Ainda com o torpor da vigilância noturna, Etelvino lavou o sorriso pensando no corpo morno de Melissa entre os lençóis sonolentos. Tirou o uniforme e devolveu a arma da firma, nunca gostou de arma de fogo, carregava por obrigação. Mas Benedita, a companheira das solitárias rondas noturnas, se mantinha junto à coxa esquerda. A peixeira descansava na curtida bainha de couro desde os tempos de menino nos canaviais. Pegou gosto pelo ornamento que lhe equilibrava o gingado. A madrugada recifense, de escuridão escaldante, jogou o homem dentro de um ônibus. Não faria o longo percurso a pé, como de costume, guardaria um pouco de energia para acordar a mulher já com o circo armado. Girou a chave do lar cuspindo as botas e arrancando a camisa.
Os gemidos lhe chegaram aos ouvidos antes da consciência. Meteu o pé na porta do quarto. Primeiro uma tapa de mão aberta na cara da desonrada, enquanto o amante se embolava para debaixo da cama. O vigilante não teve dúvidas, covarde se despacha na peixeira. E tome hora extra para Benedita. A danada acordou da ferrugem e caiu cortando o infeliz em postas irregulares. Começando pela parte deslembrada de vergonha aparecendo ao pé da cama. Pegou no embalo depois da primeira peixeirada braço, beiço, perna, orelha, bagos, miúdos para todo lado. Uma bagaceira de ver e um rebuliço nas tripas de contar. Quando Etelvino terminou o desmantelo, arfando feito um porco possuído, não tinha uma junta amarrada no corpo do miserando. Teve a sensação de que ele próprio suava a inhaca da sangueira.
A pancada nas costas pegou o homem desprevenido, mas Benedita atenta se virou rapidamente. Uma joelhada lhe amoleceu as partes machas, soltando a arma e arriando de vez os quartos no chão. Enquanto agonizava feito caramujo no fogo espremeu os olhos para melhor focar o agressor. Um arrepio, nascido no feofó subindo pela espinhela até o cocuruto, fez do valente um menino. Até então estava para nascer homem que lhe fizesse borrar os fundilhos, mas pedaço de homem é coisa de outro mundo. Vazou nos cueiros diante de uma perna sangrenta e cabeluda pulando feito cabrito na sua frente. Fechou os olhos rezando o Pai Nosso com Ave Maria e Crê em Deus Padre para despachar a assombração. Um chute na queixada soltou os dentes e desmontou as ventas provando que a reza era fraca. Com o calcanhar o Perna Cabeluda afundou o confuso crânio de Etelvino.
A timidez do sol recém-nascido entrando pela janela fez Perna Cabeluda lançar um último olhar para a amante pelada no canto do quarto. Nunca se esqueceria de seu olhar aterrorizado. Saltou pela janela aos pulos sumindo no meio do mato.
A amante jurava inocência, aos prantos, acusando o marido e a perna sumida do amante pela chacina. O causo foi se espalhando feito chuchu na cerca pelas paragens pernambucanas sem nenhum acanhamento. De prosa em prosa foi se agigantando o terror do Perna Cabeluda que atacava os cornos na madrugada. Os homens se olhavam constantemente a procura de alguma protuberância na cabeça. Chegavam mais cedo em casa, faziam tarefas domésticas e procuravam cansar as esposas para não haver carência e nem dar motivo para visita do membro ensandecido.
Tonho, o barbeiro boa gente, achava graça no medo abestalhado do povo. Onde já se viu ter medo de perna pulando? Sabia que sua Quitéria era meio assanhada, mas uma belezura que o tratava como um rei. Acreditava no dizer do povo: “ Melhor ser feliz comendo um filé com os amigos do que amargar um sebo sozinho”. Naquela noite abafada fechou a barbearia mais tarde, cantarolava com as mãos nos bolsos quando sentiu uma brisa lamber suas orelhas. Olhou para trás e uma sombra se mexia perto da esquina. Seria uma criança perdida a essa hora da noite? Aproximou-se o suficiente para a coisa lhe dar uma rasteira que deitou o barbeiro no chão. Quando acordou, dias depois no hospital, era um homem convertido pelo medo. Com a bíblia nos peitos relatou a hedionda imagem de uma perna com garras enormes lutando capoeira com um olho lombreiro, pestanudo como um espanador da lua. Quitéria não sabia que o Perna Cabeluda atacava também corno manso e achou por bem nunca mais se assanhar para outro homem, não arriscando assim perder o seu Tonho.
Até então as esposas estavam gostando do bom comportamento dos maridos, uns cordeirinhos. Entretanto Sinhá Dona, recatada do lar de família abastada, sabia que o Sinhozinho vivia se metendo nas redes das criadinhas arrancando cabaço; mas nada temia, era uma boa cristã e não zanzava pelas ruas depois do cair da noite. Enquanto ela dormia, o marido se esbaldava nos braços das quengas. Acordou sem as cobertas e levantou para fechar a aragem fria da janela escancarada. As garras do chulezento grudaram na testa de Sinhazinha rasgando a máscara até o queixo. Depois de um bote certeiro na veia do pescoço voou zunindo noite adentro. O corpo de Sinhá ficou emborcado na janela em posição indigna mostrando as suas partes vexadas.
Depois do ocorrido, todas as cidades do nordeste, vizinhas de onde Perna Cabeluda pernoitava, declararam estado de sítio voluntário. Ao cair da noite portas e janelas se cerravam. À boca miúda, para o Coisa Ruim não escutar, diziam que o Perna procurava um sapato para chamar de seu , outros viam muita ousadia para tão pouco e apostavam que buscava vingança por seu infortúnio. Na dúvida, deixavam um pé de sapato de homem na porta de casa como oferenda.
Melissa, vestida de luto fechado, achou digno assumir a responsabilidade pelos feitos da perna perdida e dar fim à desgraça. Lugar de perna morta é junto ao corpo, sete palmos abaixo da terra. Juntou seu equipamento na bolsinha florida e partiu resoluta para o centro da praça. Escolheu a meia-noite que era hora boa para assombração. Sentou e esperou. Não deu outra. Atrás de um cajueiro reconheceu a unha encravada do dedão do amante espreitando. Chamou com carinho:
– Vem cá meu forte prum chamego, tô aqui inteirinha procê.
O Perna fez que ia e ficava, olhou comprido com o joelho dobrado já se afrouxando. Melissa continuou a fala macia prometendo o céu. Perna Cabeluda se arrepiou todo se jogando nos braços da amada cafungando o ar de flor. A mulher abraçou o membro amado com saudosa tristeza. Abriu o zíper da bolsinha com uma mão e com a outra foi fazendo cafuné entre os dedos do pé, passou a pasta quente em toda a perna com massagens enlouquecedoras. O cabeludo babava de prazer quando Melissa fechou a boca em traço para não gritar. Puxou a cera fria arrancando todos os pelos de uma vez só. O depilado arregalou o olho de dor, da cera e da traição da amada. Ela chorava abraçada ao pedaço desesperado de amor. Ele foi perdendo as forças até deitar o pé entre os seios da malvada.
Melissa entrou no cemitério com o véu de viúva recente cobrindo-lhe as lágrimas, nos braços carregava o melhor pedaço de sua vida para a eternidade.
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Texto atualizado em 04/04/2017
Caros amigos,
Sou grata por todos os comentários que, se não acrescentaram com revisões precisas e Insight geniais, me fizeram pensar em meu papel como comunicadora.
Como toda boa lenda, o Perna Cabeluda nasceu no imaginário do povo. Entre uma ponte e outra de Recife criou corpo e, através do escritor Raimundo Carrero, foi divulgado pelo radialista Jota Ferreira e imortalizado pelo cordel de Tiúma e São Lourenço de José Soares. Para que ninguém duvidasse, Chico Science & Nação Zumbi cravaram a joelhada contemporânea.
Sempre achei que daria uma bela história de amor e aqui agradeço a oportunidade de expressar todo o meu pedaço de admiração. Até porque não existe amor que seja completo por inteiro. Só podemos amar verdadeiramente aos pedaços.
Catarina! Matou a pau! Amei seu conto! Só li agora, infelizmente. Mas é bom pra carái! Adoro a sua pegada, o capricho da linguagem, a gente vê o nordeste todo, eu nem lembrava mais dessa lenda. Sensacional, parabéns!
Olá! Para organizar melhor, dividirei minha avaliação em três partes: a técnica, o apelo e o conjunto da obra.
Técnica: ainda não tenho certeza se a técnica aqui foi muito fodástica ou puro devaneio. O estilo ligeiro, desgarrado, é muito bacana – tão original que quase atrapalha a narrativa. Confesso que não conhecia essa lenda do pedaço de amante (não é das mais contadas por onde moro, ou foi inventada pela mente criadora do conto). Independentemente disso, ganha muitos pontos comigo pela estranheza.
Apelo: à parte o questionamento sobre a técnica empregada, gostei muito do conto, principalmente do ritmo. A temática escrachada torna a narrativa muito fácil de se ler. O tom humorístico fica encrustado debaixo da pele insólita que o conto exibe.
Conjunto: um conto escrito com inteligência e alguns parafusos soltos, se me permite dizer. Muito bom.
Parabéns e boa sorte.
Todo desafio tem um conto absurdo. Este foi o que tocou a esse desafio. O personagem é um absurdo e exige do leitor um nível enorme de suspensão de descrença, mas essa é a opção do autor, que leva a história para o lado da pura galhofa. Imagino que em um formato ligeiramente diferente (um livro com uma série de contos) esse personagem poderia render grandes risadas, não só pelo potencial cômico do conceito, mas pela habilidade que o autor demonstra, mas não chega a empregar plenamente, por não estar ainda convencido da dignidade de se fazer humor com um assunto desses. Bom texto, gostei. Vamos às notas.
Média 9,37
Introdução 9,0
Enredo 10,0
Personagens 10,0
Cenário 9,0
Forma 8,0
Coerência 10,0
é um conto no minimo inusitado. nunca tinha ouvido falar de perna cabeluda.Vamos a estrutura, a narrativa é cativante, não deixa o conto ficar monótono e ainda consegue que os vários fatos suscetivos não fiquem exageradamente rápidos, conservando uma linguagem poética. O final podia ser melhor trabalho ,mas isso não tira a gratificação do resto do conto
Fluidez da narrativa: (4/4) – Achei que ia ser difícil de ler pelo tamanho, mas que nada! Passou foi rápido essa loucura toda, rs.
Construção das personagens: (3/3) – Me conquistaram, Melissa e Perna Cabeluda rules!
Adequação ao Tema: (1/1) – Sim, adequado.
Emoção: (1/1) – Meu, que coisa de louco esse conto! Morrendo de rir sozinha aqui, às 3 da manhã, imaginando essa loucura toda. Gostei demais! 😉
Estética/revisão: (1/1) – Nunca pensei uma coisa dessa, não foi fácil de imaginar o final, inclusive. Manda isso pro Tarantino, kkkkkk! Muito bom! E a estética utilizada, com tantas expressões interessantes deu o tom, fez a coisa toda parecer ainda mais normal, total suspensão da descrença, rs.
Olá, autor (a). Parabéns pelo seu conto. Vamos aos comentários:
a) Adequação ao tema: sim, sem duvida
b) Enredo: O enredo e’ claro e não deixa margem a muitas duplas interpretações. Esta era outra lenda que eu não conhecia. Achei a estória bem contada, há um certo suspense e um clima regionalista que por si so’ já rende vários pontos para este conto.
c) Estilo: o estilo e’ bastante regionalista. Acho que a narrativa da’ boa sustentação ao enredo em si. Este mesmo enredo narrado de maneira diferente não teria sido grande coisa, mas neste conto a combinação ficou perfeita.
d) Impressão geral: Um conto bem escrito e uma estória interessante. Boa sorte no desafio!
Gostei, conto divertido e que não se leva muito a sério. Conheço a história da perna cabeluda, aqui em Fortaleza se fala dela, ainda que não com tanta força. A própria imagem da perna pulando já faz rir, mas aqui, as descrições dos ataques da criatura e dos personagens machões se borrando de medo deixa tudo mais impagável. Bom conto, e bem escrito também. A cena do marido corno desmembrando o sujeito foi primorosa.
Um conto de terror, baseado e quase copiado das circunstâncias de uma história contada de um jeito por um humorista recifense e a interpretação dada pela população. Não encontrei novidade após descobrir essa condição e muito menos criatividade. Pareceu que o autor queria participar do desafio e não houvesse tempo para criar um com mais detalhes, argumentos e solução. A aventura, a morte, a desgraceira dos que apreciam deturpar e prostituir na seara alheia, no entanto, ficou bastante esclarecida.
O conto é ágil, revelando um autor com muita habilidade para, em poucas linhas, fisgar o leitor. A cena do adultério, no início, apesar de clichê, foi muito bem construída, conferindo fôlego para o desenvolvimento. Gostei da criatividade na escolha do personagem, se bem que achei um tanto bizarras certas passagens, como o abraço na perna solitária. É nesse ponto que o texto revela-se irreverente, especialmente no trecho em que a depilação acontece. Ri com certas passagens, que não conhecia, mas que têm toda a autoridade de um dito popular, como “Melhor ser feliz comendo um filé com os amigos do que amargar um sebo sozinho”. Ótimo trabalho!
Não conhecia a lenda da Perna Cabeluda, mais um benefício trazido por esse desafio. Que coisa triste, além de ser corno, ser espancado por uma perna.
Bom texto, divertido em alguns momentos e bem contado.
Boa sorte!
Achei muito engraçado, principalmente quando o Perna acaba sendo depilado ao final, casquei o bico aqui. Não sei se é invenção ou se existe, mas de qualquer forma essa criatura mais a mais criativa que encontrei por aqui, engraçada e maluca, além de toda a história criada em volta dela também ser muito boa. Parabéns ao autor!
Essa do Perna Cabeluda me pegou de jeito! História muito bacana, construída com esmero, até com alguns símiles bem engraçados. A única parte que ache confusa foi no final, a parte da depilação… Mas gostei, no geral. Um abraço.
Muito bom!!! 😀
Aqui podemos dizer que o(a) autor(a) tirou leite de pedra, transformando uma lenda completamente bizarra em uma história muito divertida.
A qualidade técnica ajudou um bocado parao resultado final, pois soube empregar o regionalismo na medida certa e dosar o humor e a parte mais gore.
Um dos meus preferidos.
– “Melhor ser feliz comendo um filé com os amigos do que amargar um sebo sozinho”
>>> É verdade! kkkkkkkkkkkk
Abraço!
NOTA: 9,5
Então, Calango!
Cara, achei muito bom!
Que coisa fantástica! Uma perna cabeluda justiceira que ataca os cornos, mansos ou não, para aplicar um corretivo vingança. Não conhecia essa história, mas tenho certeza que jamais vou esquecer. O conto está muito bem escrito. O regionalismo casou muito bem, o humor então… Dei boas gargalhadas. Algumas passagens são muito inspiradas, cito essa de exemplo “Enquanto agonizava feito caramujo no fogo espremeu os olhos para melhor focar o agressor”. Fiquei imaginando o estado de sítio voluntário, todo mundo com medo da tal perna!
A história linear tem tudo o que se pode esperar e final explica o que precisava ser explicado (será?) e fecha o conto muito bem!
Parabéns! Um dos melhores do desafio na minha humilde opinião!
Palavras colocadas de forma oportuna e com um sotaque e trejeitos típicos e gostosos de se acompanhar. A leitura é fácil e magnética. Enredo cativante, conto interessante, com um bom início meio e fim. História instigante, cômica e sangrenta
A história da perna cabeluda é muito bizarra. E você consegui deixar a história mais sinistra ainda. Com tom de causo e bom humor, a história absurda de uma perna saltitante ganhou cores. A conclusão é hilária, digna de uma mente tão doentia quanto aquela que criou o mito. Valeu pela ousadia. Eu me diverti lendo.
Olá, como vai? Vamos ao conto! Um conto com criatividade tanto na escolha do tema quanto, ao menos em parte, no seu desenvolvimento. A lenda da perna cabeluda dizem ter se originado na cidade do Recife e ser urbana e bem recente, talvez anos 70. O início é interessante, fiquei na curiosidade de qual lenda seria abordada. Depois da revelação o conto perde um pouco a graça, parece ser só um relato meio seco da lenda, até chegarmos a um final, bastante original, com um bizarro e cômico método para se derrotar a criatura. O conto não brilhou de forma fantástica (nos dois sentidos), mas também não fez feio em nenhum momento. Acima da média, achei bastante bom, Parabéns! Desejo para você muito Boa Sorte no Desafio!
O autor deste conto investiu no fantástico, apostando no comportamento sem vergonha que fez tanto sucesso em obras clássicas como as de Jorge Amado. Curiosamente, o Brasil e os brasileiros não estão retratados no folclore, que faz sua aparição interessante e dentro do universo proposto, mas nas próprias personagens. Definitivamente esta foi uma história que destacou o maior mito do país: o do brasileiro. Valeu a leitura. Só não dei 10 para fazer justiça a outros. Foi 9,8!
Parabéns por conseguir escrever um conto sobre uma das histórias de folclore mais estranhas e bizarras que li. Acho que esta história é tão surreal que não havia como fugir do tom cômico.
Você escreve muto bem. A história do perna cabeluda foi bem abordada, dando um pano de fundo pro enredo, e dando até um ponto final, o que tem sido raro por aqui. A leitura foi muito boa e divertida. Você conseguiu equilibrar bem o serio com o jocoso, e apesar do final comediante (eu ri um bocado, rs), algumas partes do conto são de arrepiar.
Não vi erros na escrita, que narra muito bem tudo o que deve ser narrado. Você desenvolveu bem os personagens, dando-lhes personalidade. Muito bom!!
Olha aí! Finalmente alguém me conta a origem da história da Perna Cabeluda. Seu conto é bom e bem humorado. Comédia isso da Perna Cabeluda servir para chutar cornos mansos. Essa perna deve ter muito trabalho na vida, rsrs. Conto correto, boas descrições, criativo, talvez um excesso de expressões idiomáticas, ou um excesso de detalhes irrelevantes que se não atrapalharam a fluidez também nada acrescentaram à trama. Não vi problemas gramaticais e de coerência. O final foi bobo, empobreceu o conto. Parabéns e sorte no desafio.
Oi, Calango,
Essa lenda eu não conhecia. Gostei da história e de como se encaixou. Está bem escrito, adequado ao tema, com gramática bem desenvolvida também. O enredo é bom e tem uma pitada de comédia – ao menos, eu percebi assim.
Adorei seu conto. Muito divertido. Não conhecia essa história de perna cabeluda. Sua forma de narrar e a linguagem que usou me encantaram. A cena do esquartejamento do amante ficou muito boa. Você descreve na medida certa, com precisão. O problema foi o final da história. Isso de cera depilatória ficou chulo demais, não combinou. Uma pena, porque eu gostei demais do seu conto.
Calango, olá.
Não conhecia a lenda do Perna Cabeluda… achei bem sinistra… e estranha. Ficou meio difícil imaginar uma perna (cabeluda, ainda por cima)… bem… você sabe kkk. Mas nada que desabone a narrativa. Ótima, fluida e criativa. Parabéns.
Olá, Calango,
Seu conto tem um humor ótimo. Ri muito lendo-o. As lendas brasileiras, além de assustadoras, às vezes podem conter um humor sarcástico e muito bom , que você soube explorar bem demais.
O ponto alto é o final, com a cena da depilação, do cafuné entre os dedos e da amante levando a perna não mais cabeluda para o túmulo a fim de se juntar ao resto do corpo de seu amante. Se a lenda em si já é surreal, o autor(a) soube brincar com ela com maestria.
Uma escolha ousada e certeira.
Gostei muito.
Parabéns por seu trabalho, por seu senso de humor, e boa sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Blasfemias e heresias nesse conto, o de já se viu perverter a pura imagem da Mão Cabeluda e transforma-la numa perna…
Mas deixando as brincadeiras de lado, um excelente conto com descrições ótimas.
Abração ao autor.
Muito bom conto. Bem escrito e envolvente. Perdeu-se um pouco o ritmo no 6º parágrafo, mas nada grave, a condução foi muito boa em todo o restante.
É um texto non-sense, mas divertido, ressalta-se a qualidade da escrita.
Não conhecia esse “folclore”.
Não conhecia a lenda da Perna Cabeluda, e me pergunto se lenda urbana pode ser considerada folclore brasileiro ou não. Vou aceitar que sim, por ora, já que não se tem regras claras sobre o assunto. O texto é bem escrito, sempre buscando pender para o cômico, e as mudanças constantes de pontos de vista não ficaram confusas.
Agora, encontrei alguns problemas na narrativa. Primeiro que, pelo o que entendi, a tal perna surgiu ali naquele momento, correto? Dela ter criado vida e atacado o corno até todos estarem falando dela, a nomeado e a relacionado com cornos, foi um pulo muito rápido, uma suposição certeira e, por assim dizer, apressada. Acredito que se tivessem outros ataques a cornos, e sempre da mesma perna, aí sim, tudo bem.
Outro problema, para mim, foi o uso de ‘olhou’, ‘babou’ e ‘arregalou os olhos’ para a perna. Se entendi bem, era apenas uma perna, sem cabeça, portanto, nada disso poderia ter acontecido. Não sei se isso foi deslize ou se foi apenas mais uma tentativa de comicidade por parte do(a) autor(a), mas comigo não funcionou muito…
Olá, Calango.
Muito bom o conto: divertido, diferente, com bom uso de regionalismos, mas sem ser de difícil compreensão.
Só senti falta de um pouco mais de história e de alguns diálogos, que creio que enriqueceriam o texto ainda mais.
Ah, o nome “Melissa” não soa muito nordestino, mas pode ser somente ignorância minha, rs.
Nota: 9.
Esqueci de mencionar que há um erro na frase:” portas e janelas serradas”. Serrada significa cortada com serrote. O certo seria; cerradas.
A Lenda da Perna Cabeluda não é lenda, é uma história de ficção criada e escrita nos anos 70. O conto é uma cópia dessa história. O enredo não é ruim, mas os termos caipira fica chato em certo momentos. O que se destaca é o humor-negro, que não me cativou.
Oi Calango, eu ache muito legal a sua história, imaginei que você tinha inventado, tipo uma lenda sua mesmo… mas aí eu pesquisei e vi que essa lenda (urbana) existe mesmo… aí me desapontou um pouco porque, apesar de você ter caprichado no enredo, você só contou a lenda… Mas mesmo assim ficou bem legal. Boa sorte!!
Resultado – Good
Achei um conto bastante original. O tom cômico combinou muito bem com a violência over the top, e concedeu um ar de sátira à história. Gostei também da forma como o autor não se apegou a um personagem só, mas brincou com a lenda em diversos cenários.
Tema: adequado
Pontos fortes: o humor, a narrativa com bastante ação, escrita de forma um tanto típica, regional, porém que ficou muito bom, suave e nada forçado, faceta que nem todos conseguem quanto tentam recriar uma escrita regional em texto (no desafio afora mesmo, tem uns casos assim…). Também gostei das diversas cenas da história, da Sinhá, da Quitéria, do Etelvino quando chegou em casa e descobriu a traição. Tá muito bem escrito, parabéns.
Pontos fracos: Começou e terminou com Melissa, porém o meio da história mudou de foco, para outros personagens. O que estranhei, foi o seguinte: a lenda começou com Melissa, depois com o tempo, a Perna atacou outras pessoas, porém Melissa no final acaba com a Perna. Durante o meio do texto, deu a entender que a Perna atuou por muito tempo após o caso com Melissa, porém no final deu a entender que foi só um pouco, pois no mesmo tempo de vida de Melissa, ela acabou com a “lenda”.
Essa eu não conhecia.
Uma perna cabeluda e do mal! Coitados dos cornos, além de levar chifre, levam também pernadas. Bom conto, parabéns.
Destaque: “O vigilante não teve dúvidas, covarde se despacha na peixeira. E tome hora extra para Benedita. A danada acordou da ferrugem e caiu cortando o infeliz em postas irregulares.”
Calango, que conto porreta! Vc me pegou pela perna depilada, rsrs. A sua escrita é fluída, certeira. O humor do texto é saboroso, um quê de deboche e zombaria com a cornice alheia. Ótimas frases, manteve a minha atenção até o final para o grande desfecho. Olha, não tenho muito mais o que dizer, só que vai pro Top 10 da minha lista. Parabéns.
Uma lenda pouco conhecida. Um conto com uma estória dramática, cômica e coesa. Os personagens, apesar de não conversarem entre si, conversam com o texto dando um ar de verdade ao absurdo, conforme a premissa do folclore.
Olá “Calango”. Parabéns pelo seu conto. Li com prazer e confesso que seu estilo me cativou, usando com maestria a poesia em forma de prosa, discorrendo um drama. Gostei muito. Sucesso.
Conto leve, agradável e sensual, com uma forma de escrever bem original.
Personagens, trama recheada de realismo mágico, diálogos, descrições, vocabulário, um mundo caricatural com identidade e voz clara. Algumas cenas são muito divertidas, outras de puro sarcasmo. Interessante, também, o ritmo empregado no texto, a leitura flui e as pausas estão bem estruturadas. Diverti-me muito imaginando as situações. O estilo lembrou-me o “Batuque e Reza” (Fil Felix) do “Retrô Cemitérios”.
Uma história destinada a entreter, bem escrita, vocabulário adequado ao picaresco e lendário, personagens bem construídos, ao estilo do malandro nacional, sobretudo o Perna Cabeluda, aquele que não perde nenhuma oportunidade e dá um jeitinho para se arrumar.
Significado e significante bem amarrados, também título e pseudônimo, lembrando de que o “calango”, quando perseguido, corta um pedaço do próprio rabo, que continua se movimentando por um tempo, o suficiente para distrair o predador e ele poder fugir.
Parabéns pelas ideias e execução. É um dos meus favoritos. Abraços.
O conto abordou a lenda da Perna Cabeluda, assim respeitou a exigência quanto ao tema proposto pelo desafio. Não conhecia essa lenda e achei bem divertida.
Texto bem escrito, com escolha acertada de palavras. Apesar de achar “uma tapa” estranho, o substantivo aceita os dois gêneros. Acredito que assanha, no lugar de assanhada, deve ter sido um erro simples de digitação.
A trama é muito bem construída, prendendo a atenção do leitor, sem explicar demais e ao mesmo tempo, deixando clara a história da Perna Cabeluda. O autor conseguiu impor um ótimo ritmo de leitura, não tornando o texto enfadonho.
Eu me diverti bastante com esse conto.
Bom trabalho!
Eu não conhecia essa lenda urbana recifense, surgida nos anos 70. Ao ler este conto, tive de procurar informação a respeito, o que considero um efeito muito positivo causado por uma narrativa, pois amplia conhecimentos. No caso específico, reforça mais uma vez o quanto a cultura popular brasileira é vasta.
O item mais relevante do conto é a linguagem empregada. A escolha sintática é pontuada por termos incomuns em metrópoles do Sudeste e Sul brasileiros, que juntos formam uma espécie de “Brasil oficial”, ignorando-se cínica e solenemente todo o mais. No conto, esse outro Brasil, na prática meio folclorizado, está presente em construções do tipo “quando Etelvino terminou o DESMANTELO, arfando feito um porco possuído, não tinha uma JUNTA AMARRADA no corpo do MISERANDO”.
Não se trata de uma escolha aleatória, nem exibicionismo do(a) autor(a): com o uso de termos próprios da região em que a lenda se formou, o leitor, se não for do tipo preconceituoso que supõe existir um “jeito certo” de falar Português, tenderá a emprestar autenticidade não ao personagem Perna Cabeluda, mas sim à lenda. A narrativa ganha legitimidade. Quase como se esta narrativa fosse a própria lenda, o que não é verdade, pois lenda é um trabalho coletivo e oral. O conto é inspirado nela, usa o Perna Cabeluda, mas não pode ser a lenda: está escrito.
Não consegui descobrir se a menção à ausência de força diretamente relacionada à perda do cabelo faz parte da lenda ou se é criação do(a) autor(a), mas acredito na segunda hipótese, porque a primeira implicaria a morte do mito no seio do povo. Tenho a impressão que o(a) autor(a) tentou aproveitar outra narrativa, mais universal, Sansão e Dalila, o que redundou positivo.
Um belo trabalho, mas em “a boca miúda, para o Coisa Ruim não escutar […]” falta o sinal indicativo de crase.
Hahahha que nonsense!
Acho que vc criou uma lenda aqui, ficou bem encaixada e bem-humorada.
Muito bom. Tem um certo esquecimento de vírgulas ae no começo do conto, principalmente.
Mas muito gostoso de ler. A princípio nao sabia quem era Melissa, na parte q conta a historia dela, nao lhe menciona o nome, acho q seria importante.
Só vim mesmo lhe dar os parabens, pq nao estou participando desta vez,
Abração
Uau, que conto interessante. Uma narrativa interessante que não conhecia. Gostei do enredo, apreciável construção da história. Riqueza vocabular e cuidado com as palavras. Cada qual no seu devido lugar. Prendeu-me, curti bastante.