EntreContos

Detox Literário.

Lembranças Futuras (Catarina Cunha)

guerraepaz

Despertou com a conversa animada das crianças. Conferiu com afiado olhar paterno se estavam bem. Tomou banho, escovou os dentes e penteou os cabelos. Escolheu o terno de linho branco das sextas-feiras. Com o lenço azul de seda aparecendo na lapela e os sapatos engraxados, completou o visual com um chapéu panamá.

A ansiedade passeou pelas lombadas estancando num velho amigo: “Guerra e Paz”. Sentou na poltrona e pediu silêncio aos pequenos: “Se comportem e amanhã um de vocês poderá brincar no pátio”.

***

Este conto faz parte da coletânea “Devaneios Improváveis“, Terceira Antologia EntreContos, cujo download completo e gratuito pode ser feito AQUI.

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47 comentários em “Lembranças Futuras (Catarina Cunha)

  1. Jef Lemos
    7 de janeiro de 2016

    No melhor estilo Catarina de ser!

    Conto sensacional. Rápido, direto e certeiro.
    Gostei do final.
    Você conseguiu passar uma penca de emoções com um tantinho de palavras.

    Pódio mais do que merecido!

    Parabéns!

  2. Catarina Cunha
    5 de janeiro de 2016

    Sim, Fabio D’Oliveira, sou assim também na vida real: sucinta, breve, incompleta, completa, direta e muito pelo contrário. Mais ou menos como o prego na testa que o Phillip Klen cravou com suas notas.
    O meu word, às vezes, joga uma “bola nas costas”. Escrevi “abraçá-lo” mas o desgraçado do corretor automático esperou eu virar as costas para me roubar o acento. Peço desculpas.
    Agradeço profundamente a preocupação por aqui com o tamanho do meu conto (não chamo de mini ou microconto, já que nunca ouvi falar de médioconto, bigconto ou megaconto). Mas gostaria de esclarecer não se tratar de “ousadia” ou “preguiça” e sim “técnica FER”. Este conto nasceu com + ou – 1000 palavras, depois tirei a gordura e as tramas paralelas inúteis (FILTRAGEM). Em seguida substituí expressões estáticas (exemplo: soltando o ar) por móveis (exemplo: expirando linhas”), (ESTILO). E, por último, arranquei as obviedades e explicações que ofendem a inteligência e restringem a evolução do texto na mente do leitor (RESPEITO). Esta técnica é útil para 290 palavras ou 290 mil.
    Esta foi minha melhor colocação nos Desafios EC. Sinto-me honrada em dividir o pódio com um tricampeão (FB) e um bicampeão (Chefe). 3º lugar com gostinho de primeiro.
    Muito obrigada pelos comentários e laboriosa dedicação. Serão muito úteis para aprimorar minha FER. Assumo toda a responsabilidade por escancarar portas e janelas na mente do leitor. Não sirvo PF, banquetes e nem fast food, só pequenas iguarias à la carte.
    Comentário mais emocionante: Lucas Rezende de Paula: “Autor(a), você é macho!”

  3. Fabio D'Oliveira
    5 de janeiro de 2016

    ௫ Lembranças Futuras (Kristin Lund)

    ஒ Físico: Kristin é sucinta. Sem enrolação, mostra para o leitor o peso e a importância da leitura. Em tão pouco, ela também revela sua força poética. Lindo demais! Será que ela é tão breve assim na vida real também? Incompleta? Ou completa e por isso consegue ser tão direta?

    ண Intelecto: O texto passa uma mensagem. Isso é bom. Não tem enredo concreto, com meio, início e fim. São imagens, tão breves, que não consegue envolver por completo um leitor mais exigente. Abre a mente, mas não encanta. E senti que a autora tem a capacidade de fazer mais.

    ஜ Alma: A imagem da biblioteca ficou um pouco apagada, bem no plano de fundo. O que importa no texto é a leitura e sua magia, não o ambiente em que ela acontece.

    ஆ Egocentrismo: Adorei a mensagem, pelo menos do que entendi, e a leitura foi agradável. Mas estamos num desafio, ou seja, os textos devem ser comparados. Não consigo considerar esse um trabalho de peso em relação a alguns que li, cujo brilharam pelo desenvolvimento e criatividade.

  4. rsollberg
    4 de janeiro de 2016

    Lembranças Futuras (Kristin Lund)

    Esse conto é ótimo! Li duas vezes para apreciar tudinho.
    O autor cria algo curtinho, mas que consegue ecoar na cabeça do leitor. Vamos escrevendo nas lacunas, dando voz a nossa própria imaginação. A prova viva de que tamanho não é documento, rs. Muito bom.

    Acabei de me lembrar do conto vencedor do desafio “faroeste”, onde a ação acontecia toda em uma barbearia, muito bom também.

    Esse conto foi uma deliciosa brisa de ar fresco!!!!!

    Parabéns e boa sorte!!!

  5. Leandro B.
    2 de janeiro de 2016

    Um bom miniconto. Gosto bastante desse tipo de leitura, especialmente quando percebemos que o trabalho foi feito com cuidado, como aqui.

    O único problema nessas leituras é que raramente me envolvo profundamente (ou simplesmente um pouco mais da superfície) com a trama. Acredito que isso se de pela velocidade da leitura. Foi o caso aqui. Poucos minutos para ler. Alguns mais poucos para reler. Acabo mais surpreendido pela habilidade do autor do que pelo conto em si.

    Mas reforço, a história está muito bem estruturada e a narrativa bem construída.

    Parabéns pelo trabalho.

  6. Piscies
    2 de janeiro de 2016

    Parabéns!

    Sério, parabéns mesmo. Poucas palavras, muito conteúdo. Uma escrita de dar inveja. Um texto impactante, que faz pensar – e pensar muito – na guerra e seus efeitos, e introduz a imagem-tema de forma magistral. É interessante falar que este foi um dos contos mais inspirantes que li no desafio!!

  7. Phillip Klem
    2 de janeiro de 2016

    Boa tarde.
    Fiquei surpreso que um conto tão curto conseguisse cumprir seu papel.
    Consegui captar bem a mensagem passada (aliás, essa foi a mensagem da maioria dos contos desse desafio), e acho que essa era a única intensão do autor, pois, no que toca ao enredo, não há nada que chame a atenção e nos prenda ao conto.
    A poesia é boa, a técnica também, excepcional. Mas não há personagens cativantes, e, por isso, a morte do protagonista em nada nos afeta.
    Em resumo, um conto agradável de se ler, mas que não trás nada de novo e que não vai ficar com o leitor por muito tempo.

  8. Evie Dutra
    2 de janeiro de 2016

    Apesar de inicialmente ter me assustado com o tamanho do conto, achei-o bem escrito e interessante. No entanto, por ser tão curto, não tive tempo de me afeiçoar ao personagem nem criar apatia por ele. Quando estava começando a me envolver com a trama, ela terminou. Confesso que a leitura não me marcou.
    Sua escrita é complexa e fascinante mas, para mim, o tema não funcionou. Apenas meu gosto pessoal.
    Boa sorte.

  9. Rubem Cabral
    2 de janeiro de 2016

    Olá, Kristin.

    Gostei da ousadia de escrever um miniconto para o desafio. Embora tenha gostado do resultado (para um miniconto), não posso deixar de registrar certa frustração pelas muitas perguntas deixadas em aberto e a sensação de que mais palavras poderiam resultar em personagens mais complexas, por exemplo.

    Quanto à escrita, um pequeno acerto a fazer: “abraçá-lo”.

    Bom conto.

    Abraços.

  10. Bia Machado
    1 de janeiro de 2016

    Maravilhoso/a! E aqui estou falando de você, autor/a! Acho que sei quem é, e acho que só uma pessoa teria a coragem que você teve para escrever um texto tão curto, tendo um limite de 2.900 palavras e, ainda assim, dar conta do recado, porque o problema é que aqui, no desafio do EC, os contos curtos causam (ainda) um pouco de preguiça, falta um tantinho de compreensão, de querer fazer parte da construção do conto, porque escrever um conto tão curto como o seu é realmente chamar o leitor pra ser coautor do que se produziu, é entregar para o leitor algo do qual ele pode ir ainda mais além do seu papel de “apenas ler”, e vez ou outra isso é discutido no grupo. O que sei é que esse conto foi uma aula pra mim, e sempre me lembrarei dele quando tiver escrito algo que seja extenso demais, ou que pareça já estar no nível do desnecessário. Obrigada!

  11. Wilson Barros Júnior
    31 de dezembro de 2015

    Interessante o quanto o livro “Guerra e Paz” surgiu nesse desafio, não sei se pelo volume ou por ter marcado profundamente alguns autores. Aliás, ficou muito interessante o paralelo entre os tamanhos de “Guerra e Paz” e “Lembranças Futuras”. No final das contas, creio que em um mundo frenético como o nosso, o futuro da literatura está nos mini e micro-contos. Parabéns.

  12. Pedro Luna
    30 de dezembro de 2015

    Na minha opinião, o texto trouxe uma trama simples, mas que ganhou muito valor devido a forma bonita como foi escrita. Gostei bastante da situação do personagem se produzir adequadamente para uma possível leitura final.

    Mas estaria mentindo se dizer que me emocionou ou criou sentimentos. Achei bacana, só isso. Parabéns por pensar em algo ousado e apostar.

  13. G. S. Willy
    28 de dezembro de 2015

    O conto me surpreendeu pelo tamanho, acho que o(a) autor(a) poderia ter desenvolvido mais o personagem principal, para que sentíssemos mais por ele. Mas mesmo nesse espaço curto, uma certa empatia surgiu com o personagem, o que mostra a força do texto.

    Não há muito o que se dizer, pois não gostaria que meu comentário fosse maior que o conto, apenas que o(a) autor(a) soube resumir uma boa história.

  14. Thiago Lee
    26 de dezembro de 2015

    Devo dizer que seu conto me agradou imensamente.
    O tamanho foi perfeito para a mensagem que você queria passar, e passou lindamente.
    Tive que reler duas vezes para captar a mensagem em sua totalidade, mas, felizmente, o tamanho ajudou.
    Acho que faltou algo que alguém até já comentou por aqui: algo que fisgue o letor de primeira, e o coloque no clima certo para seu conto. Como você tem um espaço limitado, é essencial que, na primeira frase, o leitor já consiga visualizar sua ambientação.
    Parabéns!

  15. Anorkinda Neide
    22 de dezembro de 2015

    Olá! Eu entendi de cara quem eram as crianças, talvez pq eu tb me refira assim a ‘eles’.. tamanho é o amor! hehe
    .
    O texto é lindo demais! qd chega a metáfora do nado em águas de leitura, me deletei! É como um conto grande (e bem escrito, claro).. gera várias emoções e recordações até… novamente, talvez por ser eu parecida com o personagem.
    .
    O poder de concentração em estar imerso na leitura e não perceber ou mesmo abstrair a guerra lá fora, é incrível e possível, pq não?
    Acho que poderia ter uma separação entre o penúltimo e o último parágrafo, pra dar uma noção mais clara da quebra de tempo ali entre a leitura e a descoberta do corpo.
    .
    Sensacional o resgate da criança Guerra e paz, afinal, soldados tb nadam… hehehe
    .
    Parabéns pelo conto!

  16. Rogério Germani
    19 de dezembro de 2015

    Olá, Kristin!

    Desta vez, só para ser do contra, irei remar defendendo os contos extensos. Não que eu abomine os mini contos; que não admire a proeza do desvendar entrelinhas; até escrevi alguns para concursos que exigiam este estilo específico.

    Percebo, no entanto, que trilhar uma trama baseado no subentendido é torcer para que o leitor/coautor da história esteja no mesmo ritmo e imaginação desejada para a transmissão excelente da mensagem sugerida inicialmente.

    Por exemplo, alguém que escrevesse um conto sobre humanidade com uma única palavra, poderia ser aclamado ou enxovalhado, dependendo do humor do júri.

    Título = ” A humanidade”
    Texto = Eu.

    Alguns diriam “Nossa, que coisa profunda! Estão presentes todos os sentimentos do ser humano e blá blá blá…”
    Outras, torcendo o nariz, talvez afirmassem ” Nossa, que coisa arrogante! É muito egoísmo para uma pessoa só…”

    De modo algum tiro o crédito da beleza de seu texto, só penso que é muita subjetividade entregue nos olhos do leitor. Mas, como o certame só alega limites para a quantidade máxima de palavras, parabéns pela ousadia.

    * Só uma última situação: Em concursos poéticos onde o limite é no máximo 3 laudas, as trovas ( poemas de 4 estrofes/linhas) não são permitidas justamente para que a responsabilidade da obra e seus acertos e falhas recaiam apenas sobre o autor.

    Boa sorte!

  17. Fil Felix
    19 de dezembro de 2015

    Dificilmente um conto curtinho consegue agradar a galera aqui. Geralmente porque na história faltam pedaços, falta desenvolvimento, imersão e identificação com a personagem. Fico feliz que no seu, mesmo sendo um conto curtinho, conseguiu contornar o limite e apresentar algo muito bom!

    Aqui, não faltam partes. Os fatos estão ali, mas cabe ao leitores subdesenvolver todo o restante da trama, dar volume ao texto, interpretar e questionar as lacunas. Viajar, mesmo. E acho isso um ponto muito positivo! Nos tirar da zona de conforto. E o poder, mesmo com poucas palavras, de nos fazer ir além, de criar e recriar as cenas, é impressionante.

  18. JULIANA CALAFANGE
    18 de dezembro de 2015

    Gosto muito de contos curtos, sucintos. E um bom conto curto não é fácil de fazer. Vc fez este com maestria, um belo trabalho, minucioso, pra deixar um pequeno conto dizer muuuitas coisas. Parabéns!

  19. Daniel Reis
    17 de dezembro de 2015

    Estilo conciso e trama bem armada, utilizando a Teoria do Iceberg do Hemingway como fundamento, deixando a maior parte do trabalho de elaboração para a mente do leitor. O contexto é bastante convencional, a sobrevivência na guerra. Como tema, a biblioteca fica sugerida no “passeio pelas lombadas” e revelada ao encontrarem o corpo na poltrona. Duas questões permaneceram em aberto: por que só uma das crianças poderia sair para brincar? E que graça isso teria para ela? Os corpos dos pequenos foram encontrados ou eles conseguiram escapar? De resto, uma escrita ótima, parabéns!

    • Kristin Land
      18 de dezembro de 2015

      Você consegue brincar com dois livros ao mesmo tempo?

      • Daniel Reis
        23 de dezembro de 2015

        Faço isso o tempo inteiro… leituras simultâneas e paralelas…

    • Kristin Lund
      23 de dezembro de 2015

      Então, Daniel, você deve ser muito bom com crianças! kkkk

  20. Brian Oliveira Lancaster
    17 de dezembro de 2015

    MULA (Motivação, Unidade, Leitura, Adequação)

    M: A atmosfera é muito boa, cria empatia imediata e nos transporta para o mundo criado.
    U: A escrita é leve e fluente, carregada de significados. Notei apenas a falta de um acento, que não atrapalhou em nada a experiência.
    L: Nossa, quando estava me preparando para uma leitura mais densa e profunda, acabou! “Como assim?”, pensei. Tive de reler umas três vezes para entender os conceitos envolvidos e “nadar” pelas camadas interiores. Confesso que imaginei uma centena de cenários, mas não consegui captar exatamente o que o autor quis transmitir, além da profundidade poética. Sabe aqueles textos que gostamos, mas não sabemos exatamente o motivo? É esse.
    A: Se bem entendi, a biblioteca foi pelos ares, como manda o figurino. A essência da imagem se encontra nas entrelinhas.

  21. Simoni Dário
    16 de dezembro de 2015

    Muito bom, ousadia competente. Será o mesmo autor que já apareceu em outro desafio com essa proposta? A dificuldade de colocar início, meio e fim num texto com essa restrição de palavras é grande e você fez com maestria. O conto é curto mas voltei a ele várias vezes pelo poder da reflexão que evoca e da grandeza do que está inserido sem estar escrito. Parabéns!
    Bom desafio!

  22. Lucas Rezende de Paula
    16 de dezembro de 2015

    Autor(a), você é macho!
    Tem que ser corajoso para escrever um miniconto assim e deixar quase tudo para o leitor. Para mim, ler o conto novamente foi um deleite.
    Na minha opinião, o personagem se entregou à morte. Não teria resistido se pudesse, apenas aceitou enquanto dava uma última olhada no livro.
    Parabéns, ótimo conto.
    Boa sorte.

  23. Jowilton Amaral da Costa
    15 de dezembro de 2015

    Caramba, gostei muito. Um conto cirúrgico, escrito com um bisturi na ponta dos dedos. Uma fotografia triste revelada em letras. (Até eu me inspirei agora). Excelente. Parabéns.

  24. Davenir Viganon
    14 de dezembro de 2015

    Gostei do mini-conto. Cai na teia dele.
    Lembrei da música Contrução do Chico Buarque no início, comas frases curtas. Também fiquei imaginando que parte do Guerra e Paz que ele estava lendo quando foi bombardeado. Como o livro é muito longo não consigo arriscar um palpite kkk
    Parabéns!

    • Davenir Viganon
      15 de dezembro de 2015

      “Construção”… mas vocês entenderam né?

      • Kristin Land
        18 de dezembro de 2015

        Perfeitamente!

  25. Leonardo Jardim
    14 de dezembro de 2015

    Caro autor, seguem minhas impressões de cada aspecto do conto antes de ler os demais comentários:

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): apesar se ser um texto bem curto, a história é impressionantemente complexa. Reconheço o mérito absurdo de conseguir contar tanto em tão pouco espaço. Muita coisa fica por conta da imaginação do leitor, mas confesso que prefeita ter tido um pouco mais de informação. Li três vezes e em cada uma tive uma interpretação um pouco diferente. Isso é um grande mérito, mas também um problema para mentes curiosas por saber o que se passava na cabeça do autor 🙂

    📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐⭐): todo o mérito citado acima é da técnica de enxugamento utilizada. O autor soube cortar tudo o que podia e ainda deixou para nós um texto inteiro. Esse é uma qualidade que ainda busco e acho difícil um dia conseguir.

    🎯 Tema (⭐▫): a história não deixou claro que eles estavam numa biblioteca, embora o personagem estivesse lendo um livro. Enfim, não montei a biblioteca destruída na minha mente em nenhuma das três vezes que li.

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): a criatividade do texto está na forma como foi contada, muito interessante.

    🎭 Emoção/Impacto (⭐⭐⭐⭐▫): na primeira vez que li, pensei “wtf”. Li de novo e sorri no final pela compreensão. Na terceira, confesso que arrepiei 🙂

    💬 Trecho de destaque: “O silêncio borbulhou por alguns segundos enquanto o homem mergulhava nas águas abissais. Cadenciou as braçadas com as pernadas capítulo por capítulo, inspirando letras, expirando linhas em direção ao horizonte emendado com o céu.”

  26. Gustavo Castro Araujo
    13 de dezembro de 2015

    Certa vez vi uma resenha sobre determinado livro em que o crítico indicava ter gostado da narrativa mais pelo que não estava escrito do que pelo que estava efetivamente escrito. Creio que esse raciocínio se adapta bem a este conto — ou microconto, se preferir. Aí está a essência, o mínimo indispensável para que o leitor preencha as lacunas, as cores primárias para que pinte um arco-íris.

    Em um fôlego só, terminamos a leitura sabendo que um homem escondia-se com crianças em um abrigo. A guerra lá fora podia ser intensa, mas ele preferiu refugiar-se no último vestígio de humanidade e de normalidade: a leitura de um clássico. Mesmo no exato instante em que morre, não deixa de deitar os olhos em sua razão de viver. E quando a biblioteca em ruínas é revirada pelos soldados, o que se segue é uma afirmação da humanidade — da mesma humanidade do homem — no coração daquele que se vê uniformizado, aquele que luta por uma causa que talvez não seja a sua. Nesse ponto, o conto evoca “Nada de Novo no Front”, o clássico de Remarque que revela o quão humano um soldado é, ao deslumbrar-se com pequenas coisas.

    Eu poderia indagar o que houve, enfim, com as crianças. Mas esse é só meu lado de pai falando, na esperança (vã, provavelmente) de que alguma delas tenha escapado da destruição.

    Dia desses um amigo disse não gostar de microcontos porque esse tipo de narrativa joga para o leitor a obrigação de preencher todas as lacunas, que se apóia muito mais na imaginação de quem lê do que efetivamente no que se escreve. Isso é meia verdade, na minha opinião. Sim, o microconto precisa de um leitor disposto a entendê-lo, disposto a resgatar seu verdadeiro significado — mas quando isso acontece, a recompensa é incrível. É quando conseguimos ver os fios que comandam a marionete, a perfeição dos movimentos.

    Enfim, um conto pequeno no tamanho, mas enorme no significado. Para mim, então, que aprecio temas como esse — guerras X humanidade — chegou próximo do ápice. Excelente trabalho!

    • Kristin Land
      18 de dezembro de 2015

      As crianças estão todas lá.

      • Kristin Lund
        18 de dezembro de 2015

        Na verdade só uma fugiu.

  27. Andre Luiz
    13 de dezembro de 2015

    Muito interessante a forma como você brincou com a “etereidade” da vida, a principal sensação que admiro em um conto mais melancólico, algo muito mais presente quando se escolhe uma temática de guerra, dor e sofrimento. Sua escolha de palavras foi muito bem realizada, principalmente porque você deve ter se imposto um limite de extensão do conto e trabalhou para que ele fosse ao mesmo tempo enxuto e significativo ao leitor. Suas linhas são cheias de significado, e tenho de concordar que a impressão de que tive ao final do texto foi que a todo momento o personagem estava morto. Boa sorte!

  28. Evandro Furtado
    13 de dezembro de 2015

    Olá,seguem as considerações:

    Fluídez – 6/10 – apesar de breve, em alguns momentos senti o texto um pouco travado. Precisei dar aquelas piscadas pra me adaptar, quando consegui, a coisa rolou;
    Estilo – 4/10 – é um texto que faz uso de muitas metáforas e elas se sobressaem demais sobre o aspecto mais superficial – o que, nem sempre, é positivo. Além disso, a opção pelo texto curto também prejudicou;
    Verossimilhança – 4/10 – não deu tempo de conhecer a história, de perceber o que está acontecendo;
    Efeito Catártico – 4/10 – justamente por ser muito curto, o efeito final foi prejudicado. A última frase poderia ser muito mais significativa tivesse sido desenvolvida mais profundamente ao longo do texto.

  29. Cleber Duarte de Lara
    12 de dezembro de 2015

    CRITICA:
    É o terceiro conto que leio aqui e que me dá um trabalhão pra pensar em uma crítica que não seja apenas pra cumprir tabela kkk
    Em uma primeira leitura, uma interpretação estrita pode dar a entender que a transição no último parágrafo é muito brusca.
    A palavra “estanca” me parece desproposita inicialmente por suscitar a imagem de um liquido que seca, que cessa de fluir (estancar sangramento, etc).
    Mas o que eu considero como um pecado terrível em uma narrativa muito longa, ter de reler interpretar melhor, em uma estória mais enxuta torna-se virtude.

    PONTOS POSITIVOS:
    Os pontos que apontei acima, em uma releitura, perdem a força.
    Vejamos:
    1) Estancar mostra-se adequado, em meio a outras imagens como fluxo, onda, nado, etc. Propicia mesmo essa atenção, hipnótica, de entressonho, da atenção que escorre em uma corrente límbica e morna para o buraco da Alice e perde a pessoa para o resto do mundo.
    2) A última parte parece, propositadamente, sugerir uma ambiguidade de significados, e em ambos casos há um “salto” na narrativa. Seja o caso de que o leitor está dentro de uma passagem do texto que conversa com sua condição em uma tomada metalinguística, seja a possibilidade aventada de que a vida é que espelhou arte, e a realidade do livro é ganhou uma realidade enquanto ele estava fora, e tudo foi guerra, dentro e fora sem que o personagem pudesse diferenciar ambos.
    Fazendo coro com o comentado abaixo, aproveito uma influência da minha cidade e lembro o “conto pilula” do Curitibano Dalton Trevisan:
    “Um bom conto é um pico certeiro na veia”.
    Um conto certeiro! Parabéns!

    • Cleber Duarte de Lara
      12 de dezembro de 2015

      *a realidade do livro é QUE ganhou…
      Escrevi às pressas e as vírgulas estão faltando a rodo também, peço desculpas.

  30. Fabio Baptista
    12 de dezembro de 2015

    Eu gostei do conto. Bastante.

    Como já muito bem comentado, fica aquela dúvida: “será que se o autor colocasse mais palavras, ficaria melhor?”. Arriscar-se a colocar essa minhoca na cachola do leitor já é, por si só, um mérito.

    E claro, tem que ter bala pra fazer o conto ficar bom sem usar o limite (sem chegar nem próximo do limite, neste caso).

    Li o último parágrafo com aquela sensação de “não acaba, não acaba, não acaba…”. Mas acabou. E agora estou pensando nas N possibilidades para completar as 2.687 palavras que não foram escritas.

    Muito bom.

    Abraço!

  31. Eduardo Selga
    12 de dezembro de 2015

    A presente narrativa trabalha com a ideia de fragmentação, mas ao contrário de outro conto por mim analisado, é facilmente possível ao leitor construir as pontes necessárias à boa interpretação do texto.

    São apenas quatro parágrafos, e bastante curtos. Percebe-se nitidamente que o (a) autor(a) concentrou-se na essência dos fatos, excluindo qualquer elemento que lhe parecesse secundário. O resultado é um texto extremamente enxuto, na verdade um mini ou microconto. A partir daí, uma pergunta-reflexão nos cabe: o texto minimalista, em função de sua estratégia de se concentrar no que considera fundamental, é esteticamente inferior àquele que entra em detalhes e àquele que, além dos detalhes, vai ao exagero?

    Oswald de Andrade, no Modernismo, fez uso do poema-pílula, ou poema-comprimido, em que estava de tal modo condensada a mensagem que muitas vezes o leitor se perguntava se o que ele entendeu era mesmo o que ele entendeu. Ou seja, ele se perguntava se ele, leitor, havia preenchido adequadamente os espaços de interpretação, como no poema-pílula “Adolescência”, de apenas dois versos: “Aquele amor / nem me fale”.

    Como no caso do poema-pílula, é bem possível que o leitor desse conto se questione acerca da interpretação. Acontece que não existe interpretação errada se o leitor não foge ao texto, se ele não inventa fantasmas. Podemos falar de interpretação incompleta, ingênua etc. Por causa disso, respondendo à pergunta que propus anteriormente, não há que se falar em inferioridade estrutural de um bom microconto, pois nele estão os mesmos elemento de um conto de tamanho tradicional, porém condensados, e essa atomização ajuda a provocar efeito de sentido.

    Mas aí entra a seguinte questão, novamente envolvendo o leitor, que pode se perguntar: se o conto fosse ampliado nãoteria ficado melhor, por dizer mais? Essa pergunta me parece especialmente pertinente aqui, no site, pois é de se observar que muitos leitores entendem que quantidade máxima de palavras é a quantidade considerada ótima para se contar a história. Muito menos do que foi determinado é lido por boa parte dos leitores como uma narrativa de má qualidade, ou sem fôlego bastante.

    “Lembranças Futuras” em uma primeira leitura pode causar a sensação de haver um toque de prosa surrealista, e aqui é preciso uma explicação. Não uso “surrealismo” e derivados no sentido de texto tão bom que foge ao normal, e sim nos termos da estética surrealista, uma das vanguardas europeias que influenciaram o nosso Modernismo. Dentre suas características está um encadeamento um tanto ilógico de cenas e um divórcio entre cenário e personagem. A literatura fantástica (uma das pertencentes ao discurso do insólito) também pode apresentar isso, mas com uma diferença: no surrealismo esses elementos parecem uma montagem, um encaixe para causar impacto; no fantástico é muito mais orgânico.

    Por causa dessa organicidade, “Lembranças Futuras” apenas parece um tanto surrealista: está filiada ao discurso do insólito no modo como o personagem se veste e é encontrada morta, na construção textual que o mostra buscando certo livro na estante ( “A ansiedade passeou pelas lombadas estancando num velho amigo”), em que o personagem é substituído pela emoção por ele sentida, na comparação da leitura envolvente com um mergulho. Mas não uma comparação simples: tem-se a sensação quase visual de que ele está mergulhando e dando braçada no interior do texto.

  32. Antonio Stegues Batista
    11 de dezembro de 2015

    A narrativa é cheia de sentido figurado. Uma narrativa poética, concreta/surreal.
    O homem se arrumou todo para ler um livro, mergulhou na leitura. As bombas caíram e destruíram a biblioteca e as crianças, mas ele ficou lá junto com o livro. Simples assim. Ou talvez ele já estivesse morto há muito tempo quando mergulhou na leitura e morreu. Legal!

  33. Neusa Maria Fontolan
    11 de dezembro de 2015

    Uma história completa e fácil de entender, e isso com poucas palavras. Gostei muito. Parabéns e boa sorte.

  34. catarinacunha2015
    11 de dezembro de 2015

    TÍTULO pretensioso para relato tão enxuto. O FLUXO rápido e poético dá voz à TRAMA unitária. O PERSONAGEM brilha dentro da narrativa. O FINAL quebra uma cadeia poética entrando na crueza da guerra.
    OBS: Esse “abraça-lo” foi erro mesmo ou você caiu na pegadinha do corretor automático do word?

    • Cleber Duarte de Lara
      12 de dezembro de 2015

      É verdade, o título dá a impressão de: senta que lá vem a estória! 2900 palavras é pouco rsrs Me enganou direitiho haha

  35. Claudia Roberta Angst
    10 de dezembro de 2015

    Admirável a sua capacidade de revelar tanto com tão poucas palavras.
    Não encontrei lapsos de revisão além da falta de acentuação em ‘ abraça-lo”. Também não encontrei furos ou pontas soltas. O enredo é simples, coeso, preciso.
    A leitura vista como um mergulho em um mundo particular, onde o leitor dá as suas braçadas e nada o impede de continuar de se deixar inundar pelas palavras e ideias foi, no mínimo, uma ótima sacada. Porque é como nos sentimos quando pegamos um bom texto, que prende a atenção e nos faz querer mergulhar no silêncio, calar as criancinhas em volta ou fugir de uma realidade pesadas demais, e devorar o livro.
    Ideia bem elaborada e desenvolvida com propriedade.

    Boa sorte!

  36. Daniel I. Dutra
    10 de dezembro de 2015

    Esse conto me surpreendeu pela concisão e simplicidade da ideia. É a prova de que não é necessário elaborar uma história hiper complexa e cheia de reviravoltas e vários personagens para se criar uma boa narrativa. Uma boa ideia simples e bem executada diz tudo a que veio e com poucas palavras.

    Na verdade um problema que observo nos contistas (eu incluso) é a tendência de elaborar demais as histórias. O conto muitas vezes acaba virando um rascunho de uma noveleta ou mesmo um romance, e frustra o leitor porque fica aquele gostinho de “quero mais”, mas que o autor não desenvolveu.

    Em suma, embora não goste muito de regras, pode-se dizer que no conto a regra é “menos é mais”.

  37. André Lima dos Santos
    9 de dezembro de 2015

    Olá, autor(a)!

    Provavelmente você escreveu o conto mais curtinho do desafio, mas foi o tamanho necessário para você passar toda a sua ideia! Certamente, foi o meu conto favorito até então (Faltam ainda uns 20 para ler, haha).

    A ideia do conto foi bem legal mesmo! Não sei se foi a sua intenção, mas eu consegui perceber uma mensagem de que a leitura tem um poder ENORME de nos retirar de uma realidade que nem sempre é boa… Gostei bastante mesmo do conto!

    Seu domínio da língua portuguesa é ótimo. Eu acho que as únicas coisas que eu mudaria seriam: um pouco mais de capricho no desenvolvimento e uma “poesia” maior no final… Mas nada que comprometa o conto.

    Meus parabéns!

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Publicado às 9 de dezembro de 2015 por em Imagem e marcado .
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