Tinha sete ou oito anos na época. Lembrava-se de ter visto um ipê florido, pela janela do carro do pai, enquanto regressavam do hospital. Era uma árvore linda, isolada no horizonte, os galhos avançando contra o azul do céu num leque de amarelo intenso, uma mágica efêmera e fugidia. Como a vida.
A mãe partira naquela manhã, mas a menina, negando-se a pensar no assunto, preferiu se refugiar em seu quarto. Tirou o caderno da cômoda e escreveu pequenos versos sobre a árvore colorida que tinha visto. Em suas rimas, o ipê conseguia sair de onde estava e logo se deparava com outros, iguaizinhos a ele. Um final feliz, ao menos naquelas linhas.
Dias depois, no caminho da escola, viu-se surpreendida por uma fileira daquelas árvores, as flores amarelas em profusão dobrando os galhos sobre a calçada. Uma cena surreal e improvável. A menina segurou com força a mão do pai. Sabia, no fundo, que os ipês os protegeriam. Porque eram especiais.
***
Virginia dirigiu-se à janela e observou o edifício diante do seu. Contou os andares com os olhos até chegar ao quarto pavimento. Sim, ali. O apartamento da direita, com a cortina aberta. Estava tudo bem.
Certificou-se de que a própria cortina estava também recolhida, como combinado. Satisfeita, retornou à sala e caminhou lentamente até o balcão que havia ao lado da mesa. Abaixou-se com dificuldade e deslizou a portinhola, apanhando um caderno e algumas canetas que ali costumava deixar.
Em pé, conferiu as últimas anotações, admirando sem querer a própria caligrafia. Gostava da maneira como traçava as palavras, as letras se combinando num todo fluido, agradável aos olhos. Enfim, sentou-se à mesa de jantar, afastando um pequeno vaso de flores, liberando espaço para o caderno já aberto. Com as canetas dispostas em paralelo, apontando para a frente, leu de soslaio as últimas folhas, um poema de trinta versos sobre renúncias e coragem.
Sem querer, voltou-se para o balcão ao lado e passou a vista pelos porta retratos organizados obliquamente, liberando recordações a perambular pelo apartamento de que, há tempos, era a única remanescente.
Memórias. Era a isso que se dedicava, toda manhã, preenchendo cadernos com versos sem fim, para ninguém ler. Resgatava seus melhores dias, quando tudo era envolvido pelo frescor da novidade, pelas descobertas, pela confiança que tinha em si, pelos receios que escondia, pelos desejos que dominava, pelo pai, pelo marido, pelos amigos, pela sensação de infinitude.
***
“Na juventude eu enxergava a vida que nem um oceano “, disse a Teresinha, no refeitório do condomínio. “Só para perceber que hoje, aos noventa, aquela água toda era só um riacho…”
“Muita gente se afoga ainda assim, né?”, disse a amiga, levando o garfo à boca, a mão trêmula derrubando grãos de arroz no prato. Tinha os cabelos brancos e encaracolados, emoldurando um rosto quadrado e agradável.
Ficaram sem falar nada por alguns instantes, ouvindo o tilintar dos talheres e pratos dos demais presentes, gente que se movia em câmera lenta, quase sempre arrastando os pés.
“Encontraram um morador do meu bloco hoje de manhã” disse Teresinha. “Eu bem que tinha sentido o cheiro”.
“Conhecia quem era?”
“Não… Você sabe como é… O pessoal por aqui não gosta de se misturar.”
“É… Mas a gente, que não tem mais ninguém na vida, precisa se ajudar. Não dá para se isolar.”
“Falei com um rapaz da ambulância. Ele disse que o homem, não sei o nome dele, tinha morrido há pelo menos uma semana…
“Que coisa horrível!”
“Não pior do que aquele outro que acharam depois de seis meses, lembra? Só tinha osso!”
“Deus me livre!”
Virginia terminou de comer em silêncio e em seguida cruzou os talheres sobre o prato.
“Já acabou? Quer pudim?”, perguntou Teresinha, a expressão faceira de quem propõe uma transgressão irresistível.
“Pudim de quê?”, devolveu Virginia, num sussurro cúmplice.
“Ah, pudim, né? De coco, ou de leite condensado, não sei… Tem que ver lá.”
“Ah, eu quero. Você traz para mim?”
“Trago, claro…”
Teresinha levantou-se e caminhou até a linha de servir. Era mais nova do que Virginia, uns cinco anos talvez. Mais ágil, mais forte. Nem parecia sofrer de diabetes. Àquela altura da vida, aliás, quem se importava com isso?
“Obrigada!”, disse Virginia fazendo uma mesura com a cabeça, os olhos faiscantes demandando atenção.
Teresinha sentou-se e prosseguiu com a conversa.
“Ainda bem que temos uma a outra. Não quero terminar sozinha, me desfazendo…”
“Não se preocupe. Temos nosso combinado. Nosso sinal, nossas cortinas”, disse Virginia, piscando um olho, equilibrando um pedaço de pudim na colher.
***
À tarde, Virgínia desceu à praça do condomínio, onde algumas árvores se opunham resolutamente ao inverno, as folhas secas que ainda sobreviviam balançando com a brisa. Acomodou-se em um banco de madeira e absorveu o cenário, deixando o fluxo de consciência se dissolver.
No colo, seu livro favorito, “Um rio ao amanhecer”, de uma autora chamada Manuela Rossi. Perdera a conta de quantas vezes lera aquele romance, embora não concordasse com o final melancólico. Talvez repetisse a leitura na esperança de que, por mágica, tudo mudasse e a protagonista finalmente encontrasse a filha desaparecida.
Sem aviso, veio-lhe à mente a imagem de um ipê amarelo. Há quanto tempo não encontrava uma daquelas árvores? Súbito, viu a si mesma numa floresta delas, feliz, cercada pelas flores douradas. Caminhava por ali descalça, de braços dados com o marido, acalentada, protegida pela presença dele.
“A felicidade é uma miragem que se desfaz num sopro”, ouviu a si mesma dizer, um sussurro de realidade rompendo-lhe o devaneio. Aquela sensação que cultivava desde a tenra idade… O medo de se sentir contente. O afago na alma era sempre interrompido abruptamente, um rio cuja imersão lhe era tolhida.
Levantou-se com dificuldade e voltou ao apartamento. Leria seu livro ao lado do criado mudo, onde repousava uma foto de Antônio, seu marido, jovem e com a vida toda pela frente.
Não conseguiu ler, na verdade.
Decidiu que iria escrever. Sim, um poema sobre o ipê que havia surgido em sua memória, aquele que, agora se recordava com maior nitidez, lhe fizera conceber um pequeno verso, ainda criança.
Com os olhos cerrados, permitiu à mente vagar, revivendo aqueles dias. A lembrança da mãe, que partira tão cedo, substituída pela imagem reconfortante daquele túnel de árvores amarelas que havia surgido – ela acreditava com sincera inocência – graças ao desejo embutido em suas rimas infantis.
Não sem certa amargura, viu-se chegando à surrada constatação de que os tesouros da infância são facilmente esquecidos. Como se a maturidade trouxesse um efeito colateral imperceptível, uma amnésia liberada em gotas, ano a ano, apagando as memórias mais cândidas.
O estranho, agora percebia, era como, a partir de certo ponto, essa névoa espessa de esquecimento parecia abrir-se, permitindo que antigas reminiscências ressurgissem tão intensas que pareciam ter ocorrido ainda ontem.
Sim, um poema sobre o ipê. O ipê amarelo.
***
Caminhava lentamente com Teresinha pela pequena trilha que serpenteava o condomínio. Sobreviver aos amigos, aos parentes e ao marido, era uma provação amarga demais. Contudo, construir uma amizade verdadeira, numa fase tão avançada da vida demonstrava que havia também espaço para boas surpresas.
“Nunca vi neve”, disse Teresinha, o olhar perdido no horizonte. “Apesar de todo esse frio que faz por aqui.”
“Eu só vi uma vez, quando fiz uma viagem com Antônio lá para os campos…”
“Ai, que inveja… Deve ser tão lindo…”
Se as amizades mais sinceras são aquelas que construímos na infância, porque não há interesses secundários, porque não há segundas intenções, o mesmo vale para a velhice. Um amigo velho é tão bom quanto um velho amigo. Repartir os medos, as frustrações, as recordações, quando já não há muito espaço para o futuro, é um privilégio para poucos.
“Meu marido gostava muito de viajar”, disse Virgínia, com um nó de saudade na garganta.
“Você prometeu que me deixaria ler suas poesias”, respondeu Teresinha. “Essas, de amor, devem ser as mais bonitas.”
“Um amor que não teve final feliz…”
“Como não? Você diz… Por que ele morreu cedo?”
“Sim… Ele, meus pais… Todo mundo se foi muito cedo. Já cansei de contar essas histórias…”
“Ora, você amou. Casou-se com o seu amor. Foi querida, desejada… Experimentou a maior sensação que alguém pode ter!”
“Do jeito que tudo terminou, não tenho tanta certeza… Ficar assim, sozinha…”
“Olhe para mim, Virginia. Eu nunca amei ninguém… Fui obrigada a me casar com um homem vinte anos mais velho, para satisfazer os interesses do meu pai…”
“Estou quase dizendo que você tem sorte… Pelo menos não sofreu, né?”
“Você não sabe o que está falando… Se fosse assim você não teria esse desejo, essa necessidade de reviver tudo pelos seus escritos.”
“Isso não tem nada a ver… No final, Teresinha, a gente está na mesma situação.”
“Não, não estamos. Nunca estivemos. Você viveu. Eu só existi. Só agora descobri o que é ter uma amiga verdadeira. Pena que foi tão tarde.”
***
Pela manhã, ao abrir a janela, Virginia foi surpreendida pelas árvores. Os galhos, carregados de flores amarelas, contrastavam dramaticamente com o céu azul. Eram ipês, e mesmo naquele inverno rigoroso, floresciam desafiadores, como que atendendo o desejo expresso no poema que havia escrito. Como oitenta anos antes. Uma coincidência e tanto!
Pensou em Teresinha na mesma hora. Só então reparou que a amiga não havia aberto a cortina. Uma sombra cruzou-lhe o rosto. Não… Não… Apanhou o telefone e ligou para a amiga, na esperança de que ela apenas tivesse se esquecido, a chamada emitindo os sons constantes, insistentes, sem resposta, até emudecer.
Não tardou até que os bombeiros chegassem. Dava para ver da janela. Retiraram o corpo do prédio, coberto por um lençol, e o colocaram numa ambulância para nunca mais voltar. Sem notícias, sem repercussão, sem explicações.
Lembrou-se do pai, lembrou-se de Antônio… Até mesmo a imagem da mãe surgiu-lhe na mente. Agora era a vez de Teresinha, sua última amiga, sua única amiga nos últimos dez anos.
À noite, reprimindo a tristeza, negando-se a sentir pena de si mesma, decidiu escrever. Seu ímpeto era conceber uma ode ao companheirismo, mas sentiu que não seria capaz.
Teve uma ideia: um poema sobre as cores, sobre a natureza, as árvores, as plantas e suas tonalidades. E sobre a neve, claro, porque Teresinha nunca vira neve. Sim, dez versos decantando anseios multicromáticos e, enfim, derramando-se em serenidade, branca, pacífica, tranquilizadora.
***
As notícias na TV, antes mesmo do alvorecer, eram de espanto. Há mais de cem anos não havia neve naquela região. Agora, tudo havia sido tomado por um lençol branco, liso, perfeito.
Virginia prendeu os lábios em espanto. Era só coincidência, claro.
Mesmo assim, pensou que talvez, só talvez, seu poder de menina fosse real.
Riu consigo mesma. Era bom pensar nisso. Ao menos lhe trazia conforto. Uma pena que Teresinha não estivesse ali… Ou o pai. Ou Antônio. O que o marido diria se soubesse de seu poder? Um sorriso enorme iluminaria seu rosto. Em seguida ele caçoaria: “Aproveite para arrumar o mundo, minha prenda!”
Vestiu um casaco pesado e enrolou um cachecol de lã no pescoço. Apanhou uma almofada e seu livro de cabeceira. Em seguida, desceu à praça do condomínio, sentando-se no banco de madeira que havia no centro. Acompanhou sem pressa o nascer do sol, a mudança de cores trazida pelos primeiros raios, os tons se alternando de lilás a vermelho, a laranja, a amarelo… E sim, tudo tomado pela neve. Cerrou as pálpebras e respirou fundo, o ar gelado tomando-lhe os pulmões, revigorante.
Talvez, só talvez…
Da praça, Virginia observou o apartamento de Teresinha. Provavelmente alguém ocuparia o imóvel brevemente. Ou não. Pouco importava agora.
Admirou o ipê, logo à frente. As primeiras flores começavam a se precipitar.
Uma brecha na névoa de sua memória a fez recordar que seu poder, na verdade, tinha a mesma duração da florada. E mais: uma coisa de cada vez. Era essa a mágica. Quase podia ver sua versão menina fazendo o alerta, explicando a Antônio que não dava para consertar o mundo.
***
Dirigiu-se à janela do apartamento outra vez. Olhou novamente para o ipê lá em baixo, que balançava com o vento, agora com menos folhas, e depois, para o apartamento de Teresinha, porque estava acostumada a isso. Ou talvez porque quisesse muito contar a ela o que estava acontecendo.
Coincidências. Só coincidências. No máximo, pensou, funciona com fenômenos da natureza. Uma árvore, uma nevasca… Não dá para reescrever o que já aconteceu. Não dá.
No fundo, não queria acreditar. Não podia se imaginar consertando a própria vida, conquistando a felicidade. O velho medo de ser feliz…
Sentou-se no sofá e abriu “Um rio ao amanhecer”. Precisava se distrair, recuperar a compostura, manter os pés no chão.
Depois de algumas páginas, sucumbindo à voz insistente, fechou o livro e caminhou até a mesa da sala, abrindo seu caderno. Para dar vazão àquela voz que insistia a ela para colocar-se à prova, escreveria um final diferente para o romance, com todo respeito a Manuela Rossi. Um poema que salvaria a protagonista de seu destino inglório.
Ou que atestaria, para seu alívio, que ipê, neve, poemas, desejos e poderes, tudo se resumia a coincidências, manifestações tardias de seus anseios de criança, o ciclo da vida se fechando.
***
Na manhã seguinte, uma vez mais foi até a janela do apartamento e olhou o ipê. Havia poucas flores àquela altura. Em verdade sentiu certo alívio.
Dirigiu-se à estante da sala, onde havia deixado o livro na noite anterior. As mãos trêmulas viraram as páginas. Conhecia os parágrafos de cor. Lentamente, ia recitando as passagens, os lábios se movendo qual prece muda. O capítulo final, ali estava por fim, completamente diferente daquele a que se acostumara. A prosa era seguramente de Manuela Rossi, mas agora, a protagonista encontrava o filho depois de quinhentas páginas de infortúnios.
Virginia recolocou o livro na estante.
O poder… Era real.
Sentou-se no sofá, ao lado da mesa em que Antônio, jovem, a observava de um porta-retrato. Liberou os próprios devaneios. Quantas possibilidades tinha diante de si… Reescrever a vida, conferir a si mesma um novo passado, refletindo num novo futuro. A mãe nunca morrera de câncer, tivera uma vida longa ao lado do pai. Não… Não dava… Como conheceria Antônio desse jeito… Se o pai não fosse viúvo jamais teriam se mudado. Ah, Antônio, Antônio… E se ele não tivesse entrado naquele ônibus, se aquele caminhão não tivesse avançado o sinal vermelho? Como seria acordar no dia seguinte e perceber que a vida fora outra, com o marido ainda ao seu lado? Teriam filhos? Netos? Bisnetos? Uma família grande? Seria possível ter a sensação de plenitude, inclusive as memórias de algo que nunca se viveu? Seria… Feliz?
***
Pela manhã, o ipê estava seco. A beleza fugaz desaparecida. Virginia não se importou. Da janela observou o prédio da frente. No quarto andar a cortina estava aberta. Desceu para o pátio do condomínio e encontrou Teresinha, para a caminhada matinal. De braços dados, tomaram a trilha estreita que serpenteava a propriedade.
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Texto atualizado em 31/12/2017
Uma beleza de conto, meu amigo Gustavo! Parabéns!
A história está muito bem redigida e o leitor vai sendo levado pela mão ao longo de cada linha, como se caminhasse pelo pátio de braços dados com uma amiga.
Muito bonito e tocante.
Confesso que tenho sentimentos duplos quanto a esse aspecto da vida. Ao mesmo tempo em que essa fase da vida parece trazer paz (na minha concepção, claro: contas pagas, sem necessidade de trabalhar, tempo para ler e aproveitar as pequenas coisas da vida), a parte da solidão é uma sombra que pode roubar o alívio e a tranquilidade de todas as oportunidades dessa época.
Um ótimo trabalho! Parabéns mais uma vez!
Um abraço!
Obrigado pelo comentário, Thiago! Sem dúvida é uma fase desafiante. Espero que cheguemos lá para trocarmos impressões, meu amigo. De repente, à sombra de um desses ipês fantásticos que costumam florescer aqui no Planalto Central. Grande abraço e ótimo 2018!
Gostei bastante desse conto, como seu título combina com a sensação de acaso e coincidência que a protagonista imagina. A narrativa é muito tranquila, gostosa de ler, porém cheia de detalhes. Gosto muito dessa coisa de apartamentos, inclusive já fiz vários contos pros desafios nesse formato, acabei me identificando em alguns pontos com a Virgínia. Como seu livro de cabeceira, que ela sempre se dobra quando tá mais sentimental, que pra mim é o livro As Horas (que até tem personagem/ autor Virgínia, a Woolf). Passamos pelas mesmas coisas. Gostei que não deixou em aberto o final, colocando as opções pra ela, que preferiu manter sua história, porém ressuscitando a velha amiga, algo mais recente. Em relação às mortes, minha mãe já trabalhou numa espécie de asilo/ clínica de freiras e é assim mesmo. As pessoas se acostumam com ela, alguém morre e só cobre e espera chegar outro alguém pra buscar. É meio perturbador, mas também natural de se ver.
=====TRAMA=====
Nota máxima. Que conto. Que conto!!
Uma leitura sensacional. Foi muito gostoso acompanhar a tragetória de Virginia. Uma breve narração da infância para logo pularmos para a sua velhice, quando ela finalmente descobre o seu poder. Isso, em meio a uma nova amizade em uma época improvável, e um mar de lembranças de uma vida bem vivida, apesar dos sofrimentos e arrependimentos.
E só então ela descobre o seu poder!
Foi muito diferente ler um conto assim por esta “lente”. Ao invés de se dar conta do seu poder na sua mocidade, onde provavelmente o usaria com certo ímpeto, Virginia descobre o seu poder no final da vida, cheia de sabedoria. Então o ímpeto toma a sua alma e ela deseja tudo mudar mas… quando pára e pensa… percebe que não quer mudar nada. A unica coisa que quer é a sua amiga de volta, para continuar remoendo e relembrando o passado.
Sensacional. Palmas. Parabéns!
=====TÉCNICA=====
Perfeita. Uma verdadeira lição de escrita. A ambientação é um mergulho na vida de Virginia. Senti-me um senhor de idade acompanhando os passos vacilantes dela pelo condomínio.
Uma leitura agradável, cheia de valor literário e, ainda assim, muito acessível. Parabéns mesmo. Destaco dois trechos que me figaram de imediato:
“Não sem certa amargura, viu-se chegando à surrada constatação de que os tesouros da infância são facilmente esquecidos. Como se a maturidade trouxesse um efeito colateral imperceptível, uma amnésia liberada em gotas, ano a ano, apagando as memórias mais cândidas.”
“Se as amizades mais sinceras são aquelas que construímos na infância, porque não há interesses secundários, porque não há segundas intenções, o mesmo vale para a velhice. Um amigo velho é tão bom quanto um velho amigo.”
Olá, Virgínia,
1- Tema: Se adequa perfeitamente nos parâmetros do desafio.
2- Gramática: Um texto brilhante. Lírico, mas munido de simplicidade. Poético e contido. Não encontrei qualquer erro digno de nota.
3- Estilo –Um conto que nos faz mergulhar nos sentimentos da protagonista. A história é contada de forma lenta e, quase arrastada, mas pode se relacionar com a própria velhice da ´protagonista, que já não tem a mesma disposição da juventude. Belas palavras são colocadas de forma simples e efetiva, demostrando excelente domínio do lirismo, sem tornar o conto prepotente.
4- Roteiro; Narrativa – A história acompanha a vida de alguém que só descobre seus poderes realmente no final da vida. É bonito acompanhar a amizade das duas velhinhas e triste lembrar das perdas da protagonista. A narrativa é muito imersiva e verossimilhante. Não gostei muito da decisão final, pois, a protagonista acabou se mostrando egoísta ao não ressuscitar pessoas que pudessem mudar sua vida, mas ressuscitar a amiga para que pudesse sanar sua falta. Ressuscitar os mortos não costuma ser uma atitude heróica. Mas ainda assim, conclui bem a saga e fecha o arco do desenvolvimento do poder.
Muito bom.
Grande abraço!
Responder
41. Versos do Ocaso (Virginia Lobo):
Gostei muito desse conto, tanta no PREMISSA quanto na TÉCNICA, e com muito pouco a sugerir como APRIMORAMENTO. Então, vou só jogar confete: a construção do símbolo do ipê amarelo (por coincidência, as árvores da minha rua de infância), as consequências da decisão do uso do poder, a construção das personagens, do clima do asilo, tudo. Se é para apontar algo, que muito pouco me atrapalhou, foram os diálogos entra aspas. Mas não comprometem o conto de maneira alguma. Parabéns!
Versos do Ocaso
Olá, Virginia. Tudo bem? Desejo que esteja a viver um excelente período de festas.
Começo por lhe apresentar a minha definição de conto: como lhe advém do próprio nome, em primeiro lugar um conto, conta, conta uma história, um momento, o que seja, mas destina-se a entreter e, eventualmente, a fazer pensar – ou não, pode ser simples entretenimento, não pode é ser outra coisa que não algo que conta.
De igual forma deve prender a atenção, interessar, ser claro e agradar ao receptor. Este último factor é extremamente relativo na escrita; contrariamente à oralidade, em que podemos adequar ao ouvinte, ao escrever vamos ser lidos por pessoas que gostam e por outras que não gostam.
Então, tentarei não levar em conta o aspecto de me agradar ou não.
Ainda, para este desafio, e porque no Entrecontos se trata disso mesmo, considero além do já referido, a adequação ao tema e também, porque estamos a ser avaliados por colegas e entre iguais e que por isso mesmo são muito mais exigentes do que enquanto apenas simples leitores que todos somos, o respeito demonstrado pelo autor para com os restantes, fazendo uma revisão mínima do seu trabalho.
A nota final procurará espelhar a minha percepção de todos os factores que nomeei.
…
Gostei muito do seu conto. Um conto onde o poder reside na poesia. Há coisa mais poética?
Você trabalhou as palavras e as emoções com grande sabedoria e conseguiu ser poética em cada linha sem usar os recursos linguísticos próprios da poesia. É de mestre! Tendo lido já tantos contos neste desafio com essa pretensão, gostei de encontrar um que verdadeiramente o é, mantendo-se na linguagem da prosa. Gostei e admirei – tudo.
Espero que já sejamos amigas/os, se ainda não for o caso, quero ser sua amiga no final do desafio. Espero que aceite. Como muito bem diz: “Um amigo velho é tão bom quanto um velho amigo”. Você sabe escrever muito bem e revela grande sabedoria. Parabéns e boa sorte no desafio.
Feliz 2018!
# Versos do Ocaso (Virginia Lobo)
📜 Trama (⭐⭐⭐⭐▫):
– lenta no início, demora um bocado para engrenar; a cena inicial fica pedida por bastante tempo e o dia a dia das amigas idosas, mesmo que gostoso de ler, acabou ocupando muito espaço
– a trama acelera e sobe de nível quando Teresinha morre e Virgínia finamente descobre o poder que a gente imaginava que ela tinha: fazer com que suas poesias se tornem reais; aqui cabe um questionamento: ela nunca mais escreveu? Por que demorou tanto para descobrir?
– à partir daí, o conto fica fabuloso, com ela questionando as diversas possibilidades do poder dela
– o fim (ah, que fim!) encerrou muito bem com ela optando pela solução mais simples e bonita: reviver sua melhor amiga
📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫):
– agora entendi porque estão dando esse conto para o Gustavo; se não for dele, é de alguém com a mesma capacidade de criar cenas quotidianas, vívidas e emocionantes
– independente de ser ou não o Gustavo, parabéns!
– só descontei uma estrela pelos excessos antes de chegar ao grande conflito (em romances, essas cenas longas são muito boas, mas contos costumam exigir menos gorduras)
– Na juventude *vírgula* eu enxergava a vida
– A felicidade é uma miragem que se desfaz *um* (num) sopro (aliás, que frase linda!)
💡 Criatividade (⭐⭐▫):
– esse poder de dar vida ao que se escreve é comum, mas as ótimas personagens tornaram o conto original
🎯 Tema (⭐⭐):
– está adequado (✔)
🎭 Impacto (⭐⭐⭐⭐⭐):
– preciso confessar que passei a maior parte do conto achando que não ia gostar dele: estava lento, arrastado, achei que viria um dramalhão de velhinhos (que, depois de crianças e cachorros, figura no top 3 da sofrência)
– a morte de Teresinha foi triste e bem executada, mas ainda estava enquadrando na sofrência
– quando o poder surgiu (com a neve), eu me empolguei bastante, mas ainda com medo do fim não ser satisfatório
– a escolha e dúvida do que fazer, do que mudar, ficou muito boa, crível, real
– a última cena, a escolha por ressuscitar Teresinha, sua última amiga foi muito bonita; afinal, ela era a personagem que a gente conhecida, gostava e tinha comprado
– nessa última cena, meus pelos se arrepiaram e isso é um dos maiores impactos que um conto pode ter; mais uma vez, parabéns!
Olá, Virgínia.
Um conto muito belo, sobre amizade, perdas e velhice. As duas amigas ficaram bem desenvolvidas e a escrita é deliciosa. Os diálogos também ficaram bons, com algumas frases doloridas, “Você viveu. Eu só existi.”.
Algumas imagens como a do ipê florido ou da neve deram ao conto uma característica que gosto muito num texto: a capacidade de fazer o leitor visualizar as cenas com “o olho da mente”.
Não notei nada a revisar. Gostei bastante do texto!
Parabéns e boa sorte no desafio!
Olá, Virgínia, você vai me contando, lentamente, como os passos dos idosos que se arrastam em seus chinelos, o ocaso da nossa existência (teria preferido aqui usar o termo humanidade, mas acho que geraria ambiguidades, porque haveria de ser visto no sentido mais amplo). Ficou bacana o seu conto e a maneira de ir bem devagar só reforçou este meu sentimento de caminhar rumo à finitude. Achei que o final ficou perfeito desse jeito mais aberto, com as duas amigas caminhando para a eternidade. Você soube me conduzir pelo seu texto e me trouxe a beleza da vida, dos ipês, da neve nunca vista (ou mesmo por uma única vez). A vida que de tão bela se faz triste, uma porque logo perdeu o marido e a outra porque jamais amara. Bem, é isto. Parabéns pelo seu lindo conto. Abraços.
Oi, Virgínia
Boa noite, tudo bem?
Versos do ocaso, um conto filosófico, em que as metáforas e possibilidades muito criativas narradas pela protagonista fazem refletir, supor, sonhar, engrandecer o desejo de continuar a leitura.
Achei doce e triste, creio que a parte mais difícil de envelhecer seja lidar com as recordações….deve até doer. Já dói em mim, que tenho menos da metade de Virgínia, imagino aos noventa.
Pois bem, a idosa relembra, pelo que entendi, que tem o poder de mudar o passado através da escrita, e entre muitas escolhas, decide reescrever apenas a volta de Teresinha, sua grande amiga, descoberta já na velhice.
A certeza de que, embora possível, mudar o passado mudaeria tantas outras coisas e deixar, então, tudo como está.
Bonito.
Gostei muito, parabéns
Boa sorte no Desafio!
Abraços
Talvez este seja o superpoder mais sutil do desafio. Algo tão poderoso que a melancolia da personagem mal podia acreditar, por isso mesmo o final feliz surpreendeu.
Embora um conto gorduroso, o domínio da trama e a delicadeza da narrativa conseguiram me prender. Talvez essa gordura tenha sido proposital, para passar a impressão de uma vida lenta, morosa, sem acontecimentos dignos de nota. Assim me parece.
Olá, tudo bem?
Um texto simpático, que é bem adequado ao tema superpoderes. Interessante fazer um texto onde a protagonista é uma velhinha. Isso foi legal, pois assim é possível narrar melhor o passado dela, saber bom lembranças sobre sua vida.
Como eu disse antes, é adequado ao tema. O superpoder definitivamente está ali, e nós conhecemos melhor ele por meio de lembranças, e coisas que ocorrem no momento. Mas eu me perguntei como ela não entendeu que tinha esses poderes antes.
A narrativa é boa, flui sem problemas. Tanto que nem vi muitos problemas na gramática. Só um erro chamou muito minha atenção, e ele está nessa frase: A felicidade é uma miragem que se desfaz um sopro. Acho que seria “num” sopro, não um sopro. Já disseram isso aqui, mas esse erro me incomodou bastante, então achei que era importante destacar ele. Mas fora esse errinho, não vi nenhum outro.
O dilema que ela teve no final foi bem legal. O leitor fica sem conseguir parar de ler, tentando saber o que ela fará. Nos colocamos no lugar dela, e pensamos, junto com ela: Se pudéssemos reescrever nossa vida, mudar os erros e desgraças que ocorreram, o que faríamos? O que iríamos mudar? Salvar um parente perdido? Salvar o marido morto? Ou salvar a amiga? Achei bem legal da parte dela ter escolhido salvar a amiga, mostrou que ela estava satisfeita com a vida que teve, apesar de todas as coisas ruins que aconteceram.
Então, é isso. Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio! 😀
Esqueci de dizer: o superpoder é mudar a realidade por meio de poemas e histórias que ela escreve.
Olá, Virginia!
“Você viveu, eu só existi”.
Profundo e filosófico.
Conto apaixonante. Amo ipês e o meu preferido é o amarelo.
Encantei-me pela escrita, envolvente.
Você conseguiu descrever muito bem e com tamanha maestria os fatos em torno da personagem principal.
Linda a amizade entre as personagens.
Fiquei pensando como Virginia viveu tanto tempo e só depois da velhice se fez valer de seu superpoder. Parece-me que ficou uma lacuna aqui.
Mesmo assim, amei seu escrito.
Parabéns!
Obrigada por escrever.
Apesar do conto conter algumas manobras meio batidas, como a predileção literária com o uso de árvores como símbolo de metáforas e demais simbolismos (no EC já vimos uns 100 contos que utilizam essa abordagem), eu gostei.
Acho que o drama foi bem escrito. A amizade entre as duas personagens é bem forte. Achei um pouco estranho o salto temporal tão enorme. Sim, ele dá toda uma dimensão grandiosa de toda uma vida, um passado, que pode ser mudado, mas ao mesmo tempo enfraquece a personagem, pois não ficamos ciente desse passado, a não ser em sua menções, o que não é a mesma coisa.
Me impactou a questão da morte retratada. Do morador recolhido após uns dias do óbito. Estou escrevendo uma história sobre isso, também, baseada em pessoas que morrem e os outros não se dão conta. Você conseguiu criar uma ambientação que me remeteu a isso, a solidão nos apartamentos.
No geral eu gostei do conto.
Bom diaaa, tudo bão por ai?
Muito bem, Sra. Virginia! Que belíssimo conto!
O conto já começa chutando a porta logo no primeiro parágrafo, que é lindo e poético. Ali, já imaginei o que vinha pela frente, e você nao decepcionou,
O conto é muito bonito. Tem uma linguagem poética, a leitura é prazerosa, conta com uma escrita impecável (não notei nada significativo em relação à gramática). Enfim, foi uma delícia ler o conto e nem vi as linhas passarem. Na verdade, o conto é tão bom que em determinado momento eu queria terminar logo, não pq estivesse entediado, mas pq qria saber o final. Hahahaa
Mas vamos por parte, deixa o final para o final, não é mesmo, Virginia? rsrs
Devo dizer que em determinado momento, anotei no meu rascunho: “poder?”
Mas sim, ele apareceu! E de forma bela e metafórica, a meu ver. Claro que eu já previa que seria esse, pelas dicas no começo, mas acabou me surpreendendo positivamente.
O conto tem uma pegada melancólica (que tem aparecido muito no desafio. acho que o pessoal não considera uma boa ter superpoder, rsrs). Você retratou muito bem as angústias da idade, fiquei até imaginando a idade do autor, pra conhecer tão bem do assunto. Sério, você contou com tal naturalidade que me pareceu algo sentido, e não imaginado. Muitos pontos por isso. Além disso, me inseriu nesse contexto, mesmo eu sendo 63 anos mais jovem que a protagonista. Quanto talento, criatura!
Arrepiei com a cena da morte da Teresinha. A descrição foi sutil e precisa.
A única coisa que senti falta foi o meio da vida da mulher. Quer dizer, entre os 8 e 90 anos, certamente ela escreveu mais poemas, e teoricamente o poder deveria se manifestar em algum momento e ela teria percebido. Pela tendência da protagonista a recorrer à escrita nos momentos de luto, e pela frequência com que esses momentos aconteciam em sua vida, não é totalmente louco imaginar que ela teria percebido antes.
Mas enfim, isso não atrapalha o enredo de modo algum, são só algumas reflexões que fiz durante a leitura e quis dividir com você, talvez como algo a considerar.
E chegamos ao desfecho. Quando comecei a sacar as ideias loucas da mulher, logo pensei “ai, ai, ai, dona Virginia, nunca assistiu filmes de efeito borboleta, não?” kkkkkkkkkk
Fiquei imaginando a loucura que ela faria, e os resultados catastróficos que geraria. Mas ela foi sábia e sensata, e, mesmo gerando prováveis efeitos inesperados, decidiu por alterar o passado recente, gerando menos efeitos catastróficos, acho, né?
Bom, depois dessa dissertação gigante, acho que tá na cara que vou te dar 5, né?
Parabéns, você tem muito talento, e eu amo poesia, então seu conto me atingiu em cheio. Boas festas!
Caro(a) autor(a).
Antes de tudo, interpretações do literário são versões acerca do texto, não necessariamente verdades. Além disso, o fato de não haver a intenção de construir essa ou aquela imagem no conto não significa a inexistência dela.
O conto se realiza nos detalhes, na lenta fusão de elementos fundamentais: a morte da mãe, escrever poemas, ipê, nostalgia, amizade, etc. Tudo isso junto produz um solo no qual poucos frutos nascem. Ou melhor, eles existem, mas a percepção da protagonista é que isso não ocorre, ou o fato de os frutos morrerem prematuramente equivale à tristeza. A personagem percebe dessa forma sua vida por causa do “velho medo de ser feliz…”, como se não soubesse o que fazer com a felicidade. No final, mesmo diante da descoberta de seu poder, ela não se arrisca a tentar a felicidade, reconstruindo fatos da existência: prefere reviver apenas a última demonstração de amizade que teve, com a amiga Teresinha. Isso é sabedoria anciã ou acovardamento disfarçado?
No desfecho a protagonista faz uma série de especulações sobre o que aconteceria se ela alterasse certos acontecimentos de sua vida. Se tal coisa acontecesse assim, outra coisa não se daria. Ao fazer isso, o que temos no conto é o princípio do efeito borboleta (outra vez, no desafio, o mesmo inseto), da Teoria do Caos, ou seja, uma borboleta batendo suas asas significa alterações profundas num ponto geográfico oposto ao que ela está. É a noção de que tudo se interliga, em seus mínimos detalhes.
Exemplo disso é a relação que une os ipês, Teresinha e a protagonista. No início do conto, o ato de escrever versos sobre a árvore provoca posteriormente o surgimento de novos ipês, um ao lado do outro, o que é revelador porque é uma espécie que, na mata, vive isolada. Pois bem. A protagonista, que também vive isolada, “reconstrói” Teresinha, tão sua amiga como os ipês ladeados parecem ser um em relação ao outro e em relação à personagem. A árvore é outra dimensão da amizade que une as duas, em outras palavras.
Curiosamente, e para adensar a trama em sua camada menos visível, ao passear com sua amiga “refeita”, “[…] o ipê estava seco. A beleza fugaz desaparecida”. Qual o significado disso? O anúncio de que a morte da protagonista se aproxima?
Sobre isso, acredito que uma interpretação bastante plausível é representada pelo último parágrafo, onde está o trecho citado. Ele é sinal de que a protagonista, na verdade, morreu. O fato de ela perceber que “No quarto andar a cortina estava aberta” (quarto da recém-falecida amiga) contribui para essa sensação, pois entre elas havia um acordo: cortina aberta significava dizer “eu ainda estou viva”. Teresinha, contudo, já morrera.
Assim sendo, estando seco o ipê, símbolo da amizade de ambas, significa que elas morreram. Fisicamente, é claro, porque a possibilidade de floração continua, assim como continua a amizade delas. Afinal, “[…] as folhas secas que ainda sobreviviam balançando com a brisa”. Afinal, a vida da personagem foi um eterno estado de luto.
Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto adequada ao tema do certame. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tem que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário sirva como uma crítica construtiva. Boa sorte!
É um conto que logo nos seus primeiros parágrafos abre milhões de possibilidade e então parte para uma perspectiva diferente, tratando da mesma personagem oitenta anos depois e, portanto, praticamente falando de uma pessoa diferente. A autora tem domínio da trama e soube desenvolver Virgínia de forma completa, elegendo uma nova gama de anseios que felizmente não se limitaram aos citados no início, mostrando que os primeiros parágrafos importaram para apresentar a personagem e o seu poder, não necessariamente sendo indicativos para servirem para toda a trama. Em sua amizade com Teresinha, nos hábitos, remorsos e preocupações que tem, Virgínia parece ser uma pessoa real, uma senhora solitária que ainda não decidiu se está arrependida ou não, e que, especialmente, não deixa de aprender. “Um amigo velho é tão bom quanto um velho amigo”. Sensacional!
Os diálogos e reflexões de Virginia com Teresinha, além do jogo com as cortinas, fez da morte da amiga ainda mais comovente e a boa autora não deixou a história acabar aí, somando o ocorrido à redescoberta do poder: uma poeta que pode reescrever a realidade. Com isso, Virgínia é colocada de frente com a questão que vem a assolando desde o início do conto: ela se arrependeu? Ela precisa mudar alguma coisa? E a resposta não é nada menos que honrosa. Ao reviver Teresinha, Virgínia aceita o seu passado e se deixa viver no presente, com sua velha amiga de agora, uma escolha verdadeiramente sensata de uma mulher que não se mostrou menos do que isso, agora dona de si e do próprio passado.
Sim, sim, eu adorei a Virgínia, deixou-me de coração aquecido. Parabéns!
Olá, Autor(a),
Tudo bem?
“Ninguém estava completamente feliz com suas escolhas. Nunca. Cada opção significava, inexoravelmente, a imediata morte de todas as outras. Sempre.”Pequenas Mortes Cotidianas
Esse é um tema que mexe muito comigo. A cada escolha na vida, quantas outras deixaremos de viver? No entanto, por outro lado, ao chegar ao fim do caminho, se ao olharmos para trás e nada quisermos mudar, isso significará que fomos felizes. Mesmo com as dores, com as perdas, com as escolhas nem sempre tão sonhadas como as que imaginamos no início da jornada.
Seu texto me emocionou. Uma bela narrativa, através do ponto de vista de uma velha senhora. O pseudônimo, golpe de mestre, nos faz ver a outra Virgínia “Lobo”, muito bom.
Gostei do modo como o texto é conduzido, levando o leitor a descobrir pedacinhos da trama, como alguém que descortina suas velhas memórias. A Memória é assim, pequenas peças em um quebra cabeças, não é?
No mais, só me resta agradecer pela leitura. Quando uma obra de arte emociona, palavras tornam-se desnecessárias.
Parabéns pelo belo trabalho.
Beijos
Paula Giannini
Superpoder: o que ela escreve se torna real.
Oi Virgínia, um belíssimo conto você nos trousse!! Eu amo ipês, temos muitos e de variadas cores aqui em minha cidade… Pude imaginar muito bem… Na verdade pude imaginar e sentir muito bem o seu conto, estou acostumada a conviver com idosos e você descreveu com excelência a vida e condições em que se encontram. O texto é filosófico e muito bem construído, perfeito! Parabéns e boa sorte!!
Olá, Virgínia. Bem, até agora esse é o conto que mais gostei. No início, porém, até cheguei a me perder, mas com o fluxo da história fui entendendo cada parte. A história conseguiu me prender, realmente. Achei bonita a visão de Virgínia acerca do mundo, sempre se perguntando se sua vida poderia ser feliz. E, sem dúvida, não há erros e se adequa ao tema. Ela tinha o poder da escrita. Muito bom. Parabéns e boa sorte.
Olá, Virginia Lobo!
Tudo bem?
Sem dúvida nenhuma, esse conto é um dos melhores deste desafio. A criatividade e o enredo foram simplesmente sublimes. A leitura é envolvente, enquanto a escrita está muito boa, sem ser aquela linguagem culta chata.
Destaco o talento da autora (ou seria um autor?) que conseguiu com muito sucesso construir parágrafos nos quais era possível se sentir junto à Virginia.
Parabéns e boa sorte no desafio!
PS: “Um amigo velho é tão bom quanto um velho amigo.” Gostei da frase.
Oiii. O conto é muito interessante. O superpoder de alterar os fatos por meio da escrita foi bem original. Todo o conto é muito poético e isso é bem bonito, principalmente as partes que falam dos ipês. E no fim a velhinha escolheu o presente que conhecia com a pessoa que conhecia, sua melhor amiga, ao invés de um futuro diferente e desconhecido que ela não teria vivido realmente, que seria apenas consequência de seus superpoderes. Parabéns pelo conto. Abraços.
Outro ótimo trabalho, apesar de eu me incomodar muito com histórias de idosos solitários, tenho medo disso, acaba com meu dia… O conto é um exemplo de como trazer sentimentos ao leitor, sem implorar por eles, e este talvez seja o maior mérito do trabalho, além da bela escolha de como e por quais meios usar esse super poder, que na verdade todo escritor tem a medida que muda alguma realidade em algum momento.
Cara Virginia, que belo conto vc concebeu! Uma delícia de ler. Um assunto que assusta a todos nós: envelhecer, envelhecer só. Mas você conseguiu nos mostrar, com esse sutil poder da poesia da sua protagonista (personagem muito bem construído, aliás), que a velhice pode não ser tão ruim, depende apenas de como vemos as coisas. Depende de a gente deixar de lado “O medo de se sentir contente”. Como se não tivéssemos esse direito, só porque nossa mãe morreu cedo, ou só porque estamos envelhecendo.
O ponto alto do seu conto: “Não sem certa amargura, viu-se chegando à surrada constatação de que os tesouros da infância são facilmente esquecidos. Como se a maturidade trouxesse um efeito colateral imperceptível, uma amnésia liberada em gotas, ano a ano, apagando as memórias mais cândidas.
O estranho, agora percebia, era como, a partir de certo ponto, essa névoa espessa de esquecimento parecia abrir-se, permitindo que antigas reminiscências ressurgissem tão intensas que pareciam ter ocorrido ainda ontem.”
Que belo olhar sobre o tema, até mesmo sobre o Alzheimer. Talvez essa doença seja apenas uma ligação entre o tempo da infância e o tempo do ocaso. Quem sabe? É uma das maneiras de olhar e sentir o mundo. Mas, certamente, uma maneira que só os poetas têm.
Um conto muito bom! Parabéns!
Olá, Virginia!
O seu conto tem uma estética praticamente perfeita, belas construções, um desenvolvimento bom da personagem, mesmo que tudo pareça quase que em câmera lenta.
Eu gostei da história, e da forma como você a construiu, mas tem aquele mas, sabe? eu terminei de ler e fiquei me perguntando porque não me cativou tanto. Talvez alguns excessos… algumas passagens me soaram um pouco artificial, uma hora estávamos em alguma cena rotineira, normal, com bons diálogos e no próximo parágrafo temo uma construção filosófica. Eu acredito que o autor colocou muito isso, primeiro porque é bom no que faz, e segundo pra deixar esse ar de filosofia… não funcionou muito comigo, eu prefiro sempre mais enredo, mais história, mais cenas do que palavras bonitas.
Tirando essa ressalva e essa sensação de que poderia ser mais, se fosse menos, o texto agrada e até mesmo surpreende, quando eu estava lendo sinceramente não fazia ideia de onde o autor estava me levando, fiquei na expectativa do poder, do que vem a seguir… o final ficou bem interessante, mesmo que apressado, a escolha dela de refazer a parte da vida em que a miga morre foi tocante, pq ela entendeu que tudo que ela viveu até ali, não fazia mais sentido mudar, se mudasse isso, como ficaria aquilo? achei sensível de sua parte optar por isso.
Eu acho que a história tem muito o que dizer, o autor tem um talento inegável com as palavras.
Parabéns, Boa sorte no desafio.
Superpoder: reescrever os acontecimentos, alterando-os. Uma capacidade tão forte que a heroína se questiona sobre o que fazer com ela.
Enredo e criatividade: Conto reflexivo que me comoveu muito, pela fase da idade, pelo tom melancólico e saudoso, pela constatação de que se alterasse todo o passado, não haveria do que sentir falta — a vida teria sido outra. Assim o desfecho é terno e surpreendente. Protagonista bem construída, inteligente.
Estilo e linguagem: simples, poético e envolvente. Alguns deslizes gramaticais serão resolvidos com uma rápida revisão. Gostei muito da ideia e da execução. Parabéns pelo trabalho! Abraços
Um conto sobre a velhice, as alegrias e frustrações de não ter feito algo para melhorar, ou mudar a vida. O superpoder aqui, ficou em segundo plano, como na vida de Virginia, que ela descobriu tarde demais.Achei as frases muito bem construídas, verdadeiras. O final ficou excelente, Virginia ressuscitou a amiga, porque muitos chegam na velhice, solitários, abandonados e tristes. Ela até modificou o livro que tanto gostava de ler, trocou a filha por filho e um final feliz. Boa sorte.
Acho que os pontos fortes são o fato de o conto se passar na terceira idade da protagonista, ter uma narrativa arrastada, condizente com a personagem, o clima de contemplação e as passagens com poesia lírica, já que a mulher escrevia poesia. E no final, fica a reflexão de que mudar uma vida toda seria deixar de existir
Olá. Gostei do tom pausado e da criatividade do conto. O desenvolvimento é lento mas, mesmo assim, prende o leitor. Isso demonstra a maturidade literária da autora. A questão final e o desfecho inesperado perturbam. O que mudaríamos nas nossas vidas se tivéssemos poder para isso? A resposta da autora é simples. A amizade é a coisa mais importante da vida.
Olá. 🙂
Tantas são as histórias e livros que relatam personagens que criaram o caos ao alterar o rumo dos acontecimentos. A sua personagem é mais vivaz que todas estas e usa o seu poder com sabedoria.
O seu conto teve um final de grande impacto, ainda que o mesmo não seja o tipo de conto que mais gosto. De tantos superpoderes extra-fantasiosos no entrecontos, o superpoder aqui enumerado é aparentemente simples e até poético em si, mas não menos superpoder que qualquer outro.
Boa sorte e obrigado por ter escrito!
Um conto emocionante. Muito reflexivo e próprio de um espírito que já trilhou muito pela vida. Se não em idade, no tempo, trilhou por experiências. Próprio de um autor mais experiente, o conto nos remete à poesia, ao escrever, ao reviver memórias através dos textos. A personagem tem o poder de reescrever, de mudar a história. Narrativa linda, envolvente. Uma meditação sobre as experiências vividas, por escolha ou não. Sobre o que poderia ter sido diferente. Para Virgínia, não seria interessante bulir com momentos remotos, não se encaixariam no presente. Aliás, nem haveria tempo para realizar tantos sonhos abafados. Trazer de novo a companhia da amiga que havia partido recentemente seria um bálsamo para o curto período de vida que lhe resta pela frente.
Conto primoroso.
Parabéns, Virgínia Lobo!
Boa sorte!
– Enredo: 1/1 – Gostei bastante e me emocionei com ele. O conto é sobre amor, sobre amizade, sobre a vida. Quem dera eu tivesse
um superpoder desses.
– Ritmo: 1/1 – Gostei do ritmo. De trechos daqui e dali sendo costurados. Não me cansou em momento algum.
– Personagens: 1/1 – Não sei se foi por causa do limite, li de uma vez e a mim não me pareceu que tenha chegado perto do limite do desafio, mas gostei tanto das duas senhoras que minha única observação é a de que elas podiam ter mais “cenas” juntas. Que tal um romance a partir desse conto? Tenho até título pra ele: Sobre o Viver e o Existir. Sim, sou péssima para títulos. Também seria bom um superpoder nesse sentido: criar títulos maravilhosos. =P
– Emoção: 1/1 – Eu chorei com a sua história. Me emocionou mesmo. Além da forma tocante como foi escrita, ainda me fez refletir sobre todas as pessoas que eu gostaria de poder reviver, ou de poder dar um tempinho a mais para elas. Anteontem uma amiga minha faleceu. Alguém que eu conhecia há quase 10 anos pela internet e que no mês que vem finalmente iria dar um jeito de conhecer pessoalmente. Mas não deu tempo…
– Adequação ao tema: 0,5/0,5 – Adequado, parabéns.
– Gramática: 0,5/0,5 – Alguns errinhos pela pressa, mas que em nada prejudicaram minha leitura.
Dicas:
Reescrever o conto com mais calma, desenvolvendo mais, dando mais espaço para os acontecimentos, livre das amarras do desafio. E se fizer isso, por favor, me avise.
Frase destaque: “Você viveu. Eu só existi.” Só de ler isso de novo já fico com os olhos marejados.
Obs.: A somatória dos pontos colocados aqui pode não indicar a nota final, visto que após ler tudo, farei uma ponderação entre todos os contos lidos, podendo aumentar ou diminuir essa nota final por conta de estabelecer uma sequência coerente, comparando todos os contos.
Oi 🙂
Tenho que dizer aqui que o autor(a) dessa história apelou em usar um poder que tivesse relação com uma coisa comum a 100% dos participantes do desafio… a escrita. Aí não vale, pô kkkk.
Falando sério… gostei muito da história.
A personagem Virgínia está muito bem construída. O fato de ser sistemática deu-lhe um tom a mais de construção que achei perfeito… é apenas um detalhe… uma coisa simples da sua personalidade, mas que diz muito sobre ela.
Também gostei da forma como coisas vão sendo entregues aos poucos durante a trama, como o sinal da cortina… a vida de Virgínia, sua relação com os pais, a morte do esposo… são estrategias ótimas para manter a atenção do leitor, e no meu caso, você conseguiu!
Para mim, o final é bonito e triste ao mesmo tempo… com a “escolha” de Virgínia em ter de volta a amizade que lhe era tão cara e verdadeira, Teresinha volta à vida! Isso é ótimo, visto que a velhinha obviamente havia levantado as mãos pro céu pra Deus puxar, mas me pareceu que Virgínia escolheu fazer isso pelo fato de Teresinha voltar à vida não fazer diferença alguma. Ela mesmo reforça essa ideia quando diz “Você viveu. Eu só existi.”, daí a escolha de Virgínia em apenas ressuscitar a amiga, não alterando nenhum outro detalhe da sua vida. Inclusive, esse dilema que ela encontra é resolvido dessa forma, acredito, por relação com sua personalidade. Posso estar viajando na maionese, mas como Virgínia é sistemática, mudar seu passado, mexê-lo, trocá-lo de lá para cá, poderia gerar uma bagunça em sua história de vida da qual ela não suportaria, como se bagunçassem os lápis milimetricamente dispostos na gaveta ao lado de sua mesa.
Parabéns pelo ótimo trabalho.
Salve, Virginia!
Devo dizer, o gênero em que seu conto se enquadra não é exatamente a minha preferência. Portanto não sei muito bem como comentá-lo. Mas vou começar dizendo que gostei bastante. É sensível sem ser piegas, e consegue acrescentar o superpoder sem sair da linha principal. Muito bom, realmente.
A dinâmica entre as duas velinhas é o que se espera. Velocidade baixa nos acontecimentos, bastante carga emocional e muita reflexão sobre o passado. Não poderia ser diferente e achei que ficou muito adequado. A inserção das memórias de Virginia acrescenta um sabor extra e ajuda a “movimentar” o conto.
Gostei particularmente da cena em que Virginia descobre sobre seu poder, com menção honrosa à que nossa protagonista procura pela cortina aberta de Teresinha, mas a encontra ainda fechada. Duas cenas muito bem construídas.
É isso! Boa sorte no desafio!
Singeleza ao extremo é o que nos passa essa brilhante narrativa; uma prosa em forma poética. E o poder transformador das reminiscências e das coincidências, ou o entorpecimento da literatura através dos romances? Transformando as vontades do leitor apaixonado pelo que lhe transforma. Um belíssimo conto sobre o poder real das pessoas: seus quereres e anseios. E um final pra lá de feliz; ressuscitador, para a personagem e para o leitor.
Sou apaixonada por ipês. Existem muitos na minha terra. Lindos, coloridos, poéticos. O seu conto é pura delicadeza. As árvores e os versos permeiam toda a vida de Virgínia tendo alguma relação com os fatos que lhe acontecem. Uma vida difícil de quem sobrevive a todos que ama.
O superpoder ficou um tanto empalidecido, mas não concebo a dona Virgínia sair voando pela janela ou fulminando os inimigos com um olhar de raio laser. Acho que este superpoder esmaecido combina com a protagonista e com o todo do conto, então considero um acerto.
Não entendi direito se ela já havia usado o poder antes ou não (pelo jeito nunca antes) mas me coloquei muito na situação dela. Às vezes me pego pensando nas escolhas erradas que fiz, mas depois penso que se tivesse casado com outro homem não teria tido o meu filho, então acho que acabei acertando. A vida é feita de escolhas, mas cada vez que escolhemos deixamos para trás uma infinidade de vidas que poderíamos ter.
O seu conto está muito bem escrito. Parabéns e boa sorte.
Adorei esse final! Gostei que ela não mudou nada do que aconteceu no passado, apenas a amiga que teve morte recente, ela lhe traria alegria da companhia e não faria diferença para o todo.
Pena ela não ter percebido esse poder de dar vida aos personagens de seus poemas antes.
Parabéns e obrigada por escrever
Versos do Ocaso (Virginia Lobo)
Trama: Senhorinha reflete sobre sua vida, e voltando a escrever versos, como fazia na infância, descobre possuir poderes
Impressões: Um texto tocante, poético ao extremo. O enredo é bom, interessante, instigante que nos faz refletir a existência, e o que fazemos de nossa vida. Quais são as lembranças que termos na velhice? Tal qual como chegamos a este mundo, vamos embora sem nada e o que vale no fim das contas são as experiências e as lições que deixamos para os vivos. Os bons valores acompanham os enlutados.
Linguagem é escrita: Poética ao extremo. Confesso que num momentozinho me incomodou um pouquinho pois achei que o autor procurou demais embelezar os períodos e se esqueceu de contar uma estória, mas nada que tire pontos não, muito pelo contrário, é frescurite minha mesmo.
Veredito: Contaço.
É um conto muito bonito, a linguagem faz jus ao pseudônimo. O superpoder foi abordado de uma maneira diferente – e se pudéssemos mudar o destino a partir da reescrita das nossas histórias? O conto, mantendo uma aura de refinamento, não cai nas muitas questões de viagem no tempo. Apesar dos desejos e arrependimentos, ela decide não mudar nada. É um texto para além do tema velhice, sentimental, mas não açucarado. Parabéns pelo trabalho e boa sorte no desafio.
Pontos positivos: enredo surpreendente, escrita envolvente, fluida, diria carinhosa. Uma calma na prosa, um jeito bom de contar coisas difíceis.
Pontos negativos: um nadica de nada de prolongamento ali pelo meio do conto, nada grave.
Impressões pessoais: as perdas que cometemos em vida, como pedras atiradas na planície do lago, e que não voltam, nem atingem algo. Apenas afundam e nos prendem. O conto me passou essa dor inerente a todos. Independente da idade, todos temos caminhos perdidos e futuros abortados.
sugestões: guardar essa inspiração do texto.
E assim por diante: a decisão da protagonista em não mudar sua vida nos dá uma dimensão de sabedoria talvez adquirida somente com a longevidade. Belíssimo conto.
Parabéns.
O conto tem uma ideia interessante: a mulher que (re)descobre o poder de mudar a história, ou os fatos, através de seus poemas. O problema é o limite imposto pelo desafio. Não dá tempo para nos apegarmos à protagonista, para nos afeiçoarmos a ela, para torcer por ela. Amor ou amizade? Marido ou amiga? Quem trazer de volta? Parecer ser esse o dilema principal, algo de fato instigante. Só que a solução ofertada pela autora parece ter resvalado na pressa, pois tudo se resolve rápido demais. Culpa, como eu disse, do limite imposto pelas regras. Há alguns erros de digitação e de concordância, provavelmente fruto da pressa em postar (último dia, né?), mas dá para arrumar tranquilo numa revisão. De todo modo, não deixa de ser interessante ter um vislumbre dos dilemas que nos esperam lá na frente. Boa sorte no desafio.
Caro(a) Autor(a),
Ao terminar o conto, me vi em um loop temporal. Como se Virgínia pudesse reviver os dias que ela tinha amado viver junto dos seus e escrevendo seus poemas, cada um retratando suas vivências. Não sei bem se está definido esse poder ou superpoder, mas o conto é sensível e encanta, mesmo que os ipês não floresçam no inverno. Eles florescem no final do tempo de inverno, para anunciar a primavera e dias mais amenos até chegar o verão. Ipês são árvores que simbolizam o ciclo da vida porque tem bem definida cada etapa – folhas, flores, sementes – e liga-se ao mito grego das estações do ano, criadas pela deusa Perséfone. Queria falar de Virgínia, esse nome, e do título, e a relação que fiz com a escritora. Talvez porque ela tenha se suicidado e dizem que os suicidas vivem em loop temporal o momento de sua morte. Viajei, mas é isso.
Boa sorte no desafio.
Cara Virgínia Lobo,
superpoder de manipular o tempo? De vivificar momentos passados? Não importa.
Gostei do seu conto, mas confesso que me vi iludido pela condução inicial que você deu a ele. Digo o porquê. Ao falar de fluxo de consciência, um rio ao amanhecer, o ocaso da vida e o próprio “nome” do autor (Virgínia Lobo), imaginei que o conto tomaria o rumo da vida de Virgínia Woolf, com a velhinha matando-se em um rio após encher os bolsos de suas roupas com pedras, talvez ao amanhecer.
Não foi mal me iludir, dado que o final foi bem conduzido por outra via.
Não obstante a boa condução, como disse, achei um pouco chorosa e melosa demais a conversa entre Terezinha e Virgínia. Talvez menos ficasse melhor.
Não sei se a “personificação” de Manuela Rossi como uma escritora de verdade ajudou. Talvez o livro, talvez o título do livro e o final, como posto, mas o escritor, não se… Mas tudo bem.
Boa sorte no desafio.
Olá, Virgínia, tudo bem?
Seu conto abordou com sucesso (e poesia) o tema proposto pelo desafio.
A linguagem é muito bem trabalhada, revelando imagens lindas como ipês floridos, desejo por neve e por uma outra vida. Um poder sutil, um dom de querer bem aos outros e retribuir a saudade com efeitos mágicos.
Relacionei o florescer do ipê com a juventude (a primavera) e a neve com a velhice (o inverno da vida).
O quanto o poder era real e o quanto era apenas um sonho, um delírio de uma idosa?
Não encontrei erros na sua revisão, mas deve ter escapado algum, sempre escapa. A leitura foi tão prazerosa que não me detive nesses detalhes.
O ritmo da narrativa mantém-se uniforme e agradável. A leitura flui sem entraves (fazia tempo que eu não repetia isso, hein?).
Boa sorte!
Com exceção a um bendito ‘n’ faltando na excelente frase “A felicidade é uma miragem que se desfaz *n*um sopro” e de uma redundância se referindo a segundas intenções (amizades da infância e velhice), a técnica desse conto é perfeita. Descrições, metáforas, condução narrativa, construção de personagens e backgrounds.
O superpoder aparece de forma sutil e diferente do esperado – normalmente pensamos em voos, superforça, raios, etc. e aqui o autor nos apresenta a capacidade de mudar a realidade com a poesia (provavelmente o sonho de todos aqueles hippies que abordam as pessoas na porta do Cine Belas Artes). Ao mesmo tempo que é criativo, fica um quê de estranheza… é um poder muito poderoso (a redundância foi inevitável), afinal.
Claro, é justamente por esse caminho que o autor parece querer nos levar, até chegar na fatídica reflexão – e agora, José? Ou, melhor – e agora, Virginia?
O que fazer ao se descobrir em posse de tal poder? Talvez o dilema ficasse melhor se abordado em mais de um parágrafo, mas foi possível captar bem a ideia.
E também foi possível entender a decisão da simpática velhinha.
Abraço!