EntreContos

Detox Literário.

Marcas de Sangue (Renato Silva, Jorge Santos e Antonio Stegues)

Aquela cidade continuava a mesma, quase três décadas depois. Foi o que pensou o homem ao desembarcar do rústico ônibus em uma pequena praça. As passagens eram vendidas no guichê que no local e só funcionava nos horários em que os ônibus estavam para partir.

Muitos anos se passaram desde que ele pisara naquele lugar pela última vez. Os pelos de seu rosto não passavam de penugens e suas mãos ainda não haviam sido manchadas de sangue. Sob o sol abrasador, tomou suas coisas e saiu correndo. Deixou o cadáver de seu pai caído sobre o chão de terra onde tombou após traiçoeiro ataque, cujas manchas de sangue no peito e na face se tornaram secas e escuras. O menino correu, contando com o dia em que voltaria.

Vestindo jeans azul, camisa bege de mangas curtas, jaqueta preta e calçando tênis brancos, trazia consigo apenas uma mochila. Caminhou devagar pelas ruas de paralelepípedo, observando aqueles locais onde passou a infância. A velha igreja matriz, reformada. O prédio da prefeitura ganhou alguns anexos e um antigo terreno ao lado virou estacionamento. O antigo bar do Tião estava lá, com as mesmas paredes amareladas em seu interior. Lembrou das vezes em que entrou para comprar cigarros para seu pai e usava do troco para comprar uns doces baratos. O tempo não mudou muito o velho centro da cidade, que ainda exportava muitos jovens para a capital. O velho hotel de dois andares e janelas coloniais ainda estava lá; belo outrora, decadente naquele momento.

Pediu um quarto, tomou as chaves e subiu. Ao trancar a porta, colocou a mochila sobre a cama barulhenta. A luz do sol atravessava as frestas da ressecada janela de madeira, iluminando parcialmente o ambiente. Abriu a mochila e retirou seus pertences, dentre os quais, um revólver calibre .38 de cor escura e empunhadura feita em madeira. Dentro de um saco plástico, vários maços de dólares. O cruzado estava cada vez mais desvalorizado pela inflação galopante, por isso tinha pouco no bolso e o suficiente para pagar as despesas locais.

O homem saiu para almoçar em um restaurante em uma rua estreita, ao lado de trás da igreja matriz. Enquanto comia sua refeição, um homem moreno de traços duros e olhos apertados, pouco visíveis sob a aba de um chapéu escuro de feltro, o observava duas meses à frente. Ele já havia almoçado e palitava os dentes calmamente. Em dado momento, se levantou, pagou a conta e saiu. O homem que almoçava sairia alguns minutos depois.

— O sinhô é o fio do…

— Sim, eu mesmo — respondeu o homem, após ser abordado pelo estranho alguns metros fora do restaurante.

Intão sabe quem eu sou?

O viajante acenou com a cabeça e lhe entregou um pacote para o outro homem que o guardou.

— Não vai conferir?

— Não precisa. Cunfio no senhor — respondeu, olhando-o de modo bastante incisivo, mas também demonstrando genuína confiança naquele homem nunca havia visto, mas conhecia sua família.

— Vou precisar de um carro para sair daqui depois que terminar.

— Já está guardado. O senhor precisa di arma e munição?

— Não. Preciso de alguém com boa pontaria vá comigo e de um carro para ir embora.

O homem de chapéu abriu um sorriso, exibindo um dente de ouro, e disse:

Mais nisso eu muito bom.

A noite chegou. O homem caminhou pelas ruas quase desertas, comércios fechados, com exceção de alguns bares e uma casa de luz forte amarela, de onde vinha música alta e risadas femininas. Ele estava um pouco mais distante do centro e seguiu subindo uma longa rua de paralelepípedos até o antigo cemitério da cidade. Apesar de fechado ao público, seus muros eram baixos, e o homem pulou. Com o auxílio de uma lanterna, encontrou os jazigos onde repousavam seus familiares. Pela primeira vez, viu onde estava sepultado seu pai. Ele se abaixou, depositou o revólver sobre o túmulo e orou.

— Perdão, pai, mas hoje irei derramar sangue do nosso sangue… — murmurou, derramando uma lágrima de arrependimento pelo que iria fazer.

Depois de sair do cemitério, saltando o muro como tinha feito para entrar, o viajante encontrou o homem com quem falara na porta do restaurante.

– Creio que não nos apresentamos. Meu nome é Ismael – disse o homem.

– Eu sou Arnaldo. Vamos embora. – disse o viajante, dando o nome falso que costumava usar.

Entraram no Volkswagen Golf preto de Ismael, que ligou o motor, acendeu os faróis e se fez à estrada. O caminho até ao sítio do Coronel Gervásio da Silva, o homem mais poderoso daquelas terras, era sinuoso. Não por falta de dinheiro, que a prefeitura recebia um bom dinheiro do Coronel, mas uma forma de aumentar a segurança do lugar. Felizmente que não tinha chovido naquela semana, ou o carro seria de pouco préstimo.

No bolso, Arnaldo sentia a arma a queimar. Revia mentalmente o que tinha acontecido. Trinta anos antes, Gervásio tinha disparado dois tiros no irmão, pai de Arnaldo. O Coronel não estava sozinho e Arnaldo, escondido por trás de uma árvore, viu o pai tombar e agonizar.

Ismael ligou o rádio. O forró fez-se ouvir quando Arnaldo mais precisava de pensar.

– Baixe o rádio. O carro tá fazendo um barulho estranho.

Ismael desligou o rádio, subitamente atento ao barulho do motor.

– Eu trabalhei numa oficina. O motor do seu carro está com probrema e vamo ficá na estrada. – Disse Arnaldo.

Alarmado, Ismael parou o carro na beira da estrada de terra. Abriu o capô com o motor em funcionamento.

– Parece-me normal.

Arnaldo saiu do carro e aproximou-se de Ismael. Tirou a arma do bolso e disparou a curta distância da cabeça dele, que tombou inerte na estrada. Arnaldo puxou o corpo pelos braços até o deixar na beira da estrada, num local escondido. Depois, meteu-se no carro e seguiu viagem pelo caminho que conhecia bem mas que já não fazia há trinta anos.

– Sim, Ismael, afinal o carro está bem. Pena que ocê também tinha culpa na morte do meu pai. – Disse Arnaldo, sozinho no carro. Ismael teria menos de quinze anos nessa noite. Quem é o canalha que leva criança para matança? Cinco quilómetros depois, entrava oficialmente nas terras de Gervásio da Silva. Uma picape vermelha barrava a estrada. Uma luz forte iluminava a estrada e cegava Arnaldo. Dois homens armados com espingardas saíram da picape e ordenaram que Arnaldo parasse.

– Boa noite, companheiro. Ocê tá perdido? Aqui é terreno privado. – Disse um dos homens, enquanto o outro lhe apontava a espingarda à cabeça.

– Quero falá com Coroné Gervásio. Quero oferecer meus serviços. – Disse Arnaldo, mantendo-se calmo. Já perdera a conta às vezes que lhe tinham apontado armas.

O homem que apontava a espingarda comentou algo aos ouvidos do outro.

– Este é o carro do Ismael?

Arnaldo sorriu.

– Ele prometeu trazer-me. No caminho faltou ao respeito ao Coroné Gervásio. Disse que ele era um velho frouxo que nem pra engravidá mulher servia e que preferia menino. Por isso passei chumbo nele e deixei seu corpo na beira da estrada, que é o único cemitério que essa gente merece.

Os dois homens riram.

– Ocê tem de contar essa história para o Coroné. Ele vai gostá. Ismael já vinha merecendo mêmo. Mendonça, acompanhe este senhor ao Coroné.

O homem da espingarda entrou para o lugar do passageiro, ao lado de Arnaldo, e mandou que avançasse, mantendo a espingarda o tempo todo apontada à cabeça do condutor. Seguiram por um caminho asfaltado até a uma casa de aspeto moderno, completamente diferente do que Arnaldo se lembrava. Mendonça pediu para que esperasse dentro do carro. Chamou dois homens que ordenaram a  Arnaldo para sair do carro. Este entregou de boa vontade a sua arma. De seguida foi revistado, sempre de mãos levantadas.

– Tá limpo. – Disse um dos homens que o revistaram. Mendonça indicou-lhe então o caminho. Arnaldo só pensava que Ismael o teria feito cair numa armadilha e estaria morto se não tivesse tomada a iniciativa.

No grande salão da casa, um grupo de crianças, entre meninos e meninas, jantava. Eram de idades diferentes e Arnaldo presumiu serem todos familiares, filhos e netos de Gervásio, que ocupava um dos topos da mesa. Arnaldo reparou que seu tio parecia um homem banal, não muito diferente do que se lembrava. No entanto, quem pensasse que podia tirar sarro da cara dele estaria ferrado, pois Gervásio mais depressa mandava a pessoa para o inferno do que levava desaforo para casa.

– Quem é ocê? – Perguntou Gervásio. Arnaldo teve vontade de dizer a verdade. “Sou Jacinto, filho de Amílcar, seu irmão que caiu no chão, tombado por suas balas, meu tio”. Mas isso seria uma sentença de morte.

– Sou Arnaldo, venho de Nerópolis e estou aqui para oferecer os meus serviços.

Gervásio olhou para Arnaldo com o olhar inquisitivo que lhe era habitual. Não era à toa que conseguira o seu império.

A porta do salão abriu-se. Quatro homens entraram carregando o corpo de Ismael num cobertor. Gervásio apontou para a mesa e eles depositaram o cadáver o mais longe que puderam das crianças, que continuaram a comer como se nada fosse. Gervásio analisou o cadáver, viu o buraco da bala, onde podia ver o cérebro do falecido.

– Tenho de reconhecer que tem coragem. Vir a minha casa a meio da noite pedir emprego, matar um conhecido meu …

Arnaldo ia argumentar, mas Gervásio o fez parar com um gesto firme.

– … e eu não disse que ele não merecesse. Estava planejando a minha morte. Dizem que falou mesmo com um jagunço de fora. É ocê? Veio me matar?

Gervásio tirou a sua pistola do coldre, colocou-a na mão de Arnaldo e colou o cano à sua própria testa.

– Aproveite agora. Eu lhe garanto que não vai ter outra oportunidade.

Arnaldo teve vontade de apertar o gatilho e vingar seu pai. Tinha sonhado com aquele momento aqueles anos todos. Mas depois entregou simplesmente a pistola a Gervásio.

– Só quero o emprego, Coroné. O sinhô inda tem muitos anos pela frente e eu só quero servir ocê.

Gervásio sorriu. Depois foram beber para a sacada. Conversaram algum tempo enquanto enterravam o corpo de Ismael algures na propriedade. O coronel chamou então por Maria, uma das criadas mais antigas, e mandou que mostrassem o caminho de um dos quartos da criadagem para Arnaldo.

– Ocê teve sorte. – Disse Maria, uma mulher baixa, de pele negra. Estavam sozinhos, a meio do caminho para um edifício afastado cem metros da casa grande.

– A sorte num quer nada comigo.

– Eu sei quem ocê é. É Jacinto. Sobrinho de Gervásio. Tem sorte a vista dele estar cansada e ele não gostar de usar óculos pra não dar parte de fraco. Mas eu sei. Por baixo dessa barba, tem muito de Amílcar, seu pai. O melhor homem que já apareceu por aqui. Pena que Gervásio seja o demônio, e homem nenhum pode nada contra o demônio. Ocê veio matar ele? Porque se veio, eu ajudo. Tenho contas a acertá com esse homem. Demasiadas.

Arnaldo seguiu Maria em silêncio, sem responder. Pediu perdão para o pai, porque teria de quebrar a promessa feita e seu Gervásio ainda ia ver nascer o sol.

Maria arrumou a cama onde Arnaldo iria dormir.

— E dona Inácia?

Ela trocou lençóis e a fronha do travesseiro.

— O Gervásio internou sinhá Inácia no hospício. Ela ficou perturbada das ideias desde que Ana Lúcia faleceu no parto. Ouvi dizê que  moça morreu num convento. A sinhá não tava louca não. O Gervásio troco ela por uma mais novinha que ele mantém escondida na cidade. É a irmã do Ismael. Agora que ele morreu, acho que ela vai poder vir mora com o coroné.

— Eu gostava de dona Inácia. Ela me tratava como filho dela. Será que posso vê-la?

— Vai. Quem sabe…

— Outra coisa, Maria. Sabe por que Gervásio matou meu pai?

— Não sei, não. É coisa entre os dois, alguma rixa entre os mano.

— Antes de matar o coroné, vou fazer o mardito confessar o motivo.

——

Nuvens escuras amontoavam-se no horizonte. O ar estava pesado e grudento. Arnaldo percorria um trecho da estrada que atravessava campos solitários. Em vez do carro, encilhou um cavalo para ir ao manicômio. Após uma curva, o caminho fazia uma volta para a esquerda e ascendia suavemente até o cume de uma colina. Lá em cima estava o hospital psiquiátrico, um prédio de dois andares, pintado de amarelo sujo, cercado por um muro caiado.

Arnaldo amarrou o cavalo num moirão e fez soar a sineta pendurada na entrada. Repetiu mais duas vezes até que uma portinhola se abriu no portão de madeira escura. Um rosto de barba rala e olhos sonolentos, surgiu e encarou Arnaldo em silêncio.

— Vim visitar dona Inácia. Trago notícias do marido dela, o coroné Gervásio da Silva.

O homem sumiu, a portinhola se fechou. Uma aba do portão foi aberta e Arnaldo entrou no pátio, um jardim com caminhos lajeados, bancos de concreto, e gramado aparado com esmero. O homem fez um gesto para a entrada. Arnaldo subiu a escada com seis degraus, parou em frente a grande porta verde desbotada, olhou para trás e o homem fez sinal para ele entrar sem bater. Entrou num saguão espaçoso com piso de parquete, bancos de madeira em ambos os lados. Em frente estava a recepção. Atrás do balcão de madeira compensada, uma mulher roliça, de meia idade, fazia crochê. Arnaldo disse a que veio e a mulher falou no telefone com alguém.

Uma enfermeira surgiu arrumando o colarinho do uniforme. Ela guiou Arnaldo pelos corredores até um dos dormitórios no térreo. Inácia estava deitada na cama, virada para a parede.

— Se ela está dormindo, posso vir mais tarde.

— Está na hora de ela acordar para tomar remédio. – disse a enfermeira e foi despertar a idosa.

— Dona Inácia. Acorda. A senhora tem visita.

Inácia virou-se, sentou-se na beira da cama, ajeitou a camisola e olhou para Arnaldo. Ele resolveu dizer o nome verdadeiro, só assim ela o reconheceria.

— Sou o Jacinto, filho do Amílcar, seu cunhado.

A idosa fez uma breve pausa, ajeitou os cabelos com as mãos e respondeu;

— Quero mijá

A enfermeira ajudou-a a entrar no banheiro e voltou para junto de Arnaldo.

— Ela já não reconhece mais ninguém. Esquece até mesmo do meu nome que cuido dela há cinco anos. Quando foi internada estava em estado catatônico, depois teve um período de lucidez e até escreveu cartas para a irmã. Tem uma endereçada ao senhor.

— Ela escreveu uma carta para mim?

— Sim. Parece que dona Inácia sabia que o senhor viria um dia.

——

Na volta, Arnaldo parou no meio do caminho, deixou o cavalo pastando e sentou-se debaixo de uma figueira para ler a carta. Não tinha data, mas as letras desbotadas indicavam que fora escrita há muito tempo.

“Ana Lúcia era minha alegria de viver. Gervásio foi cruel com nossa filha. Ana errou, mas eu a perdoei, não sou uma mãe ingrata, não a abandonaria por livre e espontânea vontade. Eu não pude fazer nada. Nunca consegui dizer não para o meu marido. Ele sempre teve controle sobre meus atos e pensamentos. Consenti que me conduzisse a esse fim melancólico, internada como louca. Estou escrevendo essa carta para ti, Jacinto, porque sei que um dia virás me procurar. Tenho certeza porque os laços que nos une são sutis, mas fortes, inquebrantáveis. A barriga de Ana Lúcia começou a crescer. Gervásio ficou louco quando descobriu que ela estava grávida e não queria dizer quem era o pai. Ele queria forçar o rapaz a casar com Ana, não suportava a ideia de ter uma filha como mãe solteira. Forçou-a ir para um convento e lá dar à luz. Pagou as freiras e instruiu para que a criança fosse dada para adoção. Às escondidas, falei com Amílcar e Juliana, eles queriam tanto um filho e eu os aconselhei a adotar o menino sem que Gervásio soubesse. A criança é você, Jacinto. Você já estava crescido quando Gervásio descobriu. Talvez ele tenha indagado no convento o destino da criança. Talvez tenha feito ameaças  e uma das freiras revelou o segredo , não sei. Ele achou que Amílcar era o pai e por isso o matou. O teu pai biológico, quando soube da gravides, abandonou Ana Lúcia e desapareceu no mundo. Talvez fosse casado, por isso não assumiu o compromisso. Essa é a história, meu neto. Deus te proteja”.

——

A tempestade desabou quando Arnaldo chegou na fazenda. Choveu o dia todo e os peões ficaram encerrados no alojamento. Ao anoitecer, Arnaldo procurou Maria e conversou com ela fora das vistas e ouvidos alheios. Como ela não sabia ler, ele leu a carta para ela tomar conhecimento da verdadeira história e a desconfiança que levou Gervásio a matar Amílcar.

— Ele matou o irmão que não tinha culpa de nada! – comentou Maria, consternada.

— Tem como ocê entrar no quarto antes dele dormir e destrancar a janela? Pretendo essa noite mesmo, fazer uma visita ao coroné, no quarto dele.

— Tem sim, eu sempre levo um copo de leite quente com mel pro tinhoso beber antes de dormir.

— Me mostra aa janela.

Arnaldo esperou a madrugada para sair do dormitório. Esgueirou-se pelo pátio em direção do quarto do coronel. Esperava que Maria tivesse deixado a janela encostada. Ele ajeitou a arma na cintura. No bolso estava a carta de dona Inácia que o marido deveria ler antes de morrer. Arnaldo imaginou que os capangas do coronel viriam correndo ao ouvir o tiro. Estava disposto a matar todos eles ou morrer tentando.

Era uma noite escura, sem lua. A chuva tinha parado ao anoitecer. No ar ainda era sentido o cheiro de terra molhada. Arnaldo chegou debaixo da janela, tinha receio que um dos peões estivesse fazendo a ronda e rezava para não ser descoberto. Ergueu-se e meteu os dedos na fresta da veneziana, tentando abrir, mas nenhuma das folhas cedeu à pressão. Tentou mais uma vez, mas a janela estava trancada. Maria não conseguiu deixar destrancada, ou talvez tenha esquecido. Frustrado, Arnaldo voltou ao quarto.

Acordou na manhã seguinte e encontrou criados e peões em frente à casa principal. Estavam calados, de cabeça baixa e olhar perdido.

— O que aconteceu?

— O coroné morreu.

Arnaldo entrou na casa e foi direto ao quarto de Gervásio. Na porta estava o peão Demétrio e uma das criadas, dentro, Maria e Mendonça, na cama jazia o coronel, olhos vidrados, a boca aberta, os lábios roxos.

— Morreu dormindo. – disse Maria num tom de resignação. Depois, afirmou: — Uma morte bonita, tranquila.

Todos ficaram olhando o morto em silêncio respeitoso, mesmo para um defunto mal-amado. Maria tomando as rédeas da situação, disse para Mendonça; 

— Ocê prepara a sala pro velório, que eu e a Lina vamo arrumá o corpo.

Após a saída dele, Maria postou-se ao lado de Arnaldo e falou em voz baixa.

— Falei tudo que sinhá Inácia dizia na carta. Ele ouviu quieto e se assombrou a cada frase. Depois usei o travesseiro. Vinguei Sinhá Inácia por todo mal que ele fez a ela.

Maria calou-se, não precisava dizer mais nada.

Arnaldo não se surpreendeu, nem se sentiu frustrado por não ter sido ele a acabar com a vida de Gervásio. Imaginou que Maria colocou um sonífero no copo de leite que o velho estava acostumado a tomar. Quando Maria revelou o conteúdo da carta, que ele era Jacinto, filho de Ana Lúcia, adotado por Amílcar, que ele matou o irmão por engano, se não estivesse dopado, com certeza o coronal descarregaria a sua fúria sobre todos que o cercavam. Sem forças, não conseguiu se levantar da cama, não conseguiu gritar, se defender quando Maria colocou o travesseiro no rosto dele e o sufocou até a morte.

——

Arnaldo foi ao cemitério, colocou flores sobre os túmulos de seus pais adotivos e sua mãe biológica. Depositava seu amor e carinho a Amílcar e Juliana e para Ana Lúcia, respeito e agradecimento, e o lamento por não ter tido a oportunidade de conhecê-la, por ela ter tido um final de vida tão triste. De certa forma sentia-se vingado, aliviado. Era obrigado a aceitar o Destino e a ordem natural das coisas.

Sobre Fabio Baptista

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23 comentários em “Marcas de Sangue (Renato Silva, Jorge Santos e Antonio Stegues)

  1. Fabio D'Oliveira
    30 de setembro de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Dessa vez farei uma avaliação mais pessoal, apontando o impacto do conto em mim.

    A velha temática do “retorno para casa”, hein. Eu não tenho problemas com clichês, mas estaria mentindo se falasse que não espero que eles sejam bem executados. Um clichê bem feito vale mais do que uma ideia original mal feita.

    Aqui, infelizmente, temos uma mistureba do mais do mesmo. É um retorno de vingança. O antagonista é um parente do protagonista. Temos reviravoltas, o tio é, na verdade, o pai. O final tenta dar uma surpreendida, fazendo com que Jacinto não concluísse a vingança, mas sim a criada, que também odiava o patrão por todo o mal que ele cometeu aos outros.

    Mas o conto não é ruim. Ele apenas não me cativou. Ele é coeso, bem escrito e os autores souberam manter a linha narrativa, sem mudança de estilo ou algo parecido.

  2. Pedro Paulo
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Uma história de vingança muito bem elaborada. Há méritos em mais de um elemento. O protagonista é tão bem estabelecido quanto a atmosfera, tudo seco, soturno, estabelecido pela escrita competente, à qual também se pode acrescentar um elogio quanto à estrutura narrativa, aspecto em que se sobressai o elemento triautoral do texto, cada parte se comunicando bem na construção do conto. A linguagem regionalista soa legítima, embora em alguns trechos pareça inconsistente. É outro elemento que favorece a ambientação. Enfim, todos os personagens e suas ações são condizentes e estão arranjados de uma maneira a colaborar para a tensão que acompanha a leitura até a catarse. Achei a morte de Gervásio um pouco anticlimática, mas ainda satisfatória, de modo que o conto se encerra em um patamar alto. Ótimo texto!

  3. Victor Viegas
    21 de setembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Frankensteiners!

    ✨ Destaque: “Estou escrevendo essa carta para ti, Jacinto, porque sei que um dia virás me procurar”

    📚 Resumo: Jacinto, com o nome artístico de Arnaldo, vai vingar a morte do pai e numa matança desenfreada com direito a ketchup na cabeça, encontra Gervásio, o assassino. Arnaldo é recebido em casa, descobre sobre sua origem e quando vai matar o anfitrião, o danado já tinha batido as botas.

    🗣️ Comentário: A premissa é muito interessante, mas não fez jus ao título. Faltou marcas de sangue. Penso em um faroeste, uma terra de ninguém. Arnaldo queria vingar a morte do pai adotivo e já estava armado, nessa hora apenas vai, meu filho. Não pisa no freio. E a narrativa deu muitas oportunidades para o acerto de contas acontecer. 

    O texto peca por não desenvolver os personagens. Fiquei sem entender a função de Maria e Dona Inácia. Não poderia substituí-las por coincidências no conto? A carta me pareceu um artifício muito fácil e expositivo sobre a vida de Gervásio. Como assim ela decidiu escrever uma carta, sabia que não estaria bem e sabia que o rapaz ia procurá-la? 

    E por falar em coincidências, isso é o que mais aparece na narrativa. Arnaldo mata uma pessoa, vai até a casa de Gervásio onde é barrado por seguranças armados, mas é só contar uma piada que Arnaldo é liberado. Ao entrar encontra com a família de Gervásio que sabia que podia ser morto, mas mesmo assim permitiu a entrada de um desconhecido. A melhor parte de toda essa situação é que a desculpa para Arnaldo entrar é que ele estava procurando emprego e a conversa foi no período da noite. Faça isso ter sentido. 

    💬Considerações finais: O resultado final é que eu também queria ler uma carta de Dona Inácia, ela parece bem simpática e sabe sobre o futuro assim como nunca esqueceu o passado. Parabéns pelo Frankenstein! Boa sorte!

  4. Sílvio Vinhal
    20 de setembro de 2024
    Avatar de Sílvio Vinhal

    Há uma certa coerência/fluência entre os autores. Embora o primeiro autor demonstre alguns problemas de escrita, para os quais faltou uma revisão mais atenta. Na minha opinião, o regionalismo foi empregado de uma forma muito sutil e caricata. No contexto, não contribuiu em nada.
    A história começa bem, consegue prender a atenção do leitor, porém, a última parte acaba dando um banho de água fria em qualquer expectativa que houvesse se formado. “De repente” uma personagem secundária, que deveria ser quase uma figuração, rouba a cena do protagonista e o deixa sem ação, a não ser rezar e levar flores e uma vela para os seus mortos.
    A morte do Coronel, sequer, é sangrenta, de forma que as marcas de sangue, que dão nome ao conto, são marcas que ficaram apenas na memória, o que é um tanto decepcionante.
    Parabéns pela participação no desafio, desejo sorte!

  5. rubem cabral
    20 de setembro de 2024
    Avatar de rubem cabral

    Enredo. Regular. A chegada de Arnaldo/Jacinto na cidade para se vingar do assassino de seu pai foi muito facilitada por coincidências estranhas e convenientes. Alguém mata um capanga de um coronel do interior e é recebido na casa do dito cujo assim, sem mais nem menos? O coronel põe o cano da uma arma de um suposto matador na própria cabeça? Enfim, as revelações da carta trouxeram mais informações que deveriam nos surpreender, mas que não resultaram muito. A morte do coronel não ter sido morte “matada” até que foi algo bom, pois quebrou a expectativa até então.
    Escrita. Boa. Há alguma repetição de palavras, principalmente no início, mas todos os autores foram eficientes em entregar a história adequadamente, sem entraves ou erros graves.
    Personagens. Regular. Não achei muitas camadas nos personagens, seja em Arnaldo/Jacinto, seja em Maria, Inácia ou no coronel.
    Coesão. Muito boa, mal se nota que a história foi escrita a 3 mãos.

  6. Priscila Pereira
    19 de setembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, autores! Tudo bem com vocês?
    Começo: Muito bom, simples e direto, ambientação bem detalhada. Apesar de apontar todo o enredo, de vingança e tal, não engessou muito a trama dando certa liberdade aos outros autores.
    Meio: Deu seguimento na trama de modo esperado, mantendo o estilo e a narrativa, acrescentou mais ação e também deu certa liberdade aos próximo autor de concluir como parecesse melhor.
    Final: Gostei bastante do final, com a empregada fazendo o serviço e poupando o neto de matar o avô. Achei engenhoso e fora da curva. Muito bom!
    Coesão: os três autores estão de parabéns, o conto ficou muito coeso tanto em estilo como em narrativa. Parece mesmo ter sido escrito por uma só pessoa.
    Visão geral: Gostei bastante mesmo, um ótimo conto, coeso, sensato e pé no chão, sem coisas mirabolantes só pra causar ou chamar a atenção. Um ótimo trabalho!
    Parabéns aos autores!
    Boa sorte no desafio!
    Até mais!

  7. Givago Domingues Thimoti
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Boa noite aos autores!

    Marcas de Sangue é um conto que versa sobre vingança dentro da família. O neto renegado, que pensava ser filho daquele que na verdade era o seu tio… Pessoalmente, eu tenho as minhas críticas a algumas escolhas narrativas, mas creio que não é muito o meu lugar ficar aqui pontuando-as. Tô aqui só de passagem, vendo o enterro do Coroné Gervásio.
    Acho que duas coisas são dignas de nota que eu não poderia deixar de comentar: acho que faltou continuar um pouco a linguagem regionalista que o primeiro autor buscou imprimir ao texto e os últimos parágrafos, com Maria sendo revelada como a assassina do coroné, totalmente desnecessária. Seria mais cativante, ao invés de entregar o modus operandi de Maria, apenas finalizar o conto com aquela frase simples: Maria calou-se, não precisava mais dizer nada.
    No mais, eu diria que foi um conto regular para bom, especialmente considerando o contexto do desafio!
    Boa sorte!

  8. Fabio Baptista
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    X Sensação após a leitura: uma boa última leitura no desafio

    X Citações pro bem e pro mal:

    x rústico ônibus / pequena praça / traiçoeiro ataque / ressecada janela…
    Esses adjetivos invertidos causam certa estranheza, parece texto de outra língua mal traduzido.

    x duas meses à frente
    mesas

    x e lhe entregou um pacote para o outro homem
    limar esse “lhe” e “outro”

    x naquele homem nunca havia visto
    que

    x Quero mijá
    kkkkkkkkkk essa me pegou de surpresa

    x gravides

    x olhos vidrados, a boca aberta, os lábios roxos / Uma morte bonita, tranquila
    Super! kkkkkkk

    X Conclusões:
    Sempre me surpreendo com o “incosnciente coletivo” do EC. É comum haver contos com ideias similares, ambientações e nomes iguais. Aqui, parece que guardaram para o final os contos sobre volta para a cidade natal e vingança.

    E esse aqui foi o que mais gostei. Houve a tal da coesão, a história foi conduzida seguindo o mesmo fio, com criações que fizeram sentido dentro da trama, nada “viajado”. Ok, a carta ficou algo novela das 7, mas… quem nunca? O desfecho também é um pouco anticlimáx… me pergunto porque a governanta demorou tanto tempo para visitar a sinhá no hospício e dar cabo do coroné. Nada que tenha comprometido o bom resultado final do trabalho em conjunto.

    MUITO BOM

  9. Thales Soares
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O conto narra o retorno de um homem a uma cidade do interior, como vimos em Curió, e em Miragem. Achei interessante o quanto esse tema foi recorrente ao longo deste desafio. Nessa cidade ele testemunho u o assassinato de seu pai, quando mais novo. Ao chegar lá, três décadas mais tarde, ele reflete sobre as mudanças no lugar e se prepara para a vingança. Achei interessante esse plot inicial, e fiquei empolgado, achando que eu veria algo no estilo Tarantino.

    Então o homem vai pra um hotel capenga, se prepara, e sai com seu revólver, em busca de justiça. Descobrimos que o homem se chama Arnaldo (mas na verdade esse é o nome falso dele), e ele encontra-se com um tal de Ismael (espero que não seja o mesmo Ismael que o Mar do Silêncio, pai do garotinho Danilo… porque aqui ele vai morrer). Então os dois se juntam e vão de carro pra cumprir o objetivo de vingança. Mas no meio do caminho, Arnaldo fala que o carro tá com problema, e aí Ismael desce pra ver se o motor tá de boa, mas BLAM!! Arnaldo mete o balaço na cabeça dele. Achei essa parte muito boa. Me lembrou o início do filme do Batman o Cavaleiro das Trevas, onde no bando do Coringa todo mundo matava todo mundo.

    Quando Arnaldo enfim chega nas terras de Gervásio (o cara que ele quer matar), alguns capangas vão de encontro a ele. Então eles acham mó engraçado o Arnaldo ter matado o Ismael, e dizem que ele pode ver o chefe deles, pra contar essa história. Arnaldo chega de encontro a Gervásio, que está jantando com sua família.

    Então os capangas chegam com o cadáver de Ismael, e Gervásio parece achar realmente da hora isso, apesar de Ismael trabalhar para ele. Então Gervásio dá uma arma pro Arnaldo, e o desafia a atirar. Acredito que a arma estava descarregada, e que isso era apenas um “teste” do líder, mas eu gostaria que o texto me tivesse dado algum indício disso. Então Arnaldo passa no teste, e Gervásio o aceita.

    Maria, uma antiga criada da fazenda, revela saber que Arnaldo é na verdade o Jacinto (Jacinto Pinto?), filho de Amílcar. Essas questões de árvores genealógicas complicadas e revelações de parentescos no estilo novela das oito é algo que também apareceu em abundância nesse desafio, e confesso que me cansou um pouco. Então Arnaldo decide, do nada, visitar a esposa de Gervásio, que ele descobre que tá no hospício.

    No hospício, Arnaldo vê que a véia já está mais pra lá do que pra cá, e não consegue interagir com ele. Mas ele o deixou uma carta, escrita no passado, que revela que ele é o filho de Ana, filha do Gervásio (revelação de novela novamente). Ana estava gravida, e seu bebê foi pra doação assim que nasceu. O filho, Jacinto (Jacinto Pinto?), foi adotado por Amílcar, o irmão de Gervásio. Quando Gervásio descobriu isso, ele ficou putinho e matou Amilcar, acreditando que era o pai verdadeiro da criança… e é isso que gerou o desejo de vingança em Arnaldo.

    Então Arnoldo, todo putão, volta pra fazenda pra ter o seu confronto final com Gervásio. E é aqui que aparece o calcanhar de Aquiles deste conto. Ficamos durante todo esse tempo colocando pilha nessa questão da vingança, somente aguardando para quando ela finalmente acontecesse… e até foi explicado e esclarecido tudo para o leitor, de forma a convencer de que essa vingança realmente vai ser furiosa e emocionante! Mas…………. surprise motherfucker! Maria, a empregada, matou Gervásio sufocando ele com um travesseiro, e quando Arnaldo o encontrou, ele já estava morto. Meu deus……………………

    Mas e Arnaldo, que estava todo putão, doido por sua vingança? Como ele se sentiu sendo privado desse desejo que ele alimentou ao longo de 30 anos? Ele nem ligou!! Meu deus……………….

    Essa história, para mim, ganhou o prêmio de final mais anticlimático de todo o desafio. Não foi um final desconexo, mas foi chato e incoerente, descumprindo a promessa de sanguinolência feita pelos autores anteriores. Sobre a coesão, na verdade, os autores conseguiram mandar bem, pois não consegui identificar onde termina um e começa outro.

    Desejo boa sorte ao autores.

  10. Fabiano Dexter
    18 de setembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Mais um conto excelente em que os autores fizeram um trabalho muito bom, onde embora aqui e ali pude perceber uma alteração na narrativa, não ficou claro o momento em que um autor termina a sua parte e o seguinte começa.
    O inicio do conto é bem interessante, nos levando para uma cidade pequena e no passado. Muito interessante o modo como o primeiro autor identificou o período apenas citando a moeda que era utilizada na época, o cruzado. Assim já sabemos que não teremos celulares nem nada mais tecnológico para atrapalhar o desenvolvimento da trama.
    A história tem um desenvolvimento lento e calmo, sem grandes momentos de ação ou sobressaltos, mas nem por isso é chata ou cansativa. A história segue sempre em frente e não fiquei com a impressão de que nenhum dos autores escreveu apenas por escrever. Todas as cenas tinham um objetivo e levaram para a conclusão da história.
    As ligações entre os personagens foi bem feita e, ainda que Jacinto seja neto de Gervásio, tendo passado por sobrinho, sem as idades claras dos personagens e na época e localidade não chega a ser surpresa.
    O que ficou faltando para mim, ainda que não tenha atrapalhado o todo, foi a motivação de Maria para fazer o que fez e, se sentindo assim, porque esperar a chegada de Jacinto.

  11. Jorge Santos
    15 de setembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá trio.

    Este é o segundo conto que leio neste desafio. Enquanto que no primeiro caso a coerência foi mantida pelos três autores ao ponto de não conseguir distinguir as três partes, aqui há um desequilíbrio notório.

    O conto começa como uma história comum de vingança, igual a tantas outras. O autor que fez o desenvolvimento tornou-a mais complexa, sem detalhes irrelevantes. É nesta parte que o leitor fica agarrado, mas na conclusão a linha narrativa dá uma volta de 180 graus. O matador não mata porque a futura vítima já se vitimizou. Não deixa de ser uma conclusão criativa, um oásis de conforto no meio de tanta violência, mas, sinceramente, esperava algo mais impactante.

  12. Luis Guilherme Banzi Florido
    14 de setembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, autores! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pela participação num desafio tão dificil e maluco quanto esse!

    Início: uma história clássica de vingança. Carregado de regionalismo e situado no passado, um homem volta a sua terra natal para vingar a morte do pai. Deu a impressão de um lugar meio Bacurau, gostei de como foi ambientado.

    Meio: continua de onde o primeiro parou, de modo que não consigo definir exatamente onde um começa e outro termina. O meio se desenrola sem grandes eventos, mas a meu ver cumpre bem o papel esperado das partes 2 nesse desafio: desenvolve a trama e prepara o terreno para o desfecho. Achei que cumpriu com qualidade sua função. Gostei da inserção de novos personagens, como Maria, Inácia e Ismael.

    Fim: gostei! Utiliza bem todos os elementos que foram estabelecidos anteriormente pelos dois autores, explora os personagens de forma eficaz, e traz uma reviravolta bem vinda, ao revelar a árvore genealógica. Não posso dizer que o motivo pelo qual o diabo matou o irmão seja grandioso, mas achei que funciona muito bem dentro do que vinha sendo proposto no enredo. Bom trabalho!

    Coesão entre os autores: o primeiro autor engatilhou a arma, o segundo autor encostou o canhão na têmpora de Gervásio, e o terceiro autor deu um tiro limpo e direto. Gervásio tombou, já morto. Em outras palavras: um texto bem coeso, mal percebi a mudança entre os autores, exceto pelas guinadas no enredo, que não são um ponto negativo aqui, na verdade serviram para a história deslanchar, mas que dão dicas de onde a autoria muda (o que, obviamente, não é nenhum problema quando bem feitos, como aqui

    Nota final: Bom!

  13. Leo Jardim
    13 de setembro de 2024
    Avatar de Leo Jardim

    🗒 Resumo: um homem volta à sua terra natal para vingar a morte do pai, cometida pelo tio. Se infiltra como jagunço, arruma aliança com uma das criadas, descobre que é neto do tio e a criada mata o avô.

    📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): eu gostei da história no geral, a trama prendeu e o tema vingança é sempre bom de acompanhar (na ficção, claro rs). Analisando o conto como uma peça completa, achei que teve coisa que acabou virando gordura, como a participação de Ismael, que ficou apenas como um artifício de roteiro no fim das contas, quase sem utilidade. A cena da mesa com as crianças, corpo na mesa, arma na cabeça, achei muito estranho. Eles poderiam ter ido pra uma outra sala tratar desses assuntos, né? A carta acabou sendo uma saída interessante para andar com a história, mas ficou tudo muito explícito. O fim, com a Maria executando o crime foi um anticlímax e fiquei com a impressão de que ela poderia ter feito isso antes do Jacinto/Arnaldo aparecer. Faltou melhorar o argumento para a mudança de postura dela (de criada que não gosta mas atura o patrão pra assassina).

    📝 Técnica (⭐⭐▫▫▫): conta a história com eficiência, mas algumas sentenças ficaram um pouco pobres ou confusas e alguns erros também atrapalharam a imersão.

    ▪ As passagens eram vendidas no guichê *que no local* e só funcionava nos horários em que os ônibus estavam para partir (?)

    ▪ o observava duas *meses* à frente (mesas)

    ▪ Preciso de alguém com boa pontaria vá comigo (que vá comigo)

    ▪ Creio que não nos apresentamos. (Ele não falava com sotaque?)

    ▪ Não por falta de dinheiro, que a prefeitura recebia um bom dinheiro do Coronel (além da repetição, ficou truncada essa frase)

    ▪ Sim, Ismael, afinal o carro está bem. Pena que ocê também tinha culpa na morte do meu pai (Tinha achado que Jacinto/Arnaldo não falava com sotaque)

    ▪ O teu pai biológico, quando soube da *gravides* (gravidez)

    ▪ Me mostra *aa* janela

    ▪ Na porta estava o peão Demétrio e *uma* das criadas, dentro, Maria e Mendonça *ponto* Na cama jazia o coronel (é uma criada ou duas?)

    ▪ com certeza o *coronal* descarregaria

    🧵 Coesão (⭐▫): deu pra perceber a mudança de autor, principalmente pela forma de conduzir a trama.

    💡 Criatividade (⭐⭐▫): ok

    🎭 Impacto (⭐⭐⭐▫▫): gostei no conto no geral, como disse acima, mas não curti tanto o encerramento. Pareceu meio sem graça essa conclusão “fora da tela”. Daria pra ter terminado assim, mais faltou um pouco mais de desenvolvimento para funcionar melhor. Ficou um gostinho de que foi bom, mas podia ter sido melhor.

  14. Kelly Hatanaka
    13 de setembro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá, caros colegas entrecontistas!

    Primeiramente, parabéns pela participação corajosa e desapegada.

    Vou avaliar e comentar de acordo com meu gosto, não tem muito jeito, afinal não tenho conhecimento nem competência para avaliar de forma mais “técnica”. Ou seja, vou avaliar como leitora mesmo. Primeiro, cada parte separadamente, valendo 1 ponto cada. Depois, a integridade do resultado, valendo 3 e, por último, o impacto da leitura, valendo 4.

    Começo

    Jacinto volta a sua cidade natal para vingar o pai. Um homem o contrata para matar alguém. Eles se encontram e vão ao local. Uma escrita muito boa, porém, há algumas falhas de revisão.  “…ao lado de trás da igreja…”,  “… duas meses à frente…”, “…lhe entregou um pacote para o outro homem…”. No começo do diálogo, os dois homens dizem se conhecer, Ismael sabe de quem Jacinto é sobrinho, mas alguns parágrafos adiante eles se apresentam (?) e Jacinto usa um nome falso (???).

    Há uma trama familiar, pois o homem vai matar alguém da família para vingar o pai.

    Meio

    No Começo, Jacinto/Arnaldo fala de forma mais formal, enquanto Ismael tem sotaque. No Meio eles trocam e Jacinto passa a falar com sotaque. Jacinto encontra o tio, e é reconhecido por uma velha empregada que tem raiva do coronel. O motivo da raiva não é revelado.

    Fim

    Jacinto descobre o motivo do tio ter matado o pai, mas quando ele vai se vingar, a empregada mata o coronel antes. Final anticlimático, conveniente e edificante. Gostei não.

    Coesão

    A mudança de voz de Jacinto pelo autor 2 quebrou a coesão. O conto começou violento, uma espécie de faroeste, tiros, sangue, massa encefálica escorrendo e termina paz e amor, com todas as respostas fornecidas convenientemente por uma carta e um assassinato bem besta. Coesão aqui foi realmente um problema.

    Impacto

    Baixo. O tom do conto mudou drasticamente. O final soou forçado e para o mal ainda por cima. Era uma trama de vingança. E no fim o protagonista não confronta o antagonista e, ao invés, um terceiro faz justiça da forma mais sonsa possível. Se a empregada odiava o velho pelo que ele fizera com a esposa, queria mata-lo e, pelo jeito, era facílimo para ela, por que não fez antes? Para que ela precisou do Jacinto? Para nada. E ainda termina com uma mensagem edificante.

  15. André Lima
    12 de setembro de 2024
    Avatar de André Lima

    Este conto teria um ótimo fluxo de leitura se não fossem os diversos erros de revisão. São muitos e atrapalham de verdade o fluxo da leitura.

    Há muitas facilitações narrativas. Desde capangas que se convencem facilmente com os motivos da morte do dono do carro, passando por enfermeira que lembra de todos os destinatários das cartas da paciente até a moça que sempre leva copo de leite a noite, convenientemente.

    Essas facilitações e conveniências narrativas, para mim, tiram a força do conto: sua trama.

    É um conto com uma trama interessante, com uma escrita leve, que nos carrega através do enredo. O final, para mim, é muito bom. Adorei a forma como tudo terminou. Ficou um pouco expositivo, mas deu para relevar.

    Para mim, foi uma experiência frustrante. Temos uma boa trama que seguiu rumos muito criativos, mas que peca tecnicamente pelo motivos expostos acima.

    Esse conto com uma trama criativa merecia uma melhor elaboração na condução do enredo.

    Fica um gosto de trabalho “ok” que poderia ser muito bom.

  16. Fernando Cyrino
    10 de setembro de 2024
    Avatar de Fernando Cyrino

    Olá, pessoal, cá estou eu curtindo essa história da volta de Jacinto/Arnaldo trinta anos depois à sua cidade para a vingança. O problema é que Maria chegou antes e o coronel foi dessa para a melhor pelas mãos e pelo travesseiro da antiga empregada. Olha, amigos, achei que o conto começa meio amarrado. Algumas descrições me passaram o sentimento de que estavam maiores e mais detalhadas do que a história necessitava, além do fato de que há a necessidade de uma revisão no conto. Principalmente na sua primeira parte. O enredo me pareceu um pouco confuso, pareceu-me um tanto pesado. O tema é bem legal, a vingança sempre funciona bem e é capaz de prender o leitor na história narrada. O final, terceiro autor, me pareceu tentando amarrar todas as pontas, mas elas eram muitas. Senti falta de saber os porquês do ódio da vingadora pelo seu patrão. Para ter tomado a decisão do “boa noite cinderela” e em seguida ter metido o travesseiro na cara do homem, só pode ser que haja coisa grande. Muita carne debaixo do angu. Incomodou-me o uso da linguagem do povo do interior. Achei que ficou meio estereotipada demais e que pouco acrescentou à narrativa. Pois é, como já lhes disse, o conto me prendeu, fez com que meus olhos ficassem atentos a ele, mas não me envolveu emocionalmente e muito menos me provocou encantamento. No geral o conto mantém a coesão, mesmo dando para se reparar claramente os três autores, eles conseguiram criar uma coesão legal na história. Bem, é isto que achei, meus amigos. Tomara que os outros leitores e avaliadores tenham tido percepções mais positivas do que essa minha. Fiquem com os meus abraços e os votos de muita boa sorte no desafio.

  17. vlaferrari
    9 de setembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Sabe aqueles filmes em que o diretor morre antes de finalizar a gravação? Pois é, conheci o primeiro (ainda que editado apenas na minha mente). O dinheiro do estúdio acabou e o novo diretor achou tudo uma m* e desvirtuou o final. Os autores 1 e 2 se entrosaram bem, apesar de que (lá vem o “deveria ser assim” de novo) são muitos personagens. Concordo com quem achou Ismael desnecessário. O carro também. Poderia ir a cavalo para a fazenda. Li comentários que citam Tarantino e já imaginei (ainda com o roteiro a três mãos na mente), um Mariachi a lá Banderas disparando balas de um revólver que nunca esvazia o tambor. E então, na parte final, a broxada. Mas refletindo um pouco, achei interessante e guardarei esse plot “divergente”. Falando em divergência, aliás, percebi a apontada pela Cláudia, nas falas do protagonista. Mas talvez, a intenção transmitida (ou não) foi “adaptar-se” ao cenário para obter a desejada vingança, por isso a alternância de linguagem caipira e “erudita”.  Foi um “quase lá”, mas não deixou de fazer a mente do leitor fervilhar de imagens interessantes (mesmo que seja a ideia para novos contos na mesma pegada, no meu caso).

  18. claudiaangst
    2 de setembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem? Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ FEITO ◊ para avaliação de cada conto.

    𝕋𝕚́𝕥𝕦𝕝𝕠 = MARCAS DE SANGUE. Interessante, embora pouco original. Cria expectativa de um cenário sanguinário ou novela mexicana.

    ◊ 𝔸𝕞𝕒́𝕝𝕘𝕒𝕞𝕒 = Embora se note a alteração da autoria, não há prejuízo à coesão do texto como um todo.

    ◊ 𝔽𝕚𝕟𝕤 = O final funcionou como anticlímax, não houve a vingança pretendida, pelo menos não a “justiça pelas próprias mãos”. Achei que Maria foi uma usurpadora de vingança alheia. Jacinto aceitou bem isso de Maria ir lá é matar o coronel, tirar de suas mãos o instrumento de algoz.  

    ◊ 𝔼𝕟𝕥𝕣𝕖𝕞𝕖𝕚𝕠 = O desenvolvimento do conto trouxe uma certa tensão, pedindo um desdobramento da narrativa. Não entendi muito bem a razão de Ismael ser eliminado da trama. Tudo bem que o autor justificou – o sujeito, ainda adolescente, tinha participado do assassinato de Jacinto. Porém, fiquei com a sensação de um corte abrupto, que não trouxe nada ao texto. E esta morte, que faz parte da vingança, torna-se inconsistente diante da eliminação do alvo principal por outra pessoa.

    ◊ 𝕀𝕟𝕚́𝕔𝕚𝕠 = Há a apresentação de um cenário carregado de mistério, onde se vislumbra a motivação de Jacinto/Arnaldo. O(A) autor(a) fez uso de descrições cuidadosas, criando uma ambientação oportuna ao desenvolvimento da trama pretendida.

    ◊ 𝕋𝕖́𝕔𝕟𝕚𝕔𝕒 𝕖 𝕣𝕖𝕧𝕚𝕤𝕒̃𝕠 = A construção dos personagens desliza na superficialidade, não definindo as características marcantes de cada um. Houve momentos que fiquei em dúvida quanto ao nível de instrução do protagonista, pois a sua fala oscilava em níveis diferentes de linguagem. No início, ele me pareceu um homem amargurado, determinado a cumprir a vingança que acalentou durante três décadas de vida. No entanto, essa determinação vai se afrouxando, e no final, ele vira praticamente um filósofo – “Era obrigado a aceitar o Destino e a ordem natural das coisas”. Mas o que havia de natural nisso?

    De resto, o aspecto técnico não apresentou grandes problemas, apenas algumas falhas na revisão:

    […] duas meses à frente > […] duas mesas à frente

    […] naquele homem nunca havia visto > […] naquele homem que nunca havia visto

    Derramar/derramando > evitar o mesmo radical ou palavra em uma única linha

    Repetição de “tinha” (3 vezes praticamente em seguida)

    […] conhecia bem mas > […]conhecia bem, mas

    Há uma alternância de norma culta e coloquial/regional que não faz sentido. probrema e vamo ficá na estrada/Parece-me normal/ Quero falá com Coroné Gervásio/ Ele prometeu trazer-me/ O sinhô inda tem muitos anos/ Será que posso vê-la? > Afinal o personagem é um homem simples com linguajar sem rebuscamento ou é um erudito?

    Emprego muito próximo de carro/carro, aquele/aqueles, ler/leu, trancada/destrancada

    […] em frente a grande porta > […] em frente à grande porta

    Gravides > gravidez (a palavra com grafia errada surge no final de uma carta sem erros aparentes, por isso destoou um pouco)

    Imaginou que Maria colocou um sonífero > Imaginou que Maria havia colocado um sonífero

    ◊ 𝕆 𝕢𝕦𝕖 𝕗𝕚𝕔𝕠𝕦 = Uma sensação de frustração. Sim, eu queria o tal sangue que deixou marcas. Mas o grande vilão foi praticamente acalentado no sono da morte, sonífero e sufocamento. Isso não sacia a sede de vingança de ninguém. Embora frustrante, o final também trouxe um tom poético que arrematou bem a trama, tipo: enfim, é a vida.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  19. JP Felix da Costa
    1 de setembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    Uma clássica história de vingança bem executada e com uma boa junção dos 3 autores. Gostei do ritmo da ação, apesar de ter fraquejado um pouco na terceira parte. Não houve o devido equilíbrio entre o texto descritivo, que chegou a ser pormenorizado demais sem daí advir nada para o enredo, limitando o número de palavras para a descrição da ação. O final inesperado foi bem pensado, mas merecia uma melhor execução.

    O personagem do Ismael foi lançado pelo primeiro escritor, mas eliminado pelo segundo. Pelo que me pareceu da história, a linha imprevisível que o primeiro autor me pareceu querer dar a Ismael foi retomada, de forma diferente, pela Maria. Esta eliminação, um quanto forçada, denuncia que a história é de autores diferentes.

    No global, gostei do conto, mantém um bom ritmo até ao fim e prende na leitura. O final deveria ter sido melhor executado, como já referi.

  20. Leandro B.
    27 de agosto de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    *Todo e qualquer crítica refletem mais um ponto subjetivo meu do que qualquer outra coisa. Outro leitor pode achar o oposto. A ideia é mais causar reflexão pros autores pensarem o que acham pertinente ou não.

    Achei uma proposta muito bacana, com boas ideias que talvez sejam grande demais para o tamanho da história, especialmente feita a três mãos.

    Eu acho que a construção da primeira parte careceu de um pouco mais de revisão. Não tanto pela gramática (há um deslize aqui e ali) mas pela construção de algumas cenas que poderiam ter sido revistas para melhorar a fluidez.

    A impressão que fica é que faltou um pouco de tempo ou de paciência para que o autor fizesse três ou quatro revisões no texto. Por exemplo:

    “O homem saiu para almoçar em um restaurante em uma rua estreita, ao lado de trás da igreja matriz. Enquanto comia sua refeição, um homem moreno de traços duros e olhos apertados, pouco visíveis sob a aba de um chapéu escuro de feltro, o observava duas meses à frente. Ele já havia almoçado e palitava os dentes calmamente. Em dado momento, se levantou, pagou a conta e saiu. O homem que almoçava sairia alguns minutos depois.”

    “Homem” é usado para descrever tanto Ismael quanto Jacinto, no mesmo parágrafo, três vezes. Não é tanto que fique confuso, mas acaba bloqueando um pouco a fluidez da cena e é algo perfeitamente consertável com uma revisão um pouco cuidadosa.

    O mesmo aconteceu com alguns parágrafos que foram modificados, possivelmente para reduzir as palavras, há “restos” da frase antiga se misturando com a nova.

    Pode parecer dureza de minha parte ou pedantismo falar sobre isso. Pode até mesmo parecer que eu estou usando a palavra pedante sem ter certeza do seu significado, o que é verdade. Mas a história e as peças iniciais foram tão bem postas que eu lamento esses descuidos.

    A segunda parte da história começou bem e conseguiu manter o estilo narrativo muito bem. Fico um pouco incerto quanto à introdução de outros plots sem considerar a quantidade de palavras que o terceiro autor teria para terminar a história. Por exemplo, a introdução de um novo personagem em uma localização completamente diferente parece não ter sido estrategicamente positiva dado o limite de palavras. Contudo, a sugestão de que haveria um motivo secreto para a morte do pai de Jacinto foi uma boa ideia.

    De novo, foram bons elementos mas que, sinto, desconsideraram a quantidade de palavra que o autor seguinte teria para amarrar tudo.

    Por fim a terceira parte mudou um pouco o estilo da narrativa. Eu diria que o autor, tecnicamente, elevou um pouco a narrativa. Mas não sei o quão positiva é essa decisão, ao invés de seguir com os estilos anteriores.

    Independente disso, gostei de todas as decisões que o autor teve com a terceira parte, embora tenha ficado um pouco corrido (o que faz sentido com todas as pontas que ele precisou fechar). Eu gostei do final anticlimático, embora tenha o achado um pouco “feliz” demais para uma história de vingança tão dura (tantas mortes intra-familiares). Mas, de novo, certamente excelentes escolhas para encerrar os diferentes pontos do enredo.

    Parabens a todos os autores.

  21. Gustavo Araujo
    26 de agosto de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Temos aqui uma história de vingança. Ou pelo menos a preparação para uma história de vingança. O primeiro autor, embora patine na gramática, lançou uma ideia interessante: o forasteiro que retorna à cidade em que cresceu para ajustar as contas com o passado, passado esse traduzido pela figura de um tio responsável pela morte de seu pai. A inspiração meio western, meio Clint Eastwood é evidente e o suspense criado conseguiu captar minha atenção. O segundo autor tentou dar sequência a essa ideia, mas a meu ver prolongou demais o desenvolvimento e, pecado mortal, ao menos na minha visão, matou o personagem mais interessante, que era Ismael. Conseguiu, no entanto, mostrar o motivo de todo o ódio, o que deve agradar os leitores que buscam explicações para tudo o que acontece num conto. Ao terceiro autor incumbiu a tarefa, um tanto ingrata, de amarrar todos os fios soltos. Percebi que, pelo menos no que diz respeito ao uso do vernáculo, é alguém mais capacitado para tanto, mais experiente do que os dois anteriores, mas se viu refém de um enredo um tanto confuso. Como resultado, explicações e mais explicações, com um arremate um tanto anticlimático, algo que desagradaria alguém como Tarantino, ávido por sangue por todos os lados. Enfim, o fato de Arnaldo não ter sido o assassino de Gervásio acabou funcionando como uma quebra de expectativa decepcionante. Como história coesa, o conto funcionou razoavelmente, não tendo havido grandes quebras na narração. Fiquei frustrado, porém, porque o clima de “Era uma vez no oeste”, lá do princípio, não foi seguido pelos demais autores. Enfim, um conto mediano. De todo modo, parabenizo os autores e desejo boa sorte no desafio.

  22. bdomanoski
    25 de agosto de 2024
    Avatar de bdomanoski

    Quesitos avaliados: Entretenimento, Originalidade, Pontos Fracos

    Entretenimento: Alto. O texto foi muito bem escrito, com destaque para a participação do segundo autor que conseguiu continuar a história com a mesma pegada.

    Originalidade: Um bang bang brasileiro, estilo sertão caboclo, enfim. Não é lá muuuuito original, mas foi bem escrito.

    Pontos Fracos: Infelizmente, o final foi um balde de água fria. Não é que esteja mal escrito: está bem escrito. Mas creio que a “parte 3” meio que falhou em manter o mesmo ritmo, e descartou as propostas das partes anteriores. Como se fosse um thriller acelerado que de repente empaca, começa a ter descrições longas e detalhadas de coisas e cenários irrelevantes, e a ação simplesmente MORRE antes mesmo do vilão. : O terceiro autor acabou imprimindo demais sua própria marca, enquanto que o segundo conseguiu “ser dublê” do original (ponto forte).

  23. Antonio Stegues Batista
    20 de agosto de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    A história de Jacinto que era criança quando teve o pai assassinado pelo próprio irmão. Na fase adulta ele decide cumprir a promessa que fez, matar o assassino de seu pai. Ninguém sabia o motivo que levou Gervásio a matar Amílcar. Usando o nome de Arnaldo, Jacinto chega ao rancho do tio, que não o reconhece, e se torna peão da fazenda. Arnaldo espera um momento oportuno para efetuar a sua missão vingativa e enquanto isso, vai visitar a tia que está internada num manicômio. É quando ele recebe uma carta de Inácia que revela o motivo que levou Gervásio matar o pai dele, e a sua verdadeira origem.

    Gostei do enredo, do desenrolar da trama e a reviravolta na história. Achei que a parte de Ismael não foi tão importante para o enredo, se ele não existisse, não faria nenhuma falta na trama, ao contrário de Maria, peça fundamental para a reviravolta no final surpreendente da história. A narrativa me pareceu coerente e fluida, a escrita também está boa. Não encontrei grandes erros e inconsistência na escrita nas partes, e num todo.

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Publicado às 19 de julho de 2024 por em Começo, meio e fim e marcado , , .