EntreContos

Detox Literário.

A Viagem do Rei (Antonio Stegues Batista)

Sentado no banco do jardim, ele observava algumas pombas num telhado distante. Pensava que suas lembranças eram agora como aquelas pombas que voavam para longe. Como aquelas do poeta Raimundo Correia; ”. Vai-se a primeira pomba. Vai-se outra…e mais outra…enfim dezenas.”

E como diria Augusto dos Anjos; fica um vazio, um deserto onde a larva do esquecimento rasteja pelos apodrecidos meandros da mente. Os nervos e músculos dos membros, outrora rijos e fortes, permanecem desolados, fracos e covardes. E a inspiração? Ah! A inspiração é como a chuva na longa estiagem, tudo fica seco e morto.

Bateu no peito para despertar a vida e o que ouviu foi o som cavo de uma casca vazia. Restava apenas a sombra do rei que ele foi.

 

-X-

– Arranjei um lugar para deixar o pai – disse Heitor, vestindo-se para ir para o trabalho. Heloisa ajeitou a gravata do marido.

– Quem sabe contratamos alguém para cuidar dele aqui em casa? Não me agrada a ideia de vê-lo num asilo.

– Também não gosto, mas não tem outro jeito. Passamos o dia todo fora, Clarisse no colégio. Papai não tem mais condições de ficar sozinho. No asilo ele será bem tratado. Nos fins de semana o buscamos para passear.

– Já falou com ele? Ele aceitou?

– Sim. Reconheceu que já não pode mais tomar certas decisões.

– Você acha que teu pai está com Alzheimer?

– Acho que sim. Suas constantes crises de apatia, confusão mental e esquecimentos são sintomas da doença.

– Clarisse não vai querer ficar longe do avô!

– Ela se acostuma.

 

-X-

Naquela manhã, Rolf pegou o caniço, as iscas e saiu para pescar. Atravessou a praça no centro da clareira rodeada pelas árvores gigantes, as sequoias onde os gnomos moravam. Passando na frente da ferraria de Pirlo, parou para conversar com ele.

– Meu amigo, preciso de uma faca nova. A que eu tinha perdi no rio.

– Tenha mais cuidado, Rolf! Você é muito descuidado. Farei sim. Venha pegar amanhã.

Rolf agradeceu e seguiu caminho. A mulher de Fredo, o padeiro, estava estendendo roupa no varal, gritou para ele;

– Rolf! Traga um peixe para nós. Dos grandes!

– Com certeza, dona Mirza.

Minutos depois, Rolf chegou ao rio. Ao se aproximar da margem, ouviu um crepitar como se a mata estivesse pegando fogo. Ficou espantado ao ver que as folhagens, pedras e árvores e o próprio solo do outro lado do rio estavam desaparecendo. Uma energia negativa avançava destruindo tudo que havia em seu caminho. O gnomo estremeceu, deu meia volta e saiu correndo.

 

-X-

O rei sentia-se sonolento com o balançar da carruagem. Procurou manter-se alerta para enfrentar qualquer imprevisto. Havia aceitado a sugestão do príncipe herdeiro, para procurar abrigo nas Terras Altas. Com o exército enfraquecido e sem condições de enfrentar a invasão dos bárbaros, por precaução, decidiu abandonar o castelo e buscar refúgio no castelo de Vale das Rosas. O conde Augusto era amigo de longa data e protegeria a família real com suas tropas.

– É uma casa de repouso, papai. O senhor vai gostar.

                                                          

-X-

Rolf corria o mais depressa que podia. Corria pela trilha sinuosa que levava à clareira no centro da floresta. Sentia suas forças falhando e temia cair esgotado sem ter tempo de avisar o seu povo. Ele não acreditava que o mundo terminaria naquele dia e isso lhe dava forças para seguir adiante e com suas curtas pernas, continuou vencendo as distâncias.

 

-X-

– Vamos passar no supermercado para comprar algumas frutas para ele.

O comboio fez uma parada para os cavalos descansarem um pouco. O rei desceu da carruagem, sendo recomendado não se afastar da estrada. Ele sentou-se na raiz de uma árvore, recostando-se no tronco. As árvores eram robustas, algumas com buracos na base do tronco. Imaginou que eram moradas de gnomos. Ficou pensando no Vale das Rosas. Diziam que lá, os ares eram terapêuticos. No castelo poderia conhecer finalmente, a espada Durandal, a espada do templário Rolando, forjada por um gnomo, ferreiro mágico que havia lhe dado um nome e uma alma. Durandal estaria exposta no grande salão do Castelo das Rosas.

 

-X-

– Ele ficará em boas mãos – afirmou Augusto, diretor da casa de repouso.

Heitor ficou olhando o pai sendo levado por um atendente. – Não temos condições para cuidar dele. Eu e minha esposa trabalhamos, ficamos o dia todo fora de casa. Isso não é uma desculpa, evidentemente. Poderíamos pagar alguém para cuidar dele em casa. Mas achamos melhor uma casa de repouso.

– Seu pai será bem cuidado. O que ele pai gosta de fazer? Uma atividade física ou intelectual, ajuda no seu bem-estar aqui.

– Ele é escritor, mas ultimamente não tem escrito nada.

 

-X-

Rolf chegou finalmente na cidade, pegou a buzina que estava pendurada num poste e assoprou, convocando toda a população. Os membros do conselho o rodearam.

– O que aconteceu? – indagou Fredo, o gnomo de cabelos vermelhos. Rolf tomou grandes golfadas de ar, antes de responder.

– Nosso mundo está acabando.

– Como assim? – indagou Pirlo.

-. Para além do rio, uma força negativa avança destruindo tudo que há em seu caminho. Logo estará aqui.

– O que podemos fazer?

Todos ficaram inquietos e com temor. Houve murmúrios e lamentos.

– Nosso mundo será destruído! – exclamou Rufus, o marceneiro.

Fredo agitou as mãos- Acalmem-se! Não vamos perder a esperança. Vamos falar com o mago.

                                                          

-X-

Ao entrar no grande salão, o rei olhou para a lareira. Ficou decepcionado, ao ver que havia apenas um vaso de flores sobre ela. Nenhuma espada. Talvez o conde tenha vendido ou dado de presente a alguém, pensou. O castelo não tinha nenhum atrativo e ele imaginou que os dias ali seriam aborrecidos e solitários. Ao lado da lareira, sobre uma mesinha, havia um caderno e uma caneta para escrever, mas ele os ignorou.

                                                          

-X-

– O homem que nos criou está perdendo suas forças mentais.- disse Fulcro, olhando para o portal na água trêmula na bacia de latão. – Uma grande escuridão está invadindo seu espírito. Ele está velho, desiludido. Passou a vida toda escrevendo e não tem ninguém que receba seu dom. Por isso, nosso mundo está acabando.

– Então, é o nosso fim! – exclamou Rolf.

– Podemos fazer alguma coisa? – perguntou Fredo.

– Infelizmente, não. Mas a realidade e fantasia tem certas conexões metafísicas, como se fossem engrenagens em movimento se encaixam, portais que se fecham e outros que se abrem. Tenham calma. Deixemos a natureza seguir seu curso e vamos torcer para que tudo volte ao normal.

 

-X-

Enquanto esperava, a menina sentou-se em frente a lareira. Ao ver o caderno e a caneta sobre a mesinha, pegou-os e começou a escrever.

Enquanto ela escrevia, na lareira, das brasas adormecidas brotou uma chama dançante. O galho ardente estalou lançando faíscas no ar. Dragões, duendes, gnomos e fadas, giraram ao seu redor.

                                                          

-X-

Arthur acordou quando sentiu que havia alguém ao lado da cama. Ficou feliz ao ver Clarisse. Sentiu a mão dela na sua. Um toque de juventude e inocência. Mesmo que ele se fosse para sempre, continuaria vivo nas lembranças dela.

– Como você está, vovô? Eu não queria acordar o senhor.

Ele sorriu – Eu não estava dormindo, apenas descansando os olhos.

– Veja, vovô, escrevi uma história- disse a netinha, exibindo o caderno- Vou ser uma escritora como o senhor.

– Que ótimo! Excelente notícia. Lê para mim?

– Claro! – respondeu a menina e pronunciou as palavras mágicas: – Era uma vez…

                                                          

-X-

Estavam todos na margem do rio. A força negativa foi se dissipando, devolvendo as coisas da natureza aos seus devidos lugares.

– Nosso mundo está salvo! – disse Pirlo pulando de contente. Os outros gritaram, hurra!

As engrenagens e conexões que Fulcro havia falado, estavam em plena atividade.

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19 comentários em “A Viagem do Rei (Antonio Stegues Batista)

  1. Jowilton Amaral da Costa
    30 de março de 2019

    O conto narra a história de um escritor com os primeiros sintomas de Alzheimer que está sendo internado pelos filhos numa casa de repouso. Sua debilidade pode ocasionar o fim dos mundo mágicos que ele criou como escritor.

    Achei um bom conto. A escrita é boa e as transições entre o presente, o mundo mágico e a mente adoecida do escritor foram bem executadas. Achei uma boa trama e uma boa sacada o lance do mundo criado pelo escritor se extinguir por conta de sua possível morte, sem ninguém para dar continuidade as suas histórias. E no fim tudo acaba bem, quando Clarisse, a neta do escritor, começa a rabiscar suas próprias histórias. Maneiro. Boa sorte no desafio

  2. Fil Felix
    30 de março de 2019

    Resumo: um velho escritor está sendo levado pelo filho para uma casa de repouso. Paralelamente, os mundos mágicos imaginados por ele estão sendo afetados por isso e também pela falta de escrita dele. Ao final, quando a neta começa a contar uma história, a magia começa a voltar ao normal.

    Considerações: depois de terminar o conto, consegui ir encaixando melhor as cenas pra entender, mas no começo fiquei meio perdido. São três situações que vão ocorrendo em paralelo: a terra dos gnomos; o rei indo ao castelo; e o velho escritor indo ao asilo. Gostei de como se conectam e também de mostrar como esses mundos são afetados. Um outro ponto interessante é que, por se tratar de imaginação e inconsciente, dá margem para várias interpretações. Só senti falta de descrições mais elaboradas, pra deixar o conto mais visual e bonito.

  3. Wender Lemes
    30 de março de 2019

    Resumo: temos um velho escritor começando a ficar senil e, a partir disso, uma narrativa em três perspectivas. O velho transita entre a realidade e a fantasia, onde se entende como um rei. Em uma dimensão diferente, seus personagens preocupam-se com a deterioração da mente do escritor, materializada como uma energia negativa que destrói tudo. Por fim, temos o ponto de vista da “realidade”, em que a família cogita deixar o homem em uma casa de repouso. Como é impossível impedir a ação do tempo sobre os seres humanos, a salvação do mundo fantástico e de seus habitantes não está no criador original, mas na neta dele, que herda a criatividade do avô e é capaz de perpetuar seu dom com suas próprias histórias.

    Técnica: a intercalação dos pontos de vista distintos funciona muito bem, dando uma dinâmica à narrativa que a deixa mais leve, mais interessante inclusive. Senti certa falta de naturalidade em alguns diálogos, por outro lado – como se o personagem quisesse fugir do coloquial e se atrapalhasse nessa tentativa.

    Conjunto da obra: quase não vi o tempo passar durante a leitura, tamanha a imersão que essas transições de ponto de vista causaram. Gostei bastante.

    Parabéns, bom trabalho!

  4. Marco Aurélio Saraiva
    29 de março de 2019

    A batalha de Arthur contra o Alzheimer e a luta por manter a sua imaginação e o mundo e os personagens que havia criado. Nas suas fantasias, os gnomos que habitavam o seu imaginário assistem horrorizados enquanto o seu mundo se desfaz. Por sorte, Arthur tem uma neta tão imaginativa quanto ele que salva o seu mundo mental da destruição eterna.

    É um texto bonito, que fala de velhice, amizade e família. Fala da importância da conexão com pessoas, da imaginação e de como a nossa identidade é frágil. Há certo apelo ao sentimentalismo, mas que não chega a lugar algum. O conto mesmo não tem nada de novo (a temática do Alzheimer está batida, para dizer a verdade) e o clímax, bem no finalzinho, apesar de bonito, não é nada de mais.

    Sua escrita é boa, fluida e fácil de ler. Gostosa de apreciar. Pena que pede uma revisão, já que notei uma série de erros de digitação que, por vezes, me fizeram parar a leitura para entender se não estava lendo algo de errado.

    Mesmo assim, parabéns! É um conto bem imaginativo e que projeta imagens interessantes na mente do leitor =)

  5. rsollberg
    28 de março de 2019

    Resumo: A história de um rei (idoso) e sua viagem para uma nova morada, tendo como pano de fundo o inicio de uma história mágica escrita por sua neta.

    Gostei muito da ilustração escolhida.

    Primeira parte: Ótimo prólogo, com boas referências, imagem e conteúdo.
    Segunda parte: Diálogo engessado. Muito explicativo, na parte do Alzheimer até didático.
    Terceira Parte: As descrições são boas, vemos o que Rolf vê. Os diálogos mais uma vez não soam reais: “Você é muito descuidado”, seria muito mais interessante mostrar.
    Quarta parte: ´Desperta o leitor, instiga para que faça conexões quem é o rei? De quem é a voz em Itálico.
    Quinta parte: Observamos de perto a jornada do Ralf e sua missão em razão do que havia testemunhado.
    Sexta parte: As ligações entre as narrativas ficam mais forte, começa a se desenhar melhor o contexto geral.
    Sétima parte: Mais uma vez os diálogos trazem informações repetidas e diálogos que não fazem a história avançar, tampouco caracterizam algum personagem. A quebra só ocorre quando o filho conta que o pai era escritor.
    Oitava parte: Novamente percebo a pontuação de diálogo de peça infantil, cheio de escadas, “O que aconteceu” “Como assim?” “o que podemos fazer?’, sacou autor. Talvez fosse melhor contar apenas como Rolf contou para sua gente.
    Nona parte: Não há mais revelação, acompanhamos o devaneio do personagem, sua imaginação e sua perspectiva do mundo.
    Décima parte: Mais ou menos o que já disse. Só que agora, posso estar enganado parece um neto preocupado com o avô, seria esse o Rolf?
    Decima primeira parte: Temos a introdução de fato de mais uma personagem e conhecemos um pouco do que ela é.
    Décima segunda parte: As história se conectam, o real e o fantástico. O velho e o novo, O legado renovado. Importante destacar que a escolha do nome Arthur foi uma boa sacada.
    Décima terceira parte: Finalmente descobrimos de quem é a história que se mescla, seu propósito e sua relevância.
    Geral: As divisões foram interessantes e serviram muito bem ao conto. A descoberta aos poucos, a curiosidade crescente. Diante do desfecho, é possível até entender alguns diálogos mais infantis na parte dos duendes, mas ainda assim penso que poderíamos ter diálogos mais bem elaborados. Tanto é que os diálogos reais são similares, e tão frágeis quanto.

    Um bom conto, com uma história criativa que mistura a fantasia e o drama.
    Parabéns

  6. Daniel Reis
    26 de março de 2019

    BREVE RESUMO: Um rei antigo medita no jardim. Na verdade, ele é o velho pai (Arthur) que o filho quer colocar num asilo, onde estará afastado da neta Clarice. Depois, o gnomo Rolf vai pescar e encomenda uma faca para Pirlo. Encontra a mulher do padeiro, e ao chegar ao rio vê tudo se dissolvendo (como o Alzheimer avançando). Em itálico, o rei está em viagem, procurando abrigo nas Terras Altas – uma metáfora para sua ida ao asilo. Volta pro Gnomo que tenta fugir do fim do mundo. Paralelamente, o rei vive um “sonho” aos acontecimentos reais, enquanto seu filho e a mulher o internam. Rolf avisa os outros seres mágicos que o mundo está acabando, mas eles resolvem falar com o mago. Enquanto, no sonho do rei, ele vê de outra forma a chegada no asilo. Ficamos sabendo ao final que ele é um escritor, o mundo de Rolf sua invenção e a neta Clarice vem visitá-lo e contar uma história, que dissipa o fim do mundo no universo mágico.
    PREMISSA: três narrativas paralelas interligadas, com base na mística, na capa e espada e na realidade cotidiana.
    TÉCNICA: apesar de bem escrito, achei que em alguns pontos faltou dar uma “amarrada” na trama, puxar mais os fios para fechar a história. Talvez o núcleo do gnomo tenha sido menos trabalhado do que os outros, achei que faltou mais “maravilhamento”. Taí uma percepção que possa ser útil para sua reescrita, meu amigo autor.
    EFEITO: no geral, uma boa história, apesar de não estar entre minhas preferidas. O apelo ao Azheimer e a relação avô-neta me pareceram um pouco convencionais. Mas desejo sucesso no desafio.

  7. Catarina Cunha
    11 de março de 2019

    O que entendi: O mundo mágico, criado por um escritor agora idoso, é perigosamente ameaçado de desaparecer pela perda de sua sanidade mental. Sua neta salva o reino ao herdar a capacidade de manter viva a fantasia através da escrita.

    Técnica: Enxuta, falsamente simples. A linguagem direta e de sobriedade, entrecortada com devaneios criativos, cutuca o leitor com vara curta.

    Criatividade: Refinada. Joga, sem embuste, 3 mundos paralelos como quem toma um copo d’água.

    Impacto: Está na interpretação e não no texto em si. Daqueles textos que deixam a gente pensando na existência dos caracóis.

    Destaque: “Bateu no peito para despertar a vida e o que ouviu foi o som cavo de uma casca vazia. Restava apenas a sombra do rei que ele foi.”

    Sugestão: Aumentar a intensidade da viagem do rei. Eu gostei tanto dos delírios criativos dele que acho que poderia ser mais explorado.

  8. Felipe Rodrigues
    5 de março de 2019

    Escritor idoso está perdendo a memória e seu filho quer interná-lo em um asilo. Uma de suas histórias é sobre um gnomo que percebe uma força estranha querendo destruir seu mundo. Outros dos personagens é um rei que parece deslocado de seu título. A neta do escritor resolve também ser escritora, reavivando assim a chama da criação e espantando a força estranha que pairava sobre o boques dos duendes.

    Muito bom.

    As histórias se entrelaçam de forma simples e não é preciso nenhuma indicação de atalho para que façamos as ligações, a coisa flui naturalmente e a cada trecho o conto fica mais interessante. É uma reflexão sobre o próprio ato de escrever, sobre o porquê de fazermos isso, o que mantém a escrita viva, influenciando outras pessoas a começarem a criar mundos novos, personagens que são a essência da vida e da memória do escritor e talvez sejam mesmo prenúncios ou fragmentos físicos que influenciam vida de criador e leitor.

  9. Fernando Cyrino
    4 de março de 2019

    Eita, Reinaldo, puxa, depois de um primeiro parágrafo que só vim a entender depois, tratar-se da escrita do velho e que considerei a princípio ruim, tudo foi se fazendo claro aos poucos, mas lhe digo que correu riscos. Admirei sua coragem. Além da repetição das”pombas” (não digo a do poema), ficou escrito que “a inspiração é como a chuva na grande estiagem tudo fica seco e morto”. O velho estava mal mesmo, eis que a chuva é vida que renasce depois da longa seca… Bem, no mais, tirando a sua ousadia inicial, tenho em mãos um belo de um conto. Parabéns, amigo.

  10. Evandro Furtado
    2 de março de 2019

    A história de um senhor que pensa que é rei e de um mundo encantado em perigos de acabar, com tudo sendo salvo pela inocência de uma criança.

    Acho que o ponto forte do texto é a forma como ele nos impacta. O trabalho é muito cuidadoso, criando uma conexão, sobretudo, com o velhinho. Assim, o que gira em torno dele, o que o afeta, acaba afetando, também ao leitor. Acho que se o conto fosse um pouco mais longo, explorando ainda mais as fantasias dele a partir da realidade em que se encontra, o resultado poderia ser ainda melhor.

  11. Gustavo Araujo
    24 de fevereiro de 2019

    Resumo: velho escritor com Alzheimer é enviado ao asilo pelo filho; em sua mente, porém, essa jornada adquire ares épicos. Enquanto isso, suas criações literárias, mais especificamente um universo de gnomos, enxerga o fim de tudo, que nada mais é do que o reflexo da mente fugidia do autor que se vai. O reino dos gnomos, porém, é salvo pela neta do escritor, que assume a função de dar vida à criação.

    Impressões: é um belo conto sobre chegadas e partidas, sobre despedidas, sobre o fim e o começo, sobre como as pontas estão amarradas, ou como podem ser amarradas, num devir cíclico. Apesar da atmosfera de fantasia, o que se impõe na história é o pôr do sol de uma vida, de alguém que se vai.
    Nesse aspecto, não deixa de ser tocante perceber o que se passa na mente do velho escritor, que se imagina como um rei, como um de seus personagens, à espera de novas paragens, de novos ares, de ver uma espada lendária, enquanto na verdade segue para o asilo, seu derradeiro destino.

    Muito bacana também enxergar o reflexo dessa mente criativa que se apaga no universo de criaturas por ele concebidas, gerando aí uma excelente metalinguagem. O desespero dos gnomos é real em todos os sentidos.

    Curti a linguagem simples empregada pelo autor. O conto tem aquele diferencial de agradar tanto quem é jovem, o público infanto-juvenil, a quem no mais esse tipo de literatura é direcionado, mas também quem é mais velho, tipo quem já passou dos quar… cof, cof… anos. Quando ocorre esse tipo de identificação atemporal, o resultado é o melhor possível. Por isso, caro autor, não tenho como não parabenizá-lo pela obra. Obrigado pelo texto e… boa sorte no desafio!

  12. Fabio Baptista
    24 de fevereiro de 2019

    ———————–
    RESUMO
    ———————–
    Histórias paralelas entre um senhor com Alzheimer indo para o asilo e um reino mágico sendo destruído.
    o senhor, o rei, era o escritor que criou aqueles personagens. O reino é salvo pela neta, que pega o gosto pela escrita e dá continuidade ao legado.

    ———————–
    ANOTAÇÕES AUXILIARES DO RESUMO DURANTE A LEITURA:
    ———————–
    Lembranças saudosistas
    Filho planejando colocar o pai no asilo
    Energia negativa chegando num reino mágico
    Paralelo da viagem de carro até o asilo com o rei na carruagem, buscando refúgio
    As criaturas mágicas percebem que seu criador está morrendo
    A neta assume o dom da escrita
    O reino mágico é salvo

    ———————–
    SOBRE A TÉCNICA:
    ———————–
    Muito boa, de uma beleza cativante.

    – vestindo-se para ir para o trabalho
    >>> evitaria essa repetição para / para. “vestindo-se para ir ao trabalho”, ou “vestindo-se para o trabalho”.

    – Acho que sim. Suas constantes crises de apatia, confusão mental e esquecimentos são sintomas da doença
    >>> Esse diálogo soou pouco natural. No meu gosto pessoal, prefiro deixar essas obervações mais “formais” para o narrador.

    – Ela se acostuma
    >>> Na contramão do diálogo anterior, essa aqui ficou perfeita. Natural e impactante.

    – -. Para além do rio
    >>> sobrou um ponto aqui

    ———————–
    SOBRE A TRAMA
    ———————–
    Algo bastante simples que conseguiu cativar pela maneira como foi colocada em prática.
    Tudo fica ainda melhor numa segunda leitura, quando percebemos as migalhas de pão que marcaram o caminho.

    ———————–
    CONSIDERAÇÕES FINAIS
    ———————–
    Conto excelente. Simples, direto, tocante.
    Entre os melhores do grupo, sem dúvida.

    NOTA: 5

  13. Rubem Cabral
    23 de fevereiro de 2019

    Olá, Reinaldo.

    Resumo da história: o velho escritor está perdendo a memória e já na escreve mais. Seu filho resolve interná-lo numa casa de repouso. No mundo de fantasia criado pelo velho, forças negativas ameaçam tudo destruir. Contudo, a neta do escritor, também alguém com o dom da escrita, começa a escrever e salva o mundo de fantasia.

    Prós: uma história bonita e criativa. Ter a ação se passando em duas realidades e depois entender que se tratava do mundo criado pelo velho foi algo interessante.

    Contras: o conto foi muito curto e permitiu pouca exposição dos dramas do escritor e dos personagens que ele criara, não havendo tempo para criar empatia pelo drama de ambos. A ideia é muito boa e penso que foi pouco aproveitada. Talvez investindo mais no “mostrar” do que no “contar”. Uma situação em que o esquecimento do velho lhe causasse problemas, por exemplo.

    Nota: 3

  14. angst447
    22 de fevereiro de 2019

    RESUMO: Um senhor, já idoso, começa a ter sua vida limitada pelo Mal de Alzheimer. O filho resolve interná-lo em uma casa de repouso, pois ele e a esposa não tinham condições ou tempo para cuidar do velhinho. Na mente de Arthur, que já havia sido um escritor, a realidade e a fantasia se mesclam. A neta Clarissa resgata o valor da vida do avô, quando começa a escrever também. O mundo da fantasia é salvo.

    AVALIAÇÃO: Conto com uma “pegada” sensível, sentimental, misturando a realidade enfrentada em vários lares (o que fazer com os idosos?) com a fantasia vivenciada pelo senhor que se vê rei. Os poucos diálogos são precisos e bem pontuados. Enredo interessante, sem grandes surpresas, bem costurado. Narrativa ágil, clara, revelando os pontos de realidade e os de fantasia, sem embaralhar as imagens criadas na mente do leitor. Encontrei um ou dois lapsos na revisão, mas são deslizes bem fáceis de se resolver. Acredito que tenham sido fruto da pressa.
    A leitura foi bem agradável e rápida, e deixou um gostinho de saudades. Do quê? Nem sei, talvez de um sonho, talvez do rei Arthur, talvez da esperança de um escritor sempre ser um escritor.
    Até a próxima rodada, autor(a). Boa sorte!

  15. Paula Giannini
    22 de fevereiro de 2019

    Olá, autor(a),
    Tudo bem?

    Resumo:

    Com a possibilidade da morte de um escritor, já idoso, todos os seus personagem temem o fim. A redenção vem por vias da neta, com vocação para a criação de histórias.

    Meu ponto de vista:

    O ponto alto deste texto, como entendo, está na capacidade magnífica do(a) autor(a), em mesclar diferentes cenas, universos e realidades de modo muito natural, conduzindo seu leitor através de três diferentes pontos de vista narrativos.

    1 – O dos filhos do escritor – com o conflito sobre a idade avançada e possível senilidade do pai, muito bem trabalhado.

    2 – O mundo criado pelo escritor em suas histórias – com o conflito de personagens fantásticos em um universo vivo e pulsante, mas, que teme seu fim, diante da situação de seu criador.

    3 – O ponto de vista do próprio escritor, que teme pelo fim de sua criação e a não perpetuação de seu gosto pelas histórias. Conflito resolvido, redimindo escritor e personagens de modo belo, através da existência de uma personagem membra das novas gerações.

    Um conto que fecha um ciclo perfeito, com muita delicadeza e a bela metáfora do Rei.

    Parabéns por seu trabalho.
    Desejo sorte no desafio.
    Beijos
    Paula Giannini

  16. Victor O. de Faria
    22 de fevereiro de 2019

    RATO (Resumo, Adequação, Texto, Ordenação)
    R: A metalinguagem meio que se define logo no segundo parágrafo, para quem está acostumado. Bem, temos dois núcleos: o pai/avô com problemas de saúde e o mundo que ele criou. Na primeira quebra foi difícil identificar do que se tratava, mas depois ficou claro que a história transitava entre o mundo fantástico, o mundo real e o mundo dos gnomos. O texto é singelo e melancólico, mas com quebras que nos forçam a sair do contexto de repente. Sugiro suavizar isso no futuro. As passagens da comparação entre realidade/fantasia foram muito boas. Pelo que entendi, ele permaneceu no asilo e sua neta se encarregou de deixar os “chubs” vivos na memória.
    A: Outro que se encaixaria melhor nos contos infantis. Há certa “enganação” no enredo, mas o sentimento compensa essa frustação. Como o contexto deixa bem claro a metalinguagem empregada, isso sugere que a fantasia não existiu fisicamente. Difícil avaliar. – 3,0
    T: Me conquistou pela melancolia, mas pode ser melhor trabalhado. Sinceramente, acho que se o foco fosse apenas o “reino perdido” e suas peripécias imaginativas, teria gostado mais. Os duendes meio que entraram de graça na história e não fariam tanta falta assim. – 3,5
    O: A estrutura fornece uma ótima conexão com o protagonista, mas peca nas outras passagens. Talvez se o terceiro ponto de vista fosse transferido para o avô, com ele informando o que “seus” gnomos estavam passando, o resultado seria melhor. – 3,5
    [3,3]

  17. Leo Jardim
    22 de fevereiro de 2019

    🗒 Resumo: o conto trabalha uma metáfora no qual um velho escritor está para ser internado num asilo e ele enxerga as situações como um rei medieval; paralelo a isso, os personagens de uma história de fantasia estão desaparecendo pois seu autor está perdendo a memória; no fim, a neta salva a história e os personagens

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): a ideia é bastante interessante, já até usei uma parecida no desafio passado (Encontro nas Sombras).

    O conto é dividido em duas partes: no mundo com o velho, o filho e a neta e o mundo da fantasia, com os gnomos. Gostei mais da primeira.

    A parte dos gnomos acabou tendo muitos personagens que receberam nomes, mas nenhum deles tiveram importância alguma para a trama. Eles são meros expectadores da história: estão vendo seu mundo sumir e não podem fazer nada à respeito. Como não tivemos tempo para nós apegar a eles, também não há relação de pena ou desespero. Essa parte precisava de mais desenvolvimento para funcionar, coisa que o limite do desafio infelizmente não permitiu.

    A parte do velho me interessou bem mais porque envolveu emoção, me apeguei ao personagem. Deve ser realmente muito triste essa fase da vida. Só acho que talvez pudesse ter introduzido mais cedo a relação da neta com o avô, para que o desfecho não fosse tão abrupto.

    Enfim, acredito que o conto poderia ter focado mais em um dos plots: a internação no asilo ou a morte/ desaparecimento dos gnomos. Tentando fazer os dois, acabou que ficaram ambos corridos num limite tão curto.

    📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): o primeiro parágrafo se destaca pelas metáforas e imagens, assim como a imaginação do velho. É uma boa técnica, embora em algum momento a pontuação e exposição no diálogo tenha incomodado um pouco.

    ▪ como se fossem engrenagens em movimento (que) se encaixam

    🎯 Tema (⭐⭐): a fantasia é metafórica, mas não vou descontar pontos [✔]

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): não chega a ser novidade esse tipo de história, mas foi escrita com personalidade.

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): gostei bastante da parte do velho, como já adiantei, das dificuldades da família, da netinha que surgiu no fim e salvou a história… a parte dos gnomos, porém, ficou cansativa. Na média, um bom conto.

  18. Davenir da Silveira Viganon
    20 de fevereiro de 2019

    A Viagem do Rei (Reinaldo K. Vanhac):
    – Conto sobre um senhor com Alzheimer que fantasia um mundo de Fantasia onde o reino está se desfazendo, perdendo a magia. Quando o senho é mandado a uma casa de repouso, o reino sofre com um fim próximo até que a netinha do senhor o visita e conta uma história que ela escreveu, então a magia volta ao reino de Fantasia.
    – Conto sobre Alzheimer e laços familiares que usa a Fantasia como alegoria. Para mim, sinceramente não acho que seja um conto de Fantasia propriamente, mas a delimitação do desafio é ampla e esse conto se encaixa. Quanto a história, são duas histórias bem simples que ganham sentido maior por serem contadas em paralelo. A magia está justamente na relação entre elas e é ai que eu fico com a sensação de fuga do tema porque a Fantasia não é nada mais que fruto da doença mental do protagonista. É bonito, apela para a emoção e usa o artificio da doença mental, que são bem recorrentes nos desafios do Entre Contos. Acho que ficou bem feito. O resultado é bom!

  19. Ricardo Gnecco Falco
    19 de fevereiro de 2019

    Olá Reinaldo; tudo bem? 😉

    O seu conto é o quarto trabalho que eu estou lendo e avaliando. Cara… (Ou: moça…) Arrasou na carga dramática! Estou pensando seriamente em colocar o seu trabalho já lá na listinha do ‘Mais impactante (+0,5)’. Juntar velhinho (escritor ainda por cima!), criança e perpetuação da(s) espécie(s) num mesmo conto é mais do que atirar para todo lado, porém acertando todos os tiros no alvo! Claro que deu pra fazer a ligação do arremate final (a netinha que seria a salvação dos gnomos e da sensibilidade da família do patriarca) um pouco antes do que seria o ideal, mas mesmo assim o conto ficou bem legal. Parabéns pela ideia e pela execução! 🙂

    COMENTÁRIOS GERAIS: A escolha de escrever em paralelo as histórias, mesmo sem ousar um pouco mais e subverter também a temporalidade da trama (daria pra fazer, hein…?!), foi bem acertada. Gostei também que, ao que parece, nem foi preciso utilizar todo o limite de palavras para realizar o que você pensou em fazer… e fez. Sinal de um conto que foi bem planejado. Eu, particularmente, sempre acabo iniciando o processo de escrita sem ainda estar tudo 100% no lugar; vou ajeitando no durante… Enfim… Gostei do conto! Parabéns novamente e boa sorte no Desafio!

    Por último, seguindo a regra para os comentários…

    ————————————-
    RESUMO DA HISTÓRIA:
    ————————————-

    Filho insensível (sim, julguei!) decide internar pai, em idade avançada e com sinais de início de Alzheimer, em asilo. Em paralelo, uma sociedade de gnomos vê seu mundo começar a se destruir, devido a crescente perda mental de seu criador. Contudo, ao final do conto descobrimos que a neta do velho escritor herdara a ‘verve’ autoral e sensível do avô e, assim, tanto a descendência real quanto a imaginária do idoso criador é salva.

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Informação

Publicado às 17 de fevereiro de 2019 por em Liga 2019 - Rodada 1, Série B e marcado .
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