Samira esfregava as mãos nos joelhos, ainda grudentas por causa da cera.
– Vai estragar o esmalte, cuidado.
Sara era meticulosa, mesmo enquanto dirigia, atenta e firme ao volante. Aos olhos da irmã mais nova ela transmitia certa segurança, que só a experiência é capaz de trazer. É claro que havia medo, e Samira podia senti-lo no ar, ainda mais agora, com o recente aumento da fiscalização. Mesmo por ali, no trajeto mais longo e, a princípio, menos vigiado, poderia haver sérios problemas com a “bagagem”, ainda que esta fosse pequena.
O primeiro posto da Polícia Rodoviária Federal esperava alguns quilômetros à frente, e, apesar de todas as precauções, aquilo era motivo para preocupação, dadas as circunstâncias. Os cabelos recém escovados e clareados grudavam-se nos ombros de Samira, que suava mesmo sob o ar condicionado. Ela odiara o novo visual, mas a mudança também fazia parte do pacote de cuidados impostos pela irmã: “uma branqueada ajuda”, foi o que ela havia dito.
“Cuidados”, muitos deles. O carro não era, de jeito nenhum, o modelo mais adequado. O ideal seria um grande utilitário branco. “Ninguém para um desses, já viu?”, dissera Sara, com um sorriso malandro, mas precisavam trabalhar com o que tinham, portanto, o automóvel de mil cilindradas fora meticulosamente limpo e polido. Os pneus eram novos e a documentação e manutenção, em dia. Dois pequenos adesivos na traseira, uma borboleta e o símbolo de uma sociedade (nem tão) secreta, davam dicas sobre a condutora.
– Sossega com esse cabelo!
As mãos de Samira desceram de volta para os joelhos e Sara ligou o som. Música… já tinham rodado quase cem quilômetros e só então percebiam o silêncio. Aquilo era bom. Ajudava a preencher o vácuo da ansiedade.
A melodia durou alguns minutos, até sumir uma placa retangular azul à direita. Nenhuma delas tinha tocado no botão de volume. Agora, Samira só ouvia o próprio coração dar-lhe socos de dentro para fora e acelerar involuntariamente sua respiração “Pra quê fui entrar nessa merda?!”. Sentiu um nó na garganta, medo e raiva de si própria, enquanto o suor frio empapava suas costas. Viu Sara reduzir, levantar os óculos e apoiá-los na cabeça, com certeza, uma das muitas precauções da irmã.
90… 80… 70km/h. O carro parecia se arrastar pelo asfalto e Samira fincou o olhar em algum ponto no assoalho entre os pés. Duas viaturas foram estacionadas de cada lado da pista, cozinhando sob o sol do meio-dia, sentinelas imóveis, que a jovem só conseguiu encarar pela beirada dos olhos.
Lento…. lento demais.
Sara esfregava os polegares com força no volante emborrachado, um massagear nervoso e compulsivo. Samira apertou os dedos dos pés contra a palmilha das sapatilhas…
… E, aparentemente, os policiais preferiam o ar refrigerado do posto, no canteiro central. O carro passou, sem ser notado.
Só após a primeira curva Samira notou que não respirava e pôs-se a fazê-lo, vigorosamente. Prometeu a si mesma que jamais, em tempo algum, passaria por aquilo novamente. A música voltou aos ouvidos como mágica. Viu a irmã baixar os óculos e acelerar. A tensão, no entanto, insistia em ficar por ali, como um carona sem destino certo no banco de trás.
Havia, ainda, outro posto policial para cruzarem antes do fim.
/////////////////////////////////////////////
Aura carregava um velho engradado vermelho quando a compreensão clareou seus pensamentos.
– Você vai comprar bebida não é, vô?
O coroa hesitou por um milésimo de segundo, “A danada descobriu”, antes de apertar bem a boca e gargalhar com os olhos. Era tudo o que a neta precisava saber.
– Ó, o combinado é me ajudarem com a limpeza aqui. – Advertiu, com um sorriso que era todo síntese e resumia o seguinte: “Vocês toparam ajudar em troca de uma grana para a festa lá em São Lutero. E não perguntaram nada na hora”.
– Mas e o vinho de arroz? – Insistiu a neta
– Tô meio enjoado daquilo – disse, com uma leve careta de desdém, focando o olhar em algum ponto acima e distante. – Quero uma coisinha mais forte.
Cabe, aqui, dizer algo sobre a necessidade, uma senhora severa e ótima professora. Por meio dela, e em pouco tempo, Seu Lucas tornara-se um fabricante bastante competente do que ele batizara como “arrosê de mesa”, um vinho suave e encorpado. Chegara mesmo a plantar arroz de sequeiro no quintal de casa e também ali, no sítio, para “temperar” o produto. Ultimamente até vendia algumas garrafas, com toda a discrição que a atual conjuntura exigia.
Obviamente Seu Lucas não informara os netos sobre o plano todo. A proposta era tão somente limparem o porão do sítio, o qual, alegou o homem, seria usado para guardar o carro quando fosse até lá. A desculpa era perfeita: a garagem não tinha portão ou grades. Simples. E que adolescente nega ajuda ao próprio avô, ainda mais quando seguida de recompensa?
– Ué vô… mas e se a gente for preso?
Grande parte dos prazeres da adolescência está nas conquistas. Qualquer uma serve para encher o jovem de orgulho pelo dever cumprido, ainda que sem esforço algum. No caso de Aura, era a possibilidade de também ser presa durante a empreitada, já que completara 16 anos há poucos dias. Seu Lucas esquecera-se completamente disso, era uma lei nova afinal, um dos “Decretos”, mas ele não pareceu se importar.
– Vamo nada. Já viu polícia aqui alguma vez? Qualquer coisa, eu enganei vocês. Pronto.
– E quem vai trazer? É traficante? É, né!? – Esse era o Geraldim, filho da Geralda, filha do Seu Lucas, primo da Aura e igualmente cúmplice nessa operação. Estava louco para atingir a maioridade penal, mas o tempo teimava em segurar os cinco meses restantes.
O avô tentou adivinhar que tipo de absurdo passava pela cabeça daquele magrelo, mas desistiu.
– Nada de mais. Cês vão ver. É um pessoal da capital. Eles tinham um supermercado e fecharam depois que o dono morreu. Pelo jeito, isso foi na mesma época do novo governo, quando a bebida virou iguaria. Pelo jeito, estão vendendo o estoque até hoje.
– E se for “batizada”? – continuou o neto – Não é por isso que você resolveu fabricar?
– Sim, sim, tem esse risco. Mas o Milt… “falei, cacete!”… um AMIGO garantiu que ali é firmeza. É uma aposta, que sua avó não precisa saber,
muito menos o teu pai.
///////////////////////////////////////////
A fileira de cones vermelhos surgiu após uma subida curta, para anunciar o pior. Lá na frente, quase ao fim da reta, o reflexo do sol escaldante ondulava próximo ao vulto diminuto de um homem. Era o segundo e último posto da polícia e Sara nunca tinha visto aquilo antes.
Os veículos próximos desaceleraram e alinharam-se, avançando numa lenta procissão. Algumas viaturas foram deixadas aqui e ali, dos dois lados ao longo de toda a reta e o policial moreno crescia em tamanho e ameaça. Ele gesticulava com o braço direito, num movimento cadenciado. “Nunca decorei essa desgraça de gesto!” – pensou a condutora com raiva.
O primeiro veículo passou, a moto que vinha em seguida, também. Mas uma mudança brusca na mímica do agente fez o terceiro automóvel encostar à esquerda. Tomada de susto e por um instinto de precaução, Sara estacionou logo atrás, sobre o gramado do canteiro central. Parou o carro e ficou imóvel, com o pé direito no pedal do freio e as mãos agarradas ao volante. Lembrou-se, então, de puxar o freio de mão.
– Desliga o veículo, senhora – a voz do guarda chegou abafada por causa do vidro fechado. Era o mesmo que gesticulava na pista, há alguns instantes.
Ela obedeceu, girou a chave mecanicamente e o ar condicionado cessou. O calor a agasalhava lentamente, como um lençol. Baixou o vidro, levantou os óculos e sentiu o bafo quente da estrada lamber o seu rosto. Não ousou dar sequer a mínima olhadela para Samira, sentada no banco do passageiro, esperando que a irmã controlasse a tremedeira e talvez as lágrimas.
– Eu não parei você, senhora. Esqueceu dos sinais?
– Então a gente…
– Agora você fica aí. Documentação sua e do veículo, por favor.
Sara entregou tudo rapidamente, saindo do carro por reflexo, pronta para corrigir qualquer observação equivocada. Escutou o baque da porta do outro lado, quando Samira também saiu. A atenção dos patrulheiros parecia focada no veículo parado mais adiante à direita. Meia dúzia deles cercavam um homem de meia idade, vestido com uma regata azul.
– Senhora, por favor, abre a traseira pro colega ali dar uma olhada, por gentileza? – ele não levantava os olhos dos papéis retangulares que segurava entre as mãos.
Um policial forte e grisalho aproximava-se devagar, vindo do grupo que abordava o outro motorista. De tão tensa, Sara sentia-se oca, como uma garrafa vazia e temeu desabar a qualquer momento.
Abriu o bagageiro e se afastou, enquanto patrulheiro revistava primeiro os bancos, painel e assoalho.
Nada.
Ele seguiu em direção ao porta-malas, contornando lentamente o veículo, com o olhar fixo na a lataria lustrosa. O coração de Sara doeu e gelou. No lado oposto do carro, Samira estava imóvel, exceto pelos cabelos alisados balançando nos sopros da brisa quente. “A culpa é minha, tadinha… eu enfiei ela nessa merda… eu…”
– Vão pra onde, senhora?
– Para a Festa do Bode, em São Lutero. – Sara tinha outras dez respostas prontas depois desta: hotel, shows, amigos fictícios…
/////////////////////////////////////////
O pão com molho e a coca-cola gelada mantinham o silêncio no porão de Seu Lucas . Era um intervalo bem vindo, e faltava pouco para que avô e netos abrissem o espaço necessário.
– Por que você bebe, vô? Perguntou o garoto, com a boca cheia.
– Talvez por ser líquido, cacete! – Geraldim engasgou e caiu na gargalhada.
– Vô, e por que você desobedece?
“Essa menina…” O sorriso do coroa se alargou lentamente, esticando-se de orelha a orelha no velho rosto. Acomodou-se melhor no tamborete, saboreando a pergunta de Aura mais que o próprio lanche inacabado.
– É uma forma de protesto silencioso, sabe, minha filha. A proibição idiota vem sempre acompanhada por três filhas, duas moças e uma garotinha agitada: raiva, indignação e a desobediência – disse pausadamente, contando os nomes nos dedos esticados. – Eu adotei as duas últimas, com muito amor.
– É… eu nunca entendi porque proibiram a bebida – interveio o neto.
– Uma tentativa inútil de controle Geraldim, vestido com a túnica sacrossanta da religião. Desde as últimas eleições, quando a Liga Cristã foi eleita pra quase tudo, é assim que tem sido. Não aprovaram lá a tal Consolidação das Leis da Família? A que o pessoal chama de “Decretos”? Então, agora ninguém mais pode beber, as mulheres são tratadas como imbecis, vocês vão pra cadeia aos 16, querem censurar a internet… – E acrescentou, antes de outra mordida – Experimenta criticar qualquer igreja e vai arrumar um problemão na justiça. Imagina: se a Última Ceia fosse hoje, Jesus ia em cana!
– Mas ele foi em cana, vô! – atalhou a neta.
O sorriso de Seu Lucas alargou-se outra vez, mesmo com a boca cheia. “Essa menina…”
////////////////////////////////////////////
Um carro surgiu no alto do morro e desceu serpenteando lentamente pela estrada de terra vermelha. Seu Lucas aguardava de pé e adiantou-se, indicando o porão tão logo o automóvel chegou ao terreiro.
Aura viu duas moças parecidas saírem do carro vermelho. Eram jovens, bonitas e usavam roupas da moda, quase discretas. Desceram enquanto o avô fechava a nova garagem. Nada disseram, exceto um “boa tarde” vindo da passageira.
A outra, que dirigia, contornou o veículo até a portinha do tanque de combustível. Avô e netos aguardavam em silêncio. Ela desenroscou a tampa, na qual, Aura percebeu, estava presa uma linha, ou coisa parecida. A moça puxou devagar, com cuidado. O cheiro do etanol preencheu todo o cômodo enquanto embalagens plásticas finas e compridas começaram a sair pelo orifício. Para a garota, pareciam chup chups, de chá mate.
Seu Lucas foi incapaz de conter uma risadinha maldosa e apressou-se em pegar copo, tesoura e um prendedor de roupas.
– Posso? – Ele perguntou.
Em silêncio, a mulher entregou-lhe um dos “chup chups”, que o avô cortou e serviu um pouquinho no copo, antes de vedar o plástico com o prendedor.
Bebeu, fez uma pausa, engoliu… e sorriu de uma forma que Aura só entenderia anos depois.
Conto muito ágil, cheio de imagens. Literalmente veloz. Gostei da ironia fina nas frases, e do leve erotismo, na medida certa. Esse futuro meio que big brother foi tão bem descrito que me deixou irritado. E um pouco assustado, acho que vou de táxi hoje. Muito bem levado, parabéns.
Eurébrio (adorei seu pseudônimo),
Gostei demais da sua escrita. Ela é leve, adjetivada, capaz de criar imagens na nossa mente. A gramática, pelo menos na minha leitura, está muito boa. O enredo é bom, sustenta-se com desenvoltura por um certo tempo; porém, depois dos primeiros instantes de alumbramento, ele me deixou com uma sensação de que faltava uma trama mais arrebatadora.
Você acertou a mão na condução do teu trabalho. No entanto, na minha humilde e questionável opinião, acho que você deveria ter ousado mais.
É uma obra decente, boa e que cumpre seu papel.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Oii! Conto muito bom, escrita esmerada e soube construir a tensão no carro das moças sem dificuldade e sem exagero. Até o final fiquei curiosa para saber o que elas estavam fazendo. Gostei da explicação do avô sobre a dominação religiosa, achei o melhor diálogo do conto. Só achei o final um pouco brusco, fiquei tipo, como assim, acabou? Mas é um ótimo trabalho, parabéns!
O COMEÇO me encheu de esperança. O FLUXO de crônica do cotidiano é muito bem trabalhado. A TRAMA é fraca, acho que porque a ALTERNATIVA foi mal explorada, faltando clímax e emoção no FIM. Desperdício de ótimos personagens.
Lamento que um texto com frases fantásticas e uma leitura ótima, e depois, pelo meio a história perde-se. No inicio, pensei que iria ser este o texto(!) e fiquei dececionado. Fiz outra leitura e no final, o texto merece parabéns mas parece precisar também de uma reescrita.
Eu gostei. Mas vi um problema. As personagens do avô e netos são muito melhor retratadas que as moças no carro. Esses personagens ficaram vivos, o avô metido a cachaceiro, e as crianças espertas, que perguntam pra caramba. Por isso, acho que Aura e esse núcleo merecia mais espaço na trama, espaço esse roubado pelas moças no carro. A situação no carro foi tensa, mas muito encompridada, uma cena tensa típica de filme, mas que aqui cansou um pouco.
Também senti falta de acontecimentos. Se você analisar friamente, o conto tem duas cenas: a travessia na estrada e a limpeza na garagem. O que ajuda é a construção textual, bacana. A Lei Seca no Brasil foi uma boa opção, mas que certamente caberia melhor em um texto mais longo, pois aqui não foi passado eficientemente os efeitos dela na sociedade.
Falei e critiquei pra caramba, mas como leitura, fluiu legal e por isso gostei.
seu conto possui uma linguagem bem coerente , mas ainda sim ele é pouco emocionante, isso se deve ao fato de você não colocar um clímax na história , algo que leve há uma grande mudança ou revelação. a revelação das proibições é tudo muito trucado, porem gostei da critica feita. a estrutura é ótima contando duas histórias paralelas mas ainda sim não deixa o conto interessante por ser tudo superficial
Olá, Eurébio,
Cara. Gostei do seu conto. Achei que foi bem escrito e que vc conseguiu passar, por um lado, tensão, no núcleo das moças no carro e, por outro lado, humor, na conversa do avô com os netos.
Gostei muito dessa parte: “A proibição idiota vem sempre acompanhada por três filhas, duas moças e uma garotinha agitada: raiva, indignação e a desobediência – disse pausadamente, contando os nomes nos dedos esticados. – Eu adotei as duas últimas, com muito amor.” Não sei se é uma criação sua, mas já copiei, roubei e vou usar! (Mmmuah há há há há! Risadinha de vilão)
Achei boa a crítica que vc apresentou no texto. Vc criou um futuro distópico a partir de algo que já é quase uma realidade. Gostei. Nada mais corajoso que ir contra alguma corrente ideológica, ainda mais quando misturamos religião no meio. Boa literatura vai sempre incomodar alguém. Parabéns!
kkkkkkkkkk!!
Pode usar Thiago.
Essa frase saiu na hora. Pode ser que tenha visto isso alguma vez e a ideia estava dormindo aqui na cabeça. Sei lá
Muito obrigado!
Olá, Eurébio. Seu conto é minha vigésima segunda leitura neste certame.
Observações: parabéns pela técnica, não notei nenhuma falha na revisão. A narrativa flui com muita facilidade e cativa o leitor com o suspense sobre a empreitada das duas irmãs. Demorei um pouco para entender que havia uma “lei seca” vigente, o texto fez mais sentido a partir deste entendimento.
Destaques: as mudanças de eixos da história foram excepcionalmente bem feitas, com os ganchos precisos para que quiséssemos sempre saber a continuação da parte anterior, mas saciando o leitor com água salgada – vide outra parte com um gancho igualmente instigante.
Sugestões de melhoria: o juízo de moral fica um pouco deslocado no texto, acaba passando a ideologia do autor de forma muito explícita. Todo conto é influenciado pela ideologia do seu autor, simplesmente porque é impossível nos comunicarmos sem nos basearmos naquilo que conhecemos. Entretanto, é uma mostra de talento quando conseguimos convencer o leitor sem que ele nem perceba que está sendo convencido.
Parabéns e boa sorte no desafio.
Prezado escritor: para este desafio, adotei como parâmetro de análise um esquema PTE (Premissa, Técnica e Efeito). Deixo aqui minhas percepções que, espero, possam contribuir com a sua escrita.
Premissa: Brasil com lei seca – acho que é mais distopia que qualquer outra coisa (rs). Apenas acho que poderia aprofundar as razões que levaram a isso.
Técnica: a leitura fluiu, mas a alternância entre as duas ações ficou confusa, não sabia se Seu Lucas estava no ponto de partida ou de chegada das moças.
Efeito: Uma história simpática, mas de pouca aderência à RHA, me pareceu mais uma ideia de tráfico adaptada a um contexto que validasse a história. Boa sorte!
Fala Daniel.
Também achei fraca a aderência com a RHA. Eu deveria contextualizar um pouco melhor os fatos, dando mais ênfase que a coisa toda se passa num futuro próximo.
Falha de revisão
Muito obrigado!
Olá!
Bah! Que perfeição de texto, nos mínimos detalhes nos mostrou as cenas, especialmente das moças no carro. Entendi q os policiais nada viram dos sacolés escondidos.
Gostei do vô e dos netos, um clima bem simpático, parecia meu pai, se ele se permitisse contrabandear qualquer coisa q fosse 😛
Entao a liga cristão ‘fará’ tanta alteração assim? E quem manda mesmo na bagaça não sao as indústrias, no caso, de bebidas? Bastante distopica esta realidade, realmente, aborda uma realidade (im)provável futura e não uma mudança no passado historico da humanidade.
Mas o texto é lindo de de se ler! Parabéns!
Abração
Ups: Trama bem desenvolvida com personagens devidamente apresentados. Você também explicou a RHA muito bem e ela é essencial para o desenvolvimento do enredo.
Downs: Faltou ousar um pouco mais. Tem aí uma pegada política que você poderia ter explorado – aliás, achei que esse seria o caminho – mas por algum motivo resolveu não fazê-lo.
Off-topic: Geladinho de cachaça… O quão boa é essa ideia?
Conto intrincado, chegando mesmo a ser de difícil leitura. Estava curioso para ver o momento da trama em que as partes se uniriam, ali foi o ponto central da trama. Confesso que ou me escapou alguma coisa ou faltou algo. De qualquer forma é bem escrito, os problemas gramaticais já foram citados, possui trama interessante e é intensamente desenvolvido pelo autor. Admito que durante a leitura demorei para ver a adequação ao tema proposto, mas ao percebe-la tornou a leitura bem mais interessante.
Boa sorte e parabéns.
Quando se constrói um enredo com dois ou mais núcleos dramáticos interligados é preciso que todos estejam mais ou menos no mesmo patamar de construção enquanto microenredo e suas importâncias para o todo estejam claras ou, ainda que subentendidas, sejam perceptíveis. Caso contrário há o risco de desequilíbrio narrativo, dando a sensação de que na verdade o que se tem é mais de um conto dividindo o mesmo título. No conto em análise, a distensão só não é maior porque nos dois núcleos há pelo menos um personagem dramaticamente forte: de um lado, a motorista; do outro, o avô. Mas são personagens fortes num enredo que não se completa, na medida em que as partes não se encaixam harmonicamente. Tanto que, de um lado e de outro, há personagens sobrando, cuja importância no enredo não se mostra. Talvez se alguns fossem eliminados e a trama girasse em torno de um único núcleo envolvendo a motorista e o avô tivesse ficado melhor, pois entre eles há uma relação antitética que poderia render muito na trama. Além da diferença de gerações, ela é tensa e ele bem humorado; a narração faz dele um personagem falante, enquanto faz dela alguém reflexiva.
Em se tratando de uma alternativa à história, ou à narrativa contada pela historiografia, o(a) autor(a) opta por tratar alguns elementos que, de certa maneira, já existem na realidade brasileira, sendo a Lei Seca o principal deles. Sim, é parcial, mas já faz parte de nossa realidade. O que o(a) autor(a) faz é radicalizar isso. É pouco, na medida em que realidade alternativa sugere algo que ainda não ocorreu, ou que poderia ter ocorrido. Ou seja, o fato novo.
Olá, autor! Desta vez, resolvi montar um esquema para comentar: T.R.E.T.A. Espero te encontrar no pódio.
* Título – Uma palavra que não alerta o leitor para o conteúdo do conto. Eu pensei em seca no sentido de clima, não da lei.
* Revisão – Alguns pequenos deslizes, já apontados pelos colegas, nada de grave.
* Enredo – O clima de suspense no início despertou o meu interesse e me deixou tensa por alguns parágrafos. A fala do avô cortou o fluxo, por ser didática demais, poderia acontecer de forma mais natural, sem grandes explicações, fazendo o leitor tirar suas próprias conclusões. Como seria se um partido político de base religiosa vencesse as eleições e chegasse ao poder? Como seria viver em um país com a lei seca imposta ?
* Tema – O conto abordou o tema proposto, sem problemas.
* Aderência – Como já disse, o começo prendeu minha atenção, mas o desenvolvimento foi menos atraente. No entanto, a leitura seguiu de forma bastante fluente, sem entraves ou perda do ritmo inicial.
Olá Eurébrio.
O texto começa atiçando a curiosidade e criando momentos de tensão que foram muito bem narrados, ainda que a cena seja batida em filmes, considero difícil narrá-la de forma escrita e mexer com os sentidos do leitor. Parabéns. A parte do avô e netos me deixou a ver navios, não estava entendendo nada e fui assim até o final, quando chegaram as moças trazendo a mercadoria, que eu imaginava seria algum tipo de contrabando de outra espécie, pois não tinha entendido a Lei Seca. Quando entrou a cena com os chup chups pensei: “mas que diabos é chup chups?” Se não tivesse lido os outros comentários eu estaria boiando até agora, ainda que reconhecendo até o final o talento narrativo do escritor.
Bom, bem escrito e fluido está, apesar de concordar com os demais sobre a parte das moças ser a melhor. O Gustavo viu uma alternativa para as duas terem se safado dos policiais que eu não vi, ou porque a minha “doce ingenuidade” não permitiu, ou porque eu estava ansiosa para saber onde tudo iria dar…e não deu em nada…tudo terminou em chup chups que até agora não sei o que é (imagino ser um sacolé, como chamam aqui). Daí assim, reconhecendo o talento do autor em prender a atenção até na parte mais chatinha do texto, não comprei a ideia do conto e acabei não curtindo muito no geral. Mas pela escrita excelente você está de parabéns.
Ei Simoni! Obrigado pelas críticas. Todas elas.
Chup chup é sacolé mesmo!
Eu imaginei que isso fosse dar confusão, mas ia ficar meio artificial se a menina pensasse em “bebidas dentro de saquinhos estreitos”.
Fiquei refém do regionalismo…
Sara e Samira tomaram conta de tudo. Foi difícil segurá-las.
E, sim, elas se safam da polícia e entregam o produto.
Pensei em um finalzinho mais redondo, porém, deixar o negócio mais quebrado no final me pareceu mais interessante.
Concordo muito com o comentário do Gustavo. A história das meninas está melhor desenvolvida q a do avô. Mas a do avô tem muito potencial. Gostei do senso de humor nos diálogos entre ele a neta. Vc escreve bem, o texto é fluido e nada cansativo. Mas acho q o final ficou faltando. Esperava que algo emocionante acontecesse após a cena dos chup-chups, pra dar aquele arremate, q não rolou… Também concordo com a Andreza, no que diz respeito à confusão com o vinho de arroz, acho q vc pode trabalhar melhor isso, pra deixar mais clara a proibição. Mas nada como aquela longa explicação do contexto dada pelo avô na penúltima parte, que é “um pé no saco”. Vc pode encontrar maneira melhor de resolver isso, que não seja essa explanação, que acaba cortando o clima do leitor. Com relação ao tema do desafio, senti falta da questão histórica. Vc podia pelo menos ter situado a lei seca no tempo, talvez buscando associação com o próprio período da lei seca americana, mas faltou o H, do RHA. De qualquer forma o texto é bom, honesto, e eu gostei! Parabéns!
Universos distópicos não deixam de ser realidades alternativas. Aqui, o mote é “e se a lei seca tivesse vingado no Brasil?” Portanto, dentro do tema, ainda que não se refira a um caso histórico protagonizado por uma figura de relevo. Aqui, opta-se por centrar a trama em dois universos que ao fim se cruzam. O contexto das moças é interessante, na medida em que gera um suspense bem construído. Já a realidade do avô tende a trilhar outro caminho, quem sabe na intenção de gerar empatia por conta da relação entre ele e a neta. Enquanto a trama das garotas prende a atenção, a do velho não chega a decolar. Talvez, se o autor tivesse investido mais na concepção desse núcleo, o nível se igualasse. Também não curti muito a maneira como as meninas se livraram da abordagem policial. Ou seja, uma trama irregular no todo e que poderia ter avançado mais dado limite oferecido pelo desafio. Em todo caso, é um texto bem escrito, fluido e isento de erros – o que não é pouco. Parabéns.
Minhas impressões de cada aspecto do conto (antes de ler os demais comentários):
📜 História (⭐⭐▫▫▫): achei a trama muito simples e linear, sem nenhum grande ponto de virada. Ignorando as descrições das cenas (avaliadas abaixo), trata-se apenas de duas mulheres que levam bebida para um velho no interior num período de lei seca. Falta um conteúdo para ser uma boa história. Outro problema é que temos personagens com nomes que ganham pouco ou nenhum destaque na trama. Poderia retirar alguns, deixando só as duas irmãs, o velho e uma criança e apresentá-los de forma mais gradual ao invés de citar nomes.
📝 Técnica (⭐⭐⭐▫▫): as cenas narradas são boas e os momentos de tensão funcionam bem. Os personagens principais são bons, mesmo que não muito profundos. Anotei alguns problemas de pontuação:
▪ – Por que você bebe, vô? *travessão* Perguntou o garoto, com a boca cheia.
▪ Uma tentativa inútil de controle *vírgula* Geraldim
▪ E acrescentou, antes de outra mordida *ponto* – Experimenta criticar qualquer igreja
Segue um link qum pode ser útil: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279
💡 Criatividade (⭐⭐▫): a ambientação é criativa, mas as situações vividas não muito.
🎯 Tema (⭐▫): um governo ultra conservador e suas leis. Não sei se serve como RHA, parece mais um futuro próximo.
🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): a parte da tensão das mulheres é boa e me peguei torcendo por elas. A parte do velho com os netos é menos interessante. O final sem grande virada, até anticlimático diminuiu o impacto geral.
Olá, Eurébrio.
Seu conto me prendeu do início ao fim, curiosa com a situação das bebidas, inclusive nas cenas com o idoso. Achei os diálogos bem reais (o último mais longo tava um pouco didático, mas funcionou pra mim). Voltando, gostei bastante das falas e do desenvolvimento, pra mim foi convincente. A temática despertou o meu interesse. E o cotidiano narrado não foi tedioso.
Adorei quando as meninas pararam “sem querer” no posto da polícia! hahaha
O que eu não gostei: fiquei um pouco confusa no final, precisei reler pra entender que as meninas no final eram aquelas que passaram pelo posto da polícia. Anteriormente, pensei que as meninas também eram netas do idoso e estavam na garagem (não sei de onde tirei isto) e elas estavam apreensivas na cena do carro na estrada porque tinham bebido. A confusão foi minha.
Entretanto, mesmo relendo, não entendi exatamente qual era a proibição com relação ao álcool. Era proibido fabricar, comercializar, transitar, beber… todas as alternativas anteriores? hahahah Porque o neto diz lá no final do conto que proibiram a bebida, mas no início dá a entender que o velho fabrica vinho de arroz. Ou estou enganada? Ele faz “na encolha”?
E por que o velho Lucas pegou um engradado se a bebida vinha em chup chups? rsrs
Só não acho que esteja muito dentro do tema. Você fez algumas alterações, mas fiquei com a impressão de quem não houve alteração de “fato histórico”. O mais próximo de “alteração de fato histórico” que eu vi foi o fato da tal Liga Cristã ter vencido as eleições. Mas onde que isto foi alterado na história? Parece mais um texto pensando no futuro do Brasil, não exatamente uma alteração do passado.
Tirando essas bobeirinhas, o texto me divertiu bastante, gostei do seu trabalho e do enredo do conto! Abraços.
RHA: Lei Seca, (e outras leis escrotas) em pleno vigor no Brasil.
O tema me pareceu mais um prognóstico pessimista (e infelizmente realista na minha opinião), a curto prazo, do Brasil que uma RHA. Mas está dentro do tema.
O conto tem uma boa tensão inicial na parte da mulher na estrada. Na cena do velho (com o perdão do trocadilho), deu uma broxada, pois perdeu-se o suspense do que ela estaria escondendo. Ok, resta a tensão de saber se ela seria presa, então veio o final que anulou o impacto. Meu pitaco seria de que a cena inicial fosse com o velho, mas sem entregar muito o doce, e depois a tensão da mulher na estrada e por fim se revela o segredo.
Eu gostei do conto, de modo geral.
RHA: Lei seca geral seria o principal elemento alternativo.
Idioma: sem erros graves, mesmo porque a linguagem é descontraída.
/ritmo e desenvolvimento: Lento o ritmo e desenvolvimento fraco. Há uma estória pra ser contada, óbvio, mas me pareceu que é um tanto chata essa estória e se a própria é assim, a narração dela não seria diferente.
Conclusão: O conto não funcionou, a RHA não foi tão alternativa assim, visto que mudando os nomes de “liga cristã” para qualquer partido político ou partidos os efeitos são os mesmos: nos USA houve lei seca integral, no Brasil a lei seca é parcial, o Marco Civil da Internet é tentativa de censura em andamento, dizer que um ministério sem representante feminina é machista seria tratar a mulher como imbecil,a maioridade penal aos 16 ainda não passou integralmente, mas já se tem um avanço para alguns crimes, cabendo ao Senado aprovar, enfim, muitos dos tais “decretos” da liga já existem em maior ou menor grau. Percebe-se uma facilidade do autor em bem escrever, talvez a narrativa não tenha sido bem montada ou a abordagem deveria ter sido outra. É isso.
Cara… esse estava sendo meu conto preferido do desafio até o momento: escrita madura, fluidez total, momentos de tensão criados com maestria, diálogos divertidos e naturais. Estava assim até o policial revistar o carro…
Daí o negócio desandou.
Acho que o maior responsável pela queda foi o diálogo extremamente didático do avô explicando o contexto. Não precisava disso. Ou o narrador poderia ter falado em outro momento, mais no começo, talvez. Bom, sei lá… deu uma quebrada.
O final também não ajudou muito, não entendi muito bem o que aconteceu. As irmãs se livraram do bloqueio? Enganaram os policiais que não quiseram saber o que tinha dentro dos chup chups?
Enfim… um bom conto na média, mas que deixou uma sensação de decepção devido à queda abrupta no final.
Abraço!
Olá, como vai? Vamos ao conto! Uma nova lei seca, maioridade aos 16… Confesso que os temas em si não me parecem atraentes, o desenvolvimento foi bastante confuso e chato. Você podia ter aos poucos ter contado o tema, não tudo de uma vez num só diálogo. A história me entediou bastante, seria uma nota 2.4, eu acho. Desejo Boa Sorte!
LEAO (Leitura, Essência, Adequação, Ortografia)
L: Gostei do estilo insólito, aliado ao cotidiano. A atmosfera lembrou vagamente um “início de Mad Max”, apesar de se passar no interior. O clima árido ajudou muito para compor essa sensação.
E: Um texto divertido, cômico na medida certa. O autor preferiu algo mais simples, o que foi excelente. Não sei se o fato apresentado mudaria tanto a história, mas como isso está atrelado a outras proibições, faz sentido dentro do contexto.
A: Uma Rha mais pé no chão, mas nem por isso deixa de transmitir alguns conceitos interessantes. A viagem num carro pela autoestrada lembrou muito aqueles filmes antigos de perseguição, como Thelma e Louise. No meio do texto senti uma leve crítica autoral embutida, pois destoa um pouquinho do comportamento do cidadão, mas aquela frase sobre as “meninas” que ele resolve criar são geniais.
O: As divisões ficaram estranhas. Mas tirando isso, a escrita flui bem e os diálogos convencem.
Olá, Eurébrio!Texto interessante, com bons momentos de tensão e suspense. Algumas frases no início talvez pudessem ser enxugadas, cortando trechos como “dadas as circunstâncias”, ” considerando a conjuntura”, etc. Legal essa ideia da Liga Cristã proibindo o consumo de bebidas alcoólicas, é um tema que pode render muito. Talvez pudesse ter usado um pouco mais de palavras para desenvolver melhor o contexto e os personagens. No geral, um bom conto com uma ótima ideia, acho que só faltou uma conexão maior com os personagens. parabéns e boa sorte!
Bem escrito, mas vago, confesso que fiquei perdido.