EntreContos

Detox Literário.

Os Animais – Crescer (Maria Santino)

rosary

Querido diário.

Foi por um triz. Quase vi mamãe transformar-se em uma cadela hoje à tarde. Sabe a Tila? A vira-latas que morreu três dias após a morte de papai? Então, mamãe ficou com a mesma expressão dela quando desejava um osso. Vi seus olhos saltarem e ficarem brilhosos e marejados, cheios daquele ar súplices dos cães prestes a ganhar sua refeição, e tal atitude era direcionada a padre Osório. Já faz algum tempo que mamãe tem agido assim, sinto que há algo diferente em seus modos.

A primeira vez que vi aquele seu gingado nos quadris foi um pouco antes de papai morrer de câncer, ela ia à missa sempre e se mostrava chorosa, mas bastava padre Osório aparecer para vê-la mudar rapidamente de expressão e fazer aqueles movimentos nas ancas nos bancos da igreja; sorrindo de maneira abobalhada para ele, da mesma forma que um animal doméstico fica feliz ao ver seu dono.

Os adultos sempre me pareceram estranhos, agem como se escondessem algo e quando olham uns para os outros, não se pode entender se estão sendo corteses de fato ou se tudo não passa de encenação. Às vezes acho que eles desejam comer uns aos outros.

Lembro de quando escutei sobre a criação do mundo na missa, sempre achei que faltava algo naquela narrativa, mas depois da aula de ciências da última sexta, quando a professora disse que existe uma teoria de que todos nós viemos da água e que somos o resultado de anos de evolução, algo passou a martelar em minha mente: e se fôssemos humanos e bicho ao mesmo tempo? Se cada um de nós nascesse com um animal interno que ora age por nós e ora nós o dominamos? Então, quando há a morte da matéria a fera interna que temos é liberada no universo. Tais pensamentos me amedrontam, não quero virar fera um dia.

 

Querido diário

Mamãe me surrou de novo, ela acha que faço de propósito e tenho certeza de que uma leva dos adultos também pensa assim de todo aquele que possui alguma deficiência, possivelmente acham que as pessoas querem mesmo ser o centro das atenções e piadinhas. Não há nada de errado comigo exceto minha fala, tenho sérios problemas de gagueira, mas mamãe acha que isso é bobagem e que me batendo possa falar mais rápido. Ninguém imagina o que sinto quando isso acontece, é como se estivesse me afogando, falta-me ar e sobra desespero.

Tal surra foi por não conseguir cumprir seu mandado da maneira que me foi proposto, mas o fato é que quase vi o que padre Osório alberga consigo. Sempre achei sua aparência semelhante à de um porco: suas carnes roliças e rosadas, o rosto inchado e brilhoso, e quando suas mãos afagam meu rosto, sinto cheiro de sebo desprendendo delas. Sabe sebo? Aquele cheiro rançoso que fica na virilha após um dia inteiro sem tomar banho? Pois é… este cheiro mesmo. Minha mãe mandou que levasse uma tigela de biscoitos para ele, ultimamente ela tem feito muitos quitutes e visitas para o padre, acho que tudo isso tem a ver com as feras que mencionei antes, mas temo que ambos possam se machucar, afinal, há faíscas nos olhos deles, uma espreita que não entendo, mas sinto.

Desci a trilha que fica atrás da casa do senhor Augusto, ele é um homem bom, era amigo de papai e todas as vezes que o vejo sinto o mesmo que sentia pelo meu pai. Acho que ambos são pássaros, mas ele ainda está vivo e duelando com seu animal interno, ao passo que papai deve está em algum lugar nas nuvens me observando em sua forma primitiva.

Cheguei à igreja em um piscar de olhos, odeio vir sozinha a este lugar, se conseguisse falar com alguém sem despertar riso poderia ter algum amigo. Ninguém sabe, mas temo essas imagens sacras, para mim esses olhares graves são sempre sentenciosos. Acima do púlpito a enorme imagem de Jesus Cristo preso em uma cruz me fitava, lembro que mamãe disse uma vez que é por nossa culpa. E isso me deixa triste e dá um nó no cérebro, mas cheguei a conclusão de que ela não sabe de tudo, ou não consegue explicar as coisas da forma que eu possa entender.

Chamei padre Osório várias vezes, ele não me ouviu, fui entrando mais e mais sem tirar os olhos do recipiente com água benta, imaginava que todos os demônios de exorcismos pudessem sair dali. Por Deus! Como tenho medo de igrejas! Caminhei pé ante pé para o quarto do padre, ele estava nu, sentado na cama e de costas para mim, sua batina estava sobre uma cadeira e suas carnes tremelicavam enquanto dava pequenos urros abafados. Vi as mãos se movimentarem rápido subindo e descendo próximas a virilha, e tive medo de ver sua verdadeira forma, por isso me agachei.  Muitas coisas passavam por minha cabeça e meu peito disparava. Então, vi um líquido viscoso descer pelas pernas dele e seus grunhidos aumentarem.

Saí, deixando a vasilha na porta, sabia que mamãe me mataria se quebrasse aquilo. Após chegar em casa e não conseguir dizer nada ela me bateu com suas mãos enormes. Às vezes penso que queria que meu pai estivesse vivo ao invés dela.

 

Querido diário

Hoje tive certeza de minhas teorias, os adultos são animais às vezes, Padre Osório e mamãe agiram como cães hoje, ou uma mistura de porco e cachorro. Eu rezava naquela igreja as cem Aves Marias que ele havia mandado rezar por desobedecer minha mãe. É sempre assim: joelhos curvados repetindo palavras e palavras, castigos sobre castigos sem fim.

Enquanto rezava, ambos seguiram para o quarto dele. Não consegui me concentrar, pois pensava que ele pudesse machucá-la, então os segui. Não quis ver nada, tinha medo de abrir os olhos e observar o que faziam. A porta estava entreaberta, mas preferi permanecer de olhos fechados e só escutar.

– Você não teme que ela possa nos ver?

– Nada! Ela é lerdinha, já nasceu assim. Tanto que fiz… chás, pílulas… Mas, ela vingou. Essa cruz!

– Que horror, meu bem! Aborto é pecado aos olhos de Deus.

Logo, ouvi grunhidos dos dois e sons como os de carne sendo surrada, e aquilo me deixou tensa. Depois de um tempo veio os risos e sussurros.

Corri para o banco e eles reapareceram com aquele olhar dissimulado para mim como se dissessem: será que ela sabe de nosso segredo? Sabe o que somos na verdade?

 

Querido diário

Preciso de ar, pois ultimamente náuseas tem me acompanhado desde aquela noite na igreja, me sinto sufocada, e partir de hoje nossas conversas serão no quintal de casa. Os restos do almoço misturado às folhas secas no chão me dão nojo, não quero vomitar de novo.

Agora a pouco, tomei um graveto nas mãos e desfiz uma teia de aranha sem nenhum motivo aparente. Fiquei pensando neste ato banal frente ao dom que aranha possui, o tempo que levou juntando cada fio… E… se alguém me perguntasse o porquê de ter feito isso, temo em dizer, mas, não há outra resposta a não ser aceitar que este foi o primeiro indício de que a fera está começando a agir dentro de mim

A cada dia que passa me convenço que nada faz sentido nessa vida e ninguém se preocupa em me explicar qualquer coisa.

34 comentários em “Os Animais – Crescer (Maria Santino)

  1. Evelyn Postali
    26 de janeiro de 2017

    Mulher… Fui lendo como quem passeia em uma bela manhã e, lá pelas tantas, tomo um tombo danado porque subiu o nó. Me estatelei no chão porque topei com um cenário daqueles de interior, de coisa atrasada, de putamerda! Soltei um palavrão. Aqui, o nó, chamam de ‘gropo’, no dialeto. Eu não devo ter lido muitos contos do tipo diário. Essa sua história é de revolver as entranhas pela atitude da mãe frente à filha. Nem tanto pela atitude do padre. É de uma crueza, não? No bom sentido. Uma linguagem dura, que machuca. Não tenho certeza se leria duas vezes essa história pelo que ela provoca em mim. O título coube feito luva na minha interpretação do contexto. Parabéns.

  2. felipeholloway2
    12 de julho de 2014

    Bom, a escrita é, salvo pequenos deslizes, bastante acurada. O problema são os personagens esquemáticos. O padre hipócrita e a mãe bruxa são quase caricaturas. E a reflexão sobre a porção animal do ser humano é bem simplista.

  3. tamarapadilha
    11 de julho de 2014

    Fiquei surpresa. Ao começar a leitura não dava nada pela história, mas me surpreendeu. Ficou bacana e eu gosto muito de narrações em forma de diário. As comparações da menina com sermos animais foi um ponto bastante forte e interessante. Parabéns, boa sorte.

  4. Cristiane
    10 de julho de 2014

    Penso que ficou tudo muito explicadinho, não deixando margem para a imaginação do leitor. Talvez funcionasse melhor se só existissem suspeitas, se a linguagem dela e a maneira como visse as coisas fosse descrita de forma menos adulta, numa percepção mais infantil e encabulada.

    Boa sorte no desafio!

  5. Bia Machado
    10 de julho de 2014

    Gostei do enredo, que é bem pesado, triste, porque retrata uma situação verdadeira e infelizmente comum. O que complicou pra mim foi a questão de ser um diário, e por isso achei estranho de uma criança escrever falas das pessoas nele. Isso já foi apontado por outros aqui, no entanto. Mas eu gostei muito da menina, sei lá por que, me lembrou um pouco a Macabéa da Lispector, talvez seja essa coisa assim de ser “desgraçada”, no sentido de parecer não ter nada na vida que possa ir além do sofrimento, da insignificância para os outros, de ir além da margem da sociedade. Muito bom.

  6. Thata Pereira
    3 de julho de 2014

    Comecei a ler a história pensando que o narrador fosse um menino. Talvez pelas palavras, o que me faz pensar que se trata de um autor e não uma autora. Eu gosto muito de escrever em primeira pessoa com personagens masculinos, é um exercício e tanto!
    Fiquei um pouco confusa. Primeiro, a menina me pareceu ser bem nova, oito ou nove anos, mas depois ela parece ser mais velha. Principalmente quando fala que na escola aprendeu que surgimos da água. A linguagem utilizada também reflete isso. Talvez se o conto afirmasse que ela gostava de ler, estudar… os errinhos acabei encarando como sendo dela própria. Li o conto de um amigo certa vez que falava sobre pedofilia e a menina também escrevia um diário. Ele errava propositalmente e a medida que a menina sofria mais com a situação os erros aumentavam. Era assustador como aquilo soava real.
    Gostei do final!
    Boa sorte!!

  7. rubemcabral
    29 de junho de 2014

    Resolvi adotar algum critério de avaliação, visto que costumo ser meio caótico para comentar.

    Pontos fortes: drama pungente, algumas construções frasais interessantes.

    Pontos fracos: algumas falhas de escrita passaram pela peneira da revisão.

    Sugestões de melhoria: um tico mais de revisão, mais desenvolvimento do enredo.

    Conclusão: Aparentemente a inocência da narradora teria a ver com seu pouco desenvolvimento intelectual (“lerdinha”). Mas, ao mesmo tempo, as palavras dela entregam às vezes o oposto. Então, sob este aspecto achei meio confuso. Gostei, no entanto, do conceito do animal/fera interno, que a moça vê aflorar mesmo dentro de si quando destroi sem razão uma teia de aranha.

    Bom conto!

    • Forrest Gump
      29 de junho de 2014

      Obrigado, Rubem Cabral.
      Não mudarei o vocabulário, mas irei reescrever o conto utilizando mais palavras chave, subsídios que possam levar a conclusão de que a mocinha não é “lerdinha”, tem um grande potencial e se expressa melhor escrevendo do que falando (gagueira). Tentei (sem sucesso) repassar a ideia de que “lerdinha” é a visão que a mãe possui, mas como não há pouca interação entre ambas, a mulher nada sabe a respeito da filha.
      Obrigado a todos pela interação salutar

      • Forrest Gump
        29 de junho de 2014

        No comentário quis dizer que há pouca interação entre ambas.

  8. Rodrigues
    25 de junho de 2014

    Gostei muito do conto, dessa premissa de que cada pessoa tem um animal interno e achei a narrativa da garota muito forte e violenta. Os blocos de texto parecem seguir uma unidade, há neste conto um ritmo certeiro, divido com precisão até o final. Gosto dessa figura da mãe sendo subvertida sem rodeios para uma personagem opressora e cínica, mostrando um lado que nem todos querem enxergar. Não, ela não está nem aí com a filha e ainda tentou… No decorrer do conto, uma cena polariza toda densidade da história, quando a garota encontra o padre. A descrição, como se o religioso fosse uma escultura nojenta, foi pra mim a melhor parte do texto. Parabéns ao autor.

    • Forrest Gump
      28 de junho de 2014

      Moço, muito obrigado.

  9. Brian Oliveira Lancaster
    24 de junho de 2014

    Texto corajoso e, tirando todas as insinuações de lado, muito bem escrito. O final em aberto e estilo “folhas no horizonte”, leva o leitor a pensar. Engraçado como é a percepção de cada um. Também li como se fosse uma criança, garoto, gago. Até no final ver que estava enganado.

  10. Tiago Quintana
    23 de junho de 2014

    Lamento, mas senti que faltou uma direção à trama, uma verdadeira conclusão.

  11. Pétrya Bischoff
    23 de junho de 2014

    Gostei da estória em si. Da inocência da guria fantasiando tudo como animalesco, do medo de tornar-se um igual. A narrativa não apresenta firulas, mas não senti necessidade, justamente por ser um diário de menina. Senti seu nojo na descrição do cheiro das mãos sebosas do padre. Parabéns e boa sorte 😉

    • Forrest Gump
      23 de junho de 2014

      Moça, saber que foi possível ser entendido é o maior prêmio que poderia querer. Obrigado 😉

  12. Anna
    19 de junho de 2014

    Gostei… Também achei que fosse um menino no começo… Vai entender. Parabéns! Boa sorte.

  13. Anorkinda Neide
    16 de junho de 2014

    Oba, um diário que não fala com o leitor!
    Mas…
    ao terminar a leitura, muitas aparentes incoerências povoam as perguntas do leitor…se a moça era tão ‘lerdinha’, parecendo infantil (o que causa a confusão citada por muitos, afinal era criança ou nao?) ela não escreveria um diário, muito menos um diário tão bem elaborado e bem escrito.
    Acho q o narrador universal ficaria bom aqui nessa historia, ele poderia descrever melhor a protagonista, a fim de que não houvesse esse problema do entendimento de como ela é afinal.. eu tb pensei se tratar de um rapaz no começo do conto.
    A historia é boa, com a mae libertina e o padre nojento…hehe e a teoria da moça sobre os animais… bom mesmo… acredite neste conto pq ele tem futuro 😉

    abração

  14. Forrest Gump
    15 de junho de 2014

    Valeu pessoas! Comentários são valiosos e apesar de não serem DANONINHOS, nos ajudam a Crescer (Isso foi infame, eu sei). Não vou mais interferir. Obrigado a todos.

  15. Edivana
    15 de junho de 2014

    É um enredo que achei muito bom, mas que talvez merecesse outra execução. Na verdade o que gostei foi você ter tratado com muita sutileza um tema tão pesado, espancamento/luxúria etc. Também li achando que era uma criança do sexo masculino. No mais, sucesso!

  16. Thiago Tenório Albuquerque
    12 de junho de 2014

    Gostei do texto.
    Devo concordar quanto ao vocabulário da menina que destoa com a inocência dela, mas é um texto muito bom.
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  17. Davi Mayer
    10 de junho de 2014

    texto bom. Uma coisa que complicou foi o fato da protagonista ser criança e escrever melhor que eu… KKKKKKKKKKKKKK… era pra ter colocado mais palavras infantis, e não tanto rebuscadas…

    Enfim, gostei, mas ficou faltando algo… um ponto de climax… tipow, na hora que ela foi ver o padre, imaginei o padre olhando para ela, com cara de ódio ou desejo… algo que nos assustasse. Acho que caberia algo mais de suspense e drama nesta história. Opinião pessoal.

    Parabens e boa sorte.

  18. Jefferson Reis
    9 de junho de 2014

    Durante minha leitura, aconteceram algumas “quebras” na narrativa que atrapalharam minha inserção no universo do conto. A linguagem utilizada no diário é uma dessas “quebras”, pois me incomodei com a maturidade na escrita da protagonista. Talvez um adolescente pudesse escrever assim, mas uma criança… Você poderia ter tentado se aproximar mais da linguagem infantil.

    Outra coisa que me atrapalhou, e até surpreendeu, foi descobrir que se tratava de uma menina e não de um menino. Li quase todo o conto imaginando um triste garoto gago. Tanto que fiquei confuso no trecho ” Você não teme que ela possa nos ver?”. Você pode usar pronomes e artigos para indicar o gênero do personagem logo no início.

    O que mais gostei foi a referência a nossa fera interior. O próprio desfecho está ligado a essa ideia, que deveria ter sido melhor trabalhada.

    • Forrest Gump
      9 de junho de 2014

      Moço.
      Em nenhum momento no texto disse que a personagem era uma criança.
      Obrigado pela leitura e comentário.

      • Jefferson Reis
        9 de junho de 2014

        Então me perdi duas vezes, no gênero e na idade da personagem.

        Reli o conto imaginando uma garota adolescente e até mesmo uma jovem adulta, mas as palavras me conduzem a acreditar que é uma criança, principalmente nesse trecho: “Lembro de quando escutei sobre a criação do mundo na missa, sempre achei que faltava algo naquela narrativa, mas depois da aula de ciências da última sexta, quando a professora disse que existe uma teoria de que todos nós viemos da água e que somos o resultado de anos de evolução (…).

        Em uma passagem, a protagonista se refere à mãe a ao padre como “os adultos”, o que reforçou meu entendimento de que se tratava de uma criança.

  19. mariasantino1
    9 de junho de 2014

    Olá!
    .
    Talvez o conto possa perder pontos por se assemelhar a outros textos aqui expostos ( no sentido de: diário, monólogos, narrativa em primeira pessoa…) no entanto, não vejo demérito em tal escolha, afinal, cada um é único.
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    Bem, eu entendi como a voz de alguém que precisa de orientação, mas não tem, e por ser imatura, se vale de alguns recursos.
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    Há, de fato, uma pureza que se choca com a realidade que rodeia a personagem.
    .
    Gostei das imagens que se formam na mente e gostei de sentir a aflição da menina (deficiência na fala deve ser horrível, assim como ser motivo de chacota por tal entrave).
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    Observe as dicas dos colegas com carinho, ok?
    .
    Abraço.

  20. Eduardo Selga
    9 de junho de 2014

    Talvez resultado de uma tentativa de fazer um final aberto, o conto parece um esboço. Os personagens pedem para ser mais trabalhados, bem como a relação mãe-filha e mãe-padre. Ok, ao que parece a personagem-narradora não possui maturidade, daí porque não entendeu a cena em que flagrou o padre se manipulando como masturbação, e, sem a devida maturidade, mergulhar mais fundo ficaria difícil, pois é ela quem narra. Mas ficou muito rascunhado. Uma personagem mais madura, talvez ficasse melhor. Ou o uso de mudança de narração, com uma consequente mexida no gênero textual. Nesse caso, o diário mesclado a algum outro texto, escrito por um dos dois personagens adultos (carta, e-mail, bilhete…). Ou, ainda, a reprodução de diálogo testemunhado (como acontece), por meio do qual o leitor possa ter acesso a maiores detalhes da trama.

    Por ser curto, mais do que nos longos é necessário um bom ponto de tensão entre personagens, ou a protagonista ter conflitos internos com seu universo interior. Nem uma coisa nem outra acontece, e as possibilidades acabam sendo abortadas: a personagem não deixa claro para o padre que o flagrou em atitude condenada pela crença dele, e também não se mostra aos dois quando a mãe confessa que tentou abortá-la. Ou seja, pouca coisa é dita. E menos ainda fica nas entrelinhas.

    Há um excesso de denotação e pouquíssima conotação. Ou seja, o texto é pouco trabalhado, assumindo uma sensaboria de um texto jornalístico ou relato, por exemplo. Sim, é um diário de uma menina, um texto confessional. Mas é um diário fictício, não a colagem de um real. As frases precisariam de mais trabalho. Não digo ornamento, glacê, isso caberia pouco num diário. Mas literatura não se faz com a tentativa de imitar a realidade, apenas. É preciso ir além.

    • Forrest Gump
      9 de junho de 2014

      Obrigado, moço.
      Apesar de não concordar com parte do que você disse, respeito o seu ponto de vista.

  21. Rafael Magiolino
    8 de junho de 2014

    Apesar de alguns erros de pontuação, o conto foi bem escrito. Entretanto o texto, ao todo, não me agradou. Não consegui me sentir envolvido pela trama, que achei confusa, e acredito que se a ideia fosse melhor desenvolvida o resultado teria sido melhor.

    Abraço!

  22. Fabio Baptista
    8 de junho de 2014

    Não gostei muito.

    Mais uma narrativa estilo diário, aqui ao menos é o diário puro mesmo, sem que o dono abra um diálogo com alguém que eventualmente adquira seu caderno de anotações no futuro.

    Está bem escrito, mas não me cativou. Algo que me incomodou, além da previsibilidade já mencionada, foi a menina parecer ora inocente, ora conhecedora da malícia entre a mãe e o padre – “Corri para o banco e eles reapareceram com aquele olhar dissimulado para mim como se dissessem: será que ela sabe de nosso segredo? Sabe o que somos na verdade?” – acho que ficou meio inverossímil, assim como a grafia dos diálogos exatos da mãe e do padre, no mesmo trecho do diário.

    Abraço.

    • Forrest Gump
      9 de junho de 2014

      Moço.
      Minha intenção era mostrar somente a visão da menina e parte do seu mundo sem interferir. Concordo que não deveria ter relatado os diálogos da mãe junto ao padre. Obrigado pelas palavras.

  23. Claudia Roberta Angst
    7 de junho de 2014

    Engraçado que fui lendo e no começo achei que fosse um menino que narrasse a história. Talvez sugestionada pelo pseudônimo Forrest Gump. Gostei da narrativa, prendeu minha atenção, a delicadeza e pureza do pensamento infantil, limitado por uma inocência a mais.
    Pequenos acertos para uma segunda revisão:
    “Agora a pouco” – o correto seria Agora HÁ pouco
    Na frase “É sempre assim: joelhos curvados repetindo palavras” – os joelhos estariam curvados ou dobrados?
    Boa sorte!

    • Forrest Gump
      9 de junho de 2014

      Cláudia.
      Agradeço pela correção. Fico feliz que você tenha captado a pureza que quis passar.

  24. adriane dias bueno
    7 de junho de 2014

    História interessante, estilo Henry James “Aos olhos de Maisie”. Mas não me cativou. Faltou algo, porque assim que comecei a ler, já imaginei onde ia chegar, tanto que a conclusão da menina sobre o que iria acontecer quando adulta eu já tinha imaginado no meio do conto. Alguns erros de concordância.
    No mais desejo sucesso.

    • Forrest Gump
      9 de junho de 2014

      Moça.
      Foi escolha minha ser previsível, afinal ela estava falando com o diário.
      Obrigado pelas palavras.

E Então? O que achou?

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Informação

Publicado às 7 de junho de 2014 por em Tema Livre e marcado .