EntreContos

Detox Literário.

Transtornos Obsessivos (Daniel Reis)

Era sempre uma agonia: parada, embaixo do chuveiro, ela não encontrava forças nem para se desviar do jato de água quente que tatuava as suas costas, com manchas ainda mais vermelhas do que o tom que sua pele clara costumava ter. Centenas de agulhas finas, arrancando fibras, nervos e músculos dos ossos – sentia isso como se fosse real, pressão irrespirável, sufocada pelo vapor. Pelo chão, a água já ultrapassava o nível da canaleta de alumínio no box, encharcando o tapete e parte do piso do banheiro, escorrendo até a porta entreaberta.

Aos poucos, anoiteceu. Depois de algum tempo no escuro, a dor que Katiuscia sempre sentiu tornava-se mais ausente, cada vez mais irreal. Parecia com aquelas coisas que só acontecem com os outros – daquelas tragédias que se vê na televisão, diariamente. Mas a história era outra, porque era com dela. E por isso, sentindo culpa, sofria ainda mais. Os cabelos ruivos, longos e molhados, desciam pelos ombros e tocavam os bicos dos seios, como pontas de chicotes encharcadas de sangue, pingando aos seus pés. Sim, eu falei, esfregue o sabonete em movimentos circulares e conte exatamente o número de voltas ao redor do umbigo, sempre em sentido horário. Nunca mais haveria um feto ali. Pelo menos, não um filho dele. Isso, querida, com mais força. Usava muito bem as unhas compridas, que davam tanto prazer ao homem que nunca mais seria o dela.

Pela janela, a mariposa cinza entrou e pousou no azulejo, bem à sua frente.

– “Bruxa maldita!” – foi exatamente assim que ela falou…

Katiuscia golpeou o inseto com desprezo e nojo, jogando-a em direção ao ralo. Mas aquilo sobreviveu. Nadando contra a corrente, quase submersa, a mariposa aproximou-se, sorrateira, dos seus pés. Katiuscia não continha a sensação de superioridade, mas não podia interromper a contagem das voltas do sabonete para dar atenção a ela. Senão, teria que recomeçar tudo do zero – ou aguentar o castigo.

Não pare, meu bem.

Em sua ânsia pela sobrevivência, e na ignorância sobre o risco de estar viva, a mariposa atingiu a parte lateral do calcanhar de Katiuscia. E subiu, vagarosamente, pela panturrilha, atrás do joelho, até o alto da coxa. Completaram-se os seiscentos e sessenta e seis ciclos. Finalmente livre, Katiuscia jogou o sabonete no chão e pegou o inseto pelas asas, levantou-o bem perto dos seus olhos e arrancou sua cabeça com os dentes.

Mesmo acéfala, a mariposa continuou se contorcendo entre seus dedos. Ao ver aquele frenesi, soprei ao ouvido de Katiuscia – é esse o desespero que queremos dar a ela. O que aquele inseto sentia na morte, a mulher do outro precisava sentir em vida. Tal como Katiuscia sentia, todos os dias, desde os sete anos de idade.

– Isso, o que a sua filha tem, chama-se fotofobia. Inclusive, pode ser sintoma de algo mais grave. Quem sabe até um glaucoma…

 

O oculista falava de Katiuscia sem falar com ela, explicando diretamente a situação para a mãe dela. Ela era ainda criança, mas já entendia perfeitamente a situação. A mãe a levou ao consultório ao perceber que a menina tinha dificuldade em manter os olhos abertos em ambientes iluminados e reclamava muito do incômodo enquanto estava lendo – Katiuscia aprendeu a ler bem cedo, antes dos cinco anos de idade. Livros, jornais ou revistas, onde quer que conseguisse encontrá-los. Para surpresa de todos, começou a aprender inglês e francês por conta própria, com livros da biblioteca comunitária. Aos sete anos, era a menina prodígio da escola pública. Uma das professoras, meio mística, meio louca, espalhava pelos corredores que ela poderia até ser a reencarnação de algum gênio famoso…

Mas a visão da menina piorou muito, e muito de repente. Por isso, a mãe buscou vários tratamentos. Katiuscia usou alguns colírios e outros remédios, quase todos com pouca ou nenhuma eficácia. Por recomendação do oftalmologista, passou a usar óculos com lentes escuras quase o tempo inteiro, e a evitar, sempre que possível, ficar ao sol ou em ambientes com iluminação excessiva.

Ninguém nunca soube, mas foi que a partir dessa época ela começou a me ouvir: convenci Katiuscia que os meus jogos eram sérios e necessários para a sobrevivência dela. Começou, se bem me recordo, com a contagem das páginas dos livros – se a leitura não alcançasse um determinado capítulo, ela teria de pagar um castigo. Por exemplo, ficar um dia inteiro sem falar com ninguém. Enquanto ela cumpria isso, a mãe pensava que era só mania ou brincadeira de criança. Mas Katiuscia realmente passou a acreditar em tudo o que eu dizia a ela: que, se não cumprisse qualquer ritual estabelecido, ou se descumprisse a punição exigida, algo de ruim, muito ruim aconteceria conosco. Mais especificamente, com ela e com sua mãe.

A essa altura, você já deve imagina: eu sou uma voz. Aquela mesma que, enquanto você lê essa história, pronuncia cada palavra dentro da sua cabeça. Pode me ouvir agora? Da mesma forma que eu faço isso com você, eu comecei a fazer com Katiuscia quando ela era criança. Mas será que eu também não fiz isso com você? Eu posso criar na sua imaginação quaisquer entonações, timbres ou sotaques. Agora, eu estou falando mais grave, viu só? E agora, bem mais lento e arrastado. Se você me permitir, a partir desse ponto eu assumo o tom de voz da Katiuscia, para ler mais um trecho da sua história horrível:

“Mamãe e eu éramos sozinhas. Meu pai eu não conheci, e ela nunca quis falar sobre ele. Não insisti, mesmo porque tudo o que eu queria era que minha mãe não sofresse mais. Até nisso, eu nunca me permiti errar, ou teria que viver com as consequências…”

“Quando cheguei à adolescência, fomos morar em um bairro distante do centro. Era uma casa melhor, e os meus desafios-rituais particulares ficaram bem menos constantes. Quase que a voz sumiu da minha cabeça. Pelo menos, era o que eu pensava. Mas ela começou a contar histórias, e eu acreditei. Acho até que foi ela que me ensinou a ler. Por causa do meu gosto pela leitura, inclusive em inglês e francês, mesmo com o meu problema nos olhos, consegui uma bolsa de estudos num colégio particular e, outra, na escola de idiomas, numa das turmas avançadas. Foi um alívio, pois o dinheiro era pouco, e mamãe continuava a trabalhar sem descanso, em lojas ou em qualquer emprego que aparecesse. Eu queria ajudá-la com as despesas da casa, mas ela queria mesmo é que eu estudasse fora. Foi por essa época que a professora do curso de inglês me convidou a ensinar as turmas iniciantes. Foi ótimo, por um tempo. Mas a voz começou a dizer que eu poderia fazer isso melhor do que a própria professora. Aos poucos, até mesmo os alunos mais adiantados, que estudavam com ela, passaram a preferir as minhas aulas. Enciumada, ela me mandou embora. Aí eu tive a primeira grande crise”.

Durante as semanas em que Katiuscia ficou sem sair do quarto escuro, passou a me escutar mais e a seguir as instruções que eu ditava a ela, sempre que possível. Para combater a fotofobia, associada ao que foi diagnosticado como enxaqueca, fechava todas as janelas e deixava apenas um pequeno abajur aceso, colocando um travesseiro pequeno entre a lâmpada e seus olhos. Assim, continuava lendo, mesmo de óculos escuros, naquela penumbra.

“A voz me disse que eu tinha que organizar todos os livros da casa em ordem alfabética. Se eu não fizesse isso, uma coisa muito ruim iria acontecer comigo, em três dias. Pior: eu tinha que ter pelo menos um livro com o título iniciado com cada letra do alfabeto. Só que eu não tinha tantos livros assim. Por isso, pedi ajuda a duas amigas, sem contar a elas a razão o motivo do pedido”.

As colegas de colégio trouxeram, da biblioteca pública e de acordo com o pedido dela, um livro para cada letra que ainda faltava na coleção. O da letra G, que elas encontraram, foi um Grimório de Magia Cerimonial. Ao escolhê-lo, as meninas não faziam ideia do que se tratava. Bem, talvez a voz na cabeça delas também tenha dito uma coisa ou outra… pensaram que se tratava de um daqueles romances de cavalaria ou aventuras medievais que a Katiuscia tanto gostava. Mas, ao ler o livro, Katiuscia não acreditou muito nele, apesar de encontrar várias coisas muito parecidas com nossos jogos diários. De qualquer forma, esse grimório nunca mais seria devolvido à biblioteca. Fique com ele, foi o que eu disse. Sei que vai ser importante para você, mais à frente…

Assim que desligou o chuveiro, Katiuscia saiu molhada pelo apartamento escuro, procurando uma toalha. Pisou nos pacotes plásticos e papéis jogados no corredor, até chegar ao quarto onde se acumulavam as embalagens vazias, maços de cigarro e o que mais houvesse de lixo, espalhado por todos os cantos, em cima do sofá e dos móveis. Na sala, somente a luz fraca das velas acesas iluminava o ambiente. Mesmo no escuro, Katiuscia encontrou uma toalha, meio úmida, pendurada em cima da cabeceira da cama, e começou a se enxugar com ela. Use só a mão direita, que é a Mão de Deus sempre de cima para baixo, para expulsar maus fluídos. Depois, penteou os cabelos, dez vezes de cada lado, só com a mão direita, até completar as trezentas e trinta escovadas. Sentíamos que aquela presença nos observava, do canto do quarto, mas sabíamos que isso já não era mais possível. Eu continuava no comando, mas ela se desvencilhou do meu ritual e começou a procurar o telefone sem fio. Foi difícil encontrar o aparelho em meio a tantas coisas guardadas, ou coletadas, e agora armazenadas em todas as partes do apartamento. O telefone não tinha carga suficiente nem para ela pedir ajuda. Katiuscia o colocou de novo no suporte. Seis vezes, tire e coloque o telefone novamente, ou seus dedos vão entortar. Ela então rezou para que o aparelho não tocasse naquele momento. Se o telefone tocar agora, você vai morrer.

Triiiiim.

Era um celular, na televisão da casa do vizinho.

“Ao completar dezenove anos, eu não tinha namorado ainda. Comecei a trazer um dinheiro extra para a casa, digitando trabalhos e traduzindo textos para os amigos que já estavam na faculdade. Coisa que, infelizmente, eu nunca consegui. Na minha cidade eram poucas alternativas, praticamente nenhum curso que tivesse a ver com literatura, letras, com minha paixão pela leitura. E ir embora, estudar num grande centro, não era uma alternativa naquela hora. Sua mãe está ficando velha, e vai precisava cada vez mais de ajudaveja se todas as fechaduras das portas da casa estão bem fechadas, pelo menos três vezes, cada uma delas. Foi pelo bem-estar da minha mãe, e contra a sua vontade, que eu passei a me dedicar mais a esses trabalhos do que ao estudo. Meu maior arrependimento foi que, por mais que eu tentasse, nunca fui capaz de contar à minha mãe sobre aqueles jogos e as ordens que eu escutava na minha cabeça. Eu juro, uma vez achei até que estava ouvindo a mesma voz da minha mente, quando atendi o telefone – não deixe os chinelos virados ou você vai ter que andar de costas”.

“Daí a minha mãe morreu”.


 

“Tive que morar numa cidade muito maior do que eu esperava. Tudo era tão movimentado que deixei a voz na minha cabeça falando sozinha, e simplesmente parei de obedecer às suas ordens. Me senti traída. Corri atrás de um emprego que estava anunciado no jornal. Procuravam uma pessoa para leitura crítica e tradução literária. Me apresentei, mas já adiantaram que estavam procurando uma pessoa formada ou, no mínimo, que estivesse cursando Letras. No fundo, ela não quis dizer, mas é óbvio que a entrevistadora considerou minha deficiência visual um fator incapacitante. Eu já estava indo embora quando abriu a porta aquele homem, que eu prefiro chamar, daqui em diante, de O Homem sem Nome. Era uns dez anos mais velho do que eu e, ao me ver ali, perguntou se eu traduzia do inglês ou do francês. Disse que poderia traduzir dos dois idiomas, se ele precisasse. A entrevistadora, bem mais respeitosa, ficou sem graça em ter me dispensado sem perguntar nada, momentos antes. O Homem sem Nome falou que, a princípio, poderia arranjar um trabalho freelance, se eu topasse. Sozinha, eu entrei de cabeça”.

“O trabalho era uma encomenda de um editor amigo dele, bem famoso, que comprou os direitos de um livro da editora americana. Mas, como a obra original era muito antiga e em francês, o editor precisava de uma avaliação: se a tradução disponível em inglês poderia ser considerada adequada, em comparação com obra original. Foi isso que me ofereceu o Homem sem Nome, talvez como a primeira oportunidade de me conhecer. Colocou uma condição: que esse nosso acordo e as revisões da tradução seriam mantidas entre nós, sem envolver mais ninguém; e nem o amigo editor dele poderia saber o que estávamos prestes a fazer. Aceitei, mas não teria aceitado, se soubesse como ia ser.”

No escuro do quarto, continuávamos fumando, eu e Katiuscia, os últimos cigarros da segunda carteira do dia. De dentro da cabeça dela, eu falava e falava sem parar como estou falando agora com você sem pausa nem pontuação. Tudo para ver se ela não pensava mais em nada. Pela mesa da sala, as páginas da tradução incompleta do livro do Homem sem Nome continuavam espalhadas. Aqui e ali, manchas com marcas das xícaras de café vazias que, acumuladas na pia, exalavam o cheiro do pó que consumimos em excesso nos últimos tempos. No balcão do canto da sala, um altar improvisado, no qual apenas uma das cinco velas dispostas nas pontas do pentagrama continuava acesa, quase no final. Ao centro, a oferenda flutuava, macabramente improvisada, mergulhada em uma taça com champanhe. Katiuscia evitava olhar, mas você tem que guardar isso. Ela tentou se levantar para fugir, mas seu pé e sua perna direita estão formigando, e você tem que manter o peso do corpo no outro lado, em um só pé, ou vai cair num abismo sem fim. Ela ainda tentou chegar, pulando numa só perna, até a janela.

Nisso, algo atravessou o nosso caminho.

Uma sombra, que cruzou o ambiente, de ponta a ponta, em direção ao pentagrama.

Foi tudo muito rápido. Derrubou a taça, que se estilhaçou em pedaços, espalhando a oferenda no chão. Katiuscia percebeu, com horror, que Dantalion veio buscar o que é dele.

A última vela se apagou.

“Para a minha surpresa, a obra em que eu precisava analisar era muito parecida com aquele velho Grimório. Procurei pela casa e acabei encontrando o livro esquecido, guardado numa gaveta. Nessas novas versões, os rituais estavam bem diferente – até mesmo na versão francesa, que deveria ser a original. Contei isso ao Homem Sem Nome, quando nos encontramos. Ele ficou surpreso com o fato de eu saber um pouco sobre magia, o tema, e disse que o meu trabalho a princípio deveria se concentrar em verificar se a tradução estava adequada ou não. Mas, já que eu gostava disso, poderíamos nos aprofundar no tema juntos. Passamos a discutir, todas as quartas-feiras, ‘uma tradução mais adequada para o mercado local’, num lugar bem mais privativo e confortável”.

“Trabalhei com afinco nas semanas seguintes, feliz pela ‘atenção’ que o meu ‘trabalho’ recebia do Homem sem Nome. A voz na minha cabeça ficou muda nesses dias, e os rituais desapareceram. Mas, ao perceber que eu estava envolvida com tudo aquilo, curiosa para saber se os rituais mágicos dos livros davam resultado ou não, a voz encontrou uma brecha e me convenceu a testar um ritual qualquer – algo, só ver se funcionava, mesmo. Para conquistar o que eu quisesse. Eu queria muito o Homem sem Nome. Ele tinha sua própria vida. Isso não existe. Procurei no original e encontrei o ritual. Foi por isso que saí em busca de Dantalion”.

“Quando levei a versão praticamente revisada, o Homem sem Nome me pareceu completamente diferente, frio e disperso. Pediu um tempo para avaliar o parecer, e marcou de se encontrar comigo fora dali, em uma semana. Disse que, dessa vez, não seria no lugar de costume”.

“Passei os dias esperando a sua ligação. Depois, as semanas seguintes. Como não retornava minhas ligações ao escritório, contrariando uma de nossas regras estabelecidas, decidi ligar para o número de celular que ele havia me passado. Uma voz de mulher atendeu. Disse que ele estava no banho e perguntou quem gostaria de falar. Sem saber o que dizer, a voz é que me disse: é do consultório do Dr. Dantalion”.

“Ele sabia que aquele era o meu número de telefone, mas não retornou minha ligação. Eu, mais com raiva do que com medo de ouvir novamente a voz metálica daquela mulher, preferi esperar que ele decidisse me ligar. Não ligou. Tentei ir atrás dele no escritório. Fui informada que o Homem sem Nome já não fazia mais parte do quadro de funcionários da empresa. E que não tinham autorização de me passar qualquer contato pessoal dele. O número do celular, que eu tinha, era corporativo, e já havia sido entregue a outro. Faça o outro ritual agora, ou você nunca mais vai vê-lo”.

Mais uma vez, Dantalion cumpriu o seu papel. Katiuscia precisava daquele tipo de ajuda. Ele resistiu bastante; mas Katiuscia conseguiu extrair dele tudo o que precisava.

“Depois disso, encontrei o Homem sem Nome no restaurante, com a mulher e os dois filhos gêmeos, bem pequenos. Ficou assustado quando me viu, e acenou sem jeito. Vá até lá. Eu me aproximei. Olhei diretamente nos olhos dele, e cobrei o mínimo: pelo menos, um retorno sobre o meu trabalho.

– Desculpe, mas nosso acordo comercial já acabou.

– Mas o parecer sobre o livro, não era para um amigo seu? Você leu, pelo menos, o que eu escrevi para você? – perguntei, exaltada.

Ele sentiu que estava encurralado, em frente da mulher, e tentou encerrar o assunto:

– Olha, eu não tenho mais nada a ver com isso. E, no fim das contas, o livro que você analisou é uma bobagem só. Não ia vender nada. E tem mais, foi um contrato verbal, de risco, não assumimos nenhum compromisso…

Filho da puta.

A frase saiu tão alta e descontrolada que o restaurante inteiro ouviu. E a mulher dele, inesperadamente, levantou-se e me deu uma bofetada, com tanta força, que fez os meus óculos escuros voarem longe”.

Naquele dia, Katiuscia chegou em casa decidida. Realmente, isso não pode ficar assim. Pela terceira e última vez, Dantalion seria fundamental para nosso ritual. Dessa vez ela não iria seguir o Grimório, mas cada palavra e ação do ritual exclusivo que eu ditei a ela. Faça o que eu digo, ou é você que vai sofrer um acidente. Para castigar o Homem sem Nome, vamos começar de outra maneira.

“No começo, eu não acreditava em nada disso. Tive medo, porque a voz também me disse que toda energia não aceita também se volta contra quem a despertou. Agora, a vingança vai se voltar contra você. Essa certeza se confirmou para mim, com um sinal, dias depois. Encontrei, depositado em cima do meu travesseiro, a oferenda que faltava: a enorme cabeça de um rato morto”.

“Assim que a última vela se apagou, senti o golpe de um taco de madeira no topo da cabeça. Perdi o equilíbrio e caí, de lado, sobre a taça quebrada. Não consegui gritar e nem pedir ajuda ao vizinho. Estava mergulhada num torpor, como se estivesse numa piscina suja, sem ver ou ouvir nada que acontecia do lado de fora. E agora, onde estava a voz? Uma lasca de caco de vidro ficou presa no meu braço. Não sentia mais nada no lado esquerdo do meu corpo, paralisado. Minha língua pendia para fora dos lábios, rígida. Tive a certeza de que iria morrer ali, sozinha, se ninguém me encontrasse”.

Pois é. Nada do que eu dissesse, dentro da cabeça da Katiuscia, iria fazer qualquer diferença para ela.

Mas, se serve de consolo – ou de castigo – caso ninguém encontre você, Katiuscia, não vai ser preciso doar as suas córneas imperfeitas.

Nem para aquela mulher, nem para mais ninguém.

Katiuscia ficou assim por horas, com olhar fixo naqueles dois olhos vazados.

Dantalion, o gato, permaneceu deitado à sua frente.

Só não pôde vê-la agonizar.

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44 comentários em “Transtornos Obsessivos (Daniel Reis)

  1. Pedro Paulo
    11 de novembro de 2017

    Olá, entrecontista. Para este desafio me importa que o autor consiga escrever uma boa história enquanto em bom uso dos elementos de suspense e terror. Significa dizer que, para além de estar dentro do tema, o conto tem que ser escrito em amplo domínio da língua portuguesa e em uma boa condução da narrativa. Espero que o meu comentário sirva como uma crítica construtiva. Boa sorte!

    O conto se desenvolve em um aspecto interessante, o narrador sendo o próprio elemento sinistro da história, personificando o algoz-de-uma-vida-toda da protagonista. A primeira vez em que ele emula estar falando pela menina, usando a voz dela, consegui ouvi-lo afinando a voz para parecer a de uma garotinha, como se zombando dela. Achei bem perverso, conferindo mais personalidade à voz na cabeça. No entanto, isto foi usado durante todo o texto, ele narrando em primeira pessoa como se fosse ela e depois ele de novo, que às vezes também aparece na narrativa dela. Exigiu uma atenção a mais que se provou um pouco cansativa, por vezes perdendo o leitor. A trama acaba não chamando muito mais atenção, a relação entre a personagem, a voz e nós, os leitores, sendo mais interessante. Quando a personagem agoniza, não chama muita atenção. Nos compadecemos por ela, mas não prestávamos tanta atenção no que é que estava acontecendo antes disso.

  2. Renata Rothstein
    11 de novembro de 2017

    Muito bem escrito, nota-se que vc domina a escrita. Senti bastante aflição com a descrição do TOC de Katiuscia, achei a história envolvente, com ótimo ritmo e final bastante assustador, daquele susto de suspense, do inesperado da situação.
    Parabéns e boa sorte

  3. Rafael Penha
    10 de novembro de 2017

    Olá. autor,

    Achei o conto um tanto truncado. A leitura por vezes me pareceu penosa. Muitas descrições desnecessárias.

    A tentativa de trazer o objeto do terror como narrador é interessante, mas carece de mais maestria para ser bem executada, o que não é uma tarefa fácil.
    Também achei a constante mudança de pessoas narrando bem confusa. Uma hora a narrativa é em primeira, outra em segunda e outra em terceira pessoa. Isso acabou minando muito o meu conceito da história.

    A premissa é boa, mas não consegui me focar nela, pois me incomodou a mudança de narrativa citada acima.

    O terror, objeto do tema, me pareceu muito tímido aqui. Há elementos de sobre para serem explorados, mas não senti eles evoluírem para assustar o leitor.

    Grande abraço.

  4. Evandro Furtado
    9 de novembro de 2017

    Acho que a narrativa, a partir da perspectiva da voz na mente atrapalhou um pouco o andamento do conto. A partir do momento em que o leitor é familiarizado com o terror, ele perde o efeito. O terror precisa ser oculto, sombrio, ocupar as lacunas do texto. A construção deve ser gradual, revelando aos poucos. A voz ser a grande responsável por narrar a história tira isso. E o resto da trama tampouco tem algo de especial pra se sustentar sem esses elementos.

  5. Marco Aurélio Saraiva
    9 de novembro de 2017

    =====TRAMA=====

    Este conto tem uma trama relativamente simples: uma garota se apaixona por alguém do seu trabalho, uma pessoa mais velha e com a vida encaminhada. Esta pessoa, já casada e com filhos, nega os seus avanços então ela começa a recorrer aos livros de magia que gostava de ler, na esperança que os rituais sejam verdade. Com o tempo, a entidade que a ajudava vem cobrar o seu preço…

    …mas, é claro, esta trama é secundária. O real tema do conto é a luta de Katiuscia contra o seu transtorno obsessivo. A voz na sua mente inicialmente pode até parecer sobrenatural, mas logo fica claro que ela é a própria consciência da personagem forçando-a a realizar seus rituais sem sentido. Por transformar a doença em um personagem com voz ativa no conto, você conseguiu mimetizar bem o comportamento de alguém com este problema psicológico. Foi uma sacada excelente!

    Assim como a maioria dos contos de terror, não há um final feliz. Em uma primeira camada, Katiuscia finalmente pagou o preço pelos rituais profanos que realizou. Mas, pensando bem, o final do conto pode simplesmente significar que ela perdeu a luta contra a própria doença. Todas as consequências dos rituais realizados podem ser conferidas ao mero acaso: encontrar O Homem Sem Nome no restaurante, por exemplo. E, no final, ela não sabe mesmo se o homem sofreu um acidente.Já debilitada, quase sem poder sair de casa, Katiuscia havia se tornado uma acumuladora. Nesta casa onde nada está no lugar, uma tora de madeira cai sobre a sua cabeça e acaba gerando um acidente fatal. Sem ninguém para ajudá-la, ela falece.

    Acho válido usar o nome que você desejar para a sua personagem… mas Katiuscia foi brabo de engolir, rs rs rs. Também não entendi por quê O Homem Sem Nome não ganhou um nome. Não foi algo fatal para a trama, mas também não senti motivo para isso.

    De qualquer forma, um excelente conto!

    =====TÉCNICA=====

    Você escreve muito bem. Sua técnica está impecável. A leitura é tem as pausas feitas nas horas corretas, descrições muito bem construídas e um ritmo tão bom que não notei o fim do texto chegando.

    Repetindo o que falei acima: a decisão de tornar a voz na mente de Katiuscia um personagem ativo no conto foi fenomenal. Você mescla voz interna com voz externa… às vezes Katiuscia conta a história, às vezes a voz dentro dela que conta. Isso ajuda nesta mescla de realidade e obsessão: Katiuscia não sabe bem se ela que está no controle ou a doença que ela tem, e o leitor segue o mesmo rumo.

    Porém, você usou esta técnica de uma forma um pouco estranha às vezes, o que confundiu um pouco a leitura. No início a narrativa é em terceira pessoa, com a voz interna de Katiuscia narrada em itálico. Até a voz quebra a quarta parede e, ainda em itálico, avisa que vai narrar a história com a voz de Katiuscia, que é feita entre aspas. Depois, a voz interna volta a narrar, mas agora sem o itálico… e depois aparece em itálico de novo… confuso.

    Mas, tirando isso, a leitura está excelente. Não vi erros, não vi problemas de ritmo, nem nada parecido. Você domina bem a sua escrita.

    Parabéns!

  6. Anorkinda Neide
    8 de novembro de 2017

    Olá!
    Eu acho que essa sua narração diferenciada, com as alternâncias de ‘voz’ foi ótima. Haja vista que o começo do texto está excelente, de repente num conto menor, ficaria perfeito. Mas a necessidade de alongar o texto, acabou deixando este recurso falha, vários trechos ficaram confusos.
    Eu não entendi o final, meio que pesquei algumas coisas pelos comentários, mas mesmo eles estão em dúvida, nao é? rrsrs o texto é que deveria ter nos mostrado claramente ou ao menos ter dado um caminho ao qual a imaginação do leitor seguir.
    Achei que quando apareceu o Homem sem nome, apesar de uma única menção de que eles s encontravam em local privado, algo assim… não deixou claro que eram amantes, só cheguei a esta conclusão, relendo a admirável e bem elaborada primeira parte, aquela do banho de Katiuscia.
    Tem gente q estranhou o nome né? aqui em Porto Alegre é bem comum 🙂
    Estranhei pra caramba o fato da deficiência visual dela e as leituras incansáveis.. pra ler se precisa tanto ter as vistas boas! Sei pq tenho alguns problemas e já é meio difícil de ler, imagina no ponto em que esta moça está.. acho meio impossível tanta leitura, a nao ser q ela utilize algum processo diferenciado pra ler, tipo o Braile ou algum equipamento, nao sei…
    Mas é isso, vc já deve ter retrabalhado este texto, a minha maior dica é, diminua! rsrs
    Abração
    ps: então ao poupou o gatinho né? Estou anotando o nome dos torturadores de felinos.. :p

    • Anorkinda Neide
      9 de novembro de 2017

      *não poupou

  7. Daniel Reis
    7 de novembro de 2017

    Meu caro autor: vou ser bem sincero, gostei da sua premissa, mas parece que a partir de um ponto (mais exatamente, do encontro de Katiuscia com o editor) a história adquiriu uma velocidade muito maior, e algumas pontas ficaram soltas. Gostei da escolha vocabular e da surpresa final, na qual o gato foi utilizado como vítima dos rituais, e seus olhos arrancados para causar cegueira na mulher do Homem sem Nome. É isso mesmo ou é só minha imaginação? Tem bastante coisa a melhorar, mas espero ler novamente esse texto, mais amadurecido. Boa sorte no desafio.

    • angst447
      12 de novembro de 2017

      Ah, agora entendi.

  8. Fil Felix
    6 de novembro de 2017

    Boa tarde! Achei um conto muito interessante, principalmente no seu formato. Utilizar de uma narração em primeira pessoa e alternar a “voz” do narrador, induzir o leitor, sabendo conduzi-lo por onde queria, na trama, foi bem acertado. Comandou bem. Vi que alguns leitores não curtiram tanto essa parte, mas acho que foi o diferencial. Eu tenho um pouco dessas manias da protagonista, me identifiquei. Quando saio de casa, tenho que falar pra mim mesmo que estou fechando a porta, porque sempre acontece de chegar no portão e eu não saber se fechei ou não e ter que voltar, abrir, olhar se tá tudo okay e aí sim, ir embora. Fora as listas diárias e etc. Assim consegui sentir a aflição da personagem, ficou bem desenvolvido. O terror do conto vem subjetivo, aquela voz que nos acompanha, que nos prejudica. Seria nossa voz interior? Claro que com um toque místico/ ilusório. Só o final achei um tanto estranho.

    Agora fiquei pensando nos livros por ordem alfabética….

  9. iolandinhapinheiro
    5 de novembro de 2017

    Então, autor.

    Como já foi dito aqui, você trouxe uma proposta diferente, trazendo personalidade para a voz interior que vivia na cabeça da Katiúscia. A voz, inclusive, falava por si e ainda falava pela moça, imitando a voz da moça, explicando as situações para o leitor.

    A história em si não é a melhor elaborada deste concurso. Dá uma agonia ficar separando os discursos pelo que está entre aspas, normal e itálico, até porque não há uma distinção mais natural, um fluxo, mas tudo está meio misturado às vezes em um único parágrafo,dando mais trabalho aos leitores.

    A parte inicial do conto, para mim, foi a que ficou melhor escrita. Quando Katiúscia está no banho e mata a mariposa.

    Também gostei dos rituais aos quais ela se submete, o Transtorno Obsessivo Compulsivo ficou bem caracterizado nestes detalhes.

    Alguns personagens, como O Homem Sem Nome ficaram meio relegados a alguns trechos e poderiam ser melhor explorados para dar mais força dramática ao conto, para justificar a raiva da Katiúscia.

    O conto tem potencial mas poderia ter sido melhor explorado.

    Parabéns e boa sorte.

    Beijos,

    Iolanda.

  10. Gustavo Araujo
    4 de novembro de 2017

    Inicialmente é preciso parabenizar o autor pela ousadia e pela coragem. O conto é um mergulho na psicologia dilacerada da protagonista, com todos os seus anseios e desencantos. Entendo a ideia de usar uma técnica parecida como o “sfumatto” do Da Vinci, que adaptada para o universo literário, não permite divisar exatamente onde termina a realidade e onde começa o devaneio. Katiuscia ao mesmo tempo nos cativa e nos causa repulsa. Torcemos por ela e também desejamos que ela não tenha sucesso, que pereça logo. É um misto de sentimentos que o conto desperta. Talvez seja essa a receita – se é que existe alguma – para um bom conto de terror. Traçar as linhas mestras e deixar que o leitor complete as lacunas. O problema aqui é que, me parece, há lacunas demais a preencher. Mesmo as linhas mestras padecem de certa confusão, um tanto abertas na verdade. Imagino que o autor tenha apostado num clima mais etéreo, de mistério, mas faltaram ao leitor (ao menos a mim) as ferramentas para compreender o texto em sua plenitude. De todo modo, é um conto bem escrito, com uma boa ideia, e bem criativo.

  11. Rose Hahn
    4 de novembro de 2017

    Dantalion, estava sentindo falta de um conto com transtornos obsessivos neste desafio, tema que me interessa, eu mesma tenho TOC com letras (sério). Acredito que vc. preencheu bem essa lacuna, mesmo com algumas lacunas em abertos na história. Alguns errinhos bobos, mais de digitação do que propriamente de gramática. Vc. conseguiu me envolver nos transtornos da protagonista, porém achei confuso as vozes narrativas, tive que voltar no texto para melhor entendimento, e também a inserção de elementos de difícil entendimento, como o homem do livro, a mulher, o gato, e o final, meio em aberto, cheguei a pensar que “aquela mulher” seria a mãe dela, e que “Agora, a vingança vai se voltar contra você”, seria o castigo por ela ter matado a própria mãe. Vixii, viajei autor, depois esclareça aí. Abçs.

  12. Luis Guilherme
    1 de novembro de 2017

    Tarrrde, tudo bem?

    Como tenho dito, este desafio é especial pra mim, uma vez que amo o genero. Por isso, tenho lido os contos com muitas expectativa. Vamos ao seu, então:

    Seu conto tem alguns elementos muito bons! Gostei MUITO, especialmente, do narrador. A forma de narrativa que você escolheu foi um golpe de mestre, pra mim. Nocomeço, tava um pouco confuso, mas quando notei que o narrador era o próprio transtorno da personagem, fiquei muito satisfeito, e a história cresceu em mim.

    A alternância entre os personagens, as intrusões do transtorno no pensamento lógico da garota, as oscilações e a luta entre a garota e seus problemas foram perfeitamente retratados pela técnica empregada. Parabéns!

    Senti, durante a leitura, como se estivesse dentro da pele da personagem. Muito bom.

    Por outro lado, fiquei realmente confuso com o desfecho. Principalmente à partir de: “No começo, eu não acreditava em nada disso. Tive medo, porque a voz também me disse que toda energia não aceita também se volta contra quem a despertou. Agora, a vingança vai se voltar contra você. Essa certeza se confirmou para mim, com um sinal, dias depois. Encontrei, depositado em cima do meu travesseiro, a oferenda que faltava: a enorme cabeça de um rato morto”.

    Li várias vezes desse trecho em diante, mas continuo incerto quanto aos acontecimentos. Isso me deixou com um gosto meio amargo na boca, pois eu tava gostando tanto do conto que realmente queria entender o que aconteceu.

    Compreendo que o estilo do conto não permitiria explicações muito claras, que quebrariam o ritmo, mas acho que ficou excessivamente confuso. Um final aberto certamente combina com o conto, mas acho que o final aberto deve deixar margem a interpretações, e não uma dúvida total.

    Enfim, é um conto muito bom, que li com prazer e interesse, que tem como destaque o foco narrativo que é muito bem trabalhado, mas que deixa a desejar no desfecho.

    Parabéns e boa sorte!

  13. Pedro Teixeira
    28 de outubro de 2017

    Gostei da ousadia de usar a quebra da quarta parede. É um recurso difícil de manejar, e aqui criou um efeito interessante. Por outro lado, tenho a impressão de que quebrou um pouco o senso de unidade do conto.
    Está bem escrito, bem revisado. O final me pareceu abrupto, e sem impacto, sabe? Esperava uma revelação surpreendente que acabou não vindo. E a ordem em que as coisas ocorreram não me pareceu muito clara.
    No final das contas, é um trabalho interessante, mas que precisa de alguns retoques, especialmente em relação à cronologia.

  14. angst447
    28 de outubro de 2017

    T (tema) – O conto está dentro do tema proposto pelo desafio.

    E (estilo) – Um estilo nada usual, começando pela alternância de narradores. Acredito que a linha adotada pelo autor tenha sido uma escolha proposital. Difícil não ficar perdida neste labirinto de informações. Presumi que Katiuscia (lembrei da cantora cega Kátia) tivesse um tipo de tumor cerebral que provocava as vozes e a sensibilidade às luzes. Aliás, um ser das trevas não suporta luz, né?

    R (revisão) – Alguns erros passaram, falhas que podem ser facilmente detectas e sanadas. Cuide disso.

    R (ritmo) – O ritmo mantém bem, do começo ao fim, com pequenas paradas que poderiam ser eliminadas. No geral, a leitura fluiu bem e sem entraves.

    O (óbvio ou não) – O que parecia óbvio ficou meio perdido no desenrolar da trama. Entendi que Katiuscia acabou tendo um relacionamento íntimo com o Homem sem Nome (e sem caráter, pelo jeito), pois passaram a se encontrar “num lugar bem mais privativo e confortável” e pela gravidez e consequente aborto insinuados na “cena” do chuveiro. Dandelion era o gato que teve seus olhos vazados pela K.para algum ritual macabro? “Katiuscia ficou assim por horas, com olhar fixo naqueles dois olhos vazados./Dantalion, o gato, permaneceu deitado à sua frente./
    Só não pôde vê-la agonizar.”

    R (restou) – Uma aflição por não ter entendido tudo o que o autor quis passar. E também uma certa decepção pois o final foi menos impactante do que eu esperava.

    Boa sorte!

  15. Antonio Stegues Batista
    28 de outubro de 2017

    ENREDO: Garota inteligente, com problema visual, ouve uma voz em sua cabeça, ou seja, um problema mental. A fotofobia tem como causa, afecções oculares ou neurológicas, de qualquer forma, não faz diferença no enredo, se tem ou não tem, não dá valor à história. Ao final e por fim, tudo é imaginação dela e o culpado é o gato. Não tem eles algo de místico?

    PERSONAGENS: São três narradores ao mesmo tempo, a menina, a voz na cabeça, a outra voz que não tem relação com o resto, que tornam a narrativa meio confusa, o leitor precisa parar e pensar; quem está falando agora?

    ESCRITA: Uma escrita boa, mas o resto não ajuda, pior são as ideias que precisam ser descritas e não são com precisão, são esboçadas apenas.

    TERROR: Fraco.

  16. José paulo
    27 de outubro de 2017

    Texto para mim confuso, com alternâncias do eixo narrativo, sem nada que possa ajudar ao bom andamento da leitura. Embora composto de frases corretamente escritas…o conto inicia com uma cena instigante, mas mergulha numa sequencia de rituais e desafios mágicos que me cansou um pouco. E entrou num ritmo lento para alcancar as três mil palavras. Não entendi muito bom a personalidade do homem e a posicao dele na história. Se tudo isso fosse bem alinhavado ainda sim eu continuaria reticente por ser esta uma forma de escrita que não aponta, para mim, para o suspense ou terror.

  17. Vanessa Honorato
    26 de outubro de 2017

    Esse conto causa uma agonia danada. Só quem tem tendências ao toque sente a aflição de ler isso. É como se entrássemos dentro da mente da personagem com toda sua inquietude e obsessão. Achei o final um pouco confuso, reli duas vezes para compreender. Sem dúvida, um conto bom, que causa desconforto (o que é bom para o tema proposto).

  18. Jorge Santos
    25 de outubro de 2017

    Olá, Dantalion.
    Este conto é um mistério absoluto. Depois de uma introdução e desenvolvimento prodigiosos, ao melhor nível, o conto perde-se com um desfecho confuso. Seria a desilusão causada no leitor uma das características que o autor pretendia? Parece que estamos a comer uma sobremesa divinal, para apanharmos um pedaço estragado no final. E o que conta, é o gosto que fica. Não faço este comentário para menosprezar a sua escrita, que é bastante madura e capaz de gerir a tensão ao longo do texto. Com um desfecho à altura, e estaríamos perante um dos melhores textos do desafio.

  19. Fernando.
    25 de outubro de 2017

    Gostei da sua história. Com certeza que a obsessão se configura realmente em um bom mote para um conto de terror. E no seu caso funcionou. Nessa sua história você me apresenta uma história de esquizofrenia. A realidade e a imaginação que vão se misturando a partir da “voz”. E a voz também se torna narradora, o que achei algo bem interessante. Aliás, algo que preciso lhe dizer é que o seu conto começa muito bem. Só que depois ele se tornou, para mim, um tanto quanto pesado para a leitura. Foi como se deixasse o asfalto e entrasse em uma pista de terra. O carro começou a vibrar e em alguns momentos até dar uma sacudidela. Você escreve bem, demonstra um belo de um domínio da linguagem. No entanto, senti que o conto necessita ainda de ser totalmente terminado. Deixado mais claro, principalmente na sua narração. Acho que é isto. Resumindo, um belo conto que tem um início avassalador e que depois teve começou com algumas interferências. Há alguns problemas também em relação à linguagem que merecem uma revisão. Grande abraço.

  20. Luiz Henrique
    25 de outubro de 2017

    O começo é empolgante, é de uma expectativa que desperta sensações estranhas, visto a forma envolvente da escrita. Depois passa parecer de teor erótico. Para em seguida guinar para o campo psiquiátrico. Depois as vozes dão um outro sentido. E daí em diante me parece que a narrativa passa a se perder um pouco. A impressão que fica é de que o conto ficou faltando alguma coisa. Visto outros rumos tomados. O uso da voz induzindo a protagonista complica o enredo. Perdendo, inclusive o sentido do título, pois não passa mais a constar como uma obsessão. Com a aparição do número cabalístico 666, parecia que ia tomar mais um novo rumo. Algumas falhas gramaticais, e ou, de digitação, mas mesmo assim atrapalha o bom andamento da narração. Apesar destes pesares, o conto não perde suas qualidades. É um bom conto.

  21. Leo Jardim
    25 de outubro de 2017

    # Transtornos Obsessivos (Dantalion)

    Autor(a), desculpe-me por não ter tempo para formatar o comentário melhor. Em caso de dúvida, é só perguntar.

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫):

    – a parte da voz se explicando oq é ficou excessiva: bastava dizer q era uma voz na cabeça de Katiuscia e ficaria claro
    – o texto com dois narradores ficou muito denso, cansativo, acho que poderia ter reduzido um pouco as alternâncias
    – muita coisa solta: uma gravidez citada no início, uma mulher, enfim várias pontas não conectadas
    – essa densidade também atrapalhou a compreensão da trama: não entendi muito bem o fim. Quem bateu com o taco nela? Quem era a voz ? Qual a função dos rituais? O que era o gato?
    – entendi a voz como seu inconsciente justificando o TOC e o resto era alucinação dela, mas ficou meio jogado
    – enfim, um texto inventivo e que me prendeu a atenção, mas com muitos excessos (poderia cortar a referência à alguns rituais) e confuso

    📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫):

    – tecnicamente, transição entre narradores ficou boa, bem marcada, dava pra saber quem era quem
    – não cheguei a ver muitos erros, mas achei que na parte do Homem Sem Nome, o texto fica muito contado, sem cenas marcantes para dar corpo a esse personagem
    – A essa altura, você já deve *imagina* (imaginar)
    – Sua mãe está ficando velha, e vai *precisava* (precisar) cada vez

    🎯 Tema (⭐▫):

    – tem elementos de terror, mas não criou o clima para chegar a dar medo

    💡 Criatividade (⭐⭐▫):

    – bastante criativo, não há de se negar

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫):

    – tive uma boa impressão do conto, depois que me acostumei com os vários narradores
    – a confusão, porém, reduziu o impacto do fim

  22. Rafael Soler
    25 de outubro de 2017

    Gostei bastante do conto, embora tenha ficado bem confuso no começo. Passada essa desorientação, entendi como a história seria contada e pude mergulhar mais fundo nela. Adorei o modo como vemos o ponto de vista do TOC e como essa voz quebra a quarta parede em alguns momentos. O(a) autor(a) conseguiu ser bem perspicaz nessas cenas.
    Achei o ritmo bem legal, embora algumas frases tenham uma construção esquisita, que me fizeram retomar alguns trechos anteriores para entender melhor.

    O que não gostei foi a falta de explicação de vários elementos apresentados; um pouco mais de texto talvez resolva isso.

    No geral, achei bom o conto, mas poderia ser um pouco mais desenvolvido em alguns pontos.

    🙂

  23. Evelyn Postali
    24 de outubro de 2017

    Caro(a) Autor(a),
    Conto adequado ao tema, mesmo eu tendo dificuldade de engrenar na leitura. Achei a história bem diferente, porque as questões que envolviam a personagem a fizeram assim. Tem uns erros de escrita, mas não muito graves. Algumas questões de estrutura de frase lá no começo, mas só. O roteiro também está bom. Boa sorte no desafio.

  24. Fheluany Nogueira
    24 de outubro de 2017

    Enredo e criatividade – TOC, esquizofrenia, manias, problemas de visão, isolamento, desajuste social, enfim um conjunto de doenças mentais e físicas que criaram uma trama instigante. A narração em diversas vozes é criativa e complementou a construção da insanidade. Gostei bastante de que o pseudônimo tivesse uma atuação direta na história, mesmo como um gato- alucinação. No trecho do Homem Sem Nome, achei que a trama ia virar uma Atração Fatal, ainda bem que a mulher dele conseguiu uma solução rápida para a situação.

    Terror e emoção – Em alguns trechos a narrativa ficou meio confusa. O impacto ficou, a meu ver, esmaecido quando a voz do inconsciente fala diretamente com o leitor — era a voz que a louca ouvia como se manifesta para todos?

    Escrita e revisão – Poucas falhas gramaticais não que atrapalham a fluência da leitura ou a interpretação.

    Parabéns. Abraços.

  25. Edinaldo Garcia
    24 de outubro de 2017

    Escrita: O autor trouxe um conceito narrativo que eu nunca tinha visto até então, ou pelo menos que eu me lembre. Gostei bastante. Imaginei que fosse me perder, mas consegui levar a leitura com boa fluência e até ajudou na concepção do terror. Não digo total fluência, pois a não linearidade dos fatos foram um pouco confusos. O final ficou muito bom. A quebra da quarta parede foi algo extraordinário, me pegando de surpresa; só as sugestões de voz grave e fina não funcionaram para mim, no entanto entendo que isso é algo muito íntimo e pessoal.

    Terror: Está perfeitamente dentro do tema. A cena do telefone me deu um susto e causou uma tensão que há muito tempo não sentia num conto de terror.

    Nível de interesse durante a leitura: Fiquei totalmente imerso na trama.

    Língua Portuguesa. Boa. Claro que uma revisãozinha vai melhorar ainda mais. Eu li grande parte pelo celular e perdi algumas coisas. Nada que estrague o obra. Me lembro apenas de “maus fluído” no lugar de “maus fluidos”

    Veredito: Um bom conto.

  26. mariasantino1
    23 de outubro de 2017

    Oi, tudo bem?

    Então, achei engracado e meio bobinho imaginar que tudo não passava de um edema que deixava a mulher quase sem visão e que o fato morto e o vulto, nada mais era que o fato que se hospedou na casa dela (ou isso, ou eu não entendi nadinha). Gostei da narrativa, mas me senti perdida na cronologia dos eventos.
    Esses auto desafios são comuns de todos, não? Mas com a mulher acabou se tornando mais grave devido a doença. Bem, embora haja o possível edema que se rompeu devido a cacetada que ela recebeu da mulher.
    Acabou que eu me diverti um pouco com seu texto, muito mais que senti alguma tensão.

    Parabéns e boa sorte!

    • mariasantino1
      23 de outubro de 2017

      Ai ai… fato morto é uma ova! Rato, quis dizer rato morto. E mais a frente surge o fato de novo… É rato morto e gato que se hospedou.
      Eu quis dizer que embora haja a doença, a inserção de rituais ficou meio solto E acabou que eu me diverti mais do que senti tensão.
      Peço perdão, porque estou via celular.
      Abraço!

  27. Andre Brizola
    23 de outubro de 2017

    Salve, Dantalion!

    Eu sei que foi proposital, pois é uma ideia fantástica e casa perfeitamente com o planejado para o conto, mas a alternância entre narradores, e os estilos utilizados para demarcar essas mudanças, geraram ruídos muito fortes, na minha opinião. Mas, sinceramente, são ruídos fáceis de eliminar e que podem dar uma consistência maior para o impacto que o leitor tem com o enredo em uma primeira leitura.
    Passada a confusão inicial, consegui entrar no clima que o texto oferece. E achei bem legal. Algumas cenas muito bem criadas, e as descrições das regras e das auto-punições estão sensacionais, me trouxeram à lembrança Han Qing-jao, personagem de Xenocídio, de Orson Scott Card, cujo TOC aparecia na forma das vozes dos deuses.
    Não vou me apegar a problemas de gramática, pois pra mim, em um conto de terror, o enredo e o ritmo surtem mais efeito do que uma boa pontuação. Entretanto, alguns trechos poderiam ter sido construídos de forma mais clara, como em “Ao completar dezenove anos, eu não tinha namorado ainda. Comecei a trazer um dinheiro extra para a casa, digitando trabalhos e traduzindo textos para os amigos que já estavam na faculdade. Coisa que, infelizmente, eu nunca consegui”. Não que seja algo tão difícil de entender, pois ela explica na frase seguinte que se trata de faculdade. Mas essa coisa também poderia se referir a namorado. São entraves pequenos, mas que acabam “emperrando” a leitura.

    É isso! Boa sorte no desafio!

  28. werneck2017
    22 de outubro de 2017

    Olá,
    Eu apreciei muito a primeira parte do texto, com os elementos certos para suscitar a curiosidade e atenção do leitor num desafio repleto de textos muito bons. No entanto, depois dessa primeira parte, a história desandou, tornando-se confusa e sem explicação para os inúmeros elementos que foram abordados sem uma resolução adequada.
    Quanto aos erros, já foram abordados e não tratarei deles novamente.
    eu sugiro uma revisão na estrutura.
    No mais, boa sorte no desafio!

  29. Lucas Maziero
    21 de outubro de 2017

    Foi-nos indicado, no começo, que Katiuscia sentia uma dor que se tornava ausente, cada vez mais irreal, mas não ficou claro, sequer sugerido, que dor seria essa. E também: Nunca mais haveria um feto ali. Que feto? Já que houve partes em que sabemos do passado de Katiuscia, nenhuma parte sobre ela ter engravidado apareceu. Estranho!

    A ideia de que ela era uma menina prodígio não se mistura bem com a consequente insanidade mental, mas não é de toda inaceitável. A voz mental,o seu transtorno obsessivo não pareceu afetar a sua inteligência.

    Por fim, para terminar de comentar as partes confusas:

    “Mas, se serve de consolo – ou de castigo – caso ninguém encontre você, Katiuscia, não vai ser preciso doar as suas córneas imperfeitas.

    Nem para aquela mulher, nem para mais ninguém.”

    Doar? Doar para aquela mulher, que mulher?

    Agora, prossigamos: gostei do conto, apesar de estar escrito num estilo que não me deleitou muito. Problemas com gramática não encontrei, apenas erros de digitação.

    Como a história encontra amparo na realidade, a saber: uma voz que controla, ritual de contagem, manias, tudo isso é muito horripilante porque existe. E foi isso o ponto positivo do conto, gostei.

    A cena em que Katiuscia tem em mãos o Grimório de Magia Cerimonial, creio que a partir daí que ela passa a alimentar os seus pensamentos com ideias de rituais. Talvez por conta disso o trabalho que o Homem Sem Nome ofereceu não passasse de pura distorção da mente dela, quero dizer, o conteúdo do livro a traduzir era diverso do que ela acreditava ser.

    Por fim, fiquei intrigado com o golpe de um taco de madeira que ela levou no topo da cabeça. Pode ser que ela tenha tido uma vertigem, ou um pequeno derrame e assim veio ao chão? Não se sabe, uma vez que não havia ninguém ali além dela e de Dantalion.

    Tive que ler mais de uma vez para entender a participação do gato, e depois fez sentido a parte em que Dantalion veio buscar o que é dele, ou seja, a cabeça do rato. Mas depois fiquei sem saber para que o gato seria fundamental para o ritual.

    Pequenas confusões que atrapalharam gostar ainda mais desse conto. As partes em que a narrativa se alterna entre o relato dela e o relato da voz, ficaram boas, um recurso inteligente.

    Parabéns!

  30. Pedro Luna
    20 de outubro de 2017

    Um conto complexo.

    O início é uma confusão só, mas depois, com a cena do oftalmologista, tudo começa a fazer sentido e podemos aproveitar a leitura. Acredito que essa manobra de iniciar o conto falando de coisas que só vão fazer sentido depois (no caso, lá na metade do conto) é uma ideia que nem sempre funciona, aqui acho que não funcionou.

    Bom, seguindo, surgem as divisões de voz, que ficou bem legal na minha opinião. Dividir as passagens com trechos em terceira pessoa, a voz de Katiuscia, e a voz da alucinação, deixou a leitura louca, como o tema da história pede. Ficou legal e deu esse ar de insanidade ao conto.

    Depois, os Tocs vem ajudar nesse quesito. Desesperador essa cobrança própria por esses mínimos detalhes. O escritor (a) foi muito bem sucedido nisso. A todo momento a personagem parece problemática, prisioneira da mente. Ponto positivo.

    O único elo fraco é a ligação entre ela e o homem sem nome. Esse personagem não ficou tão explorado e acabou pairando sem força sobre o texto. Mas não prejudicou o todo. O final, com a revelação do gato, só confirma o que já sabíamos ( a loucura), então não foi um fim surpresa de todo modo. Mas mesmo assim soou bacana.

    É isso, um conto de começo truncado, mas que depois descamba numa descida ao inferno da mente bem conduzida. No geral, gostei do conto.

  31. Fabio Baptista
    19 de outubro de 2017

    Apesar de um primeiro parágrafo um pouco confuso, estava com uma boa impressão do conto. A parte em que a voz se apresenta e quebra a quarta parede é sensacional! Impressionante como a sugestão mental funcionou ali, dando até medo de quais seriam as próximas instruções! kkkkk

    Mas depois a coisa meio que desandou com a mistura de narrativas, trechos entre aspas, em itálico… Não que tenha ficado incompreensível, mas ficou mais confuso do que “legal”, saca?

    A revelação final, com o gato comprovando que tudo era apenas uma alucinação, encerra bem o conto.

    – jato de água quente que tatuava as suas costas, com manchas ainda mais vermelhas do que o tom que sua pele clara costumava ter.
    >>> se a pela é clara não entendi a relação com o tom vermelho…

    – Mas a história era outra, porque era com dela
    >>> com ela?

    – você já deve imagina: eu sou uma voz.
    >>> imaginar

    – Sua mãe está ficando velha, e vai precisava cada vez
    >>> precisar

    – comparação com obra original
    >>> com a

    – Para a minha surpresa, a obra em que eu precisava analisar
    >>> Para minha surpresa, a obra que eu precisava analisar

    Conto dentro do tema, com a ousadia de uma narrativa diferente, mas que não me agradou em cheio.

    Abraço!

  32. Paula Giannini
    19 de outubro de 2017

    Olá Autor(a),

    Tudo bem?

    O ponto alto desse conto, ao menos para mim, é a coragem do(a) autor(a) em se aventurar e experimentar outros modos narrativos. Gosto muito disso. rsrss. Onde mais experimentar a reação do leitor a nossas ousadias que em um desafio entre autores? Aqui temos todo um universo de escritores, de iniciantes a veteranos, de jovens a avós (o que é o meu caso), de gente que gosta de clássicos, aos que preferem as novas narrativas, enfim.

    Bem, vamos ao conto.

    O texto nos traz uma história simples, vestida, porém, com uma roupagem sofisticada, ao conduzir toda a trama através de dois pontos de vista distintos. O da personagem protagonista e o da voz em sua cabeça. Talvez o eu consciente da moça e seu subconsciente, em uma abordagem mais psicanalítica.

    Nessa mescla de narradores, se me permite uma sugestão estética, eu deixaria as fontes todas uniformes, sem aspas, sem nada. Entenda, você já ousou ao utilizar duas vozes. Por que não fazer o mesmo na uniformidade do texto? O leitor entende perfeitamente a mudança de “voz” e, quando não, uma certa dúvida causa uma espécie de estranhamento bom. Até que ponto personagem e voz são realmente duas entidades distintas? Afinal a voz está dentro da cabeça da primeira não é? Uma não pode existir sem a outra. Prova disso é o final onde a narradora-personagem diz que voz desapareceu.

    O ponto alto da trama, ao menos para mim, reside justamente na premissa. Muitos portadores de TOC (e não só portadores de esquizofrenia) relatam a presença de vozes em sua cabeça. Vozes palpáveis ou não, que os leva a realizar os rituais da doença, caso contrário algo terrível lhes acontecerá. E é por aí (repito, ao menos para mim), que entra a parte do terror, proposta do desafio. Para algumas correntes espirituais as tais vozes de comando poderiam ser entidades realizando uma espécie de obsessão ao portador do transtorno.

    Senti que seu conto tem fôlego para uma narrativa mais longa, deixando espaço para que, tanto o transtorno, quanto a parte espiritual da coisa possam ser ainda mais explorados. Você tem aí uma personagem riquíssima, é só desenvolve-la ainda mais.

    Parabéns.

    Desejo-lhe sorte no desafio.

    Beijos
    Paula Giannini

  33. Miquéias Dell'Orti
    18 de outubro de 2017

    Oi,

    TOC e esquizofrenia… são esses os pilares que, para mim, permearam a personalidade da personagem de seu conto, pelo menos no começo dele.

    Uma história de uma garota que, perturbada por problemas psicológicos, se apaixona por um canalha e para se vingar faz um pacto com um capiroto-mor, entidade que, ao final, descobrimos ser apenas seu gato, o Dantalion.

    Dantalion (modo Wikipedia ativado) tem a virtude de ensinar todas as artes e qualquer ciência, talvez daí tenha surgido a precoce prodigiosidade de Katiuscia. Sacada bacana. Aliás, a história toda tem uma premissa bem legal, uma pessoa com problemas psicológicos adepta da bruxaria.

    Infelizmente, no decorrer da leitura, muitas coisas me impediram de ter uma experiência legal com sua história, vou tentar expor algumas delas:

    No trecho “A essa altura, você já deve imagina: eu sou uma voz.”, sinto muito, mas a essa altura da história, eu não conseguia imaginar que “A voz” seria simplesmente a voz da consciência. 😦

    Entendo sua intenção em alternar o discurso entre “A voz” e a menina Katiuscia, mas infelizmente o uso desse recurso não me agradou, não senti que fluiu de forma natural enquanto eu lia, pareceu-me deslocado. Talvez se você tivesse narrado tudo do ponto de vista só da voz, ou até só de Katiuscia, o resultado teria ficado melhor.

    Um dos fatores que mais influenciaram essa minha opinião foi que o padrão que você usou entre “A voz” e Katiuscia, que eram, respectivamente, itálico para uma e entre aspas para outra foi modificado no decorrer do texto, não sei se propositalmente, mas acabou deslocando mais ainda a experiência da narrativa.

    Algumas passagens estão confusas e parecem… como posso dizer isso?… parecem não estar no lugar certo. Por exemplo essa aqui:

    “Ao completar dezenove anos, eu não tinha namorado ainda. Comecei a trazer um dinheiro extra para a casa, digitando trabalhos e traduzindo textos para os amigos que já estavam na faculdade. Coisa que, infelizmente, eu nunca consegui.”

    Essa ultima frase, diz respeito a quê? ao fato dela nunca ter namorado? se for, não ficou bem deixá-la aí.

    Bem, acho que é isso. Espero que minha opinião não tenha sido em vão e que ajude a melhorar seu texto, que tem muito potencial 🙂

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  34. Paulo Luís
    18 de outubro de 2017

    De início o conto parece bastante próspero, uma ideia muito interessante. Essas vozes tão perturbadoras que, às vezes, são essas próprias vozes que tanto assustam a nós mesmos. Entretanto no caso deste conto, parece que algo ficou incompleto. Parece ter faltado argumento para que o autor completasse suas intenções. Estava caminhando tão bem o enredo, de repente toma-se outro rumo, como se houvesse uma ideia a ser contada, mas o autor perdeu o fio da meada? O que não dá nem para levar o título ao pé da letra, porque não há essa obsessão nem tantos transtornos assim. Mudando de assunto: houve uma fala em que senti falta de certo impacto: o seiscentos e sessenta e seis, se escrito em numeral, (666) tornaria bem mais cabalístico que por extenso. As duplas falas, estabelecidas fo-ram bem aplicadas. Incluindo às que tenta induzir o leitor, cujo sentido parecia ser o X, para conduzir a trama para um bom desfecho, mas não foi isso o que aconteceu. Erros, de digitação que comprometeram a escrita, e ou, descuido mesmo, acredito eu, a ver essas anotações: porque era com (dela) ela – você já deve (imagina)imaginar:- e vai (que) precisava cada vez – Foi pelo bem estar da minha mãe, e contra a (sua) minha – No mais, é um texto meio que bom meio que ruim, em vista dos entraves comentados acima.

  35. Ricardo Gnecco Falco
    17 de outubro de 2017

    Olá! Segue abaixo o resultado da Leitura Crítica feita por mim em seu texto, com o genuíno intuito de contribuir com sua caminhada neste árduo, porém prazeroso, mundo da escrita:

    GRAMÁTICA (1,5 pts) –> Sim, escrever é a arte de cortar palavras… Mas sem se esquecer de cuidar das que foram poupadas! Ou seja, uma boa e atenciosa revisão é FUNDAMENTAL — e não apenas para este quesito — em um texto, ainda mais em um trabalho que estará concorrendo com os de outros escritores… Por isso, receba os meus sinceros parabéns, pelo êxito alcançado neste importante pilar que poderá resultar (somente) em um mediano, bom ou até mesmo ótimo trabalho final (jamais ruim/péssimo)! 😉

    CRIATIVIDADE (2 pts) –> Este é, sem a menor sombra de dúvida, o quesito MAIS IMPORTANTE (e consequentemente possuidor do maior peso em sua nota final) de todos… Bem, aqui é que o negócio começa a pegar… A ideia seria ótima, mas creio que você não soube como dar continuidade à história que, até lá um pouco depois do começo, estava se mostrando — literalmente — sensacional. Cheguei até a ficar com um pouco de medo quando “a voz” começou a falar “comigo” também. E olha… Que maravilha de ideia essa de fazer com o que o antagonista, ou seja, “o dono daquela voz”, quebrasse a 4ª parede e viesse com tudo, em cima de um míssil, em nossa direção. Seria, em meu entendimento, o conto vencedor deste concurso. Mas… Por algum motivo que eu realmente não consigo entender (talvez as vozes na mente da autora), a história fez uma curva acentuada à esquerda e… Bateu. Bateu feio na parede. Exatamente naquela 4ª parede… Fechada. Uma pena… 😦

    ADEQUAÇÃO ao tema “Terror” (0,5 pt) –> Como estamos em um Desafio TEMÁTICO, não tem como avaliar sua obra sem levar em consideração este “pequeno” detalhe, rs! Assim sendo, devido ao “desvio” do foco narrativo, somado ao fato do ‘leva e traz’ ao qual a narração optou por prender-se (e aos leitores tb), aquele emocionante arrepio na espinha sentido quando ‘as vozes’ atravessaram a tela do meu Apple, e quaaaaaaaaase fizeram cafuné em mim, transformou-se em uma simples e incômoda coceirinha de tédio e frustração… O Terror não somente foi embora como, também, deixou (muita!) saudade. Que pena… 😦

    EMOÇÃO (1 pt) –> Beleza! Imaginemos que você escreveu tudo certinho… Sem erros de pontuação, acentuação, troca de caracteres, conjugação, sentido… Teve uma belezura de ideia para a sua história; inovadora, inédita, daquelas que só vislumbramos em nossas mentes uma vez na vida… Tudo dentro do tema proposto pelo Desafio e tal… Pronto! É pódio na certa, correto? Bem… Não necessariamente, como comentei acima… Fiquei com uma sensação semelhante ao cara que, diante da tv e com o talão da aposta feita em mãos, vai conferindo o resultado do jogo e, um a um, os números vão se confirmando na tela à frente dele, até que chega ao último dígito e, já mostrando o 6 na tv, o locutor pede “um momento” e, engolindo o grito de euforia que sufocava sua garganta, o apostador acompanha o girar da bolinha nas mãos do auditor que, aos poucos, vai apresentando o derradeiro número 9 como o oficialmente confirmado…

    ENREDO –> Se você for bom em Matemática (como aliás todo escritor de ficção gostaria de ser…), vai ter reparado que a soma dos pontos totais dos quesitos prévios já atingiu o limite de pontos da nota máxima a ser atribuída aos trabalhos do presente Desafio (5,0), conforme as regras estipuladas pelo nosso Anfitrião aqui no EntreContos! Portanto, como já levei em conta o Enredo da história ao avaliar (e notificar) a Criatividade da sua obra, este quesito aqui será utilizado apenas para demonstrar como eu, enquanto avaliador, catalisei esta história: mulher com problemas familiares e psicológicos sofre de TOC e, depois de uma vida sem sabor e sentido, morre com desejos de vingança por ter sido passada pra trás profissionalmente, olhando pra macumba que fez. Ponto. Final.

  36. Olisomar Pires
    15 de outubro de 2017

    Impacto sobre o eu-leitor: médio.

    Narrativa/enredo: mulher com sérios problemas psiquiátricos morre após um AVC.

    Escrita: muito boa, sem erros que travassem a leitura.

    Construção: os primeiros parágrafos ficaram muito bons com a descrição da mariposa subindo pelas pernas, a moça presa em seus rituais e por fim a morte do inseto. Depois o clima não se manteve e a estória tomou outro rumo e colocou até um suposto editor sem palavra, o qual não contribuiu muito, a não ser provocar o desejo de vingança da protagonista.

    Um bom texto sobre com vários narradores. Angustiante de certo modo, porém sem se adequar ao tema proposto nesse desafio. Pelo menos, assim senti.

  37. Eduardo Selga
    15 de outubro de 2017

    Em minha opinião, o conto termina por não se realizar plenamente, em função de dois problemas básicos: a multiplicidade de vozes narradoras e a falta de um eixo narrativo claramente definido.

    Temos o discurso da protagonista; o discurso da voz interior, que por vezes se dirige explicitamente ao leitor (“A essa altura, você já deve imagina: eu sou uma voz. Aquela mesma que, enquanto você lê essa história, pronuncia cada palavra dentro da sua cabeça. Pode me ouvir agora?”); um possível terceiro narrador nos dois parágrafos iniciais, mas que é, na verdade, a voz interior. Esses vários “donos do discurso” que se entrelaçam são sempre um risco, e acredito que não tenha funcionado a contento, apesar de a partir de certo momento a coisa ficar estabilizada, com, por exemplo, o abandono da “conversa” com o leitor.

    A parte inicial aponta para um caminho interessante, com a protagonista arrancando a cabeça da mariposa com uma mordida, mas ele não tem prosseguimento. Segue-se, sempre com a voz interior, a questão do livro a ser traduzido, que resulta num ritual um tanto vazio quando consideramos a narrativa como um todo.

    A voz, até por indicação do título, é uma obsessão da própria protagonista, mas fica uma sugestão no ar, principalmente por causa dos rituais, de que a causa talvez seja um agente externo. Mas é como se o(a) autor(a) não tivesse muita certeza da pertinência dessa ambiguidade, pois não aposta nela. É como se essa ambiguidade acontecesse por acaso.

    Em “O oculista falava de Katiuscia sem falar com ela, explicando diretamente a situação para a mãe dela. Ela era ainda criança […]” há excesso de ELA/DELA.

    Em “A essa altura, você já deve imagina […]” houve uma falha de digitação. O correto seria IMAGINAR.

    Em “Sua mãe está ficando velha, e vai precisava cada vez mais de ajuda […]” VAI PRECISAVA não faz sentido.

    Em “Colocou uma condição: que esse nosso acordo e as revisões da tradução seriam mantidas entre nós, sem envolver mais ninguém […]” o correto seria FOSSEM MANTIDAS.

    Em “[…] os rituais estavam bem diferente […]” o correto seria DIFERENTES.

  38. Regina Ruth Rincon Caires
    14 de outubro de 2017

    Bom conto, de escrita fluente, sem deslizes de linguagem. Enredo interessante, narrativa que prende o leitor. A temática de transtornos mentais sempre é um convite à leitura, no mínimo é intrigante. Aqui a personagem é envolvida por vários comportamentos psicóticos. Compulsões, manias exaustivas, medo de punição. O sofrimento emocional é desgastante, deixa o leitor agoniado. A técnica de duas narrações (da protagonista e da sua “consciência doente”) é interessantíssima. Exige maior observação, atenção dobrada. No final, não sei se perdi alguma ponta ao longo da leitura, não entendi os “olhos vazados”.

    Parabéns, Dantalion!

    Boa sorte neste desafio!

  39. Lolita
    14 de outubro de 2017

    A história – o desespero das compulsões, um dos temas mais originais até agora. Mulher cresce presa em suas manias, obedecendo uma voz que lhe manda realizar pequenos rituais que, como uma bola de neve, destroem a sua vida.

    A escrita – A alternância de narradores, no primeiro momento, me confundiu. Depois, peguei o ritmo e a história flui muito bem. Gostei das descrições dos jogos, o autor dominou bem as manias diárias e a ideia de que, se não forem cumpridas, a pessoa terá uma punição. No mais, gostaria de saber quem era a mulher a qual as córneas seriam doadas. E o Homem sem Nome era realmente um Homem sem caráter ou o envolvimento existiu apenas na cabeça de Katiuscia?

    A impressão – O conto passa a agonia de um quarto fechado repleto de lixo. Parabéns e boa sorte no desafio.

  40. Angelo Rodrigues
    14 de outubro de 2017

    Caro Dantalion,

    Conto interessante. Gostei. Flui sem problemas, ainda que com alternância de voz narrativa, o que é difícil de levar. Uma voz que fala dentro da cabeça de Katiuscia, a própria Katiuscia falando, contando sua história.
    Não vi nada na narrativa que prejudicasse o texto. Muito bom.
    Entretanto, senti falta do terror. A presença de Dantalion, o Poderoso Grande Duque do Inferno, que tem sob comando trinta e seis legiões de demônios, e o próprio Grimório, livro de magia de feiticeiros, deixou o conto parecendo mais que falava de magia que de terror.
    A presença do Homem sem Nome, me pareceu que nos guardaria uma surpresa, mas ele se mostrou um ratinho casado uma leoa, que acabou dando uma bolacha na danada da Katiuscia.
    O final, ainda que interessante, me deixou confuso quando do surgimento do gato Dantalion. Confesso que li e reli e fiquei na mesma. Talvez pelo fato de eu mesmo ter as córneas defeituosas como a pobre da Katiuscia.
    Ficou-me confuso o gato de olhos perfurados (?), a mulher a quem se doaria as córneas (?), o porquê de tudo isso.

    Valeu, Dantalion, boa sorte com o desafio.

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Informação

Publicado às 13 de outubro de 2017 por em Terror e marcado .
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