“Dói ver tanta dor”. Foi assim que começou o discurso do padre. Era uma manhã fria e chuvosa, garoava naquele momento. Entre guarda-chuvas abertos mal se via os rostos e os olhares profundos e dolorosos daquela gente. Uma multidão se aglomerava frente à apoteose, uma apoteose grotesca e enegrecida pelas águas daquele dia escuro. O ambiente transbordava tristeza, uma tristeza encharcada de pesares e silêncio. Enquanto o padre falava, muitos se alvoroçavam, e assim faziam exatamente porque ele, o falecido, era muito calmo e sereno, pacífico. Ele que sempre propagava suavidade e caricias, acalentando almas perdidas, amenizando sofrimentos de tantos, diminuindo o peso e a culpa de muitos pecadores, de espíritos perturbados, tinha agora sua ausência sentida e pesada, pesada na consciência de cada um que o conheceu,medindo seus prós e prós – difíceis eram encontrar seus contras – ele era um servo de Deus. Não um santo, nem um demônio, mas um filho da vida, atento e sábio, como os diferenciados sempre o foram. Sua lei era o além; sua visão enxergava algo mais do que nossos olhos podem ver, estava aberto ao desconhecido, seu sentimento era aguçado, não diferente de nenhum outro ser terreno, apenas supervalorizado.
De Bíblia em mãos, o padre lia versos dos Salmos. Era possível ouvir as gotas que caiam, de choro e de chuva, tamanho o silêncio e respeito, atenção com a qual ouviam tal prece, atenção que tinham por tal homem, concentração poderosa e coletiva que pautava aquele evento, aquela casualidade. Nem mesmo o padre se comparava a ele, antes se colocava atrás, pois a coragem daquele homem era digna do superlativo. Abdicara de tudo, de todos seus bens há muito, não fora padre nem monge nem pastor, mas, como dizia, um nazareno, que vagou por este mundo enorme sempre estando em casa. Como costumava dizer o mundo era seu lar, e acolheu, propagou e foi exemplo de amor, devoção e paz para com o próximo. Mal sabiam suas origens, seu berço, sobrenomes, o conheciam como o Bom João, e no meio de tantos se destacava pelo carisma, pela simplicidade e pela confiança em seu trabalho, que alias não lhe rendia finanças alguma, seu pagamento era em outro nível, da alma, em espírito. Ele que andou este Brasil norte a sul, durante anos fez-se percebido, por vezes incompreendido, invariavelmente admirado, tanto que quando foi encontrado deitado embaixo daquela ponte, sobre as beiras do riacho, em pleno cerrado goiano, onde mais parecia dormindo, ao ser cutucado percebeu-se que havia desta partido. Ninguém sabia para onde levá-lo, onde era sua terra nascida, mas todos sabiam que merecia um enterro de rei, com louvores e abençoado. Não lhe pouparam abundância e atenção, pessoas, imprensa, reza e devoção. E enquanto a cerimonia era proferida, já haviam enviado o pedido de santificação para Roma, o próprio Presidente da República o havia encaminhado quando de sua passagem ficou sabendo.
O Bom João, humilde e caridoso nasceu em berço desconhecido – e tantas lendas existiam sobre ele – repousou ao menos em pouso dourado. Nasceu homem morreu santo.
Naquele dia, até Deus chorou, derramando suas lágrimas naquela gente que lhe prestava a última homenagem.
“Era possível ouvir as gotas que caiam, de choro e de chuva, tamanho o silêncio e respeito, atenção com a qual ouviam tal prece, atenção que tinham por tal homem, concentração poderosa e coletiva que pautava aquele evento, aquela casualidade.”
Se após “chuva” o autor tivesse preferido usar um ponto final (e pontuar corretamente “caíam”, a propósito), aniquilando o restante do fragmento, teria evitado aquele que foi o pecado mais recorrente do texto: o rococó. Informações na medida conduzem a leitura através da pauta programada; informações demais apenas afogam. A escrita é boa, a mente por trás do conto inspira potencial: mas ao mesmo tempo uma necessidade quase pubescente de fixar no papel todas as suas emoções.
Finalmente, gostei da obra, mas infelizmente tampouco a classificaria como conto.
O tema foi abordado com lirismo, mas como já disseram aqui, faltou desenvolver mais o enredo. Gostei do tom da narrativa.
Realmente, parece só uma introdução, porque não desenvolve uma trama, só apresenta o personagem e a situação. Mas tem um toque de lirismo, e, apesar de alguns erros de pontuação, é bem escrito, só precisa desenvolver melhor a história.
Este é um texto subnutrido. Não há conflito, só a descrição unidimensional do caráter do personagem. E essa condescendência o equipara perigosamente aos relatos bajulatórios que se escutam em 98% dos velórios. Sem falar nas metáforas batidas, como a do céu chuvoso que “parece estar chorando a perda da pessoa” etc. Passa a impressão de um mero obituário hagiográfico.
No entanto, o autor demonstra maturidade narrativa em algumas partes. O que me leva a crer que o erro maior, aqui, foi mesmo a escolha do tema, a construção superficial do personagem, além dos símiles inexpressivos.
Um prólogo bem escrito, mas apenas um prólogo que antecipa uma história, uma história que infelizmente não foi escrita…
Isso não é um conto. Ao contrário de algumas resenhas, não achei bem escrito, os parágrafos são gigantescos, tornando a leitura cansativa. Vi também alguns clichês gritantes “ Era uma manhã fria e chuvosa, garoava naquele momento. Entre guarda-chuvas abertos mal se via os rostos e os olhares profundos e dolorosos daquela gente” , me pareceu um enterro de filme americano, onde sempre está chovendo e tá todo mundo de guarda chuva.
Faltou conflito e conteúdo. Achei o Bom João gente boa, e somente isso.
Pô..parece que começou e logo acabou. Não achei cativante..apesar de achar bem escrito.
O que me desagrada neste texto é a construção afoita. Tem até uma ideia bacana, mas peca no desenvolvimento.
O texto é bom, mas o enredo peca. Um texto que merecia ser melhor desenvolvido.
A história é boa e bem escrita, mas o enredo peca. Um texto que merecia ser melhor desenvolvido.
Para um conto, faltou o conflito. Por isso, soa mais como uma introdução (ou um desfecho). Em suma, um fragmento.
Está assim, escrito bacana, mas faltando o recheio. Com mais desenvolvimento, pode virar uma coisa muito boa.
O autor tem estilo, mas não entendeu a proposta do que seja “conto”. Depois de uma introdução até boa, ele simplesmente não conta a história.
É um texto que precisava ter uma continuidade. Como alguns disseram, está bom para um introdução, talvez a partir dele se criasse um texto contando em detalhes a vida do Bom João, que certamente dava um livro. O final, em um parágrafo curto, passou a ideia de que não sabia como terminar, mas que queria terminar, não sei… Deixou ainda mais a ideia de algo incompleto, inacabado. Me incomodou a afirmação de que a documentação para a santificação já tinha sido enviada… Esses processos, que eu saiba, são bem morosos, e há a etapa da beatificação primeiro, se não me engano. Mesmo assim, sem ter certeza, acho que essas informações têm que ser verificadas de forma a não deixar dúvidas mesmo… Gostei do texto, mas fica a ideia para desenvolvê-lo mais, ok? ;D
gostei da forma como foi escrita,, mas não gostei da historia em si.
A história é interessante, embora termine “não mais que de repente”. Senti falta de uma boa revisão, para aparar detalhes importantes. Um abraço!
Adorei a narrativa, a suavidade… mas infelizmente não me envolvi como em outros. Se lapidado, dará sim uma envolvente história. Boa Sorte!!
Os amigos resumiram bem o que achei do texto: muito bonito, especialmente pelo quê de Lírico nele, mas faltou “algo a mais”.
Arrisco discordar que ele “sugere uma continuação”. Já li contos que terminam assim, quase relatos. Eles criam uma conexão com o personagem e terminam subitamente, mas de forma completa. O problema não foi o final mas foi o meio. As regras sugerem um máximo de 3500 palavras, mas você escreveu 522. Estas outras três mil que faltaram poderiam ter sido usadas (apenas um exemplo) para trabalhar mais a vida de Bom João, as vezes contando relatos, emocionando o leitor. Falar algo que preencha essa lacuna que pareceu faltar.
Mas a escrita está muito boa, apenas pedindo um pouquinho de revisão nas pontuações. A leitura é fluida a maior parte do tempo. Agradável.
Abração!
O conto parece uma preparação para uma história maior. Creio que poderia desfocar um bocadim do ambiente e explorar o lado psicológico do Bom João. Vejo-o de longe, como num relato. A história está bem escrita, mas carece de algumas revisões. No mais, o lirismo que permeia o texto me agrada. Algumas passagens me saltaram aos olhos.
No geral, a forma de escrever me agradou, mas a história deixou a desejar.
O texto está com excesso de adjetivos, cansativo e com informações demais. Não me agrada a execução. Porém, achei corajosa a ideia.
O texto tem um bom narrador, com uma voz que nos envolve. Mas o concluímos com a sensação de que algo lhe falta, como se, de repente, você tivesse desistido de criar. Não entendi… Você escreve bem, o que houve, afinal?
A narrativa prende, mas a história decepciona.
Também fiquei com a sensação de que a história poderia ter ido mais longe. Está ótimo para uma introdução – bem escrito, lírico, até – mas merecia algo mais.
Conto interessante, mas que nao chega a desenvolver melhor sua história. Gostei da suavidade do texto. Em termos de escrita, reparei em alguns probleminhas de concordância e pontuação.