EntreContos

Detox Literário.

Liberdade Condicional (Gustavo Araujo)

Brooks-out-of-jail

A mesa parece firme. De mogno, dá para ver pela cor escura. As beiradas gastas segredam sua antiguidade, construída em um tempo em que as coisas eram feitas para durar. A cadeira em frente completa o jogo. A tonalidade da madeira é a mesma. Também é robusta, o suficiente para suportar alguém do meu tamanho. Não que eu seja grande, ao contrário, mas os anos se encarregaram de me tornar mais pesado. Arrasto tudo para o vão que separa a sala do quarto, onde antes certamente havia uma porta. No alto, o pórtico também de madeira, com desenhos em relevo, destoa da simplicidade do restante do apartamento.

O local é pequeno, úmido e rescende a mofo. Pela janela vislumbro o movimento da rua, uma cena tão desconhecida quanto aterradora. Estou de terno, vestido adequadamente para um momento importante. Tiro meu canivete do bolso e abro a lâmina ainda afiada. Minhas mãos doem, castigadas pela artrite. Subo na cadeira, os pés trêmulos, vacilantes, mas consigo me equilibrar.

De cima, vejo o colchão puído e repleto de manchas de bolor. No travesseiro repousa um livro de capa escura. Dentro dele, uma carta.

Um passo, como um degrau, e estou sobre a mesa. Com a ponta do canivete começo a entalhar uma mensagem.

***

Peço que me perdoem. O que escrevo agora aconteceu há muitos anos, de modo que algumas lembranças mais parecem borrões. Outras, confesso, surgem vívidas como um quadro impressionista.

Na primavera de 1914 eu era um jovem recém formado. Zootecnia, era esse o curso, pela Universidade do Maine. Eu era o que se poderia chamar de um sujeito de sorte. Tinha um bom emprego, uma esposa decente e até uma filha, além de um futuro promissor, enfim, tudo o que alguém podia sonhar na vida. Mas, claro, havia um porém. Ou dois. Bebidas e jogos de cartas. Pôquer e uísque, para ser exato.

Certa noite, como acontecia com regularidade, acabei me entusiasmando em uma rodada de apostas. Já perdia um bom dinheiro, mas acreditava com a fé dos derrotados iludidos que a maré de boa sorte me aguardava na próxima rodada. Nunca veio. A cada mão eu me afundava mais e mais. Nos recônditos de minha mente, ouvia Laura me enxovalhando. “Temos uma filha para criar”, ela dizia. E ali, com as cartas diante de mim, eu acreditava que era dela a culpa por todo o meu azar.

Não lembro mais o quanto perdi. Um carro ou uma hipoteca, talvez. Só sei que cheguei em casa e, conforme havia antecipado, com Laura me esperando com aquele discurso que eu conhecia de cor. Hoje sei que ela não tinha escolha, mas, na época, naquela ocasião, eu nem lhe dei chance. Estava farto dela. Cansado de seus sermões e de suas tentativas patéticas de me resgatar, de me tornar um pai de família honrado. Naquela noite, mais bêbado do que de costume, eu avancei sobre ela. Queria que ela se calasse.

Lembro de seu rosto até hoje, a vermelhidão, o filete de sangue escorrendo da boca aberta em descrença. Os braços cruzados sobre o peito, num instinto de proteção, enquanto eu, completamente fora de mim, lhe desferia socos e chutes. Não me recordo do momento em que apanhei a tesoura sobre a pia da cozinha. Mas por certo foi depois que Ellie veio ao socorro dela. Para falar a verdade, não enxerguei nem uma nem outra. Apenas ouvi ao longe os pedidos de socorro enquanto meu braço girava afundando as pontas em movimentos repetidos.

Só fui me dar conta depois, quando amanheci na delegacia. Ambas estavam mortas. Minha esposa e minha filha.

O julgamento foi rápido. No Maine não se perdia muito tempo com assassinos naquela época. Prisão perpétua, naturalmente. O juiz disse ter medo de mim e lamentou não poder aplicar pena de morte.

Se eu estava arrependido? Não sei dizer. Tentava encontrar uma explicação, isso é certo, mas ainda insistia comigo mesmo que Laura fora a maior culpada. Se ela não tivesse gritado, se tivesse me deixado em paz, não teríamos chegado a tanto.

Cheguei a Shawshank em março de 1915.

Ganhei um uniforme azul. Parecia um coelho assustado ao atravessar o portão cheio de ferrugem e entrar naquele edifício de pedras escuras, onde antes funcionara um reformatório.

A primeira noite foi terrível. Foi ali, na penumbra daquela cela gelada que percebi o que me aguardava. Não vou mentir. Chorei como uma garotinha. Chorei de medo, de raiva de mim mesmo e, o que era pior, sabia que essa sensação me acompanharia até o fim. E que “o fim” significava muito tempo.

Mesmo no escuro eu via as celas uma ao lado da outra por vários andares. Alguns presos assobiavam. Outros colocavam as mãos por entre as barras, trocando cigarros. Aquele seria meu mundo. Teria a eternidade toda para expiar toda a culpa, dissera o juiz. De todo modo, não havia nada melhor para sepultar qualquer vício remanescente.

Apanhei muito início. Minha estatura não favorecia. Ao contrário da maioria dos homens ali, eu era baixo e franzinho. Perdi refeições, trabalhei como um elefante indiano enquanto outros descansavam às minhas custas. Nessa época eu trabalhava na lavanderia, pois era a única coisa que eu aparentemente conseguia fazer, um trabalho modorrento, tedioso e mecânico que exigia mais força bruta do que intelecto. Ideal para manter assassinos como eu ocupados e cansados.

Vocês podem imaginar que a ideia de prisão perpétua faz com que nós, os condenados, encaremos a vida com uma perspectiva diferente. Essa é a noção comum, romântica eu diria. E no princípio é assim mesmo. Contudo, depois de uns dois ou três anos você simplesmente se acostuma. A rotina é um bálsamo, vou confessar. Você sabe a que horas as celas vão se abrir, sabe quantos minutos tem para engolir o café e a que horas deve se apresentar ao chefe do setor de trabalho. A rotina dá ao homem, mesmo ao homem condenado, um rumo, algo que o faz acreditar, ainda que superficialmente, que basta viver um dia depois do outro para não enlouquecer. Desde que não se façam planos, desde que não se alimentem esperanças.

A prisão, posso falar por Shawshank, termina sendo um instantâneo da sociedade lá fora, com pessoas em quem se pode confiar e com outras de quem é preferível manter distância. E eu acabei me adaptando.

Em 1919 a penitenciária era dirigida por um sujeito chamado George Dunahy. Era uma pessoa interessada, um dos poucos que vi assim, mas ingênuo demais para chefiar um lugar como aquele. Dunahy, em todo caso, conseguiu com que a Biblioteca Estadual do Maine doasse para a prisão algumas dezenas de exemplares antigos da National Geographic e das Seleções do Reader’s Digest, além de livros encalhados. Mandou estocar tudo num velho quarto que até então era usado como depósito de tintas. Sei disso porque nessa ocasião ele mandou me chamar e disse que dali em diante eu seria o responsável pela “Biblioteca Prisional”. Segundo ele, não havia qualquer condenado com curso superior a não ser eu, o que me tornava o único em condições de organizar aquilo tudo. Aceitei na mesma hora, feliz por me livrar da lavanderia.

Ao entrar no depósito onde as revistas e os livros se esparramavam para fora das caixas, alguns empilhados sofregamente junto à parede, senti o forte cheiro de terebintina e aguarrás. O odor pungente demoraria anos para sair, foi a impressão que eu tive na hora. Mas foi exatamente aí que a vi. Tinha a expressão serena e usava o mesmo vestido da última noite. Dedilhava as revistas, passando a esmo pelas capas de moldura amarela como quem escolhe discos em uma loja.

“Brooks”, disse ela, sem olhar para mim. “Por favor, querido, não se atrase.”

Engoli em seco e balancei a cabeça, tentando espantar a visão. Se você quer saber a verdade, eu fiquei apavorado. Não é sempre que se vê o fantasma da esposa assassinada. Só que o engraçado é que eu continuei ali, assistindo à cena enquanto ela examinava os exemplares com a atenção de uma aluna dedicada.

Tive vontade de perguntar: “Por que você fez isso comigo?”, mas não consegui. Laura estava linda como no dia em que a vi pela primeira vez, os cabelos presos no alto da cabeça, um sorriso discreto nos lábios. “Merda”, foi tudo o que pensei.

Nas semanas seguintes tratei de esquecer o que havia ocorrido. Tratei de me concentrar e arrumar a bagunça. Ocupar a cabeça para não enlouquecer. Estava há quatro anos em Shawshank e teria ainda muito, muito tempo pela frente.

O ambiente era pequeno, mas consegui algumas prateleiras com o pessoal da marcenaria. Deu para dividir os livros em um canto e as revistas em outro. Até então, ler não era uma de minhas atividades favoritas, de modo que eu não conseguiria separar os títulos por tema ou algo que o valha. Mas Dunahy pareceu gostar de mim mesmo assim e mandou que providenciassem um carrinho. A ideia era que eu separasse alguns títulos todas as noites e passasse nas celas antes do horário do silêncio, para que o pessoal escolhesse alguma coisa para ler.

Jamais achei que fosse funcionar. Mas, assim como eu mesmo percebi, estar preso faz com que as preferências mudem. Isso inclui os passatempos e, Deus é minha testemunha, há muito tempo vago na prisão. Ler acaba se tornando uma necessidade.

Os dois exemplares de “As Aventuras de Tom Sawyer”, de Mark Twain, eram disputados a tapa. Creio que as histórias faziam os presos voltar no tempo. Eu os entendia. Já àquela época eu sabia que perder-se nas brumas do passado, mergulhar na nostalgia da infância, é o único prazer que resta a um homem com o futuro comprimido entre grades. Outros dos preferidos do pessoal eram “O Corcunda de Notre Dame” e “Oliver Twist”, ao lado de “Volta ao Mundo em 80 dias”. Aliás, em pouco tempo eu mesmo descobri que o tal Júlio Verne era muito bom com histórias. Num dos livros havia uma chamada para outro romance dele, chamado “Vinte Mil Léguas Submarinas”, que parecia muito bom. Infelizmente, esse exemplar não estava entre os livros doados, o que me deixou frustrado.

Cheguei a pensar em falar com Dunahy, em pedir que ele nos ajudasse a aumentar o acervo, com a secreta esperança de que o “Vinte Mil Léguas” viesse com a nova leva. Infelizmente Dunahy deixou a direção de Shawshank sem que pudesse ouvir meus pedidos. E os diretores que se seguiram não tinham esse pendor cultural, digamos assim, não estavam preocupados se os presos teriam ou não o que fazer, o que fariam ou não fariam com o tempo vago.

Na verdade, meu ímpeto em incrementar a biblioteca se evaporou com minha juventude. A vontade de melhorar, de fazer alguma coisa diferente, simplesmente se desvaneceu como uma tempestade que, embora ameaçadora, não chega a derramar uma gota sequer. A rotina me consumiu e em pouco tempo eu apenas enchia o carrinho, sem nem mesmo prestar atenção ao que colocava lá. Eu jamais leria outro livro de Julio Verne. Aceitara esse destino como inevitável.

Certa noite, já se iam dez anos, vi uma poltrona junto às prateleiras dos Reader’s Digest. Eu a reconheci na mesma hora. Era um móvel que existia em minha casa, na minha outra vida. Estava de costas para mim. Não havia ninguém na biblioteca àquela hora. Ao contorná-la vi Laura sentada. Ela segurava um exemplar de Emily Brontë e parecia bastante concentrada.

“Este livro é ótimo, querido. Você deveria ler também”, disse, sem olhar para mim.

“Por que isso?”, pensei. “Eu não tive culpa, eu…”

Uma voz pequena e urgente me interrompeu.

“Papai, vem ler para mim”.

Senti um nó na garganta. Ellie costumava me pedir para ler para ela na hora de dormir. Eu sempre dava uma desculpa. Não queria, não gostava. Na verdade, Por volta de oito da noite eu só queria sair para jogar e beber.

Em 1934 um ônibus chegou trazendo novos prisioneiros. Ellis Boyd Redding era um deles. Negro, alto e com a voz profunda, Redding, ou Red, como ele preferia ser chamado, fora condenado à prisão perpétua por ter, assim como eu, dado cabo da vida da esposa e da filha. De olho no seguro de vida da mulher, cortou os freios do carro dela e achou que ninguém descobriria.

Nossas semelhanças acabavam aí. Red era um sujeito magnético, o tipo de pessoa de quem todos querem ser amigos. Em pouco tempo criou uma espécie de irmandade em Shawshank. Diziam que até os guardas o respeitavam e que mantinham seus privilégios, e também de seus amigos, em troca de favores. Red conseguia tudo o que queria e logo passou a lucrar com isso. Bebidas? Revistas pornográficas? Jogos? Era só falar com ele.

Certa ocasião pensei em pedir-lhe um exemplar de “Vinte Mil Léguas Submarinas”. Estava certo que ele, com os contatos que tinha, iria consegui-lo sem dificuldades. Porém, acabei adiando e adiando. No fundo tinha medo de que quando tivesse o livro nas mãos, minha vida perderia um pouco o sentido. “Não está precisando de nada, Brooks?”, perguntava Red. E eu respondia “Não, amigo. Obrigado”.

Por sorte ele havia simpatizado comigo.

Algum tempo depois, Greg Stammas foi nomeado diretor da prisão. Ele e seu braço direito, o capitão Byron Hadley transformaram Shawshank numa penitenciária modelo, com todos os pressupostos que isso pode significar, se é que você me entende. Foi mais ou menos nessa época que criaram a pequena fábrica de móveis nos fundos. Sim, e também a horta. Aos olhos da sociedade, tudo parecia maravilhoso, mas Hadley controlava os presos com mão de ferro. Não por acaso, foi quando instituíram as solitárias e as sessões de disciplina diferenciada para que tudo ficasse nos eixos.

Ao completar vinte e cinco anos de pena, fui chamado para uma audiência. Um comitê iria avaliar se eu poderia ser colocado em liberdade condicional. Foi um teatro sofrível. Naturalmente, jamais iriam liberar um sujeito como eu com tão pouco tempo de casa.

Em 1945 eu passava pela oficina que fazia placas de automóveis quando um barulho me chamou a atenção. Um corvo havia caído entre algumas ferramentas encostadas na parede de fora. Por instinto, me abaixei para apanhá-lo. Era uma ave pequena ainda, pouco mais que um filhote.Talvez tivesse se envolvido em uma luta com outro pássaro. Estava com a asa quebrada e não conseguiria voar tão cedo. Não pensei demais. Coloquei-o dentro do bolso interno do casaco e ele pareceu confortável. Dei a ele o nome de Jake.

Ao chegar de volta à minha cela, depois da ronda dos livros, encontrei Laura sentada sobre o catre. Sempre com o vestido azul, as mãos cruzadas sobre as pernas. Ela me olhou, como sempre. Entusiasmado, abri a aba do casaco e permiti que ela visse meu novo companheiro. Ela sorriu e por um momento foi como se nunca tivesse morrido.

Por uma dessas razões inexplicáveis, Jake e eu nos tornamos melhores amigos. Tinha lá seu poleiro na biblioteca e ninguém parecia se incomodar. Dividíamos as refeições e conversávamos sobre a vida. Naturalmente, contei-lhe sobre Laura. E como todo bom amigo, Jake se limitou a ouvir sem jamais fez perguntas embaraçosas.

Cerca de dois anos depois, chegou a Shawshank um sujeito chamado Andrew Dufresne, mas eu só me dei conta de sua existência muitos meses mais tarde. Pelo que eu soube, assim como muitos novatos de cara limpa, Andy caiu nas graças das Irmãs e passou por maus bocados. Claro, era problema dele e ninguém pareceu se importar demais com isso. A não ser Red.

Por algum motivo Red gostou do novato. Creio que foi por causa da natureza peculiar de Andy. Ele não era como a maioria do pessoal de Shawshank. Andy era diferente. Não adulava ninguém, nem mesmo Red. Mas havia algo além disso: o jeito de andar, de falar, de se comportar, era como um homem livre passeando no parque.

Andy havia sido um banqueiro no mundo exterior, e fora condenado pela morte da esposa e do amante dela, um playboy jogador de golfe. Lavou a honra com sangue como alguns diziam, mas não se gabava ou mesmo gostava de falar sobre o assunto. Assim como ocorrera comigo tantos anos antes, foi designado para a lavanderia, mas não ficaria ali por muito tempo.

Dois ou três anos depois, numa época em que o diretor da prisão era um sujeito detestável chamado Samuel Norton, os prisioneiros passaram a ser empregados em construções de estradas e coisas do tipo. Norton queria aparecer, talvez estivesse de olho num cargo político, e usava o pessoal de Shawshank como mão de obra para angariar notícias favoráveis dos jornais. Os presos pouco se lixavam para essas segundas intenções do diretor. Queriam só uma chance para trabalhar fora dos muros da penitenciária. Não que pretendessem fugir, mas sair daquele ambiente fechado, sentir o ar puro e ver outras pessoas, quem sabe.

Foi numa dessas ocasiões, em que um grupo de presos – os homens de Red – impermeabilizava o telhado de uma repartição pública, que a sorte de Andy Dufresne, e por consequência, de todos nós, mudou radicalmente. Segundo me contaram, o capitão Hadley conversava com outro guarda sobre uma herança que iria receber e lamentava-se sobre os impostos que viriam a reboque. Estava de péssimo humor por causa disso. Contrariando todo o bom senso, Andy caminhou até ele – Hadley era um sujeito grande e sem qualquer paciência – e perguntou se ele confiava na esposa. Hadley estava prestes a atirá-lo de cima do prédio, mas Andy conseguiu dar seu recado antes disso. Era só doar o dinheiro para a esposa. Hadley desconfiou, mas Andy era muito persuasivo – era banqueiro, afinal – e acabou convencendo o capitão. Mais do que isso, Hadley, quem diria, aceitou pagar três cervejas para cada homem lá em cima de tão satisfeito. Se eu estivesse lá, teria sido difícil resistir.

Alguns dias depois Andy deixou a lavanderia e, minha sorte, veio trabalhar comigo. Seria meu primeiro assistente na biblioteca em quase trinta anos. Não que eu precisasse de um, ou mesmo quisesse, mas depois de tanto tempo na prisão eu sabia que tudo não passava de um jogo de cena.

Não demorou até que o primeiro guarda chegasse e pedisse conselhos sobre aplicações financeiras. Logo se seguiram outros. Naquele mesmo ano, Andy ajudou metade dos policiais de Shawshank a fazer suas declarações de imposto de renda. No ano seguinte foram todos, inclusive o diretor. Isso tornou-se regra daí para frente. Ano após ano, nessas épocas, Andy precisava de ajuda e, claro, contava com os homens de Red como os ideais para assisti-lo com documentos e formulários.

Andy, porém, soube barganhar. Pediu ao diretor que intercedesse junto ao legislativo do Estado para que a biblioteca da prisão recebesse novos livros. Confesso que também me entusiasmei. Depois de tantos anos, talvez contagiado por aquele rapaz eu sentia vontade de ver aquela biblioteca crescendo, com mais livros, quem sabe até mesmo com um toca-discos para que o pessoal pudesse ouvir Bing Crosby. Escreveríamos uma carta por semana aos representantes, para sensibilizá-los. Norton, com aquela expressão de desdém que lhe era típica, disse que jamais teríamos sucesso, mas que faria o favor de encaminhar a correspondência. Para nós, já era uma vitória.

Contei isso a Laura durante uma sessão improvisada de cinema no refeitório. Ela pareceu satisfeita, feliz com meu entusiasmo. Rita Hayworth se insinuava para Glenn Ford na tela, mas eu preferia olhar minha esposa. Senti uma dor no coração. Meu Deus, como fui capaz…

Certo dia fui chamado novamente ao comitê para avaliação de liberdade condicional. Para minha surpresa, fui aprovado. Sim, aprovado, o que significava que eu deveria deixar a prisão. Entrei em desespero. Eu não podia ir embora de Shawshank naquele momento, quando tudo estava tão bem. Eu não queria, não queria. Sabia que não pertencia mais ao mundo lá fora, que meu lugar era entre aqueles muros de pedra. Mirei meu rosto no espelho e encarei o reflexo. Quarenta anos passados na prisão. Eu agora era um velho com artrite, os olhos fundos no rosto enrugado, os cabelos brancos e as costas arqueadas. Não, eu não podia sair. Estava institucionalizado.

Na manhã seguinte eu estava na biblioteca quando um rapaz chamado Heywood entrou para me dar os parabéns. Senti o sangue ferver. Eu o apanhei pelo pescoço e ameacei cortar-lhe a garganta. Os gritos trouxeram Red, Andy e outros rapazes. Eu lhes dei a má notícia e disse, chorando, que se ferisse Heywood havia uma chance de ficar na prisão. Red me demoveu. Claro, Heywood não tinha culpa de nada.

No dia seguinte vesti um terno que alguém mandara me trazer, um pouco apertado, na verdade. Enterrei o chapéu na cabeça e abracei Jake com as mãos. Aproximei-o das barras da janela disse-lhe que não podia mais cuidar dele, que era hora de dizer adeus. Uma dor terrível. Ele simplesmente bateu as asas e voou. Senti vontade de chorar outra vez, de esmurrar o rosto de Samuel Norton por me deixar sair. Mandaram que eu ficasse em Shawshank a vida toda. Não era justo mudar as regras depois de quase quarenta anos.

No caminho para Portland, dentro de um ônibus da Greyhound, eu custava a acreditar no que estava acontecendo. Não era eu. Parecia uma visão, um mundo fantasmagórico. Segurava minha mala, com o pouco que tinha, como se fosse um escudo. Tinha medo do que iria encontrar. Não veria mais meus amigos, não teria ninguém conhecido para me receber ou com quem conversar. Seria apenas um velhinho cuja história ninguém se importaria em conhecer.

Pela janela do ônibus vi o mundo exterior escorrendo depois de quatro décadas. Era uma máquina do tempo. Tudo havia mudado. Eu tinha visto um automóvel certa vez quando era criança, mas agora parecia existir um em cada esquina.

O Comitê da Condicional indicou um apartamento para eu me hospedar, um edifício decrépito chamado Brewer, no centro de Portland. Serviria como residência enquanto eu me adaptasse à nova vida. Também me conseguiram um emprego: empacotador de um pequeno mercado chamado Food-Way. Era para ser um trabalho tranquilo, fácil, mas eu não consegui me acostumar. Minhas mãos doíam demais e, se isso não fosse o bastante, o gerente não gostava de mim, apesar de só me chamar de Sr. Hatlen.

Depois do serviço, me acostumei a ir ao parque dar comida aos pássaros, com a esperança de que Jake aparecesse para dizer olá. Mas ele nunca deu notícias.

Não conseguia mais dormir à noite. Era assaltado por pesadelos, sonhava que caía. Às vezes acordava perdido, sem saber onde estava, com medo. Pensei em assaltar a Food-Way, quem sabe atirar no gerente. Seria um prêmio. Assim me mandariam de volta para casa. Porém, eu sabia que jamais seria capaz de um absurdo desses. Estava velho demais para esse tipo de coisa.

Senti que meu tempo havia passado, que estava farto de viver com medo e em um mundo que não era meu.

Certa tarde entrei no apartamento. Laura estava lá, sentada sobre a cama. Ellie estava ao seu lado. Uma tristeza enorme me invadiu. Queria pedir-lhes desculpas, dizer que sentia muito, mas antes que eu pudesse articular qualquer palavra, Laura se levantou. Tinha nas mãos um livro. Fitou-me por um instante, a expressão serena, e me entregou o exemplar.

“Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Júlio Verne.

***

Subo na cadeira, os pés vacilantes buscando equilíbrio. Um passo trêmulo e estou sobre a mesa. Com a lâmina do canivete aberta, entalho uma mensagem singela no pórtico. A poeira que se desprende do alto cai sobre meus sapatos. Não me importo.

Guardo o canivete no bolso. Confiro se está tudo firme. Com os pés faço a mesa balançar para um lado e para o outro, até tombar, roubando-me o apoio. Pendurado, vislumbro minha mensagem no alto antes que tudo se apague.

Sim, eu estive aqui.

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29 comentários em “Liberdade Condicional (Gustavo Araujo)

  1. Gustavo Araujo
    18 de novembro de 2014

    Obrigado a todos pelos comentários, pessoal! Tive a inspiração para escrever esse conto depois de ver que este ano comemorou-se o vigésimo aniversário do filme “Um Sonho de Liberdade”. Um sites desses qualquer trazia uma comparação entre a produção cinematográfica e o conto do Stephen King, que lhe deu origem. Muito legal. Como resultado, comprei o livro do SK e li o conto em um só dia.

    Ao contrário do filme, no conto de SK o personagem de Brooks pouco aparece. Aí tive ideia de completar essa lacuna e escrever sobre ele. Imaginar o motivo do crime, o dia a dia na prisão, a função de “gerente da biblioteca”… Para dar a ele um motivo para prosseguir, para continuar vivendo, criei esse desejo pelo livro “Vinte Mil Léguas Submarinas”.

    Fico contente que a maioria tenha apreciado o resultado. Tentei ser fiel ao conto do SK e principalmente ao filme. Agora percebo que poderia enxugar um pouco os trechos sobre Red e Andy. Quem sabe, faço isso numa revisão. De todo modo, obrigado a todos que leram e comentaram. Valeu!!!

    Ah, para os entusiastas, deixo aqui a dica de um blog que encontrei e que traz informações sobre o antigo reformatório que serviu como locação para o filme. Show de bola!
    http://mybonnie.wordpress.com/2014/07/16/brooks-was-here-so-was-pat/

  2. Rodrigues
    17 de novembro de 2014

    o conto é muito bem escrito e na hora que eles estão trabalhando no telhado, lembrei exatamente da cena, que é muito emocionante mesmo. por fim, achei que a homenagem está muito ligada às cenas originais, fiquei esperando mais releituras, que não vieram. contudo, esse autor tem grande potencial de descrição e sabe levar muito bem a história, coisa que tenho dificuldade. parabéns!

  3. Fil Felix
    17 de novembro de 2014

    Gostei do conto, super bem escrito e conseguiu aproveitar muito bem o limite de palavras. Mesmo retratando um grande período de tempo, não me pareceu corrido nem nada do tipo. Achei bonito como retratou o suicídio, a dificuldade em se habilitar ao “mundo real” novamente e a presença da esposa e filha mortas, bastante sublime e não atrapalha a vida do leitor, pelo menos não fiquei pensando “de onde será que ela saiu” e coisas assim.

    Porém, apesar de bonito, não achei nada de muito interessante. Ficou a história pela história. Mas ainda sim é um bom conto.

  4. Wender Lemes
    17 de novembro de 2014

    Baita filme esse, em? Achei uma bela coincidência o pseudônimo do próximo conto ser Morgan Freeman kkk. Você escolheu um tremendo personagem para narrar também, e o fez com maestria. Enfim, gostei muito de ter lido seu conto. Parabéns e boa sorte.

  5. rubemcabral
    17 de novembro de 2014

    Gostei muito: muito boa a ideia de estender a história triste do velhinho da biblioteca. O personagem passou muita veracidade e a ambientação também foi muito competente. As pequenas falhas de revisão não comprometeram, embora eu tenha achado a narração bem simples.
    Muito bom, parabéns!

  6. Eduardo Selga
    16 de novembro de 2014

    Competente a narrativa, ao conseguir dar ao suicídio um ar blasé, como se fora algo comum ou inevitável na trajetória do personagem. Não houve, nesse aspecto, nenhuma dramatização ou glamorização da tragédia, típicos desse cineminha de entretenimento que tantos querem copiar aqui. Isso é um ponto positivo, pois a narrativa textual pode se concentrar nela mesma, sem padrões relativos a outro código de signos narrativos.

    Também a trajetória do protagonista foi mostrada nesses tons pastéis, com algo que me fez ficar ainda mais atento ao texto: a naturalização do fantasmagórico. A esposa do homicida vez por outra surge e nem o protagonista se assusta, nem ela pretende assustá-lo, vingar-se, ou coisa do tipo.

    Contudo, há excesso de personagens e de tramas. Não sei se houve tentativa de uma “fidelidade” ao filmes (ou filmes, não importa), mas há personagens sobrando. Se retirados da narrativa, não fariam diferença. No conto, a pulverização da ação em personagens desnecessários causa, por certo, um enfraquecimento textual. Na verdade, a dinâmica deste texto é a da novela (gênero narrativo), mas o tamanho (o pior critério para se estabelecer o que é ou deixa de ser conto) não.

    Essa valorização da rotina, a que me referi nos dois primeiros parágrafos, de modo algum significa pobreza narrativa. Dentro dessa rotina, o(a) autor(a) consegue pinçar o inusitado, aquilo para o que se dá pouca atenção, sem, felizmente, tentar mostrar o quanto ele(a) é hábil nessa operação. Claro, isso é um jogo de aparência, afinal qual o escritor que não pretende mostrar sua habilidade? Pretendo dizer que, ao contrário de muitos textos aqui postados, este não é explicitamente performático, na medida em que foge da emoção fácil, barata.mas nem por isso se trata de uma obra-prima.

  7. Gustavo Araujo
    16 de novembro de 2014

    O texto mistura o filme “Um Sonho de Liberdade” e o conto que lhe deu origem, “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”, de Stephen King. As lacunas presentes no filme são completadas com as informações do conto. Como novidade neste texto, destacam-se as visões que Brooks tem da esposa assassinada e o desejo pelo livro “Vinte Mil Léguas Submarinas”, fato este condizente com sua situação de responsável pela biblioteca da prisão. Creio que têm razão aqueles que disseram que o “Liberdade Condicional” pode ser enxugado. As alusões a Red e Andy podem ser diminuídas sem prejuízo para o impacto desejado, o foco em Brooks.

  8. Gustavo de Andrade
    15 de novembro de 2014

    Gostaria de começar dizendo que você é um monstro sem coração — me fez lacrimejar com o exato último período. Ao ver que ela estava segurando o livro, já senti um “AH NÃO” e… era Vinte Mil Léguas Submarinas! Espetáculo.
    Ok, fora a puxação de saco: qualquer pecado referente ao seu texto vem do triste fato de que tratamos, aqui, de um conto. A extensão não lhe permitira dar tudo que você quis oferecer ao texto, terminando em um formato — embora impactante — menos orgânico e bem-trabalhado que o ideal. A cena da entrevista, por exemplo. Fez falta um diálogo! A cena do emprego. Faltou alguma comparação, um “eu gostava mais da biblioteca”, ou “o dinheiro que eu ganhava não permitia-me ter metade da vida que levava com Laura”, acho. Assim, findou-se por ser uma história riquíssima e cheia de emoção, mas com elementos faltantes :/

  9. Thiago Mendonça
    14 de novembro de 2014

    Juro que procurei motivos para não dar nota máxima para esse conto, mas não os achei. Sua narrativa é bem sóbria, porém ao mesmo tempo emocionante. “Shawshank Redemption” é um dos meus filmes favoritos e Stephen King meu escritor favorito. Meus sinceros parabéns!

    P.S: achei umas pequenas falhas de revisão, mas que não diminuíram em nada o impacto do seu texto:
    “apanhei muito início” -> “apanhei muito no início”
    “franzinho” -> “franzino”
    “Jake se limitou a ouvir sem jamais fez perguntas embaraçosas.” -> “Jake se limitou a ouvir sem jamais fazer perguntas embaraçosas.”

  10. Willians Marc
    14 de novembro de 2014

    Ótimo conto. Gostei muita da fluidez e da técnica usada pelo autor(a). Mesmo o texto sendo longo e introspectivo (características que eu não gosto muito em um conto), consegui ler de forma rápida e sentir tudo o que o protagonista estava vivendo. Peguei um ou dois errinhos que passaram pela revisão, mas isso não diminui o valor do texto.

    É um dos meus favoritos até o momento.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  11. Andre Luiz
    14 de novembro de 2014

    Primeiramente, meus critérios complexos de votação e avaliação:
    A) Ambientação e personagens;
    B) Enredo: Introdução, desenvolvimento e conclusão;
    C)Proposta: Tema, gênero, adequação e referências;
    D)Inovação e criatividade
    E)Promoção de reflexão, apego com a história, mobilização popular, título do conto, conteúdo e beleza e plasticidade.
    Sendo assim, buscarei ressaltar algumas das características dentre as listadas acima em meus comentários.
    Vamos à avaliação.

    A)Não sei se tenho esta dádiva, mas vou me ater a copiar o colega Piscies: “Clap, clap, clap!” Hatlen é o melhor personagem do concurso até o momento, oscilando entre um breve momento de loucura, uma mescla confusa de sensações ao chegar na prisão, a vida institucionalizada dentro da prisão e o passo para se retornar ao mundo exterior, cruel como sempre foi. Curioso saber que há meios para se domesticar uma pessoa(no caso, não o protagonista), o que, na sociologia e filosofia, estuda-se como microfísica do poder. Com o controle diluído em várias esferas da vida de uma pessoa, fica difícil fugir a ele. É exatamente isto que o conto deixou em minha mente, gravado como s entalhes de Hatlen ao fim do conto. Se viver não era mais uma opção, então que terminasse a vida e fosse junto àquelas que perdera. Dito e feito.

    B)Posso estar completamente errado, porém percebi a prisão como um personagem. Singular, aliás. Ela mexe com as pessoas que estão ali, desde os presos até o próprio diretor, humaniza e desumaniza. Destrói e constrói, ao passo que desanima e reanima. É um ser vivo… Parabéns pela história e enredo impecáveis.

    Considerações finais: Reiterando – “A rotina dá ao homem, mesmo ao homem condenado, um rumo, algo que o faz acreditar, ainda que superficialmente, que basta viver um dia depois do outro para não enlouquecer. Desde que não se façam planos, desde que não se alimentem esperanças.” EXCELENTE! Bravo! Parabéns e sucesso no concurso!

    • Andre Luiz
      16 de novembro de 2014

      Tive de voltar depois que assisti ao filme. E continuo minha opinião: Este conto é o melhor do concurso! Sim, a narrativa, os personagens. Tudo. Quando assisti “Um Sonho de Liberdade”, entendi tudo: A vida na cadeia, a família perdida, a vida fora da cadeia e o deslocamento que Brooks sentiu. Tornara-se docilizado dentro de Shawshawk, e não sabia mais viver fora da prisão. Tinha lá sua família. Tornara-se mais um na rotina. O que no filme já me emocionou, no seu conto fez trazer um rio de lágrimas. Parabéns novamente! Você merece ganhar!

  12. Anorkinda Neide
    13 de novembro de 2014

    Olha, o conto apelou para o emocional, mas não me convenceu.
    A história em si, do suicida, o seu crime, achei meio lugar-comum…
    O episódio presídio, não me fez relembrar o filme, talvez pq eu não tenha assistido, não lembro. Portanto todas as referencias , para mim, se tornaram uma profusão de acontecimentos rápidos e cansativos ao mesmo tempo.
    Gostaria mais se o conto se concentrasse no protagonista de uma forma mais concisa, ou seja, gosto de contos menores..hehehe
    Boa sorte ae!
    Abração

  13. piscies
    12 de novembro de 2014

    clap clap clap clap. Isso aqui é uma obra prima.

    A abordagem de Sonho de Liberdade pelos olhos de Hatlen foi uma sacada genial. A história ficou emocionante e riquíssima de detalhes. Li seu conto como se estivesse vendo o filme novamente, com cenas diferentes. Ficou bom demais.

    O personagem principal foi muito bem trabalhado. O leitor entra na cabeça dele, sente o que ele sente, vê o tempo passar como ele vê. Até mesmo a mente do psicopata é bem retratada aqui: o fato dele achar que a culpa não foi dele, e demorar anos até começar a entender que talvez ele tenha alguma culpa em tudo o que ocorreu.

    Me senti lendo um livro durante alguns minutos… até que o conto acabou. Pena ter o limite de palavras, rs. Gostaria de ler mais. Está excelente!

    Parabéns e boa sorte!

  14. JC Lemos
    11 de novembro de 2014

    Olá, tudo bem?

    “Um Sonho de Liberdade” é um dos meus filmes favoritos. e aqui você conseguiu fazer jus a obra. Sua narração é muito boa, nos levando através das nuances, fazendo-nos viajar nos anos de arrependimento e perdão do personagem.
    Achei bem tocante, e desde o início, já imergi na atmosfera do filme.

    Entretanto, não gostei de algumas passagens, pois foram apenas um apanhado do que aconteceu no filme. Nada de inovação durante uma grande parte. E achei que os personagens principais do filme, tiveram um foco muito grande na história. Queria saber mais sobre Brook, assim como foi no começo. Essas coisas não tiraram a qualidade do conto, mas sim um pouco do brilho.

    De qualquer forma, é um texto muito bom, bem narrado e permeado de emoções.
    Parabéns pela obra!
    Boa sorte!

  15. Claudia Roberta Angst
    11 de novembro de 2014

    O filme “Um Sonho de Liberdade” é um dos meus favoritos. O conto, apesar de bem longo, consegue prender a atenção do leitor. O isolamento e arrependimento do personagem é tocante, a ponto de nos convencer a perdoá´-lo em alguns momentos. Não houve erro algum que tenha atrapalhado a leitura. Boa sorte!

  16. Brian Oliveira Lancaster
    10 de novembro de 2014

    Meu sistema: essência. Impressionante. Li poucos textos que conseguiram me prender do início ao fim, sendo de um gênero totalmente diferente do que gosto. Lembrou muito o filme “Um sonho de liberdade” e com Júlio Verne sendo o quase mentor-fantasma-mote do personagem, me conquistou. Não tenho mais o que dizer. Notei que faltou apenas um conectivo em uma frase lá no início, mas não atrapalhou em nada a experiência. Já pra lista dos favoritos!

  17. Jefferson Reis
    10 de novembro de 2014

    O pessoal bate muito na tecla de que um conto não pode ter muitos personagens. Discordo. O(a) autor(a) de Liberdade Condicional conseguiu contar a história (ou parte dela) de pelo menos dois deles. Isso é muito legal.

    O que muitos encaram como “gordura extra”, recebo como bônus.

    B. Hatlen é um ótimo narrador. Há algumas vírgulas e palavras faltando em certas construções, mas nada que atrapalhe a leitura.

    Outra tecla repetidamente batida é a de que o tempo diegético do conto deve ser rápido. Nem sempre, pessoal. Qual é o problema em contrariar a regra se isso não prejudicar a narrativa?

    Ok. Gostei do conto, mais pela técnica narrativa do que pela trama, mas gostei de ambas. Parabéns ao autor.

  18. Virginia Ossovsky
    8 de novembro de 2014

    Gostei muito do conto, a história é tocante. Apesar de tudo que o narrador fez, senti pena dele, principalmente quando “via” a esposa, sinal de que passou o resto da vida com remorso. Parabéns e boa sorte !

  19. Leonardo Jardim
    7 de novembro de 2014

    O texto é muito bom, emocionante e bem escrito. Faz muito tempo que vi o filme e infelizmente não peguei a referência lendo o texto, o que me atrapalhou um pouco na compreensão, já que não lembrei dos personagens.

    Lendo os comentários, relembrei o filme e as coisas fizeram sentido. Aliás, foi ótimo relembrar essa emocionante obra de Hollywood. Esse desafio está sendo ótimo para isso: já estou me preparando para ver ou rever muitos dos filmes aqui citados.

    O único defeito do conto é que alguns personagens e passagens do filme foram narradas, mas não acrescentaram muito à trama do conto. Os personagens principais do filme, por exemplo, poderiam ter sido citados somente como brindes, mas acabaram recebendo um espaço acima do ideal.

    De qualquer forma, não atrapalhou a excelente qualidade do conto. Mais um grande texto para este certame. Parabéns e boa sorte!

  20. daniel vianna
    7 de novembro de 2014

    Muito bom texto, com a gradativa transformação do personagem; a loucura consistente na visão da esposa falecida, o que também, apesar de contraditório, auxiliou em sua recuperação moral. Contraditório se considerarmos o aspecto da sanidade, evidentemente, já que a visão da mulher, óbvio, levou à reflexão do crime cometido. A lamentação pela saída de um lugar do qual já se sentia parte, o que também conduz a mais uma boa reflexão. Entretanto, acho que o texto, por melhor que seja, também merecia alguns cortes. Talvez toda a parte que diz respeito ao personagem do banqueiro pudesse ser extirpada. Porém, nada que comprometa a qualidade do conto. Sucesso.

  21. simoni dário
    6 de novembro de 2014

    O filme escolhido para o conto é muito bom, como já foi comentado. Eu, particularmente, assisti mais de uma vez.
    Você fez de um personagem coadjuvante, o protagonista. Boa ideia. Só que a impressão que tive lendo o texto é que você usou passagens e frases idênticas as usadas no filme e me parece que com boa parte do texto foi assim. Desculpe se estou errada, mas transmitiu essa “cola”, e disso não gostei.
    O conto é bem escrito, bem narrado, entretanto um pouco longo e arrastado o que me fez querer chegar logo no final.
    Gostei do filme e personagem escolhidos. O final, tal e qual, já era conhecido.
    Boa sorte!

  22. Fabio Baptista
    6 de novembro de 2014

    ======= TÉCNICA

    Muito boa – clareza, fluidez, respeito às normas gramaticais.

    Faltou, porém, um pouco de ousadia. A narrativa é muito “certinha”. Não estou sugerindo nenhum malabarismo literário, mas uma metáfora mais elaborada (de preferência relacionada ao universo da prisão), alguma gíria específica que marcasse mais a “fala” do protagonista, ou algo do tipo.

    – Ellie veio ao socorro dela
    >>> Trocaria esse “dela” por “da mãe”

    – Apanhei muito início
    >>> Faltou um “no”

    – as histórias faziam os presos voltar no tempo
    >>> Aqui não tenho certeza… confesso que nunca entendi muito bem essa regra, mas a princípio acho que ali deveria ser “voltarem no tempo”. Se alguém mais gabaritado puder elucidar a questão, agradeço. (O Pasquale fez um artigo sobre isso recentemente, mas não estou encontrando agora).

    – institucionalizado
    >>> Acho que esse deveria ser o título do conto

    ======= TRAMA

    O filme escolhido é excelente e esse ponto de vista do velhinho da biblioteca foi uma sacada muito boa.

    Todo o recheio criado pelo autor para as lacunas ficou ótimo, mas há um pequeno grande problema – não combina com o formato “conto”.

    O período da história ficou muito grande, cobrindo toda a vida do personagem, praticamente. Seria fantástico em um romance, mas aqui, em 4.000 palavras, as abordagens de muitos eventos ficam superficiais, corridas, concedendo pouco tempo para nos afeiçoarmos aos diversos personagens que cruzam a vida do protagonista.

    Tchecov diz que se uma espingarda aparece em um conto, logo ela tem que atirar. Aqui apareceram várias espingardas que não atiraram (muitos personagens que serviram só para trazer lembranças do filme e não agregaram muito à trama, eu quero dizer).

    Mesmo com os eventos tendo passado de forma corrida, o final ficou muito bom, deixando o leitor triste pelo personagem.

    ======= SUGESTÕES

    – Tentar colocar algo no jeito de narrar do personagem que o distinguisse de um “narrador padrão”.

    – Aprofundar-se mais em uma quantidade menor de eventos.

    ======= AVALIAÇÃO

    Técnica: ****
    Trama: ***
    Impacto: ***

  23. Sonia Regina
    6 de novembro de 2014

    Gostei muito da sua história. Bem escrita, o suspense vai envolvendo o leitor devagar, as mudanças de sentimento do personagem visíveis em suas ações e pensamentos, me lembra um conto de Stephen King que tem um final feliz – o prosioneiro foge e leva um amigo consigo, depois de uma fuga pra lá de horrivel. E fica sempre a dúvida se o personagem (do SK) era culpado ou inocente. Já o seu, claramente culpado, castigado pela culpa, carrasco de si mesmo.
    O fio condutor é muito bom.

  24. Maria Santino
    6 de novembro de 2014

    Oi!

    Ah! Eu adoro esse filme, acho que o assisti quando tinha uns 14 ou 15 anos, chorei pacas com o final (naquele tempo eu já gostava de fatalismos, mas o final desse filme é joia!). O Filme é baseado em um dos contos do Stephen King, não? Nessa coletânea tem também aquele que levou à criação de “Conta Comigo”, que também é outro ótimo filme (nunca li essa coletânea, li pouco do King – acho que só uns três livros e só me envolvi mesmo com o Cemitério. Tenho que remediar isso 😦 )
    Bem, eu gostei, as melhores partes são aquelas onde o Andy Dufresne entra na trama, mas você abordou outro personagem que também é cativante e tem um final trágico muito bom. Eu já sabia o que iria acontecer, mas esperei para ver algo além (ainda que tenha gostado) desejei algo mais. Acho que se você focasse mais na angústia do velhinho quando ele está fora da cadeia não teríamos a sensação de se estar vendo o filme mais uma vez (mas isso não é ruim, só é pouco ousado).
    Isso escapou da revisão: Apanhei muito (no) início […] limitou a ouvir sem jamais fez (fazer) perguntas embaraçosas.
    Gostei, mas sinto que gostaria mais se você me oferecesse mais. Desejo sorte. Abração!

    • Maria Santino
      6 de novembro de 2014

      Sei lá, mas me deu uma vontade de dizer: O filme em questão trata-se de “Um Sonho de Liberdade” com Tim Robbins e Morgan Freeman. Para os que já viram e captaram, desculpe a intromissão, mas para os que ainda não viram o filme, assistam vão se amarrar, é um dos melhores filmes de vingança, manutenção de nossa integridade mental, nossa liberdade, que é um dos bens de maior valor. Sucesso!

  25. Wallisson Antoni Batista
    6 de novembro de 2014

    Sempre adorei textos que envolve algum tipo de perda seguido de remissão, particularmente é um conto com grandes chances de vitória. O enredo está ótimo, a ortografia também, a história é bem especifica e muito bem organizada. Para mim foi o melhor conto que li até o momento.
    Os detalhes do crime, da prisão e do personagem em si contam muito em um competição como está. A ternura na amizade com Jake, seu melhor amigo foi o que mais me chamou a atenção na história.
    Muito bom, parabéns.

  26. Ledi Spenassatto
    5 de novembro de 2014

    Boa a sua História. Gostei muito! Só o início, no primeiro parágrafo, fiquei indecisa, você iniciou o conto parecendo narrar em terceira pessoa e no entanto, a partir dai, seguiu narrando em primeira pessoa. Alguns, poucos, acertos serão necessários. “Apanhei muito início”.

  27. Lucas Rezende
    5 de novembro de 2014

    Parabéns!
    Adorei a forma como retratou a sanidade do personagem se esvaindo. Me apeguei e torci para que ele ficasse na prisão com o Jake rs. O tamanho ficou muito bom, não se prolongou demais e não ficou nenhuma ponta solta.
    Achei o conto bastante refletivo, os anos vão se passando e o personagem realmente já não faz mais parte do mundo exterior. O final ficou ótimo, que ele se encontre com a esposa e filha.
    Boa sorte!!!

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Publicado às 4 de novembro de 2014 por em Filmes e Cinema e marcado .
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