Por ti eu reformei minha alma
Desconstruí, dolorosamente,
Meu antigo eu
.
Olhava-me no espelho e
Não mais me reconhecia
.
Mas não bastou,
Não foi o suficiente
.
Então, eu li todos os teus
Livros preferidos
Vi todos os malditos
Filmes franceses
Escutei jazz até reconhecer
Que rock era mesmo
Apenas lixo
.
Provei de todos os pratos
Os confits, as reduções,
Os jus, as lesmas nojentas
Fervidas em vinho branco
.
Fiz de mim teu reflexo,
Uma coleção, um mosaico
Delicado, de tudo o que
Te fizesses feliz
.
Mas não bastou,
Não foi o suficiente
.
Então, deliberadamente,
Eu matei em mim
Tudo o que te desagradasses
.
Desceram pelo ralo
O futebol, a cerveja, os amigos
Os papos fúteis e meus trocadilhos,
Sempre tão infames
Meu mau gosto por perfumes amadeirados,
Minha risada ridícula
.
Extirpei tais tumores e
Sangrei
Esculpi, cortei, lixei
Poli
.
Mas não bastou,
Não foi o suficiente
.
Então, comprei adubo químico
Glucose e outros produtos
Em lojas em pontos diversos
Da cidade
Sempre em dinheiro vivo
.
E, no dia do teu aniversário,
Quando talvez tu apresentasses
A tua família
O meu novo « eu »
Mutilado, formatado
Conformado e sem alma
.
Eu fiz com que tu
Alcançasses as estrelas
E te espalhasses feito chuva
Rubra e morna
.
Um poema de carne
Uma ode de células
Névoa, orvalho
Arte, de imenso bom gosto
.
E isso, enfim,
Foi suficiente
Uma trágica história de amor!
Serve de alerta… nunca será o suficiente pra quem nada basta, porque se está com a pessoa errada no lugar errado…hehehe
Parabéns
Gostei do ritmo e da clareza nas entrelinhas.
Talento!
Abraço, Rubem!
Lembrei-me do poema que narra meu ex-casamento (que nao terminou tao tragico assim… rsrsrs)
Vou trazê-lo!
resolvi trazer aqui mesmo o poema que mencionei pq ele tá velhinho, bem fraquinho dos versos… para publicar, mandarei um no mesmo tema, mas mais trabalhado ^^
NA PONTA DOS PÉS
Muito tempo vivi em ponta de pé
Com medo de magoar, de te ofender
Em vão, pois até respirar te feria!
Muito tempo torci a ponta do pé
Tentando te agradar, te satisfazer
Bobagem, nada te alcançaria!
Muito tempo vivi sem a minha fé
Com medo de me encontrar e te perder
Bobagem, nunca houve garantia!
Muito tempo torci o sentido da fé
Tentando controlar o que não era pra ser
Então desisti dessa relação vazia
Sustentada na ponta dos pés!
Anorkinda
Profundo, quase sem rimas, mas traz as camadas características da poesia. O tom melancólico condiz muito bem com o enredo. Para um apreciador de FC, você consegue transmitir muito bem a sensação do cotidiano e a expressão pelo que lutamos sempre (às vezes em vão).
olá Rubem, apresentas mais uma história muito interessante, com principio meio e fim, muito bem escrita, com algum cuidado na escolha de palavras. muitos parabéns. no português do lado de cá, por vezes não se percebe algumas coisas: “estirpei” ou outro exemplo “tudo o que te desagradasses” mas percebi o sentido e ficou muito bom. mais uma vez muitos parabéns
Liricamente explosivo. hahahaha. Muito bom.
“lesmas nojentas fervidas em vinho branco” – há qualquer coisa que apetecível aqui =P
O poema está muito bem construído, muito bem “narrado” e forte de sensações. É de leitura leve mas de conteúdo espesso, isto é, conta uma variedade de coisas sem que isso pese na leitura. Admirável. Parabéns =P