Pairando no céu da cidade, duas almas, uma delas vagando no umbral por muitos anos e a outra, recém-desencarnada, conversam enquanto observam a movimentação do cotidiano.·.
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“Já deve ter notado nossa perda de sensações. Com o devido tempo, você vai preencher esta lacuna com diversos maneirismos do espírito.”
“Não parece que vou me acostumar. Tudo é tão moroso.”
“Observe. Vou pôr-me de modo agradável através do corpo de alguém vivo. O que farei a seguir, nos permite um modo contemplativo, trazendo algo de pacifico às nossas leituras visuais. Não sei explicar ao certo os motivos. Apenas observe.”
O fantasma desceu das alturas da copa de uma arvore, suavemente, posicionando-se ao lado de uma jovem garota que prestava atenção às palavras de seu namorado, enquanto ambos tomavam café no balcão de uma padaria. O espírito novato posicionou-se à frente deles, sendo perpassado por diversos transeuntes.
“E então?”
“Não sei como você vai encarar essa descoberta. Eu, quando me foi apresentada, fiquei espantado. Vá lá.”
Aquela alma entrou lentamente pelas costas da jovem garota, alinhando sua silhueta a dela. O fantasma novato pôde ver olhos sobre olhos. Aquele que a encarnava abriu a boca e, subitamente, a garota bocejou. Olhos sobre olhos, boca sobre boca. Ela arqueou as costas para trás, os braços tesos para frente; e assim o fantasma a deixou. Logo em seguida um terceiro espírito surgiu atrás do namorado da garota, sorriu bargante para o fantasma novato e entrou também no rapaz, permanecendo mais tempo que o outro, que havia visitado a garota. O possesso bocejou sonoramente, lacrimejando e estralando as costas.
“Quer dizer que o bocejo é um engodo? Isso é para mim a mais pura definição de esoterismo.”
“Sim, basicamente. E aqui deste lado, nos é um vicio justapor nossa forma e então trespassar. Sinto-me realizado. Fantástico. Olhe bem ao seu redor, pode ver a cada instante um de nós entrando brevemente na vida de alguém. Acha pérfida a rápida permuta?”
“Acho pouco natural. Bocejar parecia uma serenidade humana e não uma ação fruto de um gatilho além-túmulo”.
“Bocejar é uma irrupção dos perenes que não altera o destino, um algo fleumático para ambos os lados. O mais importante; é aquilo que nos dá prazer, sem ofender”.
“Mas algo faz.”
“Faz em nós?”
“Faz em quem vive.”
“Faz o quê, novato?”
“Suscita a troca de assunto.”
“Tem razão. A vida segue, é posta em movimento. Após o bocejo, penipotentes eles vão.
“As vicissitudes de nós, fantasmas, estão à guisa de iliçar a carne viva? Então, mãos à obra, meu caro guia. ”
O novato fantasma foi até a jovem garota e tentou por si próprio a indução do bocejo. Ela então benzeu seus lábios enquanto estes se abriam, desenhando o sinal da cruz. Imediatamente aquela alma foi energicamente expelida. Girando em ascensão até parar como uma pluma por sobre o toldo da padaria.
“ O quê?”
“ Ah, apenas um truque quântico-espiritual. Não dói, não é?”
“ Foi breve, mas foi divertido. O que mais temos?”
“ Quem vive, dorme”.
“Obviamente óbvio.”
“Agora vou te mostrar que delicia que é, sopitar um vivo em algo que eles chamam de cochilo”
“Evoé!”
*
Gostei da explicação sobre a natureza dos bocejos…rs! Claro que também me lembrou um texto espírita.
Engraçado na medida certa, inovador e tem um tom de crônica gostoso de ler. Pequeno, mas com ótimas ideias e bem escrito. Tiraria, apenas, um excesso de palavras rebuscadas, que não combinam com a leveza do texto. Parabéns!
Achei divertido. Tive a impressão de estar lendo uma cena de teatro. Só eu me senti assim? 😡
Gostei dos diálogos como estão. Não consigo pensar em uma crítica construtiva. Acho que o(a) autor(a) conseguiu mostrar o que queria da melhor forma possível.
Parabéns.
Olá. Prum texto que joga o leitor no meio da ‘ação’, você conseguiu bem estabelecer a imagem, quer dizer, sem introdução nenhuma mas em duas linhas a gente já entendeu quem e onde e tá tudo certo. Acho que é um texto fácil de ler como deve ter sido de escrever. Não sou muito fã desse tipo de literatura despretensiosa, mas tá benfeito. Abraços
Boa Sorte!
…. Não tenho o que comentar sobre o texto.
Novamente Boa Sorte!
Gente, não vou bocejar novamente. Sério. (risos)
Conto rápido, sutil e que trouxe um elemento engraçado ao “explicar” o ato de bocejar. Apesar de bom e divertido, não sou muito fã de minicontos e por isso não conseguirei colocá-lo no meu top 15. Mas, mesmo sem meus votos, receberá meus parabéns!
Muito divertido, ótima sacada a explicação sobrenatural dada ao bocejo. O rebuscamento algo desgastado das falas também contribuiu para tornar divertido o conto. Uma revisão poderia torná-lo um pouco mais conciso e reestruturar alguns frases que soam meio truncadas, tipo esta, com um ponto e vírgula estranho: “O mais importante; é aquilo que nos dá prazer, sem ofender”.
Interessante.
Um monte de gente disse que falta um monte de coisas. Mas quem foi que definiu o que um conto tem de ter?
Em algum lugar li que um conto é como um fotografia.
A sua ficou boa.
Parabéns.
Uma leitura leve. Mais um conto onde não há um enredo, porém aqui isso não foi um problema.
O fragmento da existência dos fantasmas, descrito na narrativa é bem interessante e a prosa utilizada me remeteu a uns ectoplasmas bem velhos (ou mortos há muito tempo), não sei se essa era a intensão do autor.
Fiquei confuso em alguns pontos, sem saber quem falava o quê, mas valeu a leitura.
Vou inserir umas palavras de indicação “entrediálogos” pra tornar a leitura mais confortável. Foi uma percepção já de alguns. Valeu.
A ideia é original. Só fiquei confusa com quem fala o quê. Achei divertido o foco no bocejo e fiquei curiosa com o que acontece enquanto as pessoas cochilam.
Ah…quando elas cochilam…..ahhhh se vc soubesse, não cochilaria mais! rsrs Na verdade é o “porque” de nós cochilarmos….Aí entram os fantasmas. Aí então o “Pra quê?”…..hehehe fica na imaginação. 😉
Não achei o tamanho um problema. Foi uma leitura leve, rápida e dinâmica que me passou muito mais significado que alguns outros contos extensos. Fora a ironia que permeia a história.
Parabéns pelo texto e boa sorte.
Gostei da sacada e do enfoque no bocejo. Curto, rápido, afirmando o que se propôs a ser. Parabéns ao autor, esse eu coloco na frente de alguns outros! =D
Achei bem bacana e não vou reclamar dizendo que estava curto e que tem um fiapo de história. Ficou bom do jeito que está. Achei o conto mais curioso até aqui..rs..parabéns.
Após ler uma série de observações sobre os comentários por mim postados neste concurso e suas respectivas respostas (infelizmente) concluí que fui tomado de certa pobreza de espírito. Em certos momentos nem fui técnico, muito menos humilde. Peço perdão a este escritor pelo comentário até maldoso por mim desferido. Há um ditado árabe que até mesmo o leão ajoelha-se em seu momento de erro e assim o faço. Sendo assim, apenas me resta ser breve: um bom texto, mas acho que faltou um pouco de empolgação. Seu trabalho é louvável e deposito fé em seu próximo texto.
Sshhh… no tears… only dreams now
Gostei dos fantasmas a “brincarem” com os vivos e a ideia de os bocejos se deverem à sua presença (although não confie muito nessa teoria :P). Mas em relação à prossecução, muitas das frases beneficiariam de uma reestrutura, e o vocabulário mais adequado ao discurso directo, quando o caso.
Hum…eu pensei, após seu comentário, sobre a reestruturação. Mas creio que me decidi por não fazer alterações. Obrigado pela leitura.
Divertido. Escrita bacana com um toque de ironia no ponto. Que a ideia não atinja a moringa dos desencarnados que vivem à toa por aí… rs.
Eu já fui espírita. Uma das coisas que me fizeram desistir foi justamente a leitura do citado romance da citada Yvonne A. Pereira (“Memórias de um Suicida”). Os outros eu não sei, mas esse livro é uma dos atentados mais torpes já cometidos contra a língua portuguesa (sim, esta frase considera Paulo Coelho). Nem tanto pela gramática (que é bem correta, diferente da coelhiana), mas pelo estilo.
Jamais li em toda a minha vida uma obra tão carregada de preciosismo vulgar quanto esta. O autor deste texto deveria ter ficado ofendido com a comparação. Eu prefiro ser comparado a Paulo Coelho do que a ela, e olha que a comparação que fazem dos meus textos é mais essa que eu não quero.
Só para vocês terem uma ideia do nível da bagaça, segue o link do PDF: http://www.alemdoarcoiris.com/DOWNLOADS/MemoriasDeUmSuicida.pdf
Melhores momentos do texto: O “Vale dos Suicidas” é realmente um vale e tem “solo”, apesar de situado no mundo espiritual. O transporte das almas entre a terra e o mundo espiritual é feito em carruagens puxadas por cavalos alados. Poetas portugueses parnasianos tornam-se prosadores de péssima categoria depois que morrem.
Dizia o Barão de Itararé, a respeito de Chico Xavier, que a morte, ademais do corpo, aparentemente causava grande dano ao talento…
Parágrafo extraído do livro:
“O solo, coberto de matérias enegrecidas e fétidas, lembrando a fuligem, era imundo, pastoso, escorregadio, repugnante! O ar pesadíssimo, asfixiante, gelado, enoitado por bulcões ameaçadores como se eternas tempestades rugissem em torno; e, ao respirarem-no, os Espíritos ali ergastulados sufocavam-se como se matérias pulverizadas, nocivas mais do que a cinza e a cal, lhes invadissem as vias respiratórias, martirizando-os com suplício inconcebível ao cérebro humano habituado às gloriosas claridades do Sol – dádiva celeste que diariamente abençoa a Terra – e às correntes vivificadoras dos ventos sadios que tonificam a organização física dos seus habitantes.”
Mesmo eu, que sou chamado de prolixo, teria conseguido dizer isso com menos palavras. Eu teria dito assim:
“O solo era negro e fétido como fuligem, escorregadio como uma lama pastosa. A atmosfera era turvada por nuvens de tempestade e os espíritos ali supliciados sufocavam ao respirá-la, como se o ar estivesse poluído demais. A respiração era sofrida de uma maneira inimaginável, especialmente por quem está habituado à claridade gloriosa do Sol e ao sopro agradável de uma brisa limpa.”
Na verdade este texto me agradou como um leve paródia do que a literatura espírita tem de menos chato. Claro que a história está rala demais, pouco mais que uma brisa. Mas a sugestão de que os bocejos são causados por fantasmas “interagindo” conosco me divertiu tanto quanto os tentáculos de Yivo em Futurama.
Ela tem o tamanho necessário para ser o que é. Me impressiona as pessoas usarem fitas metricas nos contos…..principalmente na entrecontos. rsrs Os contos são o que são. Como alguem corta ou estica mentalmente de modo a satisfazer a si próprio em suas percepções? 🙂 fica a questão, né?
Adorei!!! Acredito que o autor seja espírita…
Valeu cada segundo da leitura. A história não engrena, mas também não foi feita para engrenar!!! Infelizmente, embora seja um bom texto, creio que ele vai ser ofuscado por outros do desafio.
Abraço e parabéns!
Um conto doiddon (doidinho)…
. 🙂 .
Eu gostei da ideia do conto, achei os personagens divertidos, mas a linguagem rebuscada me confundiu bastantinho.
Se eu bocejei? Nããão… Só umas duas vezes…
Achei a escrita bem rebuscada e bonita, porém a história não me encheu os olhos. É questão de gosto mesmo.
Mercece os parabéns e boa sorte!
Eu que me senti em lugar e tempo nenhum com esta obra: não se sabe qual espírito fala para qual! Não se sabe onde ou quando! Não se sabe por que eles pararam ali! Não dá um calafrio! O bocejo que sente-se com esta obra é causado pela ausência de adrenalina! Pratique mais e apimente muito essa obra, talvez assim ela saia do umbral.
rsrsrsrs….. Ixi, se vc não sacou; O problema é seu. 😀
Gente, que show esse conto!
Tenho muitos amigos espíritas e eles sempre disseram que o bocejo é a presença dos espíritos. Que quando entramos em um lugar “carregado” começamos a bocejar. Quando parei realmente para observar isso, vi que fazia todo sentido. Demais! rs’
Gostei muito do conto e principalmente da saudação final. Coisa de poeta!
Evoé!
Paz & Bem! 😉
🙂
Conto diferenciado pela linguagem e abordagem do tema. A explicação do bocejo prendeu a atenção. Leitura bem divertida com toques criativos. Valeu! Boa sorte!
Cara, me amarrei. Não é um conto no sentido clássico, mas a ironia, o sarcasmo e o ritmo satírico valem cada segundo de leitura. Pena ser curto, rs. O mais legal foi descobrir q na faculdade eu era abduzido sempre q tinha aula de direito romano hahaha Parabéns!
Boaaa, Gustavo!!! Rsrsrs!
Ficou engraçado o conto, me peguei imaginando a situação toda, rs. O vocabulário é algo à parte, deu um toque especial ao conto, eu curti bastante! 😉
O texto é de uma leveza que me passou serenidade. De verdade.
Pensei em espíritos zombeteiros, away sem nada para fazer rsrsrsrs’.
Adorei a explicação para os bocejos, até hoje nenhuma outra havia me convencido 😉
Observação especial para tua linguagem, muitas “palavras bonitas que enchem os olhos”, isso é bom, eu gosto.
Parabéns e boa sorte 😉
Este texto me fez rir demais. Parece Yvonne de Almeida Pereira, Zibia Gasparetto ou um sub-Chico Xavier sonolento. O estilo, ah, o estilo… Sátira sensacional à literatura espírita, ou imitação sincera…. ? Como saber?
Pensei em por: “Ditado pelo espirito Canabiel” mas fiquei com medinho! :p Acho q posteriormente será efetivado o pequeno mimo de autoria.
Adoro quando aprendo uma nova palavra! Mas este texto se resumiu a isso:algumas novidades léxicas e nada mais.
O autor poderia bolar um enredo, ainda que curto, que contasse algo, prendesse o leitor.
é…poderia ter um….enredo(?¹). Mas não quis. Pois é. A ideia era apenas que fantasmas é que são a causa do bocejo (duns cochilos rs). É apenas um curtinho pungente. rs. Melhor sorte nas próximas leituras! 😀 Evoé!
Relendo, até eu bocejei. Oh oh…isso é um problema. hehehe
mentira. 😉 estou apenas pegando carona na possessão construída.