EntreContos

Detox Literário.

Uma Paixão de Cemitério (Maria Inês Menezes)

Naquela noite fria e chuvosa do dia 13 de agosto, uma sexta- feira, foi que aconteceu aquilo que iria mudar   a minha vida. E tudo começou em um cemitério.

Eu tinha ido à  cidade fazer umas compras, coisas que meu tio, com quem eu morava – pois eu sou um  Engenheiro Agrônomo  e trabalhava na fazenda dele – estava precisando para o dia seguinte.  Fui de moto pois não era muita coisa que ia comprar, eram coisas pequenas.

Cheguei no meio da tarde na cidade e pretendia voltar antes do anoitecer porque na estrada havia um cemitério e eu morria de medo só em pensar passar por ele de moto à noite. Ainda mais numa noite de lua cheia. E pior, numa sexta-feira, 13. Deus me livre e guarde!

Fiz as compras, fui fazer um lanchinho e quando já estava na moto para voltar eis que aparece um ex-colega que não via há um tempão e estava a passeio na cidade.

— Jorge, meu velho, e aí, como vai?

— Paulo! Quanto tempo! Como está essa vida?

— Tudo ótimo! Não sabia que você morava por aqui.

— Ah, eu trabalho na fazenda do meu tio a uns dez quilômetros daqui.

Vamos ali no bar tomar= umas e botar o papo em dia

— Eu já estava voltando para casa, mas não vou perder a oportunidade de  conversar e tomar uma cervejinha com meu velho amigo.

Vamos lá. Conversa vai, conversa vem, nem vi o tempo passar. Quando vi já passava das dez da noite e eu tinha bebido um pouco mais da conta.

— Paulo, meu velho, foi muito bom rever você, relembrar velhos e bons tempos, mas, tenho que ir agora. Já está muito tarde. Quando venho em festas aqui não volto à noite de jeito nenhum, espero o dia amanhecer, mas tenho que estar em casa com as coisas que comprei assim que amanhecer o dia para começarmos a trabalhar. E não ria de mim, mas, tenho que passar por um cemitério e morro de medo! Já pensou se a moto dá um defeito perto! Não quero nem pensar. Acho que morro. As pessoas contam cada história…

— Imagina, Jorge, um homem deste tamanho com medo de assombração! Não vê que essas histórias são invenção do povo?

— Eu, hein! Não quero arriscar para saber se são verdadeiras ou não. Estou mais pra lá do que pra cá=C mas acho que consigo pilotar  a moto. Tenho que acordar bem cedo na fazenda, por isso já vou indo. Até mais, meu amigo.

— Até outro dia, amigo. Vá com Deus e cuidado para alguma alma penada não pedir carona na garupa da moto, hein!

— Não fale isso nem de brincadeira. Fiquei até arrepiado.

Consegui me equilibrar na moto, liguei e dei partida. A lua estava linda mas eu nem enxergava direito pelo efeito das cervejas. Quando estava passando pelo cemitério, o que é que resolve acontecer? A moto começa a soluçar, soluçar e para. Meu Deus do céu! O que eu faço agora? Deu vontade de sair correndo sem olhar para trás, mas as compras estavam na moto e eu não podia carregar. Eu sozinho naquele deserto, em frente ao cemitério e  ainda o celular  estava descarregado. Para piorar a situação começou a chover. O único lugar onde eu poderia me abrigar da chuva era justamente o portão do bendito cemitério. Será que o meu medo seria maior  do que tomar chuva? Mesmo com as pernas tremendo corro para o portão  e me encolho no cantinho, agachado. A mente a mil, fervilhando entre as cervejas e as histórias que lembrei daquele cemitério, a cabeça rodando. Nem conseguia raciocinar direito, só queria fugir dali. Olho o relógio, falta pouco  para meia noite… que vontade de gritar, sair correndo. Eis que de repente,  vejo um vulto branco se encaminhando para dentro do cemitério. Passa por mim, vejo que é uma moça e bonita pelo pedaço do rosto descoberto. Ela parece não me notar, passa direto e entra… fica parada no meio daquele dormitório ao ar livre, todas aquelas caixas brancas erguidas com alguém embaixo… depois vai para um túmulo com formato de uma capelinha e fica em pé na portinha. Eu tremendo mais ainda e pensava: ela mora ali dentro, ela vai entrar… ou será alucinação? Por que fui beber tanto? O tempo passava e eu nem lembrava mais de moto, nem da chuva, nem de nada. Minha atenção toda voltada para aquele vulto todo de branco. Nem sei quanto tempo ficamos ali. Eu sem conseguir respirar nem pensar, só tremendo  e o coração parecendo que ia sair pela boca, o vulto, a moça, parada na frente do mausoléu, quieta. Até que um momento el a se vira e volta caminhando para a saída… eu em pé, sem me mover, só acompanhando os movimentos com os olhos… e ela vem… quando chega pertinho de mim, eu me desequilibro e caio fazendo um barulho ao bater no portão  de ferro. Ela para de vez… parece atordoada, espantada ao me ver ali estatelado no chão… então ela fala:

— Onde estou? Quem é você? Como eu vim parar aqui?

Eu sem coragem de responder, ia sair correndo… ainda chovia forte… ela descobre a cabeça, o rosto, e eu pude ver o quanto ela é jovem e bela. Crio coragem e falo: _ moça, estamos num cemitério, como você veio parar aqui eu não sei. Você é de carne e osso? Responda, você é gente viva ou fantasma?

— É claro que sou gente e bem viva! Só não entendo como e nem porquê estou aqui no meio da noite e conversando com um desconhecido.

Só então percebo que ela acabava de acordar, não era um simples vulto, era gente. Perguntei onde ela morava e ela respondeu que era numa rua perto daquele cemitério e me pediu que a acompanhasse até a sua casa. Eu então já estava meio recu perado do susto e de tudo saí andando com ela. A chuva já passara e agora a lua brilhava ainda com mais intensidade. Quando chegou em casa, tocou a campainha e seus pais abriram a porta desesperados e foram logo me perguntando o que eu tinha feito com sua filha. _ Meu senhor, respondi, acabo de conhecer a sua filha, passei o maior susto da minha vida com ela e estou sem entender o que a filha de vocês foi fazer no cemitério a essa hora parecendo estar dormindo ou drogada, sei lá… Eles prometeram que iam conversar com ela  e descobrir o que aconteceu. Quando eles acordaram e viram a porta do quarto dela aberta e ela não estava em casa ficaram desesperados. Não imaginavam onde ela pudesse estar.  Pensaram até que ela estivesse se drogando pelo comportamento estranho que estava apresentado há alguns dias. Expliquei quem eu era e o que tinha acontecido para estar ali àquela hora. Não sabia como voltar porque  a moto estava quebrada. E tinha que cedo estar na fazenda. Então, o pai da moça disse que tinha um carro e que me levaria na fazenda. A moto eu traria alguém para consertá-la depois e levaria. E assim aconteceu. Cheguei em casa já perto do amanhecer. Expliquei a meu tio que a moto havia me d eixado “na  mão” ou melhor, a pé, mas claro que não falei nada a respeito do que tinha acontecido no cemitério.

No domingo, já que sábado não deu tempo,, meu tio foi me levar na oficina para pegar  moto que já estava devidamente consertada- o pessoal da oficina era amigo dele  tinha providenciado o transporte da moto quebrada- e eu disse que ia ficar mais um tempo na cidade. Ele voltou e eu fiquei e minha intenção real era  ter notícias da moça. Passei na casa dos pais e então eles contaram que já sabiam o que acontecera. O irmão dela, o filho mais novo deles havia morrido fazia uns sete meses e ela, que adorava o irmão, nunca tinha se acostumado com a perda. Sempre tirava algum tempo para ir ao cemitério visitar o túmulo dele. Acordava todas as noites chorando muito e chamando pelo irmão.  Às vezes perambulava pela casa num estado de sonambulismo. Nessa noite, ela saiu, sem que eles percebessem. Ela era sonâmbula e assim foi direto ao cemitério mas eles ficaram vigilantes e ela não voltou a sair. Ela veio conversar comigo. Meu Deus, como ela era linda! Foi então que me apaix onei. Começamos a namorar e eu perdi completamente o medo do cemitério. Vinha quase todas as noites vê-la. Às vezes até dormia na casa dela. Resolvemos nos casar. Mas não seria um casamento comum. Ah, isso não! Já que tudo começou no cemitério, era ali que ia ser realizado o casamento. E ela ficou feliz porque ali ela sentiria a presença do irmão. Ele participaria do seu casamento. Difícil foi convencer o padre, os convidados e parentes , inclusive meus tios,  a comparecerem a um local tão inusitado e improvável para um casamento. Devo dizer que somos muito felizes, nos amamos muito a Sônia e eu.  E assim ficamos conhecidos como o “casal do cemitério”. No cemitério nos conhecemos e no cemitério nos casamos e para lá vamos de vez um dia. Bendito cemitério!

21 comentários em “Uma Paixão de Cemitério (Maria Inês Menezes)

  1. Diogo Bernadelli
    29 de setembro de 2013
    Avatar de Diogo Bernadelli

    Uma dica sintetiza: se identificar a necessidade de mapear cada passo do seu personagem, faça de maneira criativa. Escrita e aritmética são ciências distintas.

  2. vitorts
    28 de setembro de 2013
    Avatar de vitorts

    Sinto que falta alma no texto. Parece aquele esqueleto que fazemos assim que começamos a escrever algo; um amontoado de ideias que apenas tem por função delimitar cronologicamente as estruturas do conto. A questão seria de, a partir do conseguido, reescrever o texto cuidando da estética e da coesão. É como na engenharia civil: primeiro a infra-estruturas, depois o acabamento.

    Como tudo é uma questão de prática, é só não parar de escrever (e acredite, meios como o EC são uma excelente escola para tanto!).

  3. Bia Machado
    28 de setembro de 2013
    Avatar de Amana

    Como o pessoal apontou, falta um conflito, os parágrafos precisam ser revistos, o texto está simples demais, mas é um material que dá pra ser trabalhado, acho que você deveria trabalhar mais nele, seguir algumas sugestões, como a questão de, de repente, é o cara quem está morto, algo do tipo, e não entregar muito fácil as coisas pro seu leitor. 😉

  4. Fernando Abreu
    28 de setembro de 2013
    Avatar de Fernando Abreu

    Parece ter sido escrito por alguém que está começando o flerte com a produção de textos agora, por isso não serei muito incisivo. Mas falta muita coisa para virar um conto médio. Há de se ler mais e escrever, escrever, escrever…

  5. Rubem Cabral
    27 de setembro de 2013
    Avatar de Rubem Cabral

    Achei ruim: história fraca, narração deficiente, final bobinho.

  6. amandaleonardi23
    26 de setembro de 2013
    Avatar de amandaleonardi23

    A ideia da menina ser viva e não um fantasma bem é interessante até, mas achei a estória muito simples, muito direta, sem complicações que prendessem mais a atenção. A escrita poderia ser melhor revisada, tem alguns erros de pontuação e digitação. E os parágrafos ficaram muito longos, com muitas ideias misturadas. Acho que com parágrafos menores, dividindo melhor os acontecimentos, a leitura ficaria mais leve e fluente.

  7. Emerson Braga
    23 de setembro de 2013
    Avatar de Emerson Braga

    Não tenho nada contra textos escritos de forma limpa e enxuta. Pelo contrário, eles são extremamente atraentes, quando bem escritos. Não é o caso desse conto. Não me disse nada, sequer me entreteu.

  8. AlessandrA
    22 de setembro de 2013
    Avatar de AlessandrA

    Desculpe, pra mim, texto de aluno da sétima série…

  9. Gustavo Araujo
    22 de setembro de 2013
    Avatar de Gustavo Araujo

    Gosto de textos simples, sem rebuscamentos, que primam pela naturalidade do “contar a história”. Gosto da trivialidade, de ver que o autor não se preocupou em demonstrar seu nível de cultura. Este texto tem essas qualidades a meu ver. É de fácil compreensão e, por isso, poderia encontrar eco favorável em um bom número de leitores, entre os quais, receio dizer, não me incluo.

    Creio que faltou uma reviravolta, um mistério, uma dificuldade, enfim, algum obstáculo que se interpusesse entre os protagonistas. Do jeito que está, não há razão para “torcer” por eles. Na verdade, a história, de certa forma, parece mais um relatório. Com a inserção de alguns elementos (p.ex, a o rapaz poderia ser, ele mesmo, um fantasma acreditando que estava vivo) poderia ter se tornado um conto mais atrativo.

    De todo modo, acho que a tentativa foi válida. Escrever tem muito de tentativa e erro, de filtrar as críticas, de entendê-las e de extrair delas o melhor.

  10. Sandra
    22 de setembro de 2013
    Avatar de Sandra

    Muita descrição acerca de coisas não muito importantes para o desenvolver da história. Tive um pouco de preguiça para continuar alguns parágrafos.
    Mas é no exercício da escrita e de muita leitura que a gente vai se aperfeiçoando. O texto passa a impressão de que fora feito por um autor ainda jovem com vontade e potencial. É por aí: humildade, paciência e persistência!

  11. José Geraldo Gouvea (@jggouvea)
    21 de setembro de 2013
    Avatar de José Geraldo Gouvea (@jggouvea)

    A qualidade da escrita é o principal problema deste conto. O autor não tem um estilo literário definido, sua prosa é muito sem cor e seu domínio expressivo me parece insuficiente. A história em si é boa, mas o autor ainda tem que “comer muito feijão” antes de ter um texto bom. A boa notícia pare ele é que certo mago meteorológico que vende livro à beça no mundo inteiro jamais comeu desse metafórico feijão.

  12. Thais Lemes Pereira (@ThataLPereira)
    20 de setembro de 2013
    Avatar de Thais Lemes Pereira (@ThataLPereira)

    Finais felizes (rs’) não sou de escrever muito isso, mas tenho me aventurado, ultimamente. É interessante ler isso de vez em quando. Bom, mas atenção, o texto precisa ser trabalhado e uma coisa que não reparei se disseram aqui: cuidado com as falas. Ninguém fala dando muitas explicações. Um bom diálogo enriquece muito o texto.

  13. Lúcia M Almeida
    19 de setembro de 2013
    Avatar de Lúcia M Almeida

    A intenção foi boa, faltou um pouco de mistério para prender mais a atenção

  14. Claudia Roberta Angst
    19 de setembro de 2013
    Avatar de Claudia Roberta Angst

    A ideia é interessante, o final inusitado, mas um pouco de mistério na narrativa traria mais força ao texto. O começo foi mais lento e o fim parece ter sido redigido às pressas, para concluir com um happy end.

  15. feliper.
    18 de setembro de 2013
    Avatar de Rodrigues

    Informação demais. O conto muda bruscamente de uma hora pra outra. Do nada, o cara se apaixona pela garota. Fora que um parágrafo parece indicar o que vai acontecer no outro, tirando a surpresa. O ideal seria focar na história dessa paixão e até mesmo do casamento dentro do cemitério, daria um conto mais legal.

  16. Marcelo Porto
    18 de setembro de 2013
    Avatar de Marcelo Porto

    O texto precisa ser realmente trabalhado, o detalhismo em excesso atrapalha a leitura.

    Apesar do inusitado da moça do véu não ser um fantasma, os clichês também permearam a narrativa, me causando uma sensação de perda de tempo quando terminei a leitura.

    Evitando a negatividade, vejo de positivo o autor(a) se debruçar para escrever e se arriscar às críticas. Continue escrevendo e não desista, o principal você já conseguiu. Perder a vergonha de mostrar o seu trabalho.

    Sucesso!

  17. Reury Bacurau
    18 de setembro de 2013
    Avatar de Reury Bacurau

    Gostei da história, diferente. Acho que também precisa ser mais trabalhado, especialmente o excesso de explicações no início. Bem bacana!

  18. Arlete Hamerski
    18 de setembro de 2013
    Avatar de Arlete Hamerski

    Parece uma dessas lendas de cidade do interior. Faltou um pouco de escrita mais rebuscada.

  19. marcopiscies
    18 de setembro de 2013
    Avatar de marcopiscies

    É uma ideia original mas precisa ser mais trabalhada. O fato da moto engasgar na frente do cemitério já tinha sido gritado no início do conto muito antes de acontecer. Eu tinha certeza que aconteceria.

    Falta também melhorar a escrita. O conto, como está sendo apresentado, parece a transcrição de uma história contada verbalmente. Tudo muito informal. Uma boa revisão também daria conta dos erros de digitação.

    Gostei muito da ideia do enredo. Se melhor apresentado, pregaria boas peças no leitor (“então era uma menina, e não um fantasma!”). Senti falta de um clímax: alguma reviravolta, algo mais impactante. Mas de qualquer forma, isso pode ser só opinião minha.

  20. selma
    18 de setembro de 2013
    Avatar de selma

    uma historia diferente. quem achava que ele ia encontrar um fantasma, viu que ela era de carne e osso. o portugues precisa ser melhorado. a ideia é boa, gostei. parabens!

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Publicado às 17 de setembro de 2013 por em Cemitérios e marcado .