A multidão em frente ao Grande Salão Memento estava agitada. Vários cartazes erguidos, vozes uníssonas e gestos agressivos protestavam contra o evento que estava prestes a começar. Ameaças haviam sido feitas durante toda a semana aos cientistas, mas eles decidiram manter sua presença com certa arrogância. O conhecimento não poderia mais ser obscurecido por ideais supérfluos.
Entretanto, logo que notaram que a multidão crescia, resolveram mudar o acesso ao prédio. Todos os cientistas participantes foram orientados a entrar pela parte traseira para não serem percebidos. Dentro de um desses carros estava o motivo da arrogância e revolta. A primeira vida humana artificial havia sido criada há alguns anos e seria revelada ao mundo, pois o resultado era animador — ou aterrorizante, dependendo do ponto de vista.
No banco detrás do carro preto blindado, enquanto dava a volta na rua para entrar no Grande Salão Memento, uma menina perguntou para sua tutora:
— Mamãe, eu tenho alma?
A mulher olhava pela janela do carro para a multidão enraivecida ao longe. Às vezes, ela os entendia. Com o olhar fixo na janela, respondeu:
— Pela milésima vez, não me chame assim, Dora. Eu não sou capaz de responder essa pergunta. Por que está insistindo nisso?
— Esse site diz que eu não tenho alma e que mereço morrer por isso.
Um raio passou por todo o corpo da mulher que prontamente se virou para a menina, tirando o celular de suas mãos. Olhou em seus olhos e disse “Não ligue para isso, você não merece morrer”. As bochechas dela eram rosadas, seus olhos eram meigos e ingênuos. Elas, a menina e a mulher, pareciam iguais, afinal. Mas não eram. Alguma coisa entre filosofia, fé e moral as separava como uma fina camada sobre a realidade. Elas nunca seriam iguais.
Voltou-se para o artigo escrito no site. Começou a ler perguntando-se se uma criança merecia ver aquelas atrocidades. A publicação datava três dias atrás. A mulher xingou em pensamento quem havia vazada a informação sobre o que seria anunciado pelo Comitê Científico. Tiveram que tirar a menina as pressas da escola e se mudar para um local seguro. A vida dela mudou de forma abrupta. A tutora sentiu-se um pouco culpada e, de certa forma, se identificava com Dora.
O carro parou no estacionamento. O motorista desceu e abriu a porta. Logo, vários seguranças vieram escolta-las até a área principal do evento. A mulher segurava a mão de Dora. Estava fria. Ela olhava para a menina por cima. Não parecia nervosa, mas sua mão… Por um momento imaginou-se grávida de um pequeno ser sem alma. Aquele ser dentro de sua barriga. Uma casca vazia, uma aberração. Sentiu um calafrio. Mas logo se aliviou porque era estéril.
— Sra. Vae, o presidente do Comitê pediu para conversar com vocês antes do anúncio. Poderiam me seguir, por gentileza?
Vae assentiu dizendo “Vamos, Dora”. Foram levadas até o segundo andar para uma sala espaçosa com um sofá luxuoso, alguns quadros nas paredes perpendiculares a porta e uma pequena estante com livros. Havia uma janela que, por segurança, estava trancada. Sentaram-se no sofá. Ainda dentro do cômodo era possível ouvir os gritos lá fora.
— Mamãe, cadê o papai? — questionou a menina enquanto balançava as pernas.
— Pandora — suspirou. —Já falamos sobre isso. Odãa precisou resolver um assunto.
Era a terceira vez que ela perguntava sobre seu “pai”. Vae preferia o termo “responsável” ou “tutor”. Nunca se sentiu preparada para dar a luz a uma criança nesse mundo de pessoas malucas e egocêntricas. Alguns afirmavam que, talvez, por sua relutância em ser mãe é que nunca havia conseguido engravidar. Olhou para Dora “Uma criança sem alma”, pensou.
— Se a gente subir lá pra cima do terraço, podemos ver nossa casa? Eu quero ir lá, mamãe!
— Não, não vamos. Temos que ficar aqui.
A porta abriu e prontamente Vae ergueu-se e cumprimentou o presidente.
— Como está a nossa Pandora? — Sorriu falsamente para a garotinha que tentou se esconder atrás de Vae. Logo em seguida, direcionou-se para a mulher: — Fique fria, você não pode fumar hoje. Sem nervosismos. Eles não tentarão nada com todas as pessoas aqui. Cão que ladra não morde. E também os líderes religiosos são nossos escudos hoje, não é? Que fanático atacaria seu próprio povo?
Ela pensou em vários, mas disse:
— Pouco importa o ataque. Você foi precipitado em vazar a existência do projeto Z.E.U.S. e de Pandora. Como você acha que estão reagindo? Ela não merece isso.
— Já escondemos isso por tempo demais. Criamos vida humana praticamente do nada, caramba! Não jogue suas frustrações maternais existencialistas em cima disso, porque ela não merece nada — ele apontava para Dora.
Vae aproximou-se do homem, colocou a mão em seu ombro, apertando com força e surrou:
— Nunca mais diga essa droga na frente da menina, ou eu acabo com tudo.
Ela se afastou. O homem se recompôs e voltaram a conversar sobre os últimos acontecimentos daquela semana. Entretanto, ainda era visível seu constrangimento. Era a primeira vez que Vae falava de forma tão agressiva com ele. Após alguns minutos, foi embora dizendo “Perto das oito, irei fazer o anúncio. Virão buscar vocês”.
Dora estava quieta no sofá. Não balançava mais as pernas. Estava tensa.
— Dora, está tudo bem?
— Tô atrapalhando você de novo?
— Por que está dizendo isso?
— Você não queria ser minha mãe e agora que brigou com seu chefe pode perder o emprego.
Vae sentiu-se envergonhada. Sentiu pena por aquela criança jogada em um limbo sem sequer compreender a vida. Tentou amenizar alegando que não perderia o emprego por isso, porém Dora continuava triste. Vae a acariciou por um instante. Percebeu que estava com medo por essa criatura tão frágil. Quis chorar. Decidiu, então, respirar um pouco de ar. Queria afastar esses sentimentos, estava embriagada com eles e odiava essa sensação. Disse para Dora ficar lá na sala e que não saísse de forma nenhuma, que ela voltaria rápido. Avisou para o segurança do lado de fora da sala para ficar em alerta, pois a menina ficaria sozinha.
Vae desceu a escada depressa, foi até o primeiro andar e procurou uma sacada. Pegou um cigarro e começou a fumar. Cada baforada ela só conseguia pensar o que seus superiores e o seu marido, Odãa, diriam. Ela estava cansada de todas as regras que lhe eram impostas. “Vae, você e Odãa serão responsáveis por Pandora” disserem-lhe. Já fazia 10 anos. Subitamente, a pergunta feita mais cedo pela criança surgiu em sua mente. “Eu tenho alma?”. Como alguém criado pelos homens teria alma? Ela tentou se distrair olhando para as pessoas que transitavam abaixo. Notou que havia algum tipo de tumulto próximo a entrada. “Os homens são tão tolos,” pensou, “sempre brigando por coisas pequenas como se fosse superior de alguma forma”.
Deu uma baforada. Dento do Grande Salão Memento anunciavam o início do evento. “É com grande prazer que anunciamos a décima segundo edição…”. Vae viu um homem correr para longe da multidão e notou que algumas pessoas estavam brigando com os seguranças na entrada do evento. Ouviu gritos desesperados e uma correria. “Nessa edição, o Comitê da Ciência vai apresentar Pandora, a primeira humana artificial…”. Um tiro reverberou. Mais gritos. Ela já sabia o que aquilo significava. Pegou seu celular do bolso. “O Tempo Transversal também será discutido e… Que barulho foi esse lá fora?”.
De maneira estranhamente sincera, ela só quis que tudo se explodisse. E foi o que aconteceu.
Um barulho enorme soou. O prédio interior tremeu. Vae soltou o cigarro. Enquanto a ligação discava, só conseguia pensar que Dora estava lá dentro. Sabia que o protocolo a ser seguido nesse momento seria salvar a própria vida. Até conseguiria descer pela sacada com a ajuda da árvore, mas ela tinha outra ideia.
— Odãa, ative o protocolo de resgate. Estou dentro do prédio e acabou de acontecer uma explosão — disse Vae às pressas para a outra pessoa na linha.
Vae desligou. O caos estava instaurado. Tiros soavam por toda parte. Ela não queria largar Dora lá, sozinha. Ela não merecia morrer assim. Entrou cautelosamente. Havia fumaça nas escadas. Correu para o andar de cima. Não ouviu tiros dessa parte, mas ouvia gritos dizendo “Onde está a aberração?!”. Foi direto para o quarto. O segurança não estava na porta. Ela entrou e encontrou Dora chorando desesperada. Ela não podia acreditar que deixaram a menina para trás.
— Dora, Dora, venha cá! — Agarrou a menina nos braços. — Vamos sair daqui, tá bem? Shh, shh! Não precisa chorar, tá?
A menina foi diminuindo o choro aos poucos. Vae ouviu um barulho de balas vindo da escada. Olhou pela fechadura da porta. Havia muita fumaça, entretanto, podia ver vultos abrindo as portas dos outros cômodos. “Dora, venha comigo, fique quietinha, por favor”. Levou a menina até o banheiro. Agachou-se com ela ao lado da pia. O telefone em seu bolso começou a tocar. Era o presidente desesperado perguntando onde ela estava. Vae respondeu.
— Mamãe, tão entrando na sala — sussurrou Dora.
Vae imediatamente desligou o telefone e começou a vasculhar em sua mente o que poderia fazer para sair dali viva com a garota.
— Vamos orar? — questionou Dora.
A mulher não conseguia imaginar como isso poderia ajudar, mas concordou.
— Fecha os olhos, tá? Ora em silêncio.
“Pai Nosso que estais no Céu…” Vae praticamente conseguia ouvir os pensamentos de Dora. Ela também quis orar, mas… não acreditava que houvesse alguém ouvindo as preces de um ser sem alma. E o que mais podia fazer?
Viu a maçaneta girar vagarosamente. Não poderia fazer nada.
Quando a porta abriu, era um oficial do protocolo de resgate. Ela sentiu um alívio escorrer por todo seu corpo. Talvez as preces tivessem sido ouvidas. O oficial puxou Vae pelo braço com força, fazendo a largar Dora sozinha no canto. Ele apontou sua arma e atirou na criança. Vae viu tudo acontecer lentamente e não conseguia acreditar. Nem percebeu que havia gritado.
Logo em seguida, o homem colocou a arma em sua própria boca e puxou o gatilho. Vae caiu no chão em choque. Ouviu os outros oficiais chegando ao cômodo e tomando-a pelos braços para tirá-la de lá. Alguns se perguntavam o que havia acontecido. Jamais suspeitariam que um dos oficiais fizesse parte dos extremistas.
Dora balbuciou algo. Nesse momento Vae recuperou todos seus sentidos e começou a se espernear nos braços do homem que tentava tirá-la do banheiro. Ela gritava “Me larga! Me larga! Ela está viva”. Então por pena, ou por força, o oficial a soltou e ela correu para Dora. Olhou seu ferimento e começou a chorar.
— Mã-mãe… al-…?
— Me perdoa, Dora, me perdoa! Você tem alma sim! Está me ouvindo? Você tem alma sim! Você tem… — Sua voz foi engolida pelo choro.
À medida que a menina desfalecia, um zumbido forte soava nos ouvidos da mulher. Quando a respiração parou, o zumbido também sumiu. Vae nunca soube o que havia sido esse som, mas acreditava secretamente que havia sido alma de Dora partindo para algum destino digno da inocência. Os oficiais tomaram-na pelo braço, pois tinham ordens expressas de tirá-la dali o mais rápido possível.
Depois dessa tragédia, uma longa discussão política foi levantada em relação aos experimentos feitos pelos cientistas. Discutiram-se várias questões éticas, teológicas sociológicas, filosóficas. Uma discussão que durou meses até que entraram em um consenso que experimentos como esses fossem permitidos seguindo diretrizes específicas que garantissem que esses novos indivíduos fossem integrados de forma plena na sociedade. Vae manteve-se distante do mundo durante esse período, pois ainda estava dolorida e com remorso.
O assassinato de Pandora comoveu o mundo. Ninguém mais questionava se ela possuía alma, mas sim se os humanos eram dignos de ter essa presença etérea dentro de si. Na verdade, Vae nunca havia questionado a alma naquela criança. Ela sabia que Dora tinha alma, pois ela era uma humana comum. Não foi gerada a partir de um experimento. Dora foi usada apenas como uma distração para que o presidente do Comitê soubesse como as pessoas reagiram a esse tipo de avanço na Ciência. Esse era o verdadeiro projeto Z.E.U.S. Bem, as pessoas reagiram mal.
Mas, mesmo que Dora não tivesse sido criado em laboratório, o experimente foi um sucesso, pois Vae e Odãa eram os verdadeiros humanos artificiais. Quando o Comitê anunciou a verdade sobre Pandora, uma semana depois da tragédia, todos ficaram horrorizados.
Passou-se um ano. Uma estátua de dois metros foi construída em homenagem a Dora. Vae sempre a visitava. Ficava encarando a estátua tentando encontrar a mesma tonalidade rosada de suas bochechas, o que era impossível.
— Era para eu estar no lugar dela, Odãa. — disse sem tirar os olhos da estátua.
— Não temos culpa de nada do que aconteceu — respondeu.
— Tivemos sim. Fomos parte dessa farsa. Somente naquele momento… que eu fui capaz de dizer a verdade. Ela morreu com as pessoas a chamando de aberração — suspirou. — Ela salvou a minha vida.
Vae não se considerava uma humana, por isso não acreditava ter uma alma. Porém, depois de ouvir aquele barulho quando Dora estava morrendo, ela passou a se questionar se não era “alma” tudo o que ela havia sentido. Se o amor, o medo, a ira, a compaixão, o remorso, a felicidade, o prazer, a dor que sentia pela falta de sua filha, se tudo isso não era a “alma” que tantos falavam. Somente uma alma seria capaz de sentir outra. “Se um dia nasci sem alma, eu a conquistei através de tudo o que senti pela Dora” pensou. “… Uma pena que nem todos os homens nascem fiéis as suas” concluiu.
Ela baixou a cabeça e passou a mão em seu ventre.
— Odãa, eu estou grávida.
____________________________________
CONTO AVALIADO: A Criação do Homem
____________________________________
Olá Mary Shelley; tudo bem?
O seu conto é o terceiro trabalho da Série B que eu estou lendo e avaliando.
————————————-
O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
————————————-
Gostei bastante da revelação final da história, quando descobrimos quem era quem na verdade.
Gostei muito também do grau de emoção inserido na obra, fazendo o leitor mergulhar na história de forma profunda e eficiente.
Pistas falsas não são recursos muito utilizados por estas bandas entrecontistas, por isso gostei do mote e da pegada deste trabalho.
Parabéns pelo bom uso do recurso e boa sorte no Desafio! 😉
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho da história avaliada, para comprovar minha leitura. Então, vamos lá:
——————————
RESUMO DA HISTÓRIA
——————————
Em algum momento da História da Humanidade, cientistas conseguem criar vida humana artificial, gerando um verdadeiro caos social, que tem seu ápice na data da apresentação do tal espécime ao mundo. Um ativista contrário a este tipo de avanço científico consegue se infiltrar no local da apresentação e assassinar o espécime, quando então descobrimos que este (uma menininha de 10 anos) se tratava, na verdade, de um ser humano normal/natural. Os espécimes artificiais, criados pelos cientistas, eram os dois cuidadores/responsáveis da criança inocente que acabou sendo assassinada, sacrificada por um integrante de sua própria ‘raça’, chamada de humana. (Nota: 4,5)
Categoria: FC
Uma empresa cria um humano artificial, e prepara sua apresentação ao grande público. Chegam de carro, a menina (Pandora) e sua guardiã/mãe (Vae) têm de enfrentar a tensão do desconhecimento e rejeição do público a esse experimento. Pergunta do “pai”, Odãa, e sua dúvida é se tem alma. Num ataque, inimigos se aproximam para aniquilar a aberração, e a mãe tenta protegê-la, orando. Um segurança entra e, ao invés de protegê-la, atira na menina e se mata. A mãe jura a ela que a menina tem alma sim, antes dela morrer. Vae é resgatada, e descobrimos que ela e Odaã são os verdadeiros projetos artificiais. E, depois de dois anos, que ela está grávida.
PREMISSA: o suspense e o drama, com momentos de ação de tirar o fôlego, deram a essa história um toque de “uau”, e a relação entre os personagens ficou bem construída.
TÉCNICA: a técnica foi muito bem empregada, levando ao tensão ao máximo, com a revelação e a virada sobre quem era humano, quem era artificial.
EFEITO: apenas achei estranho o risco enfrentado pelo governo em expor a invenção, e o final, com a gravidez como sendo a perpetuação do humano artificial. Também Odaã pareceu meio deslocado na história.
Resumo
Uma menina é fruto da primeira criação de “vida humana” e será apresentada num evento científico.
Sensação
Gostei muito da história, possui um enredo conhecido, mas com um bom ponto de virada.
Execução
A execução, para mim, poderia ter sido melhor resolvida. Criar um pouco tensão/suspense na revelação de que os reais “humanos de laboratório” eram os pais teria valorizado mais o acontecimento, que era bem bacana.
A introdução tem um peso médio, ela chama a atenção, mas a falta de recursos do textos acaba deixando a leitura sem graça.
Título
Impossível não relacionar com Frankenstein hehehe
A criação do homem
Resumo: Uma tutora responsável por Dora, uma humana artificial que será apresentada ao mundo.. Um experimento que camufla a verdadeira situação. Uma reviravolta onde conhecemos a verdadeira natureza da protagonista.
Um conto que preenche perfeitamente os requisitos do tema. Uma ficção cientifica que traz a velha fórmula da “criação cientifica” versus “criação divina ou natural”, e dentro dessa batalha temos os caminhos usuais do medo do desconhecido e das antigas questões existenciais. Aqui, o autor se detém sobre o conceito da alma, que por não ter nada de cientifico, aparece como um obstáculo para o alcance da plenitude da humanidade. O embate entre ciência e “religião” se dá sem proselitismo, ainda que em determinado momento a prece e a tal alma tenham ligeira vantagem sobre seus adversários. As personagens são bem construídas, especialmente em razão do ritmo do texto. Vae e Pandora possuem química na relação e essa conexão vai ganhando força ao longo da história. O distanciamento antinatural pode ser compreendido com a reviravolta apresentada no final.
O texto começa fazendo um apanhado geral da situação, apresentando os personagens e o mundo em questão, os dilemas e a conjuntura. Do meio para o fim a escrita ganha força e adquire um ritmo frenético, abandonando o tom mais reflexivo para focar nas ações, transformando-se num thriller. No final temos um plot twist bem realizado que agrega valor ao tipo de história escolhido.
Meu único porém vai para uma frase que soou um pouco estranha : Ela sentiu um alívio escorrer por todo seu corpo.” Tipo, uma coisa é um alivio percorrer o corpo, significa que ele chegou. Outra coisa é sentir o alivio escorrer, o que da a entender que ele está abandonando o corpo. Quando algo escorre você está perdendo aos poucos e não ganhando. Enfim, acredito que tenha sido uma confusão do autor na parte mais caótica da história onde tudo fica muito ágil.
De todo modo, parabéns e boa sorte,
O projeto Zeus pretende mostrar seu experimento ao mundo, o primeiro humano artificial: Pandora. Mas o mundo não está preparado para isso, gerando um caos no evento e acabando por assassinar a criança.
Um conto que traz um tema interessante e que permanece atual. Clones, robôs, androids e cia são temas recorrentes em ficção científica, principalmente lidando com a questão da inteligência artificial. Já criações de humanos “sem alma”, não é tão utilizado assim. Mas, claro, não é novidade também. E o autor sabe disso, usando a referência ao monstro de Frankenstein. Esse é outro ponto interessante, o uso das referências e simbologias. Temos a Pandora, a mulher que liberou o mal ao mundo, nesse caso a liberação para que a empresa continuasse criando. Temos Zeus, Memento, etc, gerando uma segunda leitura com mais detalhes. A reviravolta é legal, transformando a garotinha em cortina de fumaça. Também há a questão da “alma”, essa discussão se essas criações teriam ou não uma. Não tem uma definição de alma no texto, se é mais filosófica (como uma essencia) ou mais religiosa e espiritual, achei meio estranho, ainda mais que o grupo rival era de religiosos. Mas entendi o uso da alma para gerar esse contraste entre os humanos de verdade e os “criados”, quem tem mais. O final, com a gravidez, fiquei meio dividido. Mas um bom conto.
RESUMO: Comunidade científica anuncia criação do primeiro humano artificial, uma menina chamada (Pan)Dora. Um grupo extremista acaba promovendo um atentado no evento e mata a menina.
Posteriormente, descobre-se que os verdadeiros humanos artificiais eram os pais de Dora (usada apenas como distração). A mulher “artificial” termina grávida.
COMENTÁRIO: FC abordando o tema recorrente, mas nem por isso menos interessante, da falta de alma dos robôs, clones, humanos de laboratório e afins. A narrativa corre bem, mas carece de frases marcantes e possui alguns problemas de revisão.
A reviravolta final (descoberta de quem eram os verdadeiros artificiais) me pareceu um pouco forçada e durante todo o conto há um certo moralismo que quase passa do ponto. Minha parte preferida foi da oração, poderia ser estendida, há vários boas reflexões para se tirar daquela cena.
NOTA: 3,5
O que entendi: Uma menina é usada como isca para testar a aceitação da sociedade quanto ao projeto de criar humanos artificiais. Um fanático religioso mata a menina azarada. Mas os verdadeiros artificiais são o pai e mãe da menina, que sofrem com o dilema maluco da existência ou não da alma. E ainda procriam.
Técnica: Embora o estilo não me agrade, o apelo dramático e a trama são genuinamente talentosos.
Criatividade: Tragédia, paixão e drama triturados no liquidificador da ficção científica sabrinesca.
Impacto: Positivo. O autor conseguiu despertar minha empatia pelas personagens.
Destaque: ““Os homens são tão tolos,” pensou, “sempre brigando por coisas pequenas como se fosse superior de alguma forma”. Você pegou, nesta frase, a essência humana.
Sugestão: o texto todo pede revisão, inclusive na frase que coloquei em destaque. Eu, pessoalmente, prefiro escrito“…fossem superiores em…”
O anúncio da primeira pessoa criada artificialmente está prestes a acontecer, e o povo se revolta. Os rebeldes invadem o prédio onde o anúncio aconteceria e matam Dora, uma criança que acharam ser o humano artificial. Na verdade os humanos artificiais eram Vae e Odãa. Na cena final, descobre-se que Vae está grávida e que, de alguma forma, os humanos artificiais podem se reproduzir.
Achei a ideia do conto boa e com o potencial de explorar questões interessantes, mas tudo aconteceu rápido demais para ter algum impacto. O conto foca em Vae e Dora. É o tipo de conto que precisa da profundidade destes personagens para que o leitor sinta o impacto que espera criar. Porém, o conto todo é narrado em ritmo acelerado e nenhuma das duas personagens desenvolve grande personalidade. Nem mesmo as duas reviravoltas no final trouxeram algo chocante.
Sua escrita precisa de um pouco mais de atenção por quê notei diversos problemas com a revisão (erros de digitação em sua maioria). Tirando isso, sua escrita é clara e simples, direta ao ponto. Isso não é um problema mas, em algumas partes, sua escrita lembra um roteiro de cinema, narrando ações de reações de personagens de forma crua e sem sentimentos.
Enfim, um conto com grande potencial mas que precisa trabalhar melhor a emoção e o ritmo da narrativa.
PS: Vae até que foi um anagrama bom, mas Odãa… ficou muito na cara, hahahahah. Ficou um nome muito ruim. Deu pra notar os anagramas na hora e daí acabei perdendo boa parte do impacto que o final teria pois meio que já entendi quem era realmente o humano artificial na história.
RESUMO: Por ocasião da apresentação do que o autor denominou (sem esclarecer) como a “a primeira vida humana artificial”, os cientistas responsáveis têm que lidar com o protesto de populares e ameaças de terroristas rebeldes contra a menina pretensamente resultante de seu experimento e contra si mesmos.
TÍTULO E INTRODUÇÃO: Título, apesar de dúbio (seria a história sobre o processo de criação do homem enquanto ser humano, ou de algo sobre algo criado pelo homem?) pouco atrativo, ainda que pertinente. O cenário de abertura é instigante, não obstante as frases pudessem ter sido melhor elaboradas. Nota: 7
PERSONAGENS: A narrativa é focada na ação, dando pouco espaço para os personagens, os quais são bastante estereotipados e, sem traços marcantes de individualidade, são incapazes de despertar empatia. Nota: 6
TEMPO E ESPAÇO Tal como os personagens, as descrições espaciais são superficiais e econômicas. Há referências pertinentes ao tempo transcorrido na história, porém não há contextualização histórica ou geográfica. Nota: 6
ENREDO CONFLITO E CLÍMAX: História interessante, uma vez que tange questões éticas, no entanto a narrativa é mal conduzida, não desperta suspense, ansiedade, angústia… A reviravolta final é inusitada, sem preparação. O fato oculto, ao vir subitamente à tona, não convence justamente por o autor não ter deixado indícios ao longo da narrativa. O arremate soa como um arranjo. Nota: 6
TÉCNICA E APLICAÇÃO DO IDIOMA: As deficiências da técnica narrativa foram previamente explicitadas quando comentei quesitos anteriores. No tocante ao domínio do idioma, se vê alguns erros e um número mais notável de falhas nas construções, exemplos: 1. mas eles decidiram manter sua presença com certa arrogância” (construção ruim) 2. “logo que notaram que a multidão…” (repetição do pronome relativo) 3. “Dentro de um desses carros…” (nenhum carro havia sido citado até então) 4. “Alguma coisa entre filosofia, fé e moral as separava como uma fina camada sobre a realidade” (construção ruim) 5. “A mulher xingou em pensamento quem havia vazada a informação” (concordância) 6. “Mas logo se aliviou porque era estéril.” 7. “respirar um pouco de ar” 8. “Cada baforada ela só conseguia pensar o que seus superiores…” 9. “sempre brigando por coisas pequenas como se fosse superior de alguma forma” 10. “É com grande prazer que anunciamos a décima segundo edição” Nota: 5
VALOR AGREGADO: O conto poderia suscitar reflexões morais e éticas, porém isso não acontece justamente por não haver maiores explicações sobre o que seria a “vida humana artificial” adotada como tema do conto. Falta embasamento teórico. Nota: 5
ADEQUAÇÃO À TEMÁTICA: Aqui também a falta de explicação sobre o conceito de “vida humana artificial” atrapalha. Afinal, quão humana se artificial? A vida humana gerada através de inseminação artificial, e amplamente aceita, é artificial? Nota: 5
Puxa, vim aqui conhecer a sua história e tenho que lhe contar que gostei do enredo. Ficou bem legal a sua narrativa. O desfecho ficou ótimo. Parabéns. Só não gostei de uma coisa: pareceu-me ter faltado uma última revisão. Achei, quem sabe, que você não teve tempo, por conta do prazo pequeno, para dar uma última arrumada e fazer aqueles acertos tão necessários ao texto. Mesmo assim, parabéns. meu abraço, Fernando.
Caro(a) escritor(a)…
Resumo: Vae e Odãa eram os verdadeiros humanos artificiais, pais de Dora, em uma experiência comportamental(?). Dora questiona-se sobre ter ou não uma alma, uma vez que ela não sabe que é humana. Depois da morte de Dora em um incidente, ela torna-se uma heroína, e Vae engravida.
Técnica: Um conto linear, de narrativa bem construída. Tem umas trocas de letras, mas nada que atrapalhe a leitura. Personagens bem construídos nessa ficção científica.
Avaliação: Gostei do conto e, sob a perspectiva criada, é possível aceitar um humano artificial entendendo o que é alma e tendo uma, uma vez que acredito na consciência das ações e coisas, e na ligação sentimental pelo outro – amor, amizade, admiração – como pontos de partida para sermos humanos.
Boa sorte no desafio.
A menina Dora, supostamente criada artificialmente a partir de um experimento tecnológico, está a caminho de um evento onde sua existência será revelada ao mundo, na companhia de sua tutora, que ela chama de mãe. Populares se manifestam contra a existência de Dora e se referem a ela como uma menina sem alma, o que a constrange. Durante o evento, a revolta se acentua e a menina é assassinada por um dos extremistas. O fato causa grande comoção, sobretudo depois da revelação de que ela era humana e não um androide, e uma grande estátua é erguida em sua homenagem. Na verdade, a tutora de Dora é a verdadeira criatura artificial, que, ao final, se revela humanizada pelo convívio com a menina.
Você, autor, fez caber muitas coisas nesse escasso limite de 2500 palavras. Um enredo cheio de viravoltas, personagens cativantes, questões filosóficas e morais, seres humanos embrutecidos e androides humanizados. Só achei um pouco exagerado a androide ficar grávida no final. Para mim o conto ficaria melhor sem mais esse acontecimento, ou seja, se você o tivesse concluído no paragrafo anterior.
Com relação à linguagem, notei a presença de algumas redundâncias (subir lá para cima , respirar um pouco de ar, regra que lhe eram impostas, um zumbido forte soava nos ouvidos da mulher). Fique sabendo que sofro do mesmo mal. Estou com um volume de contos em revisão e o revisor de vez em quando puxa minha orelha por causa dessas redundâncias. Acho que é um vício ao qual precisamos ficar atentos.
Finalizo dizendo que gostei do seu conto. Não é um dos meus preferidos, mas considero que você se esforçou em fazer um bom trabalho e conseguiu um ótimo resultado.
Desejo sucesso! Um abraço.
Resumo: Os cientistas iriam apresentar o primeiro humano criado totalmente em laboratório, uma menina, mas a multidão está enfurecida. A cuidadora da menina, tenta protegê-la dos ataques mas não consegue, um extremista infiltrado nos oficiais de resgate conseguiu matar a menina, depois descobrimos que não era a menina que era a humana artificial e sim os cuidadores dela. No final a mulher se questiona sobre se eles tem ou não alma quando percebe que está grávida.
Olá, Mary! Eu gostei muito do seu conto! Conseguiu me envolver e me emocionar. A história é muito bem pensada e conduzida, de fácil entendimento e sem firulas desnecessárias.
A discussão sobre se as pessoas criadas em laboratório teriam alma é muito pertinente e interessante, nos leva a pensar e descobrir de que lado estaríamos…
A parte da interação da “mãe” com a menina foi muito boa, dava pra ver todo o receio, toda a dificuldade de aceitação e todo o cuidado e amor que ela não pensava que pudesse sentir. Depois descobrimos que ela própria não se aceitava como era, por isso tinha dificuldades de amar a menina.
No final, quando descobrimos que os humanos artificiais eram os pais da menina e não ela, tudo tem um sentido diferente e maior, nos levando a ver o conto de uma outra perspectiva, parabéns, isso é muito difícil de fazer direito, mas você conseguiu! Desejo muita sorte!
Resumo: cientistas estão prestes a apresentar ao mundo, num evento grandioso, a primeira humana concebida por meios artificiais, em laboratório – a pequenina Dora. As pessoas, porém, estão furiosas por conta das implicações éticas e religiosas. Tanto que promovem um atentado. Vae, a tutora que Dora insiste em chamar de mãe, tem sentimentos conflitantes sobre a menina, mas que na hora H falam mais alto, na medida em que ela faz de tudo para salvá-la. Contudo, a garotinha é assassinada. Ao final, a verdade vem à tona: Dora era humana-raiz, enquanto que Vae e o marido, Odaã, é que eram resultado de experimentos laboratoriais. Acreditando ser estéril, Vae termina o conto dizendo-se grávida.
Impressões: um conto de premissa muito interessante e atual. De fato, o embate ciência X religião costuma render tramas que prendem o leitor e aqui não foi diferente. Há forte carga psicológica em Vae, que se vê auto-questionada sempre que olha para a pequena Dora. Essa questão da humanidade, no conto, é traduzida pelas insistentes perguntas sobre a existência da alma — um mote de que também Kazuo Ishiguro se aproveitou no ótimo “Não me Abandone Jamais” — e que convidam o leitor a refletir juntamente com a mãe/tutora. Mesmo quando entram as cenas de ação, adotando-se um enfoque mais hollywoodiano, a indagação permanece no ar e eu confesso que senti uma pontada no coração quando o soldado matou Dora sem dó nem piedade, baseado numa fé cega (como aliás toda fé).
O ponto negativo do conto foi o excesso de explicações ao final, depois que Dora é assassinada. O plot twist — dizer que Dora era normal e que Vae e Odaã é que eram experimentos — me pareceu deslocado e desnecessário. Além disso, abusou do contar em vez do mostrar, assumindo a aparência de um relatório. Talvez isso se explique devido ao limite do desafio, mas não ficou legal. O conto teria muito mais impacto se Dora morresse e pronto. Me pareceu aquele tipo de explicação de nota de rodapé, resumo do resumo, muito aquém do que fora apresentado no desenvolvimento da trama. Enfim, um tanto decepcionante.
De todo modo, mantenho a opinião de que é um bom conto e que consegue, no geral, misturar polêmicas filosóficas com boas cenas de ação. Corte o final pasteurizado e tenha certeza de que o conto ficará ainda melhor. Parabéns e boa sorte no desafio.
Resumo
A primeira vida humana artificial, criada há 10 anos, será revelada ao mundo em um congresso de cientistas. Com o vazamento da notícia antes do evento, pessoas contrárias ao projeto se aglomeram na frente do local para protestar. Dora, a menina que até então entendemos ser a criatura artificial, sente-se confusa e triste por não saber se possui ou não alma. Ela questiona Vae, sua tutora, a qual ela chama de mãe, mas Vae é incapaz de responder. Ela trata a menina com certo distanciamento e não gosta que ela a chame de mãe. Quando o evento começa, acontece um ataque ao prédio com tiros e explosões. Vae vai ao encontro de Dora e tenta protegê-la, mas um extremista infiltrado entre os policiais dá um tiro na menina e a mata. Depois, descobre-se que ela era uma menina comum e que os seres artificiais eram Vae e o esposo. Vae questiona a existência de sua alma e acaba concluindo que ela desenvolveu sua própria alma por meio dos sentimentos que foram crescendo dentro dela enquanto convivi com Dora.
Comentário
Gostei da forma como trabalhou o tema FC, humanizando os robôs, fazendo uma comparação entre homens e máquinas, colocando em discussão o que é ter uma alma. Gostei da revelação no final de que os ‘robôs’ eram na verdade Vae e Odãa, pois eu fui realmente surpreendida.
Porém, eu fiquei um pouco incomodada com o fato de terem usado uma menina comum para testar a aceitação do público, e depois, mesmo sabendo da não aceitação, consideraram que o projeto havia sido um sucesso e o apresentaram ao mundo do mesmo jeito. Não entendi o objetivo de terem usado a menina se de qualquer forma apresentariam o casal artificial.
No banco detrás (de trás) do carro preto blindado
As (Às) pressas
quem havia vazada (vazado)
para dar a (à) luz a (tirar o a) uma criança
tumulto próximo a (à) entrada
apertando com força e surrou (sussurrou)
fazendo a (fazendo-a) largar Dora
em um consenso (de) que experimentos como esses
Dora não tivesse sido criado (criada) em laboratório, o experimente (experimento)
Algumas construções me soaram estranhas. Exemplos:
“Um raio passou por todo o corpo da mulher que prontamente se virou para a menina, tirando o celular de suas mãos”
“ alguns quadros nas paredes perpendiculares a (à) porta”
“por sua relutância em ser mãe é que nunca havia conseguido engravidar.”
“Fique fria, você não pode fumar hoje.”
“mas sim se os humanos eram dignos de ter essa presença etérea dentro de si. “
Neste diálogo, não acho que as falas da menina são condizentes com a personagem:
—Dora, está tudo bem?
— Tô atrapalhando você de novo?
— Por que está dizendo isso?
— Você não queria ser minha mãe e agora que brigou com seu chefe pode perder o emprego.
Quando o texto está no passado: “Percebeu que estava com medo por essa (aquela) criatura tão frágil.” “Queria afastar esses (aqueles) sentimentos” Sabia que o protocolo a ser seguido nesse (naquele) momento seria
(a) Cada baforada ela só conseguia pensar o (no) que seus superiores e o seu marido, Odãa, diriam.
— Pandora — suspirou. Sem a pontuação correta, ela suspirou a palavra Pandora.
“Os homens são tão tolos,” pensou, “sempre brigando por coisas pequenas como se fosse (fossem) superior (superiores) de alguma forma”.
Em alguns momentos fica confuso entender QUEM está falando. Exemplos:
“As bochechas dela eram rosadas, seus olhos eram meigos e ingênuos.”
“ A mulher segurava a mão de Dora. Estava fria. Ela olhava para a menina por cima. Não parecia nervosa, mas sua mão… “
“Após alguns minutos, foi embora dizendo “Perto das oito, irei fazer o anúncio. Virão buscar vocês”.”
um zumbido forte soava nos ouvidos da mulher. Quando a respiração parou, o zumbido também sumiu. (respiração da menina, não da mulher)
“A primeira vida humana artificial havia sido criada há alguns anos e seria revelada ao mundo” em um evento. Os extremistas atacam e invadem o prédio. A menina é morta e, então, vêm os questionamentos. É revelado que o casal que cuidava dela é que eram criaturas artificiais e ela, uma criança comum. Tudo é uma simulação para estudo da aceitação de VA. Vae descobre-se grávida, depois de perceber que tinha uma alma, por causa do amor que sentia pela menina morta( esta sempre indagava sobre a alma). . Assim, a história que é triste e feliz ao mesmo tempo.
A história apresenta uma série de situações identificáveis e tenho a sensação de ver a intenção de emotividade. A morte de uma criança por si só já emociona, e, sem motivação clara…
Conto bom, estilizado, bom enredo, fluente. Personagens bem construídos; a garotinha trazia uma inocência, uma ingenuidade que deixam o leitor apaixonado. O desfecho é feliz, com a vida artificial gerando nova vida, portanto incluída na sociedade – um dilema, que mesmo simples e muito explorado, é perfeito para a ficção científica. Ritmo bom, às vezes, lento com as divagações filosóficas, meio didáticas. As referências mitológicas são inteligentes: Zeus, Dora / Pandora e os anagramas Vae (Eva) e Odãa (Adão?)
Uma leitura agradável. Parabéns pelo trabalho. Boa sorte na Liga. Abraço.
Sabe aquele conselho que todo grande escritor costuma dar? “Não explique, mostre!” Então, já viu… Em alguns momentos, se reparar, nem parece um conto, mas uma matéria de algum jornal do futuro (ontem no lugar tal aconteceu assim e assado). Isso é ruim, dentre outros aspectos, porque empobrece a ficção. Outro ponto é que o texto tem essa proposta de criar/mostra uma determinada discussão, mas não funciona justamente pela pobreza “intelectual”, digamos assim, e passagens que parecem desconexas no contexto do conto. Repare:
“Alguma coisa entre filosofia, fé e moral as separava como uma fina camada sobre a realidade.”
(Quer dizer que a filosofia, a fé e a moral não tratam da realidade ou não estão nela? Um absurdo, não acha? A filosofia não serve justamente para reduzir enganos e apreender a realidade como ela é?)
“Sentiu pena por aquela criança jogada em um limbo sem sequer compreender a vida”
(Qual criança, na face da terra, compreendeu a própria vida?)
“por coisas pequenas como se fosse superior de alguma forma”
(Criar uma vida HUMANA artificial é uma “coisa pequena”?)
“… não acreditava que houvesse alguém ouvindo as preces de um ser sem alma.”
(Vae acredita ou não acredita na alma da Dora? O autor tem que se decidir, porque Vae parece uma cacofonia abulante de opiniões desconexas – o piora ainda mais quando descobrimos que é um “humano artificial”… )
” Jamais suspeitariam que um dos oficiais fizesse parte dos extremistas.”
“O assassinato de Pandora comoveu o mundo”
“Ninguém mais questionava se ela possuía alma, mas sim se os humanos eram dignos de ter essa presença etérea dentro de si”
“Bem, as pessoas reagiram mal.”
(Aqui, qual é a opinião geral no fim das contas meu Deus do céu? Para onde aponta este senso comum que você criou para o seu mundo? Qual a opinião da maioria da população no fim das contas? NÃO DÁ PARA SABER. Olha que confusão…)
A Criação do Homem (Mary Shelley)
Resumo:
A história de Pandora (Dora), Sra. Vae e Odaã. Dora seria apresentada como humanoide (construída em laboratório), grande vitória da Ciência, mas é morta antes disso. No desfecho, comprova-se que ela era humana, que os “humanos artificiais” eram os pais: Vae e Odaã. E o mais incrível, Vae engravida.
Comentário:
Uma ficção bem estruturada, enredo interessante, prende a atenção do leitor. Encantadora é a maneira como aborda o questionamento da menina sobre ter alma. Texto reflexivo. O autor sabe conduzir a narrativa com perfeição. Talvez tenha faltado uma revisão mais apurada. Há erros de ortografia, regência, concordância e inobservância de crases. Com certeza, a revisão trará ainda mais encanto para o texto. Erros travam a leitura, impedem a fluidez da narrativa. Gosto de textos que questionam mistérios humanos, índoles, essência. Parabéns, Mary Shelley!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Boa tarde, amigo. Tudo bem?
Conto número 4 (estou lendo em ordem de postagem)
Pra começar, devo dizer que não sei ainda quais contos devo ler, mas como quer ler todos, dessa vez, vou comentar todos do mesmo modo, como se fossem do meu grupo de leitura.
Vamos lá:
Resumo: o conto retrata a história de Dora, a primeira humana criada em laboratório. No dia em que seria anunciada ao mundo, uma revolta estoura no local da apresentação, causando sua morte. Porém, ao fim, descobrimos que a menina era humana, e tudo era uma farsa. Na vdd, seus pais eram os verdadeiros “humanos sintéticos” (sei lá como me referir hahaha).
Comentário:
Gostei! Pra começar, o tema me agrada muito. Então, quando comecei a ler e notei de que se tratava, fiquei animado. Minha primeira anotação foi “promissor”. Hehehee
Fiquei curioso para saber como a história se desenrolaria, torcendo para que abordasse a questão da moral e ética.
Por um tempo, achei que a história andaria por outro caminho, tornando-se um conto de ação, apenas. Fiquei um pouco chateado! Rsrs. Mas, felizmente (pra mim), o autor conduziu bem o conto, levando a outras reflexões bem legais.
Acho que o ponto mais forte do conto é o crescimento da protagonista. A princípio, pensei que a protagonista seria a garota. Porém, à partir de certo pon to, o protagonismo passa para a mãe. O crescimento da mão como personagem foi excelente, o que serviu como a base necessária para as revelações finais.
Digo, se não houvesse construído a personagem de forma competente, o final poderia ter soado forçado, como se tivesse saído do nada.
A cena da morte da garota é emocionante. Gostei!
O desfecho me causou várias sensações! Hahahaha.. Primeiro, achei que ia ser ruim. Quando a menina morreu, e o narrador começou a contar o que aconteceu no mundo após a morte dela, eu pensei que seria aqueles finais que o narrador explica tudinho, como que pra não deixar nenhuma dúvida do enredo no ar. Acho meio frustrantes esses finais.
Mas, numa manobra inesperada, você colocou um plot ali, que mudou tudo. Achei muito bom o final, especialmente com a revelação de que os pais é q eram “falsos”. Devo dizer, porém, que achei pouco verossímil, se for pensar em todas as implicações que isso teria no mundo real. Ainda assim, gostei.
Por último, um apontamento que eu faço é sobre a gramática e revisão, que acho que não estão à altura da qualidade geral do conto. Alguns erros pequenos se repetem, principalmente com vírgulas, e alguns de revisão (exemplo: Dento, em vez de Dentro). Claro que isso não compromete o resultado final, mas acho válido apontar para futuras melhorias.
Parabéns pelo trabalho, e boa sorte!
A Criação do Homem
Resumo:
Mulher (que na verdade é uma humano artificial) cuida de uma criança supostamente artificial. Uma turma de arruaceiros quando ela (a criança) será apresentada ao público, resolve criar um tremendo auê e mata a garota. Depois é revelado que a mãe e o pai dela é que eram artificiais, e não a filha, que era verdadeiramente um humano. Mais tarde a mulher artificial se diz grávida.
Comentários:
Cara Mary Shelley,
Conto de Ficção Científica.
Achei o conto bem legal. Consegue manter a farsa por um bom tempo até a revelação final de que os verdadeiros não-humanos seriam o pai e a mãe da suposta menina artificial.
Tem um tom forte de crueldade. A discussão sobre a questão da existência da alma, certamente pela exiguidade do tamanho do texto e da idade da criança, ficou um pouco superficial, atendo-se às questões religiosas.
Foi boa a condução, embora o texto explore um hit bastante batido, que é a questão da aceitação dos não-humanos pelos humanos. Aqui não há a subversão do fato, apenas o protagonismo está invertido.
Há passagens que recomendo uma revisão:
“A mulher segurava a mão de Dora. Estava fria.” Quem estava fria: Dora, a mão de Dora ou a mulher? Às vezes nos parece óbvio o que escrevemos, dado que óbvio está em nossa cabeça quando escrevemos, mas não na cabeça de quem lê o que foi escrito. Essa é fácil de acertar.
“…para dar a luz a uma criança…”. Creio que deva ser dar à luz…
“…disserem-lhe…”. Creio que seria disseram-lhe.
“O prédio interior tremeu…”. Creio que seria inteiro e não interior.
Se me for permitido mais uma coisa, diria que a escolha do título não foi muito feliz tendo em vista o conteúdo do texto. Talvez, embora pareça a mesma coisa, seria melhor “A Criação do Humano”, dado que “A Criação do Homem”, reporta-se a algo que toma o rumo do Bíblico ou da Espécie, a cargo do leitor dar uma ou outra compreensão. Se a intenção foi dizer que o que houve foi uma “Criação do Homem”, algo que o homem criou, o não-humano, então muda tudo e acho que seria melhor dar ao conto um outro título. Mas são divagações.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
RESUMO:
Grande evento é anunciado para a revelação do projeto Z.E.U.S, a primeira vida humana artificial. Pandora pergunta para a sua tutora, Vae, se possui alma, pois a menina soube que muitos a consideravam uma aberração sem alma e que merecia morrer por isso. Dora considera Vae como sua mãe e Odãa como seu pai. Há um grande tumulto, uma explosão e Vae se preocupa com a segurança de Dora. Um oficial, extremista, atira na menina e depois se suicida. Antes de Pandora morrer, Vae garante que ela tem alma. De fato, a menina era uma humana “normal” e serviu apenas como distração para as autoridades descobrirem como as pessoas reagiriam ao experimento. Vae e Odãa eram os verdadeiros humanos artificias. Um ano depois, Vae se descobre grávida e se reconhece como um ser com alma, pois só uma alma seria capaz de sentir outra.
AVALIAÇÃO:
Conto que aborda o tema FC, com sensibilidade e discutindo sobre a existência da alma. Portanto, o texto atendeu à proposta do certame.
Percebi poucas falhas na sua revisão, acredito que foram erros de digitação apressada:
– […] e surrou > […] e sussurrou
– […] fazendo a largar Dora > […] fazendo-a largar Dora
– […] como as pessoas reagiram > […] como as pessoas reagiriam
– […] Dora não tivesse sido criado > […] Dora não tivesse sido criada
Gostei do enredo, da relação entre Dora (alusão à caixa de Pandora?) e Vae (vai aonde? 🙂 )
A leitura flui com facilidade, sem grandes entraves. No final, não precisava dar explicações sobre o que aconteceu, ou pelo menos, tornar isso menos didático.
O cenário é futurista, mas não muito distante da realidade atual. Senti um tom de teologia, ao me deparar com o questionamento de uma alma ou não. O final também me remeteu à ideia de redenção – um ser não criado por Deus conquista sua alma através dos bons sentimentos. Ou a alma de Dora passou para Vae na hora da morte?
Só não entendi muito bem a questão de Vae que afirmava ser estéril e que no entanto, no desfecho da trama, revela que está grávida. Como se somente um ser com alma pudesse gerar uma vida. Ou ela estaria grávida da própria alma? Enfim, muitos questionamentos.
Parabéns pela participação! Boa sorte!