
Eu me lembro da serração do interior que vejo tão rápida
quando ali passo na estrada lisa e azulada.
É o pé da serra feito uma espessa listra esverdeada que passa
suspensa bem em cima de minha cabeça.
É a reta longa, é na curva perigosa das cidades do interior e que não
é tão interior assim.
Uma boa lembrança – o sino da igreja, da cantiga na radiadora pela
manhã cedo.
Era pela manhã que ouvia, como despertador, a música da igreja,
religiosamente todas as manhãs.
É morada antiga, são as lembranças da década passada nessas cidades do Maciço de Baturité,
da linha de ferro, do trem que demorava, do tempo quente num sol de meio dia e do banho no rio.
Ficávamos à toa no meio do dia, o sol fervendo nossas cabeças, ali víamos o trem cargueiro
passar, caminhávamos na trilha em busca do trem.
Era o pé da Serra e o vento frio, são boas as memórias da infância quando ainda nem sabia pensar.
Era o verde da serra em período curto de neblina, era a curva perigosa que fazia vítima alguém descuidado.
Era o ônibus que passava, a gente o notava vindo à curva da Casa Branca – que não existi mais e
era o horário e a partida.
Era uma leitura musical e instrumentos, caminhada da igreja, depois os dobrados e depois o lanche.
Era a biblioteca pouco visitada – os livros pouco lidos e que um dia tomei um pra mim,
era o horário da escola numa carona qualquer.
Era de tudo um pouco, a tv na praça e com notícias de mortes, era o futebol na praça,
era uma conversa na praça, quase tudo sabíamos na praça: coisa de cidade pequena.
Gostei. Dá uma sensação nostálgica, de tardes ao Sol, sem preocupações. Como sugestão de sonoridade, a repetição de palavras seguidas (igreja no início e praça ao final) me deslocaram um pouco da leitura.
Linda poesia! Me fez lembrar o meu tempo de criança, quando ia pescar no rio e subir nas arvores para pegar fruta, goiaba, laranja e do cavalinho de pau que meu avô fez! Boas recordações, Gardel!