EntreContos

Detox Literário.

Depois do Nevoeiro (Antonio Stegues Batista)

Três livros estavam sobre minha escrivaninha para eu resenhar, A princesa Relutante, de Priscila Lins, O Que Aconteceu com Corinne, de Anderson Coutinho, Quarenta Centímetros de Sol, de Fábio Serrano, além do computador IBM, o celular Nokia com antena e um bloco de notas. Eu permanecia sentada na cadeira com os cotovelos apoiados no tampo da mesa, as mãos na cabeça, numa atitude de desespero. Vencendo o estupor, desliguei o computador, levantei-me, fui até a janela e olhei para fora refletindo por exatamente 15 segundos. Depois peguei as chaves e a bolsa, deixei o celular, tranquei a porta do apartamento, desci as escadas, entrei no carro e parti sem rumo, sem destino.  

O nevoeiro formava gotículas no para-brisa, e a dor na alma provocava lágrimas em meu rosto, mágoa pela difamação que sofri, as mentiras sobre minha honra. Meu casamento que já estava com a estrutura abalada, acabou desabando. Perdi o emprego porque ninguém mais acreditou em mim, no meu trabalho, descobriram defeitos que antes eu não tinha. Me classificaram como uma fraude, alguém disse que 80 % do meu currículo era falso. Tudo isso deixou-me atordoada, com uma dor na boca do estômago. 

As frases clichês podem ser belas também e por isso, repetidas. São clássicas.

Naquela manhã de névoa fria, meu velho Corsa falhou exatamente no meio da ponte. Parou, faleceu. Desisti de torcer aquela chave e pisar no acelerador. Desci e me debrucei na mureta, olhei o rio de águas profundas e negras que eu sabia, estava lá embaixo embora não o enxergasse direito por causa da neblina. Desejar morrer é uma coisa, se matar é outra. Naquele momento, recordei o meu passado, a minha infância e adolescência em Capim Queimado, lá no interior da Bahia. A nossa casa era de madeira velha, de assoalho carcomido pelos cupins, uma casa sem luz e água corrente. O colégio ficava distante, mas nunca faltei às aulas, aprendi a ler e a escrever por insistência de meu pai, ele queria que eu tivesse a instrução que ele não teve, me levou a fazer curso no ProUni e mais tarde conseguiu uma bolsa de estudos, fiz faculdade de letras e ciências humanas. Fiz ainda outros cursos, me especializei em literatura e língua inglesa. Eu poderia estar bem, ter uma vida glamorosa com tanto conhecimento, mas não tive vontade de ser mais do que apenas uma professora de literatura e uma colunista fazendo resenha crítica de prosa ficcional para uma revista de variedades. É claro que não sou uma pessoa perfeita, Henrique muitas vezes brigou comigo por causa do cartão de crédito. Reconheci que não era normal fazer compras toda semana sem necessidades. Até fiz terapia para acabar com a compulsão por compras. 

Voltando àquela manhã, eu estava lá, na beira da ponte, o nevoeiro me abraçando carinhosamente com seus dedos úmidos e gelados, quando ouvi uma voz atrás de mim. 

一 Senhora? Pode me ajudar? 

Olhei para trás e vi um homem idoso, parado com as mãos cobertas por luvas sem dedos, unidas ao peito como uma súplica, parecia um personagem de um conto de Victor Hugo, ou de Goethe. Imaginei que ele me ofereceria fama e fortuna em troca da minha alma. 

一 Eu não lembro o meu nome, nem onde moro. Só sei que estou andando há muitas horas e com bastante fome. Gostaria de saber se a senhora poderia pagar um sanduíche para mim. 

Esqueci os meus problemas, ali estava alguém mais carente do que eu. Aquela figura de humildade e súplica, pegaram minha alma e sacudiram para despertar. 

一 É claro- respondi sem hesitar. Achei que era uma boa desculpa para sair dali.  一 Vamos no meu carro. 

Quando meti a chave na ignição, pensei; se o motor voltar a funcionar, devo ficar com medo? 

Uma pergunta retórica com ironia e sarcasmo que faz você leitor, olhar pela janela da narrativa e nos ver em outro lugar, não muito longe da ponte. 

O Café Mário abria cedo e naquela hora, 7:28 hrs, estava quase vazio. Àquela altura dos acontecimentos, eu também estava com fome. 

一 O que o senhor deseja comer? 

一 Sanduíche de mortadela. 

Fiz o pedido, duas xícaras de café com leite, pão com manteiga, geleia de morango, croissant e sanduíche de mortadela. Enquanto a atendente providenciava o repasto, perguntei: 

一 O senhor não lembra do seu nome? Aconteceu algum acidente? 

一 Não lembro nome, nem onde moro, nada. 

Desisti de fazer perguntas que ele não iria se lembrar, portanto, deixei para fazer novas tentativas depois do breakfast. 

Ele se aproveitou da minha generosidade para, distraidamente, comer também o meu croissant. Justifico para mim, que, meu novo amigo, ao chegar, tirou o chapéu, foi a toalete despir as luvas e lavar as mãos. Deve ter lavado o rosto também, que estava mais brilhante, voltou com um leve odor de lavanda. Sentou-se e comeu com a elegância e maneiras de um aristocrata. Tentei imaginar quem ele era, sua idade e profissão. Devia ter mais de 60 anos, achei que fosse professor de matemática. Terminado o desjejum, convidei-o para nos sentarmos sob o gazebo, ao lado do prédio. A neblina ainda rolava pelas ruas e fachadas. Na linha do horizonte, os raios do sol tentavam romper a cortina densa. 

一 O senhor não tem nenhum documento? Nota fiscal, alguma receita médica em seus bolsos? 

O velhinho vasculhou os bolsos e me entregou um retângulo de papel dobrado. Desdobrei, e li; Eu e Outras Poesias, Augusto dos Anjos, 840-31 P968n-2010. Trabalhei 10 anos com livros e imaginei que aquilo fosse anotação do catálogo de livros de uma biblioteca. Se ele retirava livros da biblioteca pública, deveria ter um cadastro dele com todos os seus dados.  

Meu professor disse que um novo parágrafo é como um novo mirante de onde você vê a mesma paisagem sob um aspecto diferente.  

Ler as poesias de Augusto dos Anjos não é fácil. Alguém disse que o livro é pedagógico sobre o leitor e seus processos mentais. Aquele senhor idoso sem memória, não tinha, ou não teria, processo mental nenhum para ler aquele livro, pelo menos enquanto não se lembrasse quem era. 

“Mas tu não vieste ver minha desgraça. 

E eu saí como quem tudo repele 

Velho caixão a carregar destroços 

Levando apenas na tumba carcaça 

O pergaminho singular da pele 

E o chocalho fatídico dos ossos”. 

一 O senhor retira livros da biblioteca pública? 

一 Não sei, não lembro. 

É claro, ele está desmemoriado como vai se lembrar? O único jeito de saber é indo lá, na biblioteca. 

一 Vamos até a biblioteca, talvez eles conheçam o senhor. 

一 Não quero dar trabalho pra senhora. 

一 Não é trabalho nenhum. Não tenho nada para fazer. 

Quase que eu disse, só me atirar da ponte. 

Primeiro eu tinha que ajudar aquela pobre alma, talvez uma boa ação fosse o meu bilhete para entrar no paraíso. Quando chegamos na biblioteca, encontramos um aviso na porta; Atendimento, das 13hrs às 17hrs. E agora, fazer o quê? Esperar. Havia uma praça do outro lado e para lá fomos. O idoso caminhou ao meu lado, silencioso, sem fazer ruído, como se estivesse de pés descalços. Sentamo-nos num banco de madeira. Sombras moviam-se dentro da bruma, vozes e ruídos de carros nas ruas aumentavam gradualmente. 

Na universidade eu saía da sala de aula e entrava na biblioteca. Quando me interessei pela literatura, comecei a ler autores brasileiros clássicos. A princípio, o que mais gostei foi da escrita de Guimarães Rosa, principalmente do conto Sarapalha, o modo como ele detalha o mato invadindo o povoado abandonado: 

“As casas, sobradinho, capela, três vendinhas, o chalé e o cemitério e a rua, sozinha e comprida, que agora nem mais é uma estrada, de tanto que o mato a entupiu”. 

E ele descreve o mato, cada um com seu nome, destaca os dois moradores que sofrem de malária e teimam em ficar naquela tapera velha.

.” Os dois sentados num casco de cocho emborcado, guentando-se ao sol”. 

(Conversam o tempo todo e quando um se cala o outro puxa assunto). 

一 “Será que chove, primo? 

一 Capaz. 

一 Ind’hoje? 

一 Manhã. 

一 Chuva braba, de pouca? 

一 Às vez… 

一 Da banda de riba? 

一 De trás”. 

Eles têm acessos de frio por causa da doença e Guimarães Rosa, mostra como a vegetação acompanha a tremedeira dos dois. Estremecem as flores da aroeira, tremem os caules da erva-de-sapo, a erva-de-anum crispa as folhas, os ramos da vassourinha trepidam, tirita a mamona. o açoita-cavalo derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões. 

Meu companheiro ao lado no banco, permanecia calado então resolvi dizer quem eu era decidi contar minha história minha infância e adolescência no sertão os estudos a vinda para a cidade grande a faculdade e mais estudos o meu casamento com Heinrich Waltz a descoberta da amante dele o desquite as calúnias de um autor recalcado que não gostou da minha resenha sobre o livro dele as mentiras as acusações de preconceito o processo na justiça a demissão do meu emprego tudo junto e ao mesmo tempo sem vírgula sem pausa para respirar. 

 Quando me calei, ele não fez nenhum comentário, não perguntou nada. Eu só queria desabafar e ele escutou com atenção. Tudo bem. 

 Olhamos para a bruma que se dissolvia e os prédios e pessoas tomando forma. Era quase 10 horas da manhã.  

一 Estou lembrando do meu amigo sapateiro. 

一 Lembra do nome dele? 

Baixou a cabeça, colocou a mão no queixo, pensou, voltou a olhara para mim com os olhos brilhando. 

一  Carlitos.  Ele me conhece. A loja dele fica aqui perto. 

Levantou-se e começou a andar. Eu o segui, é claro. Atravessamos a praça, dobramos uma esquina e caminhamos duas quadras. Pensei em voltarmos para pegar o carro, mas ele parou e olhou para um terreno baldio, coberto de entulhos entre dois edifícios. 

一 Era aqui a sapataria dele. Demoliram.  

Baixou a cabeça, disse num tom triste: ー O que foi feito do Carlitos?  

Uma memória antiga, estacionada no tempo, sem atualização. 

Lembrei-me de um vizinho chamado Laerte. A casa dele ficava ao lado da minha. Morava com a mãe, viúva. Trabalhava como mecânico de automóveis.  Naquele tempo eu era solteira, trabalhava numa padaria como balconista. Às vezes eu chegava em casa ele estava sentado na varanda da casa dele. Eu me sentava do lado dele e a gente conversava sobre o trabalho e a vida alheia. Tive que me mudar daquele bairro porque o aluguel da casa estava muito caro. Fiquei um tempo sem ver o meu amigo. Depois de quase dois anos, por acaso passando por aquela rua, descubro que a casa dele foi demolida. No lugar tinha uma farmácia. Entrei, perguntei sobre o Laerte e ninguém soube me dizer para onde ele foi, o que aconteceu com ele. Saí dali chorando. Dói, quando não se sabe o destino de quem se ama.  

Voltamos à praça, depois fomos almoçar num restaurante ali perto e as 13 horas fomos para a biblioteca. Entramos quando abriu. ele sentou-se num banco, ficou folheando uma revista enquanto eu conversava com a atendente. 

一 A senhora conhece aquele homem sentado no banco? 

一 Sim, ele vem todo mês pegar um livro emprestado. 

一 Sabe o nome dele e onde mora? Acontece que ele diz que perdeu a memória, não se lembra do nome nem do endereço da casa dele. 

一 Só sei que se chama Vitório. Vou ver o cadastro dele. 

A mulher consultou um fichário e anotou numa folha de papel, o nome e o endereço onde o idoso morava. Vittorio Castellani Boaventura. Estrada da Pedreira, 1629, Morro Cambará. Agradeci e expliquei a ele o que tinha descoberto. Levantou-se lépido, satisfeito. 

一 O senhor quer retirar o livro? O de poesias? 

一 Não Vou pra casa descansar. Pode me dar uma carona? 

Levamos 50 minutos para chegar ao local, uma estrada de terra, algumas moradias e campos a perder de vista.  Parei o carro em frente ao número 1629, um sobrado antigo, amarelo escuro, assentado no terreno mais alto. O sol nos espiava por entre nuvens. Da casa mais próxima, a brisa trouxe cheiro de pão recém-saído do forno. Lembrei-me de minha mãe, lavando as mãos sujas de massa na pia, a claridade do dia entrando pela janela, os fios de cabelos cor de cobre escapando do lenço quadriculado amarrado na cabeça. Aquele perfil sereno que sempre me transmitia proteção e segurança. Éramos pobres, mas nunca faltou comida. 

一 É aqui que o senhor mora?  

Ele abriu o portão e começou a subir o caminho de pedras.  

一 É sim, agora me lembro. Vem, vamos entrar. 

Parou na entrada da varanda, olhou ao redor, sorrindo. 

一 Estou lembrando de tudo. 

A névoa da sua mente dissipou-se, abriu-se as portas do palácio da memória. Já posso ir embora, pensei. 

Agachou-se, levantou um vaso de flores e pegou uma chave. 

一 Vem, vamos tomar um café. 

Não pude recusar. 

A decoração era simples, móveis antigos, mas bem conservados, alguns retratos emoldurados pelas paredes, bibelôs e uma cristaleira. Vitório parece que rejuvenesceu, com agilidade, colocou água para ferver no fogão, abriu o armário. 

一 Eu vivo sozinho aqui. Não tenho filhos, mais ninguém. Estou precisando de uma cuidadora e eu queria saber se você aceita cuidar de mim. Não vou dar trabalho, só esqueço das coisas de vez em quando. 

Com o bule na mão, concluiu: 

一 Vamos tomar café, depois você me dá a resposta. 

Eu ia dizer que precisava pensar primeiro, quando uma voz soou na porta dos fundos. 

一 Vitorio! Eu vi que você chegou acompanhado e vim lhe trazer um pão pra vocês tomarem café. 

Gente! Era George Clooney! Como assim? Claro, sósia dele. Fiquei de pernas bambas e desconfortável, aquele homem lindo ali e eu sem maquiagem e fedendo a suor! Se bem que alguns homens gostam do cheiro natural da mulher. Quando Napoleão voltava para Paris, depois de uma campanha militar, ele mandou uma carta para Josefina pedindo para que ela não tomasse banho.

Vitório fez as apresentações. O nome dele era Ricardo Coutinho, advogado, ( veja só que coincidência) morador da casa vizinha. Era desquitado, morava com os pais e uma irmã. 

Durante o café, conversamos sobre diversos assuntos. Contei os meus problemas e Ricardo ofereceu-se como advogado para me defender. Claro, aceitei. 

Em certo momento, notei uma carteira de couro junto a um livro sobre uma cadeira de balanço.  Devia ser os documentos do Vitório. O livro era Finnegans Wake, de James Joyce. Lembrei-me do final: 

“…pedi com os olhos para ele pedir de novo sim e aí ele me perguntou se eu sim diria sim minha flor da montanha e primeiro eu passei os braços em volta dele sim e puxei ele pra perto de mim para ele poder sentir os meus peitos só perfume sim e o coração dele batia que nem louco e sim eu disse sim eu quero sim”. 

A repetição do sim, tem um significado especial.

O sol voltou a brilhar e a tarde rolou mansamente pelos campos afora.

Sobre Fabio Baptista

27 comentários em “Depois do Nevoeiro (Antonio Stegues Batista)

  1. Fernanda Caleffi Barbetta
    6 de março de 2024

    Olá, Riobaldo

    Que loucura este texto, hein? Vou dizer que gostei, costumo gostar de maluquices.

    Tento justificar as coisas que não fazem sentido como ela tendo se atirado da ponte e estar em um delírio pós-morte (isso foi maluquice minha). Gostei das inclusões de poemas, lembranças desconexas, situações inusitadas. Pareceu uma pessoa com o pensamento confuso ou morta rsrs.

    Já das conversas com o leitor, não gostei. Achei que foi demais. É uma outra piração. Já não sei justificar.

    Parabéns pela criatividade.

    “Vencendo o estupor, desliguei o computador” – é legal ler o texto em voz alta para perceber os sons. Na minha opinião, rimas, como esta, empobrecem o texto.

    “refletindo por exatamente 15 segundos” – por que é importante dizer que foi por exatamente 15 segundos? Ele estava refletindo por tão pouco tempo e ainda se preocupou com isso?

    “As frases clichês podem ser bela” – ainda bem que reconheceu e confessou… já ia citar rsrs.

    “e (vírgula) por isso, repetidas”

    “Parou, faleceu” – o Corsa faleceu?

    “direito por causa da neblina.” – acho desnecessário citar a neblina, já falou da névoa duas vezes.

    “É claro que não sou uma pessoa perfeita, Henrique muitas vezes brigou comigo por causa do cartão de crédito.” – nesse parágrafo, quando fala do passado, já são muitas informações, achei estranho incluir o Henrique e a compulsão por compras aqui.

    “parecia um personagem de um conto de Victor Hugo, ou de Goethe” – boa ideia incluir isto aqui por ela ser uma professora de literatura. Assim como outras citações literárias que ela faz no decorrer da narrativa.

    “Quando meti a chave na ignição, pensei; (:) se o motor voltar a funcionar, devo ficar com medo?” – não entendi.

    “Desisti de fazer perguntas que ele não iria se lembrar” – ficou estranho… ele não iria se lembrar das respostas.

    “Meu companheiro ao lado no banco, permanecia calado então resolvi dizer quem eu era decidi contar minha história minha infância e adolescência no sertão os estudos a vinda para a cidade grande a faculdade e mais estudos o meu casamento com Heinrich Waltz a descoberta da amante dele o desquite as calúnias de um autor recalcado que não gostou da minha resenha sobre o livro dele as mentiras as acusações de preconceito o processo na justiça a demissão do meu emprego tudo junto e ao mesmo tempo sem vírgula sem pausa para respirar” – coitado do velho, deve ter ficado com vontade de se jogar da ponte.

    “as (às) 13 horas”

    “abriu-se as portas do palácio” – abriram-se

    “Devia ser os documentos” – deviam ser

    • Antonio Stegues Batista
      18 de março de 2024

      Olá Fernanda. Suas dúvidas em relação ao idoso, ele não lembrando os fatos, não poderia dar uma resposta. “O corsa faleceu” é o mesmo que dizer, morreu, uma questão de ironia. ” (…) Se o motor voltar a funcionar, devo ficar com medo?” Nesse caso, é uma alusão a alguns contos de fantasia ou terror, o carro do protagonista estraga exatamente por força mágica de uma entidade que quer dar fama e fortuna em troca da alma dele e quando o contrato é assinado, o feitiço é desfeito, ou seja, o carro volta a funcionar. Mexi muito em algumas partes e causei erros como no nome de Vittorio e Henrique, ou Henrich, em alemão. Faltou uma boa revisão. Suas anotações foram preciosas. Obrigado pela leitura e comentário

  2. Emanuel Maurin
    6 de março de 2024

    Uma mulher, após perder o marido, emprego e reputação, decide se jogar de uma ponte, mas encontra um idoso que diz ter perdido a memória e precisa de ajuda. Ela se compadece e tenta descobrir quem é o idoso e o leva a vários lugares. No final, chegam na casa do idoso, onde ele recupera a memória e revela ser um antigo inimigo da mulher.

    Seu conto falta clímax, desfecho e detalhes sobre o cenário e ambiente, falta coerência, fluidez e tem erros de pontuação e ortografia.

    • Antonio Stegues Batista
      18 de março de 2024

      Olá, Emmanuel. Acho que você não leu o conto com atenção: “No final, chegam na casa do idoso, onde ele recupera a memória e revela ser um antigo inimigo da mulher”. Não sei de onde você leu que o idoso era inimigo da mulher.

  3. Vladimir Ferrari
    5 de março de 2024

    Apesar de usar o conhecimento sobre livros e textos de outros autores para compor a narrativa, há repetições de pronomes que não se justificam (como em “Finnegans Wake”). Da narrativa em si, vejo muitos “revólveres de Tchékhov” espalhados (se você descreve um objeto, tenha a certeza de usá-lo). Na minha opinião, resvala apenas na premissa de recomeço. Deixa no ar, a critério do leitor. Sucesso.

    • Antonio Stegues Batista
      18 de março de 2024

      Olá Vladimir. “…pedi com os olhos para ele pedir de novo sim e aí ele me perguntou se eu sim diria sim minha flor da montanha e primeiro eu passei os braços em volta dele sim e puxei ele pra perto de mim para ele poder sentir os meus peitos só perfume sim e o coração dele batia que nem louco e sim eu disse sim eu quero sim”.  Se essa parte tem muitos pronomes, a culpa é do James Joyce, é o jeito que ele escreve. Tirei da internet: (Finnegans Wake rompe com as personagens dos dois romances anteriores, mas é recorrente no tema da Queda, culpa e renascimento. É todo um livro para repetir o “Sim” final de Molly em Ulisses. Da redenção pela arte de Dedalus no primeiro livro evolui-se para a reconquista da posição hierárquica do Espírito em Ulisses.)

      Os “revolveres de Tchekov” são assim mesmo no texto, apenas enfeite. A história termina onde começa uma nova vida para a protagonista sem nome.

  4. Leda Spenassatto
    2 de março de 2024

    Que raiva me deu, li e reli seu conto procurando erros e só encontrei dois , ou não ?

    “–Não Vou pra casa descansar”.

    seria mais leve a leitura com a ortografia correta.

    Vittório, ou Vitorio, ou Vitório?
    Bom você que decide.
    Se foi proposital, você conseguiu queimar meus neurônios.

    Que lindeza de conto!
    Me cativou do começo ao final. Seu relato, digamos assim, ficou perfeito.

    Quando o nevoeiro da personagem se dissipa diante do nevoeiro de outra pessoa.

    No final brotou uma vertente ramificada e instigante

    Será que é preciso te desejar sorte?
    Creio que não.

    • Antonio Stegues Batista
      18 de março de 2024

      Obrigado Leda, você capturou o espírito do conto. Valeu.

  5. Sílvio Vinhal
    2 de março de 2024

    Embora trate de um tema complexo, como o suicídio, o conto é relativamente leve e consegue prender a atenção do leitor. A metáfora do nevoeiro é bem empregada, tanto para a confusão mental do personagem quanto para a perda de memória do idoso que ela conhece, quando está prestes a saltar da ponte, e que, de certar forma, sinaliza a mudança de perspectiva para ela.

    O autor tem um bom domínio da escrita, embora seja perceptível uma certa dificuldade com o emprego da pontuação, principalmente das vírgulas. Há também alguns problemas de concordância, o que leva a supor que faltou revisão. É perceptível, também, o momento em que o autor evita a pontuação como um recurso estilístico, para exprimir a ânsia de fala da personagem.

    Como destaque, eu sinalizaria a interessante virada da narrativa, quando o leitor é abordado, pois isso traz um novo foco ao texto.

    O conto não arrebata, mas cumpre o seu papel de entretenimento. As citações são interessantes, porém, na minha opinião, talvez um pouco excessivas para o tamanho do conto – se bem que o fato da personagem trabalhar com literatura, justifica um pouco esse detalhe. O final fica em aberto, porém, um pouco antes, resvala no piegas, quando ela encontra um “clone do George Clooney”, ou melhor dizendo, um sósia.

    • Antonio Stegues Batista
      18 de março de 2024

      Olá Silvio. Reconheço que as citações foram demais. Quando a protagonista conta a sua vida para o idoso, realmente, escolhi não usar pontuação para dar uma sensação de ansiedade, um falar sem respirar.

  6. Pedro Paulo
    2 de março de 2024

    RESUMO: Após um momento de grandes reviravoltas em sua vida pessoal, uma crítica literária encontra um senhor sem memórias e o ajuda a se reencontrar, reencontrando a si mesma no processo.

    COMENTÁRIO: É uma história açucarada e bem contada. Apresenta bem cedo os seus dois conflitos – a personagem em sua própria crise pessoal e o idoso em seu esquecimento – e os desenvolve bem rapidamente, dando espaço para a personagem, do seu ato gentil, olhar as coisas sob nova perspectiva, e para o senhor, de sair daquela situação atormentada. O desenrolar da narrativa me dividiu. Por exemplo, faz sentido que a autora conheça bastante de literatura e tenha incrementado as obras e os autores ao seu modo de pensar, de modo a ser bastante plausível que, ao contar uma história, evoque autores e seus textos como forma de ligar ideias. Apesar dessa plausibilidade, a citação nominal de livros e de trechos inteiros me pareceu um pouco deslocada. Critério tão empatado na narrativa que não é algo de que eu tiraria pontuação, se eu fosse tão regrado e criterioso ao pontuar (comento sem decidir pontuação e reservo essa atribuição a uma releitura rápida dos comentários e comparação entre textos). Mas a condução do texto é fluida – tem um parágrafo que achei muito inteligente, em que a exclusão da pontuação também informa o estado emocional da protagonista – e consegui ver a abordagem do tema ser incluída sutilmente na sugestão de recomeço para o idoso, que recobrou as memórias, e para a protagonista, que reencontrou um propósito ali. Apesar disso, foi um final previsível e até meio cafona com o galã salvador aparecendo no final. O tipo de desfecho doce que funciona, mas que não por isso conquista.

  7. Leda Spenassatto
    2 de março de 2024

    Depois do Nevoeiro
    (Riobaldo da Rosa)

    Que raiva me deu, li e reli seu conto procurando erros e só encontrei dois , ou não ?

    “–Não Vou pra casa descansar”.

    seria mais leve a leitura com a ortografia correta.

    Vittório, ou Vitorio, ou Vitório?
    Bom, você que decide.
    Se foi proposital você conseguiu queimar meus neurônios.

    Que lindeza de conto!
    Me cativou do começo ao final. Seu relato, digamos assim, ficou perfeito.

    Quando o nevoeiro da personagem se dissipa diante do nevoeiro de outra pessoa.

    No final brotou uma vertente ramificada e instigante

    Será que é preciso te desejar sorte?
    Creio que não.

    • Antonio Stegues Batista
      18 de março de 2024

      Olá, Leda. Realmente, depois de mexer muito no conto, não fiz uma boa revisão, errei o nome dos personagens. Ás vezes a gente faz uma cópia revisada e manda a não revisada.

  8. Priscila Pereira
    2 de março de 2024

    Olá, Riobaldo! Tudo bem?

    Seu conto não está na minha lista de obrigatórios então não poderei avaliá-lo, mas mesmo assim quero deixar meu comentário.

    Gostei bastante do seu conto! Muito bom mesmo! Amei toda a referência literária!

    O conto está muito bem escrito e revisado e está bastante visual, quase como um filme. A escrita está tão bem empregada que parece desaparecer, dando assim a impressão de filme, não de conto. Uns acharão simples demais, e dirão que poderia ser mais poética, mais filosófica e elegante, mas eu achei perfeita.

    O enredo é divertido, apesar da situação da protagonista, tem toda a pegada de filme da sessão da tarde. E novamente, pra mim, isso é um elogio e não uma crítica!

    Gostei bastante do conto! Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  9. rsollberg
    2 de março de 2024

    Fala, Riobaldo

    Antes de tudo gostaria de deixar claro sou apenas um leitor entusiasmado e meus comentários dizem mais sobre gosto do que qualquer outra coisa.

    De início a uma apresentação pautada em objetos e ações do narrador. Acho um recurso muito instigante e penso que foi bem competente.

    “As frases clichês podem ser belas também e por isso, repetidas. São clássicas.” Sim, eu considero amigas. Mas, por outro lado, como diria Pablo Neruda “até as coisas mais sublimes da vida quando repetidas várias vezes tornam-se tolas”. Perspectiva!

    Também vi com bons olhos a citação das marcas “Nokia, IBM, Corsa” fora do Merchandising garante realidade ao texto. Houellebecq Roth, Pessl usam bastante isso.

    O diálogo com o leitor, não muito insistente tal qual um suspense noir, ou no estilo Poe, também serviu bem ao conto “Uma pergunta retórica com ironia e sarcasmo que faz você leitor, olhar pela janela da narrativa e nos ver em outro lugar, não muito longe da ponte. Há igualmente um bom uso das referências.

    Enfim, o fim não me pegou de jeito. Rolou comigo um anticlímax, num deux ex machina fofo, muito fofo, eu diria. É uma reviravolta de um Drama bem construído para uma comédia romântica da Cameron Diaz, ou seja, em minha opinião perde força e fica ate caricata. Talvez com mais espaço, o encantamento não tivesse soado tão infantil.

    De todo modo,  é um texto muito bem escrito, com bastante fluidez, repito, com ótimas referências. Parabéns.

  10. Fabio Baptista
    26 de fevereiro de 2024

    Nossa personagem narradora tem um surto e quase faz uma besteira. Acaba sendo “salva” por um senhor que lhe pede ajuda. Ela se desdobra para descobrir quem é aquele homem e devolvê-lo para casa e acaba escalando o velho como psicólogo. Descobre o endereço pelo cadastro da biblioteca e ao levar o tiozinho de volta encontra um advogado bonitão cque vai defendê-la no tribunal e muito provavelmente otras cositas mas…

    Numa primeira leitura “por alto” eu não tinha gostado, mas, numa segunda leitura mais atenta eu consegui apreciar bem melhor o texto. A narração é feita em um estilo mais clássico e consegue segurar bem o ritmo. Eu sinceramente não curti muito os excertos de poesias e livros, mas não chegam a atrapalhar a leitura (além de a profissão da narradora justificar essas citações). A trama segue uma linha reta onde tudo é muito conveniente e se resolve muito fácil. Isso não é necessariamente ruim, mas também não é suficiente para alçar o conto a patamares mais elevados dentro do desafio (daí vai lá e ganha só pra me desmentir… kkkkk).

    Algumas anotações que fiz durante a leitura:

    • Desejar morrer é uma coisa, se matar é outra
      Interessante
    • Eu poderia estar bem, ter uma vida glamorosa com tanto conhecimento
      Confia…
    • Henrique
      Nome surgido meio do nada que depois vira “Heinrich”. Seria melhor usar “meu ex-marido”, acredito.
    • Reconheci que não era normal fazer compras toda semana sem necessidades. Até fiz terapia para acabar com a compulsão por compras.
      A frase poderia acabar em “compulsão”, poupando algumas palavras e evitando a repetição próxima de “compras”
    • Imaginei que ele me ofereceria fama e fortuna em troca da minha alma
      Boa!
    • Aquela figura de humildade e súplica, pegaram
      Aquela figura (…) pegou
    • Uma pergunta retórica com ironia e sarcasmo que faz você leitor, olhar pela janela da narrativa e nos ver em outro lugar, não muito longe da ponte.
      Quabra de quarta parede chegou sem aviso…
    • depois do breakfast
      Então, eu ia comentar no sanduíche de mortadela e passei batido, mas aqui ficou inevitável. Esse conto, desde a imagem ilustratia, passando pelas descrições da névoa e pela confiança da mulher enfiar o tiozinho dentro do carro, tem toda clima de não se passar no Brasil.
    • Não quero dar trabalho pra senhora
      Depois de ter enchido o bucho kkkkkk
    • Era George Clooney!
      Isso aqui deu uma quebrada no clima do conto
    • Claro, aceitei.
      De boba nossa amiga não tem nada, né? kkkk
    • O sol voltou a brilhar e a tarde rolou mansamente pelos campos afora.
      Bom arremate

    NOTA: 8

  11. Kelly Hatanaka
    26 de fevereiro de 2024

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Atende ao tema. Uma mulher vive um momento de crise e encontra a chance de um recomeço ao ajudar um velhinho.

    Escrita
    Bonita, correta, elegante. Algumas digressões bem colocadas ajudam a caracterizar os personagens de forma orgânica.

    Enredo
    Mulher, vivendo um momento de profunda crise pessoal e profissional, sente-se no fim do caminho, quando encontra um velhinho desmemoriado. Ao ajudá-lo recebe a oportunidade de um recomeço.
    Simples e bem feito. Gostei.

    Impacto
    Uma história bonita e bem conduzida. Os personagens são bem desenhados e a gente torce por um final feliz, que lá pelo meio da história parecia pouco provável. Talvez o final tenha ficado um tantinho conveniente demais, quase um deus ex machina, mas isso não me impede de gostar de seu conto.

    Kelly

  12. Gustavo Castro Araujo
    25 de fevereiro de 2024

    Gostei do conto no geral. Temos aqui uma breve história de redenção, da mulher que, cogitando o suicídio, vê-se interrompida por um homem já idoso, desmemoriado, que procura auxílio. Ao decidir ajudá-lo, essa mulher ressignifica sua vida e descobre um novo propósito para si mesma.

    O conto trata de valores universais e daí é que vem sua força. Em primeiro lugar, as Memórias, que o velho já não tem — ou pelo menos não as tem tão facilmente. Já a mulher possui, nesse aspecto, um feixe inesgotável de lembranças, refletidas em diversas obras literárias, sendo capaz de recitar delas trechos inteiros.

    Em seguida vemos a busca de propósito. Todos, sem exceção, navegamos num mar de distrações, atrás de um objetivo maior para dar à nossa vida um significado condizente com nossas aspirações mais recônditas. Muitos passam por essas águas sem jamais divisar os contornos de tal significado; outros já têm mais sorte. No conto, nossa protagonista tem a sorte de encontrá-lo no instante derradeiro, e de fato aproveita essa chance que o acaso lhe concedeu.

    Creio que este conto pode ser desdobrado. Aliás, deve ser desdobrado, até porque a personalidade e as atitudes do homem velho clamam por mais desenvolvimento, por mais concretude. Não é que esteja ruim, mas soam um tanto rasas, carecendo em certos pontos de verossimilhança. Em poucas palavras, não está à altura do desenvolvimento da mulher.

    Outro aspecto que há de ser melhorado na minha opinião é o final do conto. O encontro com o tal sósia do George Clooney me pareceu um tanto forçado, um tanto conveniente e artificial. Em termos meramente filosóficos, o texto já teria cumprido seu objetivo de retratar a redenção da mulher a partir do momento em que ela descobre o poder da empatia e como o fato de ajudar os outros pode ser recompensador. Nesse sentido, dar a ela uma espécie de prêmio, traduzida pela presença de um dublê de galã destoou e muito do restante do conto. Se dependesse de mim, eliminaria todo esse trecho, já que a história funciona muito melhor sem ele.

    Enfim, um conto bom, fácil de ler, daqueles que a gente acompanha e torce pela protagonista, mas que pecou um tanto no final. De todo modo, desejo a você, autor(a) boa sorte no desafio.

  13. Simone
    25 de fevereiro de 2024

    Sim, um conto em que uma tarde três vidas são resolvidas. A ambientação é suficiente para imaginarmos a paisagem que aos poucos vai se transformando para melhor, primeiro o nevoeiro, que estava no ar e na mente daquele senhor, depois uma tarde aberta e bonita. Ela começa a ver os problemas como menos importantes e a dar valor à vida, isso vem nas lembranças de casa, da mãe amassando o pão. O conto fala de um milagre, dos encontros que são recomeços. As referências literárias são respiros agradáveis para o leitor. Talvez a história seja um pouco fantasiosa, uma vez que tenta resolver todos os problemas da protagonista, mas a leitura é bem interessante e fluida. De um pensamento suicida para a felicidade em um único dia. Acho que a situação crítica deve voltar em pensamento algumas vezes durante o texto e se tornar menos importante gradualmente.

  14. Karina Dantas Nou Hayes
    24 de fevereiro de 2024

    Algumas marcas ditas no início me remeteu às famosas publis. Desnecessário citá-las. Porém, a poesia, a criatividade na descrição dos diálogos, a forma que a narradora/personagem conduz a conversa com o leitor, trazendo as suas lembranças junto com o processo de recuperação da memória do idoso, que a salva da sua mórbida decisão, faz um convite irrecusável para um mergulho na história. O recomeço é muito bem mostrado e desenvolvido no conto. E em ambos os personagens. Com o idoso, quando ele recupera a memória ao chegar em sua casa e com a narradora, que também tem a chance de recuperar a vontade de viver.

    • Antonio Stegues Batista
      18 de março de 2024

      Olá Karina. Citei as marcas do computador IBM e celular NOKIA com antena, simplesmente para situar o conto nos anos 80, que é quando esses aparelhos eram mais usados naquela década, 80/90.

  15. Mauro Dillmann
    24 de fevereiro de 2024

    Texto bem escrito, com várias experimentações, embora tenha ficado a impressão de falta de pequena revisão. Em algum momento, reporta-se ao leitor, mas esse recurso tem pouca continuidade. Em outra passagem, a narradora-personagem fala com si própria (“É claro, ele está desmemoriado como vai se lembrar? O único jeito de saber é indo lá, na biblioteca”).

    Embora opte por estrangeirismos (breakfast, entre outros) e por aportuguesamentos (toalete, por exemplo), a leitura flui e a escrita tem criatividade.

    Um pequeno, mas importante detalhe sobre a forma de escrever horas: no lugar de 7:28hrs, escreve-se 7h 28 min.

    Passagens clichê que o próprio texto do conto diz serem ‘clássicas’: ‘dor na alma’, ‘dor na boca do estômago’, ‘palácio da memória’.

    Quando menciona águas profundas e negras, vale o cuidado. A cor da água é preta e, não, negra. A palavra negro/negra refere-se a grupos étnicos raciais.

    O texto opta por formas mais literais, mas eventualmente, alguma metáfora. A opção por metáforas ou por símiles é sempre um recurso enriquecedor.

    Posso estar enganado, mas a leitura me trouxe a impressão de que o autor seja do sexo masculino. Quase no fim uma frase machista da narradora-personagem: “Se bem que alguns homens gostam do cheiro natural da mulher”. Talvez minha desconfiança seja por esse motivo. Talvez.

    O final do conto não me surpreendeu. Não que deveria, mas alguma impressão de imprecisão do final.   

    Parabéns pela escrita.

  16. Alexandre
    17 de fevereiro de 2024

    A premissa da história é muito boa, mas o seu desenvolvimento ficou prejudicado. Há questões menores, como os poucos erros de pontuação e acentuação e os equívocos do autor, que confunde o Programa Universidade Para Todos (ProUni) com um curso e escreve o nome do senhor desmemoriado de três maneiras diferentes. Há também uma referência a frases clichês e/ou “clássicas que ficou solto no texto. Não há citação de uma frase assim no parágrafo anterior, nem no seguinte.

    Mas, para mim, o que prejudica a narrativa são as constantes reminiscências da protagonista e as citações dos livros. Num texto curto, como se espera de um conto, essas interrupções na linearidade causam confusão e prejudicam o entendimento da história.
    No geral, a história é boa e pode ficar ainda melhor se passar por uma revisão textual e alguns ajustes na narrativa. Parabéns ao autor.

    Gostei muito. Nota 7.0

  17. Givago Thimoti
    13 de fevereiro de 2024

    Depois do Nevoeiro (Riobaldo Rosa)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    No mais, seguimos para minha avaliação: 

    Impressões iniciais:

    +/- Observei erros gramaticais de vírgula. Aparentemente, foi intencional, como uma homenagem ao estilo de escrita do Guimarães Rosa, considerando às referências no texto. Ainda não sei como eu me sinto enquanto a isso…

    + Gosto de contos com ares de relato…

    – Escrita não prende ou cativa o leitor (pelo menos no meu caso)

    – Um conto que se perde nas referências aos clássicos

    + Pertinência ao tema

    Resumo:

    “Depois do Nevoeiro” conta a história de uma editora de textos que, após uma grave acusação de falsificar suas credenciais de formação, é demitida do seu emprego. Somado a isso, a professora de literatura passa por uma crise no casamento. Ela decide, portanto, se matar. Contudo, instantes antes de pular da ponte, um senhor desmemoriado aproxima-se dela. A editora troca o suicídio por uma jornada para ajudar o senhor a descobrir sua identidade e local de residência. 

    Corpo (gramática/estilo de escrita)

    Aqui está um dos grandes problemas do texto para mim. Como destaquei nas minhas impressões iniciais, existe uma clara opção do autor por uma pontuação divergente da norma padrão, similar ao estilo de Guimarães Rosa. Particularmente, não sou do time “REGRA É REGRA” e acredito que a literatura, enquanto uma forma de arte, pode e deve ser livre para ser feita livremente. Tanto que, em algum desafio anterior (salvo engano, o de Comédia), eu também ousei na linguagem ao estilo Guimarães Rosa.

    Contudo, confesso que nesse conto, acho que a opção pelo uso de vírgulas não funcionou. Como explica Aira Martins: “A reorganização dos sinais de pontuação por Guimarães Rosa vai acrescentar  outras  significações  que  ultrapassam  aquelas  previstas  pela gramática da língua. Os elementos não-verbais que compõem a tessitura do texto do autor, como a pontuação, as capitulares, as palavras ou enunciados em itálico ou em negrito, além de outros símbolos, são dados relevantes para a compreensão e interpretação da obra do escritor.” (MARTINS, 2006)

    O uso das vírgulas nesse conto limitou-se, na minha opinião, a imitar o estilo de Guimarães Rosa, sem de fato se embrenhar na estratégia ousada do clássico autor; ressignificar a contação de causos, mostrando que há literatura mesmo longe das regras frias da linguagem padrão. A replicação parcial do estilo de escrita me pareceu, no final, um tanto sem propósito.

    Acho que essa técnica da vírgula funciona muito bem quando atrelado a outras técnicas de escrita, como por exemplo neologismos para aproximar as palavras do dialeto regionalista da literatura.

    Mesmo diante das minhas críticas nesse ponto, gostaria de deixar registrado minha satisfação com a homenagem ao Guimarães Rosa e parabenizar o autor/ a autora por se arriscar. Afinal, como o próprio poeta mineiro eternalizou, “tudo que a vida quer da gente é coragem!”

    Alma (o que tocou ou não o leitor. Pontos fortes e/ou fracos)

    O que não funcionou nesse conto além do estilo de escrita? Achei que teve muitas referências explicitas a outros escritores famosos. Embora seja natural, considerando a profissão da personagem principal, senti que houve um grande exagero na utilização dessas referências, desviando do contar da história da literata com o senhor desmemoriado.

    Considerado o desafio de encaixar uma história dentro do escopo das 2.500 palavras e da necessidade de contar uma história sobre recomeço, senti que as referências tomaram o espaço da história principal. Gosto de comparar o ato de contar uma história com um desfile de escola de samba. Nesse caso específico, sinto que o final do conto sofreu com a “evolução do desfile” e que precisou finalizar apressado antes que passasse do limite. Ao final do conto, a história é apressada demais, oferecendo um final conclusivo feliz para a personagem principal; ela encontra o advogado responsável por conduzir o divórcio dela com Henrique (que alguma hora foi Henrich, uma versão alemã que não entendi bulhufas porque apareceu), casando-se com ele posteriormente.

    Não tenho nada contra finais felizes; inclusive, sou um entusiasta. Porém, eles devem ser construídos, o que sinto que não aconteceu aqui.

    Nota: 6

  18. Angelo Rodrigues
    13 de fevereiro de 2024

    Depois do Nevoeiro

    Por Riobaldo da Rosa

    Conto bom de ler. Começa dando indicativos de que em breve se tornará um tédio, com longos relatos que podem não levar a nada, com a autocomiseração da protagonista tomando conta de tudo. Mas isto não acontece. A personagem se apruma e a história segue em frente, com boas surpresas.

    O conto escolhe abordar os conhecidos clichês dos encontros fortuitos, mas este, em especial, não cai na vala comum. Tem tonicidade narrativa e consegue manter o interesse o tempo todo, embora resvale aqui e ali na baixa verossimilhança das coincidências controladas pelo autor.

    A vida não precisa do acaso, ela é o acaso e a literatura – particularmente o conto – é o controle ocasional dos acasos que possam gerar interesses na leitura. Não foi mal as coisas irem se aprumando lentamente, quando a vida de todos, da protagonista, do Vitório e do Clooney se imbricam para tudo resolver, onde tudo indica que a vida de todos acabará bem até onde é possível antever. Talvez esse seja o ponto menos tônico do conto, dado que não subverte expectativas, não revira conceito, mas planifica a alma quando toma o rumo da calma que agrada a todos.

    Há um trecho que foge bastante ao conjunto ‘fático’ do conto. Quando Vitório imagina que a protagonista possa se tornar sua cuidadora e ela balança em direção a aceitar, talvez pela beleza de Clooney, que chega para indicar a ela, a protagonista, que ali, naquela casinha de rua descalça, poderia encontrar um novo amor. Achei esta parte um pouco forçada na construção do texto, mas vá entender a alma humana!

    Parabéns pelo texto e boa sorte no desafio.

  19. Karina Dantas Nou Hayes
    11 de fevereiro de 2024

    Conto que nos tira de qualquer nevoeiro trazendo um lindo mar de raios solares não só na narrativa como nas obras citadas dentro dela.

  20. Thales Soares
    11 de fevereiro de 2024

    Este conto eu inicialmente utilizei aquela técnica de julgar o livro pela capa. Quando eu vi a moça e o senhorzinho, na mesma hora tracei uma trama em minha mente:

    “Já sei! Esse conto vai ser sobre a relação de sugar daddy do vovô com a garota. Apesar de não ser atraente, a moça obtém muitos benefícios com a riqueza do véio, e em troca ela não precisa fazer tanta coisa, já que a pipa do vovô já não é mais a mesma. Então, em algum momento, o velho vai morrer, e a little girl dele vai ter um recomeço, com toda sua fortuna.”

    Quando comecei a ler, percebi que toda a minha pré concepção da obra estava equivocada. O que encontrei durante a leitura foi um conto muito bem escrito, com situações bastante sensíveis, e nada da relação que eu imaginei inicialmente. Mas vamos agora para minha crítica:

    O ponto forte do conto é a escrita. Nota-se que o autor é extremamente experiente, pois foi capaz de produzir uma leitura fluida e prazerosa. Não me senti em momento algum cansado com a leitura, e nem tive que ficar voltando várias vezes para reler alguma frase, como me acontece muito frequentemente.

    Nota-se também que o autor possui um repertório literário bem grande, pois a história é salpicada de referências literárias e momentos de introspecção que enriquecem a trama e aprofundam o caráter da protagonista. No entanto, em certos momentos achei esse recurso um pouco exagerado demais. Por exemplo, no momento em que o velho lembra do sapateiro, Carlitos, e então a moça começa a lembrar do vizinho dela, um tal de Laerte, e a lembrança se torna muito aprofundada, e a informação contida nesse trecho em nada agrega para o desenvolvimento da trama. O que eu senti, nesse momento e em outros em que a personagem divagou demais, é que ela é aquele tipo de pessoa que possui um défit de atenção muito forte, e que quando conversamos com ela, temos que ficar repetindo a mesma informação várias vezes, pois a pessoa sempre está brisando, viajando nos próprios pensamentos. O velhinho, por sorte, não era um cara de muitas palavras, então não teve que passar por isso.

    Outra coisa que estranhei, é que a transformação da protagonista de uma pessoa desesperada para alguém disposta a ajudar um estranho, é convincente, mas a história poderia beneficiar de uma exploração mais profunda dos seus conflitos internos e da sua evolução psicológica. O idoso desmemoriado é bastante interessante, mas seu passado e a recuperação de sua memória parecem um pouco abruptos e poderiam ser mais detalhadamente explorados. Além disso, a transição da protagonista de uma crise existencial para a aceitação de um novo propósito é um pouco rápida.

    Por fim, a comparação do advogado com George Clooney foi engraçada, mas destoou um pouco do restante do conto, e não agregou muita coisa para a trama… apenas contribuiu para minha suspeita de que a protagonista tem um nível muito elevado de défict de atenção.

    O final do conto, embora otimista, sugere muitas mudanças significativas em um curto período. Uma resolução mais gradativa poderia oferecer uma representação mais realista da complexidade das situações apresentadas. Não consegui ver tão bem um recomeço ali, apenas uma evolução abrupta da personagem. Ao meu ver, no início da história ela parecia estar naqueles dias desgraçados de ruins, como todos nós tempos às vezes, e então, no final do dia, o dia dela melhorou… mas não sei se isso se enquadraria como um recomeço de fato. Mas não acho que seria justo eu tirar pontos por isso, já que o conto conseguiu me entreter tanto e fazer com que eu refletisse bastante sobre tudo o que foi mostrado.

E Então? O que achou?

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .