Um passo largo e outro meio, um longo e outro curto, pular o meio-fio desviando da calçada de pedras inexatas, pretas, brancas, buracos preenchidos, outros nus. Asfalto liso, alívio antes da faixa de pedestre. Vou pelo meio da rua, sempre na contramão, de olho em quem vem e quem vai. Porta de vidro abre e fecha guilhotina automática corta, separa, dá e toma. Recuar e recalcular. Abre, ar condicionado; fecha, fica o bafo. Saltar o tapete, não errar o bote, frear na linha de partida, sabe ter a alma partida em pedaços. Meio fio de água na torneira. Trocar carrapeta. Piso de ladrilho hidráulico de temerosos losangos infinitos. Estanca com o desespero da morte eminente sob seus pés, seus réis, reais e imaginários fantasmas cotidianos.
Onde está a recepcionista Maria e meu tapete vermelho? Olha para trás e pensa em fugir, voltar para casa imediatamente ao conforto de seu carpete branco imaculado. A guilhotina, uma vez vencida, ameaça abrindo e fechando. Não há volta. Onde está Maria, pelo amor de Deus? Grita por seu cordão umbilical a ser estendido para que chegasse ao elevador em segurança. O que seria de mim sem você, Maria? Muito obrigado, Maria, você é uma boa alma. Devo comprar uma lembrancinha para Maria? Esquece imediatamente ao ver o elevador chegar e abrir a porta. Não entra. Chega de novo. Não entra. Uma moça embarca, ele inspira o pânico e se joga no fundo da caixa metálica com guilhotinas de aço. Ele pede para apertar o nono andar. Ela o faz com um sorriso simpático. Belos dedos, unhas longas, cabelos longos. Gosta de mulheres longas por ele ser curto e grosso. Diferenças boas e ruins. Pena ela tocar naqueles botões imundos, quanta meleca, perdigotos, vírus, bactérias, linhas de montagens imensas de fungos, ácaros se multiplicando para nos devorar. Pobre moça imunda contaminada. Pena. Teria filhos com ela se não fosse tão descuidada. Antes ela do que eu. Quase lá, quase lá. Sorte no piso liso hospitalar do corredor sem curvas, sem sustos de esquinas à sombra.
Na sala de espera se mantém de pé, embora tenham dois lugares disponíveis no banco de ripas de madeiras perigosamente paralelas. O que este casal está fazendo no meu sofá? Não sabem que ele está reservado para vítimas especialmente superiores? Sempre desprezou o egoísmo sem justificativa. A culpa é dessa atendente esculturalmente provocadora, com seu sorriso de hiena, vestida num tubinho de toalha de mesa de cantina. Tem mulher que nasce bela para ser escrota com os homens. Não existe nada mais humilhante do que o ódio, uma declaração explícita de fraqueza. Não dirigiria a palavra àqueles olhos de pinguim. Hiena pinguim enrolada em toalha de mesa. Coloca o cartão no balcão olhando para os próprios sapatos. Odeia também cadarços. Precisava gritar o meu nome? Agora todos sabem quem é aquele babaca, que não usa cadarços, que odeia a atendente gostosa, que provavelmente sofre da coluna ou de hemorroidas porque tem cara de cu e não senta. Tenho certeza que vão me seguir até em casa e sofrerei um sequestro relâmpago. Entra com um profundo suspiro na sala inodora de paredes nuas. Agora sim. O doutor o recebe com uma gentil mesura. Ele me conhece, sabe que eu não gosto de toques protocolares. Todos não poderiam ser assim? Mas não, sempre tem um abusado complicando o rumo natural do Universo, dando tapinha no ombro, estendendo a mão ou enchendo o mundo de paralelas e encruzilhadas infinitas. Ele sabe de tudo, de todos, ele usa a internet. Deve estar agora mesmo publicando minha vida toda nas redes sociais, sobre os remédios que tomo para não encher a cara e os da ressaca, os que tomo para dormir e para acordar e, principalmente os que tomo para não me matar e não matar a filha-da-puta da atendente dele.
Rumo ao divã, dia claro. Contaria, em detalhes, todas suas diversas superações encaradas naquela assustadora manhã. Calçada, asfalto, meio-fio, pedras portuguesas malditas, porta, guilhotina, tapete, caixão de aço, corredor, sala, banco de cela, presídio, atendente que precisa ser demitida sumariamente. Mas sobrevivera, estava ali, evoluído, encarando os fantasmas terrenos. Superando adversidades e tomando as rédeas paralelas de sua própria vida. Eu tenho o controle. Eu posso. Eu sou o cara. Coquetel de remédios muito bom, doutor. Tem que manter isso, viu?
Jogou-se no divã com a confiança de trezentos helenos. Deitou de lado e da nova capa do leito surgiram linhas que perfuraram sua carne como espadas afiadas. As listras se moviam feito serpentes, amarravam seus pés e subiam pelas pernas.
Para que tantas linhas? De ônibus, de passe, de coser, de amarrar e, principalmente de dividir coisas que se multiplicam acima, abaixo, nos lados e vão pressionando até que a forca aperte o laço nas veias, dando nós nos fios elétricos do cabelo. A morte é uma linha de sutura na pele calejada. Não tocar a linha de transmissão. Acelera o passo, rápido. Não pega a linha circular, a vermelha e nem a amarela; fique no cinzento da linha do horizonte perdido. Linha tênue entre o estar cá e acolá não mais, jamais. Cuidado ao pisar. Queria escrever, mas como palavras formam linhas que se seguem, e quanto mais se escreve mais elas crescem e geram dúvidas, calúnias e mais medo; logo a pena seca. Olha a linha do trem, sem fim, amarrando esperanças em vagões sucateados cheirando a marmitas sonolentas. Sacolejo, sacolé, bala de tamarindo, soft, perdida e encontrada. Bala que na mesma noite que dá onda, que dá marola, também tira a linha da palma da mão. Muito cuidado com a linha coletiva da consciência, à noite pesadas correntes de âncora, ao meio-dia fio de seda entre os dentes. Mas todos pendurados na mesma forca da estatística linear. Perdas cartesianas. Gráficos em ângulos obtusos contabilizam jazigos, ora rasos, ora floridos, alguns esquecidos, outros eternos, mas todos, absolutamente todos, presentes e paralelos.
O desespero encontrou uma estátua da deusa Kali e foi rasgando o inimigo a golpes de deusa. O ar encheu o consultório de plumas e penas. A serpente se remexia com o impacto. Morra! Morra, monstro! Uma picada da serpente no pescoço. Traíra! Murmurou olhando para o médico com a seringa em riste.
Despencou sobre o tabuleiro de xadrez.
Prima, mais uma vez você nos coloca em situações em que, realmente é fundamental a concentração da leitura. Acredito que por não ter essa formação cultural metafórica e por ser uma leitura que nos prende, meditando sobre cada palavra e talvez por viver numa cidade pequena, sem stress, só percebi que o conto estava sublinhado quando vi os comentários. Parabéns por mais esta conquista.
O sublinhado me incomodou muito! Mas foi a intenção, então pontos para você. Acho que você queria que o leitor sentisse desconforto, tal qual o personagem sofre com seus problemas psiquiátricos. O resultando é bastante angustiante e extremamente adequado ao tema.
Gostei do conto, gostei da história meio confusa que foi contada mas esse foi um dos contos que eu não consegui identificar o experimental, a não ser pelo sublinhado, mas eu gostei muito, percebi uma pequena crítica para os “centros das atenções”?
ótimo conto, abração
Olá autor(a).
Tirando o sublinhado que não sei a que veio e a narrativa no meu entender não se sustenta como experimentalismo. Poderia ser um conto de outro desafio não experimental.
Entendi que a personagem sofre de algum transtorno, outros sugeriram o efeito de narcótico. A leitura é angustiante e eu só achoque o final poderia ser melhor elaborado.
Boa sorte no desafio.
Jack, admiro demais boas construções. Teu trabalho tem uma beleza muito grande e você faz construções invejáveis – me deu uma aula, mestre. As palavras sublinhadas foram barreiras contra a leitura, porém, uma vez vencidas, temos um conto muito bom e com característica própria. Gostei. Parabéns
Achei boa a inserção do sublinhado para fortalecer a ideia das entrelinhas.
O discurso provavelmente esquizoide do protagonista também está muito bem escrito, foi uma leitura de angústia, de sofrimento mental, pelo que vi o homem sofre de dependência de drogas ilícitas, além das receitadas.
A prisão. Tudo nele remete à prisão, à morte em vida.
Parabéns!
O sublinhado incomodou a leitura, mas ele cabe o texto e foi uma boa jogada. A levada do conto traduz bem o estado mental do protagonista. É tudo meio confuso, meio paranóico, traduzindo a escolha das palavras e da pontuação. Um jorro, fluxo incessante de interligações. Parabéns.
Velho Jack, seu texto inteiro sublinhado, além de atrapalhar a leitura, não deixou muito espaço para entrelinhas… Gostei do tom confessional (que eu compartilho, em grau variado, quando escrevo algo) e das surpresas absurdas da serpente e do tabuleiro de xadrez. E compartilho a impaciência com os consultórios. Grande abraço!
Eu fiquei bem perdida, principalmente por conta das linhas, mas nesse caso acho que foi proposital, né? Não compartilho do sentimento do narrador rsrs’ Ainda bem que não tenho toc rsrs’ Acho que, inclusive, seria divertido ter colocado algumas falhas nesse sublinhado.
Acho que o fato de deu ter entendido o conto só a partir da metade fez com que a primeira parte não fosse tão importante, mas culpo principalmente as linhas por isso. Mas já é algo bastante particular. Ou foi minha afeição pelo antepenúltimo parágrafo. Gostei tanto que, por mim, o conto seria trabalhado todo em cima dele.
Boa sorte!!
boa tardddeee.. td bem por ai?
cara, a leitura do seu conto foi uma experiencia interessante, pra dizer o minimo.. o clima de certa forma claustrofobico incomoda bastante, no bom sentido. me senti preso dentro da mente maluca do cara, ta louco.. hahahah
o enredo em si não é muito complexo, sendo uma simples cena de um cara indo ao psicologo/atra, mas a densidade dos pensamentos e labirintos da mente dele tornam a leitura bem cabeluda. gostei!
devo dizer, por outro lado, que por mais que o sublinhado faça todo sentido dentro do contexto experimental do conto, pra mim foi bem difícil a leitura do texto sublinhado.. atrapalhou bastante.. comecei lendo no note, e tava impossivel, minha vista tava quase doendo hahaha.. passei pro cel, e foi melhor… claro que dentro do atual desafio isso não rende desconto na nota, pois acrescentou ao contexto do conto e da experimentação.
enfim, um conto denso e incomodo, no bom sentido. parabens e boa sorte!
Olá, Jack.
Gostei do conto, desse relato de alguém aparentemente com TOC, tendo um surto no consultório do médico. Gostei também do texto sublinhado, de acompanhar o fluxo de consciência de alguém que enxerga perigos em azulejos e linhas da calçada.
Boa escrita tbm; não percebi erros.
Abraços e boa sorte no desafio.
Um texto que aborda a loucura, o stress, talvez por isso esteja todo sublinhado, para lhe dar enfase. Sinceramente preferia sem esses sublinhados, cansam um pouco. Mas o texto esta muito bem escrito, sem erros.
Frase chave: “Não existe nada mais humilhante do que o ódio, uma declaração explícita de fraqueza. “
Senti-me imprensada entre as linhas do texto, do trilho e, principalmente a linha oprimida do grito contido. Aqui o experimento é mais cerebral do que formal, embora o texto sublinhado tenha aumentado essa sensação de medo e desconforto.
Gerou empatia sofrida.
Olá!
Olha, um texto muito intenso que depende muito do leitor se deixar levar pelas linhas para ter o resultado esperado.
Li-o duas vezes, a primeira experiência foi estressante mas já de cara constatei que estava diante de um trabalho muito bom, bem pensando e estruturado.
O personagem sofre de varias doenças do hoje, TOC provavelmente sindrorme do pânico, tem mania de perseguição, praticamente um psicótico… ao mesmo tempo que não é, porque eu me identifiquei real como muitos dos dramas dele, de ver coisas simples do dia a dia como dragões que você tem que matar todo santo dia, isso deixou seu texto tão real que chega a ser assustador.
Adorei as referências, as tiradas, as frases de efeitos o autor de fato estava muito inspirado e acredito que pra você tenha sido uma experiência muito intensa escrever esse conto, ele é muito visceral, sinto que tem bastante do autor aqui.
Ao contrario da maioria, eu gostei das linhas e de tudo que engloba elas, foi uma ideia inteligente usá-las.
Parabéns pelo trabalho, boa sorte no desafio!
Acredito que a narrativa se dê aqui por um narrador louco. O texto é interessante, criativo, mas achei o enredo muito simples. A leitura é difícil, trabalhosa, o que dificulta demais a imersão no texto, porém este acaba por ser o ponto forte do conto: é a abordagem da mente obsessiva, da mente compulsiva, faz experimentar no leitor essa inquietação, esse cansaço mental.
Bom texto, embora eu acredite que há potencial para uma criação mais bem elaborada.
Parabéns e boa sorte no desafio!
Fala, Jack.
Não sei se foi coincidência, mas me pareceu uma homenagem ao incrível “As Good as It Gets”, em especial ao personagem Melvin Udall do Jack Nicholson. O transtorno obsessivo compulsivo, a misantropia e misoginia do protagonista bem evidenciada.
Já no primeiro parágrafo de seu conto é possível sentir um desconforto grande, as inúmeras descrições feitas por alguém que sofre. Um fluxo de consciência ágil, caótico e doente. As linhas avançam e nós embarcamos na vida desse sujeito complexo. O humor tem papel fundamental para equilibrar a história, caso contrário, poderia cair na armadilha de se transformar um um relato de drama e lamento.
Nesse sentido, a técnica usada é impecável. Outrossim, o recuso das linha sublinhadas aumentam a sensação de incômodo. Várias frases se destacam, minha preferida foi; “Muito cuidado com a linha coletiva da consciência, à noite pesadas correntes de âncora, ao meio-dia fio de seda entre os dentes. Mas todos pendurados na mesma forca da estatística linear.”
Parabéns e volte sempre
Olá,
O que mais gostei é que a referência do título “Entrelinhas” está escondida, ou escancarada, a depender da percepção, de diversas formas: no título, no sublinhado do texto, nas metáforas, nas circunstâncias, nas peças de xadrez que estão abaixo dessa super cabeça pensando e elucubrante que vai até a outra galáxia e volta enquanto faz apenas uma jogada no tabuleiro.
Um texto bem escrito, cheio de metáforas interessantes e do tamanho certo para a viagem que propõe. Gostei!
Abração
De início, me incomodou os parágrafos longos e intensos, mas então entendi que eles simulam, justamente, o caráter do personagem. O andamento é intenso, falta até o ar na hora da leitura, e isso, justamente, mostra como o personagem se sente. Tudo acontece com muita intensidade na vida dele, sempre muito rápido, muito dinâmico. Mas, convenhamos, que cara chato, meu Deus. Se irrita com tudo.
Mais um conto que adiei o comentário para tentar uma releitura num momento menos ranzinza… mas não deu muito certo rsrs.
Estou com Ulysses aqui, na interminável fila de livros que provável e infelizmente nunca darei vazão. Tenho um pouco de receio de começar, pois sinto que não me adaptarei muito ao fluxo de consciência. Talvez não tenha nada a ver uma coisa com a outra, mas esse texto me deu ainda mais receio de começar o tal livro. Apesar de bem escrito, com boas sacadas ao longo da narrativa, eu não consegui entrar no clima (e li pelo menos umas 3 vezes, uma delas jogando no word para tirar esse sublinhado, que mais atrapalhou do que ajudou, na minha opinião), não consegui assimilar muito, precisando retomar alguns parágrafos para me situar novamente na história. Resultado: apesar de ser um texto curto, acabou se tornando uma leitura pesada.
Mas a escrita tem méritos e se encaixa no tema acredito.
Abraço!
Oiii. Muito criativo e inteligente o texto ter sido sublinhado, isso dá a ideia de que o texto todo está entre linhas. Foi interessante como a narrativa entra na mente do personagem, acompanhar ele e ver como as coisas simples do dia dia eram um tipo de ameaça, um desafio para ele . Parabéns. Abraços.
Olá, autor/autora. Não me sinto em condições de fazer comentários muito técnicos
dessa vez. Então tentei passar as minhas impressões de leitura, da forma como senti assim que a terminei. Desde já, parabenizo por ter participado!
Então, vamos ao que interessa!
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Olha, não foi fácil! Acho que li e depois reli umas duas vezes, isso desde que o conto foi postado. Não sei se isso aconteceu por causa do sublinhado, quem sabe?
Pior do que ler um texto inteiro em caixa alta! XD E no fim, gostei muito da narrativa. Tudo a ver o pseudônimo, com certeza teve inspiração no filme com o Jack Nicholson. Sim, é experimental e bem escrito dentro dessa proposta de abordar o TOC. Vivemos realmente entre linhas. Gostei bastante, mesmo. Parabéns!
Salve, Jack!
Há um mérito muito grande em pegar a simples (para quem está lendo, não para quem está indo) ida de uma pessoa ao psiquiatra e transformar tudo em um conto bem escrito e divertido. Sim, divertido, pois embora seja possível pegar antipatia pelo personagem, também é igualmente possível se reconhecer em algumas manias do pobre maluco e acabar sendo levado pelo fluxo da leitura sem perceber direito para onde estamos indo. E, de repente, acaba; tamanho ideal para tal proposta.
O que mais gostei no conto é que ele funciona mesmo sem os sublinhados. Entendo que eles estejam ali acrescentando um detalhe extra. Mas, de verdade, são até desnecessários. O texto já seria o suficiente, pois carrega sua dose de experimentalismo no conteúdo.
Não tenho o que reclamar. É bem escrito, interessante e dentro do tema!
É isso! Boa sorte no desafio!
Tentei ler nas entrelinhas deste texto, Jack, mas o sublinhado no texto cansou. Gostei da línguagem directa e ritmada, profundamente alegórico. O texto parece um trava-linguas, texto que se destina a ser lido rapidamente como desafio para que o leitor fique baralhado. Eu fiquei algo perdido com algumas das imagens e o sublinhado fez com que desistisse de um texto que parecia ter muito para oferecer. Mesmo assim, foi dos melhores textos do desafio. Parabéns.
Olá Jack,
Que texto fantástico! Eu amei!
O universo das loucuras me agrada muito, e seu texto mergulha de cabeça mesmo na loucura do protagonista! Tudo muito bem descrito, visual, agoniante. O texto todo sublinhado foi uma tortura pra mim, minha vista embaralhava toda hora… Kkk acho que sua intenção foi essa né, dar um vislumbre para o leitor do desconto do personagem.
Parabéns e boa sorte!!
Desconto não… Kkk desconforto.
Olá, autor, tudo bem? Espero que esteja bem, tratando do seu TOC com calma.
Você me fez lembrar do meu conto (desafio Cinema, acho) Em Três Tocs, que escrevi inspirada no filme Melhor Impossível, com Jack Nicholson e Helen Hunt.
As linhas paralelas, o texto sublinhado, tudo enfatiza a angústia e o desespero do personagem.
As palavras não surgem por acaso, sem cuidado. Percebe-se que foram escolhidas uma a uma para formar o quadro que possa transmitir a experiência do transtorno psíquico.
Experimento aprovado.
Boa sorte!
Uns dos mais legais que li até o momento. Charmoso, cheio de frases atraentes e bem elaboradas, boas construções de cenas e figuras. Um texto de “verdade”, eu diria. Até gostei do “entrelinhas”, e de ter sublinhado o texto, mas nem seria preciso, não fez muita diferença visto que o forte é a narrativa.
Olá Autor(a),
Tudo bem?
TOC. Por incrível que possa parecer, o transtorno é um paralisante de almas e vidas muito mais frequente do que imaginamos. Conheço pessoas que precisam realizar os tais rituais inerentes da doença. Elas estão ao nosso lado e, muitas vezes, nem percebemos. Conheço gente que desmaia no elevador, no metrô, que não pode ser tocada, ou, que não pode ser tocada só de um lado… Pessoas que desligam a chave geral da casa centenas de vezes, que não bebe em copos que outros possam ter tocado, e por aí vai. São muitas. Convivi por meses com uma menina em uma sala de roteiristas, nunca imaginei aquilo por que ela estava passando, a não ser quando me contou, após o término do grupo. TOC, assim como Síndrome do Pânico e outras variantes causam muito dor ao portador e aos que convivem com eles.
Sobre o conto em si, já de cara, deparamo-nos com a estética “entrelinhas”, com os parágrafos escritos com frases sublinhadas, o que, certamente, desencadearia o transtorno naqueles que possuem ojeriza a linhas paralelas, por exemplo. Ao nos deparar-nos com este tipo de preocupação estética por parte de quem apresenta o texto, temos a certeza de um trabalho cuidadoso, pensado e estruturado de modo a fazer da criação algo coerente do título ao ponto final.
O pseudônimo, inspirado no ator que faz um famoso filme sobre o transtorno (ele, ator, aliás, também portador do deste mal que assola tanta gente em nosso século), talvez funcione aqui como um lembrete para o leitor, uma sinalização do assunto que virá abordado a seguir.
O conto, além da boa premissa, traz uma trama ágil, que faz com que o leitor não se perca em devaneios durante a leitura, mantendo interesse e curiosidade durante todo o desenrolar do enredo, acompanhando a agonia do paciente que é, ao final, levada ao extremo.
Parabéns pelo trabalho.
Sucesso no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Olá, autor!
Durante todo o tempo em que li seu conto me lembrei de um filme estrelado pelo Jack Nicholson chamado Melhor Impossível. Se fosse possível seguir o fluxo de pensamentos do personagem naquele filme, certamente que o roteiro ia ser muito parecido com o formato que vc adotou.
O transtorno Obsessivo Compulsivo dá azo a excelentes obras, pelo seu caráter peculiar e muitas vezes engraçado do comportamento de seus portadores. Particularmente eu acho bem triste esta condição.
Gostei das construções que vc criou para traduzir o estado do personagem.
Sem dúvida alguma um conto experimental.
Parabéns e muito boa sorte.
Uma torrente de pequenos pensamentos, aqueles mesquinhos, vergonhosos e que guardamos no fundo da nossa cabeça, para que mais ninguém saiba o quão falho somos.O final, com o tabuleiro de xadrez, seria uma referência ao Sétimo selo? Gostei muito, mesmo. É um texto que merece releitura, por sua grandeza complexidade banhada de insana pequenez. Parabéns e boa sorte no desafio.
Muuuuuito bom! De tirar o fôlego. Dos que li até aqui, o mais adequado ao quesito “experimental”. Quase tudo já foi dito e eu concordo com o parecer da maioria dos leitores. Gostei particularmente verborragia que resulta em alternância narrativa entre o personagem e o narrador onisciente. Novamente, muito bom e provavelmente só poderia ser batido por uma revisão do próprio conto que, não obstante tantas qualidades, pare-me ter sido concebido num rompante fluxo de consciência sem direito a uma revisão mais profunda e demorada que resultaria, por exemplo e talvez na exclusão dos parágrafos? Enfim, Parabéns!
Eu li e reli para ver se concatenava algumas ideias. Cheguei a pensar que terminaria como o personagem – sendo nocauteada por uma injeção de sedativo. É uma viagem. Pura viagem. Não sei se é isso, mas me pareceu estar na cabeça de alguém com muitas perturbações. Claro, experimental, do começo ao fim. Muito rápido por conta das frases curtas. E sutil, pelo sublinhado.
Fodástico! Narrativa veloz e envolvente, as frases mais curtas geram a ansiedade necessária para traduzir a condição do personagem. A técnica é excelente, não percebi nenhum erro, até porque estava encaixotado na estória e nas “sublinhas”. Ótima técnica, ótima criatividade, alto impacto. Boa sorte no desafio.
Uma narrativa muito louca de um louco varrido que procura o divã de um psicanalista. A doença do século o stress, a depressão que se não for cuidada leva a loucura a depressão. Muito bem conduzida por um grande escritor que sabe prender a atenção do leitor.
Boa sorte.
Que narrativa alucinante, rica, bem escrita pra caramba, arrasadora!
Começar um domingo com um presente deste, meu Deus!
Adoro narrativas que contam distúrbios, transtornos, que falam de quadros tão comuns entre nós. Cara, com muita coisa que li no seu texto, tive a impressão de que o meu pensamento estava sendo registrado. Fobias, sensações de desconforto, ideias que chegam aos borbotões, sem nexo (para os outros), vontades, desejos. O autor é mestre da escrita.
A “análise poética” tecida com a simples palavra “LINHA”, arrematando a narrativa, é das melhores coisas que já li nestes desafios. Coisa de gente grande!
Abaixo, para grifar (o que já aparece grifado no texto), algumas pérolas do que li. Afora o epílogo… Genial!
“…frear na linha de partida,…”
“Meio fio de água na torneira. Trocar carrapeta.”
“Estanca com o desespero da morte eminente sob seus pés, seus réis, reais e imaginários fantasmas cotidianos.”
“Grita por seu cordão umbilical a ser estendido para que chegasse ao elevador em segurança.”
“Sorte no piso liso hospitalar do corredor sem curvas, sem sustos de esquinas à sombra.”
“Não existe nada mais humilhante do que o ódio, uma declaração explícita de fraqueza.”
“Ele me conhece, sabe que eu não gosto de toques protocolares. Todos não poderiam ser assim?”
“ Eu tenho o controle. Eu posso. Eu sou o cara. Coquetel de remédios muito bom, doutor. Tem que manter isso, viu?” (Putz!)
“Jogou-se no divã com a confiança de trezentos helenos. Deitou de lado e da nova capa do leito surgiram linhas que perfuraram sua carne como espadas afiadas. As listras se moviam feito serpentes, amarravam seus pés e subiam pelas pernas.”
“Muito cuidado com a linha coletiva da consciência, à noite pesadas correntes de âncora, ao meio-dia fio de seda entre os dentes.”
Parabéns, Jack! Que lindeza de trabalho!
Quando crescer, eu quero escrever como você!!!
Boa sorte no desafio!
Abraços…
Caro Autor, alinhada com a proposta do desafio, estou “experimentando” uma forma diferente de tecer os comentários: concisa, objetiva, sem firulas, e seguindo os aspectos de avaliação de acordo com a técnica literária desenvolvida pelo meu conterrâneo, o Analista de Bagé, a técnica do “joelhaço”:
. Escrita: Tresloucada;
. Enredo: Bicicleta descendo morro abaixo sem graxa nas correias;
. Adequação ao tema: Totalmente lelé das ideias, vai pro Top10;
. Emoção: Engasguei com a bala Soft.
. Criatividade: Claustrofóbica.
. Nota: Essa mesma que vc. imagina, convencido!
A leitura foi alucinante, como um trem sem freios! A linha foi como que o chão, os trilhos onde corre, dando a sensação de que iria descarrilhar a qualquer momento. As palavras que formam a frase, mesmo parecendo sem lógica, fazem conexão com os sentimentos do personagem. Assim nos é mostrado a loucura dele. Muito bom.
PONTOS POSITIVOS = Muito bom o seu trabalho! Confesso que fui meio que enlouquecendo junto com a leitura. Os sublinhados ultrapassaram sua função de ‘efeito’ (forma) no texto e foram me fazendo sentir como que enclausurado no meio delas; enclausurado entre as linhas. Entrelinhas no Entrecontos… (rs!) Me fez lembrar de um filme bem engraçado, com o Jack Nocholson, chamado “Melhor é impossível” (As Good as It Gets, de 1997, do diretor James L. Brooks). Se não assistiu, vale a pena. #ficadica!
PONTOS NEGATIVOS = Sabe que eu não encontrei nenhum…? Ia dizer que faltou um “experimentalismo” um pouco mais visível, mas seu trabalho faz O LEITOR experimentar. E experimentar nada menos, nada mais, do que a própria loucura de seu personagem. Loucura isso, não? (rs!) Rolou até elogio no campo destinado aos pontos negativos…
IMPRESSÕES PESSOAIS = Ri. Ri muito em algumas partes (como em: “Agora todos sabem quem é aquele babaca, que não usa cadarços, que odeia a atendente gostosa, que provavelmente sofre da coluna ou de hemorroidas porque tem cara de cu e não senta.”). Muito bom! Uma escrita ágil, dominadora e, ao mesmo tempo, forçosamente claustrofóbica; quase gerando sussurros na mente de quem vai lendo. E tal efeito aqui é conseguido devido ao ótimo domínio de pena que você demonstrou neste trabalho. Tem que ser fera para conseguir isso. E, além de fera, você não apenas criou (descreveu) muito bem uma fera mental como também quase a libertou, jogando-a na mente do leitor; invadindo seus pensamentos. As várias quebras narrativas de pessoa, muito bem pinceladas pelo texto, resultaram em um trabalho primoroso. Parabéns pelo seu dom! Ou loucura…
SUGESTÕES PERTINENTES = Sei lá… Tomar um lexotan, praticar ioga, virar vegano… Mas, seja o que for, continue escrevendo, Napoleão!
Boa sorte no tratamen… digo, Desafio! Parabéns!
Entrelinhas é, em sentido literal, o espaço entre duas linhas ou o que se escreve nesse espaço; em sentido figurado é aquilo que está implícito ou subentendido. No conto pareceu-me ter os dois significados: as linhas traçadas e um desabafo de uma pessoa, que de início tive a impressão que sofria de TOC, depois percebi que era um jogo de palavras (gostei do jogo com os vários sentidos da palavra “linha”) e metáforas para o seu desajustamento. Um conteúdo bastante pessimista, um texto bem escrito e estruturado.
Parabéns pelo trabalho, boa sorte no desafio. Abraço.
Eu já tive a oportunidade de conviver com a loucura, um ex-cunhado, na década de 1990. (Quando fui ameaçado de agressão com uma faca e no outro dia ser acordado com um afetuoso abraço de desculpas. De vê-lo arrancar a TV da tomada e atirá-la do 3º andar, sem antes, deixar de avisar para os de baixo, para sair de sua direção. E avisar que a estava jogando fora porque a TV havia ficado muda e não estava mais mostrando as feições; ou de acordar a todos na madrugada, desesperado, pois o Brasil estava sendo invadido por manadas de elefantes e rinocerontes africanos, estes vindos pelo mar, pelo céu, os selenitas em fuscas iluminados estavam invadindo o planeta mágico). Estes são os verdadeiros maluco beleza! Tão desesperado e tão ciente de suas clausuras existenciais. Os borbotões de não sentidos numa permanência constante do juízo que roda, que gira em torno do tudo e do nada. E tantas imagens dilaceradas. Ora numa linha reta, ora em redemoinhos. A visão clara das absurdas e contidas opressões. O devaneio das imagens e a plena realidade das coisas. O senso crítico mais do que aguçado, grita os horrores do real. Uma frase me chamou a atenção de tanta clarividência: são parentes, ou é o próprio? Pelo menos na fala são idênticos (Tem que manter isso, viu?) ks, ks, ks… Que os loucos me perdoem pela idiota comparação. Belíssimo trabalho.
Olá,
O texto é um fluxo de consciência que enreda o leitor nos meandros de pensamentos de um protagonista perturbado. Imagens fortes , tormentos também. Belas metáforas. Nosso mundo é um imenso tabuleiro de xadrez onde somos peças de engrenagens sofrendo com nossos defeitos, ou doenças. Muito bom. Boa sorte no desafio
Caro Jack
seu conto fala de um cara que vaga no mundo vivendo suas inconformidades. Nas entre linhas (entre os sublinhados), estão suas agonias. Legal isso.
Estou escrevendo após a segunda leitura, com horas entre uma e outra. Tomei fôlego e voltei.
Um cara como o reportado com certeza precisa correr sobre trilhos. Os sublinhados são os trilhos por onde transitam as inconformidades do personagem, apoiado neles, regrado, seguro.
Tudo é uma temeridade, inclusive as portas, que não são portas, mas iminentes guilhotinas que se abrem e fecham, que podem cortar, separar; tampouco o elevador, que é uma claustrofóbica caixa de aço – e por aí vai.
Difícil saber dessas coisas sem um dia tê-las vivido. Grande simulação.
Um tormento: tudo é grande, tudo é feio, tudo é efetivamente um problema. E nada melhor que um trilho por onde transitar, firme e seguro, cheio de garantias.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio.
Olá, Jack. Já li, mas comento depois. Sabe? Fiquei preocupada com alguns pormenores aí. Acho melhor conferir a minha sanidade.
Fui e voltei. Parece que sou saudável, pelo que pude constatar na pesquisa do google (serão essas pesquisas saudáveis?). Afinal, “de médico e louco, todos temos um pouco”. É. Há manias meio estranhas que se manifestam às vezes. Mas não tenho TOC, nem esquizofrenia, nem sou depressiva. Não me importo de tocar, não me horrorizam os germes e bactérias. Nada disso, apenas tristemente normal (perante isto é que vou entrar em depressão).
Estou a escrever e é verdade que “palavras formam linhas que se seguem, e quanto mais se escreve mais elas crescem e geram dúvidas”.
Um texto muito fora da caixa, que vai ao encontro do tema solicitado. Você percebe do assunto ou fez pesquisa sobre.
Gosto de ler sobre distúrbios mentais e raramente eles surgem, como aqui,na primeira pessoa.
Imagino que seja mais ou menos assim; em alguns casos, claro.
O ritmo está adequado e só percebi a razão do sublinhado quase a meio (às tantas sou é burra. Ou estaria pouco atenta?).
Cuide-se. Pode entrar no elevador e sentar-se onde quiser, somos imunes a quase tudo. Da próxima vez, converse com a moça, tenha filhos com ela, sejam felizes – ou infelizes, que importa?
O conto está muito bem montado e escrito. Atende ao desafio e é pertinente. Que mais posso dizer sem me perder em meus pensamentos?
Parabéns e boa sorte no desafio.
Olá, Jack, sua escrita, esse narrar a partir de um fluxo intenso e profundo de consciência me trouxe Joyce à lembrança. Bacana isto. Você me traz esse dia transtornado, obviamente, na vida de um homem envolvo em seus traumas, pavores e alucinações. Um homem abraçado pelo TOC, pelas raivas e pela sua imaginação alucinante. Gostei do que me apresentou. Algumas imagens ficaram muito boas e ressalto esta que, ao meu ver, representa bastante bem o pano de fundo da sua história, a morte: “Sacolejo, sacolé, bala de tamarindo, soft, perdida e encontrada. Bala que na mesma noite que dá onda, que dá marola, também tira a linha da palma da mão.” E por falar na dona da foice, que de tão comum deixou de ser surpreendente aqui no nosso Rio (tenho a impressão de que você seja daqui, Jack), considerei bem legal que tenha feito esse elogio a ela chamando-a de “eminente” e, sutilmente, brincando com a sua proximidade iminente. Afinal, a partir da loucura do seu personagem, seu conto todo pode ser visto a partir da metáfora dela, desse despencar no tabuleiro de xadrez, para ser guardado em jazigos que são “absolutamente todos, presentes e paralelos”. Parabéns pelo seu belo conto, tem muita coisa a ser explorada nele, mas paro por aqui, até para que não te gere cansaço e acabe por transferir para mim a raiva que sente da recepcionista. meu abraço de parabéns.