Dona Nina foi dar com o presidente desse nosso país. Suas dificuldades não foram às burocráticas. Pois ela fora incisiva em sua missiva. — visto que, o presidente fora deveras persuadido e um tanto aconselhado, por toda assessoria, a recebê-la sem percalços. — Seria bom para sua imagem receber uma retirante nordestina. Além do que ela era gorda de fome. — E por esta sua dificuldade, dona Nina não passava pela porta do gabinete presidencial. Esta cena foi muito fotografada. Os jornais do dia seguinte estamparam, com foto, a manchete:
MULHER GORDA DE FOME ENTALA NA PORTA DA PRESIDÊNCIA
Logo que passou com esforço sobre-humano, pela estreita porta, dona Nina exclamou: — Desculpe-me senhor presidente, isto não é apenas uma questão de fome nordestina, é de saúde, educação, trabalho e não esquecimento. São “Vidas Secas”, “Porque gado agente marca, mas com gente é diferente”.
O presidente sem medir esforços, sem ao menos pestanejar, imediatamente pediu ao seu assessor direto, que preparasse um sanduíche de peito de peru com Coca-Cola. Adrede.
E mexeu e remexeu em papéis e memorandos, em mapas e atas esquecidos na gaveta. Tomou do telefone, olhou no relógio. Eram 10 para as 3 horas da tarde. Estava meio desnorteado com aquela presença gorda. Indeciso, olhou para dona Nina de soslaio. Deu um muxoxo. — e resmungou para si —. Mequetrefe!
Dona Nina, na espera de uma grande decisão, comia a grandes bocadas, e goladas de coca-choca. Tossindo vez por outra. E sempre.
O presidente num súbito ficou de pé atrás de seu Bureau. Levou uma folha de papel próximo aos óculos e leu sobre a terra, o barro rachado e a seca do sertão, do agreste. Falou do Padre Padinho Ciço. — de quem dona Nina era devota. — era nele que ela mais acreditava. Mas, que, por via das dúvidas, fora falar com o presidente.
E o presidente prometeu soluções, melhorias e demais ajudas. Garantiu terra para os “cabras” da terra; escola para os analfabetos; saúde para os doentes; comida e diversão. — em outras palavras: cartilha, aspirina, pão e circo. — após este pequeno discurso o presidente sentou-se.
Dona Nina limpou as migalhas de sanduíche da saia; tomou o último gole de cola, quando foi gentilmente convidada a se retirar. A sessão havia terminado. Que não se preocupasse que as providências seriam tomadas. Sendo arrastada pelos braços, dona Nina desesperada, deixou para trás as migalhas de pão. Artólatra que era, deu-lhe dó, queria mais. Eram dela os sobejos. Era de direito. Mas o último repuxão em seu braço arrancou-lhe para fora definitivamente. Nesse instante, na sala forrada de carpete verde e cortinas amarelas, entrou pela janela aberta uma lufada de vento, agitando a pequena bandeira cheia de estrelas e ordens e progressos, que observara tudo da escrivaninha presidencial.
Olá, Fil!
Mais uma vez grato pela leitura de meu texto e a boa análise. De fato, você não é o primeiro a reclamar os tantos travessões. Me pareceu até mesmo uma coisa infantil, pois foi recentemente que descobri como usar o travessão pelo word. Então acho que fiquei tão entusiasmado pela descoberta do funcionamento da roda; me empolguei e deu nisso. Grato!
Olá, Paulo! Achei o conto bastante alegórico e caricato, colocando a figura “gorda de fome” (também gostei do termo) de frente com o Presidente, trabalhando a questão da miséria, das injustiças, das falsas promessas e círculos viciosos, com essa cena rolando por todo o pais, sempre e sempre. Em relação ao seu outro texto (do Boi), achei a linguagem meio estranha, com os pontos e travessões, além da fala mais rebuscada, pouco fluida. Talvez o diálogo tenha ficado muito estereotipado, com a Gorda indo e vindo sem, de fato, ter agido de maneira diferente.
Olá Paulo, tudo bem?
Gostei aqui no texto da expressão “gorda de fome” e gorda das outras misérias do brasileiro. Mas no geral achei o texto fraco, não gerou muito interesse. Também há problemas com o português, que vale a pena rever: você usa muito o ponto e travessão/ travessão ponto (que não faz sentido), lugares que pedem vírgula você coloca ponto final, e algumas frases que podem ser melhoradas.
Um abraço,
Regina