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Detox Literário.

Casamentos (Mauro Dillmann)

Nos últimos anos, oportunidades de casar não faltaram a Amélie. Sozinha, ela conseguia administrar os rendimentos da marcenaria e da leitaria, herdadas do falecido. Com alguma dificuldade de abrir a carteira, pagava o peão pelo trabalho. Também podia sustentar a si e aos filhos, não se via casando de novo, alterando a rotina, tendo que dividir a atenção da família com um novo marido. Apesar dos flertes, não se apegou a ninguém. Nenhum homem lhe pareceu bom, nem despertou sentimentos para unir amor, atenção aos filhos e garantia de sossego na velhice.

“Se for pra casar, não basta amar”, repetia para si, enquanto lia o romance Formulários da Paixão, do famoso filósofo francês Jérémy Bastien. Na cadeira de balanço, ela recontava as economias na caixa de agulhas. Às vezes, unia as mãos em oração até adormecer sentada, a balbuciar trechos do livro recém lido ou de passagens bíblicas. Ao acordar, anotava em seu diário: “quem serve a Deus não serve aos bens”.  

Amélie pensava em vender os animais e as terras e se mudar para junto dos tios no outro distrito. “Ouvi dizer que estão cada vez mais caducos”. Até podia ter ido, porque seis dos sete filhos já estavam encaminhados em trabalho e matrimônio, quatro homens e duas mulheres. Essa seria a missão de uma mulher honrada e devota. Só restava a caçula, que tinha um joelho valgo, pisava pra dentro, e, tal como a mãe, vivia com livros na mão. A mais difícil. No diário de Amélie estava registrado: “quem lê muito não arruma marido”, um antigo ditado da bisavó. Em conversas com o primogênito contava sua pretensão em levar a jovem mais vezes nos bailes e nas festas da comunidade. “Quem sabe ela ganha o concurso de rainha da cebola e um ‘pão’ surja em seu caminho?!”.

Entre o noivado e o casamento do filho mais novo se passou um ano. Ele conheceu um aperto, ficou desempregado e recorreu às economias de mamãe. Outros faziam o mesmo. Ela não tinha o pulso firme do falecido. Dele, aliás, só guardava uns retratos, que fazia questão de deixar na caixa de sapatos em cima do roupeiro. Para atender aos filhos, fez contato com os devedores do livro de fiados da antiga marcenaria, mandou derrubar o mato e arrendou uma parte das terras não cultivadas. Buscou conselhos na igreja e com as companheiras bem-casadas que usavam chapéus de veludo e lenços cáquis no pescoço. Por recomendação delas, passou a beber licor de butiá e chá de hortelã todos os dias. As bebidas traziam algum ânimo, ao menos para explicar as coisas da vida à menor: “Preciso te contar os segredos dos amantes, minha filha”. A filha sorria como quem desconhecia o assunto.

Como os gastos aumentaram naqueles últimos anos, Amélie decidiu trabalhar. Passou a se dirigir à cidade para vender guardanapos, ambrosia e doces de pêssego. Voltava afogada na poeira e no sol. “A pior coisa do mundo é uma mulher sem crédito, ainda mais viúva”. E assinalava os dias no calendário pendurado na parede: “Faltam dez dias para a pensão”.

As viagens de ônibus para a cidade, as caminhadas que os negócios exigiam e o risco de perder mercadoria, logo se tornaram cansativas. Amélie começou a sentir o peso dos cinquenta e sete anos. Um movimento errado podia gerar fofocas na vizinhança, que passavam acenando na carona de suas caminhonetes da mesma cor que seus lenços. Amélie sempre prezou a própria imagem, mas agora estava quase descapitalizada. Cortou despesas, não comprava mais tamancos, nem livros, apenas o pó do rosto, porque “careta nem o diabo aceita”, repetia para a filha. Nessa altura considerou os pretendentes dispensados nos últimos dez anos de viuvez. A chegada da pressão alta e dos reumatismos a faziam antecipar o estado na velhice. Buscou se benzer, arruda no travesseiro, lentilha na bolsa e vela pra Santo Antônio.

No início de agosto as vacas escassearam o leite. “Mal posso pagar o peão”, clamava às amigas. Naqueles dias recebeu uma carta do cunhado, da capital, falando de um homem bem-apessoado, de sessenta e dois anos, que havia perdido a mulher. Era barbeiro, tinha clientela e alguns recursos, além de uma casa própria e um auto para passear nos finais de semana. “Quem trabalha vai pra frente”, dizia ela aos filhos.

A carta parecia ter chegado em momento oportuno. Ainda tinha a filha menor para casar. “Meu único entrave é essa rapa do tacho”. Se o cunhado estivesse certo ao louvar o homem, ela ainda poderia contar com um segundo casamento para viver com conforto e fazer um novo curso de costura. Falou com os filhos, que a aconselharam. Respondeu ao cunhado: “recusei casamentos, mas estou pensando em aceitar. Quero saber a opinião da minha irmã”. Nos dias seguintes a irmã escreveu falando do aspecto, juízo e porte do homem e apontando para os benefícios dessa união, as livrarias, as lojas de modas, a aproximação entre elas, a importância do recomeço.

Quando o conheceu, em dezembro, simpatizou. “Mulher da minha idade não espera muita coisa”, ela disse à irmã. Era um homem da cidade, tinha modos, todos os dentes e tocava gaita de boca. As gavetas do guarda-roupas dele não eram tão bagunçadas e usava cuecas coloridas de mesmo modelo, tamanho médio, daquelas compradas no pacote de três. Nos acordos de casamento firmaram compromissos e mencionaram heranças em casos de algum deles partir para uma vida melhor. Ele também se comprometia a ajudar a casar a caçula, que já tinha feito confirmação há três anos e não podia ficar solteirona.

Todos os dias, quando chegava do trabalho com uma careta de amor, ele lhe trazia um Neugebauer. Nos finais de semana, pela manhã, ele molhava bolachas no café, limpava os tijolos da casa, desenrolava os anzóis. Ela costurava bainhas, lavava cortinas, cozinhava creme de ervilhas. À tarde, depois da sesta, passeavam pelo parque, os braços dele encaixados nos dela tal como um pai a conduzir uma filha para o casamento na igreja. E comiam pastel folhado e Rei Alberto na confeitaria “Toucinho do Céu” antes de voltarem para casa. Amélie foi aprendendo as técnicas da barba, porque ela mesma aparava o bigode dele, marcado pelo cigarro, nas noites de domingo.

“O caminho da perfeição é estreito”, escreveu ela em seu diário seis meses depois. Ele desenvolveu gosto pelo jogo e passou a frequentar várias carpetas. “Depois de velho, se entregou aos golpistas”, dizia ela à irmã. Amélie ficava em casa, passou a ter insônia e enxaqueca, dividida entre a bíblia e Fanny Burney. “Às vezes, fico cansada de mim”, repetia para si em silêncio. Ele virava noites na rua, jogando; depois, dormia a manhã toda; passou a trabalhar somente à tarde. Seu rico negócio prosperou, até a execução da hipoteca da barbearia chegar sem que ela tivesse sequer casado a caçula. “Valha-me, Deus”.

Sobre Fabio Baptista

21 comentários em “Casamentos (Mauro Dillmann)

  1. Andre Brizola
    9 de março de 2024

    Olá, Ingrid Frigga!

    Seu conto é praticamente uma ode à ironia, em que a personagem aceita um casamento por interesse, visando ao conforto, e ao bem-estar da última filha, ainda solteira, e acaba encontrando problemas e dívidas. É uma forma interessante e cômica de encarar um recomeço, se não fosse trágica…

    O texto é bem amarrado, com boa gramática, escolhas interessantes de construções frasais e as inserções dos pensamentos, entradas no diário, e das falas das personagens entre aspas contribuíram para que o andamento do conto, o ritmo propriamente dito, já estabelecido no primeiro parágrafo (grande, denso, com diversas informações em cada respiro), não fosse alterado em nenhum momento.

    Embora curto, acredito que o conto apresenta um excesso de informações que deixa o texto levemente cansativo. Entendo que estejam a serviço de um melhor entendimento por parte do leitor, mas coisas como “famoso filósofo francês” e “daquelas compradas no pacote de três”, no meu entender, acabam dando um tom professoral, um excesso de explicação, a um texto que já é, basicamente, descritivo.

    No geral, trata-se de um conto bem feito, com opções textuais interessantes e que se adequa bem ao tema do desafio. Só fica essa ressalva de ser um tanto cansativo, mesmo sendo curto.

    É isso. Parabéns!

  2. Marco Aurélio Saraiva
    8 de março de 2024

    Uma narrativa em tom jornalístico da vida de Amélie. A beleza no texto são as citações de sabedorias populares, que foram espalhadas pela leitura e dão um toque de comédia, deixando o conto um pouco mais leve.

    O que não gostei: a leitura é melancólica. Parece correr como se fosse mesmo uma coluna em um jornal. E termina sem mais nem menos, sem conclusão, só um momento e acabou, como se o escritor tivesse a ideia do início, escrevesse até quando achou que tinha vontade, e parou quando quis parar. É uma estratégia válida para escrever um conto, mas ao meu ver, ao menos neste caso, deixou o texto com aspecto de algo escrito sem muita atenção.

  3. Jorge Santos
    7 de março de 2024

    Olá Ingrid. Existe o conceito do anti-herói, aquele que ninguém considera herói, mas que acaba por ser. Revi este conceito no seu conto, no qual uma viúva luta para criar os filhos, numa sociedade conservadora, disposta a apontar-lhe o dedo à menor falha. Embora leitora voraz, não acredita no amor. Casa-se novamente por necessidade, recomeçando a sua vida e justificando a adequação do conto ao tema do desafio. O casamento não corre bem, mas ela continua com os seus objetivos bem definidos: sempre a pensar no bem-estar dos filhos. É este o entendimento que tenho do seu conto. Não concordo com esta forma de ver a vida, a obsessão pelo casamento da filha e com aquilo que os outros pensam. Sei que é um relato real e já tomei contacto de casos semelhantes. No entanto, creio que a verdadeira falha do conto é a falta de coerência em alguns momentos, nomeadamente no final: o marido cai no vício do jogo, só trabalha de tarde, mesmo assim o negócio prospera mas vence a hipoteca da barbearia. Há nesta sequência de fatos algo que não me parece bem. Fora isso, achei o conto simples, bem escrito, cumprindo os objetivos mas sem brilho.

  4. Fernanda Caleffi Barbetta
    5 de março de 2024

    Olá, Ingrid

    Gostei da sua história. Estava até confiante de que ela enfim houvesse encontrado o amor, mas o homem descambou rsrs.

    Gostei do final, mas tiraria a fala, não é necessária, na minha opinião.

    “Todos os dias, quando chegava do trabalho com uma careta de amor, ele lhe trazia um Neugebauer” – gostei

    Amélie administrava os rendimentos da marcenaria e da leitaria, dois negócios bem distintos, depois resolveu vender guardanapos, ambrosia e doce de pêssego, e queria fazer mais um curso de costura. Sugestão, escolher apenas uma atividade. Precisei voltar no texto para entender o que exatamente ela fazia rsrs.

    Ficou um pouco inconsistente tb ela se preocupar apenas com os gastos com o peão…fico imaginando os gastos e as preocupações que não dão uma marcenaria e uma leitaria. Sugiro simplificar para evitar cair nestas armadilhas.

    O verbo casar é reflexivo – “oportunidades de (se) casar não faltaram a Amélie” ?/ não se via casando(casando-se)  de novo

    “Ele conheceu um aperto” – achei essa frase estranha

    “economias de mamãe” – o “de” passou a impressão de que quem narra é filho dela também.

  5. Priscila Pereira
    4 de março de 2024

    Olá, Ingrid! Tudo bem?

    Fiquei com dó da pobre Amélie… As vezes era melhor ter seguido o ditado: “antes só do que mal acompanhado.”

    O enredo do seu conto é bem simples, e a narrativa me lembrou um filme antigo. A escrita é direta e segura, e tem uma sonoridade boa de ler, quase poética. Os ditados no meio ficaram muito bons.

    A personagem não parece muito esperta, e o recomeço dela não foi como o esperado, então o conto é um pouco melancólico, mas talvez pelo modo como foi escrito, não tem ar de drama, e sim de comédia romântica, tirando a comédia e o romantismo. Eu sei, não faz sentido nenhum, mas é o que senti no final da leitura…

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  6. Givago Thimoti
    3 de março de 2024

    Casamentos (Ingrid Frigga)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

    Impressões iniciais 

    – Conto esteticamente bem escrito, mas muito corrido.

    – Amei a imagem do conto

    – Antes só do que mal acompanhado, né Amélie!

    Alma

    A história de Amélie é muito interessante, uma mulher viúva, com alguns problemas financeiros, e que se aproxima da terceira idade e, após ter encaminhado o destino de 6 dos 7 filhos, resolve casar-se com um pretendente da cidade.

    Eu gosto de comparar o contar de uma história num conto com um desfile de uma escola de samba. O conceito de evolução aplica-se perfeitamente à condução de uma história. Acho que o desenvolvimento dessa história foi o elemento literário que mais prejudicou esse conto. Por grande parte do texto, ele se desenvolve devagar, detalhista, despreocupado com o,limite de palavras. Aproximando-se do final do conto, a evolução do conto corre, voa, dispara, para terminar a história dentro do limite. Num momento, Amélie está iniciando seu casamento, no próximo, seis meses depois, o casamento já está ruído. Isso é extremamente incômodo, na minha visão.

    Por outro lado, o conto deixa uma ponta solta, que é a filha mais nova que não casou. Simplesmente ficou ali, sobrando, o que é uma pena.

    Ainda assim, é um conto esteticamente bonito, bem escrito. Mas, faltou mais cuidado com a condução da história.

  7. Felipe Lomar
    2 de março de 2024

    olá

    olha, tive alguns problemas com o seu conto. Primeiramente, Acho que a história tá meio sem sal. Não tem nada muito atrativo, nada muito bem articulado e não diz muita coisa. Não tem um impacto, sabe? Tem algumas pontas soltas também. É meio difícil identificar o tempo e o local onde a história acontece, o que eu acho que seria importante em um drama familiar como esse. Isso se deve a algumas ideias confinantes apresentadas. As mulheres rabalhando e dirigindo caminhonetes indicam um cenário mais moderno, que não combina com o tipo de negócio e a quantidade de filhos da família, nem com o pensamento meio retrógrado de casar a filha e não deixar ela solteirona, que indicariam um tempo mais antigo

    boa sorte!

  8. Leda Spenassatto
    25 de fevereiro de 2024

    Casamentos (Ingrid Frigga)

    Casamentos: a expectativa de muitas mulheres se darem bem navida, infelizmente.Coitada da Amélie! Me parece que a solidão e a expectativa de dias melhores foram fatores fundamentais para a sua decisão.Buscou num novo casamento nutrir suas carências e despachar a ‘rapa do tacho’Ingrid, você iniciou suas escritas falando que Amélie podia sustentar sua família, mas deixou claro que um marido para ela teria que somar, que só o amor não bastava.Como mulher honrada, tinha a missão de casar todos os filhos, apegada à religião, buscou conselhos na igreja e com as amigas .Como um posto de gasolina, Amélie abasteceu os filhos ficando à mercê das suas economias.Quando recebeu a carta de seu cunhado falando de um senhor, também viúvo que queria se casar, não vacilou, o homem tinha carro e dentes, hehehehe.”O caminho da perfeição é estreito” , só seis meses, verdade.Você fez um relato coerente da vida da Amálie, rico em detalhes que se eram ficção se tornaram reais a partir do momento que saltaram para o papel.O final seria perfeito se você não tivesse colocado o “Valha-me Deus”.

    Para mim só faltou um pouco mais de emoção. Mas isso é comigo, sou muito utópica.

    Seu potencial é muito bom

  9. claudiaangst
    25 de fevereiro de 2024

    Oi, Ingrid, tudo bem?

    Sim, seu conto aborda o tema proposto pelo desafio. A protagonista, uma viúva, teve de rever seus planos e enfrentar um recomeço. Casou-se novamente e pensou ter encontrado um pouco de sossego, mas…
    Gostei dos ditados ou lemas de vida, não sei que denominação aplicar aos ditos:
    “Se for pra casar, não basta amar”
    “quem serve a Deus não serve aos bens”
    “quem lê muito não arruma marido”
    “careta nem o diabo aceita” = meu preferido
    “Quem trabalha vai pra frente”
    “Mulher da minha idade não espera muita coisa”
    “O caminho da perfeição é estreito”

    Não encontrei falhas quanto à revisão, exceto:
    […] em levar a jovem mais vezes nos bailes e nas festas > em levar a jovem mais vezes AOS bailes e às festas.

    O que quis dizer com “a caçula, que já tinha feito confirmação há três anos e não podia ficar solteirona”. Confirmação do quê? Seria a crisma? Sei lá, se for isso, a menina era bem jovem ainda.
    A leitura flui fácil e foi um prazer acompanhar as peripécias de Dona Amélie. Fiquei em dúvida quanto à questão de tempo e espaço, pois às vezes a trama parecia se passar em uma época distante e noutras em tempos atuais, mas isso não afetou em nada o texto.
    O final me deixou intrigada – A barbearia prosperou, deu lucro, mas venceu a hipoteca e o dinheiro todo se foi?

    Parabéns pela participação e boa sorte na fuga de casamentos que acabam em um “valha-me Deus!”

  10. Simone
    24 de fevereiro de 2024

    Muito bem escrito este conto. Eu estava admirando a personagem viúva que se virava sozinha e vinha vencendo as dificuldades. Torcia para que ela não precisasse de novo casamento. Mas ela precisou e não teve sorte. Um recomeço que não deu certo, porque o marido tornou-se viciado em jogo e deixou a desejar como companheiro. Uma vida marcada pelas dificuldades. Não sabemos se ela foi feliz no primeiro casamento, esse detalhe fica no subtexto, mas acredito que sim. O segundo casamento foi motivo pela necessidade de ajuda financeira, um engano. Gostei dos pormenores que aparecem ao longo do texto e que dão brilho à escrita. A história se resumida parece trivial mas foi escrita com maestria e se tornou interessante, especialmente pelos detalhes apresentados. O leitor compreende a personagem e lamenta seu final. Parabéns

  11. Kelly Hatanaka
    24 de fevereiro de 2024

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Atende ao tema. Amélie tenta um recomeço, casando-se novamente, mas as coisas não saem como esperado.

    Escrita
    Uma escrita bonita e correta, sem erros e bem revisada.

    Enredo
    Um enredo simples. Amélie, viúva, não pensa em se casar novamente, mas, com a situação financeira se deteriorando, casa-se com um barbeiro. No início, idílico, tudo vai bem, mas por fim, o novo marido perde dinheiro no jogo e a deixa só.

    Impacto
    Não me impactou. É um conto muito bem escrito e a história está contada de forma correta e clara. Mas fez falta alguma reviravolta, alguma crise. Dá dó de Amélie, que parecia ter tudo sob controle no início.

    Kelly

  12. Vladimir Ferrari
    23 de fevereiro de 2024

    O texto é muito bem escrito, lembrando prosa madura. Mas o misturar de assuntos fica um pouco confuso e, com os leitores de hoje em dia, torna-se um emaranhado de sub-narrativas. E a premissa se perde no cotidiano da protagonista, sem demarcar o objetivo principal do desafio, o recomeço. Na minha opinião, há “revólveres de Tchékov”, citados para garantir um status, sem contribuir ao desenrolar da narrativa. Nomes e autores dos livros são desnecessários e não são usados para “auxiliar” o contar do conto. Os ditados são interessantes e sugerem um bom filão. Porém, não aproveitado. Sucesso.

  13. Leda Spenassatto
    22 de fevereiro de 2024

    Casamentos (Ingrid Frigga)

    Casamentos: a expectativa de muitas mulheres se darem bem na vida, infelizmente.

    Coitada da Amélie! Me parece que a solidão e a expectativa de dias melhores foram fatores fundamentais para a sua decisão. Buscou num novo casamento nutrir suas carências e despachar a ‘rapa do tacho’ Ingrid, você iniciou suas escritas falando que Amélie podia sustentar sua família, mas deixou claro que um marido para ela teria que somar, que só o amor não bastava.Como mulher honrada, tinha a missão de casar todos os filhos, apegada à religião buscou conselhos na igreja e com as amigas

    Como um posto de gasolina, Amélie abasteceu os filhos ficando à mercê das suas economias.

    Quando recebeu a carta de seu cunhado falando de um senhor, também viúvo que queria se casar, não vacilou, o homem tinha carro e dentes, hehehehe.

    “O caminho da perfeição é estreito” , só seis meses, verdade.

    Você fez um relato coerente da vida da Amálie, rico em detalhes que se eram ficção se tornaram reais a partir do momento que saltaram para o papel.

    O final seria perfeito se você não tivesse colocado o “Valha-me Deus”.

    Para mim só faltou um pouco mais de emoção. Mas isso é comigo, sou muito utópica.

    Seu potencial é muito bom 💪

  14. Emanuel Maurin
    22 de fevereiro de 2024

         Ingredi, beleza?

                   Resumo: Amélie é uma viúva que administra os negócios do finado e os filhos com dificuldade. E Ameélie se recusa a casar com vários pretendentes. Ela do livro dum filósofo inventado. Por fim arruma um cara que a interessa e decide casar com ele, é um barbeiro da cidade, que parece oferecer conforto e companhia. Mas, o cara vira viciado em jogo e perde tudo. Amélie fica desesperada e sem esperança, enquanto a filha caçula permanece solteira.

    Na minha opinião a trama tá bem amarrada e não tem pontas soltas, a leitura é fluida e de fácil entendimento. Gosto disto, mas achei que os personagens rasos, por ex: o barbeiro, porque e como ele se viciou no jogo e como ele se sentia em relação a Amélie. No mais é uma leitura agradável e gostei do final.  

       

  15. Antonio Stegues Batista
    22 de fevereiro de 2024

    Amélie é uma viúva, herdeira de uma marcenaria e de um estabelecimento que vende leite. Mesmo com duas empresas e a pensão do marido falecido, ela teve que poupar dinheiro para poder pagar as contas, a madeira escasseou, as vacas deram pouco leite, mesmo assim, conseguiu cumprir os compromissos e sustentar os filhos. Mas com a falência batendo em sua porta, Amélie(?) decide se casar novamente com um barbeiro, homem trabalhador e próspero. Após casarem, o barbeiro mudou de comportamento e pegou o vício do jogo de cartas. Amélie passa a ter dor de cabeça e insônia. Os problemas pioraram. Com dívidas, o marido hipotecou a barbearia para poder jogar, com a esperança de recuperar o dinheiro perdido, coisa difícil acontecer. Achei uma história interessante. A ambientação ficou meio nebulosa, o nome Amélie em princípio achei que era francesa, a herdade de Portugal e o bolo descobri que é brasileiro. Achei o conto e história simples, sem novidades, sem grandes mistérios, bem escrita. Acho que o nome da protagonista deveria ser Amélia já que a história se passa no Brasil, mas cada autor cria o nome conforme lhe agrade. Boa sorte.

  16. Fabio Baptista
    19 de fevereiro de 2024

    A viúva Amélie tem sete filhos, sendo que seis estão “encaminhados” na vida e só resta a caçula para se casar. Num primeiro momento rejeita a ideia de se casar novamente, mas conforme as vacas vão ficando magras (literalmente), resolve se casar com um barbeiro que acabou se viciando (ou revelando o vício) em jogo e indo à falência.

    Gostei mais desse conto numa segunda leitura. O(a) autor(a) tem um estilo clássico de escrita, dando um ar de romance de época às desventuras da Amélie. Eu gosto de contos com mais “mostrar” do que “contar”, que não foi muito o caso aqui. Apesar das frases soltas da Amélie (muito boas, aliás) não consegui me apegar muito a ela. A trama é simples, mas bem executada. Alguns podem considerar esse final meio abrupto, mas eu acho bacana pra dar aquele impacto que os contos pedem.

    Bom conto.

    NOTA: 8

  17. Gustavo Castro Araujo
    18 de fevereiro de 2024

    Achei o conto simpático, gostoso de ler. Posso chutar que foi escrito por alguém de origem no RS, tendo em vista as expressões utilizadas. Na verdade, muitas das imagens e situações representadas me levaram à infância em terras gaúchas, aos dias em que eu mesmo era um piá descalço jogando bola e vestindo uma camiseta desbotada do Inter de Porto Alegre.

    Essa nostalgia – que em geral desperta bons sentimentos – não deve funcionar com todo mundo, porém. O resultado, para quem não mergulhar ou reconhecer esse universo, será um conto mediano, ou como diz-se por aí, morno. Isso porque não há conflitos. O que temos é a breve história de Amelie, uma mulher viúva que herdou certas posses mas que, diante do esgotamento de seus recursos, decide casar-se novamente, para que possa continuar confortável e, especialmente, casar a filha mais nova.

    Não há, no conto, algo que nos faça torcer por Amelie, sentir pena dela, gostar dela que seja, nada que nos leve a alguma identificação com ela. Nesse cenário, o que temos é algo próximo de um relatório. Um relatório bem escrito, fluido e agradável, mas nada mais do que isso. A mim, pelo menos, um conto deve provocar alguma reação no leitor que não a complacência e o mero testemunho. Deve causar empatia acima de tudo, tristeza, alegria, raiva, enfim, deve extrair alguma emoção sob pena de passar em brancas nuvens.

    Em verdade, a história, do jeito como se encontra, mais se assemelha a um esboço, algo que pode – e merece – ser desenvolvido de modo a conectar-se com o leitor. Talento para isso a pessoa que o concebeu parece ter. É o caso, agora, de desdobrar melhor o enredo.

    Numa analogia com a tela de Seurat – muito bem escolhida, por sinal – é hora de fazer com que os pontinhos formem uma imagem mais nítida e mais ampla.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  18. Pedro Paulo
    17 de fevereiro de 2024

    RESUMO: Viúva, Amélie guarda consigo a missão de casar a filha mais nova para que possa, enfim, curtir o restante de sua vida à altura do padrão em que sempre viveu. Mas tanto não casava a menina como também não conseguia manter as contas, então cedeu à sugestão do cunhado e casou com um sujeito de idade similar e boa fama. Tudo foi bem até começar a ir mal.

    COMENTÁRIO: Das minhas três leituras obrigatórias desta primeira semana, esta foi da qual mais gostei. A escrita é ágil e cheia de personalidade. Sem se delongar a personagem vai de um ponto a outro na narrativa enquanto, simultaneamente, ficamos mais e mais familiares com a sua mentalidade por detrás dos seus objetivos. O conflito é estabelecido cedo e cada linha acresce em aprofundá-lo num cruzamento com outros problemas que vão aparecendo, como a pressão social sobre o seu estilo de vida, por exemplo. O tema é abordado de forma bem sutil, mas inteligente: a protagonista é apresentada como alguém à beira de ter tudo o que quer e conformada com se manter na posição em que está, mas, à medida que sua situação vai se tornando desconfortável e não chega perto de casar a filha como pretendia, vai reconsiderando e se permitindo um recomeço que, a princípio, parece lhe ensinar uma moral de que bons frutos podem render das sementes menos prestigiadas, como se a provocasse por sua teimosia. E, acabando assim, não seria bem ruim, talvez só fosse mesmo previsível. É no último parágrafo que a virada ocorre e o texto que sugeria esperança se reverte num desfecho amargo. E por essa surpresa acho que o texto se encerrou um nível acima do que poderia ter sido. Não é que eu goste de finais ácidos, é que admiro a impetuosidade da autoria neste texto. Muito bem, boa sorte no desafio!

  19. Sílvio Vinhal
    17 de fevereiro de 2024

    O conto “Casamentos” traz uma visão bastante pessimista e trágica em relação à solidão, ao envelhecer, e aos casamentos por “acomodação”.

    A história de Amélie e suas dificuldades para criar, sozinha, seus sete filhos, é contada com um certo enfado, um tanto arrastada, não que isso prejudique a leitura, posto que até imprime ao texto um certo clima de interior, um ritmo que se confunde com a própria vida da protagonista, que se arrasta com dificuldade sobre os dias.

    Uma protagonista forte, sem dúvidas, ainda que se considere “sem pulso”, porém, mais uma sobrevivente frente a um mundo machista e cruel, que a sujeita a repetidas agruras.

    A autora parece saber o que quer transmitir, tem o domínio da história e utiliza bem o recurso de começar a história “por acaso” e finalizá-la por “interrupção”.  Chama a atenção os parágrafos um pouco longos.

    Por não conhecer outros textos de sua autoria, não é possível entender se foi um recurso utilizado para essa história em específico, porém, caso não tenha sido intencional, talvez valha a pena, no futuro, apostar em parágrafos mais curtos, para tornar a leitura mais agradável.

    Outra dica, seria utilizar mais camadas no texto e “jogar” um pouco mais com a imaginação do leitor – de forma que a condução da leitura oferecesse uma dinâmica um pouco mais ágil e interativa.

  20. rsollberg
    14 de fevereiro de 2024

    Fala, Ingrid

    Antes de tudo gostaria de deixar claro sou apenas um leitor entusiasmado e meus comentários dizem mais sobre gosto do que qualquer outra coisa.

    É um conto muito bem escrito, com total domínio do contexto, criando imersão na atmosfera da história, com descrições pontuais e sem exageros. Esse trecho é um ótimo exemplo de concisão e oportunidade: “Era um homem da cidade, tinha modos, todos os dentes e tocava gaita de boca.”

    O tema está bem presente. A história é singela, mas bem contada. Ou seja, penso que entrega perfeitamente ao que se propõe.

    No final o conto ainda ganha certa agilidade e apresenta uma reviravolta não esperada pelo leitor. Curti

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  21. Angelo Rodrigues
    11 de fevereiro de 2024

    Casamentos

    por Ingrid Frigga

    Conto bom de ler. Tem um tom que fica entre o caipira e o antigo, sem uma determinação específica, o que não é mal, embora, sob o ponto de vista do leitor, permita uma falha de localização espaço-temporal.

    A personagem principal, Amélie, transita bem entre a resignação e o recomeço, e descobre que nem todo recomeço pode compensar.

    Desvio. Esta é a palavra que explica o conto. Amélie desviou-se do destino a que parecia fadada, a de eterna viúva, para se encontrar com o desencanto. 

    No subterrâneo do conto, algo profético nos indica que o casamento movido por interesses que não derivem do amor, não pode dar em grande coisa.

    Se a vida está ruim, arrume um marido que a tudo resolva, depois reze – como fazia Amélie – para que tudo acabe bem. Não acabou, valha-lhe Deus.

    Como disse, um conto bom de ler. Não sei se por falta de espaço – e de palavras – uma coisa ficou faltando. Por que o marido de Amélie se entregou ao jogo e suas constantes perdas? Não é dado ao leitor a oportunidade de conhecer o marido barbeiro, que pouco faz no casamento, que pouco sofre nas mãos da esposa e tal, para que caia nas mãos dos golpistas.

    O conto tem cerca de 1.130 palavras quando o texto permitiria 2.500. imagino que seria possível ao autor discorrer um pouco mais sobre a alma do barbeiro antes de o jogar no poço sem fundo do vício incontrolável. Talvez o amor pela filha de joelho valgo, os hábitos de Amélie, suas rezas, um olho torto, algum outro arrependimento e tal.

    O conto, embora bom de ler, arranha de muito leve o caráter de quem nele transita. Amélie é a única que tem tirado de sobre si o lençol dos enigmas, ainda assim, muito pouco. Os filhos, o marido e a filha de joelho ruim passam ao largo de suas personalidades. Isso, infelizmente, acaba por não explicar os desvios ocorridos no conto. O maior deles, a descoberta do marido caído em vício, está indicado apenas como decorrente do pós casamento, dado que antes ele tinha uma vida regrada. Isto é pouco para solidificar o texto, amarrar as personagens e dar tonicidade ao relato.

    Talvez uma outra história, então sob o ponto de vista do marido – ou sobre o próprio marido -, pudesse explicar por que ele tomou tal desvio. De uma vida bem-organizada para uma vida de desvarios financeiros, que o levou à bancarrota.

    Interessante o final, onde Amélie apenas se reconcilia com seu destino, e diz: Valha-me Deus. Algo como: com Deus enfrentarei mais esta atribulação, e a vida segue em frente. Ok. Mas nisso não há recomeço, dado que sua vida não se transforma em algo diferente do que era. Ela apenas, no decorrer do texto, casou-se. Sob esse ponto de vista, o conto não versa sobre recomeço, mas sobre continuação, destino, sina, maldição de cumprir um rito que lhe foi traçado de antemão por Deus, dado que lhe valha Ele para tudo enfrentar.Parabéns pelo texto e boa sorte nos resultados.

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Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .