Acordei só. Pensei por um instante que não fosse verdade. Que teria sido só um sonho ruim. Que bastaria ir à cozinha e te encontrar cantarolando e passando um café fresco. Escutando música no rádio, conversando com as plantas que tu acabavas sufocando com cuidados demais.
Em geral, essa esperança era o que havia de mais cruel. Quase tão cruel quanto te esquecer. É uma vergonha, mas já não me lembrava direito da cor dos teus olhos. Não conseguia recordar do perfume que tu mais gostavas. Não sabia de tanta coisa tua e não te tinha aqui para me dizer.
Joguei o braço para o lado e ele caiu sobre o teu travesseiro: frio. “Nunca mais”, pensei. Nunca mais fugir do mundo com a cabeça entre teus seios. Sentir tuas mãos em meus cabelos, escutar que está tudo bem, que vai passar, que vai regredir.
Se Deus quiser, vai regredir.
E o mundo lá fora continuou a girar, o sol nasceu brilhante e o céu zombeiro; azul. Como ousam? Como ousam cuspir em meu rosto alegria e felicidade que me são negadas? Que direito têm?
Que morram e sequem todas as flores, que dos céus caiam todos os pássaros, que se fechem todas as portas e janelas. Que os dias sejam frios, chuvosos e cinzas. Que não se ria, que não se sinta nada a não ser esse vazio que machuca, esta certeza de morte em vida, este desespero paralítico e covarde que não me permite terminar com tudo de vez.
Não ousem rir de minha dor. Respeitem-me!
Uma semana sem Ana. A primeira de muitas da minha vida. Que vida?
Ótimo texto Rubem, perfeito! Tão triste, um verdadeiro desabafo de uma alma torturada pela saudade e amargura. Parabéns!!
Muito bonito e excelente texto, Rubem.
Uma alma sofrida grita.
Foi este grito que ouvi aqui. rsrs
Abraço
Pena não ter seguido as regras. Se impuseram limites, devem ser respeitados.
.:.
Semana Sem Ana (Rubem Cabral)
1. Temática: Morte. Sofrimento. Angústia.
2. Desenvolvimento: Interessante, em tom de desabafo.
3. Texto: Sem deslizes significativos.
4. Desfecho: A saudade nos corrói demais. É uma dor que nos machuca mesmo. Espero que seja, apenas, ficção.
Excelente conto! Gostei bastante como expressa a doar e angústia. Parabéns!
Espero não ser motivo para desclassificar o fato do conto estar com 271 palavras. O achei firme e bem escrito, com lembranças bem marcadas e definidas na abstração e no delírio de se sentir sozinho.
Olá, Cilas.
Este conto não participa do desafio. Ele é “off-desafio”. Portanto, não teve que respeitar os limites do desafio, não foi publicado sob pseudônimo, etc.
Abraços.
Uma semana que pareceu uma eternidade.
Vida, que Vida? A vida!
Muito bem desenvolvido, sem rodeios, o escritor foi direto ao ponto a que se propôs.
Parabéns!
Bravo!
Uau…
Lindo o seu conto. Triste e lindo.
Você sabe transmitir sentimentos muito bem.
Parabéns.
Se Deus quiser vai regredir… É duro quando não se pode fazer mais nada além de desejar que Deus cure. Parabéns pelo conto 😉
Bem melancólico e emotivo. Gostei da quebra de sentidos do meio para frente, foi uma montanha-russa contida. Curto, mas diz muito.
Parabéns! Texto sensível e nada cansativo.
Nossa! É a primeira vez que choro lendo algum conto aqui no desafio, o que é isso?? Tocante demais.Que Deus abençoe esse talento.
Parabéns com muitas estrelinhas!
Abraço
Gostei! Muito bonito.
Gostei também. Bom esquente pro que vem por aí.
Só achei incongruente o fato do narrador ter se esquecido da cor dos olhos da mulher e do perfume dela em uma semana. De resto está muito bom!
Muito bom, man!
Triste e bonito.