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Detox Literário.

Vicentão, o Semideus (Regina Ruth Rincon Caires)

Vicentão, caboclo indecifrável, sentia-se velho. Cansado, agigantado. A voz grossa soava quase ininteligível, era um sussurro entrecortado por pigarros e tosse. Mas as filas continuavam, desmedidas. Ainda penaria por vários anos. Não compreendia se a missão era bênção ou castigo. E não podia parar. Enquanto acordasse, enquanto entendesse o dia e a noite, seria o estandarte de fé, a crença, o fiapo de esperança daquela gente. Sabia da sentença. Ninguém, mais que ele, conhecia a pesada realidade. A verdade pura, sem cisma.

Havia tanto tempo desde o começo de tudo… Só os velhos moradores testemunharam. Do dia para a noite, ele apareceu por aquelas bandas vindo não se sabe de onde. Era fala corrente de que descera lá das terras de Lampião, mas ninguém afirmava. Precisava ter peito para cravar isso.

Ainda era homem novo, encorpado, de pele muito escura, com pesadas roupas recendendo a suor que, em segundos, impregnavam o recinto. Fedentina avinagrada. Mãos imundas, unhas de pontas amareladas. Boca negra sempre a mascar fumo-de-rolo. Olhos esbugalhados, de um verde fogueado, que pareciam penetrar nos pensamentos daqueles que os fitavam, ainda que quase encobertos pelo largo e ensebado chapéu. Razão pela qual, ninguém do povoado o encarava. Era olhar e baixar os olhos.

Malocou-se na beira do riacho, do lado da estrada. Abrigo de pau trançado, folhas de bacuri, tudo amarrado com cipó. E tinha Jurema, amigada. Moça sacudida, de longos cabelos negros e de feitio arisco. Pouco era vista. Nunca se afastava do trecho.

Vicentão só aparecia na corrutela quando precisava de arroz, feijão ou cachaça. As misturas da comida ele tirava do rio, do mato. Estranho era que ele não trabalhava. Ninguém compreendia como conseguia viver sem ganhar. E não era por falta de serviço! Ali, no povoado, havia muito serviço nas roças. O pagamento era tacanho, mas chegava.

Desde que o estranho homem imbicara por ali, tudo foi mudando. A vida já não era a mesma. De início, todos tentavam ignorar. Nada de fazer qualquer ligação das diferenças entre antes e depois do aparecimento de Vicentão. Ninguém queria pensar nisso. A prudência mandava afastar tal pensamento. Era visível que as portas das casas já não ficavam escancaradas, os portões viviam trancados, as noites passaram a ser temidas. Coisas estranhas, que só eram percebidas de dia, aconteciam à noite. 

Com o decorrer do tempo, o coveiro reparou um aumento acentuado no número de corpos que enterrava. Quase sempre mortes violentas, sem explicação convincente. Quedas de cavalo, enforcamentos, corpos encontrados em lagoas, acidentes com facão, com foices. Assim morreram muitos sitiantes, pequenos agricultores. 

E Vicentão continuava vivendo à beira do riacho. Vida de bicho. Engordava a olhos vistos, estava enorme. Em poucos anos, podia-se notar que ganhara o dobro do peso. E tornou-se pai de três bruguelos. Tudo macho. 

De repente, sem alarde, passou a viver num pedaço de terra que lhe foi cedido por um grande fazendeiro. Ganhou casa, móveis, horta, porcos, galinhas… Uma vida de gente. Jurema cuidava da lida, plantava, e o excedente era vendido no povoado, por Vicentão. Usava uma carroça que gemia pela estrada. Dava dó do pobre animal a puxar todo aquele peso.

Além de vender sua mercadoria, passou a fazer orações em voz alta. Passava pelas ruelas a dizer boas novas, invocando as graças de Deus e dos santos da arcada celestial. E aquilo foi virando costume. Os menos afortunados, os mais desavisados, aqueles que se sentiam fragilizados e esquecidos pela salvação, encontraram sintonia nas palavras ditas por aquele vozeirão. Aproximavam-se e rogavam por uma reza, uma orientação, uma benzida. E, como tudo que afaga a esperança dá um sopro de vida, os moradores, enlevados, afirmavam que o filho havia reagido à doença, que a tosse havia cessado, que o ânimo havia arribado. Enfim, as rezas foram se avolumando. O povoado todo aguardava ansiosamente a chegada do Vicentão verdureiro.

As mortes diminuíram assustadoramente. Não pelas bênçãos recebidas do estranho homem. Antes disso. Mas ninguém tocava no assunto. As cismas não foram esquecidas, foram guardadas. Quem ousaria dizer numa prosa que desconfiavam que houvesse, por ali, um matador de aluguel?! Estava bom daquela maneira, não importavam as circunstâncias. Ao coveiro sobrava mais tempo de cuidar de outros afazeres. Modorrento, até cochilava nas tardes mornas.

Ao mesmo tempo em que ocorria a ascensão da fama de benzedor, Vicentão ia ganhando peso. Ganhara um corpo tão assustador, tão desproporcional que já não conseguia andar. Os joelhos não suportavam o peso, os pés inchados, esparramados, não coordenavam a caminhada. E, assim, também o serviço de vender a produção ficou a cargo de Jurema e dos meninos.

Vicentão já não arredava pé do sítio. Aliás, quase não arredava pé da imensa cadeira. E a casa passou a ser destino de procissões de fiéis. Filas diárias. Bastava raiar o dia, os crédulos iam chegando. Traziam doentes, crianças, pertences. Comum era o benzedor fazer uma oração tendo em mãos uma camisa, uma calça, uma veste do doente. Na ausência, o pedido de cura era endereçado ao dono daquela peça. O segredo era, depois, vestir o enfermo com aquela roupa, sem que fosse lavada.

A figura do benzedor, envolto em roupas brancas, com o peito coberto por profusos colares, quase estático na penumbra daquela sala toda enfeitada com flores de crepom, de imagens e quadros de santos, de velas acesas, era o retrato de uma entidade. Impossível mensurar a importância daquele homem na vida dos peregrinos. Era sagrado. Divindade. Nunca era questionado. Os incautos o veneravam.  Os incrédulos ficavam calados, simples assim. Era um respeito velado. 

Muitas vezes, era visto como o próprio Deus a distribuir curas e milagres. Não era o intercessor, era o Rei. E as súplicas eram segredadas, os louvores eram cantados, a esperança, que transcendia a razão na presença Dele, era aspirada.

O povoado criou fama. Passou a ser lembrado na região toda, até mesmo nas cidades grandes. As caravanas chegavam aos montes. A peregrinação trouxe vantagem aos moradores. A vida melhorou muito. O povoado estava vistoso, cheio de vigor. Havia serviço de rádio, fábrica de vela, os moradores estavam até confabulando sobre abrir uma gráfica. Os santinhos encomendados nas cidades grandes saíam a preço muito alto, o lucro era pouco. 

E chegou o serviço dos Correios. Dos bancos. E começou o asfalto. Brotaram novos empreendimentos, pousadas, bares, restaurantes. O povoado virou uma cidade. O progresso, conduzido por aquele forasteiro misterioso, foi galopante e atravessou décadas. 

Vicentão, caboclo indecifrável, sentia-se velho. Cansado, agigantado. A voz grossa soava quase ininteligível, era um sussurro entrecortado por pigarros e tosse. Mas as filas continuavam, desmedidas. Ainda penaria por vários anos. Não compreendia se a missão era bênção ou castigo. E não podia parar. Enquanto acordasse, enquanto entendesse o dia e a noite, seria o estandarte de fé, a crença, o fiapo de esperança daquela gente. Sabia da sentença. Ninguém, mais que ele, conhecia a pesada realidade. A verdade pura, sem cisma.

E como penou. A jornada tornara-se arrastada e, caprichosamente, sugava dele cada fagulha de ânimo que brotava nem sabia de onde. Verdadeiro calvário.

E num começar de dia, igual a tantos que passara por ali, com os olhos cansados mirando a interminável fila de inocentes, Vicentão dobrou-se diante da vida. Uma vertigem, uma tremura esquisita, queimação insuportável no peito. A sororoca foi curta. Sem tumulto, sem sobressalto, partiu. A notícia saiu porta afora e todos se puseram de joelhos. Sem alarido, serenos.

Jurema, a eterna amigada, sabia dos desejos do benzedor. A cama de casal fora levada para os fundos da casa, colocada na sombra da figueira. Ali ele seria velado e ali seria enterrado. De início, todos ficaram apavorados com o carregamento do corpo até lá. Como levar aquele despropósito de cadáver até o terreiro, e como enterrá-lo?!

Todos os homens se apresentaram e ficaram planejando a remoção. Quem seguraria os braços, as pernas, os pés, a cabeça. O corpo! Era uma multidão girando em torno do defunto tentando achar o jeito mais acurado para o carregamento. E o susto foi geral. Na primeira tentativa perceberam que o corpo era leve feito paina. Não exigia força alguma para levantá-lo. Ficaram calados durante todo o trajeto até à figueira. Arranjado o corpo sobre a cama, todos rezaram em silêncio. Até na hora da morte, Vicentão tirava cartas da manga. Era criador de cismas. Soube, como ninguém, brincar com a vida. Ou com a morte. Ou com a fé.

Sepultado ali mesmo, sem qualquer encravo, fez do túmulo o seu santuário. Santuário do corpo. A alma? Sabe-se lá por onde anda… Os moradores antigos até têm cismas, mas ninguém tem peito para cravar.

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49 comentários em “Vicentão, o Semideus (Regina Ruth Rincon Caires)

  1. Regina Ruth Rincon Caires
    31 de dezembro de 2017

    Vicentão, na vida real, tinha o nome de Lidião. Era exatamente assim. Ninguém sabia da vida dele, nem da amigada, nem dos filhos. Nunca se deixou conhecer. Durante toda a vida, ninguém soube nada além das suposições. Ninguém tinha certeza de nada. Foi endeusado por muitos e também muito temido. Não havia meio termo. O homem Lidião foi realmente indecifrável. Meio deus, meio cramunhão. Tinha o superpoder de “curar” os males do corpo e da alma, superpoder conferido a ele pela crença popular, pelos “desesperados” ou “esperançosos” que buscavam por “milagre”. Quando digo que era gordo, imenso, é porque ele era muito grande. Muito alto, diferente de todas as pessoas que circulavam por aquelas bandas. A obesidade mórbida, naquela época, não era comum. E a leveza do corpo morto, eu não sei como explicar, fica no mundo dos mistérios. Há uma crendice popular que sempre narra isso. Fala de defuntos magérrimos que, no caixão, ficavam pesados feito chumbo. Era preciso a força de seis homens sarados para carregar a danada da urna funerária. Com o Vicentão, ocorreu o oposto. Um corpo morto que ocupava uma cama de casal, ficou leve feito paina. Enigmas da fé… Com ela, tudo pode acontecer.

    Respostas para os comentários:

    EVELYN POSTALI – Você pergunta se Vicentão tinha mesmo superpoder. Confesso que, para mim, era um semideus. Fui, inúmeras vezes, ao sítio, apesar de ainda ser criança. Quando chegava a minha vez na fila, só de sentir a mão dele na minha cabeça para fazer uma oração, era um desconforto. Uma mistura de pavor e respeito, de fé e medo. Meus irmãos sentiam a mesma coisa. Quem não acreditava em seus poderes, também não os desafiava. Não se via desdém, não havia crítica. Na verdade, não havia comentário. Obrigada pelas boas palavras e por ter lido o meu texto. Feliz 2018!!!

    OLISOMAR PIRES – Você não encontrou qualquer superpoder no texto. Deve ter sido falha minha. Quanto ao Vicentão revelar alguma coisa ao final, ele nunca faria isso. A culpa, remorso, qualquer sentimento que o torturava, morreu com ele. Vicentão foi um semideus que passou pela minha vida. Quis ser fiel à história, tudo aconteceu exatamente assim. Os mistérios persistem até hoje. Obrigada pelas boas palavras e obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    BIANCA AMARO – Obrigada pelas boas palavras e por ter lido o meu conto! Você assimilou EXATAMENTE tudo que eu quis mostrar. Você mergulhou nas entrelinhas! Que coisa boa, meu Deus!!! Obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    ANGELO RODRIGUES – Acredito que você não percebeu superpoder no texto porque eu não soube mostrar. Obrigada pela dica de Sérgio Faraco. Não o conhecia, fui pesquisar e gostei muito. O personagem realmente era imenso, muito alto e incrivelmente gordo. Vicentão era calado, hermético. Quis fazer um texto respeitando a memória que guardo do passado, por esta razão não divaguei em explicações. Quanto ao peso do corpo morto, foi fala corrente na vila. Ele estava leve feito paina. Aconteceu realmente?! É verdade?! Não sei… Obrigada pelas boas palavras e obrigada por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    PRISCILA PEREIRA – Não, Priscila. O superpoder de Vicentão não era transformar o povoado em cidade. Isto foi consequência. Ele era um semideus, seus “milagres” faziam parte da crença do povo. No meu entender, ele foi um matador de aluguel, trazido e sustentado por latifundiários. Era encarregado de eliminar posseiros, pequenos sitiantes, desafetos. O sítio que recebeu deve ter sido recompensa pelos “serviços prestados”. Não falei “claramente” no texto porque isto nunca foi dito “claramente”. Precisava ter peito. Se as curas eram reais ou não, acho que isto é tão pessoal, tão subjetivo, mora no foro íntimo. A leveza do corpo também foi narrada pelos moradores do povoado. Também fica no mundo dos mistérios, da crença… Obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    PAULOLUS – Confesso que não acredito que ele tenha sido charlatão. Ninguém sabe a razão das rezas começarem, primeiro em voz alta pelas ruas, e depois centralizadas no sítio. Ninguém sabia mais do que narrei aqui. Somente Vicentão, o homem indecifrável, conhecia a razão de tudo. Ou não… Obrigada pela leitura do meu conto! Feliz 2018!!!

    NEUSA MARIA FONTOLAN – Se você não viu ligação do texto com o tema proposto pelo desafio, é porque houve falha na minha escrita. Não houve confissão ao final da história porque eu quis retratar fielmente o “semideus” que conheci. Ele foi exatamente assim, sem qualquer explicação. Não havia nenhuma fresta que permitisse olhar além… Seus pensamentos, suas dores, suas culpas, tudo foi enterrado com ele. Obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    ANTONIO STEGUES BATISTA – Sim, as mortes foram executadas por Vicentão, era um matador de aluguel. Foi trazido ao povoado com esta missão, e era sustentado por latifundiários. Ninguém NUNCA comentou isso, era certeza velada e ninguém ousava falar sobre o assunto. Era preciso ter peito. Ele sempre foi gordo, e com a idade avançando, ficou descomunal. Não, o personagem não tomou um caminho diferente do que eu queria contar. Vicentão foi assim. O superpoder estava na “cura” dos males. Acontecia a cura?! Não sei, isso era pessoal, fazia parte da fé. Obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    RUBEM CABRAL – Obrigada pelas boas palavras e por ter lido o meu conto! Que lindeza! Você absorveu cada palavra que tentei juntar neste texto, mergulhou na essência da história. Leu o que eu disse e encontrou o que eu não disse. Bom demais perceber isso! Obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    PEDRO PAULO – Vicentão foi um homem completamente hermético. Ninguém no povoado sabia sobre a sua vida, sobre a vida da amigada, sobre a vida dos seus filhos. Eram isolados do mundo. Só era conhecido aquilo que eles mostravam. A cara, o corpo, a reza. Era matador de aluguel, trazido e sustentado por latifundiários. Deixei explicado nas entrelinhas, da mesma maneira que era “falado” no povoado. Nas entrelinhas… Só ele sabia da própria vida, das suas culpas, das suas dores. Não perdi o foco da narrativa. A vida do “semideus” foi realmente nebulosa. O que relatei aqui foi exatamente o que todos sabiam. Não havia nada mais que isso. Obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    FELIPE RODRIGUES ARAUJO – Obrigada pelas boas palavras e obrigada por ter lido o meu conto! É, Vicentão foi um semideus. Ele existiu, tinha o nome de LIDIÃO. Você realmente compreendeu tudo que eu quis contar. Obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    LUÍS GUILHERME – Menino, se você não achou o conto adequado ao tema, com certeza foi falha minha em não fundamentar corretamente. Mas, lendo tudo que escrevi nas respostas, acho que você vai compreender um pouquinho mais da narrativa. Obrigada pelas boas palavras e obrigada por ler o meu texto! Feliz 2018!!!

    ANDRÉ BRIZOLA – Acho que falhei na construção do conto em não deixar claro que o superpoder de Vicentão estava em “curar” os males. Ele era um semideus, pelo menos para os fiéis que eram curados. Não sei se ele absorvia os males dos enfermos, ele não comentava nada. Ele realmente existiu. Eu quis ser fiel aos fatos, e os mistérios persistem até hoje. Obrigada pelas boas palavras e por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    MIQUÉIAS DELL’ORTI – Obrigada pelas boas palavras e obrigada por ter lido o meu conto! Que delícia quando percebo que o leitor mergulha na história e deixa a imaginação voar!!! Obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    CATARINA – Realmente, menina, a cisma do povo era como um retrato da verdade. Mas o retrato ficava gravado apenas no mundo das ideias. Havia cisma em abundância, antigamente. Obrigada pelas boas palavras, obrigada por ter lido o meu conto! Obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    GIVAGO DOMINGOS THIMOTI – Você achou a minha linguagem truncada e pesada. Pode ser. Tenho um jeito “antigo” de escrever, é isso. Para alguns, traz certo ranço. Deve ter faltado algo na história que não lhe permitiu a compreensão. Obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    FHELUANY NOGUEIRA – Não, ele não absorvia os males dos benzidos. Era gordo porque devia comer muito, e era obesidade mórbida. Não se falava nisto, naquele tempo. Mas ele era imenso, descomunal. Quanto à leveza do corpo morto, foi fala corrente no povoado, depois do enterro. E ainda é. É crendice, invenção?! Não sei… Obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    JULIANA CALAFANGE – Obrigada pelas boas palavras e obrigada por ter lido o meu texto! Que coisa boa quando o leitor entende tudinho o que a gente quer contar, não é? É isso, menina, você ouviu exatamente o que eu quis contar… Obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    ESTELA GOULART – Vicentão era imenso, alto e muito gordo. Obesidade mórbida. Quanto à leveza do corpo morto, isso se espalhou pelo povoado e pela região. Por que ficou leve depois de morto? Não sei. É verdade?! Também não sei… Os relatos faziam parte da fé, da crença… Obrigada por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    IOLANDINHA PINHEIRO – Obrigada pelas boas palavras, você sempre é assim! Obrigada por ter lido o meu texto! Obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    JOÃO FREITAS – Se o meu texto não está totalmente dentro do tema proposto, acho que falhei na construção da narrativa. Se a história, para você, não trouxe nem boas nem más sensações, acredito que a minha escrita não lhe agrada. Que pena! Obrigada por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    ANGST447 – Obrigada pelas boas palavras, obrigada por ter lido o meu conto! Menina, você acertou na mosca!!! A autora é BEM MADURA!!! Kkkkkkkkk Brincadeirinha, eu só tenho 64 aninhos… Obrigada por ter gostado do meu trabalho, obrigada pelos elogios… Feliz 2018!!!

    MARCO AURELIO SARAIVA – Não, Vicentão não se alimentava das pessoas. Nem dos corpos e nem das essências. Vicentão, de início, era um matador de aluguel que foi levado ao povoado e sustentado por latifundiários. Eu não disse isso abertamente na narrativa, deixei nas entrelinhas, tal-qualmente era “falado” naquele tempo. Para falar abertamente, era preciso ter peito. Melhor era ficar na cisma. A razão da obesidade, de início, devia ser por comer muito, não sei. Depois, tornou-se mórbida. Não era comum pessoa tão obesa naquela época. Não sei a razão do aparecimento das rezas e benzimentos. Sei que começaram pelas ruas do povoado e, mais tarde, foram centralizadas na casa do sítio, que virou santuário. O superpoder de Vicentão era a “cura” dos males, do corpo e do espírito. É. Pode ser. Você disse que o meu conto ficou bem “bambo” sobre a divisa do tema. kkkkkkkk Pode ser… Obrigada pelas boas palavras, obrigada por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    LEO JARDIM – Pode ser que o conto tenha sido narrado à distância, razão pela qual você não teve apego ao personagem. Parecia notícia. A repetição do parágrafo, você achou que deixou o texto cansativo. Que peninha… Quanto ao Vicentão, eu também gostaria de saber mais das dores dele, dos seus medos. Mas ele não deixou. É um personagem real, eu quis retratá-lo fielmente. Pena ele ter sido tão hermético. Talvez, se não tivesse sido, não seria um “semideus”. Se eu contei demais e mostrei de menos, conforme você disse, é porque era exatamente isso que conhecia do meu personagem. Obrigada pelos elogios. Não, eu não desdenhei dos “poderes” do Vicentão! Você registrou que não há adequação ao tema porque até eu, que sou a autora, desdenhei dos poderes. Eu descrevi a minha visão, como eu senti, com a mesma cisma que os moradores do povoado carregavam. Que pena que o meu texto só “contou, contou, contou e terminou.” Eu queria fazer mais que isso. Obrigada por ter lido! Feliz 2018!!!

    RENATA ROTHSTEIN – Sim. Vicentão estava intrinsicamente ligado às mortes. Era, no início, um matador de aluguel que fora trazido ao povoado e sustentado por latifundiários. Deixei tudo nas entrelinhas, da mesma maneira que eram entendidos os fatos naquela época. Para falar abertamente, era preciso ter peito. Tudo ficava na cisma. Obrigada pelas boas palavras, obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    GUSTAVO ARAUJO – O nome do personagem incomodou você, não foi? Pois é, o nome real dele era LIDIÃO, mas, por respeito, não quis identificá-lo. No início, quando chegou ao povoado, ele se apresentava assim, acho que queria “marcar território”. Falava alto e com voz muito forte: “Meu nome é LIDIÃO!”. E assim ficou. Primeiro, por medo, depois, por respeito. Mudei para Vicentão. É verdade, “o texto fala da vida de Vicentão e pronto.”. Ficou frustrado, né?! Não fique. Eu só quis ser fiel à memória que tenho deste “semideus”. Obrigada pelos elogios, pelas boas palavras e por ter lido o meu texto. Feliz 2018!!!

    SIGRIDI BORGES – O superpoder, que me esforcei para mostrar, era a capacidade de “cura” do semideus. Acho que não consegui, né?! A história acontece no sertão paulista, não no Nordeste (de onde Vicentão veio, eu acho). O parágrafo repetido não lhe soou bem, não é?! Obrigada por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    JORGE SANTOS – Que pena que o meu jeito de escrever tenha dificultado a sua leitura! Obrigada pelas boas palavras, pelos elogios. Muito obrigada por ter lido o meu conto. Feliz 2018!!!

    FIL FELIX – Primeiro de tudo, obrigada por ter lido o meu conto. É bom quando a gente percebe que o leitor mergulhou na narrativa e compreendeu a essência daquilo que se quis contar. Exatamente assim, Fil, o meu texto fala sobre um semideus, que conheci, e a parte mais interessante está na leitura escondida nas entrelinhas. Há muitos mistérios, ainda hoje eles persistem. Obrigada pelas boas palavras, obrigada pelos elogios! Feliz 2018!!!

    FABIO BAPTISTA – Por indicação sua, quero muito ler “o afogado mais bonito do mundo”. A amigada de Vicentão não apareceu do nada. Ela chegou com ele, foram trazidos para o povoado pelos latifundiários, foi isso que deduzi. O Vicentão foi um semideus que povoou a minha infância. Na realidade, tinha o nome de LIDIÃO. A propriedade não surgiu do nada, deve ter recebido como pagamento (recompensa) pelos “serviços prestados”. No início, ele era um matador de aluguel. É, menino, há muitos mistérios nas entrelinhas. Fica a cargo do leitor a escolha de mergulhar na história ou não. Obrigada pelos elogios, obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    THATA PEREIRA – Obrigada pelos elogios e pelas boas palavras. Ah! Que peninha! Você vai ficar triste, mas Vicentão, de início, era matador de aluguel. Fora trazido ao povoado e fora sustentado por latifundiários. Em pagamento pelo conjunto dos “serviços prestados”, recebeu/ganhou um sítio. Tudo isso eu contei nas entrelinhas, da mesma maneira que foi “contado” na época, lá atrás. Para falar abertamente, era preciso ter peito. Vicentão foi temido e endeusado, na mesma proporção. O personagem foi criado para retratar um “semideus” real, que eu conheci. Chamava-se LIDIÃO. Obrigada por ter lido o meu conto. Feliz 2018!!!

    FERNANDO CYRINO – Obrigada pelos elogios e pelas boas palavras. Você não gostou da repetição do parágrafo, não foi?! Fernando, não havia pontas a amarrar. Contei tudo o que eu sabia do enigmático Vicentão. Do matador de aluguel ao “semideus”, inclusive a morte. Retratei um personagem que conheci, lá “no antigamente”. E tudo acontecia num segredo velado. A gente guardava todas as certezas como se fossem cismas. Era mais seguro. Obrigada pela leitura! Feliz 2018!!!

    HÉRCULES BARBOSA – Obrigada pela leitura e pelo comentário. Na realidade, tentei passar, através do meu conto, mais que isso que você comentou. O personagem Vicentão, que é uma figura que conheci quando eu ainda era criança, foi um matador de aluguel que “prestava serviços” a latifundiários. Ganhou o sítio como recompensa. O superpoder de “curar” pessoas aflorou depois. Não sei dizer se foi por missão ou por remorso. Eu quis fazer um texto que o retratasse fielmente. Muita coisa eu coloquei nas entrelinhas. O desenvolvimento da cidade foi apenas uma consequência da fama do “semideus”. Abraços, Hércules! Feliz 2018!!!

    MARIANA – Obrigada pelos elogios. Ninguém sabia mais nada sobre a amigada de Vicentão. Ela chegou ao povoado junto com ele, e eram sustentados por latifundiários. Era bem mais nova que ele (pela aparência), mas nem o nome era sabido. A família era reclusa, fechada em copas. Você não percebeu adequação do conto ao tema do desafio. Eu quis fundamentar o superpoder da “cura” pelo “semideus” Vicentão. Acho que não consegui, não foi?! Obrigada por ter lido o meu texto. Feliz 2018!!!

    RAFAEL PENHA – A minha história, para você, não foi original, parece que já foi contada antes. Também não percebeu nenhum superpoder. Entendeu que “só forçando muito a barra” pode parecer que o superpoder pode ser o de “influenciar pessoas”. Puxa vida! Eu tentava sustentar o superpoder que Vicentão tinha de curar os males do corpo e do espírito. Para você, a narração é imparcial, arrastada, não evolui e nem cativa. Não recompensa. Você não compreendeu quem era o personagem Vicentão, o papel dele na história. Como ele pôde ir de temido a adorado sem qualquer explicação razoável. Rafael, eu tentei retratar uma figura que conheci na minha infância. Era um matador de aluguel, sustentado por latifundiários. Um homem enigmático, que não se deixava conhecer, nunca. E era benzedor. Depois de receber um sítio como pagamento pelo conjunto dos “serviços prestados”, passou a atender os fiéis em sua casa, que depois virou santuário. Muito da história que contei está nas entrelinhas. Fica a critério do leitor: “ler ou não ler”. Como você disse: “A história é um pouco inchada, podendo ser suprimidos alguns pontos. O fim é realístico, mas sem impacto e assim como toda a história, sem qualquer explicação, mesmo que seja pra deixar ideias na mente do leitor”. A minha intenção era que o leitor entendesse a narrativa, que ideias fossem formadas na mente de cada um. E, finalizando o seu comentário, você diz: “Resumo: Conto bem escrito, mas a ideia me pareceu andar, andar e não ir a lugar nenhum. Sem um superpoder palpável. Poderia ter discorrido mais sobre o mistério de quem é o homem.”. Obrigada por dizer que o conto é bem escrito. Que pena eu não ter conseguido transmitir toda a minha ideia a você. Obrigada pela leitura! Feliz 2018!!!
    EDUARDO SELGA – Eu poderia só dizer: obrigada pelas boas palavras, muito obrigada por ter lido o meu texto – e digo. Mas quero falar um pouco mais sobre o seu comentário. Este é o terceiro desafio que acompanho no EC. Leio os comentários de todos e, desde o começo, elogio a sua maneira de analisar os textos. É um “trabalho” que você faz com mestria. Você comenta com primor, segue uma disciplina impecável. Não digo isso pelos elogios que recebo. Digo isso pelo cuidado que você tem com a análise dos escritos de TODOS. Você trata cada texto como se analisasse uma obra de arte, olhando pelos diversos prismas. Se de um ângulo não agrada, você argumenta, explica os detalhes. Se de um lado o aspecto é bom, você reforça. É uma atitude encantadora, nobre. Exige muita generosidade, muito desprendimento. Este trabalho, feito da maneira que você faz, exige tempo, interesse, cuidado. Obrigada, Eduardo, você é porreta! Abraços, feliz 2018!!!

    HIGOR BENÍZIO – Comentário rapidin, curtin… (ia colocar uma piada, mas… “melhor não comentar!”). Obrigada pela leitura e pelas pouquííííssimas e boas palavras! Feliz 2018!!!

    ANA CAROLINA MACHADO – Exatamente, Vicentão era matador de aluguel, foi trazido para o povoado com esta finalidade e era sustentado por latifundiários. A obesidade dele foi crescente. Acho que, de início, era porque comia muito, mas, depois, acho que era obesidade mórbida, coisa pouco vista naquela época. Sim, Vicentão foi um enigma, e continua sendo. Seu superpoder atraía multidões. Os mais antigos do povoado, pouquíssimos ainda vivos, não comentam sobre Vicentão. Obrigada pelo comentário, obrigada por ter lido o meu texto. Feliz 2018!!!

    BIA MACHADO – Para começar, obrigada por todas as boas palavras, pelos elogios e, principalmente, por ter lido o meu conto com tanto carinho. Falei da vida de Vicentão e só? Não. Falei da vida de uma comunidade que convivia com ele. Do modo de vida, do medo, da fé, da crença, da esperança, da cisma… Que bom que encontrou o superpoder do “semideus”! Se você ficou com dúvida, vou tentar corrigir a minha falha. Vicentão não enganava as pessoas, ele benzia. Não sei se era missão, se era remorso, mas tinha o dom de “curar”. Cuidava das doenças do corpo e do espírito. Ele não procurava as pessoas, pelo contrário, era procurado. Era um semideus, tinha a confiança dos fiéis. Quanto à gordura corporal, no início, acho que era alimentação em excesso, depois, virou obesidade mórbida. Naquela época, não se via pessoa assim, exageradamente gorda. Tenho a impressão de que o erro que você achou no texto é a palavra “benção”. Escrevi propositalmente, é forma aceita no vocabulário ortográfico da ABL. Era a maneira antiga de dizer “bênção”. Antigamente, antes de dormir e ao acordar, dizíamos: “Bença, mãe! Bença, pai!“. Maneira sincopada de “benção”. É uma fala popular. Abraços. Feliz 2018!!!

    AMANDA GOMEZ – Obrigada por ter lido o meu conto com tanto carinho. Percebi que você leu com gosto, com a predisposição de mergulhar na narrativa. Tentei retratar exatamente o que você sentiu, e quis, propositalmente, deixar brotar a imaginação do leitor sobre esclarecimentos que eu não pude dar. Vicentão era exatamente assim. Enigmático. Acho que nem mesmo ele se conheceu. Quanto ao superpoder, entendo que está na força espiritual do semideus. E, como você disse, pode estar na crença dos fiéis. A cura de muitas doenças depende da força mental, do pensamento positivo, do acreditar, da crença emocional. E tudo pertence ao mundo abstrato, subjetivo. Feliz daquele que cultiva a fé. A solidão é menor. Obrigada pelas boas palavras! Feliz 2018!!!

    ANA MARIA MONTEIRO – Entendo a sua dificuldade com termos do “sertão” brasileiro. É normal. Não, Ana. Para o povo daquela época, Vicentão não era visto como charlatão. Se alguém o visse assim, jamais diria qualquer palavra a respeito. Era um semideus. Era uma entidade que simbolizava a fé, a esperança de cura. E curava! Muitos se curavam. Grande parte do meu conto está nas entrelinhas, seria preciso ler o oculto, ativar a imaginação além do que está escrito. Exatamente como era na época, o mistério rondava tudo, cada um criava a sua realidade de acordo com a cisma que sentia. Tudo muito abstrato, silencioso. Nada era falado abertamente. Quando Vicentão chegou ao povoado, talvez pelo tamanho, pelo comportamento sinistro, pela pouca fala, pelo isolamento, e muito provavelmente pelas mortes sucessivas, era temido, “respeitado”. Depois, quando tudo voltou ao normal, quando as “curas” se tornaram mais visíveis, ganharam notoriedade, o semideus despontou. A fama correu mundo, e Vicentão passou a ser adorado. O superpoder está justamente na eclosão da força espiritual do semideus (“Enquanto acordasse, enquanto entendesse o dia e a noite, seria o estandarte de fé, a crença, o fiapo de esperança daquela gente.”). Quanto ao peso corporal, imagino que, no início, comia exageradamente. Depois, com a idade avançando, tornou-se obesidade mórbida. Ninguém conhecia esta doença. E do corpo morto leve como paina, não há como explicar. Isso faz parte do mundo espiritual, da crença de cada um. Não há uma explicação lógica que eu pudesse colocar no texto. Ficou nas entrelinhas. Era comum contar que havia defuntos magérrimos e que, para carregar o caixão deles, era preciso a força de seis homens. Com Vicentão, aconteceu o inverso. Coisas da fé. Seria devaneio? Fantasia? Não sei. Não tenho como explicar… Tenho a minha cisma. Obrigada por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    DANIEL REIS – Até fiz uma brincadeira na página do EC dizendo que, quando percebo que não consegui deixar claro alguma coisa para o leitor, tenho vontade de correr atrás dele e falar: não, meu filho, eu quis dizer … – mas não é possível, né? É verdade, o poder de Vicentão deve ser encontrado pelo leitor. Eu, que acompanhei a saga ao vivo e em cores, sinto que o poder estava na “entidade”, no semideus que ele se tornou. Para os fiéis, Vicentão era a fé personificada, era o refúgio, a esperança viva. E as pessoas se curavam! Talvez pela crença, talvez por reavivar a força interior, sei lá… Não quis colocar palavras que soassem estranhas. São as palavras com as quais me expresso. Quando digo “cansado” é porque dava para perceber no semblante do semideus um cansaço extremo. Foram muitos anos, décadas de abnegação, de entrega ao “sacerdócio”, sem descanso. Quando digo “agigantado” é porque o tamanho dele era descomunal (obesidade mórbida). A “verdade pura, sem cisma…” – refiro-me à verdade que ninguém ousava falar. Tudo era visto, percebido, mas, por causa do medo, era guardado apenas como cisma. Cisma, sabe?! “As mortes diminuíram assustadoramente.” – no contexto, se mergulhar na narrativa, o leitor pode perceber que Vicentão, de início, era um matador de aluguel. No conto, há também narrativa nas entrelinhas. A história foi passada da maneira como foi vivida. Muitos mistérios, muitos segredos, muitas certezas dissimuladas. Eu não poderia falar tudo claramente, quis ser fiel ao acontecido. Há muita coisa guardada como cisma. Que bom que aprendeu palavras novas do “sertão”… Sou de lá… Obrigada por ter lido o meu texto, e obrigada pelas boas palavras. Feliz 2018!!!

    EDINALDO GARCIA – Obrigada por ter lido o meu texto! Que pena que a minha linguagem lhe pareceu engessada. Eu fiz um conto sobre uma vivência muito interessante e muito nebulosa. Escrevi aquilo que vi e senti. Os mistérios que não desvendei, eu os mantive assim. Nas entrelinhas. Para os adoradores, há uma linha tênue entre deus e semideus. Normalíssimo esbarrar ou mesmo ultrapassar esta linha. Não quis demonstrar incoerência. Não há rebuscamento no meu texto, escrevo de maneira muito simples. Obrigada pelos elogios, obrigada pelas boas palavras. Feliz 2018!!!

    PAULA GIANNINI – Obrigada pelas boas palavras e pelos elogios! Que alegria a gente sente quando percebe que conseguiu passar exatamente a essência da nossa intenção, não é?! Vicentão existiu, chamava-se LIDIÃO. Troquei o nome por respeito a ele e a alguns moradores da minha vila, que ainda estão vivos. Ele era exatamente como descrevi. O pouco que ele se deixou conhecer está registrado nas minhas palavras. Há muito texto nas entrelinhas, cabe ao leitor resgatar ou não. Até mesmo as cismas. Obrigada por ter lido o meu conto! Feliz 2018!!!

    PEDRO LUNA – Obrigada pelas boas palavras! É verdade, Pedro, a minha intenção era contar a história de Vicentão exatamente como aconteceu. Não há diálogos, Vicentão não gostava de conversa. O vozeirão era sentido apenas nas rezas, ele era fechado feito uma ostra. Eu quis ser fiel ao relatar um semideus que conheci. O passado de Vicentão, antes que ele fosse trazido para o povoado, continua uma incógnita até hoje. Ninguém soube mais do que aquilo que narrei. E se alguém soube, nunca comentou. Segredo velado. Obrigada por ter lido o meu texto! Feliz 2018!!!

    Obrigada a todos! ❤

    • Bianca Machado
      31 de dezembro de 2017

      Oi, Regina, obrigada pelas explicações! Quanto ao erro que achei, não me lembro agora qual é, eu pego no meio da leitura e geralmente não anoto, então depois esqueço, caso seja algo “gritante” aí aviso ao autor/autora, mas certamente não é “benção”, eu nunca me lembro que tem acento, só depois que escrevi, ou o corretor me lembra, rs… Parabéns pelo seu conto, mais uma vez. O Fabio disse (de brincadeira) que era meu e eu realmente gostaria que fosse. Até a próxima. 😉

      • Regina Ruth Rincon Caires
        31 de dezembro de 2017

        Feliz 2018! ❤

  2. Pedro Luna
    30 de dezembro de 2017

    O conto em alguns pontos me lembrou o Cem Anos de Solidão. Gostei da pegada regionalista, apesar de achar que o texto dá voltas desnecessárias em alguns pontos. O Vicentão é um interessante personagem. Como o conto não o traz em diálogos, nem esmiuça muito o passado, o personagem mantém o ar de mistério, o que acho que foi a intenção do autor. O modo como a sua figura modifica a vida dos outros, da cidade, propões transformações, se torna alvo de culto, mostra como ele era realmente dotado de um poder. Talvez fosse uma história que ficasse melhor alongada, com a introdução de outros personagens, mas do jeito que está ficou legal também.

  3. Paula Giannini
    30 de dezembro de 2017

    Olá, Autor(a),

    Tudo bem?

    Para mim, seu conto se confunde com seu protagonista. A figura forte, saída do cangaço, antigo matador de aluguel, descobre-se possuidor do poder da cura e essa é, não só sua redenção, como a de toda a cidade para onde se muda.

    O personagem é forte, visceral, imagético. Dá para ouvir sua voz de barítono e enxergar os calos de suas mãos sofridas, velhas, imensas. Ao menos assim foi para mim.

    Ponto alto para a brasilidade contida no texto. Raízes de um Brasil nordestino, com suas crenças e peculiaridades.

    É interessante notar que a figura do curandeiro (muitas vezes a da benzedeira), se passa por “folclore” ou crendice para as novas gerações, é, por outro lado, a pessoa mais respeitada em algumas comunidades, por sua força sobre-humana em sua comunidade.

    Assim, o(a) autor(a) mantém esse ar de mistério em sua construção do protagonista, criando, no final, uma nova crendice, ou lenda a se perpetuar acerca desse homem, ao revelar a leveza de seu corpo ao ser carregado. O homem tinha o superpoder da cura. Sua leveza é prova disso? Ou não? Quem viu jura que sim. Quem não, levará a história adiante e oralmente. Isso é Brasil.

    Parabéns.

    Desejo-lhe sorte no desafio.

    Beijos

    Paula Giannini

  4. Edinaldo Garcia
    30 de dezembro de 2017

    Vicentão, o Semideus (Zé Venâncio)

    Trama: Conhecemos Vicentão, um matuto com um talento (não tão) raro.

    Impressões: Contos com pegada regionais sempre são charmosos. Aqui não é diferente. O enredo é interessante à medida que compramos a ideia do distanciamento entre o leitor e o personagem. A narrativa segue numa visão panorâmica dos fatos, impedindo que o leitor entre no enredo e acompanhe bem próximos. Quisera eu estar dentro das procissões até a casa do Vicentão, quisera eu contemplar bem de perto figura tão única, se preocupar com sua morte… enfim. A linguagem engessada me distanciou dos eventos.

    No título diz “semideus” e na narrativa ele é comparando com o próprio Deus. Achei meio incoerente.

    Linguagem e escrita: É muito boa. A capacidade do autor é algo que salta aos olhos. Há, entretanto, certos rebuscamentos que distanciaram um pouquinho da proposta regional. Exemplo:

    Os incrédulos ficavam calados, simples assim.
    Passou a ser lembrado na região toda, nas cidades grandes.

    Veredito: Conto agradável.

  5. Daniel Reis
    30 de dezembro de 2017

    16. Vicentão, o Semideus (Zé Venâncio):
    A narrativa regionalista dá o ar da sua graça novamente neste desafio, com um resultado a meu ver muito bom. A PREMISSA, do Preto Velho curandeiro/encantador, é rica em possibilidades, apesar de que, no desenrolar do texto, o poder exato dele não fica muito claro, só a consequência – o crescimento desmedido. Na TÉCNICA, algumas construções e/ou escolhas vocabulares ficaram estranhas: “Cansado, agigantado”; “A verdade pura, sem cisma”;“As mortes diminuíram assustadoramente.” Por outro lado, aprendi o significado de “currutela”, “bruguelos”, “sororoca” e “tremura”.Quanto ao APRIMORAMENTO, acho que o autor está bem maduro e qualquer interferência ou palpite meu no texto tiraria sua personalidade.

  6. Ana Maria Monteiro
    29 de dezembro de 2017

    Olá, Zé. Tudo bem? Desejo que esteja a viver um excelente período de festas.
    Começo por lhe apresentar a minha definição de conto: como lhe advém do próprio nome, em primeiro lugar um conto, conta, conta uma história, um momento, o que seja, mas destina-se a entreter e, eventualmente, a fazer pensar – ou não, pode ser simples entretenimento, não pode é ser outra coisa que não algo que conta.
    De igual forma deve prender a atenção, interessar, ser claro e agradar ao receptor. Este último factor é extremamente relativo na escrita onde, contrariamente ao que sucede com a oralidade, em que podemos adequar ao ouvinte o que contamos, ao escrever vamos ser lidos por pessoas que gostam e por outras que não gostam.
    Então, tentarei não levar em conta o aspecto de me agradar ou não.
    Ainda para este desafio, e porque no Entrecontos se trata disso mesmo, considero, além do já referido, a adequação ao tema e também (porque estamos a ser avaliados por colegas e entre iguais e que por isso mesmo são muito mais exigentes do que enquanto apenas simples leitores que todos somos) o cuidado e brio demonstrados pelo autor, fazendo uma revisão mínima do seu trabalho.
    A nota final procurará espelhar a minha percepção de todos os factores que nomeei.

    Tive alguma dificuldade no entendimento de algumas palavras que desconhecia, mas não a suficiente para não compreender tudo o que contou e que domina perfeitamente a escrita. Na adequação ao tema, não encontrei ligação. Ao que tudo indica, o homem foi um charlatão, que primeiro se deu bem a matar pessoas e depois se deu ainda melhor a enganá-las. E então, aproveitou. O facto de ele ganhar peso e tamanho só me fez sentido como contraponto ao final em que, apesar disso, era leve como uma pena. Estranho, isso. Porquê? Por que não tinha peso? Por ser vazio? O que não falta é gente vazia que tem o peso que tem, então não foi esse o motivo. Alguma razão sobrenatural? Talvez, mas não existe qualquer indício de qual. Então, como já disse, o conto cumpre enquanto tal, mas não vejo adequação ao tema. No mais está bem. Parabéns e boa sorte no desafio.
    Feliz 2018!

  7. Amanda Gomez
    29 de dezembro de 2017

    Olá, Zê!

    Sempre que aparece um conto assim, com essa linguagem regional, essa poesia ritmada eu fico encantada, é sempre um prazer.

    O seu conto é muito interessante, ele vai te levando através do estranhamento, curiosidade, realmente instiga.

    Vicentão foi muito apresentado, e ainda deixou lacunas e incertezas ao leitor, afinal quem era ele? o que ele fazia era real ou apenas uma habilidade apurada? um flautista hipnotizando os mais desavisados? Um matador?

    Não sabemos de fato, assim como as pessoas daquele povoado… era bom, podia ser ruim, mas como eles não tinha certeza focavam apenas no que era bom, no que ele trouxe, na prosperidade. Fé é assim mesmo, ou você se deixar levar por ela, ou capaz de não sair de lugar algum.

    O autor trouxe a figura do benzedor, quem não conhece um, né? eles estão por ai, fazendo seus trabalhos, mostrando resultados e sobrevivendo inevitavelmente da fé de quem os procura. O poder está do vicentão ou em quem acredita nele?

    É um texto muito bacana, acho que está adequado ao tema. Por um momento eu pensei que o agigantamento dele, fosse a consequência dos poderes… ele salvava vidas, tirava dores, e com isso aumentava de tamanho… ao mesmo tempo que ele conseguia prosperidade e tudo lhe era dado;tudo lhe era roubado, pois no fim, seja ele verdadeiro ou não, foi condenado ao destino de ser o mito que criou.

    Parabéns pelo trabalho, boa sorte no desafio!

  8. Bia Machado
    28 de dezembro de 2017

    – Enredo: 1/1 – Bom, bora lá. O enredo é o do típico conto regional e pra mim isso é uma delícia. Adoro essas narrativas, impregnadas de características do sertão, de um lugar que reconheço como sendo parte da minha origem, do meu DNA, mas que infelizmente pouco conheço. No conto, ficamos sabendo da vida do Vicentão e só, mas a linguagem e a construção de texto e personagem nos leva sem maiores problemas.
    – Ritmo: 1/1 – O autor me levou do começo ao fim. Queria saber qual afinal era o poder do Vicentão, queria saber também como ele tinha conseguido tudo o que conseguiu etc. Por mais que eu tenha terminado o conto ainda com dúvidas, achei
    isso bom, como se fizesse parte da “magia”. 😉
    – Personagens: 1/1 – Cativante, capaz de levar a leitura, bem construído, mostra a firmeza do autor/autora.
    – Emoção: 1/1 – Claro que gostei bastante do conto. O Fabio disse que era meu, brincando, lá no grupo, mas é certo que gostaria muito de ter escrito isso. Parabéns.
    – Adequação ao tema: 0,5/0,5 – Está adequado, há poder no Vicentão, mas fiquei em dúvida quanto a qual era exatamente: o de enganar as pessoas, convencer de uma cura, como muitos fazem por aí? Seria o peso dele, que aumentava a cada crime encomendado? Admito que me confundi nisso, mas não importa, depois você me conta melhor, rs.
    – Gramática: 0,5/0,5 – Só o que notei foi errinho bobo, que parece ser de digitação, ou por conta de pressa. Nada que tenha me atrapalhado.

    Dicas: Não sei que dicas poderia dar para um autor/autora que parece ser tão experiente, capaz de escrever um conto nessa pegada, nessa linguagem. Talvez, apenas, que continue escrevendo. Parabéns!

    Frase destaque: “E num começar de dia, igual a tantos que passara por ali, com os olhos cansados mirando a interminável fila de inocentes, Vicentão dobrou-se diante da vida.”

    Obs.: A somatória dos pontos colocados aqui pode não indicar a nota final, visto que após ler tudo, farei uma ponderação entre todos os contos lidos, podendo aumentar ou diminuir essa nota final por conta de estabelecer uma sequência coerente, comparando todos os contos.

  9. Ana Carolina Machado
    28 de dezembro de 2017

    Oiii. O conto é bem criativo e original. A ambientação é muito boa. Acredito que o poder do Vicentão tivesse alguma relação com o fato dele engordar, talvez ele fosse o matador de aluguel que matasse as pessoas usando alguma habilidade especial, fazendo parecer acidente, acho que ele era o matador de aluguel a serviço de algum grande proprietário por isso ele ganhou aquele pedaço de terra sem muita alarme, meio por baixo dos panos e as mortes após um tempo diminuíram muito. Tiveram muitos mistérios que continuaram mesmo após o final , principalmente a confirmação do poder dele. Parabéns. Boa sorte no desafio!

  10. Higor Benízio
    27 de dezembro de 2017

    Bom trabalho, o jeito de casar a escrita com o cenário proposto funcionou bem e não soou “forçado” em momento nenhum, talvez o maior mérito do conto. Um breve vislumbre que cumpre bem seu papel. A surpresa final foi bacana.

  11. eduardoselga
    25 de dezembro de 2017

    Caro(a) autor(a).
    Antes de tudo, interpretações do literário são versões acerca do texto, não necessariamente verdades. Além disso, o fato de não haver a intenção de construir essa ou aquela imagem no conto não significa a inexistência dela.

    Quem está acostumado à leitura de contos percebe que algumas vezes a estória tem poucos atrativos se considerarmos o elemento ação e não há reviravoltas rocambolescas, mas, mesmo assim, a narrativa é encantadora. Por quê? Por causa da linguagem empregada, quase sempre. É ela que vai estabelecendo na mente do leitor determinado ritmo de leitura e a fixação de personagens e cenas fundamentais à construção da narrativa como um todo, no leitor.

    É o caso deste conto. Não digo que em todas as situações sempre se deve construir uma narrativa como foi feita aqui, num tom de proseado, mas neste caso foi essencial para a percepção do que seja o personagem e do que se dá em torno dele. O(a) autor(a) monta um narrador ao rés do chão mesclando norma padrão e uma linguagem popular, a exemplo das palavras “currutela” e “sororoca”, que certamente embeleza o texto.

    Não é, entretanto, algo pretensioso, que soe forçado. Ao contrário. Ambas as linguagens se fundem, resultando num belo texto.

    No enredo é de se ressaltar a relação antitética que se estabelece por meio do protagonista, mostrando que o maniqueísmo é um pensamento idealizado, não corresponde aos fatos: ao mesmo tempo em que ele é “santo”, é muito possivelmente homicida. E aí – inferência minha – o personagem usa o fato de ele ser realmente “curador” ou assim considerado pelo povo como uma maneira de negociar com a Providência Divina um “abatimento” quando tiver de “prestar contas” de seus atos. Pode-se deduzir isso em “Não compreendia se a missão era benção ou castigo. E não podia parar. Enquanto acordasse, enquanto entendesse o dia e a noite, seria o estandarte de fé, a crença, o fiapo de esperança daquela gente. Sabia da sentença. Ninguém, mais que ele, conhecia a pesada realidade”.

    À medida que vai assassinando desafetos de outrem, sob pagamento inclusive de imóvel, o protagonista vai se deformando fisicamente, ganhando uma quantidade de peso que chega a inviabilizar sua mobilidade. No desfecho, quando “perceberam que o corpo era leve feito paina” ao pegá-lo para ser velado sob a figueira, fica a questão: o peso que ele carregava seria o dos homicídios cometidos e ficou leve de repente porque sua “negociação” com o divino funcionou bem e ele pagou os pecados ao curar as pessoas?

  12. Rafael Penha
    23 de dezembro de 2017

    Olá ,Zé Venâncio

    Seu conto me parece uma história já contada antes. Não muito original

    1- Tema: A prinicípio, não percebi nenhum superpoder. Talvez influenciar as pessoas? Mas só forçando muito a barra pode se entender isso.

    2- Gramática: Boa gramática, sem erros que me incomodassem.

    3- Estilo – A história é contada de forma imparcial, e na minha opinião, um pouco arrastada. A narrativa se desenrola mas não evolui, nem cativa. Não é enfadonha, pois consegue prender até o fim, mas não recompensa.

    4- Roteiro; Narrativa – Um personagem misterioso muda a vida local. Argumento já famoso, mas não há qualquer desenvolvimento de quem ou o quê é este personagem, o quê ele faz. Ou mesmo como pôde ir de temido a adorado sem qualquer explicação razoável. A história é um pouco inchada, podendo ser suprimidos alguns pontos. O fim é realístico, mas sem impacto e assim como toda a história, sem qualquer explicação, mesmo que seja pra deixar idéias na mente do leitor.

    Resumo: Conto bem escrito, mas a ideia me pareceu andar, andar e não ir a lugar nenhum. Sem um superpoder palpável. Poderia ter discorrido mais sobre o mistério de quem é o homem.

    Grande abraço!

  13. Mariana
    23 de dezembro de 2017

    Uma trama regionalista, o autor escreve quase como um antropólogo analisando um fenômeno religioso do interior brasileiro. A escrita é sólida, forte como o Vicentão. Eu queria conhecer mais sobre a esposa de Vicentão, mas entendo que em espaço tão curto não era possível tal desenvolvimento. A única questão é que não percebo um adequamento ao tema (matador e curandeiro existem muitos), mas nada que tire a beleza e a qualidade do conto: certamente o texto estará entre os primeiros. Parabéns e boa sorte no desafio.

  14. Hércules Barbosa
    22 de dezembro de 2017

    Saudações

    O microcosmo envolvendo um sítio alocado em um povoado, transformado em cidade graças ao poder de cura do velho Vicentao é um atrativo a mais para a objetividade empregada na narrativa abordando a vida Eça missão dese senhor que tanto bem fez ás pessoas e à região onde Morada. E também à sua família.
    Não é explícito o tema crenças religiosas no texto. Ele tem uma influência da Cultura africana, creio que chega até a fazer um sincretismo com a crença cristã aproximando-se do candomblé, mas ao ler o conto não tive como deixar de pensar no saudoso Chico Xavier, líder espírita que psicografou várias cartas durante sua produtiva vida.

    Parabéns pelo trabalho e sucesso

  15. Fernando Cyrino.
    22 de dezembro de 2017

    Zé Venâncio, meu querido, você nem imagina o quanto esse seu escrever sertanejo me encanta. Bacana demais esse seu cuidado em escrever conforme as raízes do povo simples do interior. Nesses temos de supervalorização do que vem dos grandes centros, a sua maneira de narrar me aparece como um contraponto. Esse Vicentão, ser misterioso e que muda toda a cidade, a princípio a partir do pretenso mal que realizava pelas noites escuras e depois pelas bênçãos e curas que propiciava. Gosto dessa dicotomia, bem e mal, bendição e maldição envoltos na mesma realidade, dentro do mesmo ser. Senti falta de, no final pelo menos, você amarrar essas pontas de linhas das crueldades, sugeridas pelas mortes estranhas, postas do início para o meio do conto. O artifício de deixar registrado, mais uma vez, o primeiro parágrafo lá no miolo da narrativa, definitivamente, não funcionou para mim. Ao contrário, atrapalhou a fluidez da escrita. Meu abraço

  16. Thata Pereira
    22 de dezembro de 2017

    Que conto gostoso de ler! Esse regionalismo me encanta e a sua escrita conversou muito bem com esse estilo. Gostei muito mesmo.

    Como conto anterior, é bastante linear, não há sobressaltos ou suspense que leva um ápice na história, como disse lá, acho corajoso quem escreve contos assim em um desafio, porque geralmente o que faz o leitor gostar muito de um conto é a emoção que ele desperta.

    Contudo, como já disse, aqui temos uma narrativa muito bem escrita, um ótimo personagem e uma bela história regional. A parte que mais gostei foi o fato do Vincentão ter o corpo leve. Vemos nele símbolos que representaram religiões que, infelizmente, sofrem muito preconceito (eu não sei, ainda, diferenciar a umbanda e o candomblé) e o fato dele ter o corpo leve fez referência, para mim, a uma alma boa e pura (até arrepiei escrevendo isso, de tão evidente que ficou para mim).

    Por isso mesmo, não acredito que ele seja o responsável pelas mortes que aconteceram. Comprei mais a ideia de que com a presença de algo do bem vem sempre algo mau.

    Engraçado que ontem uma amiga me contou que visitou uma benzedeira e que fiquei pensando: isso daria um belo conto para o desafio de super poderes. Queria ter pensado nisso antes.

    Boa sorte!!

  17. Fabio Baptista
    22 de dezembro de 2017

    Gostei do conto, muito bem escrito, com uma pegada regionalista que qualquer dia desses vou tentar fazer (mas tenho impressão que não terei um bom resultado).

    O início me deu a sensação que seria algo no estilo “o afogado mais bonito do mundo” do Gabriel García Marquez (apareceu por aqui em uma terça clássica, caso ainda não tenha lido, recomendo demais). Daí ficou numa pegada meio cangaceiro, que me lembrou as histórias que meu vô conta sobre o Tobiba (um cangaceiro que matou uma caralhada de soldados, tipo um John Wick do sertão hauhauhua) e pensei que Vicentão seria um tipo de vilão.

    Então começa a fase curandeiro e as coisas se estabelecem melhor. Talvez essa transição seja o único ponto fraco do conto, por ser muito repentina. A amigada surge do nada, a propriedade, etc.

    Enfim… no final, com a despedida de Vicentão, o clima de Garbriel García lá do começo foi retomado (inclusive com a repetição do primeiro parágrafo, que foi muito bem aplicada), encerrando de um jeito bem bonito.

    Belo conto!

    Abraço.

  18. Fil Felix
    21 de dezembro de 2017

    O conto segue um estilo que gosto muito, puxado pro regional, um tanto exagerado e dramático, mas sem deixar de lado a leveza das construções. A leitura flui muito bem e mostra como o autor conseguiu criar todo um contexto em tão pouco tempo, fez crescer uma lenda urbana, um santo nesses Brasis, que primeiro causa desordem, depois a ordem. Me lembrou o livro da Tieta, que terminei esse ano. A figura dela, assim como Vicentão, ajudou no progresso da cidade, uma figura quase santa.

    Tem uma cena no filme Central do Brasil que me marcou muito, aquela em que tá acontecendo uma procissão na vila (ou algo assim), e a personagem da Fernanda entra numa casa cheia de velas, santos e orações. E no conto, quando coloca o Vicentão ali no meio, rodeado dessas coisas, me trouxe a mesma sensação. Em questão de poder, é bastante subjetivo, porque pode estar nas habilidades dele em curar etc, ou também não, sendo tudo um grande placebo. Fica pro leitor interpretar. Mas gostei bastante, um clima muito bom.

  19. Jorge Santos
    21 de dezembro de 2017

    Conto cheio de regionalismos que me dificultaram a leitura mas, mesmo assim, soube apreciar a sua beleza. O conto tem uma estrutura sólida, tem ritmo e um desfecho inesperado. A linguagem, fora os regionalismos que já referi, é adequada, tal como é boa a adequação ao tema.

  20. Sigridi Borges
    21 de dezembro de 2017

    Olá, Zé!
    Confesso que não consegui encontrar o superpoder em seu texto.
    Escrita muito boa retratando o nordeste brasileiro.
    Palavras rebuscadas que admiro muito o uso. Gosto disso. Não chegam a ser indecifráveis.Gostei da linguagem, mas parece mais uma lenda.
    Não entendi por que um parágrafo todo aparecer duas vezes. Talvez algum fragmento apenas, ficaria mais interessante e apropriado.
    Obrigada por escrever.

  21. Gustavo Araujo
    20 de dezembro de 2017

    O que mais me chamou a atenção neste conto foi a habilidade incomum do autor para transitar no regionalismo. Li o texto com um misto de inveja e admiração, porque, pessoalmente jamais conseguirei escrever dessa forma. A história lembra um causo, ou mesmo uma fábula, passando ao leitor a biografia de um sujeito misterioso e que, por algum motivo, torna-se uma mistura de assassino de aluguel com benzedor-mor do povoado (depois cidade) em que vive. Pois bem, apesar desse virtuosismo na escrita, houve certos aspectos que me incomodaram enquanto leitor. Primeiro, o nome do protagonista Vicentão. Pode parecer birra minha, mas me parece mais um daqueles apelidos que se dão àqueles com quem temos bastante intimidade, o que não acontecia com o sujeito, que pelo visto era alguém recluso. Creio que mantendo o clima regionalista, “Negro Vicente” ou mesmo “Vicente” apenas, ficaria melhor. Divagação apenas… O que me deixou um tanto frustrado foi que o texto fala da vida de Vicentão e pronto. Nasceu, viveu e morreu. Talvez ficasse melhor se o enfoque se desse em um aspecto particular da vida dele, algo que servisse de fio condutor, que pudesse amarrar as pontas da história. Não me entenda mal, caro autor. É que gostei tanto da maneira como você escreve que não pude deixar de pensar o quanto esta história poderia ter me agradado caso fosse mais desenvolvida. É um bom texto, repito, mas que poderia ser excepcional.

  22. Renata Rothstein
    20 de dezembro de 2017

    Oi, Zé Venâncio!
    Tudo bem?
    Excelente conto regional, de uma perfeição ímpar, li e reli pelo prazer da leitura, e isso é maravilhoso.
    Estou só com uma dúvida: as pessoas estavam morrendo muito, Vicentão tinha algo a ver com isso? Teria ele mesmo forjado tudo, para depois vender o seu peixe, o de (possível) falso profeta?
    Apenas dúvidas de leitora mesmo.
    Parabéns pelo excelente trabalho e pelo talento tbm!
    Abraço

  23. Leo Jardim
    20 de dezembro de 2017

    # Vicentão, o Semideus (Zé Venâncio)

    📜 Trama (⭐⭐▫▫▫):

    – não há nenhuma cena de fato no conto, todo ele é narrado à distância, contando e não mostrando; isso reduz muito o apego aos personagens, parece que eu estava lendo uma notícia distante
    – o artifício de repetir todo um parágrafo para retomar a história não funcionou muito bem, deixou cansativo; acho que funcionaria melhor repetindo somente as duas primeiras frases
    – analisando a história em si, não cheguei a ver nada de extraordinário: um homem estranho, possivelmente um matador, que acabou virando uma espécie de líder religioso; da forma distante que foi contado, não entendi muito bem os motivos disso
    – queria ter visto mais de suas dores, seus medos, sentir seu fardo, saber quem ele era de fato ou pelo menos a história de alguém que teve a vida afetada por ele; enfim, toda boa história precisa de um personagem para nos agarrar e essa nos mostrou um bem de longe

    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫):

    – apesar do problema de contar demais e mostrar de menos, é umas técnica bonita, refinada, elegante
    – uma narração regional que dá vontade de ler por várias horas

    💡 Criatividade (⭐⭐▫):

    – a ambientação regional é comum, mas o personagem é marcante

    🎯 Tema (▫▫):

    – não há adequação ao tema do desafio, pois o próprio narrador desdenha dos “poderes” do Vincentão

    🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫):

    – eu achei que fosse gostar bastante deste conto, pois sempre curto textos regionais, mas esse contou, contou, contou e terminou
    – como já disse, não me apeguei ao personagem, não vivi suas dores, temores, foi tudo muito distante e isso diminuiu o impacto

  24. Marco Aurélio Saraiva
    20 de dezembro de 2017

    =====TRAMA=====

    Um conto e tanto, com ares de lenda. Vincentão é um personagem peculiar e que instiga muito o leitor. Também é muito bem trabalhado.

    Mas não entendi o seu poder. Qual era? A princípio, achei que ele se alimentava das pessoas. Talvez não dos seus corpos, mas das suas essências. Por isso vivia sem precisar trabalhar, e por isso o número de mortos aumentava. Em seguida, porém, ele se torna benzedor e bastião de fé para o povo. Ele continuava a engordar, como se seu alimento fosse a própria fé dos seus seguidores. Talvez ele se alimentasse da mácula dos que buscavam cura? Se sim, ele mesmo estar leve no final do conto faz sentido. Talvez ele destilasse mácula que consumia em algo leve; puro.

    Mas enfim… toda a história tem um quê místico. E mesmo este misticismo é um tanto sutil. Vincentão poderia ser uma entidade do além, um deus disfarçado de gente… ou apenas alguém que deu sorte na vida e nunca precisou trabalhar.

    O superpoder aqui ficou em terceiro plano. Ou quarto… não sei dizer. Acho que o que você quis passar aqui era o poder da fé… certo? Acho válido, e por isso não falo que o conto está completamente fora do tema. Mas ele anda bem bambo sobre a divisa.

    =====TÉCNICA=====

    Escrita perfeita. Você sabe bem o que está fazendo. Sua narrativa é pausada, mas não a ponto de ser travada. Suas frases são rebuscadas, mas não a ponto de se tornarem inacessíveis. Você tem o equilíbrio perfeito. Com certeza, um(a) excelente escritor(a).

  25. angst447
    20 de dezembro de 2017

    Olá, Zé Venâncio, tudo bem?
    Considero que o tema proposto pelo desafio tenha sido abordado a sua maneira.
    Não encontrei erros de revisão. Entendi que a repetição do trecho: “Vicentão, caboclo indecifrável, estava velho. Cansado, agigantado. A voz grossa soava quase ininteligível, era um sussurro entrecortado por pigarros e tosse.” – foi um recurso para enfatizar a condição do protagonista.
    A linguagem é bem trabalhada, revelando um vocabulário rico e tendência à poesia. Suponho que o(a) autor(a) seja um escritor mais maduro (o que não implica não ser jovem).
    O ritmo ganhou fluidez e encantamento com esta forma de narrar tão melódica.
    O enredo é bem interessante, trama que nos chama ao reconhecimento de nossas raízes.
    Boa sorte!

  26. João Freitas
    20 de dezembro de 2017

    Olá,

    Texto bem escrito sem dúvida alguma. O conto receio que não vá 100% de encontro ao tema proposto. A história em si não me trouxe nem boas nem más sensações, valeu essencialmente pela escrita, muito bem conseguida. Debruça-se em como é fácil manipular o povo no que toca à divindade.

    Parabéns. 🙂

  27. Iolandinha Pinheiro
    18 de dezembro de 2017

    olá!

    Adorei a escrita do teu conto, Tão linda, tão natural, tão nordeste, tão gente de verdade! Seu personagem foi um dos melhores também. Ambientação sensacional, pequenos detalhes primorosos ao longo do texto. Vc é um escritor e tanto. Não vi problemas gramaticais, gostei da história, não tenho reparos a fazer, só elogios. Quando a gente gosta muito de um conto, não sobra o que falar, então eu não falo, eu saúdo.Parabéns! Sucesso no desafio.

  28. Estela Goulart
    18 de dezembro de 2017

    Olá, Zé Venâncio. A história flui sem erros, o que é ótimo. O texto e sua construção também fluem com algumas repetições, mas nada que impedisse a compreensão. No geral, é um bom conto. Porém, faltou mais um pouco. Não entendi porque ele era leve, mesmo sendo gordo, mas acho que era pela sua “leveza da alma”. Gostei da história. Parabéns e boa sorte.

  29. Juliana Calafange
    16 de dezembro de 2017

    Adorei o conto! O universo é muito bem pintado, o leitor embarca na trama sem nenhum entrave. A linguagem ajuda a criar o ambiente e o conceito do conto. Essa aura de dúvida, se é santo ou charlatão, permeia toda a trama e vai até o fim, deixando o final aberto, na medida certa.
    Em alguns momentos, o autor repete trechos, propositalmente. É uma técnica arriscada, porém foi muito bem usada aqui, nos momentos certos da trama, para dar ênfase à condição do personagem e movimentar a história através do tempo, mantendo o leitor atento ao texto.
    Muito bom, parabéns!

  30. Fheluany Nogueira
    16 de dezembro de 2017

    Superpoder: Curas ou absorção para si dos males (que engordavam Vicentão)?

    Enredo e criatividade: Um matador que se torna um benzedor; se a ideia não é nova, ao menos, recebeu uma roupagem diferente. Não existe um conflito, propriamente dito, toda a história se desenvolve em torno de descrições, cenas sobre o protagonista, que é muito bem construído. O desfecho é aberto sugerindo que o personagem era só esperto com cartas na manga. Não entendi porque ele tão gordo, ficou leve para o enterro; talvez fosse esse o superpoder.

    Estilo e linguagem bem amarrados ao assunto e ao ambiente, com um regionalismo leve. Texto bem escrito e fluido, leitura agradável.

    Parabéns pela participação! Abraços.

  31. Givago Domingues Thimoti
    16 de dezembro de 2017

    Olá, Zé!

    Tudo bem?

    Infelizmente, não curti muito o conto. A história de redenção é, em si, boa. Entretanto, achei a linguagem truncada e pesada. Não vi nenhum erro gramatical, o que é muito bom.

    Confesso que fiquei com a impressão que faltou algo a mais nessa história.

    Boa sorte no Desafio!

  32. Catarina
    14 de dezembro de 2017

    Um superpoder do sertão nordestino. Lembrei-me da frase “O cabra inventa dificuldade para vender facilidade”. O que mais gostei no conto foi a cisma subtendida, como uma névoa sobrevoando a trama. O vocabulário não é para qualquer um, manteve a cadência das expressões sem perder velocidade.

  33. Miquéias Dell'Orti
    13 de dezembro de 2017

    Oi,
    Um belo conto, sem dúvidas. Vicentão é um ótimo personagem, bem construído e com um arco bem feito.

    Gostei muito do seu estilo, com os trejeitos nordestinos (pelo menos, achei assim) casando certinho com a ambientação da história.

    Adorei o final. Fica aquela sensação de que Vicentão pode até não ter poder nenhum, mas é um cabra esperto e que tem suas cartas na manga.

    Parabéns pelo trabalho!

  34. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2017

    Salve, Zé!

    Eu gostei muito do conto. Vicentão é um personagem que me pareceu ao mesmo tempo um assassino introvertido e um benzedor carismático. Dentro da mesma pessoa. E, como a narração é toda centrada nele, achei muito interessante como isso vem à tona, com sua vida sendo contada em detalhes, e ainda assim ele se mantendo um caboclo indecifrável.
    O texto é muito acima da média, rico e complexo com toda a regionalidade da narração. Mas ainda assim muito fluido e ágil. É o tipo perfeito de texto para um conto curto, fornece requinte sem enrosco.
    O único senão aqui é a adequação ao tema do desafio. Não entendi bem qual era a ideia do superpoder, se eram as curas puras e simples, ou se era uma espécie de absorção para si dos males dos enfermos. De qualquer maneira, pela forma como a estória foi contada, só pensamos no superpoder porque está num desafio com esse tema. De outra forma acredito que ninguém faria a associação.

    É isso! Boa sorte no desafio!

  35. Luis Guilherme
    13 de dezembro de 2017

    Boa tarrrde, amigo! Tudo bem, por ai?

    O conto é muito bom! Especialmente a escrita, que é envolvente. Você tem um domínio incrível da linguagem, e conseguiu empregar a linguagem regional de forma profissional. Não ficou forçado, não ficou deslocado. O enredo é muito bom. Toda a construção da historia ficou boa. A mudança de vida do homem, de assassino de aluguel para uma especie de salvador que se sacrifica pelo povo, foi bem feita. No começo, ele enche o cemiterio, mas no fim, esvazia.. hahaha muito bom.

    Porém (sempre tem um, né?), achei que a adequação ao tema ficou um pouco abaixo do esperado. Penso em superpoder como algo que distingue a pessoa de todo o restante. Curandeiros existem vários pelo Brasil, não chega a ser nada “super”.

    Isso não chega a atrapalhar o conto, que é muito bom. Mas como estamos num desafio temático, não acho que seria justo não levar em consideração.

    Enfim, é um ótimo conto, que ganha com a qualidade técnica do autor, mas que deixa a desejar na questão do tema.

    Parabéns e boa sorte!

  36. Felipe Rodrigues Araujo
    13 de dezembro de 2017

    Bom conto, eu não tinha feito a ligação do protagonista com um “matador de aluguel” até ler os comentários e, mesmo sem ter percebido isso, achei um bom conto. Foi narrado de forma bastante direta, sem floreios e fazendo uso de descrições certeiras. Vicentão me pareceu, em um primeiro momento, um ser místico, uma espécie de alegoria que representa a decadência e o progresso de uma cidade, um símbolo, até mesmo, de todo um povo.

  37. Pedro Paulo
    12 de dezembro de 2017

    Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto adequada ao tema do certame. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tem que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário sirva como uma crítica construtiva. Boa sorte!

    Fiquei impressionado com a capacidade do autor de aproveitar o seu vocabulário. A escrita é muito boa e o autor se provou capaz de trazer à mente do leitor as imagens que pretende – uma habilidade que não é para muitos e algo com o que tenho dificuldade. O conto foi escrito com uma atenção à imagem de Vincentão e o que a personagem significa para a cidade, de modo que houve todo um trabalho para criar uma aura de mistério e, por seguinte, de divindade, em torno do homem. Quando o autor nos descreve Vincentão como “o retrato de uma entidade” ou define o seu lugar como um “calvário”, sucede muito bem em criar essa imagem se utilizando de poucas palavras, sem descrições longas e glamourosas.

    Ao mesmo tempo, há a trama que se desenvolve, que é onde colocarei minha crítica mais contundente. O título do conto é “Vincentão, o semideus” e sim, a história gira em torno dele, mas a perspectiva que o autor toma é a da cidade, na expectativa e medo que acompanham a chegada do “caboclo”. Desse modo, Vincentão fica relegado ao plano de fundo da história, como a motivação das coisas que acontecem, primeiro do medo, depois da veneração e, enfim, do progresso da cidade. O parágrafo que inicia a história remete diretamente à sina da personagem, mas no momento em que passamos a ler sobre a sua história, o foco do autor passou a ser as impressões da cidade sobre o sujeito. E, como já pontuei, o autor soube muito bem criar as auras de mistério e deidade justamente por se aproveitar desse ponto de vista.

    Espero não ser entendido mal, pois eu sou totalmente contra a ideia de que todo conto tem que ser “redondo”. Eu não preciso saber qual foi a natureza exata das mortes que sucederam a chegada de Vincentão, se elas têm relação com o seu poder ou com o grande fazendeiro que lhe cedeu terras. O que eu gostaria de ter visto é um pouco mais da perspectiva do caboclo a respeito dessas coisas e das outras que aconteceram. Só há dois parágrafos que remetem ao seu ponto de vista e, ironicamente, os dois são repetidos. Sim, ele sabe qual é a própria missão, de onde ela vem e até onde ela vai, mas o leitor acaba sem nenhum sinal do que significa, nem para especulação. Como o conto propõe que a centralidade esteja nessa personagem – e aqui houve um empenho muito bem colocado para nos intrigar a respeito dele –, fiquei esperando para saber mais sobre quem ele é e acho que o autor acabou perdendo um pouco do foco. Ao mesmo tempo, isso afeta o conto dentro do desafio, pois a temática de superpoderes fica um pouco nebulosa aqui. A figura do curandeiro é antiga e se forma no seio da religiosidade popular, um elemento social que se assemelha muito a Vincentão, de modo que ficamos sem saber (justamente porque não conhecemos a natureza de suas ações) se ele é apenas um curandeiro ou se acumula algum poder em si.

  38. Rubem Cabral
    11 de dezembro de 2017

    Olá, Zé Venâncio.

    Gostei muito do conto, em especial da narração, do bom uso do linguajar do interior, mas não a ponto de tornar o texto de difícil compreensão.

    O enredo é singular: matador de aluguel, depois de uma vida “pecaminosa”, descobre na fé e no poder de curar sua rendenção, e morre de alma leve, trazendo o progresso à cidade que inicialmente fora seu covil.

    Parabéns pelo ótimo conto e boa sorte no desafio!

  39. Antonio Stegues Batista
    10 de dezembro de 2017

    Achei a escrita muito boa, as frases com a linguagem do interior nordestino, se assim posso dizer. A narração começa mostrando Vicentão, uma figura interessante, depois dá uma guinada e fala em mortes misteriosas, que o povo acha, causadas por um matador. Seria Vicentão? No momento seguinte ele se torna curandeiro, fica gordo como um boi e depois morre.Será que ele tinha alma?E os superpoderes?Vicentão de matador virou santo? O que era Vicentão, então? Me parece que Vicentão tomou um caminho diferente daquele imaginado pelo autor. Seria esse os superpoderes do Vicentão?

  40. Regina Ruth Rincon Caires
    10 de dezembro de 2017

    Outro texto que entra na discussão do enquadramento no tema do desafio. Para não ter que escrever tudo de novo, vou copiar e colar, aqui, parte do comentário que fiz no conto “O Livro da Salvação”.
    SUPERPODER= além do humano, além do natural.
    Assim sendo, uma força misteriosa, mística, vindo de uma divindade, da natureza cósmica, da crença, da fé, do além, de onde quer que seja, dá para aquele que a consegue, uma dádiva do superpoder.
    Neste conto, vejo um “curandeiro”. Se ele é charlatão ou não, não sei. Sei que pessoas acreditaram no “superpoder” de cura, no misticismo, num ser especial enviado para amenizar as dores, os males do corpo e da mente. É pura fé. Nenhuma cura é cientificamente comprovada. O “curandeiro”, para os “peregrinos”, traz uma força etérea, além do humano.
    Enfim, é uma narrativa que fala do imponderável, é um texto denso, crivado de descrições. Propicia uma leitura sem entraves.
    Parabéns, Zé Venâncio!
    Boa sorte!

  41. Neusa Maria Fontolan
    9 de dezembro de 2017

    Não vi ligação com o tema proposto apesar de ser um bom texto e muito bem conduzido. A linguagem que usou ficou ótima.
    Temos aqui a história de um suposto matador de aluguel que sem nenhuma explicação um dia começou a rezar em voz alta.
    O povo, sempre carente de milagres, o colocou em um pedestal. Era o santo da cidade.
    Esperava mais no final, talvez uma confissão ou um pensamento de Vincentão.
    Parabéns e obrigada por escrever.

  42. paulolus
    9 de dezembro de 2017

    O velho tema dos “Roques Santeiros” e “Padinhos Ciços” das crenças populares. Um conto simples e muito bem construído. Uma narrativa fluente e agradável de ser lida. Sem problemas gramaticais. Bem criativo a ideia do parágrafo repetido. Um final que surpreende, embora um tanto sem muito porquê, visto esses tipos, em verdade, não passarem de grandes charlatões. Ou talvez, por isso mesmo, serem eles todos ocos. Nada ter de real. Nem por fora, nem por dentro. Muito valeu como denúncia desses embusteiros que se utiliza da boa-fé de alguém, geralmente, fingindo atributos e qualidades que não possui, para obter dessas pessoas quaisquer vantagens, ganhos, lucros etc.; impostor. Muito bom conto.

  43. Priscila Pereira
    8 de dezembro de 2017

    Super poder: transformar um povoado em uma cidade.

    Olá Zé, seu conto fala de um homem que soube aproveitar da crendice e do medo de uma população inculta. O texto dá a entender que ele chegou e com ele muitas mortes (seria um assassino? Agoureiro?) Não sabemos se as curas eram reais, mas, mesmo assim o homem ficou muito famoso, fez o povoado crescer e prosperar, no final, não sabemos como o corpo dele, tão pesado, ficou tão leve, dá uma dica que talvez ele tivesse realce algum poder, mas deixa muito no ar…
    A escrita é interessante e fluída, tem uma regionalidade gostosa de ler. Parabéns e boa sorte!!

  44. Angelo Rodrigues
    8 de dezembro de 2017

    Caro Zé Venâncio,

    superpoder: confesso que não vi, salvo aquele de enganar ou do autoengano, ambos bastante comuns quando o assunto é crença ou fé.

    Texto muito bem escrito, me lembrou um pouco os textos de Sérgio Faraco, mais para o Norte que para o Sul. Gosto dessa maneira de escrever e de contar uma história.

    A história curta não permite o aprofundamento nos personagens. Isso não é mal, dado que é natural à proposta do texto.
    Uma história bem contada que repete a estética do engano ou do autoengano, como já disse. Coisas das crenças e das religiões.

    Em princípio fiquei na expectativa do fato de que você mantinha Vicentão engordando. Não sabia o motivo, que se revela ao final, onde seu corpo pesa tanto quanto a paina – a pluma das paineiras da minha infância. Isso se mostrou uma boa chave construtiva para o conto e um ponto forte na construção da verossimilhança necessária. Parabéns.

    Conheci caras como Vicentão na vida real. Havia um em meu bairro que tinha uma reza que seduzia as mulheres e todas elas fugiam dele com medo de serem seduzidas num piscar de olhos se ouvissem suas rezas. Ninguém sabia que reza era, o que dizia, os efeitos reais de ouvi-la, mas pelo sim pelo não, as mulheres corriam do cara. Fiz um conto sobre isso há alguns anos.

    Parabéns pelo conto e boa sorte.

  45. Bianca Amaro
    7 de dezembro de 2017

    Oi, tudo bem? Parabéns pelo seu texto.
    Foi legal mostrar como o personagem principal, que era um matador de aluguel, acabou se rendendo e virando um religioso.
    A linguagem foi boa, narrando muito bem as cenas.
    Outra coisa que achei muito interessante foi mostrar a frase, ou melhor, o parágrafo, que iniciou o texto no meio, sendo explicado corretamente. Ficou legal, gosto muito quando fazem isso.
    Quanto a gramática, não achei erros.
    A imagem combinou muito bem com o texto, era exatamente como eu imaginei o personagem, quando velho.
    Meus parabéns e boa sorte!

  46. Olisomar Pires
    7 de dezembro de 2017

    Pontos positivos: escrita muito boa, nível excelente. Ambientação de forma natural. Personagem bem criado.

    Pontos negativos: a estória fica sem dizer muita coisa, é totalmente aberta, apesar de muito bem conduzida. E claro, não atende ao tema do desafio (do que eu penso ser o tema)

    Impressões pessoais; lembrei do Roque Santeiro.

    Sugestões pertinentes: uma confissão do personagem sobre o que fazia, sobre seu poder, dita à meia-noite antes da morte seria interessante.

    E assim por diante: um bom texto e bastante belo dentro do universo que cria e que poderia facilmente ser aproveitado numa obra maior onde Vincentão fosse um coadjuvante.

  47. Evelyn Postali
    6 de dezembro de 2017

    Caro(a) Autor(a),
    Será que Vicentão tinha mesmo superpoder? Ou será que era só um matador de aluguel arrependido da lida? Talvez ele tivesse se dado por vencido e tomado a palavra santa como caminho para a redenção. O final foi muito inesperado. Gostei disso. E eu gostei da linguagem que você usou. Fluiu feito água de rio. Cheguei ao final vislumbrando todas as cenas. Estão todas muito bem escritas. Não vi erros, nem de escrita, nem de nada.
    Boa sorte no desafio.

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Publicado às 6 de dezembro de 2017 por em Superpoderes e marcado .
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