Farejou um cheiro delicioso.
Abriu os olhos e viu que ao lado da confortável cama havia um prato de sopa com pedaços de galinha. O estômago reclamou e ele tentou pegar o prato para si, mas foi interrompido pela presença que estava ali com ele.
Ewa?
A mulher estava parada em frente a uma enorme janela trancada.
Ewa?
A mulher começou a mexer na janela.
Ewa? Não, por favor. Está tão quente aqui dentro.
Mas ela o ignorou e abriu a janela, deixando o vento frio entrar e lhe atingir em cheio.
Haskel acordou tremendo e viu que o céu cinzento no alto ainda era o mesmo. Estava do lado de fora. Não havia quarto, prato de sopa e nem Ewa. Só havia ele mesmo enfiado em um buraco, coberto por pedaços de feno.
Aninhou-se debaixo do feno e começou a chorar baixinho, mas pouco tempo depois já estava de pé para reiniciar a sua atual rotina. Ficar parado não era uma opção para quem queria sobreviver.
Estava no meio de um bosque, e só ficara ali porque a noite caíra depressa antes que pudesse encontrar um abrigo melhor. O frio era terrível, e a fome também. Haskel foi até uma pedra próxima e tirou debaixo dela a meia-calça feminina que improvisava como bolsa. Havia uma vela, fósforos, e um pedaço de pão seco que ainda lhe sobrara da última pilhagem. Mordiscou um pouco e achou que devia ir andando.
Andar. Era isso o que vinha fazendo nos últimos meses. Andar e sentir medo, fome, frio, cansaço. Não havia mais nada em sua vida. Bom, talvez uma pequena ponta de esperança. Mas tão pequena que ele às vezes pensava que não existia. Achava que estava atravessando a polónia apenas por não ter mais para onde ir. O que inventava para si mesmo. O pote de ouro no fim do caminho. Aquilo não passava de ilusão.
Caminhava entra as árvores, sempre próximo a alguma estrada. De vez em quando encontrava vilas abandonadas e pessoas vagando. Das pessoas sempre se escondia. Não podia confiar em ninguém. As vilas ele vigiava e, quando achava que era um pouco seguro, corria para vasculhá-las.
Porém, naquela manhã, encontrou algo diferente. Encontrou gritos vindo de um celeiro.
– SOCORROOOOO!!! ALGUÉM ME AJUDAAA!!!
Os gritos mantiveram Haskel escondido atrás de uma árvore, apenas observando. Um celeiro podia ser um bom sinal, talvez houvesse bichos, ou algum tipo de ferramenta útil, mas os gritos de um homem que dali vinham eram suficiente para que o andarilho ficasse receoso.
“Não posso correr o risco’’, pensou. ‘’ Não posso me dar a esse luxo’’.
– SOCORROOOOO! – Os gritos não cessavam. – ALGUÉM ME AJUDA, POR FAVOR!
Haskel suspeitou que fosse algum tipo de armadilha. Os alemães faziam muitas. E mesmo que não fosse, não estava em condições de ajudar ninguém. O melhor era focar em seu caminho e seguir em frente. Se havia um celeiro ali, provavelmente havia uma vila próximo.
A encontrou alguns metros estrada a frente. Uma típica vila abandonada igual a outras dezenas que havia encontrado. Mas essa estava bastante destruída.
Primeiramente, ficou observando de longe, até achar que era seguro dar uma olhada. Guardou embaixo de uma pedra a meia-calça/ bolsa e caminhou até a vila. O frio era intenso e os trapos que usava não estavam mais ajudando. Precisava encontrar algo melhor para vestir.
Haskel parou na frente da porta de uma das casas. Podia apostar que havia judeus escondidos naquela vila, assim como em todas as outras que ele revistara. Homens, mulheres, velhos e crianças escondidos atrás de paredes falsas ou embaixo da terra. Vivendo em condições terríveis, mas sem nem pensar em ver como andava o mundo lá fora. E era por isso que Haskel pilhava as vilas durante o dia. Se fosse a noite, podia ser capaz de se deparar com um grupo de judeus saindo do esconderijo para ver como as coisas estavam, e certamente eles o matariam achando que fossem ser dedurados.
Valia muito dedurar um judeu. E valia muito mais dedurar muitos judeus. Mesmo o delator sendo também um judeu.
O inferno não tem lógica.
Rapidamente, ele entrou na primeira casa e foi direto verificar a cozinha. Estava limpa. Haskel subiu as escadas e não passou nem trinta segundos em cada quarto.
Na segunda, também não encontrou nada útil.
No fundo da vila, havia uma construção maior, onde ele poderia entrar se escalasse algumas pedras e entrasse pela janela. Haskel observou a casa e ao mesmo tempo que sentiu receio, foi mordido pela necessidade de vasculhá-la. Escalou cuidadosamente os escombros e pulou janela adentro.
O cheiro ruim vinha do andar de cima e ele sabia que eram corpos. Rapidamente encontrou a escada e seguiu para onde vinha o cheiro. Era um amplo quarto, e havia dois corpos em cima da cama. Um homem e uma mulher. Haviam morrido de mãos dadas e no chão podia-se se ver um frasco com alguns comprimidos. O cheiro era recente, e Haskel desenhou em sua mente a história daquele casal: vivendo escondidos e com medo, até decidirem que morrer valia mais a pena.
Sentiu uma pontada de desespero, mas lembrou-se de onde estava e agiu rápido. Mediu o corpo do homem, que usava um velho paletó e calças esfarrapadas, e percebeu que as roupas lhe serviriam. Haskel tirou as roupas do cadáver e as vestiu. Serviram perfeitamente.
Pegou ainda o lençol da cama e saiu daquela casa após uma breve revista.
O dia passou e Haskel decidiu passar a noite por ali. Como não havia encontrado nenhum tipo de comida, comeu mais um pouco do pão. Em seguida cavou um buraco no meio do mato próximo a vila e encheu com plantas. Depois entrou nele e se cobriu com o lençol e outras plantas. A noite caiu e ele demorou para pegar no sono devido ao frio. Seria mais quente dentro de alguma das casas, mas ele não arriscaria ser encontrado.
Pensou em muitas coisas e sempre em Ewa. Também pensou no celeiro e nos gritos que vinham lá de dentro. De quem seriam?
Adormeceu sonhando acordado.
Logo pela manhã, Haskel meditou bastante e decidiu ir até o celeiro. O pão não estava mais saciando a sua fome, e quem sabe o que podia encontrar ali? Era um risco, mas ele estava disposto a pelo menos dar uma olhada. Começava a se sentir bastante fraco, e nunca havia passado tantos dias sem encontrar comida. Ficar doente também não era uma boa ideia.
Aproximou-se com cuidado e passou algumas horas observando de longe. Nenhum movimento vinha do local, e muito menos gritos.
‘’ Se for um judeu, já deve estar morto. E se fossem alemães, já devem ter ido embora’’, raciocinou. “Está quieto demais’’.
Quando mais uma hora havia se passado, Haskel escondeu a sua meia-calça/ bolsa e foi até o celeiro. A porta estava entreaberta e ele enfiou metade da cabeça para visualizar ali dentro.
O que viu foi um homem pendurado, preso pelo pé esquerdo a uma corda que estava amarrada em uma viga no teto. O homem estava de cabeça para baixo, girando lentamente, a uma distância de talvez um metro e meio do chão. Estava quieto, parecia estar morto. Haskel olhou ao redor e viu no chão, próximo ao sujeito, um saco preto.
Entrou devagar, pisando em ovos, analisou o homem: um tipo novo, mas bem desgastado, e que usava um terno antigo tipicamente judeu. O topo da cabeça do sujeito estava coberto de sangue.
Haskel ignorou o corpo e se agachou para conferir o saco. Desfez o nó e achou nele outro pedaço de pão, uma pequena garrafinha de whisky, mas que ele logo percebeu tratar-se de água, e alguns tabletes de chocolate.
Um sorriso apareceu em seu rosto, e então o homem pendurado gritou.
– VOCÊ. AMIGO! – ele começara a se agitar e a se balançar. – PELO AMOR DE DEUS, ME TIRA DAQUI!
Com o susto, Haskel mecanicamente agarrou o saco e correu em direção a porta.
– ESPERE – gritava o sujeito pendurado. – AONDE VOCÊ VAI? ME AJUDA.
Haskel deteve-se na porta e sem olhar para o homem, disse:
– Eu sinto muito. Não posso ajudar.
E saiu correndo dali, ao som dos gritos desesperados de ajuda.
Algumas horas depois, ele comia o chocolate encostado em uma árvore. Tentava não pensar no homem pendurado, mas os gritos insistiam em rugir na sua mente.
‘’ E se ele quisesse o seu saco de volta’’? Refletiu. ‘’ E se ele não quisesse dividir? Hoje em dia nunca se sabe’’.
Engoliu o último tablete e olhou para a floresta ao seu redor. Era hora de continuar. O que havia ficado para trás estava para trás.
Haskel pegou as suas coisas e começou a andar novamente. Estava cansado, mas havia percorrido pouco aquele dia. Era preciso seguir em frente.
Era preciso seguir.
E então o chão cedeu sob os seus pés e ele caiu em uma espécie de fosso. Rolou pela lateral do buraco e caiu de costas lá embaixo. Rapidamente tudo fez sentido e ele percebeu que havia caído em uma armadilha para animais. Ferozmente tentou escalar as laterais do fosso, mas a terra era dura demais, e ele não conseguia fincar os dedos. Começou a se desesperar, e viu que as suas magras mãos estavam começando a ficar bastante machucadas.
‘’ Merda. Estou preso aqui. Preso como um rato’’.
Haskel sentou-se para pensar em como escaparia e então sentiu uma terrível fisgada nas costas. O tipo de dor que qualquer ser humano interpretaria como um limite do corpo que fora atravessado.
Acomodou-se sem jeito para descansar as costas e olhou para cima. O buraco era fundo, e Haskel viu o céu cinzento por sua abertura.
‘’ Acho que é o fim’’, pensou, amedrontado. ‘’ Acho que é o fim’’.
Ouviu um barulho. Passos acima. Haskel fechou os olhos e viu Ewa. E nesse pensamento ele implorou para que não fossem soldados alemães fazendo uma busca ou marchando em direção a alguma vila.
– Ei, companheiro – disse uma voz. – Você está preso aí?
Haskel olhou para cima e viu o homem que estava pendurado no celeiro. O sujeito o reconheceu na mesma hora e fechou a cara. O coração de Haskel batia acelerado, mergulhado em angústia. Quis abrir a boca para implorar, pedir desculpas, mas achou melhor ficar calado.
O homem o observou por alguns instantes e saiu da boca do buraco. Haskel ouviu alguns passos e então uma corda foi jogada. O homem ressurgiu:
– Eu a amarrei na árvore. Pode subir. Eu te ajudo.
Quando já estava de volta a superfície, Haskel não conseguia olhar nos olhos do sujeito. Mas foi o homem quem quebrou o gelo.
– Sou Petroski – disse, estendendo a mão.
– Sou Haskel – aceitando o cumprimento. – Bem… ha… eu..
Petroski abriu um sorriso e fez um gesto para que Haskel parasse.
– Ach. Sem ressentimentos quanto ao celeiro. Talvez eu fizesse o mesmo no seu lugar.
Mas Haskel duvidava muito disso. Petroski continuou.
– Fui preso ali por um oficial alemão. O desgraçado deixou o meu saco com comida próximo, só para eu sentir mais fome.
– Como você escapou?
– Me agitei tanto que a corda esfacelou e soltou – ele gargalhou. E já havia muito tempo que Haskel não via alguém gargalhar. – Foi sorte. Eu acho.
Ambos ficaram em silêncio, se encarando. E então Haskel estendeu o saco preto.
– Eu comi o chocolate, me desculpa. Mas o pão e a água estão aí. Tome, são seus.
Petroski observou e sem fazer a menor intenção de pegar o saco, perguntou:
– Para onde está indo, amigo?
Haskel não ousou mentir.
– Sosnowiec. Minha mulher está lá.
Petroski respirou fundo e abriu um sorriso.
– Então o saco é nosso. Também estou indo para lá. Podemos ir juntos?
Haskel sentia que estava em dívida com Petroski e, apesar de achar melhor andar sozinho, não sabia como recusar a sua companhia.
– Claro – respondeu. – Acho que podemos ajudar muito um ao outro.
Quatro dias depois, Haskel estava sentado dentro do abrigo, enquanto Petroski observava o céu nublado lá fora.
– A cada dia que passa está mais frio – disse Petroski. – Não vamos durar nada no inverno.
– Já estaremos em casa – Haskel abraçava o próprio corpo em contato com o vento gelado. – Temos tempo suficiente.
Petroski olhou para o companheiro com um misto de tristeza e esperança.
– Será que ainda temos uma casa?
Haskel o ignorou e fechou os olhos. Estava exausto e faminto. No dia anterior, havia comido um pássaro morto que haviam encontrado. Petroski conseguira fazer uma pequena fogueira com alguns gravetos (‘’ aprendera com o pai, na juventude’’) e assara o animal. Mas a fome ainda era grande, e poupar energia era preciso. Estavam se aproximando de Sosnowiec. Todo cuidado era pouco.
Petroski entrou no pequeno abrigo que haviam feito com plantas e madeira e suspirou.
– Quando me mandaram para a fábrica de trabalho, a minha família ficou em Sosnowiec. – Ele sorriu. Sempre sorria quando lembrava da família. Mas logo em seguida ficou sério. – Mas eu não tenho certeza se ainda estão lá. Os trens não paravam de sair.
Haskel estava calado. Não queria conversar. Sentia culpa por ter deixado o outro no celeiro, mas estava prestes a mandar Petroski calar a boca e descansar. Mas então veio a pergunta.
– Como sabe que sua esposa ainda está lá?
Haskel abriu os olhos. Lembrou de Ewa e sentiu o coração apertar. Respondeu automaticamente.
– Combinamos de nos encontrar lá.
Petroski fez uma careta, tentando entender melhor.
– Como assim combinaram?
– Me enfiaram em um trem e enfiaram ela em outro. Mas antes disso combinamos que caso nos separássemos, voltaríamos para nos encontrar em Sosnowiec.
Petroski estava começando a entender a situação, e agora via Haskel com ainda mais tristeza.
– Ei, você me disse que fugiu do trem, não foi?
– Sim, consegui escapar com mais uns oito em Mikolów. Pagamos para um soldado fazer vista grossa.
– Certo, você já me contou. Mas… como sabe que a sua mulher também conseguiu escapar?
Haskel suspirou, um pouco incomodado.
– Porque eu sei. Você não conhece Ewa. Ela é uma mulher muito forte. Não duvido que tenha se atirado do trem se não encontrou outra forma. Eu sei que ela está me esperando ou que então está a caminho.
Depois da resposta, ambos ficaram em silêncio. Haskel afundado em pensamentos sobre Ewa, e Petroski ciente de que o que movia o outro era um tipo de esperança que para ele era incompreensível. Aceitava a ideia de talvez ser o único sobrevivente de sua família, mas entendeu ali que Haskel jamais aceitaria que talvez a esposa estivesse morta, ou presa em algum dos campos de concentração. Por um momento, desejou compartilhar da esperança do companheiro, e também por estar bastante frio, aproximou-se dele e o abraçou.
Haskel pensou em se afastar, mas o mínimo de calor que caiu sobre o seu corpo o fez mudar de ideia. Dormiram abraçados, ainda que não por muito tempo.
No dia seguinte encontraram outro celeiro e um amontoado de cadáveres que haviam sido queimados ao lado. Ambos já estavam acostumados a visões como aquela e trataram de realizar o rito de pilhagem da forma mais eficiente possível. Depois de observarem de longe, aproximaram-se do celeiro e conferiram os cadáveres. Não havia nada ali para se aproveitar. Haskel deu a volta e nada encontrou. Decidiram então olhar dentro do lugar e quando Petroski enfiou a cabeça na fresta da porta, escancarou a boca e empalideceu de uma forma que Haskel pensou que fosse uma patrulha alemã ali dentro. Já estava preparado para correr, quando o outro entrou no celeiro.
Haskel hesitou, mas decidiu segui-lo e viu o que atormentara Petroski.
Havia um homem pendurado, da mesma forma que ele encontrara Petroski. Amarrado pelo pé a uma viga no teto do celeiro. Mas o homem estava morto. Tinha os olhos abertos e sua cabeça estava inchada e roxa.
Petroski observava o cadáver e Haskel percebeu que o companheiro chorava. Sentiu imediatamente uma vontade imensa de fugir dali e deixá-lo. A sua vida já era miserável demais para se preocupar com as misérias de outra pessoa. Se não fosse a culpa que sentia…
Mas logo lembrou daquele tipo de armadilha e procurou no chão pelo saco com comida. E ele estava lá.
Haskel voou para abrir o saco e encontro pão, algumas salsichas velhas, fósforos e um par de luvas. Um verdadeiro tesouro. Foi até Petroski e mostrou o conteúdo do saco.
– Vamos embora. Conseguimos.
Petroski olhou para a comida com indiferença e tornou a observar o cadáver pendurado. Haskel ficou impaciente.
– Vamos embora. Já! Não sabemos se estão longe.
Petroski limpou as lágrimas do rosto.
– Você pode me esperar nas árvores? Eu preciso ficar um pouco mais.
Haskel não compreendia aquela escolha.
– Mas… porquê?
O outro deu de ombros. Sorria tristemente.
– Eu só preciso entender. Apenas isso. Se eu sair desse celeiro sem entender o porque disso – apontou para o cadáver. – Eu não conseguirei seguir em frente.
Haskel ficou enfurecido.
– Ach. Não vou esperar muito tempo. – E saiu correndo. Deixou o celeiro e se refugiou atrás de algumas árvores próximas. Fechando os olhos, ouviu atentamente o som ao redor. Não havia sinal de perigo.
Haskel abriu o saco e comeu um pedaço de pão. O sabor estava agradável e ele sentiu uma pequena fagulha de felicidade por estar se alimentando.
Não havia nada melhor.
Algum tempo se passou e Haskel decidiu que não esperaria mais. Na verdade, era a oportunidade perfeita para se livrar de Pestroski. Era certo que o outro havia compartilhado com ele sua comida e tinha alguns truques na manga para sobreviver, mas Haskel achava que se sairia melhor sozinho. Atrasos como aquele ele não tolerava. Ewa provavelmente já estava em Sosnowiec. Não havia tempo a perder.
Levantou-se, deu uma última olhada no celeiro ao fundo e correu para dentro da mata.
Muitos anos depois, Haskel ainda se perguntaria como não percebeu a presença dos alemães. A única coisa que lembrava era que andava depressa entre as árvores quando topou com um dos soldados defecando no mato. Ficaram ambos paralisados, encarando um ao outro, e quando Haskel virou-se e começou a fugir, foi atingido por um porrete bem na cabeça. Um oficial estava ali, com as calças ainda arriadas, na altura dos joelhos.
Enquanto o homem vestia as calças e outros soldados se aproximavam, Haskel contorceu-se no chão, tentando se livrar da dor e do torpor que embaçava a sua visão. Precisava se recuperar rapidamente do golpe se ainda quisesse ter alguma chance. O oficial que lhe bateu começou a rir e lhe golpeou novamente, dessa vez no joelho. Haskel gritou e após o pico de dor, percebeu que não conseguiria andar tão cedo.
Estava acabado.
Os soldados (eram cinco) conversavam entre si aos cochichos e às vezes davam gargalhadas nada discretas. Haskel estava quieto, pensando em alguma saída, mas não conseguia encontrar nenhuma. Não tinha medo da morte. Mas tinha medo por Ewa. Medo de morrer e a esposa não saber o que acontecera. Pensou em Ewa esperando por ele, para sempre, e aquilo foi o bastante para lhe dar forças. Forças que ele não sabia que tinha.
Forças para implorar.
– Por favor – disse com dificuldade. – Não me matem. Me deixem ir. Não sou judeu.
O oficial do porrete o observou. Tinha a cara fechada. Foi até Haskel e levantou a perna, enfiando a bota na cara do judeu.
– Beija – ordenou.
Haskel beijou a bota. Uma vez. Depois de novo. E logo começou a beijar repetidamente, e a lamber também, como se estivesse limpando a bota.
Os outros soldados riram, mas o do porrete continuava sério. Então ele abaixou a perna e se agachou ao lado de Haskel.
– Me diga – ele falava baixo, tranquilo – Você gostou de lamber as minhas botas?
Haskel sabia o que precisava dizer. Mesmo que o pior viesse, precisava dizer que sim.
– Sim.
O oficial então olhou para os companheiros e deu de ombros.
– Viram, é por isso que eu sei que ele é um judeu. Fazem de tudo para escapar. Pessoal, parece que encontramos alguém para limpar as nossas botas. – Ele voltou-se para Haskel. – Levaremos você até Mikolów e te botaremos em um trem para um dos campos. Mas até lá, você vai limpar as nossas botas. E vai usar a boca para isso.
Mikolów? Haskel não podia acreditar. O levariam de volta para o lugar de onde havia fugido. Aquilo não podia acontecer.
– Sosnowiec – ousou dizer. – Me levem para Sosnowiec.
Os cinco soldados gargalharam ao mesmo tempo.
– Estamos longe de lá, judeu insolente – disse o oficial do porrete. – Não vejo porque ir tão longe.
Longe? Como assim longe? Haskel já estava andando há meses. Certamente já deveria estar perto de Sosnowiec. Os soldados estavam mentindo. Só podia ser isso.
– Bom, vamos embora – disse o oficial. – Carreguem ele até o jipe.
Os outros soldados levantaram Haskel e começaram a arrastá-lo. Aquela podia ser a sua última marcha, ele sabia. Já estivera em outras antes. Mas aquela claramente era diferente. O soldado dissera que iriam enfiá-lo em um trem, e aquilo significava campo de concentração. Significava morte. Mas nada garantia também que ele não seria morto ali mesmo. Era algo muito provável. Aqueles soldados eram diferentes dos que já havia encontrado antes. Podia-se sentir no olhar, em seus gestos frios.
Não seria melhor saciar aquela fome de sangue?
Petroski.
Haskel lembrou do outro judeu. Será que ainda estava no celeiro? Sabia que quase uma hora havia se passado desde que o vira pela última vez. Mas da forma como Petroski estava abalado, bem podia estar lá ainda.
Haskel sentia muita dor no joelho, não aguentava mais ser arrastado. Precisava parar um pouco. Mas sabia que seria morto se pedisse. E precisava sobreviver.
Precisava… sobreviver…
– Espere! – gritou.
O oficial, que liderava a marcha, parou de repente e encarou Haskel.
– O que foi, judeu?
Haskel tentou falar, mas não conseguiu. Fechou os olhos e viu Ewa e Petroski lado a lado. A esperança e a culpa. Bom, ele só poderia escolher um dos caminhos.
– Eu estava com alguém – explicou. – É um homem. Outro judeu. Está escondido em um celeiro ao norte.
Todos ficaram em silêncio. Os outros soldados olharam para o oficial, esperando a sua reação. Mas o homem apenas assentiu com a cabeça e falou tranquilamente.
– Sabemos onde fica. Passamos por lá. – Ele voltou-se para dois dos outros soldados. – Vão lá verificar. Peguem um dos jipes. Matem-no e queimem o corpo. – E novamente falando com Haskel, disse: – Melhor não ser mentira, Judeu. Ou faremos pior com você.
– Ele pode ter fugido – disse, Haskel. – Melhor irem logo.
O oficial fez um sinal com a mão e os dois escolhidos saíram. Em seguida, foi até Haskel, que estava sendo mantido em pé por um outro homem bem forte.
– Judeu – ele disse. – Não pense que com isso vai ganhar pontos conosco. – E após observar bem a situação de Haskel, falou para o soldado que o segurava. – Hans, carregue-o nas costas. Quero sair logo daqui.
O soldado, Hans, bufou, mas fez o ordenado.
Haskel ainda estava em perigo. Mas agora em condições minimamente melhores.
***
Trinta anos depois, Haskel começava o dia bem cedo, passeando pelas ruas de Londres. Em seguida almoçava em seu restaurante preferido, visitava parques e livrarias e voltava para casa, para ver televisão até dormir. Costumava fazer isso todos os dias.
Depois do campo de concentração, sempre que via um banco vazio lembrava de Ewa. Sempre que via um par de botas, lembrava do oficial do porrete. E sempre que se olhava no espelho, lembrava-se de Petroski. Será que estavam vivos ou mortos?
Morreu aos 70 anos. Cercado pela segunda esposa e filhos. Eles não sabiam sobre o celeiro.
☬ O Celeiro – Final
☫ Von Spiegel
ஒ Físico: Continuo com a mesma opinião. O texto está razoável, mas poderia ser bem melhor. No momento, o autor deve se focar em uma coisa: lapidação final. Insisto também que pesquise sobre o método de “mostrar, não contar”. Se o ponto de equilíbrio for encontrado, o autor irá escrever de forma maravilhosa, pois seu estilo é simples e direto.
ண Intelecto: A estória não impressiona. É um tipo de enredo desgastado, mas recheado de emoções. Não sei se a intenção do autor foi emocionar. Se essa foi a intenção, o autor não foi bem sucedido. Percebe-se que houve a tentativa de desenvolver os personagens, mas o autor falhou no meio do caminho. Talvez seja a falta de experiência. Não sei. No caso do desenvolvimento da estória, o autor pecou demais. Os saltos de tempo são bruscos, os acontecimentos são descritos de forma mal elaborada e o final ficou horrível. O que aconteceu com Ewa? O que aconteceu com Petroski? E mais algumas questões que deveriam estar nesse texto. O autor precisar melhorar demais quando se trata da construção de uma estória.
ஜ Alma: O foco da estória não é o cotidiano do protagonista. Na realidade, o autor não consegue manter um foco no decorrer do texto. Não há questões inteligentes sendo abordadas. Não há emoção nas linhas do conto. Realmente, pode ser que o autor tenha talento, pois escreve bem, mas não despertou ainda.
௰ Egocentrismo: Bem, não tem como mentir depois de tanta crítica. Não foi possível gostar do texto. Está mal desenvolvido e não tem nenhum fator realmente chamativo.
Ω Final: Texto razoável, mas onde o autor pecou muito no desenvolvido, talvez pela falta de experiência. Estória fraca e mal elaborada. Final brusco e broxante. Muitas perguntas não respondidas. Fora do tema do desafio.
௫ Nota: 5.
O conto é um pouco lento demais e pouco descritivo. Em uma situação de guerra, o clima, a destruição, o medo, tudo pode ser usado para deixar o conto mais crível, para entrarmos mesmo na pele do personagem, e sofrermos suas indecisões juntos. O problema é que eu não me importava com ele, não torci por ele, enfim, não criei nenhum empatia. Acho que para melhorar isso o autor deveria nos colocar dentro da cabeça dele mais vezes e mais profundamente.
O final também não me agradou, foi corrido e deixou toda a história em lacuna. Nenhum dos mistérios foi respondido. Ele estava mesmo longe de onde achava que estava? se estava por qual motivo? Hoje é possível averiguar o que aconteceu com quase todas as pessoas durante a guerra. Pelo menos seu fim. O personagem nunca correu atrás disso? E o que aconteceu com ele depois de ter sido capturado, como sobreviveu? Enfim, muitas perguntas sem resposta.
Mas está bem escrito, com bom uso de palavras e uma boa escolha de nomes para os personagens.
Bem, posso dizer que gostei muito, muito mais da continuação. E por isso não gostei do que veio depois do “***”. Poxa, foi uma quebra e tanto, de expectativa, principalmente. Quero crer que tenha faltado espaço para continuar a narrativa no tempo em que ela estava e por isso acho que os diálogos poderiam ser menores e até a ação acabou se arrastando mais do que o necessário. Faltou planejamento para impactar mais com o texto? Talvez. Mas pra mim certamente a
continuação foi bem mais interessante.
Caro (a) Von Spiegel
Bem, como posso dizer, é um conto muito honesto, que basicamente entrega o que propõe. É a história de um sobrevivente. Não traz muitas surpresas, nem reviravoltas, mas ainda assim é muito bom. Com certeza ganha muitos pontos pela destreza do narrador e por sua verossimilhança.
O estilo é ótimo, a escrita não cansa em nenhum momento. Essa frase é muito boa: “O inferno não tem lógica.”
Confesso que fiquei com vontade de ver algo mais inusitado, algo um pouco mais extraordinário dentro do contexto. Porém, depois me dei conta de que talvez fosse fugir do temo do desafio, e certamente essa deve ter sido uma das preocupações do autor.
No fundo, é uma história triste porque é bem crível. Não quer dar lição, não faz julgamentos. Apenas mostra que a vida segue, apesar dos equívocos do passado.
Parabéns e boa sorte!
Quando li esse conto pela primeira vez, após a bondosa atitude de Petroski, não esperava por um fim assim. Fiquei entristecida, pois Haskel me passou uma mensagem sobre a covardia humana e tudo que é capaz por benefício próprio e por medo.
O conto precisa de uma revisão, mas nem ando citando muito isso nos contos que estou lendo, então não vou levar em consideração. Estou analisando mais a história, em seus dois tempos. Estava esperando um final feliz para esse conto. Valeu a surpresa, sim. Mas ainda estou triste. Guerras me comovem, ainda mais essa.
Boa sorte!!
O Celeiro (Von Spiegel) – Primeira Fase
📜 Trama: (4/5) mesmo que dependa de uma continuação para continuar, ela se encerra bem. O conto poderia terminar ali e funcionaria como um conto sobre como o mundo gira e as situações se invertem.
📝 Técnica: (4/5) muito boa, não vi nenhum erro grave, a narrativa e os diálogos são muito bons. Acima da média, mas ainda precisa de mais uso de figuras de linguagem para a nota máxima.
🎯 Tema: (2/2) é quase uma fuga ao tema, mas não descontei pontos por ser o cotidiano de um judeu na guerra.
💡 Criatividade: (2/3) nenhum elemento é totalmente novo, mas também não chega a ser clichê.
🎭 Emoção/Impacto: (3/5) o texto é bom, mas não chegou a me tocar como deveria um texto de guerra.
O Celeiro (Von Spiegel) – Segunda Fase
📜 Trama: A escolha dele da segunda parte foi ainda mais cruel que da primeira, cheguei a ficar com raiva dele. O final, porém, quando ocorre o salto no tempo, deixa muita coisa em aberto: o que aconteceu com Petroski? Ele não tinha ido lá encontrá-lo? Como ele conseguiu sobreviver? Chegou em Sosnowiec e não encontrou Ewa? (-0.5)
📝 Técnica: manteve o nível (0)
🔧 Gancho/Conexão: a segunda parte é continuação imediata da primeira. (+0.5)
🎭 Emoção/Impacto: mesma avaliação da primeira parte. Por algum motivo que não consegui descobrir, o texto não chegou a me emocionar. (0)
⭐ Nota: 8.5
Problema que encontrei:
● Achava que estava atravessando a *Polônia*
Embora o conto siga a mesma qualidade literária e gramatical da primeira fase.. a história, para mim, perdeu um pouco o rumo.
Até acho que seguiu por onde o autor queria desde o princípio, mas eu esperava por mais acontecimentos e passou com muita velocidade para a vida idosa do protagonista, com um hiato muito grande… compreendo este recurso, eu mesma o usei no conto Josué… mas aqui fiquei com vontade de saber o q ocorreu com o cara no celeiro…kkk
Mas, tudo bem, parabéns por este conto pungente!
Abraço
Lembro de ter lido a primeira parte deste conto na fase anterior. Tinha ficado comovido com o texto, com a sensibilidade da narrativa. Essa segunda parte mexeu ainda mais comigo, pela agonia vivida em cada passo do Haskel. Achei muito forte quando o autor narra que Haskel estava indo para sua última marcha e que já havia passado por outras “últimas marchas” antes. Gostei muito do trabalho, está de parabéns.
Olá, autor!
Gostei da história, mas, mesmo parecendo ruim, achei que o cara deveria ter morrido. O outro nada teve a ver com ele, e mesmo assim ele foi tão inumano do que os alemães que o estavam caçando.
Gostei da história e das formas como o destino se desenrola para cada um. Um injustiça sobrepujando a outra, e a luta pela sobrevivência.
Você conseguiu criar uma boa personagem; assustado, perdido e capaz de tudo para ter sua felicidade de volta.
A parte narrativa também ficou muito boa. Bem escrito e parece ter sido feito apenas em um fôlego. Acho que isso contribuiu para a uniformidade do texto.
Parabéns e boa sorte!
Forte. A narração simples tirou um pouco do impacto que uma história assim causaria, mas mesmo assim, bem forte. O contista fala sobre natureza humana e quais os nossos limites quando a sobrevivência é nosso único objetivo.
Eu quase consegui criar uma conexão com Haskel… mas não durou. Acho que a história tem potencial mas o escritor deveria trabalhar melhor a narrativa e os personagens, correndo menos com suas palavras.
O “plot twist”, por exemplo, de Haskel caindo no buraco e sendo encontrado por Petroski, foi anunciado de muito longe. Eu já tinha visto ele chegando muito antes de acontecer. Isso acabou me fazendo torcer o nariz um pouco.
Algumas notas:
“Provavelmente havia uma vila próximo.” – PróximA
“A encontrou alguns metros estrada a frente.” – Encontrou-a
Abraço e boa sorte!
Autor(a), senti toda a tensão, todo o clima de luta pela sobrevivência pulsando da sua escrita. Existem alguns erros de português, mas nada que uma boa revisão não solucione.
O cotidiano da guerra, pelo menos em suas arestas significativas à micro-história, é bem retratada aqui.
Porém, infelizmente, acho que o final ficou muito em aberto. O que houve com Haskel? Como ele escapou? E Ewa? E Petroski?
Aprecio finais em aberto; no entanto, o teu conto trazia personagens significativos e simplesmente terminou inesperadamente.
Parabéns.
Confesso que deixei este conto meio de lado porque julguei que precisaria me concentrar melhor na leitura. Foi mais fácil do que imaginei.
A narrativa prende a atenção e ganha ritmo aos poucos. O suspense decorrente do cotidiano do fugitivo Haskel dá o tom da leitura. Tema proposto cumprido.
O final é um tanto triste, apesar de todas as tentativas do personagem buscar a sobrevivência para poder encontrar sua esposa, ele se vê preso, sem controle sobre os seus planos. Mesmo sujeitando-se a humilhações e provações, tornando-se um delator, Haskel acaba em um campo de concentração e sem sua amada Ewa.
A passagem em que Haskel denuncia a presença do outro judeu no celeiro é o clímax. Claro que o leitor desaponta-se, mas é algo esperado. O remorso faz Haskel ocultar essa lembrança da família e de si mesmo, como se fosse possível apagar da sua história.
Encontrei alguns errinhos de revisão, como “atravessando a polónia”.
Achei o final um tanto abrupto, com o corte para 30 anos depois. Entendo que tenha sido devido ao limite imposto.
Boa sorte! 🙂
(Insira seu palavrão aqui) esse foi forte.
Texto excelente, muito bem escrito. Você criou uma história que desperta em nós os sentimentos mais diversos. É muito difícil conseguir fazer isso, parabéns.
Canidato muito forte ao título!
Abraços e boa sorte!
Tema – 10/10 – adequou-se à proposta;
Recursos Linguísticos – 10/10 – texto muito bem escrito, não encontrei problemas;
Personagens – 10/10 – muito bem definidos psicologicamente, cativantes, memoráveis;
História – 7/10 – tudo estava indo perfeito até o final, senti que faltou aquela reviravolta, ou aquele algo a mais que fizesse o coração disparar;
Entretenimento – 10/10 – texto fluido e com um alto grau de imersão;
Estética – 7/10 – como já disse, faltou aquele final fantástico. Mas o texto é muito bom.
Parte II: O TÍTULO cresceu de importância (2/2) e o TEMA manteve-se no cotidiano (2/2). O FLUXO de competência controlada, quase um relatório militar, não me encanta (1/2). A TRAMA cresceu e ganhou emoção (2/2). O FINAL abrupto explicativo poderia ser mais bem estruturado, mas a ideia foi ótima (1,5/2). Total 8,5
Mais um texto que melhorou com o complemento da segunda etapa. Gostei jornada, ou tentativa de jornada e gostei principalmente do final (depois dos “***”).
Só fiquei torci um pouco o nariz na hora do encontro com os nazistas, achei toda a situação meio inverossímil. E fiquei pensando, talvez seja a maior bobagem do mundo o que vou dizer agora kkkkkk, mas para descobrir se o cara era judeu ou não, não bastava “baixar as calças”? Claro que não seria uma prova 100% garantida, mas, naquela ocasião, acho que valia tudo. E igualmente da parte dos soldados. Não entendi muito bem a motivação de ter delatado o outro que se escondia, sem ter negociado algo antes. Só quis ferrar o cara? Ou pensou que os alemães ficariam amiguinhos?
Tirando essas minhas implicâncias, ótimo conto.
NOTA: 9
Olá, Von Spiegel.
Achei que o complemento do conto tentou comprimir muita história nas limitadas 2000 palavras. Terminamos sem saber muita coisa e apenas chocados com a abordagem “sobreviva-a-qualquer-custo” de Haskel e sem entender os motivos da doçura de Petroski ou de seu desespero ao entrar no outro celeiro.
Gostei, contudo, da boa reconstituição de época, do cenário e da pesquisa.
Nota 7!
EGUAS (Essência, Gosto, Unidade, Adequação, Solução)
E: Toda a atmosfera opressiva foi bem descrita. – 9,0.
G: A história é interessante e cativa, mas sofre do problema comum de correr em certas partes. O final abrupto não agradou tanto. O texto criou uma enorme preparação para o final que não veio. O clima é o ponto alto, mas não foi o suficiente. – 7,0.
U: Algumas partes e certas frases precisam de revisão. No entanto, no geral, flui bem e todo o cenário está embutido na mente do leitor, demonstrando habilidades que estão acordando. – 8,0.
A: Um cotidiano com ar histórico, o qual foi captado em todas as sua nuances. Ponto alto. – 9,0.
S: Não encontrei a divisão, mas notei certa pressa em algumas partes que pediam maior descrição ou “contato”. Atingiu o objetivo, mesmo com um pós-final não tão explicado. – 8,0.
Nota Final: 8,2.
Olá, Von Spiegel!
Vou ser sincero contigo: sua escrita é bela, tem uma ótima técnica. Porém, novamente o desfecho reclama informações preciosas para um entendimento melhor da trama.
Como Haskel conseguiu escapar dos nazistas, já que nem conseguia andar direito após a porretada nas pernas?
O que houve com Petroski?
Boa sorte!
Olá.
Apesar de ambientado no mundo “real” e pós-guerra, a narrativa me lembrou uma história de fantasia, narrando clássica “jornada do herói”. O conto apresenta-se bem dinâmico, com muitas falas, e descreve bem o ambiente, nos deixando bem inseridos no cenário de destruição e desolação no qual se passa a estória.
Só uma coisa me incomodou um pouco. Heskel encontrou um homem semimorto num dia, para encontrá-lo bem no dia seguinte. Não só isso, o homem o perdoou tão facilmente pelo homem que o deixou para morrer e roubou sua comida. Achei essa passagem estranha, meio forçada. Não vou comentar aqui o que imagino que seja sua continuação, mas espero que você não faça isso…
Boa sorte
Mestre, gostei de ter situado a história no contexto da Segunda Grande Guerra. Porém, algumas palavras, devido ao recorte temporal, soaram modernosas demais – à título de exemplo: “dedurados”. O enredo não está ruim, mas devo confessar que não empolgou.
Existem, também, alguns erros de gramática ao longo da narrativa. Não obstante, a escrita é sólida e tem propriedade.
Parabéns.
Achei que o TÍTULO reflete uma passagem importante do conto, instiga um pouco. A ilustração estragou o prazer do descobrimento do ambiente (1/2). Cotidiano da 2ª Guerra tá valendo como TEMA (2/2). O FLUXO mostra um domínio da escrita e estilo muito simples para o meu gosto (1,5/2). A TRAMA foi bem construída, mas sem emoção (1/2) e o FINAL pendurou um gancho legal. Quem sabe na continuação a história cresce? (2/2). 7,5
Olá,
No começo do conto pensei que Haskel fosse um garoto.
Mais uma ambientação diferente no certame (coincidentemente em tempos de guerra). Foi interessante ver no conto como a natureza humana se altera em tempos de caos. Isso foi muito bem retratado no conto, bem como a solidariedade com o próximo (é o que parece por parte de Petroski).
Visivelmente agora eles irão continuar a viagem juntos, seria interessante ver em uma continuação, que na verdade Haskel é um caçador de judeus haha. Parabéns.
Boa sorte!
Nota: 8
Sou suspeita para dizer algo. Meu sentimento aflora com contos que se passam durante guerras ou outros momentos marcantes da história. Adorei o conto. Tem o que concertar, como “entra as árvores” e “vila próximo”.
Estou curiosa, quero saber onde esse caminho irá levar e se esse companheirismo é mesmo verdadeiro. Espero que sim!
Boa sorte!!
Um texto bastante interessante, bem construído. Dá pra notar que o autor já escreveu muita coisa, sabe como conduzir a história de forma coerente e dar os detalhes que prendem a atenção do leitor.
Muito bom!
Emoção: 1,5-2 – Gosto muito de textos nessa temática. E achei um tanto diferente dos que tenho lido, pelo menos até a metade. A segunda metade, pra mim, não trouxe nada de interessante, parece que a narrativa perdeu força.
Enredo: 1,5-2 – Começou bem, mas nada de muito elaborado. A impressão é de que foi esfriando conforme a ação ia se desencadeando. O final ficou fraco.
Construção das personagens: 1-2 – Podia ser melhor. Haskel tinha bastante potencial até a cena no celeiro.
Criatividade: 1-2 – Vi isso na primeira metade do conto.
Adequação ao tema proposto: 1-1 – Não sei se se adequa totalmente. Talvez em grande parte, na verdade não me passou a ideia de que este seja o cotidiano do cara. Mas se levar pela questão de quebra de cotidiano, acredito que sim.
Gramática: 1-1 – Ok, não vi problemas durante a leitura.
Trecho destacado: “Valia muito dedurar um judeu. E valia muito mais dedurar muitos judeus.
Mesmo o delator sendo também um judeu.
O inferno não tem lógica.” – A melhor citação pra mim até aqui!
Impossível eu não gostar desse conto. É o tipo de narrativa que me atrai desde a primeira linha, seja pela tensão, seja pelo contexto histórico. Eu mesmo gosto muito de ambientar contos nesse tipo de contexto – como p.ex, nos contos “Radiação” e “À Sombra de um Sicômoro” – em que a angústia desperta o que há de melhor e pior em cada ser humano. Aqui o autor seguiu muito bem essa regram atribuindo defeitos e qualidades em doses igualitárias, transformando o protagonista numa pessoa real, com quem podemos nos identificar seguramente. Numa situação extrema, como são os cenários pós-apocalípticos, ou como, aqui, num cenário de guerra, as emoções afloram e se dirigem a extremos. A solidão impera, levando qualquer pessoa a buscar segurança em si mesma, não havendo muito espaço para altruísmo ou gentileza. Por isso, acerta o autor ao criar os dramas de consciência do personagem principal, seguindo, talvez de modo inconsciente, o estilo que Erich Maria Remarque estabeleceu em “Nada de Novo no Front” e em “Amar e Morrer”.
Gostei da escrita ágil, fluida e de certa forma seca, como exige a ambientação. Não notei erros gramaticais, preso que fui pela narrativa. Não é o texto mais bem escrito dentre os que li neste grupo, mas é aquele cuja história mais me prendeu. O único, talvez, que me fez mergulhar de verdade na trama.
Nota: 9
Retomando…
Mencionei Remarque no primeiro comentário e aqui, nesta segunda parte, tive a impressão de que o autor aprofundou a semelhança. Uma das primeiras cenas de “Amar e Morrer” refere-se a uma execução. Prisioneiros russos devem ser mortos por um pelotão de fuzilamento da Wehrmacht logo depois de cavar a própria sepultura. No livro, Remarque desce profundamente à psique do protagonista, um dos soldados responsáveis pela execução, fazendo-o se perguntar para que, afinal, serve tudo aquilo. Creio que neste conto – que continua sendo um de meus favoritos – faltou isso: a dúvida, o remorso, a culpa. Sim, há trechos em que podemos vislumbrar um traço de arrependimento em Haskel, especialmente no fim, mas é só isso. No geral, a narrativa prende, flui e conduz o leitor sem dificuldades, mostrando que na guerra não há muito espaço para bom mocismo, mas na minha opinião, faltou abordar essa questão do remorso.
Nota final: 8,5
Excelente escrita e ambientação!
Adoro histórias ambientadas em qualquer das Grandes Guerras. E, putz, por que não o cotidiano da perseguição aos judeus!? Que sacada genial neste desafio! Para mim, foi a melhor leitura do tema, e já li todos os contos deste grupo antes de escrever estes comentários, o que me faz estar seguro nesta afirmação.
Ótimos personagens, ótimo enredo! O autor ou a autora soube lidar bem com eles, e usou um conflito muito simples (salvar ou sobreviver), muito inteligente. Minha nota é 9 por não ter chegado ao nível dos que receberam nota 10, mas mesmo assim, merece meus mais afinados parabéns! Estou ansioso para ler a continuação!
Abraços!
Conto interessante, com temática de segunda guerra mundial. Explorou bem o ambiente e as interações entre os personagem, deixando claras as mensagens sobre os defeitos e qualidades do ser humano. O lado ruim vai para o texto em si, cheio de errinhos. Uma boa revisão o deixaria muito bom
costumo gostar de finais abertos, mas esse não parece um final aberto e sim um corte aleatório, ou melhor… um corte proposital em função da segunda etapa do desafio. De qualquer modo, a narrativa é boa, prende e convence. A linguagem faz a leitura fluir, então espero ver a continuação / resolução disso na segunda etapa do desafio.
É um texto muito muito eficiente e bem escrito. Consegui ‘ver’ todas as cenas e me envolver com os personagens, com o ambiente de guerra e com as questões morais envolvidas. Show de bola! Parabéns!
Mais do que um gancho acho que este conto se parece com uma introdução, dá pra visualizar a história mais pra frente e mais pra frente e mais pra frente, como um grande romance. E, no entanto, esta ‘introdução’ cabe bem como um conto, está fechado e muito bem.
De novo, meus parabéns(acho que será farta a distribuição de notas 10!!)
Conseguiu captar muito bem o clima e a atmosfera cruel daquela época. O início é um tanto morno, mas depois a história engrena que é uma beleza. A pergunta de como o cara conseguiu se desamarrar é o mote para o próximo conto.
Eu fiquei agoniado com esse conto. Ele passou uma ambientação intensa na perspectiva de Haskel. Estou gostando demais da qualidade dos textos nesse desafio.
Não sei se foi intencional na sua narrativa, mas a tensão, pelo menos na maneira que você a escreveu, criou um cenário que nós só sentimos nos dias de hoje em ficção pós-apocalíptica. Mesmo sabendo que histórias como a do Haskel ainda acontecem em alguns lugares e figurou também barbaridades como a perseguição dos judeus pela Alemanha nazista. Tudo isso enquanto já “éramos” civilizados. Enfim, foi apenas uma reflexão, porque ler esse conto trouxe essas sensações, e lembrou também um filme que vi, chamado The road. Tem uma pegada bem semelhante, mas noutras circunstâncias.
Gostei do conto. Fiquei com vontade de ler a segunda parte também.
Boa sorte.
☬ O Celeiro
☫ Von Spiegel
ஒ Físico: O texto está razoável, mas poderia ser muito melhor. O autor precisa melhorar sua habilidade de escrita. Oriento que ele preste atenção no refinamento da obra. Não tem problema escrever tudo o que vem na mente. No entanto, se você adotar essa técnica, precisa retornar e refinar o texto inteiro — ou reescrevê-lo, como eu faço. Muitas frases estão mal construídas, assim como os diálogos. É bom dar uma pesquisada sobre a técnica “Mostre, não conte”. Mas essa técnica não é regra. É bom encontrar o ponto de equilíbrio entre tudo.
ண Intelecto: O enredo não é original, muito menos os personagens, mas o ambiente ficou muito bem construído. Está muito visual. O maior problema é a falta de aprofundamento no protagonista e sua estória. Tome cuidado com isso. Da forma como está, Haskel não tem vida própria.
ஜ Alma: O cotidiano está ali, mas na sua forma mais rasa, pois o foco do autor é outro. Isso prejudica o resultado final do texto. O final brusco deixa um pouco a desejar, pois não cria nenhum conflito que possa prender o leitor e fazê-lo ansiar pela continuação. Também acho que o texto deveria se sustentar sozinho, mesmo sendo a primeira parte, pois muitos não passarão da primeira parte. Falhou nisso também.
௰ Egocentrismo: Não consegui gostar muito do texto, pois foi impossível me aproximar dos personagens e sentir suas dores. Essa era a intenção do autor, correto? No entanto, aprecio qualquer novato na área, que merece o máximo de incentivo que pudermos dar.
Ω Final: Texto razoável, sem estilo definido e sem lapidação. A estória é morna e seus personagens rasos demais. O autor não se foca no tema, mas ele está presente. O final brusco também prejudica.
O começo não me agradou, mas o conto melhorou bastante da metade para o final, com a entrada do Petroski.
Esse é mais um texto que deixa o tema “cotidiano” quase que tema livre… mais um cotidiano diferente (já teve um de guerra também, mas era outro contexto).
Achei que a parte técnica precisa de um melhor polimento. Algumas frases não encaixaram legal (normalmente por tentar inverter adjetivo/substantivo, como em “magras mãos”) e há um uso demasiado de adjetivos em certos momentos.
Alguns apontamentos:
– polónia
>>> Polonia?
– os gritos de um homem que dali vinham
>>> esse “dali vinham” ficou estranho
– uma vila próximo
>>> próxima
A história contada é bacana e o gancho para a continuação foi bem legal, deixando o leitor com curiosidade para a continuação da aventura.
NOTA: 7
Olá, Von Spiegel.
Um conto bem interessante. Muito bom ler algo ambientado na época da 2a guerra.
O enredo é bom, mas a escrita precisa de mais trabalho: as descrições do ambiente estão muito pobres, a narração é um bocado simples e há erros de escrita que pedem por revisão. Achei também que o nome do personagem principal foi repetido demais: 32x.
Enredo: 4,5 (0-6)
Escrita: 2 (0-4)
Abraços.
Abordar a Segunda Guerra Mundial sempre traz à tona a natureza do ser humano e o desespero e acho que este conto conseguiu traduzir bem o sentimento da época, mesmo sendo uma estória curta. Gostei bastante.
Olá, Von Spiegel!
O desafio “Cotidiano” em duas etapas, trouxe-me uma certeza: não me atrai encontrar nos desfechos dos contos o gosto de “To be continued…” Fica a sensação de um tiro no escuro, um apelo, mais incentivado pela curiosidade do que pela qualidade literária, para aprovar o texto se quiser descobrir a sequência dos fatos.
Mesmo em dois momentos de apresentação, o conto deve chamar a atenção já na primeira fase, sem necessidade de um novo ciclo. As peripécias do ladino Haskel, para sobreviver em solo polonês em tempo de guerra mundial, cumprem bem esse papel até o desapontamento na trama: Como um gatuno experiente cai, de forma ingênua, do nada, numa armadilha para animais? Poxa, o personagem sabia até cavar buracos e se camuflar entre as folhagens para se esconder à noite!
Deixo aqui alguns erros que escaparam-lhe no momento de revisão:
“polónia”
provavelmente havia uma vila “próximo”
“A encontrou alguns metros estrada a frente.”
Acredito que soaria melhor se fosse apresentada assim:
Encontrou-a alguns metros estrada a frente.
Já o desfecho, como havia dito no início da análise, pede esclarecimentos futuros. Preço que, infelizmente por não ter sido “tocado’ pela trama, não posso pagar.
Nota 5.