“Quando chegamos ao pântano das borboletas, descobrimos o que eu havia previsto: ele estava completamente inundado por causa das chuvas recentes. Poucas vezes o tínhamos visto naquele estado. Apenas umas poucas ilhas afloravam , como lombos de hipopótamos meio submersos; a cascata brotava da crista do penhasco em todo o seu esplendor. As samambaias, muitas das quais davam a impressão de flutuar, brilhavam com um verde que chegava a parecer artificial. E, é claro, lá estavam as borboletas, dezenas delas, esvoaçando em torno dos raios de sol que se filtravam de alto a baixo. Eu nunca tinha visto tantas. A maioria delas eram monarcas, mas também havia outras espécies. Ficamos ali sem poder acreditar em nossos olhos.”
O jovem escritor argentino Federico Axat consegue, em poucas páginas, transportar-nos diretamente para a infância; uma mescla de nostalgia e bucolismo que faz com que sintamos as aflições do florescer da idade junto a Sam Jackson, o protagonista e narrador da história, e seu dueto emocionante de amigos, Miranda Matheson e Billy Pompeo.
Um trio carismático, certamente.
Em uma efusão de sentimentos pela qual nos aventuramos na história, Axat aos poucos revela os mistérios que rondam Carnival Falls e todo um contexto da morte da mãe de Sam; um acidente misterioso e mal resolvido. Assim, Sam tem de conviver com a perda da mãe ainda pequeno e a saudade carregada nas recordações, principalmente em uma correntinha que guarda com afinco desde os tempos do acidente.
A trama é bela e tênue quando trata das relações sociais, principalmente na questão da mudança brusca de infância para adolescência, que o trio de protagonistas vivencia ao longo do livro. Axat traz ao mesmo tempo a dúvida e a incerteza da fase da puberdade mesclada suavemente com a aventura e a curiosidade da infância; não deixando de ressaltar os sentimentos que permeiam a vida neste período.
Assim, Sam, Billy e Miranda tornam-se personagens admirados pelos leitores. Cada qual com sua característica mais marcante foi construído pensando em nosso coração leitor. Tomamos apego por alguns. Ódio por outros. Emocionamo-nos à flor da pele.
E é claro que o suspense fica para o final. O mistério sobre a morte da mãe de Sam é desvendado, bem como sua relação com uma série de eventos que permeiam a vida das crianças. No meio disto, encontram tempo para se aproximar mais, nutrir a semente da amizade que tanto semearam e esperar que colham os frutos.
Axat deixa sugeridos vários pontos durante o decorrer da história que, juntos, compõem toda essa solução e, antes de tudo, faz com que o leitor termine o livro tão perplexo com uma revelação bombástica ao final que se torna indecisa a reação: Não sei se senti ódio ou contemplação.
Apenas agradeço ao autor pela bela obra.
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Resenha originalmente postada no blogue “Minúsculas Manivelas“.
Ótima resenha. Com poucas palavras, consegue instigar a leitura da obra analisada. Fui apanhado em cheio porque aprecio muito essa temática. O estilo de Axat, pelo que você descreveu, André, me fez lembrar o de Niccolò Ammaniti, perito em misturar as agruras da adolescência com situações misteriosas que nos prendem até a última página. Lerei a obra, é certo. Depois volto aqui para deixar minhas impressões.
Parece-me maravilhoso.