Alguns diziam que seu semblante remetia às criaturas divinas que habitavam o inconsciente coletivo. As linhas de seu rosto formavam uma escultura adornada por cabelos louros que desciam encaracolados sobre os ombros. Sua pele era como seda branca cobrindo um corpo esbelto e desprovido de imperfeições.
Ângela trabalhava em um bordel agradando tantos homens quanto cabiam nas horas de um dia. Era o que fazia de melhor; era a única coisa que sabia fazer. Não tinha ideia de há quanto tempo vivia daquela forma. Sua vida era ali; seu tempo era o presente.
Os serviços de Ângela eram os mais caros e seu quarto era o mais luxuoso. Ela mal saía de lá. Passava os dias deliciando seus clientes e desafiando suas imaginações. Cavalgava; beijava; possuía. Quando queria, deixava que acreditassem que a usavam como bem entendiam. Ângela manipulava os membros de seus clientes tão seguramente quanto manipulava seus prazeres. Ditava – muitas vezes com um sorriso matreiro – quando gozariam ou deixariam de gozar.
Alguns gostavam de conversar após o sexo. Acendiam cigarros ou serviam bebidas e derramavam sobre ela seus corações. Era assim que aprendia sobre os tempos difíceis do mundo lá fora. Os homens falavam sobre guerras e sobre medo. Tornavam-se constantes as visitas de soldados à sua cama; homens que esqueciam dentro dela as memórias das mortes, mesmo que por apenas alguns minutos. Ela sabia conversar também; confortava-os com mentiras doces e fantasias. Muitos acreditavam. Muitos queriam acreditar.
Ao fim do dia, quando se retirava para dormir, era comum ter sonhos estranhos. Quase sempre sonhava com mãos. Algumas seguravam panos úmidos que passeavam em sua pele, outras seguravam seringas que invadiam suas veias.
Nenhuma a acariciava.
Algumas vezes, quando acordava, passeava o dedo pelo braço em busca dos locais onde as seringas a perfuravam, mas nunca os encontrava.
————
Em uma noite como outra qualquer, Ângela foi dormir e, pela primeira vez em sua vida, teve sonhos diferentes. Sonhou com as guerras que seus clientes descreviam; com explosões e gritos de agonia; com uma cidade em caos e com a degradação da espécie humana. No sonho, dentre a decadência, uma mão surgiu e a tocou. Ângela sentiu a pele áspera tracejar um carinho em seu rosto, mais gentil do que qualquer toque que jamais sentira. A sensação inédita despertou-a do sono profundo.
Diante dela havia um cliente.
Como pude perder a hora? Ela pensou, confusa.
Ângela dormia nua. O homem a encarava com olhos primitivos. A língua passeava inconstante pelos lábios. Encontrava-se quase tão nu quanto ela, usando apenas trapos sujos para cobrir as pernas. Seu peito era apinhado de pelos que escondiam os músculos endurecidos. A ereção pulsante – sincera e faminta – fugia da calça improvisada.
Ângela se levantou e envolveu a cintura do homem com as pernas, trazendo-o ao chão. Não demorou para senti-lo dentro de si. Tentou controlá-lo, mas o homem a devorou em movimentos fortes e incessantes até gozar, dois minutos depois. Quando terminou deixou-a deslizar para fora, preocupado em recuperar o próprio fôlego.
Só então – após o dever cumprido – foi que Ângela notou a condição em que se encontrava. Estava cercada de ruínas. Dormira no chão; sua cama era uma pilha de ferros retorcidos. Uma das paredes do quarto deslizara para fora, revelando uma cidade aplanada, pontilhada pelos esqueletos do que uma vez foram edifícios. Levou as mãos aos seus cachos e sentiu-os arenosos. Sua pele estava suja de poeira e sangue seco. Não estava pronta para trabalhar.
Não sabia o que fazer.
Então sentiu a mão do homem fechar-se ao redor de seu braço e trazê-la para fora, pela parede desabada. As pedras irregulares machucaram seus pés. Foi assim que, em poucos segundos, Ângela partiu de seu quarto e ganhou o mundo.
Não se lembrava da última vez que vira o Sol. A luz incomodou seus olhos.
————
O homem levou-a em uma viagem até encontrarem o que parecia um acampamento improvisado entre as ruínas de uma daquelas cidades que já não eram mais. Havia cinquenta pessoas, todos vestindo trapos e mal escondendo suas peles. O homem atravessou o povoado segurando-a pelo pulso. Alguns o cumprimentavam com sorrisos e gargalhadas, como se Ângela fosse uma mercadoria recém-adquirida. Por fim encontraram uma grande tenda, para dentro da qual ele a trouxe.
Ângela descobriu que o homem se chamava Saozi.
As paredes da tenda eram os tijolos de cômodos sem nome. O teto consistia em uma grande lona drapejante. Seus primeiros dias no povoado se passaram ali, longe da luz solar, escondida entre aquelas paredes antigas. Era o que mais se aproximava de seu antigo quarto. A nova rotina de Ângela não se diferenciava muito de sua antiga: ela ainda fazia o que sabia fazer de melhor, satisfazendo todas as ânsias de seu agora único cliente. Saozi montava-a cada vez mais e por mais tempo. Em troca ele, durante o dia, ensinava-a o próprio idioma, além de outras habilidades inestimáveis. Ângela – que se julgava incapaz de aprender algo novo – ficou impressionada com a própria versatilidade. Aprendeu a cozinhar, a limpar e preparar a carne de um animal abatido e a se defender de animais e de pessoas que agiam como animais.
Após dias sem sair da tenda, Saozi começou a tentar fazê-la misturar-se ao povo. A temporada das grandes caçadas se aproximava e ele era um dos homens que lideravam o grupo. Ela preferia ficar ali e servi-lo, mas acatou seus conselhos e saiu para conhecer o povo primitivo e sem nome ao qual agora pertencia.
Lá fora havia uma comunidade simples, onde cada um ajudava no que sabia fazer. Ângela não sabia fazer muita coisa. Notava como as mulheres caçoavam dela em silêncio – apenas com o olhar. Sua pele era clara demais. Ela não servia para caçar, nem para portar ferramentas de arado. Não tinha os braços fortes para ajudar na cura de couros ou no transporte de materiais pesados. Era uma boneca de porcelana que, quando andava pelas ruas quebradas daquela cidade, despertava o desejo dos homens e o desprezo de suas mulheres.
Ângela passou algum tempo sofrendo em agonia silenciosa enquanto Saozi estava longe liderando as caçadas. Algo havia mudado dentro dela no dia em que o homem a tomou pela mão e a levou consigo. Algo pequeno a princípio, mas que crescia e a confundia cada vez mais. Ela sofria ao notar o desprezo com que era tratada pelos outros. Sofria – algo que julgava impossível. Um senso de urgência a dominou e ela procurou com afinco até finalmente encontrar um lugar entre as mulheres mais velhas, onde não era tratada com rancor.
As Sábias eram mulheres de idade avançada que curavam a mente e o corpo dos enfermos. Por sua energia e por seu aprendizado rápido, Ângela conquistou o coração daquelas senhoras que, em troca, a acolheram e ensinaram muito mais do que Saozi poderia ensinar.
Ângela aprendeu os segredos das ervas; a fechar uma ferida aberta; a ajeitar um osso quebrado; a realizar um parto. Após algum tempo ela mesma conquistou o título de Sábia, o que soava estranho para alguém com aparência tão jovem. Mesmo assim todos passaram a respeitá-la, e ela passou a acordar esperançosa não apenas por satisfazer Saozi, mas também por exercer uma segunda função. Pela primeira vez em sua vida ela sorria sem ter que fingir que sorria, e dormia – só agora notava – sem sonhar com mãos que maculavam sua pele.
————
Assim que sua nova vida começou, iniciaram-se também os problemas. Como Sábia ela tratava dos homens e mulheres enfermos, mas eram os homens que a preocupavam. Eles vinham até ela feridos, mas seus olhos não a miravam com dor, e sim com desejo. Não demorou até que um desenvolvesse a coragem de puxá-la pelos cabelos e penetrá-la ali mesmo, na tenda de cura, em movimentos urgentes como os de quem sabe que comete um pecado.
Todos eles sabiam que aquilo era errado, mas o que ela poderia fazer? Eram apenas animais vestidos de homens. Ao invés de protestar, simplesmente os recebia em silêncio. Era para aquilo que existia. Ângela deixava que a dominassem e tivessem com ela alguns minutos de prazer. Com a certeza de que ela abriria as pernas, as visitas à sua tenda tornaram-se cada vez mais constantes. Alguns sequer esperavam ficar feridos para visitá-la. Porém algo a incomodava. Cada vez que um novo homem a penetrava, ela se lembrava de sua antiga vida – a vida antes de Saozi. Aqueles homens que entravam em sua tenda para consumi-la: eles eram seus reais clientes. Tratavam-na como um produto. Seus toques não eram carícias. Ela não sentia nada ao deixá-los invadi-la. Acima de tudo, não sentia com eles o que sentia com Saozi. Não era venerada com seus olhos, nem acariciada após o coito. Por isso fez o que nunca imaginou que faria – o que nem sequer sabia ser possível: passou a negá-los.
Eles não aceitaram, mas ela insistiu. Eles a forçaram, mas ela lutou como Saozi a ensinou a lutar e, em pouco tempo, nenhum homem a tocava que não o seu homem, e nenhum homem se deitava com ela que não o líder dos caçadores. Os olhos cheios de volúpia continuavam, mas eles aprenderam a observá-la a uma distância segura.
As mulheres, por outro lado, tinham suas próprias armas. Sabiam, sem precisar saber, o que acontecera sob as lonas da tenda de cura. Sem provas tudo não se passava de suspeitas, mas não precisavam de provas para agir.
Uma delas se aproximou de Ângela certo dia, falando nos grunhidos que formavam o estranho idioma daquele povo.
— É um dia quente. O sol está alto no céu e a noite demora a chegar. Mas sua pele continua branca.
— É verdade – uma outra se juntou à primeira – esses cabelos amarelos sempre dançando no vento. Essa pele tão lisa. O tempo não te afeta, menina.
Ângela não tinha resposta para aquelas acusações. Sem saber o que vinha pela frente, simplesmente fugiu, mas aquelas eram apenas as primeiras acusações do que seria uma eternidade de blasfêmias. Mesmo que continuasse a curar os enfermos e a realizar o parto dos bebês das mesmas mulheres que a acusavam, as superstições falavam alto demais. Antes mesmo de ela ter colocado o primeiro pé dentro daquele povoado, havia lendas de bruxas – mulheres que teciam pactos com criaturas ocultas para adquirir imortalidade.
Saozi, achando tudo aquilo um absurdo, usou de sua influência o quanto pôde. Mas os anos se passaram e Ângela não envelhecia ou adoecia. Suas aliadas nas Sábias faleciam, novas ascendiam ao cargo e, com o tempo, ninguém mais a procurava. Ela se viu de volta à tenda de Saozi com o único propósito de servi-lo, como no início. Sabia que deveria estar contente em fazer a única coisa que deveria fazer, então passou a dedicar-se exclusivamente a Saozi, a mantê-lo saciado e feliz. No fundo, porém, a tristeza mal disfarçava sua presença.
Saozi abandonou as caçadas para manter-se ao seu lado. Perdeu prestígio até o ponto de ser confrontado por outros homens do povoado – os mesmos que, anos antes, a violentavam como trogloditas. Ela observou quando estes expulsaram Saozi do povoado por deitar-se com uma bruxa – e quando olharam para ela uma última vez, tentando ensaiar desaprovação, notou que ainda a desejavam tanto quanto no início.
Saozi e Ângela estabeleceram-se sob o que fora um viaduto, não muito longe do povoado. Dividiram entre si os trabalhos e viveram em paz. Durante a noite o casal se aventurava nas profundezas um do outro. Em momento algum Saozi deixou de admirá-la, mas, aos poucos, passou a demonstrar tristeza. Ângela sabia quando um homem não estava feliz. Mesmo quando ela o levava às alturas do firmamento durante o sexo, ele logo passou a desabar nas profundezas de uma tristeza irritadiça.
Certa noite, enquanto comiam em silêncio, alguém do povoado os encontrou e pediu ajuda. Tornara-se comum aquele acordo taciturno, onde iam até A Bruxa buscando usufruir dos segredos que as antigas Sábias não passaram a ninguém senão ela. Ângela atendia seus chamados, resolvia seus problemas e voltava para casa, deixando-os manter viva a própria hipocrisia. Naquela noite o problema era um parto complicado. Saozi não se opôs, então ela foi até lá cumprir seu dever.
Quando retornou encontrou Saozi sentado ao chão, o semblante sério.
— Como foi?
—Bem. Nasceu um menino saudável.
No mesmo instante ele socou a parede, irritado. O coração de Ângela disparou. Súbito, soube o motivo da tristeza de Saozi. Em um rompante – uma reação tão encrustada em seu ínterim que ela sequer pôde impedi-la – falou:
— Eu não posso ter filhos.
Ele a encarou, estupefato, os olhos vítreos. Temendo chorar diante dela, o homem se levantou e saiu.
Um erro. O sentimento era de fracasso. Um erro. Na única resposta possível em seus pensamentos, Ângela correu na direção oposta.
————
Saozi nunca mais a viu.
Eventualmente o homem voltou para o abrigo sob o viaduto e o encontrou vazio. Ele a procurou por toda parte; em lugares prováveis e improváveis. Buscou-a até entender que a havia perdido.
Não teve forças para voltar ao povoado, mesmo que agora, sozinho, talvez o acolhessem de volta. Preferiu vagar pelo mundo – pelas carcaças de um passado longínquo – até encontrar seu lugar em outro povoado, onde uniu-se a outra mulher e, com ela, teve muitos filhos.
Viveu lá até o fim de seus dias, sempre com a incômoda certeza escondida em um canto escuro da alma, que dizia que, apesar de ter amado muitas pessoas em vida, jamais voltou a amar como um dia amou Ângela.
————
A Bruxa caminhou pelo mundo como luz em tempos de trevas. A princípio seus pensamentos eram caóticos, mas de dentro do turbilhão de erros ela teceu para si um novo propósito.
Tornou-se um mito; a mulher que andava pela terra, dona de uma beleza única e incomparável. A Bruxa era temida tanto quanto era aguardada. Ela curava mente e alma; trazia ao mundo vidas novas; ajudava a levar embora vidas antigas. Ao partir de um lugar, a sensação que ficava era a de que tinham encontrado uma espécie de deusa. Para muitos, não passava de um sonho. Para outros, uma memória guardada com carinho.
Certo dia, enquanto visitava um povoado, um casal de irmãos a procurou pedindo ajuda. Seu pai, um senhor de idade, não estava bem de saúde. A Bruxa os seguiu até sua morada, analisou o homem deitado sobre a cama e levantou-se, anunciando que o ajudaria a passar para o outro lado sem dor; sem sofrimento.
Os filhos do homem choraram, mas não havia o que fazer. Ninguém contestava o que a Bruxa dizia.
Saozi sorriu em seu último momento de vida ao sentir o toque de seda no rosto e ser invadido por um turbilhão de emoções que achou ter esquecido. Antes que fechasse os olhos uma última vez, vislumbrou-a perfeita, inalterada; o anjo que um dia encontrou nos escombros o escoltava para um novo lar.
Conta história de Ângela que trabalhava num bordel e foi retirada de lá por Saozi. Com ele ela passa a conhecer o mundo de fora, torna-se uma sábia e curandeira. Um dia Saozi vai embora e volta para Ângela nos seus últimos minutos da vida.
O conto começa ótimo, adoro como ele vai mostrando o universo aos poucos, mostrando a personagem. Acontece que aos poucos ele vai me cansando, ele vai perdendo a forma bonita como é escrito e vai se tornando quase uma espécie de Jornada do Herói, o que para mim, neste conto, perdeu a beleza, mudou o ritmo e dinâmica.
Eu não gosto também das separações do texto, acho desnecessário, reli o texto para perceber se precisava deles, se tinha alguma mudança no tempo entre passado e futuro entre as partes, mas não percebi que tenha.
O tempo do texto, a linha cronológica também tem algumas estranhezas, até por isso acabou me confundindo se entre as separações pudessem haver alternâncias entre passado e futuro. Me parece que ela não envelhecer, foi contado cedo demais no texto, ou então que Saozi demorou para envelhecer também. Não chega a falar de idades, mas a forma que foi narrada, me aparentou que o tempo para Saozi também passava de uma forma diferente com os demais personagens. Ângela é claro esse não envelhecimento, mas o de Saozi está um pouco confuso para mim.
Algumas partes da linguagem me pareceram um tanto ingênuas para a linguagem em geral do texto. Percebo uma linguagem poética, que me agrada bastante, mas algumas frases me freiam a leitura, acredito que poderiam ser cortadas certas partes, parece haver alguns “cacos” no meio do texto.
O conto tem como protagonista Ângela, contando a história dela desde que sai de um bordel até ser amante de Saozi, sábia e depois bruxa de vários povoados.
Gostei muito do conto, inclusive não tinha fé que ia gostar de um conto sabrinesco até ler o seu kkk a apresentação da personagem foi ótima no começo, o climáx e a conclusão foram satisfatórios e inclusive vou utilizar do seu texto para aprender mais sobre gramática e descrições. Parabéns!
Resumo 📝 EU ACHO que fala da história de uma mulher que transcende o tempo, ela pode ser uma cyborg, uma experiência nova, alguma assim. Ela é uma prostituta e vive dentro de um quarto recebendo clientes. Um dia acorda e está diante de um homem em trapos que a leva para um aldeia e eles ficam juntos. Não demora e ela precisa ir embora de lá por atrair os homens e despertar a ira das mulheres. Diz ao marido que não pode ter filhos e os dois se separam. Anos depois, ela como uma espécie de curadora e o encontra enfermo, casado e com filhos. Ele morre e ela segue a vida peregrina, com fama de feiticeira por curar e não envelhecer.
Enredo🧐 Estou realmente indecisa se de fato eu entendi toda a complexidade da história. Apesar de tudo eu gostei bastante, a escrita é rica e envolvente assim como a personagem, me despertou curiosidade e empatia por ela. Vejo a história como uma distopia em dois tempos. O começo na guerra e todo o resto o resultado dela. Tem elementos muito interessantes, a ambientação apesar de me deixar confusa algumas vezes é boa, isso é mais pela escrita em si. Me deu uma sensação de está lendo uma história de fantasia.
Gostei 😁👍 Gostei muito da personagem, ela tem um ótimo desenvolvimento uma carga dramática que nem ela se dá conta. Imagino que ela seja um experimento ou mesmo um ciborgue, não sei, que transcende o tempo… foi criada para servir os homens e isso fica claro quando ela acha natural que os homens da aldeia abusem dela. O comportamento com o marido de submissão também demonstra que os seus sentimentos são limitados.
Não gostei🙄👎 A princípio a ambientação me deixou confusa, não me vi em um ambiente distópico, me pareceu hora…uma coisa mais medieval fantástica pelas aldeias, por alguns termos como cura pelas ervas… Eu não sabia se estava no passado ou no futuro e isso atrapalhou minha concentração, não fosse por algumas poucas passagens como ‘’ viadutos, prédios’’ eu não teria certeza. MAS não é nada de grave.
Impacto (😕😐😯😲🤩)😯 Não é uma leitura impactante, mas ela te arrebata aos poucos, te prende por inteiro. Mérito da escrita e da personagem.
Tema (🤦🤷🙋) 🤷 Então… estamos diante de uma ficção científica? Não há elementos científicos, apenas sugestões de que a personagem possa ser algum tipo de experiência. O resto pra mim é uma distopia. Há o romance que convence, há o sexo…. enfim, não sei, cara! Mas também não estou mais analisando isso. Só não tiro esse tópico pq já fiz em todos os outros contos.
Destaque📌 “Em uma noite como outra qualquer, ngela foi dormir e, pela primeira vez em sua vida, teve sonhos diferentes. Sonhou com as guerras que seus clientes descreviam; com explosões e gritos de agonia; com uma cidade em caos e com a degradação da espécie humana. No sonho, dentre a decadência, uma mão surgiu e a tocou. ngela sentiu a pele áspera tracejar um carinho em seu rosto, mais gentil do que qualquer toque que jamais sentira. A sensação inédita despertou-a do sono profundo.”
Analisando esse trecho tenho a confirmação que não estou muito longe da compreensão… de fato ela é um ser diferente e ficou em sono profundo nos destroços do que antes fora o prostíbulo até ser despertada pelo homem.
Conclusão ( 😒🤔🙂😃😍) =😃 Um ótimo conto, bem narrado com uma personagem cativante ao seu modo.
Parabéns!
RESUMO
Uma meretriz que possuem sonhos estranhos, acorda em um mundo distópico. Ao integrar uma sociedade primitiva, acaba por descobrir que não envelhece e isso gera incontentamento que a faz fugir e se tornar uma lenda.
CONSIDERAÇÕES
Os personagens são bem descritos, principalmente Ângela que representa o arquétipo duplo feminino da deusa/bruxa, santa/prostituta. A nuance de outros personagens, assim como a sociedade também é bastante rica sem se ater a detalhes. A única dúvida, que não atrapalha em nada a narrativa, seria em relação de Saozi diante tudo isso, por ele ser uma figura respeitada mesmo com sua mulher sendo usada pelos outros homens em uma sociedade primitiva. O ego ferido das mulheres da tribo é inserido e explorado, enquanto a dos homens atendidos/rejeitados não. Porém, no geral, os personagens foram bem desenvolvidos.
A ambientação é muito boa e clara, atendo-se a detalhes o suficiente para vislumbrar o local com um norte bem definido.
A estrutura da trama é bem clara e delineada, ganhando sofisticação ao deixar algumas coisas subentendidas. O desenvolvimento de Ângela caminha por duas vias, dois arquétipos, uma interna e outra externa. A imagem da prostituta/bruxa até a santa/deusa são bem delineados. Cumpre exatamente seu papel, sem trazer algo novo. A escrita apoia muita a trama, pois as palavras que são usadas ajudam muita na estruturação de toda a história, até mesmo a maneira acinzentada que é descrito as relações sexuais transmite a perspectiva de Ângela.
Li esse conto como se estivesse lendo um romance de 300 páginas em apenas 5. Ao contrário do que pode parecer, não foi rápido ao ponto de deixar a sensação de que algo está sendo deixando para trás. Teve um ritmo perfeito e abarcou visões um tanto quanto complexas sem ser sucinto ao extremo. A fluidez foi ótima e natural.
NOTA 4,8
🗒 Resumo: uma prostituta de pele muito branca sobrevive ao longo das eras vivendo de seu ofício até que a civilização cai e ela passa a viver com um homem bruto. Aos poucos, os dois se apaixonam e ela aprende rituais de cura, mas acabam se separando por ela ser infértil. Ela vira uma “bruxa” aplicando os conhecimentos adquiridos e ele vive com outra família até ter sua vida interrompida pela mulher que amou.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): a premissa é muito boa e o desenvolvimento é bastante satisfatório. Anotei alguns pontos, porém, que merecem ser comentados:
▪ Senti falta da origem ou o que é a protagonista: por que ela é capaz de atravessar gerações? (nem que fosse uma frase curta que deixasse em aberto)
▪ Achei a protagonista muito passiva, aceitando a função de satisfazer o marido mesmo depois de ter descoberto que poderia ser mais que isso.
▪ O plot do sonho ficou perdido (o que eram as coisas sendo injetadas nela?)
▪ A separação do casal não trouxe o drama necessário. Queria ter sentido mais a dor dos personagens, mas infelizmente ficou meio frio.
▪ “Saozi nunca mais a viu”. Viu, sim, no final. Essas quebras na narrativa podem desconectar o leitor. Melhor remover ou mudar.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): boas descrições e domínio da narrativa. Mas a pontuação oscilante incomodou um pouquinho. Apesar disso, uma boa técnica.
▪ Quando terminou *vírgula* deixou-a deslizar para fora
▪ Após algum tempo *vírgula* ela mesma conquistou o título de Sábia
▪ Como Sábia *vírgula* ela tratava dos homens e mulheres enfermos
▪ Sem provas *vírgula* tudo não se passava de suspeitas
▪ Suas aliadas *nas* (as?) Sábias faleciam
▪ Durante a noite *vírgula* o casal se aventurava
▪ Naquela noite *vírgula* o problema era um parto complicado
▪ Quando retornou *vírgula* encontrou Saozi
▪ *À* princípio *vírgula* seus pensamentos eram caóticos
🎯 Tema (⭐⭐): há erotismo suave e amor, portanto está enquadrado no Sabrinesco, segundo o regulamento [✔].
💡 Criatividade (⭐⭐▫): não chega a ser clichê, nem surpreendentemente totalmente criativo.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): o texto acaba desenvolvendo um período muito grande de tempo. Isso, em geral, quando a narrativa é muito distante, afasta um pouco o leitor. Acho que o impacto teria sido melhor se o texto encerrasse na separação do casal. O final, apesar de poético, acabou sendo curto e não passou a emoção desejada.
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😏 Pitadas Sabrinescas: o clássico “membro” apareceu uma vez. Ângela foi “invadida” algumas vezes. Destaque, também, para a “ereção pulsante” (“sincera e faminta”) do rapaz 🤭
Resumo: Uma mulher que trabalha em um bordel como prostituta acorda, um dia, em meio a escombros e é levada para um pequeno vilarejo por um homem, o qual a mantém como objeto sexual. Ela acaba por aprender muitas coisas com ele e com as sábias da comunidade, tornando-se uma espécie de curandeira (bruxa). Mesmo se apegando ao seu raptor, ela um dia decide partir. Ela, que não envelhece, encontra-o na velhice e o ajuda a fazer a passagem para a morte.
Em um primeiro momento gostaria de parabenizar o autor/autora pelo conto. Achei o texto sem entraves, bem escrito e fluido. Gostei do contraste interessante e proposital logo no primeiro e segundo parágrafos. No primeiro, temos a descrição de uma personagem angelical (Ângela seu nome). Na primeira frase do segundo parágrafo, temos o contraste da “pureza” construída: “Ângela trabalhava em um bordel (…)”. Sensacional! E de certa forma, ao contrário do que pensei no início, essa “pureza” continua na personagem, porque ela parecia mesmo ter sido criada/treinada/desenvolvida/construída para proporcionar e satisfazer o prazer sexual de homens, sem refletir sobre o quesito “moral” de seus atos.
Entendi que o conto se enquadra nos dois temas propostos na rodada: ficção científica e erótico (apesar de que este erótico eu achei um pouco bizarro. Talvez por eu ser mulher e “ler” relações sexuais quase animalescas e contra consensuais. Mas entendo que assim foi colocado devido ao espaço/tempo apocalíptico da história, como também devido ao perfil da personagem principal). Por saber que é um conto de ficção científica, achei muito inteligente e irreverente por parte do autor/autora a escolha de certos termos ao longo do conto, tais como: “bruxa” (o título); “degradação da espécie humana”; “olhos primitivos”; “pessoas que agiam como animais”; “segredos das ervas”; “tenda”; “lendas de bruxas”; “tempos de trevas”; “anjo”. Ou seja, são termos bem distantes de um clima futurístico e de “ficção científica”. Mas se estamos realmente falando em um futuro pós-guerras e um clima de extrema barbárie, podemos entender que é muito possível sim um retrocesso social, a busca pelo mítico, uma superstição constante, o retorno da crença dos homens na magia e em seres mitológicos, presentes no imaginário coletivo que volta a ter aspectos da era medieval (volto a citar o termo utilizado “tempos de trevas”). Sensacional! É arriscado, mas sensacional. Claro que alguns aspectos presentes na descrição dos cenários nos impedem de cogitar o não enquadramento no tema de ficção científica: “ruínas”; “ferros retorcidos”; “edifícios”; cidades destruídas; “viaduto”. Ou seja, tudo se passa realmente no futuro.
Agora vamos ao ponto que achei mais sensacional no seu conto. Desde o começo eu pensei que Ângela fosse um “robô” humanoide criado para o sexo. Como uma boneca inflável (rsrsrs) com uma inteligência desenvolvida. Tanto que fiz várias ligações dessa personagem que não envelhece (esteticamente perfeita) com o personagem Gigolô Joe do filme Inteligência Artificial. Daí, fiquei esperando o autor/autora esfregar na minha cara essa verdade que eu já tinha certeza que traria no final. Mas aí está o sensacional: você não trouxe! Foi uma pergunta sem uma resposta direta. E, cara, sério, que incrível isso! Agora eu não sei se ela é um “robô” do zero, ou se é um corpo humano artificialmente trabalhado e modificado (transformado em objeto) depois de ter sido submetido a diversos processos científicos (vide a limpeza realizada a noite no seu corpo com panos úmidos e seringas nas veias), com o único intuído de proporcionar relações sexuais com os soldados no campo de batalha. Será este ser modificado, imortal e incorruptível capaz de ajudar o humano a voltar a ser humano? Que está ali para ajudar no nascimento (partos) e na morte?
Bem, acho que tenho que parar de escrever. Você tem outros comentários para ler. Eu agradeço pela oportunidade de me deleitar com um conto tão interessante. Parabéns, novamente, e nunca – eu disse nunca – pare de escrever.
Uma prostituta acorda num mundo aparentemente pós-apocalíptico, sendo possuída e levada como amante por um tipo neandertal, chefe de uma tribo de iguais, onde ela é odiada pelas mulheres e desejada pelos homens, de modo misterioso. Ela acaba aprende o dialeto deles, desenvolve o dom da cura pelos métodos das curandeiras, mas ela nunca envelhece o que faz com que seja hostilizada por todos da vila. Até ser banida e viver as margens da sociedade, curando os habitantes da aldeia.
O desenvolvimento do texto acontece de maneira fluida, mas me perdi no que considero serem pontas soltas no texto, como o que aconteceu para só restarem estes tipos na terra? Ela dormira por todo esse tempo? Se ela não saía do quarto justifica, mas ela não comia, não tinha necessidades? Isso meio que quebra a veracidade do conto, ao meu ver. Um abraço.
Olá, Jan, cá estou eu às voltas com o seu conto sabrinesco num futuro distópico. Uma história sabrinesca escrita por mãos femininas, eu tive a impressão de estar lendo. Você me traz a narrativa de uma mulher, prostituta e estéril, a Ângela, que servia os homens em uma cidade em ruínas. Até o dia em que do seu lugar de pouca luz do sol, ela foi resgatada por um homem que a tratou de forma diferente. Ao invés de possuir suas presas, ela foi por ele tomada. Ele a leva para a sua aldeia e ela passa a ser a sua mulher. Passa um tempo e começa a incomodar as mulheres da comunidade. Ela se une às velhas e se torna uma Sábia. Passa a curar, a tratar de doenças, a fazer partos… mas os homens a continuavam procurando pelo prazer. Ela começa a se negar e se impor diante deles. A história termina com um casal de irmãos vindo procura-la para tratar do pai. E o velho pai é ninguém menos que aquele homem que a resgatou do antigo prostibulo e ela o ajuda a morrer.
Um enredo simples e linear, mas que prende a atenção e me fez acompanhar o desenrolar da história. Você tem um bom domínio do idioma. Poucas vezes notei algum escorregão mais significativo. Uma concordância que achei equivocada com pessoas, Ínterim como interior e encrustrada ao invés de incrustrada. Seu conto, Jan, apesar de ser uma bela de uma história, não me trouxe grande encanto e emoção. Uma narrativa que não me arrebatou, ou trouxe belas surpresas, infelizmente. Gostei do fechamento que deu à história com a volta do homem que a amou para que ela, que não envelhecia, o levasse para a eternidade. Parabéns pela sua história.
Ângela trabalha em um bordel satisfazendo homens no período entreguerras quando um em específico, Saozi, a leva para viver ao seu lado em uma civilização. Ela têm ensinamentos com as Sábias, tornando-se uma bruxa poderosa. No entanto, entre se envolver com outros prefere viver com Saozi, quando descobre que não pode dar um filho a ele.
Comentário: Gostei da história. Nos traz uma sensação de estranheza no início, mas você escreveu bem. É um conto bom, prossegue bem, nada de especial se estivermos falando da narrativa. A história é surreal, nos envolvemos com a mente da personagem. O momento que Ângela conhece Saozi não me convenceu muito. Mas sei do limite de palavras do conto e imagino que precisasse ser rápido no conto. É uma história legal.
A Bruxa (Jan Dawngarde)
Conto Sabrinesco
Estrutura: Linear, mesmo quando há o corte entre a passividade e a nova ambientação da personagem. Apesar da libido e da presença marcante de ngela como mulher, o Conto é mais à Oeste, pelo clima bélico que transpassa todo o Conto.
Linguagem. Interessante. Fluída. Gostei de duas frases: “entre as ruínas de uma daquelas cidades que já não eram mais” e “o anjo que um dia encontrou nos escombros o escoltava para um novo lar.
Rama: Extensa, porém espaço e tempo estão bem marcados.
Desenvolvimento: Bem construído.
Foco Narrativo: Terceira pessoa.
Resumo. Uma bruxa que vive como prostituta vê seu mundo desabar literalmente e ao despertar entre as ruínas conhece um cliente que muda sua vida. Em seu novo ambiente ela é amada pelo homem, que é um líder tribal, desprezada pelas mulheres comuns e se junta às anciãs para conhecer a sabedoria ancestral. Após várias situações sobre a qual ela não tem controle, acaba sendo banida e ela e seu parceiro deixam o acampamento, indo viver solitários. As práticas da mulher como parteira faz com que o homem queira ser pai e por ela ser estéril, rompe com ele e vai viver distante dele. Os anos passam. Ela, que se tornou guardiã dos dias ĺdos homens, trazendo-os à vida e auxiliando na morte, é chamada para auxiliar a passagem de um idoso. O homem é o amor de sua vida e eles se despedem, quando ele a reconhece.
Comentário
O conto trabalha bem a noção de espaço. Tudo muito bem marcado, interno e externo, sem grandes surpresas
De Ambientação pós queda, o tempo é desconhecido porém bem construído, o texto é bem distribuído. A guerra é real, as consequências também, a alienação da personagem principal esconde de forma perfeita a necessidade de maiores informações sobre o exterior e o tempo da narrativa. Depois, quando ela passa a ser vítima e protagonista da sua história não há necessidade de uma datação porque entre seus papéis de anjo, mulher e bruxa ela se iguala a todas Mulheres em tudo isso desde que o mundo é mundo. Enquanto pessoa se vê como alguém do presente, que desconsidera sua origem, que ela passa a contar do encontro com Saozi. Esses detalhes enriquecem o tempo gramatical, que pela exatidão, flui quase invisível.
Quanto ao enredo, li e me lembrei de outro Conto que já passou por aqui, “A lenda de Aylana”, de Givago Thimoti. Não sei, nesse ponto o enredo ficou transparente. O final ficou muito próximo do outro, lá a personagem principal, também uma bruxa, tem o poder de dar uma ilusão ao mortal que ela ajudava transpor os portais da Morte. Ivo, o caçador, tem uma morte digna, iludido de ter construído uma família com ela. Aqui o chefe tribal, Saozi, tem uma passagem mais real, ele sabe que ela ainda está jovem, inalterada, a reconhece como o amor do passado e não com a esposa… Gostei do final, mas desejaria, como leitora, que eles tivessem ficado juntos, apesar de não conseguir aceitar a primeira experiência sexual deles, que achei forçada, mesmo em se tratando de algo com uma profissional do sexo.
Gosto da ambientação pós queda que o Conto sugere mesmo antes de ela sair do seu ambiente seguro: “Alguns gostavam de conversar após o sexo. Acendiam cigarros ou serviam bebidas e derramavam sobre ela seus corações. Era assim que aprendia sobre os tempos difíceis do mundo lá fora.” E esses desabafos que ela ouve invalidam momentaneamente sua alienação, mas não sua inatividade.
A habilidade que ngela tem de se reinventar me impressiona. E a propósito, um nome angelical em uma prostituta/curandeira/bruxa é de uma sacada interessante, fica, para quem lê a pergunta de quê ela é Mensageira? Que Mensagem é essa? Para quem? Para a humanidade, já que um dos significado para o nome Saozi é “ser humano” ?
Aqui também há uma outra sacada. Em algumas culturas africanas o sexo não é visto como pecado e eu pensei que isso estava relacionado ao Conto, mas depois tem a percepção dela sobre o que acontecia na tenda de cura entre ela e os homens. O sexo ali era invasivo, diferente do que ela fazia com Saozi e diferente do que ela compartilhava no prostíbulo.
Conclusão: O texto é uma estrutura bonita, cumpre o tema do Sabrinesco, porém se perde nas informações. É muito cheio de traves que em um Romance seriam melhor trabalhadas, o final não me impressionou por ser muito próximo do outro conto, mas é uma questão pessoal.
Apesar disso, minha nota é 3, pois, como disse antes há acertos na construção da figura feminina. Os deslocamentos foram o problema, pois eles surgiram como conflitos, tanto que provocaram mudanças. O primeiro ela deixa de ser uma cortesã e passa a ser uma dona de casa com habilidades de sábia e o segundo, quando ela rompe com Saozi, por causa da sua infertilidade e assume seu papel xamânico. Se só aqui descobríssemos ser ela uma bruxa, aí sim, seria um clímax, mas o tempo todo sabemos, desde o título. Sucesso no certame.
Mais um que esqueci o resumo, mas agora vai!
Resumo: Ângela era a maioral do bordel. Bela, gostosa e conhecedora dos prazeres masculinos, ela mandava e desmandava no interior de seu quarto. Mas, então, numa mudança brusca, vê-se numa realidade diferente, sendo levada por um homem bruto e primitivo para uma aldeia também primal. Lá, sendo a mais diferente de todas, aprende ofícios de cura e a cuidar de si. Porém, sua beleza se tornou sua sina e, acusada de bruxaria, é expulsa junto com seu amor, Saozi. Nas ruínas do mundo, eles vivem por um tempo, mas não demora para ser abandonada, por uma besteira, mas daquele tipo que é irreversível. No final das contas, ela vive como uma eremita, sábia e poderosa, ajudando quem podia, tornando-se numa mulher forte e independente.
Vou ser bem sincero e direto, duas coisas que admiro em outros e tento reproduzir.
Não tenho tanta propriedade para falar sobre o Português, mas, à primeira vista, achei a narrativa muito boa, com frases sólidas e conectadas com maestria. A poesia latente no estilo é fácil de notar e não deixa o texto pobre, muito pelo contrário, é bem executado e enriquece-o. Os atos/capítulos me pareceram desnecessários nesse caso, mas é aquela velha máxima: tira, colocar, não tem muita diferença.
O que me incomodou na narrativa foi a forma como a história foi escrita. Você simplesmente contou tudo, sem mostrar realmente Ângela ou qualquer outro personagem. Seria uma boa ideia pesquisar sobre a técnica “Contar X Mostrar”. Em alguns momentos, onde seria interessante conhecermos o que os personagens realmente sentiram, tudo representado pelas suas ações e certos pensamentos, você simplesmente conta o que a pessoa sentiu ou viu. Mostrar a história ajuda muito na criação de empatia por parte do leitor. O interessante dessa técnica de escrita é encontrar o ponto de equilíbrio, contando algumas partes e mostrando outras, em situações estratégicas para despertar a atenção e simpatia do leitor.
Sobre a história, em relação ao tema, vi o romance no ar, mas não o senti. Dou esse crédito à narrativa fria e distante, mesmo que bonita e bem executada. A coisa gostosa, boa mesma, de um romance é senti-lo. Querer estar ali, ou estar com quem ama, sentindo a mesma coisa de verdade. A parte erótica prevalece, sem abusar, na medida certa, mas seria bom sentirmos esse romance interessante entre Saozi e Ângela.
Sobre a forma que escolheu desenrolar a história, depois da chegada da protagonista da aldeia, ficou bom, mas antes, sinceramente, achei muito vago e meio confuso. O plano de fundo, o cenário, a situação do mundo, seja o que for, ficou extremamente nebuloso. Visualizei um bordel urbano e depois, de forma bem brusca, vi-me num vilarejo um tanto primitivo. A imagem ajudou, também, a visualizar isso. Imagino que tudo se passou num mundo em ruínas, mas a transição da vida de prostituta aparentemente urbana para a vida de amante do caçador primal, bem, causou-me estranheza.
Identifiquei algumas críticas sociais, não sei se intencionais, mas que se encaixaram bem no conto, sem prejudicar a narrativa ou criar um teor moralista. Ficou bom, é uma pena que não tenha sentido muito durante a leitura ou ter criado grande empatia com os personagens.
Então, é isso! Espero que tenha ajudado em algo. Parabéns pelo conto e continue escrevendo sempre! Devemos correr atrás daquilo que amamos.
Olá, Jan Dawngarde, boa sorte no desafio. Eis minhas impressões sobre seu conto.
Resumo:
Prostituta atende seus clientes, e deles escuta histórias de suas vidas. E os confortam. Quando encontra um homem que a leva a viver sua própria história numa espécie de sonho. E assim transportada para outra época em um cenário de guerra. Neste ambiente ela passa a ser invocada como bruxa curandeira.
Gramática:
Percebi alguns descuidos de digitação? Como: “Suas aliadas nas (ou mais?) Sábias faleciam”, “uma reação tão encrustada em seu ínterim que ela sequer pôde impedi-la”. (ou interior?) esse ínterim não tem sentido nesta frase.
Comentário crítico:
Autor e personagem se confundem em suas performances, ora ingênuos, ora perspicazes. As situações vão se sucedendo sem muito sentido o que torna o conto contraditório em sua evolução. São situações jogadas pelo enredo afora aos borbotões que vão e volta o que soa um tanto inverossímil. Os exageros na construção da personagem Ângela, são tantos que ultrapassa a ideia de conto sabrinesco para uma fantasia exacerbada, ao querer passar uma grandiosidade sem propósito para a personagem. Finalizando em um final mais do que sem lógica, para não dizer sem sentido. Também tem algumas construções de frases tão apelativas de sentido que leva ao riso, como estas a seguir “corpo esbelto e desprovido de imperfeições” e “A ereção pulsante – sincera e faminta – fugia da calça improvisada.” Até que tem algumas boas situações, mas com certeza precisam ser melhor trabalhadas.
A bruxa
Resumo: Ângela trabalha em um bordel, tendo grandes habilidades no ofício. Em uma noite, após sonhar com os cenários de guerra que seus clientes narravam, ela acorda imersa em ruínas e diante de um homem. Após ter relações sexuais com ele, Ângela se dá conta de que ele não era um cliente e de que houve uma grande destruição. Ela é levada pelo homem, cujo nome é Saozi, para viver com ele junto a seu povo. Lá, ela enfrenta dificuldades por ser uma estrangeira, de cabelos loiros e pele clara demais para a rotina rústica do grupo. Seu marido, líder dos caçadores, se ausenta muito e Ângela busca refúgio junto às Sábias, anciãs do vilarejo que dominam conhecimento de curas. Ela se torna uma sábia poderosa, procurada por muitos feridos e doentes. A inveja de outras mulheres, diante da juventude prolongada de Ângela, que começam a chamá-la de bruxa, faz com que ela e Saozi deixem o povoado. Afastados dali, Ângela descobre que apesar de todo amor que o marido lhe dedica, ele está triste. Ao dizer-lhe que ela não ter filhos, a mulher vê sua frustração e foge dele. Saozi se junta a outro povo, tem filhos, enquanto Ângela se torna uma bruxa andarilha, ajudando pessoas em seu caminho.
Texto bem escrito, narrativa controlada com muita qualidade pelo autor. A gramática está bem ajustada. Definitivamente, o autor não está na Série A por acaso, é uma história criativa e bem executado. Particularmente, tenho dificuldades em situar a história nos dois gêneros do certame. Acho que faltou açúcar para ser sabrinesco e mesmo erotismo – mencionar relações sexuais não deixa necessariamente a história erótica. Talvez a intenção do autor tenha sido fazer uma história de ficção científica, mas também acredito que não seja o caso. O sobrenatural, da bruxa que não envelhece, vai mais no sentido da fantasia. Claro, há os sonhos com seringas e panos úmidos, além de um cenário pós-apocalíptico. Mas acredito que o foco da FC seja a tecnologia e o modo como ela interfere nas relações humanas. Então, para mim, a adequação ao tema do desafio deixou a desejar.
Nota
Originalidade: 5
Domínio da escrita: 5
Adequação ao tema: 2
Narrativa: 4
Desenvolvimento de personagens: 3 (Foco só em Ângela, mal conhecemos Saozi, seu grande amor no fim das contas)
Enredo: 4
Total: 3,8
O conto é bem escrito, mas não posso dizer que a história tenha me agradado.
Ela trabalhava num bordel ou uma prisioneira? Pq ela não saía do quarto? Isso talvez pudesse ter ido melhor desenvolvido.
Fiquei com a impressão de que o conto ou a ideia já existiam antes da opção por escrever um texto erótico, pois pareceu que o sexo e o erotismo foram incluídos depois, adaptados, encaixados ali. Foi a minha impressão. Mas o texto flui e é bem escrito.
Sinopse: Ângela é uma prostituta que vive enclausurada em um bordel. Sua vida se resumia saciar a fome sexual dos seus clientes, homens angustiados com os tempos de guerra. As vezes ela sonhava com mãos, injeções, e acordava procurando as mãos que a agredia nos seus pesadelos. Certo dia, a guerra próxima desaba sobre ela e sua sobrevivência dependerá de um nativo chamado Saozi. A vida da prostituta caminhará para sempre entre o prazer e a dor.
Comentários: Jan Dawngarde, o seu conto é o primeiro que leio. Nem sei como avaliar um Sabrinesco, nem sei se “erótico leve” existe mesmo. Seu conto é bem estruturado e com nenhum erro ortográfico e gramatical aparente, mostrando que uma boa revisão proporciona uma ótima leitura. Sua história aborda muitas questões relevantes, mas também peca em alguns pontos e por isso sua nota foi caindo ao longo da minha leitura. A literatura erótica ocidental moderna surgiu como uma crítica de Sade aos comportamentos burgueses, baseado também numa moral cristã até então dominante. Ao longo do tempo, foi transformado em objeto de consumo, e assim se mantém nos dias de hoje. O que me incomoda nesse tipo de escrita é que o ser humano é reificado a última potência, mero objeto para entretenimento sexual de outrem, cada dia mais com histórias absurdas, sem quaisquer fundos de crítica social. Seu conto arranhou nessa questão. Ângela é uma prostituta, logo ser humano reificado, que acaba acordando nas ruínas de sua antiga cidade e já acorda com um estupro pela manhã! E o pior, ela se apaixona pelo seu agressor! Veja que coisa nociva. Apesar das tentativas de resistir à cultura de agressão sexual, ela demora muito para se posicionar, é como se ela sentisse um certo prazer masoquista nesse tipo de situação. Resquício de sua vida no bordel, talvez. O texto também porta um etnocentrismo, pois a mulher branca, “cândida” e “bela” está rodeada de “animais”, “selvagens”, que “grunhem”, como essas descrições vinham do narrador e não de um personagem, acho que a visão de alteridade do autor falhou muito nesse sentido, levando em consideração que ela pode estar numa colônia em África ou em um país de maioria negra, foi uma maneira pouco lisonjeira de representar essas etnias nativas. O autor também tem o complexo de Tarzan, pois a mulher branca é a única portadora viva dos saberes ancestrais da comunidade, como se as Sábias não tivessem outras pessoas a quem legar seus saberes. Assim como Tarzan, um branco perdido nas florestas africanas é o único a falar com os animais e ganha o título de rei, não porque foi criado na selva em contato com os animais, os povos africanos já estavam milhões de anos lá convivendo com eles, isso ocorre pelo simples fato de ser… um homem branco. Etos do civilizador. Engraçado que Saozi declara que não pode ter filhos, mas no fim do conto ele é salvo pelos seus dois filhos? Como o fato não foi explicado, achei isso um erro crasso.
Notas de Contra-analógico:
– A Bruxa: 1,0
– A Hora Certa de Dizer “Eu te Amo”: 4,5
– A Obradora e a Onça: 3,5
– Às Cegas: 3,8
– As Lobas do Homem: 3,0
– De Forma Natural: 2,0
– Espectros da Salvação: 3,5
– Folhas de Outono: 2,0
– Humanidade: 4,0
– Love in the Afternoon: 3,0
– Neo: 2,5
– O Buquê Jamais Recebido: 2,5
– O Dia Em Que a Terra Não Parou: 1,0
– O Touro Mecânico: 2,0
– Poá: 2,0
– Rosas Roubadas: 1,5
– Show Time: 5,0
– Sob um Céu de Vigilância: 4,0
Contos Favoritos
Melhor técnica: A Hora Certa de Dizer “Eu te Amo”
Mais criativo: Show Time
Mais impactante: Show Time
Melhor conto: Show Time
A BRUXA
Num mundo pós apocalítico, Ângela, uma mulher imortal trabalha como prostituta. Ela é levada por Saozi, para viver com a tribo dele e se torna curandeira. Os dois passam a morar juntos. Saozi quer um filho, mas como Ângela diz que não pode ter, ele a abandona. Muitos anos depois, Ângela é chamada para atender um homem que está para morrer. O Homem é Saozi.
Comentário:
A história não é ruim, também não é nada espetacular. Achei o enredo fraco, mulher imortal que é raptada, abandonada, encontra o raptor no fim da vida. A escrita é boa, a narração clara, objetiva, direta sem floreios. Gostei também da forma em que a narração vai desenvolvendo a história e revelando as dúvidas. O enredo não traz nada de inovador, original, mas a história não é ruim. Uma leitura fluida em parte, porque nem tudo é explicado na hora da ação, mas no decorrer da narrativa, o que não é um defeito, nem empecilho para entendimento da trama.
Resumo: prostituta dos dias atuais acorda em uma realidade pós-apocalíptica onde encontra um protetor; depois se junta a um grupo de sábias, mas mesmo assim se vê forçada a continuar oferecendo seu corpo. Porque não pode ter filhos, ela e seu protetor se separam. A vida dele continua e, às portas da morte, ele a reencontra, numa espécie de extrema-unção.
Impressões: o problema com narrativas épicas é que não há muito tempo ou condições de gerar empatia com o leitor. Me parece que foi o caso aqui, com muita coisa acontecendo num curto espaço de escrita. Embora a história seja interessante, não consegui me sentir conectado (sem trocadilho) com a protagonista. Ficou muito superficial a história. Creio que se o autor tivesse optado por concentrar a trama em um só episódio, como por exemplo, o embate psicológico/pessoal da personagem principal enquanto sábia/prostituta, o resultado teria sido mais interessante. Mas, enfim, é só minha opinião. Também achei que ficou meio solta a ideia de que ela vivia nos dias atuais e que de repente acordou em outra realidade, num mundo distópico; fiquei pensando que haveria um gancho para a volta, fechando o ciclo temporal, mas não aconteceu isso… De todo modo, apesar da minha impressão pouco favorável, tenho como evidente o fato de que o autor sabe escrever muito bem, já que as ideias e as argumentações foram expostas com habilidade e perícia. De fato, só o plot em si é que não me agradou. Espero que outras pessoas possam gostar. Boa sorte no desafio.
Ângela é um prostituta que acaba sendo subitamente sequestrada e vai parar numa espécie de comunidade; lá, ela aprende funções e entra “As Sábias” que são “mulheres de idade avançada que curavam a mente e o corpo dos enfermos”. Por aparentemente não envelhecer, Ângela é dada como bruxa e sofre perseguições devido a essas imputações.
Pessoalmente, achei o conto ruim. Acompanhamos Ângela fazendo seus serviços, e do nada estamos numa vila com sábias, caçadas, barracas etc. Isso assusta, essa falta de cadência na transição. Em algum momento no texto é proposto uma espécie de afeto entre Ângela e Saozi, que é bem difícil de engolir porque não sabemos nada do homem, ou da relação que eles acabaram construindo. Enfim, ficou uma sucessão de acontecimentos com personagens pelos quais o leitor acaba não se importando, porque não houve tentativas de personificá-los em outas esferas que não a espiral de acontecimentos. No mais, a escrita por ela mesma não compromete, e é bem honesta em algumas passagens (apesar de não ter uma marca).
“A Bruxa” conta a história de uma mulher, aparentemente imortal, que vive como uma prostituta em um local desconhecido. Um dia, ela é levada por um guerreiro até uma tribo na qual aprende novas habilidades. Ao unir-se a um grupo de mulheres conhecidas como “Sábias” ela ganha habilidades ainda mais complexas. Mais tarde, ela e o guerreiro são expulsos da tribo.
O conto começa com uma narrativa bastante interessante e com o uso correto de figuras de linguagem. Conforme avança, no entanto, acaba por tornar-se um tanto ordinário. A história, por si só, é consistente, mas falta aquele algo a mais. Além disso, o conto não apresenta elementos claros que o caracterizem dentro dos temas propostos do desafio, fazendo o leitor ter que ser muito generoso de modo a fazê-lo.
Boa tarde, amigo. Tudo bem?
Conto número 2 (estou lendo em ordem de postagem)
Pra começar, devo dizer que não sei ainda quais contos devo ler, mas como quer ler todos, dessa vez, vou comentar todos do mesmo modo, como se fossem do meu grupo de leitura.
Vamos lá:
Resumo: prostituta dorme e acorda numa nova vida, num local provavelmente pós-apocalíptico, em que que uma civilização meio rústica a recebe, e ela começa a desenvolver caracteríticas de uma bruxa: não envelhece nem adoece, além de ser dona de uma beleza estonteante. Após expulsa da tribo e abandonar seu amado, passa a vagar curando as feridas do mundo, até reencontrá-lo no leite de morte e auxiliá-lo na passagem.
Comentário:
Gostei! Acho que o sabrinesco tá na medida certa, com boas descrições e situações bem sensuais. O enredo também é bem bom, então a história não fica só no sexo, tá bem contextualizada.
Não entendi muito bem como aconteceu a passagem da vida comum dela pro novo mundo. Me pareceu ficar no ar, mas talvez eu tenha falhado em entender algo. de qualqer forma, essa transição foi interessante, pois ela parecia meio prisioneira na vida real, e encontrou a liberdade na nova vida.
Essa liberdade é fugaz e fica indo e voltando. Um hora ela é apenas uma servente do homem, outra ela é uma sábia da vila, depois volta a servente, depois abandona o homem e segue sozinha.
Esse vai e vem da condição dela foi interessante. Esse me pareceu o ponto central da história, a luta pela emancipação, pra deixar de ser apenas um objeto e se tornar alguém pleno e livre.
O desfecho é bem legal, também. Gostei do reencontro.
Enfim, bom trabalho! Parabéns e boa sorte!
RESUMO: O propósito da vida de Ângela era prover o prazer de homens vindos de uma guerra da qual apenas ouvira falar, até que o seu mundo, resumido ao seu luxuoso leito, foi alcançado pelo conflito. A novidade veio na forma de um homem, que depois de ter seu prazer com ela, levou-a para a sua vila. A relação entre ele e ela deixou de ser carnal para se tornar emocional, ao mesmo tempo em que assumira outras responsabilidades que não o sexo – aqui colocado como responsabilidade por ter sido a ótica da própria personagem, que logo em seguida muda –. Sua aproximação com as Sábias e o potencial para aprendizado que ela mesma não conhecia a fez alcançar o título, ocupando uma posição de prestígio entre a aldeia, que a repudiava (ou desejava). Ela e Saozi logo tiveram que deixar a vila e, depois, logo tiveram que se separar, quando não conseguiriam conciliar com a infertilidade de Ângela. Só se reencontraram ao tempo da morte do homem, quando a imortal o encontrou em seu leito. Felicidade foi o último sentimento de Saozi.
COMENTÁRIO: Espetacular. Há muito para comentar do conto. Começarei pela trama, cuja sutileza da narrativa contribuiu para delinear um enredo com amplitude, mas sem se aprofundar demais, deixando espaço para que o leitor use a própria imaginação. Dessa forma, o que segue é uma conjetura: é de forte possibilidade que Ângela tenha sido fabricada para adquirir algum padrão estético que lhe encaixasse como um bom “escape” para os soldados da guerra, ao que talvez se refiram os seus sonhos com mãos e agulhas. Ao mesmo tempo, talvez explique sua imortalidade, dado que, ao que parece, sua vida e perfeição excederam não só Saozi, mas também o tempo da própria guerra, não mais presente quando saiu de seu quarto. Em outras palavras, Ângela não deve ser nem mesmo humana e, provavelmente, seu sono pode ser muito mais longo do que o de um humano comum. Todas essas características não foram ditas, mas passaram implícitas, em uma escrita hábil que cuidou de deixar esses fatores como determinantes e possíveis, mas não confirmados, estimulando o interesse do leitor a conjeturar e dando tempo à autora de focar no importante, jogando a história para frente. A mesma sutileza admirável está presente na caracterização da guerra, que aparece não como o principal conflito do enredo, mas como um fator determinante, primeiro para nos demonstrar a alienação da personagem e, depois, para se colocar, mesmo sem ser anunciado, como uma espécie de “divisora de águas”, que situa o universo pós-apocalítico.
Por outro lado, no que não é implícito, o conto também é excepcional, nas constantes descrições de cenas sexuais, a autora escolheu não esmiuçar os detalhes, mas sim apontar os significados dessas relações, que acabam fazendo parte do seu processo de conscientização e libertação, que alcança o ponto em que ela diz não. De outra forma, a tratativa dos seus encontros com Saozi servem para nos dizer que a relação entre eles não é a mesma do primeiro encontro, sendo mais profunda, de modo que, assim que eles deixam a vila juntos, não parece um romance forçado, tendo em vista que a autora também fez Saozi demonstrar a importância que Ângela tinha por outras ações que não o sexo, como o cuidado de a ensinar outras tarefas.
Então, com uma narrativa ágil e responsável, na qual a autora soube exatamente o que mostrar e o que não mostrar, o desfecho também é maravilhoso, as duas principais personagens recebendo um encerramento digno que as colocam em seus lugares “merecidos” sem deixar de também lhes dar um reencontro acalentador. Parabéns!
Bruxa
Comentário em paráfrase…
Jan Dawngarde,
Conto, Sabrinesco
De Ambientação pós queda, tempo desconhecido, o texto é bem construído. A guerra é real, as consequências também, a alienação da personagem principal esconde de forma perfeita a necessidade de maiores informações sobre o exterior e o tempo da narrativa.
Li e me lembrei de outro Conto que já passou por aqui, “A lenda de Aylana”, de Givago Thimoti. O final ficou muito próximo, lá a personagem principal, também uma bruxa, tem o poder de dar uma ilusão ao mortal que ela ajudava transpor os portais da Morte. Ivo, o caçador, tem uma morte digna, iludido de ter construído uma família com ela. Aqui o chefe tribal, Saozi, tem uma passagem mais real, ele sabe que ela ainda está jovem, inalterada… Gostei do final, mas desejaria que eles tivessem ficado juntos…
Gosto da ambientação pós queda que o Conto sugere mesmo antes de ela sair do seu ambiente seguro. Gosto da habilidade que ngela tem de se reinventar. E a propósito, um nome angelical em uma prostituta/curandeira/bruxa é de uma sacada interessante, fica, para quem lê a pergunta de quê ela é Mensageira? Para a humanidade? Li uma vez que o nome Saozi significa “ser humano” – tem também significado de cunhado, mas desconsidero, afinal esses seres, seja homem ou mulher, não são parentes… E que mensagem é essa?
Em algumas culturas africanas o sexo não é visto como pecado e eu pensei que isso estava relacionado, mas depois tem a percepção dela sobre o que acontecia na tenda de cura. O sexo ali era invasivo, diferente do que ela fazia com Saozi e diferente do que ela compartilhava no prostíbulo…