Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos.
– William Shakespeare
Corria em direção a um penhasco gigantesco. O vento batia em seu rosto e Marlon podia sentir o frescor do ar contra a sua pele eriçada. Quando finalmente chegou à beira do abismo, não conseguiu parar, nem mesmo desacelerar. Pensou que conseguiria, mas seus reflexos falharam e ele despencou.
Era o fim. Não havia saída além da morte. Não foi o que aconteceu. Ao invés de cair na espiral de um infinito vazio, Marlon voou. O impossível desdobrou-se em segundos e ele pôde sentir suas asas expandirem-se no ar! Ao seu lado, Martina X, a musa dos últimos heróis da Grande Ala, sorria com olhos úmidos de admiração. Marlon sabia que não havia nada de errado ou estranho nisso.
Tudo se revelava tão natural quanto respirar. Marlon desligou seu lado racional e deixou-se conduzir pelos sentidos. Apreciou o voo ao lado daquela beldade de formas esculpidas de forma tão precisa. Era o paraíso.
De repente, puff! Asas desfizeram-se tão rápido quanto a tomada de fôlego. Deu-se conta de que aquilo era apenas um sonho. E, como num tranco violento, a fantasia dissipou-se.
Marlon abriu os olhos sem pressa alguma. Um piscava verde e o outro refletia uma luz muito azul. Esquecera-se de botar as malditas lentes novamente. Respirou de forma lenta e gradual até sentir que o seu batimento cardíaco voltava ao normal. Espreguiçou-se lentamente e passou a mão nos cabelos ondulados em tons de caramelo queimado.
Olhou para as pilhas desordenadas de livros ao seu redor e lembrou. Estava na velha biblioteca no centro da zona T4. Levantou-se da poltrona de couro puído, olhando em volta para verificar se algum dos malditos zeladores estavam por perto.
Nada. Estava a salvo, mais uma vez.
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Eram outros tempos. Tempos que se revelavam tiranos censores a velar um desespero cotidiano. O planeta Terra não mais existia. Não do jeito que um dia havia sido. Não da forma como haviam prometido que sempre seria. Tudo ficara para trás, na poeira de um lindo planeta azul. Isso tudo se fora. Agora, a situação mostrava um mundo do lado avesso.
Eram todos sós, mesmo convivendo em multidões. Solitários em suas ambições mesquinhas e preocupações rasteiras. Havia muito pouco do que antes se denominava humanidade.
Marlon V sabia, mais por intuição do que qualquer vivência, que em um passado nem tão distante assim, sonhar seria considerado algo natural como uma resposta neuronal. No entanto, aqueles eram anos que carregavam pesados cadeados e nada podia ser revelado sem a chave mestra. A verdade dos outros era a lei.
Viviam um período sem guerras, mas também sem paz.
Ninguém ousava questionar o padrão de comportamento imposto pela Nova Ordem. Era assim desde o final dos tempos. Fazia-se qualquer coisa para apenas sobreviver. Por esta razão, não era aconselhável discutir ideologias e nem mesmo mencionar assuntos subjetivos como sonhos.
Os poucos visionários que haviam sobrevivido ao episódio da Grande Lua cercavam os próprios pensamentos com muralhas racionais, confinando neurônios empilhados feito trincheiras. Não era mais permitido fantasiar. E a grande maioria dos habitantes daquela faixa universal nem mesmo sabia o que era de fato sonhar.
O governo, instalado às pressas durante a calamidade, detinha o poder absoluto sobre cada nascimento e morte. Os indivíduos nascidos ali eram previamente manipulados. Oficialmente, nasciam como seres já aprimorados, não por partes mecânicas, mas com requintes da engenharia genética. Os primeiros embriões daquela safra haviam sido gerados desprovidos da capacidade de reter na memória qualquer resíduo de sonhos.
Ao contrário do que se esperava a princípio, as mulheres não constituíam a maioria entre os sonhadores remanescentes. Algumas jovens simulavam conteúdo onírico, vestindo-se de devaneios, talvez por não suportarem a aridez dos tempos. Recebiam nomes de borboletas exóticas e se deixavam examinar pela Ciência. Seus cérebros e desejos transformavam-se em campo de estudo. Os cientistas logo se cansaram das cobaias e concluíram que eram apenas espécimes delirantes. Por nunca terem conseguido registrar um único sonho, destinaram as borboletas ao hall do esquecimento.
Poucos eram os seres que ousavam contrariar a Nova Ordem, trazendo ideias originais para melhorar as condições da população. Vez ou outra, surgia a notícia de pequenos agrupamentos formados no calar da noite, onde se discutiam intercorrências para alterar a situação coletiva. Eram os guerreiros utopistas, camuflados pelas trevas e mergulhados no exílio dos sonhos.
Marlon V. era um deles. Um dos raros visionários naquele território, pois viviam assim: espalhados em polos opostos, como se configurassem cromossomos em multiplicação. Ou como diziam os mais antigos: metástases de um sistema já moribundo.
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Viúva há muitas luas, Dra. Mirna C. representava a autoridade máxima da Nova Ordem. Fora a primeira a aprovar o projeto Despertar. Entusiasmara-se com a possibilidade de calar os próprios incômodos. Sonhar era algo tão primitivo quando inútil. Cada vez que se olhava no espelho, via mais do vazio que se reproduzia nos vales cobertos de suas faces. Os olhos, antes vívidos como campos verdejantes, guardavam apenas um tremular aquoso, sob as pálpebras escamosas, gastas pelo tempo. A beleza havia se dissipado com mais rapidez do que o esperado. E ela não mais sonhava com o consolo no tempo.
O que havia sido iniciado como apenas um experimento para análise dos processos cognitivos gerados em sonhos, resultara em um programa sem precedentes. Não fora fácil, muito mesmo rápido, mas o objetivo principal havia sido alcançado. Nenhum registro de sonho. Um cérebro sem consolidação dos sonhos na memória.
As primeiras experiências realizadas foram divididas em séries, de acordo com as múltiplas fases do sono. Celebridade no campo da biotecnologia avançada, Bruno G.F., unira-se ao pequeno grupo formado por especialistas em manipulação genética. Ambicionava um alto posto na Zona Prateada, chamada assim devido à perene chuva de cinzas. Escapar do confinamento laboratorial era o seu “sonho”, que vivenciaria muito em breve.
A meta governamental consistia em erradicar qualquer sonho ou prenúncio de delírio criativo. Como todo projeto secreto, que se visava segregar ao anonimato, desenvolveu tentáculos que alcançaram o conhecimento de alguns dos excluídos.
A primeira reunião do grupo ocorrera sem grandes discussões entre os membros. Poucos ousavam expor suas ideias, temendo um debate de proporções desastrosas. O que se pretendia era extinguir o foco das grandes ideias revolucionárias, que se iniciavam sempre em sonhos tidos como inofensivos. E isso, claro, contrariava a Nova Ordem. Não havia o que questionar, dado o grande empenho dos dirigentes em seguir por aquela vereda.
− Senhores, é fato que o assunto tratado aqui já foi objeto de exaustivo estudo, mas contamos com a oportunidade única de nos livrarmos de um impasse. Se por um lado, esses delírios noturnos têm sido abordados talvez de forma séria demais por nossos neurologistas, psicanalistas e biólogos; sabemos também que a extinção desses elementos oníricos seria uma grande vitória para a Nova Ordem. – Explanou Bruno G.F., sem esperar aprovação dos demais.
− Acredito, no entanto, que a Biologia seja capaz de encontrar respostas sobre as estruturas cerebrais envolvidas, embora a psicanálise se proponha a investigar seu conteúdo mais detalhadamente. – Interferiu sutilmente Dra. Mirna C.
− Se expusermos esta questão à luz da neuropsicanálise, teremos apenas uma tentativa, bastante dúbia, de entender os vários aspectos físicos e psíquicos do sonho. – Rebateu Bruno G.F., aparentando impaciência com a interrupção, apesar de admitir a premissa da autoridade.
− Não vejo sentido na total extinção onírica. Isso seria contraproducente, diria mais, seria um passo atrás na evolução da espécie humana. – Disse Paolo H. depois de um longo silêncio, lutando contra o suor frio que lhe percorria vértebra por vértebra.
Todos os presentes olharam para o cientista com assombro nos olhos e palavras prontas a saltarem pelas bocas ressequidas pelo poder. Havia incredibilidade suficiente para atirar Paolo H. a um ostracismo imediato.
− Talvez, devêssemos tentar uma castração hormonal, como já haviam feito nossos ancestrais com a castração química. – Disse Giovanna P.P., renomada neurocientista, quebrando o silêncio e relegando o colega ao obscurantismo.
− Mas como realizar a experiência sem chamar a atenção da Grande Ala? – Questionou Dra. Mirna, refazendo-se da surpresa causada pelo questionamento de Paolo H. Precisava rever os dados daquele cientista o quanto antes, pensou.
− Os estudos que vêm sendo publicados desde a virada do milênio, após a última Grande Guerra e os novos radares neuronais programados nos levam a considerar os pensamentos de Freud. – Um dos pesquisadores mais jovens concluiu.
− Ah, não acredito que ainda dão crédito aos argumentos deste senhor. – Bruno G.F. desabou enfim sua intolerância sobre o tema.
− Para Freud, os sonhos eram reveladores. – Voltou a se pronunciar Dr. Paolo H., mesmo sentindo os olhares espetarem como afiadas agulhas − As imagens durante o sono simulariam os desejos e assim nos protegeriam contra a dor e os traumas passados. Essas pesquisas também defendem a utilidade dos sonhos em ajudar a resolver problemas do cotidiano e organizar ideias. Portanto, caros colegas, não compreendo de que forma a ausência de sonhos concorreria para a evolução do nosso sistema.
O silêncio pesou novamente na sala cercada de vidros. Um iglu de cristal envolvia todos aqueles seres de mentes evoluídas. A frieza tornou-se quase palpável. Já era hora de encerrar a reunião.
Três dias depois, Dr. Paolo H. seria encontrado morto, vítima de um suposto ataque das patrulhas da Grande Ala. Sem sonhos.
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Os primeiros indícios de embriões manipulados despertaram algumas suspeitas dentro e fora do ambiente científico. Os líderes da chamada Grande Ala exigiram explicações para os fenômenos ocorridos. Os governantes fingiram interesse em apresentar as informações cabíveis, mas, em segredo, deram o aval para que o programa prosseguisse. Existia uma razão para isso. Acreditavam que, aos poucos, os sonhos seriam apagados sem deixarem qualquer rastro, impedindo que a faísca do inconformismo com a Nova Ordem se alastrasse.
Embasados nas pesquisas da fisiologia cerebral, os cientistas focaram-se na meta estipulada desde a primeira reunião – o bloqueio das entradas sensoriais cerebrais e suas correlações motoras, restringindo a atividade mental após o período de repouso. Os sonhos seriam apagados, sem a consolidação de suas imagens no tecido cerebral.
Nada se revelaria como amostra mental de uma improvável liberdade. O projeto evoluiria para produzir um ambiente propício para o raciocínio sem a contaminação difusa dos sonhos. Tudo resultaria em uma solução inédita e absolutamente brilhante.
A Nova Ordem acreditava que os seres humanos, a partir dali, sonhariam com o que viviam, mas seriam incapazes de registrar qualquer ideia obtida através dos seus sonhos. Imersos em suas problemáticas diárias, todos continuariam a trabalhar para a manutenção da Nova Ordem.
A abordagem do processo cerebral pós o descanso das noites contornaria a possibilidade de vivenciar uma resposta criativa advinda do universo onírico. O cérebro seria reconfigurado geneticamente em sua fase embrionária. Assim se evitaria qualquer manifestação de fagulha revolucionária oriunda de um sonho. Pois, isso sim, era uma grande ameaça.
Tudo aquilo precisava ser mantido em sigilo, devido aos altos riscos envolvidos. Mas muito mais perigoso seria deixar as mentes livres para criarem novas possibilidades. Os mais idealistas, os chamados sonhadores de ponta, ainda eram capazes de convocar grupos de estudos, fomentando revoluções contra a ordem estabelecida.
Para despistar as sentinelas da Grande Ala, era essencial substituir os sonhos por algo que fosse compatível com a memória REM, sem denunciar o subterfúgio empregado. Após várias tentativas frustradas, através de uma apurada manipulação genética conhecida como embolia química tridimensional, os cientistas conseguiram alterar o funcionamento da região do córtex responsável pela fixação da memória após a fase REM.
Uma longa era iniciou-se assim: vigilante.
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A Grande Ala reunia seus partidários de tempos em tempos. Sua fama consistia em apresentar oposição ostensiva aos líderes fundamentalistas da Nova Ordem. Seus componentes, em sua grande maioria, eram anciãos, idealistas que se recusavam a ceder à censura e à extinção da originalidade tanto de ideias quanto de ideais.
Carolina W., a mais radical dos grandes aliados, acreditava que todos os guardiões da Nova Ordem deveriam ser eliminados, sem distinção. Já havia passado de um século de existência e tudo a levava a concluir que não havia qualquer esperança de convívio entre as partes. A humanidade havia deixado de existir. A essência humana havia sido diluída e tudo o que enxergava era um exército de zumbis, subjugados à Nova Ordem. Não viviam, apenas sobreviviam, ou de forma mais clara como gostava de expor – sub-viviam
Marlon V. era, de longe, o mais revolucionário dos ocupantes daquela região. Detinha um posto particular, ocupado em pleno anonimato. Ninguém o reconheceria como tal, mas ele sabia que sua atividade cerebral era muito mais do que uma simples contravenção.
Sem alardear sua condição, Marlon não apenas sonhava, mas colecionava todos os seus sonhos. Centenas deles, catalogados em ordem aleatória, mas de forma segura. Abrigava em seu cérebro o segredo de todos os caminhos oníricos percorridos.
Ninguém desconfiava da sua subversão de Marlon, pois apesar de seus sonhos possuírem raízes cada vez mais profundas, exteriormente nada revelavam. Não havia rastros como ramos, folhas, flores ou frutos. Tudo perfeitamente estéril como convinha a um bom cidadão da Nova Ordem.
Aos poucos, Marlon V. infiltrara-se nas reuniões da Grande Ala, mantendo-se completamente anônimo, como um discreto observador. Muito se discutia sobre a revolução, a liberdade de sonhar e os abusos sofridos pelos cidadãos. Havia muito falatório, mas pouca ação. Marlon logo descobriu uma brecha para alcançar os líderes, já bastante pressionados pela população para que algo fosse feito.
Marlon fez. Aos poucos, selecionou parcerias dispostas a saírem da zona de conforto. Eram homens, na maioria, avessos às armas, artistas, escritores, atores e inventores. Gente que vivia dos produtos de sonhos, cada vez mais raros naquele contexto. O segredo era trabalhar suas ideias em silêncio, fortalecendo-se em uma resistência camuflada, exercendo a força nos bastidores, como um sonho formando-se no inconsciente.
O movimento cresceu de forma surpreendente, fomentando pequenas revoluções que começaram a despertar suspeitas na Nova Ordem. Greves e liberdades ganharam espaço, contrariando os ditames dos dirigentes. Era algo bastante perturbador, mesmo que em proporções mínimas.
− É preciso deter o princípio revolucionário. – Ouviu-se de um lado.
− Os estragos começam a dar sinais da dimensão que podem atingir. Se nada for feito agora, os aliados da Grande Ala tomaram o poder. – Respondeu o outro líder da Nova Ordem.
− Sim, senhores, a situação requer cautela. Antes de mais nada, precisamos localizar o foco desse maldito movimento. Não se trata da mesma resistência anteriormente exercida pela Grande Ala. Existe, sem dúvida, um elemento novo que precisa ser detido antes que o caos se instale. – Determinou Dra. Mirna C.
− Portanto, a prioridade é descobrir quem são os novos líderes, de onde vem a força primal que se alastra em nosso meio. – Concordou e concluiu Bruno G.F.
Todos os outros concordaram e fecharam as pastas de dados. Fora a reunião mais curta de todo o século. A unanimidade baseava-se na percepção do momento instável, que se abalava em dúvidas cada vez mais frequentes.
Investigadores e cientistas agruparam-se em equipes, espalhando-se pelas várias regiões, em busca de informações privilegiadas. Os primeiros contatos resultaram totalmente estéreis. Os habitantes negavam-se a fornecer qualquer orientação objetiva.
Tudo era uma questão de tempo, pois entre tantos homens, haveria de existir um, apenas um, que contrariando o bem coletivo, entregaria o sonhador.
Após várias órbitas, um nome foi pronunciado. Um nome sem aparente relevância, sem reconhecimento imediato. Um nome comum como tantos outros. As sílabas foram pronunciadas e repetidas à procura de algo que diferenciasse o nome pela importância ou raridade. Chegaram a um homem simples, quase impessoal.
Não, disse um dos investigadores: aquele era um sonhador. E sonhadores sempre eram os inimigos mais perigosos.
A Grande Ala notou os sinais reativos dos oponentes ganharem força. Era preciso fazer algo o quanto antes. A revolução não poderia ser detida, não dessa vez.
Talvez conseguissem poupar Marlon V., mas, de imediato, teriam de silenciá-lo para que danos maiores fossem evitados. Não havia alternativas brandas. Tudo implicaria em algum prejuízo.
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Martina puxava seu braço de forma insistente. Parecia mais forte do que deixava transparecer pela sua figura delgada. Os olhos cinzentos e penetrantes o atraíam como ímãs e ele deixou-se mergulhar em um redemoinho de sensações. O vento tornou-se mais pesado e cortante, e Marlon sentiu-se grudar ao corpo da musa, pressionado por uma dor que se expandia no lado esquerdo do peito.
Martina dizia algo e sua boca mudava do vermelho vivo ao ouro incandescente de um pequeno sol. Ele desistiu de acompanhar o ritmo dos pequenos cristais em suas íris e agregou-se ao colo feminino. Era a lua mais cheia de todos os séculos. Estava de volta ao paraíso.
− Um deles! – Quase gritou o mais experiente dos zeladores.
− Como sabe?
− Veja você mesmo… os sinais.
O investigador Pedro T. olhou novamente para a cena desenhada no entardecer e deteve-se buscando todos os detalhes possíveis. Observou o corpo estendido no asfalto holográfico forrado de cinzas e recolheu todas as certezas de uma vida.
Um homem, bastante jovem ainda, jazia paralisado, derramado como mercúrio sobre uma esteira feita de pequenas pedras magnéticas. Os membros amolecidos por uma estranha inércia, mais do que isso, em uma entrega irreal.
O rosto, voltado para trás, pendia levemente como em adoração a um céu inexistente. Talvez buscasse, em seu último momento, uma fresta de sol que pudesse iluminar seu derradeiro pedido.
Os olhos, de cores desconexas, permaneciam abertos e úmidos. Revelavam um par de sorrisos como espelhos recém-descobertos. Ali, naquelas páginas voltadas ao caos, tudo estava escrito. Marlon ainda sonhava.
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Ola, Morpheu.
Estou um pouco repetitivo quanto a isso, mas, de um modo geral, foi o que mais me incomodou em uma grande parte dos textos. Vez ou outra os autores optam por suspender os acontecimentos de suas histórias para apresentar informações sobre o universo que criaram. Essas informações, aparentemente, não fazem parte da perspectiva de qualquer personagem.
Esse tipo de opção tende a me afastar de alguns textos, na medida em que sinto que estou lendo mais uma enciclopédia do mundo criado do que uma história que se passe neste mundo.
Aqui, por exemplo, temos um conto muito bem escrito, com uma temática interessante e no meu entender original (o controle mesmo dos sonhos), mas a narrativa é suspensa para explicar acontecimentos e eventos, o que faz com que o leitor (ou este leitor) perca um pouco da imersão.
Enfim, um bom trabalho, escrito com cuidado, com poucos erros de revisão, com uma ideia original, mas que acabou pecando na narrativa. Claro, no meu humilde ponto de vista de (um) leitor.
Minhas impressões de cada aspecto do conto:
📜 Trama (⭐⭐▫▫▫): a premissa é interessante, mas achei que o governo gastava muito tempo e recursos ao tentar impedir que as pessoas sonhassem, quando existem formas mais “baratas” de manter as pessoas na linha (muitas delas são aplicadas hoje em dia, inclusive). Além disso, o texto acaba sendo muito contado, mostra pouco os detalhes das cenas mais importantes, como o Marlon. São muitos personagens que recebem nomes e, em um determinado momento, eu já considerava todos iguais. Tente restringir mais o número de personagens na trama, principalmente aqueles com nome, pois estes costumam ocupar um espaço na nossa memória e, quando se mostram inúteis, acabam frustrando o leitor.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): é boa, exceto pelo fato de que precisava organizar mais o uso do espaço, trabalhando melhor as cenas do protagonista e resumindo mais as demais e que precisa mostrar mais e contar menos (se não entende essa diferença, procure “to show/to tell” no Google).
💡 Criatividade (⭐⭐▫): esse assunto de sonhos não é novo, mas o conto o aborda de uma forma nova, numa distopia interessante.
🎯 Tema (⭐▫): não achei adequado ao tema do desafio, apesar de ser sci-fi.
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): os motivos apresentados antes diminuíram bastante o impacto do texto. O final ficou poético e bonito, mas não chegou a salvar. Não me apeguei ao Marlon pra sentir a sua perda.
⚠️ Nota 6,0
GERAL
Gosto muito do universo dos sonhos, é minha fonte de pesquisa principal tanto para fins artísticos quando na faculdade (Sonho x Arte) e sou bem tiete do Freud, então fiquei felizinho ao vê-lo citado no conto! A história em si não me empolgou tanto quanto eu gostaria, mas teve vários pontos que merecem destaque: a parte teórica, de lembrar do sono REM e trazer os conceitos de Freud (sonho como realização de um desejo) dão maior credibilidade; de falar sobre privação dos sonhos e associá-los à criatividade e liberdade; o tom de reportagem policial (com os sobrenomes com “ponto”). Fazem a estrutura do texto ficar melhor.
O X DA QUESTÃO
Opressão e governo fascista, mesclado à aparatos tecnológicos. Algo bastante comum nesse universo “x”. Felizmente utilizou do sonho para dar uma identidade ao texto e colocá-lo fora dos mais clichês. Particularmente, não acho que a privação do sonho seja algo que poderia afetar a humanidade da maneira como foi posta. Freud dizia que o sonho é a realização de um desejo oprimido durante a vigília, relacionar essas vontades oprimidas à uma real opressão e privação de sonho, daria um resultado interessante em imaginar como a população faria para extravasar esses desejos.
Um texto que não me animou com a leitura. A sensação que tive foi a de que o conto é enorme, impressão de que não ia acabar… Muita coisa, muita informação. Gosto muito desses temas que trabalham com o inconsciente, com os sonhos, as memórias, mas dessa vez não deu. Não sei, uma impressão de não envolvimento meu com o que o autor/autora desejava. Achei que houve muita repetição de “Nova Ordem”, uma citação excessiva do termo.
11. Despertos (Morpheu): Nota: 7,5
Olá, amigo Morpheus,
Parabéns pelo seu texto. Ele é até bastante poético e isso é muito bom.
Minhas passagens preferidas na sua história foram a primeira é a última cenas. Nesses momentos vc estava no seu melhor com relação à história que vc queria contar.
Porém, infelizmente, achei que o miolo do seu texto ficou descritivo demais, pesado demais. Achei que o texto se prendeu demais na discussão sobre o que são sonhos e acabou perdendo um pouco em conteúdo dramático/enredo.
Apesar do forte conteúdo poético de falar dos sonhos e de como um governo totalitário cortaria “o mal pela raíz” erradicando os sonhos, achei que foi dada importância demais a um aspecto fisiológico que não condiz com a preocupação do governo da sua história. A maioria dos sonhos que atrapalham ditaduras são sonhados enquanto as pessoas estão acordadas.
Além disso, apareceram alguns erros de português que complicaram um pouco o entendimento da narrativa, especialmente confusões entre tempos verbais futuros e pretéritos (eles vão fazer tal coisa ou eles já fizeram?)
De qualquer forma, foi uma viagem interessante!
Boa sorte.
Um abraço!
Não sei se entendi bem. O futuro, a Grande Ala e o governo totalitário era um sonho de Marlon? Ele estava sonhando com o futuro, não é isso? Eu acho que boiei na trama, mas achei bem interessante a discussão onírica, sobre sonhos e ideias que surgem. Apesar do lance de querer fazer as pessoas pararem de sonhar para não criar ideias, não ser bem uma novidade. Acho que aqui foi bem emmpregado. No geral, gostei.
Jurei que já tinha lido e comentado esse. Estranho. Será que foi em sonho? kk
Olá.
Bom, nem vou citar a clara referência aos filmes Matrix. Além desta trilogia, lembrei do filme “THX 1138”, de 1971, dirigido por George Lucas (sim, ele mesmo!). É um filmes sobre uma sociedade no futuro onde homens e mulheres vivem sob efeitos de drogas que inibem seus desejos básicos. O conto ficou bem legal, reproduziu a atmosfera “punk” do desafio, ficou tudo bem corretinho. Só não gosto muito dessas fragmentações, onde pula para outros cenários. Acho muito bom em estórias mais longas, mas em contos pequenos eu prefiro uma narração continuada.
Boa sorte.
Olá! Dividi meus comentários em três tópicos principais: estrutura (ortografia, enredo), criatividade (tanto técnica, quanto temática) e carisma (identificação com o texto):
Estrutura: um conto com vocabulário muito vasto, mas que peca em algumas questões ortográficas simples (concordância, tempo verbal). Em termos de enredo, há um eixo bem definido, com o “poder opressor” buscando, literalmente, acabar com os sonhos dos “insurgentes”.
Criatividade: os sonhos ainda são uma área muito nebulosa de estudos, pouco é o que se pode afirmar com certeza. Há teorias sobre os sonhos serem a etapa do sono em que o cérebro efetivamente “descarta” aquilo que esquecemos. Pesando por esse lado, o conto poderia seguir por um lado mais criativo, mas também mais difícil de trabalhar. Entretanto, me parece que as pessoas não perdiam a capacidade de sonhar, apenas de lembrar dos sonhos após despertas, o que é uma solução igualmente bela.
Carisma: a linguagem rebuscada, infelizmente, me afastou mais do que me cativou aqui. Quando proposto esse tipo de apelo estético, é necessária uma revisão muito detalhista do trabalho, pois torna-se fácil parecer pedante – mesmo não sendo a intenção. É minha única ressalva, pois o restante me agradou.
Parabéns e boa sorte.
Boa tarde, querido(a) amigo(a) escritor(a)!
Primeiramente, parabéns pela participação no desafio e pelo esforço. Bom, vamos ao conto, né?
Primeiramente, seu conto tá muito bem escrito, gramatical e estruturalmente. Apenas na parte final notei alguns erros de revisão, mas nada que prejudicasse a qualidade do todo.
Além disso, seu conto me deixa meio dividido: por um lado, achei meio cansativo e científico demais, parecendo uma pesquisa ou algo do tipo. Por outro, tem alguns conceitos que me agradaram bastante, em especial a questão da supressão dos sonhos pra tolher a individualidade e evitar qualquer tipo de revolução. Mas o mais legal foi o conceito de que a arte é capaz de libertar os sonhos e fomentar revoluções pacíficas. É isso mesmo que quis passar, ou viajei demais?
No fim, acho que o balanço foi positivo, mas talvez um texto mais fluente e menos formal acabasse prendendo mais o interesse do leitor.
Uma ultima observação: senti uma repetição excessiva de ideias e palavras no texto. tem momentos que as ideias se repetem demais em sucessão. Só uma observação mesmo, pode ser impressão minha.
Boa sorte e parabéns!
Olá, autor(a)!
Então, vou te contar, esse foi o conto que mais me demorei. O conto que li e reli uma porção de vezes e, infelizmente, o que teve a narrativa mais arrastada e, portanto, cansativa. Acredito que o principal problema do seu texto (segundo minha ótica de leitora mediana) é que são muitos personagens e que vc para para apresentar alguns. Entende-se que o governo aí modificou a sociedade para extirpar os sonhos por achá-los perigosos “[…] evitaria qualquer manifestação de fagulha revolucionária oriunda de um sonho.” , a partir disso vc insere um humano com a capacidade de sonhar e este faz parte de um grupo “os guerreiros utopistas”. Bem, achei a ideia central boa, tem aquele ar conspiratório e opressivo do conto CTRL X e que está impregnado na obra 1984. Os nomes que vc inseriu são bonitos, originais e as explicações também, além de algumas construções frasais belíssimas e reflexivas como essa >>> “Tudo ficara para trás, na poeira de um lindo planeta azul. […] Agora, a situação mostrava um mundo do lado avesso. Eram todos sós, mesmo convivendo em multidões. Solitários em suas ambições mesquinhas e preocupações rasteiras.”, porém a mistura de poesia e os excessos de apresentações de personagens não permite que o conto engrene de vez e que os demais elementos do conto tenham o mesmo espaço (clímax e desfecho). Um ponto me chamou atenção na sua trama, veja >>> “Marlon fez. Aos poucos, selecionou parcerias dispostas a saírem da zona de conforto. Eram homens, na maioria, avessos às armas, artistas, escritores, atores e inventores. Gente que vivia dos produtos de sonhos, cada vez mais raros naquele contexto.” , não entendi bem a existência dessas pessoas bem como a existência de qualquer entretenimento, dado ao governo da sociedade em questão.
Então, em resumo (ficou longo, né? Me perdoe) você apresenta o universo para aclimatar o leitor e mostra o conflito, mas o clímax e desfecho deixam muito a desejar.
Boa sorte no desafio.
Nota: 7, 7
Prezado Morpheu, eis então minhas observações:
PREMISSA: a supressão dos sonhos, e o direito de sonhar. Punk e filosófico, ao mesmo tempo. Eu gostei.
DESENVOLVIMENTO: apesar da boa premissa, a história parece “amarrada” pela necessidade de explicar o contexto onde ela ocorre. Todo o segundo bloco é uma grande explicação sobre o que é o mundo da história.
RESULTADO: entre idas e vindas, a história mantém uma linha narrativa, apesar do excesso de elementos. A meu ver, poderia ter sido mais objetiva, que não perderia o foco.
Concordância com o substantivo: em suas íris e (em suas írises e).
Muito pouco = pouquíssimo, apesar de correta, porque não se usa a segunda, que especifica melhor o entendimento. Ou é muito ou é pouco, muito pouco?
Bem escrito e estruturado, levando o leitor para acompanhar, passo a passo, os movimentos dos personagens. Atendeu, corretamente, ao desafio. Nota 8,5.
Um bom conto. Bem escrito. Achei a trama um pouquinho confusa.Achei a ideia muito boa, de se ter um mundo onde se é proibido sonhar, e os poucos indivíduos que ainda conseguem fazê-lo serem inimigos perigosos para o estado vigente. Sempre tem um dedo duro, não tem jeito. Toda pessoa tem seu preço. Ao que pareceu Marlon V foi detido em pleno sonho. Boa sorte no desafio.
Olá, como vai? Vamos ao conto! Um governo opressor, totalitário, ditador e o que mais se não queira deseja suprimir os sonhos noturnos, o oníricos, porque isso supostamente teria como efeito suprimir os outros sonhos, os desejos e aspirações. O enredo do conto se inspira em ideias psicanalíticos; os sonhos seriam expressões de desejos, o que é, aliás, de conhecimento corrente, não havendo necessidade de se inspirar na psicanálise para se saber disso. Esse tema central não me convenceu muito. Afinal, se os sonhos são válvulas de escape para desejos reprimidos suprimir essa válvula de escape tornaria as pessoas mais propensas a explodirem na vida real, e não menos, não acha? Elas ficariam mais rebeldes e revoltadas com suas vidas medíocres, não menos. Haveria mais chance de revolta de uma população que não tem o escape dos sonhos, e por isso só pode ter esperança de realizar seus desejos na vida real. A história segue os clichês habituais de distopias inspiradas em “1984 e/ou Brave New World”. Elementos X-Punk? Nem vestígios. Um erro: “− Os estragos começam a dar sinais da dimensão que podem atingir. Se nada for feito agora, os aliados da Grande Ala tomaram o poder.” Não é “tomaram”, é claro que o certo é “tomarão”. Uma coisa que achei meio esquisita: “Ele desistiu de acompanhar o ritmo dos pequenos cristais em suas íris e agregou-se ao colo feminino.” Eu sei que tem gente que gosta de usar o verbo “agregar” porque está na moda, é considerado sinal de inteligência e refinamento usar esse verbo, em empresas se usa muito. Só que tem gente que usa aleatoriamente, sem se importar com o sentido. Sabe o que significa agregar? Misturar diferentes materiais até que fiquem homogêneos, juntar partes separadas formando uma unidade. Como ele se misturou com o colo feminino? Isso foi uma bela metáfora poética voluntária, ou a palavra foi usada só por estar na moda? O final seguiu o habitual “revolucionário bonzinho vira mártir e se torna uma lenda”. Desejo Boa Sorte no Desafio.
Despertos (Morpheu)
Caro (a), Morpheu.
Bem, começar com uma citação do Shakespeare é quase uma trapaça, rs.
Mas, vamos ao conto…
Penso que a ideia central é o ponto alto. O conteúdo é bom, mas no meu entendimento não foi explorado da melhor forma.
O primeiro ato foi o que mais gostei. O autor soube apresentar o personagem, contar a história e revelar um pouco do universo. Somada a referência do voo de Ícaro. Apenas essa frase me incomodou um pouco: “ao lado daquela beldade de formas esculpidas de forma tão precisa”.
Já no início do segundo ato, o texto começa a perder força, fica muito explicativo, em algumas partes “didático”. Uma repetição de ideias “tempos” “anos” período” “final dos tempos”, me pareceu como uma enxurrada goela abaixo para você entender bem o que aconteceu com a humanidade. Fica parecendo aquele começo do Star Wars com as frases cadentes… Faltou, justamente, mesclar as coisas como como no primeiro Ato.
Os outros pedaços seguem a mesma fórmula, porém, os personagens não são apresentados do mesmo jeito com que Marlon foi. O conto só recupera um pouco o folego no final.
Contudo, percebe-se que o autor sabe trabalhar bem as frases e algumas construções são puro ouro; “Tempos que se revelavam tiranos censores a velar um desespero cotidiano.”
“Cada vez que se olhava no espelho, via mais do vazio que se reproduzia nos vales cobertos de suas faces. Os olhos, antes vívidos como campos verdejantes, guardavam apenas um tremular aquoso, sob as pálpebras escamosas, gastas pelo tempo. A beleza havia se dissipado com mais rapidez do que o esperado. E ela não mais sonhava com o consolo no tempo.”
De qualquer modo, espero que os colegas tenham aproveitado mais. Parabéns e boa sorte.
Bem, vou ser sincera. O conto não me agradou. Acredito que a escolha do tipo de narrativa, no caso narrador onisciente(acredito eu) fez parecer que a história é apenas um relato, um artigo de jornal, que possui muitas informações e nada mais.
E é assim, o conto inteiro é carregado de informações, muita delas repetidas sem necessidade, deu a entender que o autor estava preocupado que o leitor não entendesse seu ponto, e fez diversas explicações, sem deixar praticamente nada a cargo do leitor decidir, indagar e etc.
O plano de fundo, que é a questão da extinção dos sonhos, é fraca, mesmo com todas as ênfases neste “ problema” não me convenceu. A falta de um personagem principal, talvez tenha prejudicado no quesito empatia. Como já disse, a leitura é distante. A palavra sonho foi repetido vezes demais, também.
Enfim, não sei muito o que dizer sobre a história. Entendi o que o autor quis passar, mas não senti. Pensar na parte humana ajuda um pouco a entrar no drama de perder o direito de sonhar, viver uma vida sem projeções, sem escapadas que só a mente livre pode ter. Tudo isso é compreensível.
O conflito mencionado não causa impacto na história, aliás as estratégias , todos os termos técnicos não ajudam no enredo, talvez se a ação fosse mais descrita e menos narrada de forma automática teria funcionado mais.
Digo que o começo parecia promissor, os parágrafos iniciais são instigantes, mas é só.
Prefiro não comentar a adequação ao tema, já estou me repetindo demais nisso. rs.
Boa sorte!!
Um tema demasiado sério e arrepiante mas que não me convenceu muito o modo como o desenvolveste. Não senti arrepios ao ler o teu texto e estava à espera de um grande back quando comecei a ler. Gostava que o teu texto me tivesse tocado mais!
Olá Morpheu
Gostei do mundo que criou, com a manipulação mental mantendo a população dócil. Mas tem uns problemas na execução do conto. O primeiro é que ele parece um resumo de um romance. O texto foi bastante corrido. Acho que vale a dica do “não conte, mostre”, ao menos nas partes chave. Eu achei uma boa FC distópica.
–
“Você teria um minuto para falar de Philip K. Dick?” [Eu estou indicando contos do mestre Philip K. Dick em todos os comentários.]
Vou indicar um conto clássico do PKD: “Podemos recordar para você por um preço razoável” porque você abordou a manipulação mental no seu conto e o PKD fez um personagem mutilado mentalmente.
Olá, autor! Puxa vida, tivemos a mesma ideia, a supressão dos sonhos! Mas meu texto é resumido enquanto o seu é prolífico..hehe
Aliás, vários parágrafos mostraram ideias repetitivas, mas nao chegou a me cansar. O texto está bom, fluente e claro.
Destaque para os três últimos parágrafos, que são poesia! Me deleitei!
Parabens.
é um texto para ser lido com calma, tomara q os colegas o façam.
Abração
As letras abreviadas na frente dos nomes não acrescentou em nada aos personagens. Metade do conto se ocupa em criar o worldbuilding, tornando a leitura lenta e o desenrolar dos fatos apressados e mal desenvolvidos. Brincar com sonhos e neurociência para caracterizar o elemento “punk” dentro da história, foi uma sacada muito inteligente. Se o conto tivesse feito apenas uma pequena alusão a isso e seguido com uma trama inteligente, cheia de conflitos entre a Nova Ordem e a Grande Ala, poderia ter sido o melhor conto do concurso.
Premissa legal, narrativa competente, vocabulário rico e técnica dominada, mas não senti emoção alguma. Como se a personalidade dos personagens não gerasse empatia, não há profundidade. Lembrei do “Lanterna Verde” da DC Comics.
Olá, Morpheu.
Então, sendo bem direto, não gostei muito do conto. A ideia de um mundo sem sonhos é muito boa e sua escrita é bem segura, mas há muito “contar” e pouco “mostrar”, há muito “infodump” também. Penso que o universo criado deveria ter sido apresentado de forma mais orgânica: apresentando situações e permitindo ao leitor descobrir/compreender aos poucos. Não acho que tantas sinopses e parágrafos explicativos sejam a forma adequada de posicionar.
Entendo que às vezes isso é inevitável, mas um bom conto não deve fazer tanto uso de tais recursos.
Outra coisa que me incomodou foi que não houve bom desenvolvimento dos personagens. Marlon e Martina são mais arquétipos que personagens: eles falharam em gerar empatia. Lemos o conto e não nos importamos muito com o destino trágico do herói.
Portanto, considerando a boa escrita e o bom mote: minha nota é 6
Olá, Morpheu,
Tudo bem?
Seu texto me prendeu bastante.
A premissa da proibição do sonho, em última instância, uma das últimas fronteiras do que se supões individual à uma pessoa, é muito boa. A maneira com que você desenvolveu dá verossimilhança ao tema, é coerente e, também, muito bem desenvolvida.
O final deixa um gosto amargo de falta de esperança.
Encontrei pequenos problemas de revisão. Um deles pode comprometer o texto, mas é coisa boba.
“Se nada for feito agora, os aliados da grande ala tomaram o poder” (tomarão)
Só isso, deve ter passado desapercebido.
Parabéns por seu trabalho e boa sorte no desafio.
Beijos
Paula Giannini
Do ponto de vista do enredo (não da forma como ele é construído), é a repetição de um argumento bastante comum em textos distópicos e em ficção científica com cenário e/ou ambientação punk: o Estado mantendo um controle sobre os cidadãos em nível muito mais elevado do que temos na realidade atual, mesmo nos mais totalitários. Nesse sentido, não há novidade, e acho mesmo que a estética punk, quando utilizada na abordagem de um mundo futuro, atrai esse argumento, talvez pelo seguinte: em nosso imaginário existe, muito firme, a ideia de que o futuro é algo próspero, uma espécie de terra prometida ou paraíso. Ora, estamos sentindo na pele, nas últimas décadas, que o nosso futuro muito claramente ameaça não ter esse componente idílico. O caos é bem possível, e mesmo a extinção de nossa espécie. Uma subversão das expectativas humanas, portanto. Junte-se a isso a concepção, verdadeira, de que o movimento punk é subversão. Na verdade, a proposta é a quebra das regras do establishment para instalar uma nova regra social e comportamental, mas como no senso comum toda a subversão pertence ao campo negativo do discurso, a “colagem” dessa negatividade ao punk futurista não é surpreendente.
A construção do texto apresenta dois blocos: há um discurso onírico e outro, cientificista. A existência deles, intercalados, é algo bem positivo no corpo textual, mas me parece que o segundo tipo de discurso endureceu o conto, pois nessa parte, apesar dos diálogos, tudo é muito explicado. E mesmo nos diálogos, várias inserções explicativas são muito longas, rescindem o dinamismo que as falas poderiam introduzir, como, por exemplo, “[…] – Disse Giovanna P.P., renomada neurocientista, quebrando o silêncio e relegando o colega ao obscurantismo”.
Há, todavia, uma questão a considerar: a dureza da linguagem tem relação com a aspereza da sociedade descrita no conto, profundamente desumanizada. Portanto, é uma linguagem coerente quanto à impessoalidade. O problema não está tanto no uso de termos como “pesquisas da fisiologia cerebral”, “bloqueio das entradas sensoriais cerebrais e suas correlações motoras”, “atividade mental” e outros tantos, e sim, torno a dizer, na quebra discursiva ocasionada pelas inserções explicativas das falas das personagens.
O discurso onírico, ao contrário, é escorregadio (e isso é benéfico), conotativo, e muitas vezes poético, como em “algumas jovens simulavam conteúdo onírico, vestindo-se de devaneios, talvez por não suportarem a aridez dos tempos” e “o investigador Pedro T. olhou novamente para a cena desenhada no entardecer […]”. Ocorre que, em minha opinião, faltou um melhor equilíbrio entre as partes, nos termos anteriormente expostos.
Em certa medida, o conto trabalha com o arquétipo de Ícaro. Segundo a mitologia grega, ele era um rapaz arguto que ganhou asas construídas por seu pai, Dédalo. Representa, como arquétipo, a ideia de ultrapassar os limites e a punição daí proveniente. No conto, temos “ao invés de cair na espiral de um infinito vazio, Marlon voou”. A caída de Ícaro, que na mitologia se deu por ele ter se aproximado demais do sol, no conto está representada no trecho “asas desfizeram-se tão rápido quanto a tomada de fôlego. Deu-se conta de que aquilo era apenas um sonho. E, como num tranco violento, a fantasia dissipou-se”. Além disso, ao término da narrativa o protagonista é punido pela chamada Nova Ordem.
O Estado presente no conto não é outro senão a sociedade do controle (um conceito sociológico que, organizado no século XX), aliado a outro conceito, o de biopoder (o domínio de corpos, mentes e sociedade por instrumentos da biologia), ambos em plena vigência e ascensão. É exemplar, nesse sentido, o trecho “a Nova Ordem acreditava que os seres humanos, a partir dali, sonhariam com o que viviam, mas seriam incapazes de registrar qualquer ideia obtida através dos seus sonhos. Imersos em suas problemáticas diárias, todos continuariam a trabalhar para a manutenção da Nova Ordem”.
O protagonista ora é identificado como Marlon V, Marlon V., e ainda simplesmente Marlon. Não acho positiva essa variação, é quase como se fossem três personagens diferentes. Claro que o contexto elimina essa hipótese, mas é preciso mais cuidado ao nomear o personagem.
Há problemas estilísticos e gramaticais, alguns deles inclusive afetando a coerência narrativa.
Em “Marlon V sabia, mais por intuição do que qualquer vivência, que em um passado nem tão distante assim, sonhar seria considerado algo natural como uma resposta neuronal”, há um choque sonoro bem desagradável com NATURAL e NEURONAL.
Em “talvez, devêssemos tentar uma castração hormonal […]” não há a VÍRGULA. O uso de reticências, se o objetivo foi indicar hesitação, seria mais indicado.
Em “ninguém desconfiava da sua subversão de Marlon”, me parece um erro de revisão a presença de SUA e também DE MARLON.
Em “se nada for feito agora, os aliados da Grande Ala tomaram o poder”, o correto seria TOMARÃO.
O(a) autor(a) apresenta o mesmo cocoete de alguns outros por aqui: o uso constante da palavra MALDITOS e derivadas, lembrando-me muito a dublagem de filmes norte-americanos, que gosta de usar o termo. Elas aparecem em “esquecera-se de botar as malditas lentes novamente”, “olhando em volta para verificar se algum dos malditos zeladores estavam por perto” e “precisamos localizar o foco desse maldito movimento”. Maldição!
Coesão textual: muitas falhas, como apontei acima.
Coerência narrativa: algumas falhas de coesão também prejudicaram a coerência.
Personagens: parece-me que o texto pede alguns personagens mais bem delineados.
Enredo: a ideia inserida no enredo é muito interessante (sociedade do controle e biopoder), mas a execução pecou um pouco.
Linguagem: os dois discursos (onírico e cientificista) parecem não se encaixar devidamente.
O ponto forte deste conto é a ambientação, ou melhor a criação do contexto fático e histórico. Denota-se o esmero do autor em dar verossimilhança aos aspectos sociais e sobretudo científicos. A atmosfera opressiva, herdeira dos clássicos distópicos é muito bem descrita, com a delimitação entre os grupos antagônicos – a Nova Ordem e a Grande Ala – e, mais do que isso, com o mergulho profundo no histórico de ambos os grupos, inclusive a identificação de lideranças. Nesse ponto, lembrou-me o romance Solaris, pois a par da trama principal, desenvolveu o autor todo um arcabouço teórico-cultural lá denominado Solarística. Aqui verifica-se algo semelhante, eis que paralelamente à trama de Marlon V, temos demonstrado todo o contexto social que a permeia, sem esquecer das críticas embutidas. No entanto, na medida em que a apurada contextualização revela-se em qualidade, também é defeito. Isso porque, devido aos limites do desafio, termina por diminuir – na verdade quase faz desaparecer – a história, ou melhor, o “slice of life” que deveria conduzir a trama. Marlon V é uma espécie de rebelde, alguém que tem a capacidade de sonhar e que com isso consegue arrebanhar seguidores, gente poderá colocar em xeque o protagonismo da Nova Ordem. Sim, é uma premissa bastante promissora, mas que é tratada de modo superficial, sem dar tempo ao leitor para se afeiçoar ao jovem. A história dele, em si, é tratada em 1/4 do texto, o que é pouco, pois dá-se preferência à ambientação. Com isso, perde-se a identidade entre leitor e personagem. Se posso fazer uma sugestão é que este texto seja reescrito, ou melhor, que seja expandido de modo a desenvolver Marlon, Martina, Paolo e Mirna. De todo modo, reconheço a excelência da escrita e parabenizo o autor pela viagem.
Ah, já quase ia me esquecendo: o acréscimo de uma letra ao nome dos personagens “Marlo V”, “Carolina W”, um atestado à impessoalidade exigida numa sociedade totalitária, me fizeram lembrar do excelente livro de Kazuo Ishiguro, Não me Abandone Jamais, cujos protagonistas são denominados exatamente dessa forma. E pelos mesmos motivos.
Tema: Creio que está adequado ao tema, apesar de não focar muito nos ‘punks’, e apenas narrar superficialmente a vida de quem era vivia sob o sistema.
Pontos Fortes: A simplicidade é o grande ponto forte do conto , mesmo com a inclusão de diversas ‘explicações científicas’, partes que o leitor não entende, isso não deixou o conto incompreensível.
– Achei interessante o formato pelo qual o conto foi contado: indiretamente. O personagem Marlon, que no início parecia prometer muito, apareceu só um pouco e visto meio “de longe”, “de fora”. Agora, não sei se isso seria um ponto forte ou fraco, mas apenas uma característica do conto: não foi dado ao Marlon quase nenhuma personalidade, assim como a vários outros personagens. O foco foi mais em descrever o que se passava e em explicações científicas e menos nos personagens.
– Foi direto ao ponto, sem grandes descrições.
Pontos fracos: confesso que achei algo de parecido com o meu conto, e não gostei muito de ver essa semelhança. Mas isso não é culpa sua e talvez eu não devesse por isso no ‘ponto fraco’. Este negócio de Nova Ordem e ”opressão” realmente não é uma novidade nem muito original, acho que varia da forma como é abordado.
– A questão gira apenas em torno dos sonhos? A Nova Ordem foi abordada de forma superficial, de maneira que não foi possível compreender como era o mundo proposto. Ficou meio vazio de ambientação.A tal Grande Ala também não obteve muitos detalhes, ficando meio ‘indefinida’. Foi focado apenas na questão dos sonhos, e o resto foi deixado de lado. Acho que pelo limite de palavras e pelo fato de que poderiam ser partes desnecessárias e irrelevantes, possa ser relevado isto. É importante cortar coisas desnecessárias. Porém, a caracterização do ambiente realmente ficou bem escassa.
– Faltou emoção e ‘vivacidade’. O conto não deixou nenhuma grande impressão, nem é marcante.
Muito criativo e bem narrado. Algumas partes causam confusão, mas nada que uma segunda leitura não resolva.
Não diria que é emocionante, mas tem um gancho muito bom para exploração no caso de um romance.
A escrita é bela e quase impecável, com um tom poético cativante. Porém, lá pelas tantas achei a leitura cansativa. O conto tornou-se um relato tedioso sobre os eventos na linha do tempo, e só voltou a narrar uma história de verdade na última parte. A escrita rebuscada não ajudou nesta “barriga”, já que o texto perdeu o apelo estético e tornou-se apenas as palavras de um jornal.
A história é interessante, mas velha conhecida. Equilibrium que o diga. Mais recentemente, até “O doador de memórias” trabalha a ideia da privação emocional em prol do “bem maior”.
Não vi muito em Marlon V, assim como nos outros personagens da trama. O personagem que pareceu mais interessante foi o Dr. Paolo H, já que todos os leitores devem se identificar com ele. Pena que não teve muito tempo de vida no enredo.
Algumas notas que tomei durante a leitura:
=> “Não fora fácil, muito mesmo rápido…” – acho que o que você queria dizer aqui era “muito MENOS”
=> “Se nada for feito agora, os aliados da Grande Ala tomaram o poder…” – acredito que o certo seria “TOMARÃO”
=> Uma sugestão pessoal: os sobrenomes jamais mencionados dos personagens poderiam ser ocultos. Bruno G.F. não me diz nada; seria melhor escrever apenas Bruno.
Em defesa do enredo, gostei da forma como os sonhos assumem seus dois sentidos de forma completa no conto. Por tirar a capacidade das pessoas sonharem enquanto dormem, a Nova Ordem removia também os “Sonhos” das pessoas, ou seja, suas metas e objetivos de vida. Isso é trabalhado durante todo o conto com excelência.
Enfim, parabéns e boa sorte no desafio!
Uma boa premissa, com ideias bastante interessantes. O texto é bem escrito, com algumas construções excepcionais. Gostei de ver que sou um dos personagens, hehe. Só achei que ficou muito tempo nas explicações sobre a sociedade e pouco na ação e diálogos em si, e isso tirou um pouco da fluidez, e também daquele estranhamento da fc em geral e do cyberpunk em particular. Outro risco que se corre quando a gente abre demais sobre o universo no qual se passa a estória é que podem surgir mais lacunas, difíceis de preencher num conto, ainda mais um conto curto. Este deve ser um recorte daquele universo, trazendo mais a visão dos protagonistas da estória, evitando entrar muito no coletivo. Falando nisso, não consegui ver claramente o elemento punk, está mais com cara de distopia com governo totalitário.Mas, tirando esses momentos, a narrativa consegue envolver, a trama, o personagem e todo o universo convencem. No geral, gostei.
Oi Morpheu, seu conto começou muito bem, dava pra sentir o que o personagem sentia, ver o que ele via… mas depois ficou muito chato!! Me desculpe… sou completamente leiga nesse tema e pra mim foi como se eu estivesse lendo uma revista científica… eu acho que entendi a história e tudo, mas foi muito chato de ler… uma pena… até mais!!
como oferecer a alguém uma esperança negada?
cruel, difícil até imaginar o motivo de mantê-la na espera… pra quê?
A temática eu achei superinteressante, bem bacana a ideia da proibição do sonho.
Porém o texto foi meio complicado de se ler, ~têm partes que arrasta bem, chega-se a ter vontade de não continuar de tão arrastado.
O conto fez-me lembrar “1984”, de George Orwell, em que era denunciado à Polícia do Pensamento quem cometesse crimidéia. Aqui, é denunciado à Nova Ordem quem comete crime-sonho. A TRAMA é simples e o texto pareceu-me mais preocupado com a discussão ideológica. O PERSONAGEM Marlon V é o homem comum que será usado como “bode expiatório” da revolução. A LEITURA ficou um pouco truncada pelo vocabulário técnico (talvez de Psiquiatria) e por algumas construções frasais equivocadas, como: “Como todo projeto secreto, que se visava segregar ao anonimato”; “Ninguém desconfiava da sua subversão de Marlon”; “Se nada for feito agora, os aliados da Grande Ala tomaram o poder”. No todo, a narrativa agradou, mesmo precisando reler o texto para melhor compreender algumas partes. Parabéns pela participação, abraços.
Muito interessante, quase um conto de metalinguagem por tratar dos sonhos, matéria prima de escritores. Muito bacana mesmo.
Bastante detalhes são usados para justificar o cenário da história, explicá-la, mas ao fim não se chega a conclusões muito interessantes com tudo isto..
ah! Os sonhos … se pudêssemos controlá-los !
Boa sacada pra um conto, muito fluido e fácil de se ler, uma viagem tranquila, apesar do potencial para confusão não explorado.
É isso.
Belo texto, descreve com maestria uma situação. A narrativa, apesar de longa e entrecortada com vários personagens se adaptam naturalmente para a sequência do história.
Único senão, a meu ver, é que não existe propriamente uma história, meio vago, apesar dos bons personagens.
Parece-me que o tema “punk” exige uma ação mais direta.
Gênero – Good
A ambientação é boa, apesar do autor não se arriscar demais. Há uma clara delimitação do espaço onde a ação acontece, e os fatos prévios são bem desevolvidos.
Narrativa – Average
Incomodou-me, em diversos momentos, uma narrativa muito tecnicista, que não combinou bem com a premissa sobre a qual o conto se constrói. O final, que quebra isso, trazendo certa poeticidade, é a prova maior de tal fato.
Personagens – Weak
Faltou certa conecção leitor-personagem para que, de fato, se fizesse importante os acontecimentos relacionados a eles. Isso é, no entanto, minimizado, considerando que não é o foco da trama.
Trama – Weak
A premissa de um Estado distópico que rouba sonhos das pessoas é interessantíssima. Mas não creio que tenha sido bem executada. Para além dos problemas já mencionados anteriormente, falta no texto uma cadencia que desperte o interesse no leitor. Em mais de um momento, o conto se torna cansativo de ler, justamente pela ausência de um clímax ou de uma reviravolta. O texto é composto de forma linear, sem altos ou baixos, e o leitor tende a perder a atenção por causa disso.
Balanceamento – Weak
Apesar de partir de uma boa premissa e corresponder bem aos elementos do gênero, o conto falha em entregar uma história interessante que o faça destacar-se.
Resultado Final – Weak
Oi, Morpheu,
Gostei do seu conto. Gostei do Marlon. Mas gostei muito mais da linguagem que você usa. Não quero usar a palavra rebuscada. Ela tem uma riqueza incontestável. Você foi feliz no tipo de palavras que escolheu e talvez essa seja realmente a sua linguagem na escrita. A leitura corre e também faz pensar. Acho que é um texto bem reflexivo na questão dos conflitos.
Parabéns ao autor.
TREM (Temática, Reação, Estrutura, Maneirismos)
T: Ideia excelente: um mundo sem sonhos. Notei um pouco de Biopunk misturado ao Cyberpunk, mas não tão forte quanto o tema pedia. Temos a periferia e os grandes grupos, mas o cenário pareceu “normal demais” para o gênero. Tem as suas pinceladas, mas não conseguiram carregar/impregnar o texto com os elementos necessários. – 8,0
R: O início ser uma parte do fim foi excelente, pois cria suspense e chama a atenção do leitor. No entanto, a parte central está sobrecarregada de informações (o que é conhecido como “infodump”) e atrapalha um pouco o ritmo. Fiquei interessado na história do protagonista, mas essa história é retomada apenas no fim. Sei que a construção do cenário exigia esses entendimentos, mas poderiam ser mais ao estilo conta-gotas, enquanto víamos o que estava ocorrendo com o personagem principal naquele momento. Mas não tira o interesse pela atmosfera criada. – 8,0
E: Início excelente. Meio um tanto travado. Fim excelente. Algumas partes lembraram-me do filme ‘História Sem Fim’, onde o garoto acordava para a realidade. Enxugando um pouco o recheio, o texto ficará muito melhor. – 8,0
M: Escrita competente, bem revisada, fluente. Notei apenas uma inconsistência de tempo verbal na frase “Os estragos começam a dar sinais da dimensão que podem atingir. Se nada for feito agora, os aliados da Grande Ala tomaram o poder“. É futuro, então o verbo deveria ser “tomarão” e não “tomaram”. – 9,0
[8,3]
Confesso que as frases curtas me irritaram um pouco no começo. Depois, não sei se elas ficaram mais longas, ou se eu me acostumei, mas a leitura acabou fluindo bem. Revisão perfeita, clareza nas descrições e a ótima ideia sobre eliminar os sonhos foram os pontos mais positivos.
O desenvolvimento da ideia, porém, pecou (na minha opinião) ao cair naquele negócio de “contar e mostrar”. Contou muito e mostrou pouco – descreveu bem o ambiente, as situações e tal, mas em nenhum momento conseguiu fazer com que eu me sentisse parte daquele cenário. Isso acaba tirando um pouco da emoção necessária para um texto arrebatar o leitor.
Conto criativo e leitura agradável, no geral.
NOTA: 8