século passado, explora a temática do relacionamento de pessoas do mesmo sexo, mostra de maneira resumida a situação política da época. É uma escrita sabrinesca leve, inocente, permeada de poesia, com traços de apelos dramáticos. Não encontrei qualquer dificuldade para realizar a leitura. Sem deslizes. Tem boa estrutura, coerência.

    Parabéns, Alceu!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

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Informação

Publicado às 1 de agosto de 2019 por em Liga 2019 - Rodada 3, R3 - Série B e marcado .
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