— Esse hambúrguer está delicioso! O melhor que já comi na minha vida!
— Cris, você falou a mesma coisa outro dia do hambúrguer caseiro que a sua amiga fez.
— É mesmo… estava muito bom! Mas esse aqui está melhor. Só não sei se é o tempero ou o sabor da carne…
— O meu também está muito bom, mãe.
— Deixa eu provar?
Christiane não aguardou resposta, puxou o sanduíche da mão da filha e cravou-lhe uma dentada. Mastigou lentamente, os olhos apertados, uma expressão afetada, como se fosse capaz de distinguir nuances de sabor entre ingredientes ou cortes de carne.
— Excelente!
Dessa vez sem introdução, invadiu o prato do marido armada com seus garfo e faca. Ele havia pedido o dele no prato. Cortou um naco só da carne deixando o pão de lado e lambuzou-a no molho amarelado. Sem ação, ele a olhou com uma expressão de espanto e desgosto misturados.
— Que absurdo, Christiane! Falta de educação!
— Paro o meu gosto, exagerou um pouquinho no alho, mas talvez seja o molho — a mesma cara afetada enquanto mastigava — A textura está perfeita! Gordura na medida exata!
Era a primeira vez que iam àquela hamburgueria, indicação de um podcast de gastronomia que Christiane acompanhava. Havia sido inaugurada há alguns meses e ficava em uma ruazinha escondida na zona oeste da cidade.
Oito meses antes, no Faca de Prata
— E aí? Que tal?
— É muito bom mesmo!
— Eu conheço esse lugar aqui há tempos. Antes era um rodízio normal. Carne boa, mas nada demais. De repente começaram a servir esses hambúrgueres que são simplesmente fantásticos. Já perguntei o segredo ao cozinheiro. Ele ficou rindo, disse que eles chegam embalados, o trabalho dele é só colocar na grelha e assar até o ponto certo.
— É, o ponto está perfeito! Bem rosadinho, suculento… muito bom! Mas o diferencial mesmo é o sabor da carne.
Ângelo havia convidado o amigo, dono de uma rede de restaurantes em São Paulo, para conhecer os hambúrgueres do Faca de Prata, restaurante de beira de estrada por onde ele passava — e ultimamente parava quase sempre para comer — no caminho entre a fazenda pacata onde trabalhava e o fim de semana de excessos na capital.
— Então? O que você acha de fazer uma experiência em um dos seus restaurantes?
— Pode ser. É uma ideia. Todo mundo deu para gostar de hambúrguer agora, não é mesmo?
Cristiano queria mudar de vida, uma sociedade com o amigo bem-sucedido era uma hipótese. Seu plano ganhava forma.
— Ótimo! Muito bom! Vou atrás dos contatos. Mas antes vou trazer você aqui de volta para experimentar as outras opções do menu. O Três Porquinhos é um espetáculo!
Havia quatro opções de hambúrguer no menu: Papa Figo, Peter Pan, Três Porquinhos e Rapunzel. O Três Porquinhos era um combinado de três mini hambúrgueres de 70 gramas servidos com batata frita e salada. Cada um com um sabor especial, era a o que prometia o texto do cardápio.
Tudo começou por acaso
Na terceira vez que estupraram a funcionária — os três, um em seguida ao outro, do mais velho para o mais jovem — a mulher parou de respirar.
Precisavam sumir com o corpo, não sabiam qual seria a reação do pai.
Talvez por influência do ambiente —o sangue mal lavado do chão, o cheiro, alguns ossos espalhados — decidiram esquartejá-la, desossá-la, fatiá-la e misturá-la à carne que levariam para o restaurante no dia seguinte.
Mas não deram conta de fazê-lo. Entendiam de bois e de vacas, desossar uma pessoa e depois transformá-la em peças assáveis em um forno de churrascaria era outra história. Foi o mais novo que deu a ideia de transformá-la em hambúrguer. Misturar a carne da mulher com alguma peça de segunda do último novilho abatido e processá-las juntas no moedor industrial que haviam acabado de comprar.
Preparadas duas dezenas de hambúrgueres, guardaram o resto da carne no frigorífico. Trituraram os ossos para mais tarde misturá-los à ração dos cavalos. Os cabelos longos, enterraram. Diriam ao pai que a mulher havia fugido caso ele desse por sua falta. Aos demais empregados diriam qualquer coisa, se eles tivessem a curiosidade de saber e a ousadia de perguntar por ela.
Rapunzel
Assim a chamavam por causa dos cabelos exageradamente longos. Era falsa magra e de idade incerta. O patrão a havia acolhido quando ela batera à porta, um filho pequeno no colo, fugida do marido bêbado que a espancava.
Braço bom para o trabalho, primeiro colheu cana, depois ordenhou vaca, por último limpava a sujeira do abatedouro depois que os rapazes terminavam. Não recebia salário, seu pagamento era a morada, a comida e mais trabalho. Nunca descansava.
O menino, seu filho, morreu rápido de um resfriado repetido mal curado. O barraco úmido onde dormiam, a comida pouca e o remédio que não havia não permitiram que se curasse.
Quando os filhos do patrão abriram a garrafa de pinga naquele dia, ela já sabia o que viria em seguida. Só não sabia que não seria forte o suficiente para aguentar.
Não deu para quem quis
A novidade do hambúrguer agradou em cheio o paladar dos caminhoneiros frequentadores do Faca de Prata. Assado na brasa, foi acrescentado como item do rodízio. Já no primeiro dia, não deu para quem quis, quem provava pedia mais. Nos dias seguintes, o desempenho foi igual.
Porque a carne de Rapunzel minguava e tendo notado que o tom amarelado da gordura entremeada em suas partes mais nobres se assemelhava ao das carnes das vacas mais velhas, os irmãos resolveram abater uma velha vaca, cujo leite do último bezerro já havia secado. Os novos hambúrgueres feitos da vaca senhora, entretanto, não tiveram a mesma performance. Sobravam nos pratos, desperdiçados ao lixo no final.
Experimentaram então outras combinações de carnes e gorduras, misturando inclusive partes nobres de novilhos, machos e jovens. Mas os clientes persistiam mal provando os hambúrgueres, preferindo ao invés deles comer carne de verdade ainda que de segunda classe.
O certo teria sido desistir dos hambúrgueres, mas eram muito mais econômicos, rendiam um aproveitamento bem melhor da carne. Além disso, tinham trazido novos clientes para o Faca, fora o que o pai notara na sua função de supervisionar o caixa. De modo que ele, o pai, que não era homem de dar passo para trás, disse aos filhos que tratassem de dar um jeito de reproduzir o sucesso das primeiras carnes processadas.
Foi o irmão do meio quem teve a ideia de procurar entre moradoras de rua da metrópole mais próxima mulheres nem gordas, nem magras, tampouco muito passadas na idade, cujos rigores da vida dura de rua não tivessem maltratado por demais a maciez da carne. Oferecia trabalho, comida, morada e a mulher entrava no carro. A princípio, recrutava uma por dia, mas com o crescimento da clientela do restaurante, passou a duas ou três, a depender do estoque e da disponibilidade nos becos por onde passava.
O Papa-figo
Estava na fazenda desde que os meninos eram pequenos. Um molecote nessa época, mas já forte para a idade, muito servil, vesgo e feio como a desgraça. A mãe costumava pôr medo aos meninos dizendo que ele era o Papa-figo, os roubaria se eles não se comportassem. Fora da mãe também a arte de chamar Rapunzel à moça dos longos cabelos despropositados, maltrapilha, com o filho no colo, que chegou à fazenda anos mais tarde.
Papa-figo chorou a morte do menino de Rapunzel mais do que ela própria. Para ela, um alívio ver findado o martírio do filho. Para ele, a tristeza de ver mais uma criança não vingar.
Não se conformou quando lhe disseram que Rapunzel tinha ido embora. Sem se despedir dele? Foi difícil acreditar, mas não convinha insistir, perguntar mais. Os rapazes que um dia o haviam temido, crescidos, o tratavam como nada.
Desconfiado com o fluxo de mulheres andrajosas pela fazenda, acabou tendo a falta de sorte de espiar por uma fresta o abate de uma delas. Descoberto em sua curiosidade nefasta, acabou também ele — pela primeira vez um homem — fatiado e picado. Sua carne máscula foi misturada à de uma vaca bem jovem, abatida porque estéril e portanto imprestável, ao invés de à alcatra de um novilho macho. A ideia da combinação, digamos, cruzada, foi do irmão mais velho, intuindo que a harmonia do hambúrguer resultante residia em certo contraste entre as texturas das carnes mescladas.
Daí a entender que a maciez da carne variava ao sabor dos hormônios e que esses dependiam de idade e sexo, foi o próximo passo. Desse entendimento surgiram novas experiências com crianças e adolescentes resultando no delicioso “Três Porquinhos” e no “Peter Pan” com seu sabor exótico.
Um nicho no canto da sala
Embora achando que algo estranho se passasse no pequeno abatedouro da fazenda, o pai só soube em detalhes de que eram feitos os hambúrgueres quando a fama do Faca de Prata já havia se espalhado e o movimento havia praticamente dobrado.
Coube ao filho do meio, dentre os três o que tinha mais tato, contar ao pai em detalhes o que se passava. Da janela dos fundos da sede da fazenda, a mãe observou-os conversando, sentados à sombra da mangueira mais frondosa da propriedade, e viu quando o marido se levantou agitado, começou a andar de um lado para o outro gesticulando desordenadamente e levando as mãos à cabeça parecendo bem perturbado.
Quando contaram a ela a história, sua reação foi bem mais calma e sensata. Lembrou-se prontamente das pequenas melhorias feitas recentemente na casa graças ao aumento da receita do restaurante e também de outra, futuras, algumas já orçadas, como a impermeabilização da parede mofada do seu quarto, causa de sua rinite incurável. Para surpresa de todos disse contrita, olhos voltados para a Nossa Senhora e o Cristo crucificado aprisionados em um nicho no canto da sala, que servir como alimento era um fim nobre para aquelas pessoas sem perspectiva, melhor do que consumir a vida inutilmente vagando pelas sarjetas, sem teto e sem trabalho.
Angel Burguer
— Então? O que o senhor acha da proposta?
O dono do Faca de Prata havia relutado um pouco antes de revelar para Ângelo que os hambúrgueres eram feitos em sua propriedade, um produto familiar concebido e executado pelos filhos. Feita a proposta de fornecer o produto para a hamburgueria prestes a ser inaugurada em São Paulo, ficou de pensar, consultar a família e mais tarde dar uma resposta.
A expectativa de demanda alta não assustou os filhos, nessa altura já tinham vários pontos de coleta de matéria prima em diferentes cidades próximas e haviam acabado de construir um pequeno galpão para acomodá-la enquanto aguardava o abate. A mãe deslumbrou-se com a perspectiva de lucros, atrevendo-se a sonhar em um dia, quem sabe, ir morar na capital.
Ao invés de servir o hambúrguer em um de seus restaurantes, o amigo de Ângelo havia decidido abrir uma hamburgueria, aproveitar a moda afinal, e convidou Ângelo como sócio. O empreendimento prosperou rápido. Casa lotada a semana inteira e filas às sextas e sábados.
No cardápio, os mesmos quatro tipos de hambúrgueres que eram servidos no Faca de Prata. Os nomes vinham identificados nas embalagens entregues pelo fornecedor todos os dias, no começo da tarde.
Náusea
Alguma coisa obstruía sua garganta. O ar não chegava aos pulmões, também não conseguia gritar. Alcançou com a ponta dos dedos aquilo que a sufocava. Era macio, com o indicador e o médio em pinça conseguiu puxar uma parte. A massa úmida e lúbrica escorregou pela língua até os lábios, um sabor metálico, mas a sensação de asfixia continuava. Puxou a coisa na direção dos olhos. A aparência era de cabelo emaranhado grudado. O cheiro, de sangue passado.
Acordou tossindo para afastar a falta de ar, o coração acelerado. A impressão da coisa nojenta na boca persistia quando sentou na cama, mas entre os dedos não havia nada. Olhou o celular, ainda faltava meia hora para o despertador tocar.
“Será que foi o hambúrguer? ”, pensou. Uma náusea fez sua boca encher de água. Resolveu levantar.
Christiane era agente da polícia federal e aquele era seu dia de plantão na delegacia que distava cerca de cento e cinquenta quilômetros de sua casa. No caminho, teve que parar o carro duas vezes para vomitar. Fez algumas contas e concluiu que havia, sim, a possibilidade de estar grávida.
Acabou chegando bem atrasada ao posto de trabalho. Por conta disso, não participou da ação em uma fazenda próxima, resultado da investigação sigilosa de denúncias de trabalho escravo e irregularidades graves no abate de animais.
A operação durou o dia inteiro, mas nenhuma informação lhe chegou pelo celular ou pelo rádio. Só teve notícia do acontecido quando, muito abatido, o colega de plantão voltou. Tinha participado da operação e havia sido dispensado de passar a noite na delegacia, mas não se considerava em condições de dirigir de volta para casa.
Ouviu aterrada sobre o horror na fazenda. Homens, mulheres, adolescentes e crianças de todas as idades, inclusive bebês de colo, andrajosos e famintos, amontoados em um barracão de paredes úmidas, mais precário do que o curral onde ficavam as vacas e os bois recolhidos do pasto.
O colega descreveu em detalhes — olhos fixos, tristeza e asco em sua expressão conturbada— o estado do galpão onde funcionava o abate: os dois corpos humanos esquartejados, sangue, vísceras e ossos por todo lado. Uma bestialidade, sorte dela ter se atrasado.
Antes de mostrar as fotos do frigorífico, contou sobre os hambúrgueres que eram produzidos com a carne humana misturada à do gado. Inicialmente servidos apenas no restaurante da família, o Faca de Prata — um muquifo de beira de estrada que ela certamente já havia notado — há poucos meses haviam começado a fornecer para uma hamburgueria chique na zona oeste de São Paulo. Nas fotos, as peças de carne pendiam em ganchos, presas a etiquetas grosseiras. Numa delas, o nome bem nítido do hambúrguer -– Papa-figo — que ela havia escolhido no exótico cardápio do Angel Burguer, o restaurante descolado onde na véspera havia jantado.
Christiane tombou da cadeira sem sentidos, só iria acordar dois dias depois, em choque, em um hospital próximo à sua casa. Jamais explicou o motivo de seu desmaio, nem para o marido nem para os terapeutas que a acompanharam até que conseguisse voltar a comer, o que talvez só tenha acontecido porque no hospital confirmou-se a suspeita de que estava grávida.
Epílogo
O bebê de Christiane nasceu sem antecipação ou atraso. Estrábico e feio como a desgraça, arrancava sangue do peito da mãe toda vez que mamava. O que Christiane não sabia era que a mesma feiura e estrabismo, além da atitude faminta e agressiva ao mamar, era comum a outros bebês espalhados pela cidade e que um dia eles se encontrariam e formariam, para o bem e para o mal, uma espécie de irmandade.
Gostei muito. Não consegui parar de ler!
Parabéns, Elisa!
Realmente impactante!!!
Elisa do céu! Que conto horrível!! Me deu muita náusea, cruz credo!! Muito merecido o primeiro lugar, está muito bem escrito, ambientação perfeita, descrições impecáveis e esses subtítulos deixaram o conto ainda mais interessante e instigante! Parabéns!! Ótimo conto!
Volto já… Fui ali vomitar!
Ler isso depois de saber que um jovem resolveu matar uma adolescente só para saber como é matar alguém, quebra um pouco a ideia de terror.
Não que o Conto não seja enjoativamente de terror! É que a realidade anda a fingir que é ficção e isso é assustador…
O Conto trabalha com um Conflito ético exatamente no momento em que o conflito narrativo se apresenta: para esconder um crime (violência sexual e morte da mulher) os criminosos transformam seus restos mortais em hamburgueres. A hipocrisia e o consumismo alimentam esse conto sangrento. A invisibilidade dos miseráveis acabam propiciando o sucesso do empreendimento…
Em tempo…
O Sucesso do Empreendimento e do Conto.
Parabéns…
Tive que vir reler…
Irmãos estupram e matam uma mulher, cortando seu corpo em pedaços e misturando com carne bovina e criando hambúrgueres. A situação faz o bar prosperar, criando um abatedouro de pessoas, até a polícia descobrir.
Gostei muito do conto, que é bem escrito e utiliza da narrativa fragmentada pra melhorar os fatos e fazer com que o leitor vá montando o quebra cabeças. Apesar do gore e da comida a base de carne humana não ser um tanto clichê, o que me fez gostar mais da história são os desdobramentos e os questionamentos que podemos fazer a partir dela. Por exemplo, as recentes polêmicas envolvendo carne estragada e carnes com papelão. Um outro ponto também é o retrato da mulher e dos pobres e mendigos na sociedade. No caso da mulher e, aumentando também para as fêmeas de outros animais, fica a ideia de que só servem para procriar (como a vaca) e para os prazeres do homem (Como a cena de estupro). Os mendigos, que são invisíveis, a sarjeta da civilização, como a mulher cristã e dona do negócio deixa escapar. Levantando essas criticas para se fazer refletir. Muito bom.
Faca de Prata (Freddy)
Resumo: A bizarra história dos famosos hambúrgueres do faca de prata e sua relação com uma estranha família da fazenda.
Hoje, no dia 17/05, chove bastante aqui no Rio de Janeiro. Meus olhos pedem permissão para descansar a cada cinco minutos. O sono só perde para o tédio. Cada volta do ponteiro eu penso em 60 maneiras diferentes de me matar. Dito isto, posso dizer que esse conto conseguiu a proeza de me entreter. Os acertos superaram sobremaneira minhas anotações. O ritmo é veloz, tem cara de filme, suspense e choque andando de mãos dadas. Apesar de horripilante, a linguagem não é gore. Os personagens desenvolvidos de acordo com o que pede o conto. Minha atenção ficou destacada para os pais, cada um com suas características, que por raciocino natural tiveram influência nos filhos (que juro que seriam os três porquinhos em uma reviravolta). O papa-figo apesar de curto tem uma história de fundo interessante e, talvez, uma possível ligação com o final do conto.Lembrei-me da curiosa história do general butt naked da Líbia – um dos mais notórios canibais modernos, comia seus adversários – que após muitos anos, convertido ao cristianismo, sentiu o gosto de carne humana em um restaurante da Nigéria e denunciou a polícia local. Dias depois foi constatada a procedência da carne humana. Por essas e por outras prefiro não comer carne nenhuma. O epílogo é muito interessante pq serve de prólogo para uma nova história de terror. Clássico nos grandes tipo do gênero.
Curti muito: O estilo é muito bom. A linguagem direta e fluída serviram muito bem ao conto. A divisão deu agilidade, a estratégia ir revelando aos poucos contribuíram para o suspense. Ou seja, mesmo desconfiando para onde iria, ainda anão sabia como chegaria. O nome dos pratos tem o humor nonsense que também combina muito bem.
Não curti muito: Os diálogos poderiam ser melhor explorados. No geral, ficaram crus sem conferir características para os personagens, traços da personalidade ou ganhos significativos para história. Nesse quesito, creio que poderia ter algumas tiradas de humor, ou mais sombrias. Pesno que como a história tem todo o jeitão de roteiro, até mesmo com as marcações, os diálogos poderiam ser melhor aproveitados pelos personagens.
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RESUMO
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Irmãos matam uma funcionária e fazem hamburguer com a carne. O prato faz sucesso e uma onda de crime, canibalismo e masterchef é iniciada.
Os negócios se espandem, até a polícia acabar com a festa.
No epílogo, é revelado que as crianças nascidas das mães canibais acabariam criando uma irmandade (de onde não vai sair nada muito bom, imagino).
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ANOTAÇÕES AUXILIARES
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– Família comendo hamburguer… não é infantil (ou temos a pior escolha de imagem ilustrativa ever), então deve ter algo errado com essa carne que tanto elogiam. O algo errado deve ter algo relacionado a canibalismo involuntário…
– Bem rosadinho, suculento (lembrei de uma piada que não vou contar aqui porque pessoas podem se ofender devido ao estereótipo regional, mas terminava com um “bah, mas quem não gosta?”)
– Explicações sobre os tipos de hamburguer e a origem
– era canibalismo
– mataram a funcionária, fizeram hamburguer e meteram no self self
– a carne fez sucesso, mas acabou. Foram procurar mais e acabaram descobrindo várias combinações (tipo um Masterchef diabólico).
– abriram tipo uma franquia (capetalismo selvagem, agora só falta os irmãos canibais virarem coachs…)
– a moça lá do começo é policial e percebe que comeu carne humana e que está grávida
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TÉCNICA
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Ótima. Narativa fluida, descrições muito boas (a descrição do sonho de Christiane foi sensacional), condução sem entraves.
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TRAMA
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O plot do canibalismo involuntário não é novidade desde a clássica história da sopa de gaivotas.
Mas, o mais importante é desenvolver algo interessante é bem contado em cima dos clichês (porque, no frigir dos ovos, meio que tudo agora é clichê). E ocorreu aqui.
Claro, analisando com a lupa, podemos levantar questões do tipo: “como os caras matam tanta gente, o suficiente para ser fornecedor de uma lanchonete badalada, e tipo… ninguém se dá conta”. A logística seria bem difícil (penso eu…).
Pra mim, aquele epílogo ali destoou. Muito.
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SALDO FINAL
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Conto muito bom que se estendeu um parágrafo além da conta.
NOTA: 4
Aviso prévio: Todas as notas refletem única e exclusivamente minha opinião enquanto leitor. Não entendo nada de teoria literária. E não é que seu texto seja esta nota. Apenas para os critérios que decidi levar em conta neste desafio foi assim. Se avaliasse outros aspectos, a nota poderia ser diferente. E qualquer sugestão que faço sobre a narrativa não é algo como “ficaria melhor assim”. É só um brainstorm para ajudar em uma possível reformulação, se o autor tiver interesse em reformular, ou em brincar com o texto depois.
A menor nota por critério é zero.
Resumo: Em uma velha fazenda, produtores de carne descobrem um novo ingrediente que é irresistível para os clientes: humanos. Passam a abastecer uma hamburgueria bem sucedida em São Paulo sendo, algum tempo depois, descobertos pela Polícia Federal. O epílogo indica consequências futuras sobre as crianças que nasceram daqueles que se alimentaram da carne.
1) Protagonista/Herói: Não há… Christiane? 0,5 de 2
Ao longo da história não encontramos um personagem central à trama. Poderíamos, talvez, indicar os irmãos como protagonistas, mas eles desenvolvem melhor o papel de vilão. Temos, também, vítimas, mas dificilmente podemos enquadrá-las como protagonistas.
Sei que, a princípio, essa parece uma crítica marmota, mas é difícil encontrar um texto que funcione sem um herói/protagonista (no momento, não me recordo de nenhum). Diante de todos os acontecimentos na narrativa, não temos ninguém para torcer ou se preocupar. As vítimas ocupam um espaço muito pequeno na narrativa, o que dificulta defini-las neste o papel.
O mais próximo que temos disso talvez seja Christiane, mas pouco acompanhamos dela no mundo. Enfim, a falta de um protagonista dificultou minha imersão na história, acho um movimento ousado e, acredito, deva ser evitado.
2) Antagonista/vilão: Os irmãos. –nota: 1,2 de 2
Um pouco estranha a ideia de antagonistas sem protagonista, mas os irmãos ocupam claramente o papel de vilões na narrativa. Contudo, não sabemos muito sobre eles. Em alguns momentos parecem um tanto idiotas, em outros demonstram alguma inteligência. É possível que isso ocorra pela diferença entre cada um deles.
Fato é que os irmãos fazem a narrativa andar, aumentando o número de suas vítimas e a influência da Faca de Prata.
3) Mudança de valor: –nota 1 de 3
Chamo de mudança de valor a sensação de transformação na história, que leva a uma ideia de desenvolvimento e à tensão na trama. Quando há boas mudanças de narrativa, temos esperanças e nos sentimos aliviados quando as coisas melhoram para os personagens, ao passo que nos desesperamos e ficamos com medo quando as coisas pioram.
Acredito que as mudanças de valor não são muito efetivas aqui porque não acompanhamos nenhum personagem que nos traga empatia. E, que fique claro, não estou dizendo que o autor não conseguiu desenvolver empatia, apenas parece que esse não foi o plano de sua narrativa.
4) O que o texto pretendia/ o que o texto –nota 2,5 de 3
Aqui acho que o texto se saiu muito bem, por mais contraditório que pareça.
Minha interpretação é de que a narrativa se aproxima mais de uma mitologia do que de uma história em si. Assim, se preocupa mais em estabelecer uma realidade do mundo criado do que em demonstrar uma história em movimento, expondo os alicerces nos quais uma narrativa futura (essa sim, provavelmente, com movimento) se fundará.
Síntese: Um texto bem escrito que estabelece com competência alicerces para uma história maior.
Nota final: 2,7
Leandro…
Personagens podem ser coletivos. E o povo da fazenda, filhos/bandidos/criminosos são o núcleo principal da ação, portanto, personagem coletivo.
Fui ali cuidar da minha vida sem você mandar…
Kkkkkk
Imagina, Elisabeth. Acho esse tipo de aprendizado muito importante. Quem sofre é o autor pela minha ignorância hahaha
Se quiser aprofundar a explicação e tiver paciência pode me mandar inbox no face também.
Com alguns textos acabei pesquisando sobre personagens ocuparem ao mesmo tempo o papel de protagonistas e antagonistas e acabei em um buraco de coelho, mas foi uma viagem bem bacana.
Abraços
Resumo: Faca de Prata é um restaurante de beira de estrada que se torna famoso pelos hambúrgueres que serve, e que recebe uma oferta de um grande restaurante da cidade. Os seus hambúrgueres são preparados com carne humana, a começar pelo assassinato após estupro de uma funcionária pelos irmãos donos do estabelecimento. Sem saber o que fazer com o corpo, misturam e guardam para servir. O sabor faz sucesso e aos poucos eles precisam conseguir mais e mais insumos, cometendo uma série de assassinatos e até mesmo montando uma fazenda de criação de carne humana. Passaram a fornecer para o restaurante da capital, até que a polícia descobriu. A policial que havia comido um hambúrguer estava grávida e a carne afetou seu filho (?).
Premissa: Horror e assassínios em série.
Técnica: a história é bem conduzida, com intermeios da negociação durante a narrativa linear. A escalada do restaurante e do horror segue num crescendo, mas parece suspensa pelo final convencional.
Voz Narrativa: a voz narrativa é neutra, bem colocada e segura. Somente no trecho final, parece acelerar demais e deixa um gosto (com trocadilho) um pouco mal passado.
O que entendi: Uma família de estupradores, para dar sumiço no corpo da primeira vítima, transformam a carne humana em apetitosos hambúrgueres, vendidos no restaurante da família. O troço faz sucesso e os pequenos empreendedores viram assassinos em série para atender a demanda crescente. A polícia descobre e, aparentemente, eles se ferram. Mas quem se ferra mais são as gravidas que comem os sanduiches, pois os filhos nascem com as características dos defuntos moídos.
Técnica: Gostei da separação por capítulos, os títulos despertam curiosidades e o (a) autor (a) soube dar personalidade aos principais personagens: os hambúrgueres. Além de despertar o asco no leitor; o que é muito bom.
Criatividade: A premissa é antiga, mas a caracterização dos sanduiches deu vida ao conto.
Impacto: Poderia ser melhor. Gostei da virada no final, mas a execução não. O fim ficou pouco trabalhado ou apressado.
Destaque: “Misturar a carne da mulher com alguma peça de segunda do último novilho abatido e processá-las juntas no moedor industrial que haviam acabado de comprar.” – Nunca mais comerei um hambúrguer sem me lembrar dessa cena.
Sugestão: Dar mais atenção ao último parágrafo, já que a ideia dos bebês papa-figo é ótima.
Resumo: três irmãos estupram uma moça que trabalha na fazenda deles; a moça morre; sem saber o que fazer com ela, eles a transformam em carne de hambúrguer e decidem vendê-la na hamburgueria de beira de estrada; a receita é um sucesso, fazendo com que eles a adotem em definitivo, maximizando os lucros; a família aceita e incentiva a prática; um sujeito da capital decide abrir uma hamburgueria também, comprando carne dos fornecedores de carne humana (claro, sem sabê-lo); a polícia descobre tudo – sendo que uma das policiais havia ingerido a carne um dia antes; o filho dela, bem como o de outras mulheres que comeram os hambúrgueres de gente, nascem com as feições de um dos meninos que foi usado como matéria prima.
Impressões: é um conto bem escrito no geral (há alguns erros de digitação, mas passam batido), bem construído e bem arquitetado. A narrativa alterna se inicia com um prólogo que lança perguntas; depois nos passa como o hambúrguer do Faca de Prata se tornou famoso; no fim, voltamos ao prólogo, fechando o arco. Como conto de terror-clichê que é, não há muito espaço para que o leitor crie identidade com os personagens; tampouco há intenção de construir embates psicológicos ou explicar a loucura dos envolvidos; trata-se de psicopatas e ponto. Bom para quem aprecia narrativas prontas, que não exigem esforço interpretativo, que se constituem no entretenimento pelo entretenimento. Não é exatamente o tipo de experiência que me atrai, mas devo admitir que o conto funciona naquilo que se propõe. Também não curto muito essa ideia de divisão em capítulos, com subtítulos, mas respeito a opção do autor. Achei o início um tanto truncado, eis que há uma confusão com os nomes e com as pessoas que praticam as ações descritas: Cris, Christiane, Cristiano… Ficou estranho. Mas, no desenvolvimento a situação se aclara, tornando a leitura fácil e fluida, o que não é pouco. Enfim, um bom conto, ainda que com pontos a acertar. Parabéns e boa sorte no desafio.
Três irmãos matam uma das trabalhadoras da fazenda do pai e, para livrar-se das provas do crime, misturam a carne da mulher à carne servida no restaurante familiar. A carne faz sucesso, o restaurante cresce e, com o tempo, começa a exportar a carne de humanos misturada à carne de vaca. A matança de moradores de rua vira negócio industrial, até a polícia descobrir tudo. No final, as mulheres que comeram da carne passam a dar a luz a filhos deformados e com uma ligação única entre eles.
Olha… isso sim é saber escrever história de terror. Está certo que a história não assim tão original (afinal, ela tem MUITO de Sweeney Todd), mas a ambientação, as imagens projetadas, as descrições… tudo é muito bem feito. Você escreve BEM DEMAIS. Tirando a dificuldade que eu tive, no início, de identificar quem falava o quê em cada diálogo, o conto é o melhor escrito que já vi na série B.
Não importando a falta de originalidade e alguns problemas da técnica, seu conto receberá nota alta. Li tudo do início ao fim sempre querendo ler mais, senti asco quando deveria ter sentido, e senti-me dentro da história. Você conduz o leitor bem. Parabéns!!
Faca de Prata – Freddy
O início é o que cativa. O meio é o que sustenta. O final é o que surpreende. O título é o que resume. O estilo é o que ilumina. O tema é o que guia. E com esses elementos, junto com meu ego, analiso esse texto, humildemente. Não sou dono da verdade, apenas um leitor. Posso causar dor, posso causar alegria, como todo ser humano.
– Resumo: O restaurante Faca de Prata é um tremendo sucesso por causa de seus hambúrgueres. Acompanhamos, então, os segredos por detrás de suas receitas de sucesso. Sadismo na fazenda, corações partidos com mentiras e indiferença em relação ao sofrimento alheio apenas para manter seus luxos. E, no final de tudo, o nascimento de crianças perversas.
– Início: Mediano. O começo apresentou uma narrativa concisa e boa. Natural. O peso da introdução, infelizmente, não é dos melhores, não cativa e explana, de certa forma, a premissa do conto.
– Meio: Excelente. O autor manteve o nível, mas melhorou na execução da ideia. Sem grandes delongas, revela exatamente aquilo que queremos saber. A divisão de capítulos ficou perfeita.
– Final: Razoável. Admito: criei um pouco de expectativa. Mas o final foi muito simples e meio sem noção. Esperei uma explicação para a carne ficar tão gostosa, mas não houve. Apenas o toque da carne humana não convence, sabe? Qual é o tempero especial? Além disso, a sequência final, revelando crianças malignas, ficou completamente tosco e incoerente com a realidade do texto, haha. Não houve a menção de nada sobrenatural até aquele ponto.
– Título: Bom. Coerente com o texto, sendo o restaurante o ponto central do enredo. Títulos dessa natureza servem como coringa, ou seja, sempre funcionam. Mas são preguiçosos, hahaha.
– Estilo: Talento. A narrativa, a forma que o texto é organizado, a execução da premissa… Tudo indica que o autor sabe escrever e possui talento na área. Encontrei alguns erros de digitação, o que indica que ele, de fato, precisa prestar atenção na lapidação do texto. Se o fizer, pode acabar criando contos maravilhosos.
– Tema: Adequado. É um terror bem básico. Está presente no fundo do enredo, na situação, etc. O autor apenas decidiu, ou não conseguiu, criar um clima de terror. Isso enfraquece o conto, que sequer ficamos muito chocados com o que está acontecendo, mas entretêm.
– Conceito: Ouro.
Olá Freddy; tudo bem?
O seu conto é o décimo trabalho que eu estou lendo e avaliando.
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O QUE ACHEI DO SEU TEXTO
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Gostei da sua história carnívora! Confesso que, no início, antes de saber por onde o conto iria enveredar, eu fiquei até com fome! Rs!
Me fartei (sem duplo sentido) lendo as descrições dos hambúrgueres no começo do texto, mas depois fiquei até com nojo!
Achei o trabalho bem escrito, bem planejado e bem executado (agora com duplo sentido). Não percebi nenhum erro de ortografia ou sintaxe que atrapalhasse o decorrer da leitura.
Gostei do final (inesperado), que trouxe um “tempero” extra para a história.
É isso! Parabéns pelo trabalho! E boa sorte no Desafio! 🙂
Bem, pra finalizar… As regras do Certame exigem que eu faça um resuminho do trabalho avaliado, para comprovar minha leitura. Então vamos lá:
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RESUMO DA HISTÓRIA
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Inicialmente sem qualquer pretensão comercial, três irmãos “descobrem” um jeito bem inusitado de multiplicar os rendimentos da família, que atua no ramo de carnes e, também sem qualquer pretensão, no da genética humana… 😉
🗒 Resumo: três filhos de fazendeiro e dono de abatedouro, depois de violentar e matar uma funcionária humilde, resolvem fazer hambúrguer da carne da coitada. O negócio acaba dando certo e muitos clientes começam a curtir o novo “blend”. Ao fim são presos, mas alguns filhos dos canibais involuntários acabam nascendo deformados.
📜 Trama (⭐⭐▫▫▫): a história por trás da trama é bastante interessante, mas a forma que o autor resolveu contá-la acabou prejudicando-a bastante. A opção por usar pequenos recortes de cenas e tantos personagens só funciona em histórias bem grandes, quando o leitor tem tempo para assimilar cada passagem e personagem com cautela. Da forma como este conto foi estruturado, não deu para se apegar a nenhum personagem: nem sentir muita pena dos mortos nem tanto ódio dos jovens cruéis (que nem tinham nome). Claro que deu pena e raiva, mas à distância, como se fosse uma história que eu ouvi de alguém.
Esta história funcionaria muito bem se escolhesse um ou dois personagens e focasse a narrativa neles ao invés de contar tantas histórias sem entrar de fato em nenhuma delas.
Outro ponto importante de citar é que, mesmo nessas sub histórias, o autor entregou os acontecimentos antes (antes de conhecermos a Rapunzel, já sabíamos que ela morreria) ou pela boca de outro personagem (foi muito frustrante no fim a Cristiane saber da operação depois dela ocorrer). O ideal é os leitores irem recebendo as informações e percebendo as coisas junto com os personagens principais. Se ela era uma investigadora, ela que devia descobrir tudo e, ao invés de explicar tudo antes, ela poderia ir descobrindo através de pistas e testemunhas. Esse era um conto que funcionaria muito bem nesse formato policial.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): o autor tem uma técnica boa para descrever cenas e situações, mas precisa trabalhar melhor a marcação e pontuação do diálogo. O inicial não ficou bem marcado quem falava o quê. Em alguns, há muita informação. Diálogos expositivos ficam parecendo novela, qdo um personagem diz alguma informação para o telespetador (ou leitor), mas que não diria numa conversa normal. Num texto, o ideal nesse caso é usar o narrador.
▪ De repente *vírgula* começaram a servir
▪ era *a* (sobrando) o que prometia o texto do cardápio
▪ Aos demais empregados *vírgula* diriam qualquer coisa
▪ Porque a carne de Rapunzel minguava *vírgula* e tendo notado que o tom amarelado da gordura entremeada em suas partes mais nobres se assemelhava ao das carnes das vacas mais velhas *vírgula* os irmãos resolveram abater uma velha vaca (aliás essa frase está com muita informação e grande demais, seria bom quebrar ela em duas)
Sobre pontuação no diálogo, escrevi um artigo explicando a regra mais comum: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279
🎯 Tema (⭐▫): acredito que o autor tenha enviado o texto para o tema de terror. Isso ficou óbvio, pelas mortes e gore. Mas, para ser uma obra de terror, faltou um elemento mais importante que morte ou sangue: medo. Como o autor preferiu contar à distância, sem descrever com cuidado as cenas e as tensões dela, o medo foi nulo.
💡 Criatividade (⭐⭐▫): não chega a ser um mote totalmente novo, mas também não dá pra dizer que é clichê.
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): a distância da narrativa, a forma como tudo ficou tão distante, além de prejudicar a trama e o tema, prejudicou ainda mais forte o impacto do texto. Se o conto tivesse pelo uma cena descrevendo o desespero de um personagem que nos fosse importante perante essa loucura que é fazer hambúrgueres com carne humana, se torcéssemos por ele e, mesmo que ele morresse, sentíssemos sua perda, impacto seria bem maior.
Enfim, esse conto tem um bom mote que, se for melhor trabalhado, pode gerar um ótimo conto.
Resumo: Faca de Prata (Freddy)
Um conto muito interessante, talvez longo, mas bem construído. Trata-se de um negócio de família, uma família que mata pessoas e faz hambúrgueres com a carne, isso se deu pois os filhos do dono ao beberem demais e estuprarem uma das funcionárias, a mesma não resistiu e morreu, para dar fim trituraram a carne e fizeram hambúrguer dela. Não esperavam que viraria um sucesso, e virou, com isso a matança continuou e o negócio da família cresceu. No final uma policial federal ao comer em um restaurante onde havia um hambúrguer, após isso, passou mal em casa, descobriu mais para frente estar grávida, mas a pior descoberta foi que a origem da carne, ao chegar na delegacia e descobrir que a verdade havia sido revelada e ela comera carne humana.
Para mim o conto é muito bom, entretanto achei desnecessário o final, a questão da sociedade, seita, etc… Para mim o terror estava mais bem consolidado sem isso, no mais é um conto muito bom!
Avaliação: (Para os contos da Série A-B não considerarei o título, as notas serão divididas por 5 para encontrarmos a média. Porém teremos uma ordem de peso para avaliação caso tenha empates… Categoria/ Enredo / Narrativa / Personagens / Gramática.
Terror: de 1 a 5 – 5,0 (Um bom terror)
Gramática – de 1 a 5 – Nota 5,0 (Ótima)
Narrativa – de 1 a 5 – Nota 5,0 (Boa narrativa, e a forma como resolveu narrar foi interessante.)
Enredo – de 1 a 5 – Nota: 4 (É um pouco clichê essa história de restaurante de carne humana)
Personagens – de 1 a 5 – Nota 3,5 (Muitos personagens, não vi necessidade de inserir a mãe e o pai também ficou sem personalidade na história)
Total: 22,5 / 5 = 4,5
Faca de Prata (Freddy)
Resumo:
Três irmãos mataram uma funcionária, após estupro. Para que o pai não descobrisse, esquartejaram e moeram o corpo. Como trabalhavam com a fabricação de hambúrgueres, misturou a carne humana à carne animal. A qualidade da mistura despertou o interesse da clientela, e as mortes de “sem-teto” passaram a ser constantes. A empresa passou a fornecer hambúrgueres para outra empresa. A marca virou um sucesso. Até que foram descobertos pela PF. Christiane era uma funcionária da PF, estava com náuseas, e depois de conhecer a verdade, ficou ainda pior em razão de ter comido a carne em uma lanchonete da cidade. Descobriu que estava grávida e a criança, quando nasceu, era tão assustadora quanto Papa-figo, moleque que também foi picado, moído e misturado às carnes..
“O Papa-figo – Estava na fazenda desde que os meninos eram pequenos. Um molecote nessa época, mas já forte para a idade, muito servil, vesgo e feio como a desgraça.”
E outros bebês passaram a nascer com as mesmas características e com os mesmos comportamentos assustadores. Na cidade, nasceram aos punhados formando uma estranha Irmandade.
Comentário:
Conto de terror muito bem escrito, bem estruturado. Há uma coesão de descrições que prende a atenção. Não foi leitura prazerosa, mas foi fluente, conexa, sem qualquer embaraço. Epílogo interessante, criativo. Belo título. O autor apresentou uma condizente ilustração de Goya, e o pseudônimo não poderia ser outro. Misericórdia… No início do texto, acredito que o erro na grafia deve ser lapso de digitação. A narrativa obedece ao tema proposto. Um bom conto.
Parabéns, Freddy! Misericórdia…
Boa sorte no desafio.
Abraços…
RESUMO: A história é sobre um negócio familiar baseado no abatimento sistemático de diferentes tipos de pessoas com o propósito de suprir um original e grotesco cardápio de um restaurante. Pela leitura ficamos sabendo do histórico de cada peça do cardápio e, por consequência, um pouco sobre vítimas específicas da família, da desafortunada e desabrigada Rapunzel, estuprada à morte e então comercializada e, depois, do Papa-Figo, já conhecido da família e com o mesmo final. Eventualmente, os negócios se ampliam quando passam a fornecer para uma rede de restaurantes em São Paulo. Christiane, uma policial federal e infeliz consumidora de um dos hambúrgueres, engravida, para ter uma criança do mesmo perfil do falecido Papa-Figo, as últimas palavras sinalizando que outras crianças do seu tipo teriam nascido. E que se encontrariam.
COMENTÁRIO: Este é um conto interessante, principalmente pela sua agilidade, que nos coloca em múltiplas perspectivas ao mesmo tempo em que nos situa na assombrosa história do restaurante. Tamanha a velocidade da narrativa, ficou mais fácil de surpreender o leitor, como na rápida transição que temos para a expansão dos negócios de Ângelo ao estupro de Rapunzel vindo como um choque, algo ainda mais facilitado quando as duas primeiras seções do conto foram diálogos desconexos. A leitura começa dispersa e é nessa terceira seção que somos trazidos com força ao grotesco que domina todo o conto.
O enredo se faz ainda mais contundente na medida que a escrita ligeira e por vezes técnica permanece ao tratar do sistematizado comércio de carne humana. A dinâmica comercial aplicada a seres humanos faz da situação uma crescente e terrível chacina, encerrada na loucura dos filhos, na fraqueza do pai e na frieza sociopata da mãe. Com a situação alcançando a capital, voltamos à Christiane, por meio da qual tudo vem à tona. Aqui, cabe uma crítica. O conto, já rápido a todo momento, soou apressado nesse final, com a introdução de Christiane em nada desenvolvendo a personagem, só a incluindo à mercê da narrativa. Ao mesmo tempo, nenhum outro personagem foi desenvolvido e, em reflexão, percebo que isto não prejudicou o conto e que este aqui é o exemplo de uma história em que os personagens são mais acessórios, de fato.
Dessa maneira, também refleti um pouco sobre a opção narrativa que tomou com a “irmandade”. Em primeiro lugar, torci o nariz, pois pensei que era uma extensão impertinente da história, ficava como algo solto e inconcluso. No entanto, pensando sobre, para além de atribuir um significado à gravidez de Christiane (que, inclusive, nos foi informada com a já característica agilidade do conto), faz do caso horrendo algo contínuo. Perversamente inconcluso e imprevisível. Dá mais gravidade ao Faca de Pata. Sendo assim, o conto se encerrou muito bem. Parabéns.
Olá, EntreContista,
Tudo bem?
Resumo:
Para melhorar o negócio da família, uma churrascaria, dois irmãos, após um “acidente”, começam a comercializar exóticos hamburgers de carne humana. O sucesso faz com que as “delícias” se espalhem.
Meu ponto de vista:
O paladar é um dos sentidos mais sensíveis do ser-humano. Questões alimentares passam não só por sabor e pela obvia questão de sobrevivência, mas, também, por cultura, e isto desde a mais tenra infância. Talvez por isso, o conto consiga tocar o leitor, de forma bem impactante, em algum lugar de nossos cérebros, que nos faz arrepiar e ter ojeriza.
A simples menção ao canibalismo, é por si só algo forte, ao misturar, entretanto toda a questão do estudo da carne, sua conservação, modo como a matéria prima era tratada e processada, tudo com detalhes, o texto ganha ares de filme, um daqueles bem terríveis, do tipo B ou uns bem cult, que passam de madrugada…
O trabalho é muito bem construído e claramente pensado, com uma estrutura dividida em capítulos e com aquela pegadinha final, típica do gênero: “Continua…” rsrsrrs
Parabéns!
Beijos
Paula Giannini
Olá, Freddy.
Resumo da história: três irmãos mantinham um restaurante de beira de estrada, o Faca de Prata, que começou a fazer sucesso como hamburgueria e a vender seus fabulosos hambúrgueres para uma lanchonete gourmet tbm, começando, talvez, uma franquia. O que os clientes não sabiam era que humanos de tipos diferentes eram parte da matéria prima das linhas Rapunzel, Três porquinhos e Peter Pan. A detetive Cristiane, que já havia frequentado o restaurante, descobre a razão dos sabores fantásticos, e, talvez, tenha dado a luz a uma criança malévola e horrenda, em função do consumo de carne humana durante a gravidez.
Prós: é uma boa história de horror, bem escrita e com certo cinismo que alivia o gore de tudo que envolve canibalismo. A narração não linear deu certo ar de mistério ao conto. O uso de carne bovina misturada à humana deu certo ar de real ao texto, visto que provavelmente se fosse humano 100% os consumidores estranhariam.
Contras: o final é um tanto fraco, foge um pouco da pegada realista do restante do texto, sugere algo a la Lamarck, ao invés de Darwin, por exemplo. A fácil aceitação do pai e da mãe do uso de gente como matéria-prima foi um tanto surreal. É certo que não eram boas pessoas, visto as condições de trabalho dos empregados, mas pareceu-me um tanto conveniente demais para o andamento da trama.
(É provável que os clientes ficassem doentes, visto que hambúrgueres costumam ser servidos com diferentes pontos de cozimento. Os mal passados poderiam transmitir uma série de doenças).
Boa sorte no desafio!
FACA DE PRATA- é a história de uma família, proprietária de um abatedouro, que mata moradores de rua e mistura a carne com a carne de gado para fazer hambúrgueres. Um dia a polícia descobre e todos são presos. As mulheres grávidas que comeram carne humana, deram à luz criaturas semi-humanas, misto de humano e animal.
Gostei do conto, está bem escrito, tem um bom enredo. A estrutura com períodos temporais mesclados ficou interessante. Frases naturais e lógicas. Como o tema é infantil ou terror, já no início, deu para perceber que era terror e que os personagens estavam comendo carne humana. Porém, o resto da narrativa foi se tornando mais surpreendente e o final foi fechado com uma revelação aterradora. Ficou legal também, a explicação de como tudo começou. Perfeito.
Os irmãos, açougueiros, resolvem estuprar uma empregada pobre, que nem ganhava salários. Ao final do terceiro estuprador ela não resistiu e morreu. Eles produziam hambúrgueres para uma hamburgueria de estrada da família. Resolveram desossar a pobre morta e misturar a sua carne a da vaca. Foi um sucesso. As vendas aumentaram e eles partiram em busca de gente pobre e deserdada para serem sacrificadas. Assim, criaram um menu altamente criativo. A demanda cresceu e eles passaram a fornecedores de uma hamburgueria de ricos em São Paulo. No final já tinham até um galpão para guardar as futuras vítimas, homens, mulheres e até mesmo crianças. Foi por essa época que a polícia descobriu os horrores do lugar. Uma policial, que havia comido daquela carne humana e passava mal descobriu-se grávida. A criança nasceu, feia e zarolha. Ao mamar arrancava sangue e o autor nos conta que, no futuro, ele faria parte de uma confraria… Você sabe contar uma história de terror. Nesse caso, achei até meio pesado demais, eis que essa história de sangue humano me é chocante, mas não tem dúvidas de que o relato está muito bem feito. Um enredo linear e do qual o leitor vai tomando conhecimento de tudo na medida em que as coisas acontecem. Claro que se torna previsível, até pelo crescimento dos abates, de que aquilo não iria perdurar. Mas considerei interessante o enredo. Carne humana para fazer hambúrguer de sucesso. Meu Deus, bota criatividade nisto. O conto está bem narrado e você faz uso, com sucesso, das palavras e dos recursos que a nossa língua nos oferece. Um conto forte, uma história bem brutal, louca e absurda mesmo. Bestial. E, conto-lhe, que o que mais me chocou foi a mãe entrar no jogo dos assassinatos brutais fazendo uso do argumento financeiro. Bem, é isto, um belo de um conto hard de terror. Meu abraço fraterno, Fernando.
Chocante!
Não quero nem saber de Hambúrguer
Parabéns pelo conto
Resumo:
[Terror carniceiro com viés de Auschwitz gastronômico]
Família de comerciantes resolve servir hambúrgueres a partir de carne humana. Fazem a festa matando um monte de gente desvalida pela cidade, depois é pega e entra pelo cano. As mulheres que comeram aquela carne acabam tendo filhos tipo Papa-Figo, estrábicos e famintos, que formaram uma irmandade não se sabe pra que fim, que certamente não seria para nada muito legal.
Comentários:
Caro Freddy,
Uma família de famigerados. Cinco: pai, mãe e três filhos topam matar pessoas para que os negócios prosperem. Fazem hambúrgueres dos desvalidos da cidade e vendem a caminhoneiros, e quando o negócio vai bem, resolvem expandir as vendas.
O tema não é novo e isso não é mal. O problema de se tratar de temas varias vezes visitado é cair na semelhança de outros. O barato é dar uma virada, apresentando algo de efetivamente novo. Isso não aconteceu no conto, que seguiu o roteiro do parágrafo anterior.
Isso é mal? Um pouco, mais não de todo, dado que se pode conseguir bons resultados com a fórmula já tanto trabalhada.
Acredito que o conto trilhou uma espécie de caminho paralelo ao terror, ao horror, quando optou por transferir ao leitor um senso extremo de desconforto com o que lia. Comer carne humana a partir de uma mulher que foi estuprada por garotos mal-amados.
Não vi terror, mas nojo. Dos garotos, dos pais, de quem, de alguma forma, apoiou o que ocorria na fazenda da família dos tais endiabrados.
Não tenho problema com o nojo transmitido, mas esperava o terror, que não vi chegar ao leitor, ficando por conta dos que morreram e, justo isso, a morte deles, a perseguição, o medo que eles sentiram quando viram outros corpos pendurados em ganchos de açougueiros, ou ao ser estuprada (no caso da mulher), ou simplesmente mortos, não aconteceu, ficou submerso nas entrelinhas da narrativa. Eu sei que foram mortos, mas, justo isso, me pareceu ascético na leitura. O terror, à rigor, decorre do medo maior, que a perda da vida, e justo aqueles que a perderam não sentiram nada sob a visão do leitor, porque nada sobre isso foi relatado. As facadas, os ganchos, o esfolamento vivo e tal. Isso não me chegou.
Há boas passagens, quando o autor associa o nome dos hambúrgueres ao conteúdo deles, como Três Porquinhos, Rapunzel e tal. Uma parte de humor sempre cai bem.
É isso, o conto está legal, com poucos problemas construtivos e tal. Se posso recomendar algo, diria que, em um conto tão curto como esse, os flashbacks se tornam extremamente perigosos, pois exige do leitor um enrola-desenrola que não ajuda muito à compreensão.
Cito a seguir duas citações do prof. Assis Brasil, em Escrever Ficção, acerca dos flashbacks:
1- “O real interesse do leitor sempre será pela história atual, e não pelo flashback. O leitor irá fazer o grande obséquio de ler essas remissões ao passado e, por isso, temos de agir com sentido de economia.”
2- “Não esqueça de que flashback interrompe a história, o que é sempre aborrecido, especialmente se a narrativa corre bem; por isso, ele deve merecer a mesma atenção que você dedica à história atual.”
Em resumo, flashbacks são perigosos onde a linearidade da narrativa pode fluir sem problemas.
Como observação final, lembro que tem um tal Cristiano que surge e não se ouve mais falar dele, embora haja uma Cris – Christiane. Seria o mesmo? Não soube dizer.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.