EntreContos

Detox Literário.

Branca de Neve (José Geraldo Gouvea)

Da “Autobiografia” de Leon Lages, PhD, CSV e MPP:

Meu nome será “Leon”. Não lhe darei outro. Mais detalhes não importam. O que já vou lhe contar será suficiente para me causar problemas demais na vida.

De qualquer forma, não é muito importante saber quem eu sou. Saiba apenas que eu sou um estudioso de línguas antigas. Esta especialidade me levou a trabalhar no Projeto. Precisavam de alguém que fosse capaz de interagir com os reanimados.

Formei-me em Línguas Mortas na Universidade #2, no Continente Ocidental. É uma profissão sem prestígio. Línguas mortas não são chamadas assim por uma boa razão: não temos mais utilidade para elas neste mundo e a razão de seu estudo é puramente acadêmica. Todos os livros antigos estão traduzidos para a língua moderna e não temos esperança de captar radiotransmissões. Foi então que surgiu o Projeto e subitamente os professores de Línguas Mortas se tornaram úteis à ciência.

Por isso eu estava lá quando você despertou.

Você foi o primeiro caso bem sucedido. Havíamos perdido três indivíduos antes por não entendermos corretamente as instruções. Sua língua estava em um estágio posterior ao que temos documentado.

No começo não sabíamos o que fazer com você. Na verdade, nem os próprios idealizadores do projeto tinham uma finalidade em mente. Fizemos o que fizemos pelo puro e simples interesse científico.

Mas queríamos entendê-la, não queríamos contaminá-la com nossas ideias e conceitos. Foi por isso que a mantivemos isolada tanto tempo. Perdoe-me por isso. Se a tivéssemos instruído em nossos costumes desde o início, hoje você saberia como sobreviver nas adversidades.

***

— Com quem ele estava falando?

— Ora, vocês já sabem.

— Conte de novo a história, papai.

— Está bem, mas depois vocês duas façam o favor de sossegarem porque a noite já é velha e precisam dormir.

***

Minutos antes, “Leon” assistira a desconhecida comer avidamente os nacos da ração:

— Muito, muito obrigado, meu príncipe.

Encarou-a obliquamente, como se não conhecesse o sentido da frase. Mas logo se lembrou e deu a resposta que deveria ser a adequada.

— Não há de que.

— Qual é o seu nome, meu príncipe?

Cobriu a etiqueta no uniforme em um gesto reflexo, mas logo recordou que a desconhecida não saberia ler os caracteres modernos.

— Meu nome será Leon.

Ela pareceu compreender o significado da frase:

— Muito bem, “Leon”. Estou em suas mãos. Dependo de você até mesmo para o de comer. Quanto tempo permanecerei assim?

— Não sei.

— Precisa pensar nisso. Não pode me manter aqui para sempre.

— Trouxe muita comida, água, armas para autodefesa, roupas limpas, alguns produtos de higiene. Você não dependerá de minha vinda diária. Esta caverna é segura.

— Trouxe-me comida que eu nem sei desembalar, armas que eu nem sei segurar, produtos de higiene que não sei usar. Esses objetos não têm significado para mim. Precisa me ensinar.

“Leon” se lembrou, então, do quanto lhe era difícil ensinar qualquer coisa a alguém. Criança, gostaria de ser professor quando crescesse. Crescido, dedicara duas décadas de estudos para se livrar da obrigação de lecionar. Mas tinha de tentar. Como dizia o velho livro, “tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas”. Tinha trazido a desconhecida àquele lugar, tornara-a sua cativa, mais do que a cativara. Era responsável por ela, não podia deixar que morresse.

— Esta é uma embalagem de ração integral. O gosto não é bom, mas ela contém todos os nutrientes. Cada envelope fornece 110% dos valores mínimos diários para um adulto do sexo feminino com um metro e oitenta de altura. Preferi trazer uma caixa disso do que ocupar espaço com comida inútil. Abre-se assim.

Ele fez o gesto, mas não abriu mesmo a embalagem. Não queria estragar um envelope. Mas ela, esfaimada ainda, imitou sua indicação e conseguiu rasgar o lacre inviolável.

A desconhecida então pegou a arma.

— Não! Está ao contrário. Assim atirará no próprio rosto!

Ela mirou num cacto e atirou. Acertou uma pedra que estava meio metro à esquerda.

— Preciso praticar. Nunca fui boa nisso.

— A arma recarrega com energia solar. Uma hora de carga para obter dez disparos. É um laser fraco, mas suficiente para matar pequenos animais. Pode ser útil para caçar.

A imagem mental da desconhecida matando um pequeno animal e devorando-o parecia de um primitivismo asqueroso. Mas até os mais civilizados cidadãos sabiam que, em certos tipos de emergências, era uma forma adequada de obter os nutrientes essenciais.

— O fio dental eu conheço.

Depois de ensinar a desconhecida a usar o resto do conjunto de primeiros socorros e higiene pessoal, “Leon” completou as últimas instruções:

— Não saia ao sol quando a estrela azul estiver visível. Vou tentar conseguir para você um traje diurno, mas mesmo quando o tiver, use-o somente para pequenas caminhadas, quando for muito necessário. Mantenha-se nas sombras, mova-se à noite. O sol laranja, uma anã vermelha, estará sempre visível no céu neste hemisfério. Ele oferece iluminação suficiente. Não há perigo: estamos numa zona desabitada e semidesértica.

— Nenhum animal peçonhento?

— Poucos. Preocupe-se mais com as plantas. Use as botas.

“Leon” então começou a colocar o capacete. A desconhecida o pegou pelo braço, como se tentasse impedir sua partida:

— Por favor, não vá ainda. Há tanta coisa que eu quero saber. De você, de mim, deste lugar onde estamos.

— Tenho pouco tempo. Preciso chegar ao alojamento comunitário antes da ceia coletiva.

— Quanto tempo?

— O sol azul virá nascerá para você dentro de seis horas. Quanto isto acontecer serão setenta e seis horas em Lospar. A viagem dura três horas, o que significa que tenho menos de três horas para chegar à cidade e cumprir todas as obrigações antes da ceia.

— Três horas são mais que suficientes para um banho, uma muda de roupa e uma consulta ao noticiário. Então você pode gastar meia hora comigo e me explicar alguma coisa. Desde quando você me deixou aqui, fiquei sozinha e sem nenhuma noção de nada. Você poderia pelo menos me explicar…

— Não posso — interrompeu ele. Não posso revelar…

— Está bem — disse a desconhecida.

Mas disse-o com um olhar daqueles que “Leon” nunca vira em mulher alguma de Lospar. Um olhar positivamente irracional, e lindo. Por fim ele suspirou e admitiu:

— Creio que posso lhe dizer alguma coisa. O que quer saber?

— Quem é você? Onde estou? Por que você me tirou daquele lugar? O que vai acontecer comigo?

“Leon” suspirou. Lembrou-se

— Leon. Me diga. Com sinceridade: iam me matar?

— Houve um momento em que esta decisão chegou a ser tomada. Foi quando todos ficaram muito assustados com as reações do quinto indivíduo. Ele também parecia dócil no começo. Mas, logo que teve oportunidade, desarmou um guarda e começou a atirar em tudo o que via. Revimos a filmagem muitas vezes, depois que a segurança o executou. Conseguimos traduzir o que dizia, e isso nos preocupou.

— Mas mudaram a decisão, então?

— Sim. Racionalmente falando, matar alguém por causa de atos que pode vir a cometer é injustificável. O indivíduo número cinco foi morto em legítima defesa, porque uma abordagem não violenta permitiria que ele matasse mais de nós. Mas não é a mesma coisa matar… alguém como você.

— O que é mais racional fazer com alguém como eu?

“Leon” pensou, envergonhado, que o plano alternativo fora o de não reanimar nenhum dos ainda suspensos, mantendo-os assim pelos séculos afora. Quanto tempo durariam os sarcófagos? Quanto tempo teriam durado até então? O espaço é tão incompreensível!

Mas que realmente envergonhava “Leon” era pensar que a alternativa para o único indivíduo reanimado e vivo seria tentar recolocá-lo em animação suspensa.

— Queriam mantê-la presa para sempre.

— Você está mentindo, “Leon”. Mas não precisa me contar a verdade, se acha que não deve.

— Eu lhe tirei daquela prisão, e a trouxe para o deserto, onde poderá ser livre.

— Por quanto tempo, meu príncipe? Por quanto tempo?

— Se você e eu formos espertos, por muito tempo.

— Não virão atrás de nós?

— Difícil. Ninguém se aventura no deserto. Temem o brilho da estrela laranja. Ele pode ser letal. Por isso…

A frase de “Leon” foi interrompida pelo assobio fino de uma propulsão iônica.

— Alguém veio, meu príncipe.

“Leon” ficou paralisado pelo terror. Contrariamente às suas expectativas a fuga não fora percebida como algo sem importância. Alguém se importara o suficiente para vir atrás dele.

— O que vamos fazer? Este é o seu mundo. Aqui eu não sei nem escovar os meus dentes.

Mas ele sabia ainda menos. Nunca em toda a sua vida estivera diante da possibilidade real de ser preso. Nunca cometera qualquer ato irracional. Mesmo quando dera fuga à desconhecida ele conseguira uma justificativa perfeitamente aceitável em um interrogatório: fora tomada uma decisão precipitada, sem o devido consenso científico, e o cumprimento da ordem dada ameaçaria a continuidade das pesquisas. O medo ao desconhecido é irracional. Sua coragem, mesmo transgressora, fora um ato perfeitamente racional.

Repetia-se mentalmente esta afirmação, apesar do estranho aperto no peito, uma dor, uma aflição sem nome.

— Você não acha que devíamos fugir?

Fugir? Fugir para onde? Para ainda mais longe deserto adentro, expondo-a mais ainda às radiações nocivas da anã vermelha? Levando-a para mais longe de seu alcance?

— Não. Devem ter visto a motojato.

O assobio da propulsão não se afastou. Permaneceu próximo durante algumas dezenas de segundos e então começou a morrer. Haviam desligado o veículo. Haviam parado.

A desconhecida o agarrou pelo braço:

— Vamos sair daqui!

Arrastou-o caverna adentro enquanto ele parecia desligado da realidade.

— Não adianta.

— Adianta muito menos ficar à espera de que nos peguem.

A caverna tinha um declive imperceptível, devia ser imensamente profunda e longa. Havia lugar suficiente para esconder um exército.

A desabalada corrida foi interrompida por um tropeção no escuro. Caíram os dois estatelados contra um chão empoeirado.

Quando seus olhos se acostumaram à escuridão, a desconhecida percebeu que no imenso salão em que se encontravam, as paredes eram cortadas na rocha em traços retos, e imensas pilhas de caixas se estendiam a perder de vista.

— Que lugar é este, meu príncipe?

Ainda esfregando a canela, onde haveria em breve um roxíssimo hematoma, “Leon” ergueu os olhos e nada viu. Séculos acostumados à proximidade de um astro tão luminoso como a estrela azul haviam incapacitado seu povo para a visão noturna. Mas a desconhecida conseguia divisar perfeitamente as formas, mesmo não enxergando cores nem detalhes.

— Parece um tipo de depósito. Você poderia me dizer o que é?

“Depósito, depósito”. “Leon” tentava puxar da memória alguma informação. Não tinha conhecimento de que jamais tivessem existido depósitos no hemisfério interno.

Ao tentar se levantar, percebeu fachos de luz que se aproximavam, vindos da mesma direção de onde haviam fugido. Como não conseguia enxergar na escuridão, não tinha como saber se havia um caminho ainda. Sentia-se acuado. Haviam sido pegos.

Logo um facho acertou-o no olho, trazendo a doce sensação de uma tarde luminosa. A desconhecida, porém, tentou proteger os olhos. Eram cinco lanternas. Uma voz calma articulou uma frase de gramática rigorosamente correta, mas marcada pelo estilo seco dos burocratas de mais alto escalão:

— Não fujam. Não há para onde. Venham. Não há porque temer.

“Leon” obedeceu instintivamente, pondo-se de pé. A desconhecida ainda tentou resistir, mas assustou-se com um ruído metálico qualquer e fez uma pose de rendição.

Um dos portadores de lanternas afastou-se do grupo, em direção à esquerda, e acionou algum tipo de mecanismo. Logo uma luz macia e uniforme inundou o salão. Ficou então evidente que aquele lugar não era mesmo uma caverna natural. E o que pareciam caixas eram, de fato, os intestinos de algum mecanismo gerador de energia solar, cuja antena deveria ter existido um dia acima da superfície.

Então “Leon” se lembrou dos primórdios da colonização, quando tais geradores primitivos haviam sido empregados para captar energia da anã vermelha e direcionar para as primeiras cidades, fundadas bem próximo da linha fixa do crepúsculo, para baratear a transmissão. Aqueles geradores tinham estado desligados por pelo menos quatrocentos anos. Sua operação se tornara antieconômica.

Entre os cinco que o haviam seguido, “Leon” encontrou somente uma face familiar, a de seu superior imediato, Iair L.

— O que está fazendo, Sr. Lages? Sua atitude nos parece tão, tão antiquada!

O discurso de autodefesa foi instantaneamente ativado:

— Minha ação foi totalmente de acordo com o interesse científico. Não era racional expor o indivíduo Alice Marins a um procedimento que ainda não dominamos. Poderíamos causar a sua perda, com grande prejuízo para a obtenção de conhecimento sobre suas origens e motivações.

— Sabemos disso, Sr. Lages. A determinação de suspender o indivíduo Alice Marins já foi revertida. Inclusive o Coronel Lin M. já está sendo avaliado por esta decisão. Aparentemente ele perdeu o controle de sua racionalidade e agiu motivado pelo puro medo ao desconhecido. Na verdade, o que nos intriga é o seu envolvimento com o indivíduo reanimado.

Nada desta conversa era compreendido por Alice, a desconhecida, que não sabia da língua moderna mais do que algumas palavras e poucas frases rudimentares.

— O que vão fazer?

— Volte conosco, Sr. Lages. Não há previsão de punição para o seu ato. E a sua preocupação científica com o indivíduo reanimado não é mais necessária. Nós o manteremos em segurança para estudos.

— E eu tenho opção?

— Se preferir, podemos simplesmente dizer que não os encontramos no deserto e que provavelmente estão mortos. Claro que esta opção não lhe permitirá voltar periodicamente para comprar comida e remédios, ou serão descobertos.

“Leon” deu de ombros, conformado, e tratou de convencer Alice de que não havia perigo. O que ele tratou de fazer na língua antiga, que alguns de seus captores conheciam.

— De qualquer forma, a alternativa é ficar à míngua no deserto. Temos de ir. Enfrentar as consequências.

Enquanto saíam da caverna, em passos lentos, como os de quem segue para um calvário, Alice teve uma ideia. Deixou que os homens de lanterna se distanciassem e interpelou “Leon” em uma língua antiga pouco conhecida, mas que tinha uma vaga semelhança com o que ele chamava de “língua moderna”:

— Vi amas min?

À parte um vocábulo desconhecido, a frase era gramaticalmente correta mesmo tantos séculos depois. “Leon” a compreendeu. Inclusive compreendeu o conceito, usado tão frequentemente para traduzir palavras de línguas mortas.

— Ni ne scias kio amo estas — ele respondeu.

— Jes. Vi far. Vi solo ne uz una vorto per ĝi.

— Amo estas malracia.

— Ĉio estas in ordo kum iom de malracieco.

— Do diris la serpenton en Edeno.

***

E o Dr. Leon Lages é lembrado naquele busto com a metade branca e a metade vermelha. A metade branca comemora as grandes descobertas que ele possibilitou a respeito da velha Terra. Graças a ele que pudemos entender os Mensageiros da Morte e evitar que tivessem sucesso. A outra metade é lembrança consternada de ele ter sido o primeiro entre os habitantes de Nod a exibir estranhos comportamentos irracionais, que aos poucos se difundiram pela sociedade do planeta, corrompendo a juventude e causando indevidos questionamentos dos valores da a sociedade.

— Quando crescer, papai, eu quero ser como o Dr. Leon.

— Então durma para crescer rápido, minha filha.

***

Com as meninas caídas no sono, o fazendeiro Lamir Lages suspirou contrariado. “A juventude está se perdendo…” Mas o que esperar, se eles eram descendentes do próprio homem que trouxera a ruína aos valores comunitários?

Lembrou-se de que os antigos valores não permitiriam que sua mulher levasse uma gravidez no ventre, nem que as crianças nascidas fossem criadas daquela forma. Mas o mundo já não era tão rígido, e em algumas pequenas cidades já era possível viver como os velhos livros diziam que fora na Terra de milênios passados.

“A juventude está se perdendo…”

E o velhor Lamir Lages foi se deitar ao lado da esposa, obedecendo a um ritual que não fazia sentido.

29 comentários em “Branca de Neve (José Geraldo Gouvea)

  1. José Geraldo Gouvêa
    30 de outubro de 2013
    Avatar de José Geraldo Gouvêa

    Obrigado pelos votos recebidos, tenho certeza que poderiam até ser mais, se o nível não estivesse tão alto. Eu mesmo penei para escolher sete.

    Eu evitei ao máximo comentar aqui, porque acredito que o conto deve ser autossuficiente: esclarecer algo é como explicar uma piada. Ou é que a piada seja ruim, ou o ouvinte é ruim, ou é ruim quem a conta. No caso da literatura, a ruindade de quem conta se confunde com a ruindade da história (visto que o “como” importa mais do que “o que”).

    Mas alguns comentaristas aqui pescaram direitinho o que eu queria, e eu acho que vale a pena, agora que o concurso terminou, dar satisfações a todos.

    Vários autores apontaram que o texto não seria aceitável como viagem no tempo. Eu mesmo achava que não, mas perguntei ao Gustavo antes de enviar e ele me garantiu que a adequação dos contos ao regulamento seria decidida pela organização: ou seja, se ele aceitasse, então o conto estaria enquadrado. Foi por isso que submeti a história desta forma.

    De fato eu não escrevo sobre viagem no tempo. É um conceito que não me atrai, por várias razões. Mas esta história tangencia o tema, e foi por isso aceita.

    “Branca de Neve” é, na verdade, um entre os vários capítulos que já escrevi para um romance ainda sem nome. Este romance, cuja técnica narrativa se inspira em Rashomon (o genial filme de Kurosawa) e nas obras de Ray Bradbury (“Crônicas Marcianas”) e Isaac Asimov (“Fundação”), procura contar um pequeno pedaço da história de uma colônia humana em outro planeta em um futuro bem distante (dois ou três mil anos no futuro). Para este romance eu desenvolvi uma imensa cronologia (quase um Silmarillion), dois idiomas artificiais (“neopanto” e “nódico”) e três ou quatro con-cultures. Além disso, por causa dele, estudei esperanto, indonésio e tupi (não tentem encontrar nenhuma relação).

    Grosso modo, a história é a seguinte: em algum momento do futuro próximo (vinte ou quarenta anos) a humanidade entra em um processo de autodestruição causado pelo esgotamento de recursos naturais e pelo recrudescimento do fanatismo religioso. Os “racionais”, ou seja, aqueles que resistem ao fanatismo, utilizam seus conhecimentos científicos e preparam uma expedição a uma estrela localizada a algumas dezenas ou centenas de anos-luz (ainda não defini qual estrela, pois o projeto original, que envolvia uma que orbitava Rígel, se revelou inviável). Durante a viagem, os tripulantes viajariam em estado de animação suspensa. Eles também levaram um imenso tesouro genético para ser usado na colonização de lá. Após esta partida, os fanáticos também prepararam suas expedições, menores e menos sofisticadas, cujo objetivo era chegar lá pouco depois (se possível antes) para destruir tudo e mandar para o inferno os infiéis. Mais tarde, depois de grandes catástrofes e guerras a Terra desenvolveu outra cultura, mais adiantada e colonizou vários pontos do universo. Um desses pontos foi o planeta ao qual estavam destinadas as colônias originais. Viajando mais rápido que a luz, os terráqueos do futuro (A.D. 2800) chegaram lá primeiro e se estabeleceram, sem saber dos projetos anteriores de colonização. Então, um belo dia, as naves terráqueas enviadas nos séculos XXI e XXII começaram a chegar, depois de quase dois mil anos de viagem.

    O planeta que colonizaram orbita em acoplamento de maré uma estrela anã vermelha fraca, que por sua vez orbita outra estrela maior e mais forte. Esta maior seria Rígel (450 anos luz da terra), mas descobri com a ajuda de um astrônomo que a moça azul aí é tão potente que esteriliza e varre uma área de mais de 60 anos luz em torno de si. Além de também estar marcada para viver poucos milhões de anos, tornando sua vizinhança muito inadequada. Então, na nova versão, a estrela azul é de fato uma estrela da sequencia principal, só que mais jovem que o sol e maior (por isso azulada).

    Este é somente o segundo texto relacionado a este ciclo que eu estou publicando. O outro, se vocẽs não se lembram, se chamava “O Último Reduto”, e narrava a história de um “mensageiro da morte” que se descobre na estranha e superevoluída civilizçaão de Nod.

    Sobre as línguas artificiais, o “neopanto” é uma mistura de esperanto, inglês, árabe e chinês, estritamente regular e lógico, utilizado pelos humanos da nova cultura a partir do século XXV, como parte do esforço para eliminar as guerras e nacionalismos. O “nódico” é a sua versão “popularizada” (e por isso “irregularizada”), falado milhares de anos depois na colônia. Imagine a relação entre as duas como a relação entre o latim e o português, considerando que não houve influências externas na evolução para o nódico.

    Estou republicando o texto no meu blogue. Aguardo a visita e os comentários de vocês também lá. http://letraseletricas.blog.br/branca-de-neve-no-s%C3%A9culo-xliv

    E quem quiser ler o Último Reduto: http://letraseletricas.blog.br/o-ultimo-reduto

  2. charlesdias
    29 de outubro de 2013
    Avatar de charlesdias

    Gostei muito desse conto. Me lembrou “Crônicas Marcianas” pelo jeito de revelar um pouco sem revelar demais. Leitura divertida e agradável. Gostei mesmo.

  3. patriciario
    27 de outubro de 2013
    Avatar de Patricia Rio

    Essa história parece ser muito maior do que já é.
    Um universo completamente novo e promissor com toda certeza pode ainda ser aproveitado…
    Se for desenvolver essa história pode apostar que já tem uma leitora. Só fiquei meio na dúvida: Branca de Neve (título) é pq o “príncipe” acordou a mocinha? Se for achei bem criativo…

    • Isaque de Assis
      28 de outubro de 2013
      Avatar de Isaque de Assis

      Exatamente. Por isso ela o chama de “meu príncipe”, algo ironicamente. Ela é uma moça esperta e sabe que precisa manipular os sentimentos desse improvável aliado para conseguir sobreviver em um mundo estranho e hostil.

  4. fernandoabreude88
    24 de outubro de 2013
    Avatar de fernandoabreude88

    O conto precisa ser terminado. Tem um universo promissor aí dentro, cheio de coisas pra mostrar. Gostei dos diálogos e das alusões à FC. Termina o conto, cara. Vai ficar foda…

  5. Juliano Gadêlha
    22 de outubro de 2013
    Avatar de Juliano Gadêlha

    Muito bom o conto. Você escreve muito bem e sabe contar uma história. Gostei da ambientação, dos personagens. Também lembrei automaticamente do Equilibrium. Só achei a história ampla demais para um conto. Espero que você esteja pensando em explorar mais esse mundo em um formato que lhe permita explorá-lo e desenvolvê-lo melhor. Tem bastante potencial. Bom trabalho, quero ler mais coisas suas.

  6. Andrey Coutinho
    21 de outubro de 2013
    Avatar de Daryen

    Excelente sci-fi! Como disseram, o encaixe na proposta do concurso não é exato; fora desse concurso, dificilmente se veicularia essa história como um conto sobre “viagem no tempo”. Mas isso é o menor do problemas. É melhor desenvolver uma narrativa na qual você efetivamente acredite do que se dobrar e adicionar elementos só para se enquadrar numa imposição besta. Acredito também que o concurso deve ser o mais inclusivo possível… afinal, a proposta é incentivar os autores ou cultuar a Viagem no Tempo?

    De qualquer forma, queria deixar os parabéns para o autor, pela construção de um universo e personagens fascinantes. A vedação do “comportamento irracional” me lembrou o filme Equilibrium, que tem uma proposta futurista semelhante apenas nesse aspecto. A exploração disso, por si só, já dá margem a alguns conflitos interessantíssimos. Misture isso com exploração espacial, línguas mortas, seres humanos do passado reanimados etc, e você tem todos elementos para construir uma narrativa bastante complexa e intrincada.

    Parabéns e continue o bom trabalho!

  7. Elton Menezes
    20 de outubro de 2013
    Avatar de Elton Menezes

    Sobre a história… Uma montagem muito boa, com uma narrativa em terceira pessoa pouco onisciente, em clima de mistério. As coisas se delineiam aos poucos, mas ao final nem tudo fica tão esclarecido. O total da história é muito bom, o ambiente criado é um espetáculo, mas há pequenas pinceladas de informações que ficaram no ar, talvez pelo limite de caracteres.
    Sobre a técnica… Texto muito bem elaborado, ortografia bem correta. Acho que merece uma revisão apenas para corrigir pequenas falhas de digitação, mas nada que comprometa o texto.
    Sobre o título… Muito bom! Gostei mesmo!

  8. Isaque de Assis
    17 de outubro de 2013
    Avatar de Isaque de Assis

    Alguns comentários aqui imploram por respostas, e resolvi dá-las, mesmo correndo risco de violar o regulamento. Afinal, a gente pode ou não pode comentar no próprio post SE FOR USANDO O PSEUDÔNIMO?

    “No entanto, se afastou do tema proposto.”

    O tema é “viagens no tempo”.

    Os personagens se encontram no futuro e ambos partiram de momentos diferentes do passado, usando tecnologias diferentes, e por isso vivem em culturas diferentes.

    Esse descompasso temporal é uma forma de viagem no tempo, tanto quando um cemitério de trens (desafio de agosto) é um cemitério. Sem mais.

    Sobre a lingua morta. É esperanto. Quem tiver dificuldade para entender, use o traduku.net para verter.

    “A relação entre o conto e o título”, bem, seria simples demais chamá-lo de “Bela Adormecida”, então usei o nome de outra princesa de conto de fadas que também dormiu por muito tempo.

    • EntreContos
      17 de outubro de 2013
      Avatar de Gustavo Araujo

      Buscando aperfeiçoar as regras do desafio, vamos combinar que o autor pode responder os comentários em seus contos antes da votação, desde que o faça com o pseudônimo, como você acabou de fazer.

      Pode-se, por outro lado, responder esses comentários com sua verdadeira identidade se a votação já tiver terminado.

  9. Sérgio Ferrari
    17 de outubro de 2013
    Avatar de Sérgio Ferrari

    Viagem no tempo, ou esperar o tempo passar…formas e formas…fiquei curioso no começo. Sabe, se não estivesse contando a história para crianças e sim para um grupo de amigos, sei lá…acho que o Leon ficaria muito mais descolado narrando o momento em que ficou de pau duro e cheio de desejos…hahahaha Eu fiquei com as histórias da Drunna na cabeça agora. Hummm assim o finalzinho seria outro né. hehehe

  10. Isabella Beatriz Fernandes Rocha
    17 de outubro de 2013
    Avatar de Isabella Beatriz Fernandes Rocha

    Com sinceridade, um dos melhores que li no concurso. O universo foi bem montado e embora não houvesse muito espaço para divagações, consegui captar a ideia principal do admirável mundo novo.
    Gostei muito!

  11. Claudia Roberta Angst (C.R.Angst)
    17 de outubro de 2013
    Avatar de Claudia Roberta Angst (C.R.Angst)

    A presença de constante diálogo torna a leitura mais ágil e agradável. O final aberto deixa a interpretação de cada leitor livre.

  12. Marcellus
    17 de outubro de 2013
    Avatar de Marcellus

    É um bom texto, com um final aberto demais, o que pode desagradar a maioria. No entanto, se afastou do tema proposto.

  13. Gustavo Araujo
    16 de outubro de 2013
    Avatar de Gustavo Araujo

    Um conto de FC bem montado. Ambientação perfeita e cujo princípio, com o pai contando uma história para as filhas, me fez lembrar de “O Silêncio das Montanhas”, do Khaled Hosseini. Estabelece-se uma relação terna e ao mesmo tempo disciplinadora. Bacana mesmo.

    Para mim, o ponto alto deste conto foram os diálogos entre Leon e Alice. Me amarrei de verdade, pois deu para perceber toda a angústia do primeiro.

    O final, contudo, não me agradou. Talvez por ter ficado muito aberto, sujeito a vários tipos de interpretação. Também sou do tipo “for dummies” como disse o Di Benedetto, no comentário anterior.

    De todo modo, assim como a maioria do pessoal por aqui, fiquei com uma impressão positiva, especialmente se considerado que o conto, na verdade, parte de um romance ou algo assim.

  14. dibenedetto
    15 de outubro de 2013
    Avatar de dibenedetto

    Então.

    O universo criado parece bem interessante, e acho que não necessariamente é um problema ter só um fragmento de uma panorama maior do cenário. Mas fica um texto menos amigável, mais pra quem está acostumado com conceitos de FC.

    Com aquele diálogo em “língua morta” no final, fica mesmo aquele sensação de “Ahhh, entendi o que aconteceu. Peraí, será que é isso mesmo que entendi?” Mas é uma escolha. Pessoalmente, prefiro arriscar que a coisa fique ~for dummies~, do que seguir por esse caminho.

    Problema mesmo é que, apesar de ter pegado a ideia de viagem no tempo (hibernação), acho que não foi muito utilizada durante o conto.

    • dibenedetto
      15 de outubro de 2013
      Avatar de dibenedetto

      PS: Teria botado aquele começo ali entre aspas, ou teria evitado a mudança de 1a pessoa pra 3a . (Começaria e terminaria tudo na 3a pessoa.)

  15. Jefferson Lemos
    11 de outubro de 2013
    Avatar de Jefferson Lemos

    Gostei da forma como soube manter a atenção do leitor com diálogos simples e diretos. O texto é muito bom e tem conteúdo para muito mais. Parabéns!

  16. Arnold Arg
    10 de outubro de 2013
    Avatar de Arnold Arg

    Bela estória. Efeitos bacanas e bom dialogo. O começo fez seu papel de atrair a atenção e a curiosidade do leitor para ir até o final.

  17. Frank
    9 de outubro de 2013
    Avatar de Frank

    Gostei da ideia e de seu desenvolvimento. Como disseram ela pode ser aproveitada em algo bem maior.

  18. Gilnei
    8 de outubro de 2013
    Avatar de Gilnei

    Não estou analisando os contos lidos pelo tema proposto, pois se assim fosse, muitos seriam descartados, menos esse, que se encaixa perfeitamente na proposta, desde o título.

  19. Inês Montenegro
    5 de outubro de 2013
    Avatar de Inês Montenegro

    Gostei da escrita, os elementos (descrição, diálogo, etc) encontram-se bem equilibrados, e explorar as consequências de se trazer alguém a um tempo que não é o seu é uma boa premissa. No entanto, o final não satisfez, assemelhando-se mais a um trecho e deixando o leitor com algumas dúvidas e confusão em relação ao worldbuilding.
    Também não vi a relação entre o conto e o título.

  20. Thata Pereira
    5 de outubro de 2013
    Avatar de Thata Pereira

    Fiquei bastante envolvida, apesar de não saber se entendi bem o final. Talvez por não ter costume de ler textos do gênero. Lerei novamente com calma, pois me atraiu bastante. Parabéns!

  21. Ricardo
    5 de outubro de 2013
    Avatar de Ricardo

    Um conto muito bem escrito. Narração gostosa e envolvente. Vamos lendo até chegar ao final e, mesmo sem grandes sobressaltos ou surpresas, deixa um gostinho parecido com um fim de tarde de leitura na rede da varanda de casa, com um restinho de sol no horizonte que, independente de nossa vontade, se põe na exata hora prevista.
    Um conto de um escritor sereno e com domínio da pena.
    Vale a pena a viagem!
    🙂

  22. rubemcabral
    4 de outubro de 2013
    Avatar de rubemcabral

    O inicio do texto é muito promissor; por detalhar um universo interessante e até com alguns ecos do estilo weird (o começo parece uma mescla de conto de fadas x FC, embora se revele somente FC depois).

    No entanto, ao terminar de ler fiquei com a impressão de apenas ter lido um fragmento. Em outras palavras, como conto não funcionou para mim.

  23. Bia Machado
    4 de outubro de 2013
    Avatar de Bia Machado

    Apesar de não ter entendido muito bem a parte final, a leitura fluiu muito bem, eu gostei bastante do que li, uma história a la Ursula K. Le Guin, de alguns contos que li dela… Muito interessante! Você poderia criar um romance de FC a partir desse texto…

  24. L.
    3 de outubro de 2013
    Avatar de L.

    Gostei!! Isso daria uma série muito legal hein! 😉

  25. mportonet
    3 de outubro de 2013
    Avatar de mportonet

    Fantástico.

    Um fragmento de uma história muito maior. Ficção científica da melhor qualidade.

    Não sei se a mediação aceitará como uma história de viagem no tempo, pois isso é subentendido na hibernação da protagonista, mas já figura entre os meus preferidos. Vamos ver se se mantêm até o final.

    Parabéns.

  26. selma
    3 de outubro de 2013
    Avatar de selma

    achei muito interessante, fiquei envolvida e fui lendo com atenção, mas me pareceu que ficou faltando alguma coisa. é o tipo de historia que acabamos subentendendo, mas não sabemos de fato se alcançamos a ideia do autor. gostei, mas queria mais…

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Publicado às 2 de outubro de 2013 por em Viagem no Tempo e marcado .