EntreContos

Detox Literário.

Caminhar pelas Calçadas (Angelo Rodrigues)

Olívia subiu quatro andares levando nos braços um enorme embrulho, até colocá-lo sobre a mesa da sala de estar. De sua bergère, Emma lançou um olhar desinteressado ao que fazia Olívia, voltando em seguida a sua atenção ao que se passava na tevê, e sem dizer qualquer palavra.

“Emma, comprei uma batedeira nova. A nossa já está um caco de tão velha… achei que você gostaria de…”, disse Olívia.

“Não gostei…”

“Mas é uma KitchenAid, Emma! Como você pode não gostar?”

“…da cor, Olívia, da cor. Ela é azul, e você sabe muito bem que eu detesto o azul.”

Olívia não tinha lembrança de que Emma não gostasse tanto do azul, mas não menos do que não gostava do amarelo, pois insistia sempre em dizer que diante do amarelo sentia-se como se sob o sol em dias extremos. O amarelo provocava em Emma um calor que lhe subia pelas pernas, tomava seu corpo, intensificando-se rapidamente, até fritar seus miolos.

Emma tinha alternâncias quanto ao amarelo, dizendo, às vezes, que não gostava dele apenas por lhe trazer lembranças de buquês de alamandas que tanto vira na infância, que também detestava — alamandas e a sua infância —, embora nunca houvesse dado a isso um motivo, ou revelado algo a Olívia.

“Me faz um chá, Olívia…”

“Mas está um calor infernal, Emma… um Chá?”

“…não muito quente porque hoje estou num dia daqueles, você sabe… Estou que não me aguento. Voltou a bater aquela dor nos quadris, como sempre, e quase não consigo me mover… me arrasto, você sabe muito bem como fico… Quando essa dor me pega, ah… ela me abate de verdade, um horror”, disse Emma enquanto se ajeitava em sua bergère, tomando nas mãos o controle remoto para zapear pelos canais da tevê.

“Encontrei Chloe na rua, logo que saí, bem aqui pertinho, quase na esquina”, disse Olívia.

“Humm…”

“Ela mandou lembranças pra você, e nos convidou para passarmos com ela um mês inteiro, imagina!, um mês inteiro!, em sua casa de Petrópolis. Seria muito bom! Seria sim, muito bom! Esse calor está me matando…”

“Humm…”

“Um mês inteiro, Emma! Veja só! Vamos!? Talvez um pouco menos, se você quiser, claro…”

“Humm…”

“Estou com saudades de Petrópolis, e de Chloe também, é claro. Principalmente depois de vê-la pela manhã. Ela estava tão linda! Está fazendo um calor tão grande por aqui, que viajar até as montanhas me pareceu uma ótima ideia. Sem dúvida, uma ótima ideia. Um pouco de alívio desse inferno que é o Rio de Janeiro no Verão nos faria bem, não acha, Emma? Vamos! Já estou sentindo aquele friozinho noturno… lareira… fondue… não seria uma boa ideia?”

Fondue, Olívia! Fondue me engorda, Olívia. Esqueça!”

“Então esqueça o fondue… Vamos!”

“Não gosto mais de Petrópolis, e nem de Chloe; ela me dá nos nervos.”

“Ah, mas por quê? Chloe sempre foi sua queridinha… eu até tinha ciúmes…”

 “…não gosto mais de Chloe, já disse. Com o tempo ela pegou um jeito… não sei bem… um jeito assim… como dizer… um jeito que me faz não gostar dela nem um pouco. Não sei bem como… Ela me dá nos nervos, já disse. Não vou… Não vamos…”

“Mas, Emma, vamos, vai ser tão bom! Tenho certeza! Só pelas montanhas, por Petrópolis, então. Esqueça Chloe e vamos! Precisamos espairecer… nós duas… sozinhas neste apartamento… dia após dia…”

“Petrópolis passou, coisa da juventude, e não estou mais aqui pra isso, veja só meu estado, como fiquei… como estou…”

“Mas que bobagem, Emma. Continuo gostando de lá, do frio, das montanhas, e isso não passa, ou não deveria passar… esquecer essas coisas só nos envelhece, e não quero envelhecer, não por enquanto, que sou ainda jovem, bem, nem tanto, eu sei, mas sei também que idade é algo muito pessoal… não acha?”

“Humm…”

Emma voltou a zapear pelos canais da tevê.

“Ah, não compreendo… com certeza seria muito bom…”, insistiu Olívia.

“Vá ver o chá , Olívia, que já estou com gastura dessa conversa boba sobre lareira, fondue, frio, Petrópolis, Chloe…; não muito quente… vá…”

“Está bem, Emma…”

“ …e o que você acha que vou fazer com uma batedeira, Olívia, nesse estado em que estou, em que fiquei; que bobagem! Se pretendia me agradar, que me trouxesse um bolo bem grande, de preferência de chocolate, não uma batedeira, muito menos uma Kitineide. Você está sempre gastando dinheiro com o que não deve… o chá, não esqueça… porque essa dor nos quadris já está me atacando novamente… todos os dias… e você sempre não querendo ser solidária comigo… parece de propósito…”

Olívia voltou a pôr a KitchenAid dentro da caixa e a levou até o armário, trancando-a em abandono. Havia que fazer o chá, mas qual? Emma não havia dado diretrizes precisas acerca do chá que queria. Dizer apenas desejar um chá sempre seria muito pouco. Emma deveria ter sido mais específica porque, de outra maneira, o chá poderia lançá-la no centro de algum desgosto. Olívia imaginava: sem açúcar ou muito doce, de laranja ou de limão, se na xícara longa ou baixa e gorducha, com ou sem pires? Olívia não sabia a regra que deveria seguir naquele momento. Resolveu arriscar e oscilou entre os muitos chás que havia na cozinha: preto, preto com cassis, hortelã puro, Indian Chai, Prince of Wales, Russian Caravan, Lady Gray… não conseguia se decidir, e não queria voltar até Emma para obter maiores detalhes. Os problemas poderiam aumentar.

Esperou que a água esquentasse e levou até Emma um chá morno de hortelã puro, aos poucos tendendo ao frio. E o chá era um líquido. Emma nunca havia manifestado nenhum desacordo contra os líquidos. Sua cor tendia ao verde-claro, límpida, e contra o verde, de qualquer matiz, Emma nunca manifestara nenhuma forma de desconforto ou desencanto.

Após deixar o chá nas mãos de Emma, Olivia foi ao seu quarto, onde passou um creme no rosto, mecânica, rápida, exercendo movimentos circulares em torno dos olhos, da boca. Procurava apagar de sobre a pele impiedosos sinais de desordem. Balançou a cabeça com algum vigor quando desejou repelir para longe os desacertos que via em seu rosto. O que lhe pareceu inútil.

A luz que entrava pela janela a incomodava. Luzes que revelavam. Sentia que o tempo estava passando rápido demais. Ao lado de Emma sentia que seu tempo escoava por ínfimas frestas, sem o seu controle. Um tempo que não dominava, que mais cobrava do que concedia.

Tirou do armário um pequeno baú e o pôs sobre a cama. Não sabia exatamente o que procurava ali, mas sabia que nele haveria algo que precisava rever com urgência. Cartões de aniversário; registros de propriedades; cartões de crédito que já não tinham valor; passaportes antigos; um pequeno álbum de fotografias; fotos, mais fotos. Encontrou uma fotografia de Chloe que surgia novamente em suas lembranças, tão jovial, sempre tão alegre. Chloe estava novamente ao seu lado; agora numa foto. Chloe era o que procurava, e ganhava com isso a certeza do que procurava.

‘Chloe, aqui está você, tão linda, e sempre tão alegre…’

Era uma foto em que as cores desapareciam lentamente, onde apenas Chloe permanecia luminosa, com seu sorriso inesquecível. Ela era um segundo, um outro sol na paisagem.

‘Que sempre ilumina mais do que o sol. Ao lado de Chloe sempre haverá sorrisos…’

Percebeu que suas mãos ganhavam urgências e procuravam o que agora não era mais incerto. Sabia. Queria rever uma antiga foto Polaroide. Tinha certeza, onde Chloe… bem, não lembrava exatamente…

Encontrou uma foto em preto e branco, mas nela estavam Chloe e Emma. Uma ao lado da outra.

Não, esta não!

 Em seguida tomou em suas mãos uma 12×9, mas nela estavam Emma e Olívia, onde Emma parecia haver bebido além da conta, com seu sorriso bobo de bêbada, que sempre a assustara. Emma habituara-se a beber além da conta.

Continuaria procurando. Sabia que eram muitas as fotos através dos anos.

‘Sei que é uma Polaroide, tenho certeza. Sei que estou ao lado de Chloe. Apenas eu e Chloe. Bem, lembro-me que estávamos numa praia, logo pela manhã… embora não lembre com certeza o local…’

Tomou nas mãos uma longa foto panorâmica onde todos lhe pareceram estranhos. Talvez já não lembrasse de ninguém, ou não quisesse lembrar dos que ali estavam. Todos jovens, ou quase. Sabia que as pessoas se transformam com o tempo. Quem seriam?

Os cabelos, sua lenta ou repentina ausência, o jeito de sorrir… e o corpo, que tende a conspirar… sempre contra. Por que esta foto está aqui? Creio que todos nela sejam parentes de Emma. Talvez. Nunca consigo me lembrar… ou apenas não deseje lembrar…’

Outra fotografia. Novamente uma 12×9, onde Emma aparecia numa formatura sem importância.

E houve realmente algo importante nesses anos, realmente importante? Emma formou-se em quê, em tédio absoluto? Ou graduou-se em aborrecimentos intermináveis?’

Após uma nova sequência de buscas, Olívia finalmente encontrou a foto que procurava. Uma Polaroide onde havia um sol desmaiado, um mar ao fundo e ela ao lado de Chloe, já em seus braços, numa praia da qual não tinha certeza do nome.

‘Sim, uma foto feita num dia esplendoroso. Quanto tempo isso faz?’

Agora tinha consigo duas fotos onde Chloe estava ao seu lado. Apenas Olívia e Chloe. Queria mantê-las em sua carteira para sempre. Queria estar mais próxima de Chloe. E tê-las consigo fazia sentir-se próxima de Chloe mais uma vez. Duas fotografias. Embora fotos já não bastassem.

‘Foi tão bom que tenha encontrado Chloe novamente… logo hoje cedo…’

Fechou o baú, curvou-se sobre si e chorou sem perceber, mas só um pouco. Recuperou-se quando voltou a olhar as fotos que permaneciam em suas mãos.

‘Chloe sempre teve um sorriso de sol.’

Precisava novamente falar com Chloe, ouvir dela qualquer coisa, resgatar, ao seu lado, um passado que a fizesse esquecer os dias que vivera ao lado de Emma. Havia um tremor oculto em suas mãos, que se mantinham firmes apenas pela vontade de não claudicar, pela tensão dos músculos tomados pela desarmonia. Queria estar novamente com Chloe, ao seu lado, em seus braços, ainda que tudo viesse a se mostrar incerto para ambas.

Fechou os olhos e experimentou a escuridão sob as pálpebras cerradas. Buscou o esquecimento e viu novamente seus pensamentos se rebelarem em fúria.

‘Como tenho saudades de Chloe. Como a quero…’

As coisas giravam rápidas demais, em circularidades absurdas, como se cada novo pensamento fosse uma moeda jogada sobre uma mesa. Olívia podia ouvir essa moeda girar sobre sua borda infinitas vezes, um som de expectativas que não se cumpriam; podia ver que aquela moeda jamais se acomodaria sobre uma de suas faces, girando e girando como se nunca fosse parar, suspensa, sem resultado algum a lhe mostrar, pondo-a perpetuamente em sobressaltos.

‘Como eu gostaria de estar com Chloe, e longe deste lugar… definitivamente longe de Emma…’

Levantou-se de súbito quando foi tomada por um susto ao ver-se no espelho como um fantasma de si mesma, como se uma outra mulher a vigiasse na solidão silenciosa do quarto. Correu os olhos pelas paredes buscando alguém mais que pudesse espreitá-la, como se quadros, vasos e espelhos a observassem, dominando seus pensamentos, seus atos.

Deu-se conta do ridículo que a possuía e seu sangue correu veloz até suas faces, e a porejou completamente. Sentiu-se uma mulher tola, pequena, humilhada pelo que vinha passando.

Olhou-se inteira no grande espelho do quarto: era uma mulher linda, não tão jovem quanto gostaria, mas, ainda assim, uma mulher bastante jovem. Seu corpo falava a língua dos que se desejam sempre jovens, e era desejável, sempre o fora.

Súbito, lembrou-se de Guillen, do homem que a tomou em seu quarto quando estava na casa de sua irmã, Lorenza, e isso a repugnou. Sentiu novamente as mãos do cunhado atravessando seu ventre, seu púbis, até tocar seu sexo, pressionando-a a ter com ele um amor que ela não desejava.

‘Como são vulneráveis as mulheres… uma mulher merece ser tão vulnerável a um homem?’

Sentiu-se tola mais uma vez e com isso voltou a repugnar-se.

Guillen é um porco… sempre foi… um porco rico que não ama ninguém, nem mesmo a Lorenza… que também não o ama…

Girou o corpo observando suas curvas, seu perfil, os seios, o ventre, os ombros eretos, suas nádegas, e teve certeza de que era uma mulher que merecia ser desejada, embora a tristeza estampada em seu rosto a deprimisse, humilhando-a como não queria, como não merecia, fazendo com que seu rosto parecesse não pertencer ao corpo que o possuía.

Pôs as mãos em concha em torno dos seios e sentiu-os firmes, apertou-os sem volúpia, embora desejasse fazê-lo, e foi descendo as mãos abertas até encontrar as costelas lisas, seu ventre. Tocou-o com vigor e mais uma vez o sentiu firme, sem excessos. Desceu as mãos ao púbis e pressionou-o levemente. Voltou a lembrar-se de Guillen, de suas mãos tocando-a e viu acender em sua memória o cheiro que tinha o cunhado, seu hálito disfarçado, suas roupas que cheiravam a tabaco, e isso a repugnou.

Sem pressa contornou o corpo com as mãos até sentir suas nádegas; que eram as mesmas e estavam firmes, não se haviam deformado.

‘O tempo e suas inconcebíveis perfídias… até quando…?’

Refez o caminho de volta fazendo subir as mãos até ao peito, e para seu mais absoluto desespero, estava lá, ainda, a faca cravada firme entre os seios a sangrá-la, a mesma que levava sempre consigo, profunda em seu peito, fazendo-a sangrar todos os dias. Sentiu-se frágil novamente e voltou a lembrar-se das mãos de Guillen percorrendo seu corpo até tocar seu sexo, pressionando-o, querendo que ela entendesse que ali, em seu sexo, deveria haver um homem e não uma mulher como Emma, a indesejável Emma. Repugnou-se com ambos.

Voltou a lembrar-se de Chloe e do jeito afetuoso que ela sempre teve com todos, e particularmente com Olívia.

‘Como podemos ser tão frágeis…’

Pegou sua bolsa, olhou mais uma vez seu rosto no espelho, agora mais de perto, e o viu como não se queria: estava diminuída, sufocada, definitivamente humilhada, era frágil, sentia-se vulnerável.

Foi à rua, queria andar pelas calçadas. E decidiu-se por aceitar o convite de Chloe para um mês inteiro de férias em sua casa de Petrópolis.

Talvez mais que um mês… quem sabe para sempre…? Se não houver problemas com o trânsito, chego a Petrópolis em duas horas…

Sobre Fabio Baptista

27 comentários em “Caminhar pelas Calçadas (Angelo Rodrigues)

  1. Angelo Rodrigues
    8 de abril de 2024

    Um lembrete, ainda que tardio:

    Algumas pessoas, com alguma razão, não foram simpáticas aos nomes das personagens desse texto que apresentei, dado que eles têm pouca familiaridade com as coisas brasileiras. 

    Há razão e desrazão neste achar.

    Caminhar Pelas Calçadas, foi escrito a partir de um trecho de Virginia Woolf, que diz:

    “Sinto muito por esta interrupção tão abrupta. Existe algum homem presente? Vocês me garantem que atrás daquela cortina vermelha não está escondida a figura de Sir Charles Biron? Vocês me asseguram que somos todas mulheres? Então eu posso contar a vocês que as palavras que li em seguida foram estas: ‘Chloe gostava de Olívia…’ Não se espantem. Não se ruborizem. Vamos admitir, na privacidade de nossa própria sociedade, que coisas como esta acontecem. Algumas vezes mulheres gostam de mulheres. 

    ‘Chloe gostava de Olivia’, eu li. E então me dei conta da enorme mudança que estava ali. Chloe gostava de Olívia, talvez pela primeira vez na literatura.” 

    Um Teto Todo Seu (Virginia Woolf)

    Desse trecho surgem Chloe e Olívia, e também Emma.

    Segundo Virginia Woolf, esse foi o momento em que, pela primeira vez, a literatura aceitou que duas personagens – femininas – pudessem se amar. Daí a homenagem aos nomes, digamos, um tanto inusuais.

  2. Andre Brizola
    8 de março de 2024

    Olá, Dra. Alice!

    Seu conto é muito bem escrito. Muito mesmo. É um conto que consegue gerar clima, ambiência, e nos coloca realmente naquele apartamento, que imagino ser no Rio de Janeiro, em um bairro de classe média, provavelmente, mas num prédio antigo, de arquitetura clássica, com móveis antigos de madeira, quartos grandes e diversos enfeites espalhados por todos os lados.

    O enredo é centrado na relação e, principalmente no diálogo, entre Emma e Olivia, duas senhoras de comportamentos bem distintos no que diz respeito à forma como encaram a vida. Uma, amargurada, desencantada, enquanto a outra, ainda com esperanças de viver mais e mais. Não há muito a se dizer da trama, pois é bastante simples, mas a forma como é desenrolada no texto é muito elegante e precisa. Então o que perde com a simplicidade do conflito, ganha na forma, na estética.

    Contos assim tendem a gerar certo peso, pois o drama é um gênero pesado para certos leitores. Mas eu fiquei bastante satisfeito como a condução da narração deixou os diálogos em primeiro plano, forçando um ritmo bastante ágil.

    Tenho que dizer que não seria meu tipo de conto favorito, mas conseguiu me agradar bastante. E atende ao tema do desafio, embora não de uma maneira lá muito criativa. Mas entendo que era mesmo um tema difícil.

    Parabéns!

  3. Marco Aurélio Saraiva
    8 de março de 2024

    Um conto sobre trauma, e sobre a crise da meia-idade. Olívia dá uma guinada na vida, decidindo fazer o melhor por ela, e abandonar a mulher que traz a ela tanto sofrimento. Gostei de como Emma é representada. Ela ocupa o tradicional papel do “marido preguiçoso”, com a pança para cima, vendo futebol na sala e bebendo cerveja, exigindo um sanduíche. Sendo mulher ela não irá usar as mesmas palavras nem os mesmos trejeitos do homem abusivo; ao invés disso, trabalha com chantagens emocionais, críticas veladas e manipulação. O resultado é o mesmo: uma vida sofrida para Olívia, fazendo-a achar que merece mais.

    A sensação ao ler o conto foi como ler duas histórias separadas. Temos Olívia com Emma, e temos Olívia com Guillen. Ambos os casos a fazem chegar à mesma conclusão: que ela merece melhor; que ela merece Chloe. Mas os dois não se conectam. Parece que o conto pede que você (autor(a)) escolha entre uma das duas narrativas pra focar. Ainda assim, foi um texto muito bem escrito, com algumas construções excelentes, como essas:

    “…sentia que seu tempo escoava por ínfimas frestas, sem o seu controle. Um tempo que não dominava, que mais cobrava do que concedia.”
    “…e o corpo, que tende a conspirar… sempre contra”

    O que não gostei: nomes americanizados. Não sou contra histórias que se passam no exterior. Mas quando li Emma, Olívia e Chloe, achei que o conto se passava nos EUA. Até aí tudo bem. Mas então me falam de ir para Petrópolis? Não faz muito sentido. E ainda por cima, o nome do cafajeste que abusou de Olívia é Guillen. Ou ela vive em um nicho muito raro no Brasil com só pessoas que têm nomes americanizados, ou temos um problema aqui!

    Outra coisa que me incomodou é que o conto termina no meio! É um problema clássico em contos: o autor pensa em uma história mais ampla, mas o espaço só o permite contar uma parte dela. O presente conto não tem uma conclusão; ele termina na subida da curva narrativa de Olívia, com uma decisão tomada mas sem consequências, sem contar o que aconteceu. Não houve sensação de término de uma história.

  4. Jowilton Amaral da Costa
    7 de março de 2024

    Bom conto. O texto narra a história de Olívia e sua esposa Emma que vivem em um relacionamento falido. A técnica é boa. Os diálogos são muito bons, ocasionando uma boa construção de personagens e fazendo com que o leitor perceba toda a chatice de Emma e ficando com raiva dela. O enredo é simples e convence. O impacto não foi tão alto, mas eu gostei. Boa sorte nos desafios.

  5. Fernanda Caleffi Barbetta
    4 de março de 2024

    Olá, dra Alice

    Um conto gostoso de ler. A parte de Olívia no quarto, buscando as fotografias, trouxe certo suspense e me prendeu na leitura.

    Algumas sugestões:

    O conto traz três histórias que pareceram bastante desconexas, na minha opinião. Há toda a questão de Emma e Olívia, que se estende além do necessário. Olívia se coloca muito subserviente e não encontrei uma explicação para isso.  A segunda parte trata de Emma e Chloe, um amor perdido. Depois, sem muito motivo, traz a história do cunhado, mais um conflito. Talvez sejam muitos conflitos para um conto.

    Fiquei confusa no início. Ela acaba de chegar com um embrulho e Emma após lançar um olhar desinteressado já viu o que e a cor? Talvez mudar a palavra embrulho para caixa.

    “Olívia não tinha lembrança de que Emma não gostasse tanto do azul, mas não menos do que não gostava do amarelo” – alguma coisa aqui está estranha.

    “que também detestava — alamandas e a sua infância —,” estes travessões aqui confundiram a leitura. Talvez deixar o alamandas fora dos travessões. Pq parece que falta alguma coisa.

    Os diálogos são bons, mostram bem as diferenças entre as personagens. Somente em alguns momentos, soaram um pouco artificiais. Exemplos: um jeito assim… como dizer… um jeito” / “Ah, não compreendo…”

    “trouxesse um bolo bem grande, de preferência de chocolate – ela não acabou de dizer que o fondue a engorda? SE ela se preocupa com isso, essa fala é um pouco contraditória.

    “Olívia voltou a pôr a KitchenAid dentro da Caixa” – ela tinha tirado da caixa? Sugiro ‘mostrar’ este movimento.

    “Esperou que a água esquentasse e levou até Emma um chá morno de hortelã puro, aos poucos tendendo ao frio” – quanto tempo se passou aqui? Esquentou, morno, tendendo ao frio… achei estranho.

    “sinais de desordem. Balançou a cabeça com algum vigor quando desejou repelir para longe os desacertos que via em seu rosto” – desordem, desacerto?

    “Em seguida tomou em suas mãos uma 12×9, mas nela estavam Emma e Olívia” –Melhor “Emma e ela”, pois Olívia que tomou a fotografia em suas mãos.

    “ela ao lado de Chloe, já em seus braços” – ao lado ou em seus braços?

    No final, achei estranho ela sair e nçao citar Emma que tomava conta de tudo. Ela não questionou onde Olívia iria? Ela simplesmente desapareceu do conto.

  6. Priscila Pereira
    4 de março de 2024

    Olá, Dra Alice! Tudo bem?

    Seu conto fala mais sobre um fim do que sobre um recomeço, e muitos optaram por esse viés, mas o recomeço está presente no final e é isso que importa!

    O melhor no seu conto é o mergulho psicológico nas personagens, mas principalmente em Olívia. Vemos os traumas, as decepções, os anseios, as dores, o desejo de recomeçar, o desespero de olhar para trás e só ver tempo perdido. Tudo isso foi muito bem escrito!

    O conto só entrega o essencial para a compreensão, não sobrando absolutamente nada e deixando bastante coisa a cargo do leitor, o que pra mim é muito legal.

    O enredo não é empolgante, mas é um cotidiano psicológico muito bem feito! Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  7. Leda Spenassatto
    2 de março de 2024

    Caminhar pelas Calçadas (Dra. Alice)

    Dra. Alice gostei muito do seu conto.
    Você descreve a relação de Olívia e Emma com muita sutileza. A dependência de Emma que sufoca Olívia fazendo-a refém de suas amarguras e paranoias. Dando a entender, nas entrelinhas, que as duas tiveram um relacionamento amoroso, ou as três: Olívia, Emma e Chloe .
    Emma tem ciúmes de Chloe, por isso não quer ir para Petrópolis, alegando ser coisas do passado .

    “Voltou a lembrar-se de Chloe e do jeito afetuoso que ela sempre teve com todos, e particularmente com Olívia“.”

    Aqui tenho uma dúvida, não seria????

    “Voltou a lembrar-se de Chloe e do jeito afetuoso que ela sempre teve com todos, e particularmente com Emma“.

    “Súbito, lembrou-se de Guillen, do homem que a tomou em seu quarto quando estava na casa de sua irmã, Lorenza, e isso a repugnou. Sentiu novamente as mãos do cunhado atravessando seu ventre, seu púbis, até tocar seu sexo, pressionando-a a ter com ele um amor que ela não desejava. Guillen é um porco… sempre foi… um porco rico que não ama ninguém, nem mesmo a Lorenza… que também não o ama”.

    Aqui, simplesmente, você joga a bola no colo do leitor que vai decidir se o estupro que Olívia sofreu tem haver com os seus relacionamentos amorosos.

    “Foi à rua, queria andar pelas calçadas. E decidiu-se por aceitar o convite de Chloe para um mês inteiro de férias em sua casa de Petrópolis”.

    O final ficou ótimo, bem do jeitinho que eu gosto. ou seja, o leitor que pense o que quiser, hehehhehheh

    esse foi um dos contos que mais gostei até agora.

    Parabéns! ! !

  8. Givago Thimoti
    2 de março de 2024

    Caminhar pelas calçadas (Dra. Alice)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

             Primeiras impressões:

    – Coitada da Olivia 

    – Por que tantos personagens com nomes gringos no Rio de Janeiro?

    – Olívia, pelo amor de Deus, peça esse divórcio! 

             Alma:

    Bom, particularmente, o conto não conseguiu me cativar. A escrita me pareceu um tanto travada e mal direcionada não tão bem desenvolvida. Por exemplo, a parte que Olívia busca encontrar fotos com Chloe (e vá se frustrando porque vai encontrando foto da amiga com a esposa) é uma parte muito grande, muito detalhada e que poderia ter sido simplificada para mostrar um pouco mais de onde veio essa relação entre Olívia e Chloe. Eu digo isso porque Chloe é apresentada como uma amiga do casal, e de repente, Olívia sempre considerou essa amiga como um potencial par amoroso… Sabe, eu como leitor fico pensando, de onde veio isso? Sempre esteve ali, ou é um desejo vindo de uma frustração romântica de Olívia?

    Então, meu humilde conselho seria enxugar essa história, cortar esses trechos que não agregam tanto para poder construir melhor a relação entre Chloe e Olívia. Construindo melhor essa relação, tem-se uma maior chance de construir uma ligação entre o leitor e o enredo. 

    Ainda assim, acho que a autora (ou o autor [baita polêmica vazia]) tem uma sensibilidade interessante para escrita. É um conto com um bom potencial. 

  9. Felipe Lomar
    2 de março de 2024

    olá

    achei interessante e delicado. A Emma é realmente uma chata, fiquei com raiva dela. Acho que gerar esse sentimento demonstra um sucesso do autor em sua técnica. O que me incomodou foi a falta do recomeço. Parece que não incorporou de forma suficiente o tema. Tem mais um final de ciclo, mas não o início de outro. Outra coisa foi um momento em que o autor tenta dar uma pitada de sensualidade na cena, mas fica meio creepy, uma coisa meio erótica em um sentido não tão bom. Um certo “male gaze”, meio voyeurista.nao gostei.

    boa sorte!

  10. Jorge Santos
    27 de fevereiro de 2024

    Olá. O seu conto é um misto de ternura e amargura. Um triângulo amoroso entre três mulheres contado do ponto de vista de Olívia, que é companheira de Emma. Olívia foi vítima de violação por parte do cunhado e não conseguiu superar o trauma. O relacionamento com Emma está estagnado e vê um convite de Chloe como uma possibilidade de recomeço. Aqui está a ligação ao tema do desafio, uma ligação cuja subtileza está de acordo com o tom do conto, contado no feminino, com uma invejável elegância. O início, mais pausado, caracteriza bem as duas personagens. Sabemos que são pessoas de meia idade pela forma como falam, não é necessário mais. O desenvolvimento surge com naturalidade. Só a descrição da violação surge quase como desnecessária, como se o leitor precisasse de um pretexto para que Olívia se interessasse por outra(s) mulher(es). Teria omitido esta parte. O triângulo amoroso é suficiente para que o leitor mantenha o interesse.

  11. claudiaangst
    25 de fevereiro de 2024

    Oi, Dra. Alice, tudo bem?

    Sim, o seu conto aborda o tema proposto pelo desafio. A protagonista deseja um recomeço e vai atrás dele no final.

    Não encontrei lapsos de revisão, mas também não procurei muito por eles. Simplesmente se esconderam de mim. Apenas me incomodou um pouco a sucessiva repetição do nome Chloe.

    Emma definitivamente é uma chata, não sei se é velha, se é só rabugenta, mas ô criaturinha ruim de se lidar. Já Olívia se apresentou boazinha demais, com uma tendência a ser a vítima da vez, ora do cunhado, ora da companheira tóxica. E Chloe parece até gente boa, mas vai saber, né? Olívia não me parece decifrar bem as pessoas.

    O conto alongou-se um pouco além do necessário, talvez a narrativa sobre o cunhado – o abuso que eu pensei que resultaria em uma criança e imaginei que se chamaria Chloe. Não teve muito peso na trama em si.

    Houve também a descrição de muitos detalhes, nomes de chás, de batedeiras, cores, gostos e desgostos da tal de Emma. Ela era a Bovary reencarnada?

    A leitura até que flui com facilidade, mas poderia ser um pouco mais agradável se não se alongasse tanto. Um bom conto, sem dúvida, não posso negar.

    Parabéns pela participação no desafio e boa sorte para se desviar da chata da Emma. Credo em cruz!

  12. Simone
    24 de fevereiro de 2024

    Que beleza esta leitura, as prisões em que nos colocamos. O conformismo, a mesmice, até que o destino faz com que o passado se apresente e traga forças para um recomeço. O diálogo consegue compor muito bem as personalidades das personagens, até daquela que é apenas referida. No subtexto o passado dessas três mulheres, talvez um triangulo amoroso. As fotografias que contam uma história. Penso em Emma descobrindo que foi deixada para trás e na alegria das duas em Petrópolis. Ambientação muito boa, se consegue imaginar a cena, o apartamento e as vozes, os rostos. O desejo nascendo em Olivia e despertando vontades. Adorei muito essa história, o final, o enredo e as personagens. Super parabéns!!!

  13. Emanuel Maurin
    22 de fevereiro de 2024

    Ingrid, beleza?

    Olívia é uma mulher que vive num relacionamento triste e destrutivo com Emma, que é amarga e doente. Olívia reencontra Chloe, sua antiga paixão da juventude, que a convida para passar um tempo na casa dela em Petópolis. Olívia decide fugir com Chloe, deixando para tras Emma e Guillen, o cunhado que a violntou. A trama mostra a vida de Olívia buscando liberdade e amor.

                   Na minha opinião o enredo é simples, e o final subto. O autor explora violencia, solidão e infelidade. Faltou dizer mais do passado de Olivia e Chloe ( como se conheceram e se apaixonaram, e o porquê Emma ficou doente e amargurada). O final não me surpreendeu. Mas conto tem boa introdução, desenvolvimento e desfecho e é fluido do começo ao fim. Boa sorte.

    • Angelo Rodrigues
      10 de março de 2024

      Valeu, Maurin

      Beleza?

      Quem fala aqui é a Ingrid.

      Não sei como você me achou por aqui. Estava tão bem camuflada que fiquei perplexa.

      Obrigada pelos comentários.

      Ingrid

      • Gustavo Araujo
        10 de março de 2024

        Hahahaha Melhor resposta ever!

      • Emanuel Maurin
        11 de março de 2024

        Ingrid, perdão, agora acabou o encanto.

  14. Kelly Hatanaka
    22 de fevereiro de 2024

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Olívia, em crise, revisita seu passado e resolve recomeçar sua vida ao lado de um novo afeto.

    Escrita
    Excelente, correta e elegante.

    Enredo
    Olívia, desgostosa de seu relacionamento com Emma, busca por algo em seu passado que a resgate. Em meio às suas lembranças, revive dores e se decide por uma mudança.

    Impacto
    Gostei muito deste mergulho dentro das reminiscências de Olívia. Pobre Olívia, vivendo com a chata da Emma. Eu hein. Manda essa KitchenAid aqui pra mim que eu quero. Nenhuma indicação de idade é dada. Mas, no começo, na interação entre Olívia e Emma, tive a impressão de que eram duas senhoras muito idosas, por conta da rabugice de Emma. No final, tive outra impressão de idade. Qual será a correta?

  15. Vladimir Ferrari
    22 de fevereiro de 2024

    Começando pelo texto em si, particularmente, procuro evitar as repetições. Entendo que seria possível, por exemplo, transmitir ao leitor o mesmo entendimento sem repetir tanto “amarelo” nos parágrafos. As repetições de pronomes e de adereços a cena (já sabemos que Emma está na poltrona diante da TV, por exemplo), também empobrecem a narrativa, na minha opinião. As repetições não comprometem o fio narrativo, mas cansam o leitor. As descrições, melhoram a narrativa quando a contar o estado psicológico de Olívia, ao revirar o baú. Gostei bastante do parágrafo sobre a moeda, apesar de enxergar possibilidades de um texto mais enxuto. Achei estranho “suar de vergonha”, mas considero uma licença poética descritiva. Há excessos, sim, mas boas frases e boas cenas para o leitor. O recomeço da premissa, é anunciado, mas na minha opinião, a narrativa tornou-se ligeiramente cansativa por conta dos excessos. Sucesso.

    • Angelo Rodrigues
      10 de março de 2024

      Caro Vladimir,

      passando aqui para agradecer que você tenha comentado o meu conto, e reparar que a frase “suar de vergonha” deve pertencer a outro texto lido por você, imagino.

      De qualquer forma, está fazendo um calor tão desgraçado aqui no Rio de Janeiro, que até meu conto deve ter transpirado um pouco, embora não deva ter sido de vergonha.

      Abraços e novamente obrigado.

  16. Leda Spenassatto
    21 de fevereiro de 2024

    Caminhar pelas Calçadas (Dra. Alice)

    Dra. Alice gostei muito do seu conto.
    Você descreve a relação de Olívia e Emma com muita sutileza. A dependência de Emma que sufoca Olívia fazendo-a refém de suas amarguras e paranoias. Dando a entender, nas entrelinhas, que as duas tiveram um relacionamento amoroso, ou as três: Olívia, Emma e Chloe .
    Emma tem ciúmes de Chloe, por isso não quer ir para Petrópolis, alegando ser coisas do passado .

    Voltou a lembrar-se de Chloe e do jeito afetuoso que ela sempre teve com todos, e particularmente com Olívia.

    Aqui tenho uma dúvida, não seria????

    “Voltou a lembrar-se de Chloe e do jeito afetuoso que ela sempre teve com todos, e particularmente com Emma“.

    Súbito, lembrou-se de Guillen, do homem que a tomou em seu quarto quando estava na casa de sua irmã, Lorenza, e isso a repugnou. Sentiu novamente as mãos do cunhado atravessando seu ventre, seu púbis, até tocar seu sexo, pressionando-a a ter com ele um amor que ela não desejava. Guillen é um porco… sempre foi… um porco rico que não ama ninguém, nem mesmo a Lorenza… que também não o ama”.

    Aqui, simplesmente, você joga a bola no colo do leitor que vai decidir se o estupro que Olívia sofreu tem haver com os seus relacionamentos amorosos.

    Foi à rua, queria andar pelas calçadas. E decidiu-se por aceitar o convite de Chloe para um mês inteiro de férias em sua casa de Petrópolis”.

    O final ficou ótimo, bem do jeitinho que eu gosto. ou seja, o leitor que pense o que quiser, hehehhehheh

    esse foi um dos contos que mais gostei até agora.

    Parabéns! ! !

  17. Antonio Stegues Batista
    21 de fevereiro de 2024

    Então, o conto é a história de Olivia, que teve uma experiência sexual com o cunhado e descobriu que não gostava de homens. Duas mulheres entraram na sua vida, primeiro  Chloe, depois Emma. Seu relacionamento com Chloe  foi interrompido em algum momento e o motivo não foi especificado na narrativa. Depois Olivia conhece Emma no mesmo círculo de amizades e com ela passa a viver. Mas com o tempo, Olivia considera que Emma é muito chata e mandona. Ao encontrar Chloe, que faz um convite para elas passarem alguns dias na casa dela, Emma não aceita, talvez tenha ciúmes de Chloe com Olivia. Vendo as fotos antigas e comparando Chloe e Emma, Olivia decide aceitar o convite e sequer avisa  Emma, que fica sozinha com seu reumatismo, assistindo televisão. Bom enredo, uma história simples, comum, mas bem escrita. Não encontrei nenhum problema. Boa sorte.

  18. Gustavo Castro Araujo
    18 de fevereiro de 2024

    O que é o amor? Ou melhor, quando o amor acontece? Quando nos damos conta de que aconteceu? A credito que este conto lança esses questionamentos ao retratar a tentativa de Olivia em resgatar esse sentimento, de todo enterrado em seu passado.

    Pelo que é dito, Olivia e Emma entenderam-se como companheiras em certo ponto da vida e passaram a viver juntas. A relação, porém, desgastou-se com o tempo, perdeu o brilho. Emma sucumbe à velhice de corpo e espírito enquanto Olivia mergulha em reminiscências na busca por sua melhor versão, ou melhor, na busca de uma felicidade ocorrida há tempos, traduzida pela companhia de Chloe. É como se perguntasse, até ingenuamente: “eu poderia ter sido feliz com Chloe; o que estou fazendo com Emma?”

    Não sabe, porém – e isso está na parte não-escrita do conto, mas dele fazendo parte – que toda relação ruma a uma espécie de opacidade, e que provavelmente sua história com Chloe teria um destino senão igual, ao menos semelhante, sem a intensidade dos dias iniciais, em que tudo é entusiasmo. De todo modo, é perfeitamente crível imaginar a sonhadora Olivia nesse devaneio, sucumbindo à armadilha do que poderia ter sido sua vida, idealizando seu destino e, dessa forma, rompendo sua relação com Emma.

    Sim, as questões são bem interessantes e penso que, se houvesse mais espaço, o(a) autor(a) do conto poderia explorar outras nuances, como as razões que levaram Emma a desistir, ou melhor, a se acomodar, reconfortando-se em uma realidade de mau-humor e conformismo. Não há dica sobre isso no texto.

    Do mesmo modo, Chloe está por demais idealizada. Não é culpa de quem escreveu, claro, dada a limitação do desafio, mas talvez fosse mais interessante acrescentar algo sobre seu passado com Olivia, alguma coisa que confirmasse ou ao menos indicasse um sentimento profundo num passado distante.

    Estou divagando, claro. Visto como está, o conto oferece muito o que pensar, afinal, quem nunca se flagrou saudoso de uma época de simplicidade, de amores inocentes, de uma realidade cujo brilho ganha cores ainda mais intensas porque comparadas com o que vivemos na atualidade? No conto, Olivia manda tudo às favas em busca dessa reconquista. Torço por ela, mas creio que o destino será implacável mais uma vez. Talvez eu mesmo esteja ficando velho, um pouco parecido com a Emma kk

    Não vou dar muito pitaco sobre a escrito do(a) autor(a). O conto está muito bem elaborado. A leitura é fluida e agradável. Os diálogos são interessantes e naturais, o mesmo ocorrendo com as divagações de Olivia.

    Os nomes dos personagens, para falar a verdade, me chamaram a atenção. Todos ingleses, parecendo homenagear autores britânicos como Jane Austen e similares, ainda mais numa história que se passa no Rio de Janeiro. Se olharmos o enredo como um todo, essa percepção pode se confirmar.

    De todo modo, um conto muito bom, excelente para uma manhã de domingo. Parabéns e boa sorte no desafio.

  19. Pedro Paulo
    17 de fevereiro de 2024

    RESUMO: Após ter sua proposta de viagem recusada pela sua companheira ranzinza, Olívia procura algumas fotos e se contempla no espelho, refletindo sobre os efeitos do tempo e os impactos das relações e violações que sofreu na vida, esforçando-se para entender que merecia mais do que aquilo e saindo de casa para encontrar o merecido. Sai para caminhar pelas mesmas calçadas nas quais sua viagem foi só uma ideia descartada e agora se tornou decisão.

    COMENTÁRIO: Fiquei um pouco dividido quanto a este texto. É bem escrito, os diálogos são críveis e expressam muito rapidamente o tipo de relação que vive a protagonista, bem como os seus medos que ficam ainda mais palpáveis e terríveis quando o leitor fica a sós com a personagem e aprendemos sobre o seu passado e seus anseios. A maneira como ela sempre volta aos seus traumas e suas dores põe em questão se ela se libertará desse ciclo de humilhações ou se continuará presa, com uma sugestão de que ela tenha morrido figurativamente e, assim, ao fazer uma escolha totalmente própria, renasceria. Foi nisso que reconheci o tema do recomeço, mais como uma quebra do ciclo do que sua repetição, o que também é uma abordagem válida. Apesar disso, algumas poucas coisas me incomodaram, primeiro os nomes tradicionais do inglês em uma trama que se passa na capital do RJ e em certo momento as reflexões da personagem se tornam repetitivas, o que poderia ter se resolvido dando uma enxugada no texto, evitando adjetivações em alguns momentos. Fora isso, é um belo conto sobre empoderamento e reconquista!

  20. Sílvio Vinhal
    17 de fevereiro de 2024

    “Caminhar pelas calçadas” é uma metáfora bem construída para o desejo de recomeçar. Olívia sente-se presa num corpo atormentado por uma invasão sexual promovida pelo cunhado, no passado, e pela convivência difícil com a parceira mau humorada e queixosa, um tanto egoísta e insensível a ela.

    A trama é bem construída, trazendo ao leitor todo o desconforto sentido pela protagonista, que se sente presa e vive uma vida que nada lhe acrescenta, enquanto envelhece sob o calor infernal do Rio de Janeiro, até que encontra, por acaso, um antigo amor que lhe traz novos vislumbres de algum frescor, de alguma vida.

    Uma mulher em crise íntima, entre o vivido, o indesejado, os ciclos perversos que insistem em diminui-la, sufocá-la, e que opta por sair, se desvencilhar, por aceitar o convite da vida para fazer tudo diferente.

    A autora tem o domínio da escrita e conduz a história com sabedoria, ocultando e revelando coisas numa cadência que nos mantém interessados, e no final, há o coroamento dessa liberdade, sempre tão almejada por todos.

  21. Fabio Baptista
    15 de fevereiro de 2024

    O autor tem um estilo bem característico (que eu aprecio bastante, aliás) e é sempre uma satisfação ler seus contos. Tenho pouco a comentar da parte técnica, tudo entra mais na questão subjetiva do gosto pessoal, mas enfim.

    Algumas anotações que fiz durante a leitura:

    “tevê, e sem dizer qualquer palavra”

    Tiraria esse “e”.

    “que também detestava — alamandas e a sua infância”

    Muito bom!

    “Chloe sempre foi sua queridinha… eu até tinha ciúmes…”

    Numa segunda leitura temos outra percepção dessa frase, muito bom.

    “…não gosto mais de Chloe, já disse. Com o tempo ela pegou um jeito… não sei bem… um jeito assim… como dizer… (…)”

    Eu sei que essas … são para simular melhor as pausas naturais da fala, mas acabaram cansando um pouco, deixa o texto muito picotado. Eu consideraria dosagens mais homeopáticas.

    “e você sempre não querendo ser solidária comigo”

    Essa frase me soou um pouco artificial.

    “Percebeu que suas mãos ganhavam urgências”

    Muito bom.

    “Voltou a lembrar-se de Chloe e do jeito afetuoso que ela sempre teve com todos, e particularmente com Olívia.”

    Tentaria montar essa frase de outro jeito, de modo a não colocar “particularmente com Olívia” em uma lembrança que era dela.

    Os nomes das personagens também me causaram certa estranheza para um conto ambientado no Rio de Janeiro.

    Sobre a história, temos aqui um enredo bem simples (e isso é ótimo!): Olívia vive com a amargurada Emma e decide sair do relacionamento tóxico para tentar a sorte com Chloe, que somos levados a crer que sempre foi seu verdadeiro amor. Também se lembra de um episódio em que foi abusada pelo cunhado. Talvez essa parte do abuso tenha ficado a mais na história. Sim, é importante para a definição da personalidade de Olívia e até mesmo para sua decisão final, mas para um conto acabou ficando meio abrupto. Já havia elementos suficientes ali (a personalidade tóxica muito bem retratada de Emma, o antigo amor…) para fazer o conto funcionar. Acredito que o espaço seria melhor empregado com uma lembrança de Chloe que fosse além das fotos. Esse amor era recíproco? Elas moravam perto (se trombaram na esquina não foi?), era um evento muito raro se encontrarem?

    Muito bom.

    NOTA: 8,5

  22. Karina Dantas Nou Hayes
    14 de fevereiro de 2024

    Durante uma caminhada pelas calçadas foi dado o primeiro passo rumo a uma importante decisão. Conto que nos toma pelo braço e nos leva até o final sem esforço nenhum. Bem interessante a narrativa.

  23. rsollberg
    13 de fevereiro de 2024

    Caminhar pelas Calçadas

    Fala Dra. Alice

    Antes de tudo gostaria de deixar claro sou apenas um leitor entusiasmado e meus comentários dizem mais sobre gosto do que qualquer outra coisa.

    Creio que nesses desafios a parte mais ingrata é ler contos que em outra circunstância jamais leria, não pela qualidade, mas pela incompatibilidade total de genes. Bem, o autor não tem nada a ver com isso, portanto;

    Penso que o conto está bem revisado, o tema está presente e entrega o que se propõe.

    Infelizmente não consegui criar qualquer conexão, desculpe-me.  Falha minha, óbvio. Achei pueril em demasia, as lides são apresentadas de forma apressada, sem profundidade, não comove, nem empolga. Fiquei com a impressão de estar em um capítulo pouco inspirado de Downton Abbey com uma trama secundária de Sex and the City. Há uma preocupação exagerada com o ambiente/ da poltrona aos tipos de chá, e certo relapso com as tramas e personagens. Um conto que se passa no Brasil e os personagens se chamam “Chloe, Emma, Olivia, Gullen, Lorenza” não traz verossimilhança, é estranho.

    Na minha opinião, há um uso excessivo de reticencias, ao ler penso que isso retira a fluidez dos diálogos. Assim como “humm” me parece descaso na arte de construir um diálogo. Se um personagem é lacônico há como trabalhar no próprio texto e não em monólogos cortados por onomatopeias. Há também repetição de palavras em curto espaço sem qualquer ganho estilístico, tipo: “Repugnou”

    Enfim, por todos esse motivos não foi um conto que me fisgou, no entanto, por esses mesmos motivos, compreendo que muita gente irá apreciar essa narrativa. Volto a dizer, parece-me muito honesto ao que se propõe.

    De todo modo, parabéns.

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Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .