EntreContos

Detox Literário.

A hora eterna (Felipe Holloway)

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Os espinhos da rosa que estampava o lençol ainda estavam cravados na carne depois que despertou. Vinda da janela entreaberta, a obscuridade no quarto parecia típica tanto da aurora quanto do ocaso, confundindo-a momentaneamente sobre as horas. Sensação perturbadora, a de perder-se assim no tempo, como no espaço. Talvez similar, embora menos desesperadora, à do mergulhador que se esquece para qual lado fica a superfície, ou do cataléptico enterrado vivo num planeta sem gravidade, sem saber em que direção deve cavar.

***

Este conto faz parte da coletânea “Devaneios Improváveis“, Segunda Antologia EntreContos, cujo download gratuito pode ser feito AQUI.

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24 comentários em “A hora eterna (Felipe Holloway)

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  2. Thata Pereira
    12 de julho de 2014

    Não é toda vez que descobrimos a autoria do conto logo no primeiro parágrafo, ou será que é, Sr. autor? rs’ Sou suspeita para falar que é belo, como tudo que você escreve…

    Boa Sorte!!

  3. Bia Machado
    11 de julho de 2014

    Muito boa a narrativa, a tensão crescente, os detalhes que parecem querer fazer a gente se distrair, ao mesmo tempo em que parecem querer fazer com que a gente aos poucos vá descobrindo e tendo a certeza do que há por trás disso tudo (quase como uma criptografia, um anagrama, rs). Infelizmente, não posso dizer que gostei de tudo, pois o final, principalmente ele, me incomodou, pois ele é mais do que aberto, a meu ver, ou talvez por ser abrupto, não sei explicar. Só digo que essa foi a sensação dessa minha leitura. Talvez eu quisesse mais explicações, mais resolução para alguns porquês, os motivos do pai, uma construção maior da rotina da família. Céus, isso dava uma novela, um romance, e se o autor assim o quisesse, bem poderia ser publicado pela Caligo! =) Mas essa é a minha querência no momento, talvez em outra leitura eu me satisfaça com o conto na forma como ele se apresenta aqui, nesse post. De qualquer forma, parabéns pelo trabalho!

  4. Pétrya Bischoff
    3 de julho de 2014

    Cara, eu li esse conto com uma sede, ansiando pelo próximo parágrafo mais pelo lirismo da narrativa que pela estória. Primeiramente, pensei que a guria havia se afogado, depois, que havia fugido/sido sequestrada e morta e, quando, após a leitura da carta o conto acaba, fiquei sem entender nada. Fui, então, aos spoilers dos amigos leitores. Ah!, ela realmente estava presa no porão! Hmmmmm. Reli o conto e entendi.
    Gostei de tudo, o que mais me causou aflição foi não ter assimilado de primeira haaha’ Parabéns e boa sorte 😉

  5. mariasantino1
    30 de junho de 2014

    Hey! Gostei da ousadia 😛

  6. Fabio Baptista
    28 de junho de 2014

    Acho que serei o do contra aqui…

    Gostei do texto, sim. Porém isso ocorreu, numa proporção bastante desbalanceada, muito mais pela qualidade da escrita do que pela história.

    Só uma frase pareceu ter escapado na revisão:
    “aquele trecho do dia a entristecia comprovava sua tese”
    Acho que faltou um “e” ou uma vírgula em algum lugar aí (ou eu não captei o espírito da frase mesmo).

    As figuras de linguagem são muito boas (e aparentemente denunciam a autoria! :D), algumas beirando a genialidade, como a dos insetos, destacada pela amiga Maria Santino e “Os espinhos da rosa que estampava o lençol (…)” que abre o conto, destacada pelo amigo Eduardo Selga.

    Porém, algumas (apesar de criativas) me soaram um pouco exageradas, como a do cataléptico enterrado vivo. Ok, isso remete à própria Alice, enterrada no porão, mas achei desnecessário duas metáforas para se explicar a mesma sensação (ficaria apenas com a do mergulhador). A reflexão sobre as sombras também me pareceu inserida meio na marra, para que pudesse retornar no desfecho e justificar “A Hora Eterna”.

    Fiquei com a sensação que a técnica foi utilizada de maneira gratuita, para dar carne a uma trama muito simples. Só a técnica pela técnica acaba ficando cansativa e os 2/3 iniciais da história se arrastam.

    O final, com a perspectiva da resolução do mistério, melhora, ganha em dinâmica. Porém não me senti resolvendo a charada junto com a protagonista. Acho que o texto ganharia muito se conseguisse aplicar uma solução estilo (Deus que me perdoe) Dan Brown, onde o leitor consegue ver as peças do quebra-cabeça sendo montadas, não apenas o autor dizendo “A solução do criptograma foi…”.

    Fiquei na dúvida sobre como a carta recente foi parar na estante. O pai levava o livro da Alice para a filha ler?

    O final aberto não me desagradou, acho que não caberia narrar o resgate.

    Em resumo – muito bem escrito, mas não me conquistou dessa vez.

    Abraço!

  7. Edivana
    27 de junho de 2014

    Perfeito o conto. Uma linguagem maliciosa, uma tristeza infinita, um desfecho cruel! Parabéns.

  8. rsollberg
    26 de junho de 2014

    Demais. Muito bem escrito e conduzido.

    Adorei essa sacada “Talvez similar, embora menos desesperadora, à do mergulhador que se esquece para qual lado fica a superfície, ou do cataléptico enterrado vivo num planeta sem gravidade, sem saber em que direção deve cavar.”

    A tese da sombra também é ótima.

    As analogias são fantásticas:
    “espécie de apêndice que, em vez de inflamar, infeccionava, juntando toda sorte de parasitas — dos literais aos metafóricos; do mofo às lembranças.”

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  9. Anorkinda Neide
    26 de junho de 2014

    Oh.. agonia bem feita!!! poxa!!!!!

    Faça o favor de escrever o salvamento da garota! afffffffffff :p

    Muito bom, muito inteligente!
    Confesso q li trezentas vezes o final e mais umas duzentas o conto todo…
    e gostei imensamente de fazer isto!

    Entendi que há 9 anos, a garota está enclausurada. E fazia três anos que a mãe teve o incidente no porão, onde ouviu os barulhos, sem nada desconfiar… mas o sonho com o rato queria lhe avisar…

    Olha, meus parabéns!

    • Anorkinda Neide
      26 de junho de 2014

      ahh lembrei… que a primeira coisa que eu queria comentar era o papo todo sobre as sombras.. mas depois me concentrei no porão e esqueci…

      Esse trem dá poesia, viu?! 🙂

      • Anorkinda Neide
        27 de junho de 2014

        ahh lembrei de outra coisa que eu queria comentar… um erro gritante do conto!
        Uma mãe jamais se esquece do rosto do filho(a)
        sem chance
        invente outro motivo para q a mulher visite o porão :p

        não importa qt tempo passe, a mulher jamais esquece o rosto do rebento.. salvo se for atacada pelo alemão Alzheimer!

    • Claudia Roberta Angst
      26 de junho de 2014

      É mesmo, acho que o intervalo de tempo do sumiço da moça é maior do que eu pensava. No entanto, não invalida em nada a ignorância da mãe quanto ao paradeiro de Alice… Como a personagem de Lewis Carrol, a menina caiu em um buraco (porão), no oco da fantasia – doente do pai. Cada vez que leio, acho mais interessante.

  10. Eduardo Selga
    25 de junho de 2014

    Poiésis e techné. A construção poética aliada à competência narrativa. Falando não especificamente deste conto, para que ambos os elementos estejam presentes não é necessária a filigrana, o excesso vocabular de alguns textos que se pretendem poéticos. Porque a poesia está muito menos na palavra em si (muitas carregadas de um simbolismo já exaurido) que em sua contextualização sintática.

    Entrando no conto, é em função do que afirmei acima que “Os espinhos da rosa que estampava o lençol ainda estavam cravados na carne depois que despertou” é uma construção poética. Não é tanto pelo emprego de “espinhos da rosa”, imagem clichê em literatura, normalmente associada ao sofrimento causado pelo amor, e sim pelo fato de que essa rosa “estampava o lençol”. O que fere não é uma metáfora, nem a planta em si: é uma estampa. É esse estranhamento que gera a sensação poética. Todo o texto segue esse entalhe na palavra.

    Quando um texto literário é uma virtuose estilística, como o presente conto, certas questões canônicas relativas à regras de produção textual deixam de ter tanto valor. É como se a excelência da arquitetura de uma casa nos fizesse relevar a segundo plano um outro cômodo mal desenhado.

    Digo isso em função de que se o pai não deixa clara sua motivação para a atitude por ele tomada, isso é de importância menor no conto: a orquestração textual vale mais. O conto ganha com a presença dessa sombra. Afinal, num conto tão carregado de significados, é preciso que o leitor construa suas pontes e encontre os seus.

    Parabéns.

  11. Rodrigues
    25 de junho de 2014

    Na dificuldade comentar este conto aqui, peço ajuda aos universitários que, se fossem tão inteligentes quanto os do Silvio, não poderiam me ajudar. Faz-se necessária uma revisão na educação brasileira, inclusive na minha. Bem, é isso, é isso que um conto de fantasmas como esse – mesmo sem a presença dos ditos-cujos de flanelas brancas – faz com a gente. Parece reavivar uma vontade de exprimir o que deixamos de lado a um tempo atrás, torna-nos livres, sei lá. Por mais que seja rico em teoria e descrição, nos levando a perguntar se estamos numa pegadinha entre a unidade e a pluralidade, traz indagações. Como é que o cara consegue colocar numa história tão boa e forte, que só não me ganha todo pelo desfecho, essa história das sombras, a bela imagem do trabalhador vendo o céu (claro, o céu é a escuridão) tocar o fim das luzes da tarde e o cotidiano – morbidamente entediante e personificado pelos ratos que molham as tarefas domésticas (pia, porão, chocolate)? Me parece que esse autor fez um acordo com seus sonhos ou algo do tipo. Ótimo conto!

  12. Jefferson Reis
    24 de junho de 2014

    Será que Alice ainda está viva? Viva, todos esses anos, escondida no porão de um porão? Seria possível que a mãe não percebesse?

    Não sei, só sei que o último conto enviado ao desafio estará entre meus favoritos.

    O uso do nome, Alice, foi realmente muito adequado. Submundos e matemática.

    • Claudia Roberta Angst
      24 de junho de 2014

      Gostei tanto deste conto, que já vou me intrometendo…rs. O intervalo de tempo é de três anos, não é tão grande assim. Casos famosos de jovens aprisionadas em porões por seus pais ou outros algozes revelaram uma completa ignorância dos mais próximos. As pessoas acreditam no que querem que seja a verdade.
      O trecho: “(…) ruídos mínimos que pareciam originar-se nas próprias entranhas do terreno.” sugere para mim que Alice ainda está viva e aguardando ser resgatada pela mãe.

      • Jefferson Reis
        24 de junho de 2014

        Também acredito nisso!
        Vou reler o conto com mais cuidado para encontrar outras sutilezas.

      • Claudia Roberta Angst
        26 de junho de 2014

        Relendo, parece que o intervalo de tempo foi maior mesmo. O que não altera o teor do conto, muito pelo contrário, aumenta a densidade do sofrimento materno. O caso mais famoso – o austríaco Josef Fritzl manteve a filha, Elisabeth, presa durante 24 anos no porão. Chocante, mas aconteceu.

  13. Marcelo Porto
    23 de junho de 2014

    Excelente!

    Confesso que até o meio achei cansativo, mas o terceiro ato justifica completamente a exposição detalhada da melancolia da narradora.

    Reli o desfecho algumas vezes, e isso é muito bom!

    Parabéns, vai para o pódio!

  14. tamarapadilha
    23 de junho de 2014

    Olá. Bom, gostei muito da sua forma de narrativa. É profunda, intensa, vai construindo aos poucos a cena na mente do leitor, além de você ter conseguido, de forma intencional ou não deixar a impressão de que se tratava de uma criança, a filha sumida e que ela realmente tinha sumido, sido morta, sequestrada, e não fugido. Uma coisa que me chamou atenção foi o seguinte trecho: “tanto da aurora quanto do ocaso,”. Seria ocaso mesmo ou foi um grande erro de ortografia?
    Boa sorte.

    • Fabio Baptista
      28 de junho de 2014

      É “ocaso” mesmo.
      ocaso = momento em que o sol se põe

      “tanto do nascer quanto do pôr do sol”

      Abraço!

  15. mariasantino1
    22 de junho de 2014

    Nossa! O que você fez comigo? Estou zonza, o que foi isso?
    .
    Adorei seu domínio narrativo, você tece lentamente a trama na cabeça do leitor e alinhava de uma maneira que me deixou embasbacada. Eu não senti sobras, tudo o que você ofereceu teve um propósito, tudo amarrado. As sombras que retornam no fim, foi uma bela sacada.
    .
    Ri dessa frase: “perturbou a paz de insetos que há gerações julgavam mítica a existência dos seres humanos” e dessa também: “Mas os arianos não eram imunes a disfunções genéticas?”, ironizava o narrador.
    .

    Gostei tanto da forma que você me conduziu que me sinto ainda imersa, mesmo após o término da leitura.
    .
    Parabéns mesmo pelo seu domínio (sabe o que quer repassar e o faz sem pressa)
    .
    Um Abração!

  16. Claudia Roberta Angst
    22 de junho de 2014

    Uau! Comecei a leitura achando que era mais um conto em prosa poética, muito bem escrito, com imagens bem elaboradas e…Nossa, fui sugada para dentro da narrativa e quase fiquei trancada no porão. Não vou nem falar do seu talento que isso seria uma redundância bem chatinha. Adorei. Boa sorte só para mim, tá? No alto do pódio, com certeza, é o seu lugar. Abraço.

  17. Tiago Quintana
    22 de junho de 2014

    Gostei bastante, exceto do final. O que era uma história triste (mas escrita de maneira tão bela!) sobre uma mãe tentando conviver com a dor da filha que a desprezava a ponto de fugir, repentinamente tornou-se uma história de suspense (sem resolução) sobre um pai que, sem razão aparente no texto e sem nenhuma indicação disso até então, mostrou-se uma espécie de psicopata.

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Publicado às 22 de junho de 2014 por em Tema Livre e marcado .
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