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Detox Literário.

Dona Nina – Conto (Paulo Luís Ferreira)

Dona Nina foi dar com o presidente desse nosso país. Suas dificuldades não foram às burocráticas. Pois ela fora incisiva em sua missiva. — visto que, o presidente fora deveras persuadido e um tanto aconselhado, por toda assessoria, a recebê-la sem percalços. — Seria bom para sua imagem receber uma retirante nordestina. Além do que ela era gorda de fome. — E por esta sua dificuldade, dona Nina não passava pela porta do gabinete presidencial. Esta cena foi muito fotografada. Os jornais do dia seguinte estamparam, com foto, a manchete:

MULHER GORDA DE FOME ENTALA NA PORTA DA PRESIDÊNCIA

Logo que passou com esforço sobre-humano, pela estreita porta, dona Nina exclamou: — Desculpe-me senhor presidente, isto não é apenas uma questão de fome nordestina, é de saúde, educação, trabalho e não esquecimento. São “Vidas Secas”, “Porque gado agente marca, mas com gente é diferente”.

O presidente sem medir esforços, sem ao menos pestanejar, imediatamente pediu ao seu assessor direto, que preparasse um sanduíche de peito de peru com Coca-Cola. Adrede.

E mexeu e remexeu em papéis e memorandos, em mapas e atas esquecidos na gaveta. Tomou do telefone, olhou no relógio. Eram 10 para as 3 horas da tarde. Estava meio desnorteado com aquela presença gorda. Indeciso, olhou para dona Nina de soslaio. Deu um muxoxo. — e resmungou para si —. Mequetrefe!

Dona Nina, na espera de uma grande decisão, comia a grandes bocadas, e goladas de coca-choca. Tossindo vez por outra. E sempre.

O presidente num súbito ficou de pé atrás de seu Bureau. Levou uma folha de papel próximo aos óculos e leu sobre a terra, o barro rachado e a seca do sertão, do agreste. Falou do Padre Padinho Ciço. — de quem dona Nina era devota. — era nele que ela mais acreditava. Mas, que, por via das dúvidas, fora falar com o presidente.

E o presidente prometeu soluções, melhorias e demais ajudas. Garantiu terra para os “cabras” da terra; escola para os analfabetos; saúde para os doentes; comida e diversão. — em outras palavras: cartilha, aspirina, pão e circo. — após este pequeno discurso o presidente sentou-se.

Dona Nina limpou as migalhas de sanduíche da saia; tomou o último gole de cola, quando foi gentilmente convidada a se retirar. A sessão havia terminado. Que não se preocupasse que as providências seriam tomadas. Sendo arrastada pelos braços, dona Nina desesperada, deixou para trás as migalhas de pão. Artólatra que era, deu-lhe dó, queria mais. Eram dela os sobejos. Era de direito. Mas o último repuxão em seu braço arrancou-lhe para fora definitivamente. Nesse instante, na sala forrada de carpete verde e cortinas amarelas, entrou pela janela aberta uma lufada de vento, agitando a pequena bandeira cheia de estrelas e ordens e progressos, que observara tudo da escrivaninha presidencial.

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3 comentários em “Dona Nina – Conto (Paulo Luís Ferreira)

  1. Paulo Luís Ferreira
    1 de fevereiro de 2018

    Olá, Fil!
    Mais uma vez grato pela leitura de meu texto e a boa análise. De fato, você não é o primeiro a reclamar os tantos travessões. Me pareceu até mesmo uma coisa infantil, pois foi recentemente que descobri como usar o travessão pelo word. Então acho que fiquei tão entusiasmado pela descoberta do funcionamento da roda; me empolguei e deu nisso. Grato!

  2. Fil Felix
    25 de janeiro de 2018

    Olá, Paulo! Achei o conto bastante alegórico e caricato, colocando a figura “gorda de fome” (também gostei do termo) de frente com o Presidente, trabalhando a questão da miséria, das injustiças, das falsas promessas e círculos viciosos, com essa cena rolando por todo o pais, sempre e sempre. Em relação ao seu outro texto (do Boi), achei a linguagem meio estranha, com os pontos e travessões, além da fala mais rebuscada, pouco fluida. Talvez o diálogo tenha ficado muito estereotipado, com a Gorda indo e vindo sem, de fato, ter agido de maneira diferente.

  3. Regina Lopes Maciel
    11 de janeiro de 2018

    Olá Paulo, tudo bem?
    Gostei aqui no texto da expressão “gorda de fome” e gorda das outras misérias do brasileiro. Mas no geral achei o texto fraco, não gerou muito interesse. Também há problemas com o português, que vale a pena rever: você usa muito o ponto e travessão/ travessão ponto (que não faz sentido), lugares que pedem vírgula você coloca ponto final, e algumas frases que podem ser melhoradas.
    Um abraço,
    Regina

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Publicado às 10 de janeiro de 2018 por em Contos Off-Desafio e marcado .
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