Vai, traga-me outra cerveja, Patrício. Ainda sinto o gosto do lodo fétido no canto da boca. O quê? Quer que eu lhe conte, assim, no seco. Cê soube por quem? Como assim não lembra? Quer saber: tanto faz. Bom! Gelada essa. Vou contar! Assim, quem sabe você para de me encher com essa sua curiosidade enfadonha e vê se num me aburrinha mais.
“O Sol entrou em touro!”. Essa era a manchete da revistinha que o Carlão me arranjou. Uma tal de “Astros e afins”. Previsões, simpatias e tal. Você sabe, Patrício, a gente num acredita nessas coisas, mas o anúncio da garota era específico e ela procurava um homem cultuado em astronomia para levá-la às estrelas. Tá rindo de quê? Olha que eu paro de contar hein. Me respeita, rapaz e prest’enção. Certo. Ela demorou a chegar e, te juro, no começo valeu a pena. Era linda a cabrocha, Patrício. Num era dessas solteironas que a normalmente coloca um anúncio desses no jornal, não. Tinha dois olhões verdes claros, a pele morena e era pequenininha. Menor que eu. Quer dizer, pelo menos no começo. Como assim “como assim”? Ele pareceu pequena pra mim, ué. I’daí que eu sou pequeno. Quer que conte ou não, hein? Então. Ela chegou se apresentou e caminhamos um tempinho pela praça, sabe. Parecia texto de novela, cara. Ela era nova na cidade, não conhecia muita gente. Eu tinha encontrado uma gatinha.
A gente foi assim se engraçando pelos cantos e o papo fluia. O caldo só engrossou memso quando ela me perguntou sobre os astros. Que foi patrício? Claro, que eu falei que sabia. Ela começou a falar de constelações, de planetas, galáxias, e eu arrisquei um tal de ascendente e ela riu de mim. Achei melhor só ouvir. As primeiras estrelas começavam a surgir, assim que a tarde começou a cair e eu propus o óbvio: vir aqui pro Arnolfo, pra gente se conhecer entre uma cerveja e outra, né? Falando nisso… Manda outra, Arnolfo. Oi? Quer saber o quê? Não, o Arnolfo não conheceu. Por quê? Porque ela não quis, claro. Ela fez beicinho pra vir no Arnolfo, é mole. “Cerveja não. Sou mais do vinho, sabe?”. Num sabia não, mas falei que sabia e ela disse que tinha um bom na casa dela, um tal de Merlô. Então, ela disse isso e fomos pro meu carro, que ela tava a pé.
Ela com a mão na minha perna, Patrício. Eu tinha acabado de conhecê-la. Perguntei o caminho e ela foi indicando. Passamos pela Alfredo Prestes, pela Vilares de Santanna, atravessamos todo o Brejo Seco, sim, até chegar naquela estrada de terra, que foi onde eu brequei. Claro que eu brequei. Engraçado, ela também perguntou isso. Mas você sabe onde essa estrada vai dar, Patrício? Isso! Naquela porcaria de casario abandonado. E o que é que tem é o caralho, Patrício! Desculpa, Arnolfo. Tem até senzala aquela merda. Todo mundo acha que aquilo lá é assombrado pelos escravos sofridos dali. Eu também pensava assim. Ela falou que podia seguir, que foi o aluguel mais barato que ela encontrou na cidade e o escambau. Que longe do centro era melhor para ver o céu, os astros. Também, pudera, né? Não tinha uma luz o caminho todo. Mais uma? Que mané saideira. Manda outra, por favor!
Aí eu ofereci levá-la até a minha casa. O quê é que tem a minha mãe? Pelo tardar da hora, que foi atravessar toda a cidade, e depois voltar, ela já dormiria, mas de novo ela recusou. Sugeri um motel próximo, e ela chiou. Eu tava perdendo a garota, Patrício. Se você está com medo, ela falou, pode me deixar aqui, já com a mão na tranca da porta, então eu recoloquei a marcha e avancei pela estrada de terra. Ao que ela pareceu se animar do meu lado. As curvas vão se acentuando a medida que se avança por ente as árvores secas do acostamento. No final, afunila e dá pra passar só um por vez, até que se vê só a lua, o alagado e a casa. Desliguei o motor, e ela me olhou. Seus olhos agora, pareciam amarelados, não mais verdes, e ela mexeu os lábios num sorriso que me dizia: Vamos? Espera, eu falei, eu abro pra você. Saltei do carro e dei a volta para agir como prediz a cartilha. Nessa hora, quando abria a porta pra ela, a menina parecia que era da minha altura. Foi o que falei antes. Doideira, né? Calma que piora.
Avançamos pelo pátio de terra e pulamos algumas poças do alagado que avançava pelo alpendre. Eu não conseguia nem admirar a bela mulher que estava a minha frente, tamanho o cagaço que me assolava. Juro! Algo seriamente me dizia, para dar meia-volta e entrar no carro. Talvez por isso eu tenha deixado a chave no contato. A escada estava roída pelo tempo, como se os açoites do vento ainda agissem sobre madeira. Antes de entrarmos ela sorriu para mim, uma boca grande. Não havia reparado como a boca era tão grande até ver todos os dentes de uma vez. Só não repara na bagunça, ela disse. Que bagunça? Patrício, você já fez uma mudança? Então já viu em filme? O que alguém que fala que acabou de mudar tem espalhado pela casa? Isso! Caixas. Aquela garota, Patrício, tinha porta-retratos. Muitos porta-retratos. Fotos em preto e branco, retratos coloridos, pinturas a óleo. Tudo organizado nas paredes. E quer saber o que eu mais achei estranho, cara? Ela estava em todas as imagens. Os móveis eram velhos e ela disse que vieram com a casa.
Eu tô falando sério. Eu também pensei isso. Nossa que menina culta. Entende de astronomia, vinhos e artes. Móveis antigos e retrato em preto e branco é coisa de gente granfina, Patrício. Pensei, foda-se, já to aqui mesmo. Vou é aproveitar meu dia na alta sociedade, mesmo que seja na alta sociedade dos cafundós de Alamares. A gente é cego, Patrício. Não tem bicho mais cego do que macho com tesão. Ela disse pra eu ficar à vontade, enquanto ela pegava o vinho. Eu fiquei admirando os retratos. Legal suas fotos. E as pinturas?, ela gritou da cozinha. Maneiríssimas. Me adiantei pelo corredor sem perceber. A madeira rangia a cada passo que eu dava, assim como o vento espalhava o cheiro do incenso acesso na sala por entre os sulcos das madeiras dos cômodos. Era até enjoativo, sabe, mas vá lá, enganava bem o podre do pântano lá fora. Então cheguei ao último retrato, caro amigo, e este estava pregado em uma moldura simples de madeira pintada de dourado e o vidro já estava ausente. Corri o dedo por sobre a imagem e a gramatura do papel era velha. Trabalho na papelaria a dez anos e de papel eu entendo, Patrício. Fui correndo o dedo sobre ela, ao que a fotografia escapou da moldura e acabou no chão.
A folhinha ficou assim. Virada ao contrário. E no verso dessa havia um escrito a lápis. De primeira pensei ser um poeminha e uma data: “Durma quiança, diaxo do xibiu!/ Seu pai, sua mãe, nenhum deles taqui!/ Seu pranto, seu Xôru ela já ouviu!/ Pro lodo ela te arrasta, a Coca há de vir! Isabel, 1931”. Eu não pude acreditar. A garota esteve comigo aquela tarde toda, Patrício. Como poderia estar em um retrato tirado há mais de tantos anos? O vento me distraiu novamente, pois a porta ao lado do retrato se abriu e da fresta eu pude ver um degrau. Escancarei e no fundo pude ver uma pequena fresta banhada pela lua cheia do lado de fora. Ouvi os barulhos de taça. Os passos dela rangeram pelo corredor da cozinha para a sala e eu me virei para encará-la, mas a sombra que fazia não condizia com sua posição no cômodo de tamanho avantajado. Foi então que me aconteceu o improvável. Uma rajada forte de ar me puxou escada a baixo pela porta aberta.
Caí, Patrício, num lodo gelado. O cheiro podrido de coisa morta ainda fresca se instalou no meu pulmão. Havia lama por todo meu rosto, cobrindo olhos, nariz e entrava pela boca. Com muita dificuldade consegui me virar a tempo de ver a figura imensa parada na soleira porta. Olhos ofídicos vivos e uma caraça de jacaré que se prolongava pela silhueta. Os cabelos louros desgrenhavam-se entre as escamas que emergiam de sua pele antes tão reluzente. Sim, Patrício, eu não tenho dúvida. Aquela monstruosidade era a “gatinha” do meu encontro da tarde.
A besta gargalhava enquanto os vermes se remexiam entre meus dedos apoiados no lamaçal. Não tive tempo para pensar em outra coisa. Lancei-me de costas para aquela coisa horrenda, porém de frente para as poucas ossadas pequenas espalhadas na lama, ao que pude ouvi-la escorregar com a barriga escamosa escada abaixo, vindo ao meu encontro. Mergulhei no pântano invasor, Patrício, torcendo pela minha vida não ser ceifada pela bocarra do réptil que me seguia. Eu sei que se eu tivesse maior altura ela já me alcançaria. Ou não fosse tão desastrado, não teria caído daquela escada, e não teria chegado a tempo naquela janela enluarada. Havia restos de vidro no batente, onde a roupa prendeu. Esforcei-me para passar e a barriga cortou na superfície.
Patrício, o monstro já se precipitara pela janela, mas não conseguia passar. A focinha arranhou o espaço que antes estivera meu pé. Pude ver aquilo se deliciar com o pouco sangue fresco que escorria pela lâmina. Não esperei muito para apreciar seu deleite. Corri e entrei no carro, como nunca o fizera, sem me preocupar com espelho, cinto ou qualquer outra coisa. Juro, foi por Deus que aquele carro pegou de primeira. Engatei a ré e fiz a volta. Nessa hora a criatura se lançou porta afora arrebentando tudo. Toda a transmutação devia ter acontecido naquele momento. Ela era um lagarto completo e se apoiava nas duas patas traseiras.
Daqueles olhos amarelos não tem como esquecer. Engatei a primeira e acelerei. O bicho parecia transtornado. Grunhia. Grunhia em desepero de ver o carro avançar pela estrada, mas não ousou me perseguir. Parti. Corri o máximo que pude, sempre olhando para trás. Afastando-me da casa e do pântano. Naquela circunstância eu queria fugir até mesmo da lua, Patrício. Segui atentando as curvas, para não bater o único auxílio que me afastava daquilo que deveria ser a minha cova de lodo ao luar.
No mesmo dia! No mesmo dia fui ao hospital, à delegacia, à igreja, tudo. Os policiais, na manhã seguinte, claro, não encontraram nada. Imbecis! Nenhuma pista da tal mulher, registro de locação do imóvel, nada. Como se ela não existisse, aquela bruxa. Riram de mim, assim como você tá fazendo agora. Mas eu pretendo parar de contar essa história. Antes que me tranquem num hospital para maluquinhos, é. Pois a meu favor eu tenho algo que pretendo nunca mostrar a ninguém. Nenhum palpite, Patrício? A fotografia, meu amigo. A fo-to-gra-fia. Mesmo suja de lama, é minha prova, pra mim mesmo, sabe? De minha sanidade, meu caro amigo. Eu é que num me engraço com mulher de signo, nunca mais. Nunca mais! Arnolfo(!), fecha a conta?
Moça solteira procura 3
Numa conversa descontraída num bar, o protagonismo conta a um amigo sobre sua noite aterrorizante com uma pretendente a amante. Ele conta que no final ela se transforma num lagarto gigante, mas ele consegue fugir.
Eu gostei do conto, mas não sei se ele é de terror ou comédia. É outro em que o gênero oscila durante o texto, de modo que não dá para distinguir mesmo lendo quase metade dele. Tem o problema do mau uso da linguagem coloquial. Ela não é constante no conto, mais pro final ele começa a falar usando pretérito mais que perfeito por exemplo. Essa inconstância só empobreceu o texto. Encontrei erro de digitação no caso do “memso”, mas nada que uma revisão não resolvesse. Enfim, um bom conto. Boa sorte.
Moça solteira procura (Apolônio)
Conto
Terror
Resumo
No bar um homem conta sua experiência com uma mulher de anúncio. Enganado pelo anúncio de mulher solteira, ele conhece uma mulher interessante que o convida para tomar um vinho em sua casa. No meio do caminho ele chega a desconfiar do destino, mas interessado em alguns momentos de prazer, ele despreza os sinais. E é por causa de uma curiosidade qualquer que ele acaba descobrindo que ela é um monstro pronto a atacá-lo. Com muita dificuldade e alguma sorte, ele consegue fugir. E mesmo que todos digam que tal mulher-monstro não existe, ele traz consigo a fotografia que ele encontrou na casa dita assombrada.
Comentário
Conto marcadamente assombrado. Bem construído. Personagens bem marcadas. Detalhes levados no ponto certo. Tempo, espaço corretíssimos, ideia central bem aproveitada. Ação bem delineada. Ponto de equilíbrio e de conflitos com distâncias perfeitas.
Conflito bem construído. Climax perfeito: fiquei bem assustada junto com o narrador. O suspense foi muito bem elaborado e o desfecho é perfeito. Para todos é só loucura dele, mas ele tem a foto consigo para manter sua sanidade.
Embora meu comentário seja menor, esse é um de meus contos prediletos da série C desta rodada.
PS. Aburrinhar? Não seria aporrinhar?
Aburrinhar: andar de gatinhas, bestificar…
RESUMO:
Um narrador conta a história de quando ele foi se encontrar com uma mulher e acaba descobrindo seus estranhos segredos. No final ele consegue fugir e ninguém mais acredita nele.
CONSIDERAÇÕES:
Gostei da forma da narrativa mas o conto não consegue transmitir nenhuma faísca de terror ou horror. Faltou aprofundamento nesses conceitos e talvez uma melhor reflexão no que seria interessante para causar medo ou não.
Um jovem se vê em meio a uma armadilha quando decide conhecer a casa da Moça Solteira, esta que mais tarde transforma-se em lagarto e persegue o jovem já em debandada.
É um conto de terror muito bem escrito, cômico até em certas partes. O narrador, pedindo cada vez mais cervejas para deixar a estória fluir de si, parecia o mesmo que do livro “Quantas Madrugadas Tem a Noite”, de Ondjaki. Meus parabéns!
RESUMO: Um homem, numa mesa de bar, conta para o amigo Patrício uma história macabra, de aspecto fantástico, que aconteceu com ele. Enquanto pede e toma algumas cervejas, ele começa a descrever um encontro que teve com certa mulher, que procurava uma companhia através de anúncio em uma revista. Os dois marcaram de se encontrar e o narrador descreve a mulher como pequena e muito bonita, de olhos verdes. Ela o convida a ir para sua casa e ele aceita, indo ambos no carro dele já que ela estava a pé. Ele se assusta com o trajeto que ela o faz tomar, uma vez que o caminho tem como ponto final uma mansão abandonada, famosa por histórias fantasmagóricas de escravos que haviam sofrido toda a espécie de violência naquela propriedade. Incentivado pela mulher, ele segue caminho e adentra no casarão, assustando-se com a quantidade de porta-retratos espelhados pelas paredes e pelos móveis muito antigos. Em uma das fotografias descascadas com o rosto da mulher estampado, ele vê a data no verso (1931) e o pavor toma conta dele outra vez. Um vento o lança porta afora sobre um lodo podre e a mulher aparece para ele com a estatura bem maior. Aos poucos a figura da mulher se transforma em um lagarto enorme que o persegue. Ele consegue chegar ao carro e em alta velocidade foge dali. Ele conta ao amigo Patrício que foi até a polícia para relatar o ocorrido, mas ninguém acreditou nele, assim como seu amigo não estava acreditando. Como prova de que a mente do narrador não havia pregado uma peça nele, ele trazia consigo a fotografia antiga da mulher. Ele decidiu não mostrar para ninguém.
CONSIDERAÇÕES: Os erros gramaticais e de pontuação incomodaram a minha leitura. Uma revisão simples, mas atenta, poderia ter atenuado os erros e dado ao conto um acabamento estético mais aprimorado. Não ficou claro para mim se o personagem principal mantém o diálogo por telefone ou se o amigo está lá no bar também. Como as falas do amigo não apareceram, passou a mim a ideia de que ele não estivesse lá presente, mas admito que pode ter sido uma opção estética do autor dar a voz apenas ao narrador da história e ocultar as demais. Sem contar que o narrador pode sofrer de problemas psicológicos e Patrício não passar de um amigo imaginário proveniente de esquizofrenia. O que faz todo sentido já que a história que conta é bem fantástica. E o fato dele tomar cerveja, faz com que o álcool corte o efeito dos possíveis remédios para controlar a doença. Mas isso são apenas conjecturas minhas. O conto tem uma tensão, principalmente quando o personagem principal aproxima-se do lugar deserto e da mansão abandonada. Mas confesso não ter sentido medo ou pavor do réptil gigante. A moça misteriosa me causou mais medo que o monstro. No verso da fotografia tem o termo “coca”. É coca mesmo ou você queria escrever “cuca”? Faz sentido ser “cuca” devido a transfiguração da mulher em uma espécie de jacaré. Gostei da informalidade da narrativa, uma história contada num bar, entre amigos, passou o ar de que a cena poderia ser bem real, embora meus olhos estejam bem treinados a desconfiar de qualquer história contada por um narrador em primeira pessoa desde Bentinho em Dom Casmurro de Machado de Assis. Mas isso só deixou tudo mais interessante.
Boa sorte na competição. 🙂
Resumo: um homem conta ao seu amigo, Patrício, em uma mesa de bar, sobre um encontro com uma mulher que se transformou – na Cuca, hehe – numa criatura e quase o matou. Ao final ele consegue fugir.
Como é um relato do próprio personagem, já sabemos que tudo vai acabar bem; e a narrativa não consegue superar esse “spoiler”, vamos dizer assim. As pinturas e retratos renderam uma boa imagem, espera mais no fim das contas.
Em um bar, um homem toma cerveja com seu interlocutor, Patrício. Conta sobre um caso ocorrido com ele, história que está sendo comentada na cidade. O caso começa com o anúncio de uma mulher, solteira, procurando um homem “que a levasse às estrelas”. O encontro com a jovem se desenrola bem, até o ponto em que, após refutar ir ao bar com o rapaz, a moça o chama para tomar vinho em sua casa. O homem gosta da ideia, até descobrir o lugar afastado onde a jovem vive. Ele oferece outras opções, como ir para a casa dele ou para um motel. Ela recusa e ameaça descer do carro. O homem aceita, então, e vai para a casa antiga onde a jovem vive. O lugar é repleto de fotos e pinturas antigas. Quando a moça vai buscar o vinho, ela mostra sua verdadeira forma e o rapaz se vê em apuros.
A história é bem redigida. O autor/ a autora opta por uma narração em primeira pessoa, de forma bem casual. Afinal, trata-se de uma conversa de bar. O conto é bem balanceado, o ritmo vai crescendo até o final, o que mostra habilidade do autor/ autora em construir a narrativa.
Podemos dizer que a história, em si, é um clichê, já que é bem frequente contos populares com uma mulher misteriosa que na verdade é um fantasma ou, no caso, um monstro. Mas acredito que seja algo intencional, uma homenagem a estes “causos”. Há um problema ao construir o conto com o personagem narrador relatando a um amigo o que ocorreu: o leitor sabe que, independente do que ocorrer, o personagem vai se safar. É um spoiler interno. O que não prejudica a história.
Gostei, fecha a conta e passa a régua.
Conto: Moça Solteira Procura
Autor: Apolônio
Resumo: Um homem interiorano em uma conversa de bar com seu amigo, conta para ele uma terrível situação que passou quando foi conhecer uma mulher que tinha colocado um anúncio em uma revista. A mulher, muito bonita, que dizia ser interessada em constelações e astronomia convida o interiorano para ir para sua casa, um lugar abandonado e afastado da cidade para beber um vinho e ver as estrelas. O homem que estava bem atraído pela beldade, aceita o convite da moça e vai para esta casa que ela disse ter alugado, um lugar conhecido na pequena cidade por ser assombrado. Lá ele descobre uma fotografia muito antiga da mulher que estava com ele, a mulher que estava gradativamente modificando suas características físicas durante este encontro agora se transforma completamente em um réptil gigante, loiro e asqueroso que persegue o homem para devorar. O interiorano consegue escapar com vida, leva com ele a fotografia para confirmar para si mesmo a veracidade da história e sua sanidade. Termina o caso para seu amigo de bar e pede a conta.
Opinião: Algumas palavras, termos e expressões usadas pelo personagem principal da história durante sua conversa informal, não condiz perfeitamente com o tipo de conversa que seria, porém é claro que para explicar e detalhar a situação do acontecido para o leitor, algumas destas palavras foram necessárias serem inseridas no conto. De forma alguma a ambientação e caracterização dos personagens foram prejudicadas por isso, muito pelo contrário, o autor teve um grande sucesso em passar uma conversa de bar entre amigos no interior. A estrutura da história foi muito interessante, onde só foi descrito as falas do personagem principal, sendo que fica para o leitor entender e deduzir sozinho quais que foram as indagações ou falas do seu amigo e do dono do bar. É um conto que traz consigo aquelas típicas histórias de terror contada no interior dos estados brasileiros, a personagem feminina é uma mulher sedutora e se transforma em um crocodilo ou jacaré com os cabelos loiros, nos remetendo fortemente a bruxa Cuca, inclusive o personagem principal refere-se a ela como uma bruxa, mais para o final do conto. Eu gostei muito da história, muito bem escrita e muito muito divertida, achei bastante nostálgico. Parabéns.
Moça solteira procura
História contada entre alguns copos de cerveja.
Atendeu anúncio de moça que procurava homem cultuado em astronomia.
Olhos verdes, morena, pequena.
O convite para ir a sua casa.
Caminho indicado seguiram, estrada de terra, escuro, caminho afunilado, alagado.
Deixa chave no contato ao descer. A moça parece alta, sorriso de dentes e nova grande.
Casa com móveis antigos e porta retratos. Um com foto da moça de 1931.
Os passos, a sombra, rajada de vento,o tombo, o mergulho no lodo.
O mostro, a perseguido entra no carro, acelera.
Faz boletim de ocorrência, nada é encontrado. A foto e sua prova de sanidade.
Resumo: Homem conta no bar a respeito do apuro que passou ao sair com uma moça e levá-la até a casa dela, casa digna de filme Poltergeist. A moça não era bem o que ele pensava, era cilada, Bino.
Comentários: O começo do conto foi meio duro de acompanhar. Acho que houve certo exagero na narrativa enquanto o homem não começa a contar o que aconteceu. Conforme o narrador entra no relato dos fatos propriamente ditos, essa narração melhora e torna a leitura mais dinâmica e mais intrigante. Lá no finalzinho, depois que ele termina o relato, volta essa narrativa do início, que eu achei bem desnecessária. Eu gostei do enredo, mas não da forma como ele foi desenvolvido. Apesar da tentativa de terror e das cenas descritas com a intenção de assustar, até mesmo criar certo nojo em uma ou duas partes, comigo não surtiu esse efeito, talvez pelo que aconteceu no início, que diminuiu um pouco, já no começo, a vontade que eu estava de ler o texto. No geral, um conto bem mediano. Um ponto positivo é a linguagem bem despojada, mas faltou dosar um pouquinho disso também. Enfim, é um conto que promete terror, mas não chega a isso. Talvez, se for mais trabalhado, quem sabe.
Toques gramaticais:
O conto precisa de uma boa revisão, faltam várias vírgulas como em “Olha que eu paro de contar hein”, em que ela deveria vir antes da palavra “hein”. O verbo “aburrinhar” existe, só não tenho certeza se ele foi bem empregado no início do texto. Tem letra trocada, como em ” O caldo só engrossou memso” >>> memso = mesmo
Olá,Apolônio!
Conto sobre um homem que pensa ter se dado bem apos conhecer uma ” gatinha” ela o convida para terminar o encontro na sua casa e ele aceita. Durante o caminho seus instintos dizem que algo está errado mas ” home com tesão é a criatura mais burra do mundo” A gatinha se transforma em um monstro em forma de lagarto e o ataca. Mas ele consegue sobreviver pra contar a história.
O conto é um causo, o tom de conversa de bar ocorre do começo ao fim,os diálogos soltos dão um acerta estranheza mas combina com a narrativa. O sotaque do personagem está presente e as descrições são boas, dá pra visualizar as cenas. Não sei quanto ao terror, o tom cômico é predominante, eu dificilmente classificar como terror, mas como isso fica mais subjetivo não vejo maiores problemas. É um bom conto, perde o impacto do tema, mas ainda assim foi uma leitura interessante.
Boa sorte no desafio.
Boa história, narração informal, meio cômica, mudando aos poucos para um clima de terror. Excelentes descrições. Ambientação, frases, o suspense crescente desde o início, gerando interessa na leitura, uma expectativa, o que virá a seguir? Bom conto.
Boa sorte no próximo tema.
O narrador conta a história de uma mulher bonita que conheceu, saiu com ela e ela virou um monstro e teve que fugir, mas não tem provas, apenas uma foto que guarda para si.
Gosto da linguagem, de aparecer apenas a voz do narrador, deixa a mim, como leitor, tentando ler quem é o ouvinte da história. Tem um ótimo final, trazendo um ar de contador de causos ao personagem, ficamos pensando quantas histórias fica inventando, ou se repete essa exaustivamente.
Moça Solteira Procura (Apolônio)
Um possível encontro. O personagem vai narrando a Patrício (Bar men) tudo que lhe acontecera. Ele encontra uma moça como de um destes anúncios feitos em jornais e revistas, nova na sua cidade e aparentemente, linda. Marcam um encontro. Alguns acontecimentos o impedem de ficar com a menina. Ele oferece sua casa pra ficarem juntos mas ela se recusa. Oferece motel, mas, sem sucesso. Acabam indo parar na casa da menina onde o personagem a vê em muitos porta retratos antigos. A jovem parece ir se metamorfoseando durante a narrativa. Começa pequena e depois esta do mesmo tamanho do homem que conta a história. Ao final se transforma completamente numa monstruosidade réptil que parece querer devorá-lo. Sem sucesso.
Ponto forte: Enredo muito bom. Chama-me a atenção para lugares perdidos, lamaçais.
Clímax: A possível transformação da bela mulher em demônio, ou, pelo menos poderia ser.
Ponto Fraco: Explorou pouco a personagem maligna na minha opinião. Quem sabe poderia ter usado a forma de um demônio ao invés de um réptil loiro que assemelha-se a cuca (sitio do pica pau amarelo) na sua descrição.
Evidentemente isso é pessoal e não levo este critério na avaliação. Trata-se apenas de uma analise que não muda o fato de que achei o conto muito bom.
Erros em algumas palavras: Acesso (deveria ser aceso) memso (mesmo)
Frases repetidas (No mesmo dia). Importante ler e reler para verificar a ortografia.
O conto narra a desventura de um homem que conhece uma bela moça través de um anúncio de revista. É ele quem conta a história a um amigo num boteco. A princípio tudo corre muito bem e ela parece ter gostado dele. Ela tenta seduzi-lo. Quer que ele a leve até a casa dela para tomarem um vinho. Ainda no meio do cominho, o homem começa a achar estranho tudo aquilo. Estavam em um lugar muito ermo e parecia que nunca chegavam à tal casa. Quando finalmente chegaram, ele de depara com uma casa muito antiga, as paredes cheias de fotografias de diferentes épocas. O estranho era que a moça parecia estar em todas elas. Ele descobre uma foto muito antiga e vê que se trata mesmo da moça. Uma porta se abre próximo dele e ele acaba caindo num porão. A mulher, agora transmutada em um enorme ser reptiliano, rasteja em seu encalço. Ele se arrasta pela lama do chão, em pânico, tentando escapar daquele monstro e sai por uma janelinha, pondo-se a correr como um louco pelo pântano que rodeia o casario.
Eu gostei do conto, no que se refere à história em si. Prendeu minha atenção. O modo ansioso como o narrador/protagonista conta o acontecido, funcionou muito bem. Até senti um pouco de tensão ao ler. Porém, é também um pouco engraçado. E como era ele quem contava, já era sabido que nada de ruim aconteceria. O português é razoável. Não tem erros grosseiros de gramática nem de ortografia. Só precisa se atentar um pouco à pontuação. E aqui: “ela procurava um homem cultuado”, você errou em cultuado. A palavra que você queria é aculturado. A forma de escrever eu achei legal também. Mas precisa de refinamento.
Eita! Corre que a cuca vai pegar!
Que sufoco.
Parabéns
Moça Solteira Procura (Apolônio)
Este conto trás um acontecimento onde, um personagem conhece uma mulher e percebe a possibilidade de ter com ela um relacionamento, a coisa da errada e ele conta a seu amigo como tudo se desenrolou.
Apolônio, parabéns, em minha melhor critica, só posso render belos elogios a sua trama, muito bem construída, chamativa e segura o leitor. ela deixa o leitor querendo mais e que não acabe nunca. A meu ver, uma das certas a subir de categoria, espero que alcance.
Quem ler e guardar alguma experiência de sua habilidade, crescerá como contista, sucesso.
Moça solteira procura é um conto interessante que fala de um homem que encontrou uma mulher, foi para a casa dela. Lá observou que a casa tida como mal assombrada pela população, era sim mal assombrada. sua intenção era namorar a moça, que transformou-se num jacaré e queria comer ele. mas conseguiu fugir relatou tudo isto a um amigo.
Apolônio, parabéns, acho dando minha humilde opinião, que você será um dos contemplados com a presença no grupo B, muito bom seu conto. A meu ver, como pontos negativos, no inicio achei que existam muitas virgulas, o que seguram a leitura. Sabe, não deixam ela seguir mais rápido. Talvez trocar as palavras e diminuir a virgulas deixariam seu conto, sem adversários a altura. Espero que as criticas sobre as virgulas sejam entendidas como construtivas.
Sucesso
Olá, Apolônio.
SINOPSE:
O narrador, num bar, conta a um amigo um acontecimento: ele havia se encontrado com a moça que havia deixado um anúncio em jornal à procura de um “amante”. Após algumas conversas, ela convida o narrador para beber vinho em sua casa. O local é estranho, decrépito; o narrador titubeia, mas é convencido a seguir. Dentro da casa há muitos porta-retratos, e todos protagonizados por ela. O narrador percorre os olhos pelas fotografias e se detém na última, que cai de sua mão. Algo escrito no verso, incompatível com a realidade? Depois, o narrador é arremessado contra as escadas. Lama, cheiro de corpo em putrefação. A moça de outrora se transformara numa criatura reptiliana. A agonia de quem tenta escapar pela lama subterrânea. O alívio, enfim. Descrédito por parte dos amigos.
ANÁLISE:
Contada na perspectiva de um narrador rosiano, com certa coloquialidade de um Riobaldo. Assim, não temos um texto monológico, pois há pontuais intervenções do interlocutor na narrativa. É interessante essa supressão da ação do interlocutor, que não prejudica o desenvolvimento do conto, pelo contrário, mantém substancialmente o ritmo do enredo sem negligenciar os adendos à história desse ouvinte curioso. O fato de o mote ser narrado, ou seja, fruto de lembrança anterior, e não disposto conforme a ação se desenvolve (raiz do famoso — e, a meu ver, altamente discutível — “show, don’t tell”) não prejudicou o impacto do clímax.
Em se tratando de um “causo”, seu conto é redondo, aparentemente não há pontas soltas (exceto, claro, sobre a criatura — os cinco porquês –, mas como o enredo não se concentra nela, vejo não é necessário, aqui, esse tipo de especulação). O que mais me atraiu foi o estilo. Outrossim, é importante pontuar que vi alguns pequenos deslizes sobretudo quanto à pontuação. Mesmo quando a fala é coloquial, quando a transpomos para o papel é importante adequá-la gramaticalmente (como Guimarães Rosa fazia). É certo que lexicalmente haverão discrepâncias com a tal “norma culta”, pois é uma narração coloquial. Mas há preocupação do autor quanto a isso, tanto é que vi poucos deslizes. Em linhas gerais, é um ótimo conto.
Desejo a você sucesso neste desafio.
Resumo: Moça Solteira Procura (Apolônio)
Conto/causo que conta o episódio assombroso de uma forma cômica, sobre um homem que encontra uma moça e depois de flertes e conquistas ele leva ela para casa, na verdade um casarão abandonado que ela diz ter alugado, mas que no final era apenas o local onde ela, um fantasma demoníaco, devorava suas vítimas. O homem conta a história de como conheceu, foi seduzido e fugiu da garota.
Sim, o conto não é de tudo aterrorizante, mas a narrativa é bem inteligente, principalmente por flertar com nosso imaginário ao não colocar as falas do Patrício e sempre colocar as respostas do persona, fazendo-nos imaginar as palavras do amigo, isso achei demais.
O conto também é muito cômico, cativa e nos leva para um passeio, ah e as descrições e ambientação também estão muito boas.
O caldo só engrossou memso quando ela me perguntou sobre os astros – mesmo
Que foi patrício? – Que foi, Patrício?
Avaliação:
Terror: de 1 a 5 – Nota 3,5 (Não tem muito terror, mas a cena do casarão foi legal, eu curti a aventura)
Gramática – de 1 a 5 – Nota 4 (Poucos erros)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 4,5 ( Achei muito bacana, me lembrou o Carlos Henrique )
Enredo – de 1 a 5 – Nota 3 (Clichê, bem executado, mas clichê)
Personagens – de 1 a 5 – Nota 5 (Muito bem desenvolvidos)
Título – de 1 a 5 – Nota 3,5 (Parece título de besteirol americano, não sei se leria pelo título)
Total: 23,5 pts de 30 pts