EntreContos

Detox Literário.

,carajo! (Rafael Sollberg)

E então Eva foi apagada.

O Juiz de Inquisição & Penas ergueu as sobrancelhas para o homem que comandava a transmissão e ordenou ao meirinho o início de um novo processo. Ao lado do jovem rábula, o acusado encarava o perseguidor com um sorriso zombeteiro. Mesmo desnivelado na sala de audiências, em um patamar constrangedoramente inferior, o gigante de olhos amendoados observava o horizonte. Inabalável.

― O Povo contra Júlio Florencio…

― Só Cortázar, seus cretinos.

― Se começar nesse tom comigo a gente vai ter problema ― vaticinou o magistrado.

― Meu problema é com farsas e estupidez, na ordem que preferir.

― Prefiro que o senhor permaneça quieto.

― Fácil, basta me dar papel, uma caneta e indicar alguém que saiba ler. A última parte será difícil, eu sei.

― Você não tem nenhum respeito pelas autoridades?

― Tenho, quando reconheço uma.

― Pois está diante de um Juiz! ― exclamou, sem força na voz.

― Desculpe-me, pensei que Vossa Excelência fosse um guarda de trânsito deslocado pela ausência de carros ou de fôlego nos pulmões.

― Favor diminuir o entusiasmo do réu, oficial.

Tal qual um orangotango de farda, o meirinho coçou a orelha demoradamente e depois digitou alguns códigos no diminuto computador que carregava a tiracolo. Em imediata resposta ao comando, o escritor se levantou e começou a sapatear de forma frenética. Seus pés de proporções jurássicas se mexiam com a desenvoltura de Fred Astaire e a rapidez de um desenho animado dos anos 60, porém, com surpreendente graça. Por óbvio, o assoalho não devolvia qualquer ruído, imprimindo ainda mais comicidade ao quadro. Filme mudo, ou melhor, emudecido.

O diretor da transmissão meneou negativamente a cabeça e esfregou o escalpo liso. Por sua vez, o jovem defensor designado mordeu os lábios para encarcerar uma risada, que poderia ser responsável pelo seu próprio cárcere, enquanto juiz revirava os olhos entre pesados suspiros.

Após alguns estalos e um punhado de gotas gordas de suor na testa do servidor pouco adestrado, o homenzarrão murchou e voltou a se sentar. Plácido como todos os fogos.

O Juiz de Inquisição & Penas recomeçou:

― As acusações são de subversão, corrupção de menores, incitação ao cometimento de crime, vadiagem, ameaça, calúnia, injúria e difamação, difusão de praga e disseminação de notícia falsa sobre o atual governo. O que você tem para falar em sua defesa?

― Não sei se Vossa Excelência tem ciência de todos os fatos, mas creio que é importante ressaltar que estou morto. Há pelo menos 50 anos.

― Não se faça de desentendido, a presente ação tem por objetivo julgar os efeitos deletérios de sua obra na sociedade.

― Agora sim, compreendo. Sempre soube que um dia meus livros causariam câncer de pulmão, insuficiência cardíaca, terremotos, derretimento das calotas polares e aumento da temperatura do planeta.

― Vejo que isso diverte o réu…

― Na contracapa do “O Jogo da Amarelinha”, uma tarja de maços de cigarro com uma foto de Vossa Excelência encimando uma advertência: “essa leitura pode causar confusão mental, diarreia, inchaço na próstata e …”

― Silêncio no meu tribunal!

― Seria eu, o responsável pela extinção dos rinocerontes brancos e pelo gol de mão contra a Pérfida Albión? Diga-me, todo poderoso, Judge!

― Corte o som do acusado.

O advogado inexperiente, que estava ali apenas como peça cenográfica e burocrática para o teatro televisionado, ameaçou uma interrupção, entretanto, lembrou-se do juramento infame e, principalmente, de sua interminável dívida estudantil. Era um cativo da tal liberdade, refém da fome e do seu inalienável direito de empreender. Um povo inteiro vivendo em massiva e estéril liberdade. Liberdade condicional, carajo!

― Quedam as máscaras ― Cortázar ciciou, perdendo volume em cada sílaba ― em nome da liberdade irrestrita de expressão dizima-se a identidade de quem nunca teve voz. É o famigerado “paradoxo de Glenwald”, o subproduto do choque da realidade com a fantasia juvenil.

Quietude. O silêncio que inaugura aridez.

A verdade é que jamais a pretensa ausência de um Estado se fez tão totalitária. O Poder Legislativo foi executado em praça pública, mesmo diante de tantas manifestações e milhares de notas de repúdio, tiro rápido, sem defesa. Apesar do apetite sempre voraz do Executivo, os restos do Judiciário foram absorvidos em doses homeopáticas. Cronos comedido devorando sua prole com talheres de prata e guardanapos bordados. Em alguns meses, já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco, o que era balança, o que era guilhotina

De forma repentina, uma vinheta histérica ensurdeceu todos os presentes no salão, exceto por Cortázar, é claro. O juiz pulou de sua cadeira pomposa e revelou seus belos dentes para o monitor. Colocou seus óculos de armação grossa e lentes turvas, empinou o nariz aquilino e repetiu o que estava escrito no teleprompter.

― Essa audiência é um oferecimento do legítimo aço argentino, Siderurgica Galt construindo sonhos e fortalezas; pensou em carne, pensou em Beef Texas, das pradarias gaúchas para sua marmita; Rifle bom é rifle Volk, não engasga, não empena e não perdoa.

Cortázar gargalhou. Um esgar silente de sarcasmo. Fosse possível, vomitaria coelhinhos coloridos em puro desdenho. A piada infinita era irresistível mesmo para os mortos. Do lado de fora, o choro de todas as mães recobrava seu vigor entre apitos e sirenes.

O excelentíssimo togado mandou fechar as janelas e cerrar as cortinas. O que era rosa foi pintado de cinza. O que era jardim virou lança afiada, os bancos barricada. O monte incandescente de livros lambendo o céu ainda estrelado.

Assim como tudo que é reacionário e cultua tradições justamente sepultadas, a estética confundia sobriedade com depressão, o simples com o tosco, virtude como uma rude caricatura. O Juiz de Inquisição & Penas enfiado em couro legitimo, ajustado para seu corpo rotundo e macilento, ergueu seu martelo infantil e desceu com força sobre a base de madeira.

O áudio havia sido restabelecido.

― O acusado entende a gravidade das acusações?

― Entendo a gravidade de quem me acusa, Vossa Excelência.

― Adianto que esse jogo de palavras não funcionará nesse tribunal.

― Então já sabemos que nesse tribunal não funciona justiça, respeito, lógica e jogo de palavras. Há algo que funcione além perseguição e peças publicitárias?

― Ordem, ordem… ― antes de completar a terceira investida, o homem foi acometido por uma série de tosses crescentes.

― “Não engasga, não empena, não perdoa”, malditos publicitários e seus jogos de palavras… ― repetiu Cortázar.

― Não vou tolerar que o réu transforme essa audiência em um circo. Não vou tolerar!

― Excelência, sou de um tempo em que cachorros latiam ao invés de dar conselhos.

― Já chega!

― Quem diria que logo um regime inimigo da literatura iria institucionalizar o realismo fantástico…

― Meirinho!!!

O sujeito fez novamente sua coreografia abobalhada, espancando o visor do aparelho, desta feita esmaecendo os traços e os livores do colosso de Banfield. O diretor da transmissão reclamou da translucidez do acusado, mas deu-se por satisfeito com um ajuste no contraste. Todas as câmeras foram apontadas para o Juiz de Inquisição & Penas, o preâmbulo que autorizava o grande desfecho.

Tonteado, nas cordas, o jovem defensor buscou o ombro do escritor, contudo, não encontrou nada. Um gesto que nascia comovente e fenecia patético. Sem armas secretas.

― Dispensado o conselho de sentença conforme ato institucional número 451 do ano IV da Antirrepública, sem necessidade de passar a palavra para o réu ou seu patrono, já tenho meu veredito, senhores espectadores…

― Estranho seria se tivesse dúvidas ― o escritor disse de forma entrecortada ― afinal, a certeza ladeia os idiotas. A ignorância orgulhosa conquistada em notas açucaradas e resumos de três minutos. O atraso não se percebe nocivo. Pensa ser vanguarda quando nitidamente é regresso. Distúrbio de imagem e de caráter. Bufão e mortal, encantando incautos na pior das misérias, a intelectual. Prova disso sou eu, que não sou nada, nada além de um punhado de referências misturadas, um banco de dados discursando com uma propriedade que não tenho e, ainda assim, sendo ouvido como se fosse alguém. Alguém? Desolador, digo, mesmo sem sentir.

O persecutor pigarreou ao sair de sua brumação. Atônito, órfão de sinapses, apelou para algumas gambiarras neurais. Com as orelhas rubras e quentes, prosseguiu lendo sua decisão:

― Júlio Florencio Cortázar condenado ao ostracismo eterno pela exclusão definitiva de todos os arquivos, inclusive o registro da presente audiência, incorrendo em pena capital todos aqueles que, inadvertidamente ou não, possuírem qualquer resquício de sua obra, independente de divulgação. Em cinco minutos o Pulso Patriótico irá deletar qualquer gravação ilegal e identificar os criminosos. Faremos uma pausa e em breve voltaremos com mais uma audiência. Lembrando que esses julgamentos são um oferecimento de motocicletas…

Ao longe uma bomba explodiu. Poetas.

A grande solução do regime era implementar uma segunda morte. Realizar o que era figurativo. Ao vivo e em poucas cores. Ceifar as ideias e sepultar seus restos nas alcovas digitais. O apagamento do legado. Um meteoro que pulverizaria fósseis. Mas se no princípio era o verbo, ao final seriam os substantivos. Sim, Poetas, essencialmente sobreviventes. A resistência de uma casa tomada.

Cortázar mais uma vez sorriu. A bem da verdade, sorriu a projeção habilmente arquitetada por uma inteligência artificial. Com seus olhos gentis contemplando o fim da história da qual jamais realmente fez parte. O embuste do espetáculo, que por exclusivo mérito do seu modelo axial ousou desnudar a farsa. Antes de partir, para lápide de sua matriz, cunhou: “aqui jaz tudo que não é jazz”

A imagem do autor passou a tremer e ficar opaca.  Do feixe veio e pelo feixe retornou. Nesse recomeço, no bestiário de um bicho só, não haveria nada que não fosse Adão, com todas as suas costelas. Assim pensava, assim pensavam.

Uma nova explosão. Bem mais próxima. A história ensinava, nunca havia sido fácil matar poetas.

A tinta fresca no muro preenchia as letras de outrora “nunca mais”.

Sobre Fabio Baptista

19 comentários em “,carajo! (Rafael Sollberg)

  1. mariainezsantos
    5 de março de 2024

    Perfeito! Encantada com tamanha criatividade. Na minha humilde opinião nota mil.

  2. fabiodoliveirato
    4 de março de 2024

    Buenas!

    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.

    Vamos lá!

    TÉCNICA

    O conto está bem escrito? Está! O conto dá muitas voltas pra falar pouco? Com certeza. Existe uma grande diferença entre ter um estilo com floreios, que embeleza o conto, e ter um estilo prolixo e denso.

    O conto não tem um ritmo bem estabelecido, varia demais, deixando o leitor desnorteado, perdido. Tem gente que adora isso. Claro, sempre vai ter. Mas é um estilo nichado. Do tipo que muita gente finge que gosta só pra falar que é cult, hahahaha.

    CRIATIVIDADE

    É um conto criativo? Não sei, não entendi caralios. E nem tentei entender, sendo honesto. Quando vi que o conto dava muitas voltas, tinha esse estilo mais denso e prolixo, acabei desanimando. E, honestamente, não sou obrigado a tentar entender todos os contos aqui. Pode chamar de preguiça ou qualquer outra coisa, não ligo, mas é um risco que corre colocando este tipo de conto num desafio.

    Não estou falando que é ruim. Longe disso. Só não funciona comigo.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    No grupo do WhatsApp, disse que ia dar notas que variam entre 8 e 10. Esse conto me fez repensar isso, hahahaha. Mas muita gente vai entender e elogiar, pois é obra de uma autor experiente e que sabe o que quer. Isso é admirável.

  3. Givago Thimoti
    2 de março de 2024

    , carajo (Um tal, Lucas)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

    Impressões iniciais 

    + Futuro distópico ou passado realista?

    + Aiai, no llores por mi Argentina!

    Alma

    Dos contos que li, agradeço que eu não preciso avaliar esse, atribuir uma nota. Limito-me apenas a comentar, o que já é difícil por si só. 

    Pessoalmente, não sou muito fã de contos de sátira política (embora a mistura seja maravilhosa, especialmente quando a realidade nos fornece tantas fontes de inspiração). Podemos perceber a crítica do autor/da autora à uma ditadura ali presente, a crítica ao Poder Judiciário e sua conivência que deturpa o conceito de Justiça, a crítica à publicidade e espetacularização de julgamentos… 

    Contudo, creio que o tom irônico e satírico exarcebado do escritor/ da escritora é extremamente exagerado, sendo cansativo ao final do conto. Inclusive, o grande enfoque satírico no julgamento do escritor acaba mascarando o ato revolucionário/rebelde de uma resistência com explosões poetas e, ocultando assim, a pertinência com o tema (na minha humilde opinião).

    Ainda assim, é preciso destacar que esse conto está muito bem escrito. O talento do escritor para a escolha das palavras e para o humor (que não funcionou para mim, mas com certeza agradou alguém) é palpável e digno de parabéns. Entretanto, creio que o problema do conto tenha sido o exagero nesse ponto.

  4. Jowilton Amaral da Costa
    2 de março de 2024

    Bom pra Carajo! O conto narra o julgamento do escritor Julio Cortazar, que está sendo acusado de inúmeros crimes. A história distópica, onde a mídia controla tudo, até mesmo num julgamento há propagandas escancaradas, se passa numa sociedade que é contra a literatura. A técnica é excelente, as figuras de linguagem, muito bem colocadas, permeiam todo o texto. O uso da ironia é muito bem executado, tornando o conto divertido e gerando uma crítica social contundente, principalmente se pensarmos no que viveu nosso país no governo anterior. Impacto muito bom! Boa sorte no desafio

  5. Andre Brizola
    2 de março de 2024

    Olá, Um tal Lucas!

    Muito bem idealizado o conto sobre o julgamento póstumo de Julio Cortázar, em uma Argentina tomada por um regime totalitário em que já não cabe mais qualquer indício de oposição, incluindo as dos defuntos. Até o momento é o enredo mais interessante e mais criativo do certame.

    O texto é muito acima da média. Nota-se esmero na construção de cada frase e cada cena envolvendo a inteligência artificial. Aliás, devo dizer que esse recurso de envolver a IA para reconstruir o autor em seu próprio julgamento foi realmente muito legal, pois o contraste entre a tecnologia, e a mentalidade retrógrada que a utiliza, é a grande sacada do conto.

    A forma como o conto é permeado de citações e referências, que dá cor ao texto, como a referência ao gol de Maradona, a Edgar Allan Poe, e ao essencial conteúdo reacionário e atemporal de O Jogo da Amarelinha, acrescenta uma complexidade à leitura que exige mais do leitor, e o coloca numa situação em que há a escolha de absorver o conto de uma forma plana, ou recorrer à pesquisa, para conseguir aproveitar tudo o que é oferecido. E essa não é uma crítica negativa. E, normalmente, não sou muito fã dessa linha Alan Moore de desenvolver personagens, ou seja, ficcionalizar personalidades reais. Mas tenho que reconhecer que o Julio Cortázar digital ficou extremamente carismático.

    É isso. Achei o conto excepcional. E, se tenho um senão, é o do tema recomeço ter aparecido somente no final, quando temos a menção aos poetas e sua dificuldade em exterminá-los. Não fosse isso, seria perfeito.

    Parabéns!

  6. Fernanda Caleffi Barbetta
    1 de março de 2024

    Caralho! Adorei este texto.

    Excelente conto, inteligente, um deleite aos fãs de Cortázar.

    Passa a sua “lição” sem parecer professora no quadro negro ou militante na passeata. E tem um humor inteligente, que é a graça (sem o perdão do trocadilho) do conto.

    Para não dizer que está perfeito, algumas coisas que passaram na revisão:

    Na contracapa do (de) “O Jogo da Amarelinha”

    estética confundia – confundida

    legitimo – legítimo

    Há algo que funcione além perseguição e peças publicitárias? – faltou alguma coisa

  7. Simone
    23 de fevereiro de 2024

    Achei o primeiro parágrafo um pouco confuso, penso que pelo excesso de adjetivos. O diálogo, por outro lado, está muito bem construído, excelente. Nota-se na narração que o autor ou autora gosta muito de adjetivos, e isso polui o texto e reduz sua clareza. Mas o objetivo, creio eu, era de conseguir esse efeito fantástico. As referências literárias são interessantes e a ideia original, mas a falta de clareza realmente não estimulou a leitura. Quanto ao tema recomeço, não achei a relação. Não percebi erros gramaticais e encontrei palavras incomuns, acho que o autor ou autora escolheu cuidadosamente palavras que elevam a confusão, a estranheza que o texto quer trazer. Sei que muitos gostam desse estilo, eu já prefiro a clareza da história superficial, mesmo que eu não consiga compreender o subtexto. As imagens exóticas criadas nesse texto são realmente fantásticas e fazem o leitor ter a impressão que está assistindo a uma animação, tipo sátira. É preciso talento para criar algo tão original. Parabéns. Eu gostaria de ler novamente esse conto após o corte dos adjetivos, creio que ficaria mais fluido e não se perderia o efeito do enredo.

  8. Felipe Lomar
    23 de fevereiro de 2024

    olá

    o seu texto tem uma ironia muito legal. É divertido e trata de temas bem atuais, considerando o que vem acontecendo na Argentina. Interessante usar a imagem de um autor perseguido na ditadura em um contexto futurista distopico para criar essa crítica. O que eu não gostei foi a escrita que as vezes parece meio truncada e confusa. Poderia ser mais clara. Ou talvez eu que não tenha entendido as referências por não conhecer a obra do Júlio Cortazar

    boa sorte!

  9. Priscila Pereira
    22 de fevereiro de 2024

    Olá, Lucas! Tudo bem?
    Então… O que falar do seu texto? Não faço ideia, pois não entendi bulhufas…
    Me parece que estão sentenciando a uma segunda morte (a do banimento) os poetas, pensadores e filósofos. Mas tudo é tão surreal e nonsense que me perdi várias vezes, tentei voltar, pegar o fio da meada, mas meu intelecto é por demais distraído para extrair a completa compreensão da obra. Um bom exemplo de como um texto ideológico deve ser. Os que entenderem, entenderão e acharão genial, e os que não entenderem não sentirão nenhum maior desgosto pela obra. No meu caso, prefiro não comentar. Mesmo já estando comentando.
    Boa sorte no desafio!
    Até mais!

  10. Kelly Hatanaka
    22 de fevereiro de 2024

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Não consegui compreender a relação deste conto com o tema “recomeço”. Ele pareceu falar, especialmente, de um final definitivo. Ou da dificuldade em se cancelar definitivamente uma ideia, em seu final.

    Escrita
    Escrita correta e muito bonita. O autor possui bagagem cultural e um vocabulário rico.

    Enredo
    Cortázar é julgado postumamente pela sua obra em um tribunal virtual/reality show.

    Impacto
    É uma interessante crítica da cultura do cancelamento, do politicamente correto, da cultura de mercado, da estupidez coletiva. A rebelião parte dos poetas.

  11. Jorge Santos
    20 de fevereiro de 2024

    Comecemos pelo final, para manter o tom subversivo do seu conto: vou-lhe dar nota 10. Dito isto, vamos às justificações. Para começar, o próprio título é uma provocação. O erro de pontuação propositado prenuncia a qualidade do texto, que é fluído e motivador. A ideia base é surpreendentemente criativa: o espírito do autor é julgado por inspirar outros a pensar e a transgredir. Os diálogos são ácidos e envolventes. A caracterização é feita através das falas, como se de uma peça de teatro se tratasse. A dinâmica prende o leitor. Da minha parte reconheço a humilhante vergonha de não conhecer o autor. Já aconteceu no passado e isso sempre me deu motivação para pesquisar. O que encontro são tesouros literários de grande qualidade. Cortázar, a ver pela amostra do texto, parece ser igualmente interessante. Por isso, o seu “carajo” está de parabéns, carajo…

  12. Vladimir Ferrari
    20 de fevereiro de 2024

    Uma crônica interessante sobre Cortázar e sua obra e que, infelizmente e por mais bela que seja a composição do texto e o arremate da narrativa, na minha opinião, deixou a desejar no cumprimento da premissa do desafio. O recomeço aparece como um adereço, uma palavra quase no final. Um texto que aponta para o descaso com a obra do grande escritor, pelo que entendi. A grande batalha de todos os escritores em reativar o prazer da leitura na plateia cada vez mais imbecil. Há um ou dois “o” faltando na revisão final e o rebuscamento da linguagem talvez não cumpra a função de entreter, a não ser a poucos admiradores da obra do escritor. Sucesso

  13. Marco Aurélio Saraiva
    18 de fevereiro de 2024

    A escrita deste conto é magistral, as palavras são usadas com muita inteligência, e a apresentação que resulta é incrível. O escritor está claramente muito confortável com o que faz, e o faz muito bem. Destaque para a sentença abaixo, que me fez abrir um sorriso de tão boa de ler:
    “A verdade é que jamais a pretensa ausência de um Estado se fez tão totalitária. O Poder Legislativo foi executado em praça pública, mesmo diante de tantas manifestações e milhares de notas de repúdio, tiro rápido, sem defesa”

    O texto é claramente um produto da atualidade e é relevante no contexto político dos dias de hoje, mas é escrito de uma forma que possa ser lido em qualquer época e aplicado em outros momentos, puxando inspiração de 1984 e A Revolta dos Bichos, falando de uma “Antirrepublica” e com a imagem de uma justiça morimbunda na figura de um juíz corrupto e fisicamente doente.

    No geral, é um conto bem interessante, e que te faz pensar!

    O que não gostei: eu particularmente não curto textos assim tão carregados de mensagem política, então a leitura foi um pouco monótona para mim (apesar dos takes humorísticos incríveis!), mas isso é opinião pessoal. Porém, comentários no Entre Contos são sempre comentários pessoais, e ao meu ver o gosto do leitor ainda carrega um pouco de peso na nota. Em outras palavras: se achei chato ler, por mais que seja apenas por gosto pessoal, eu tenho que levar isso em conta na nota.
    Outra coisa que não me agradou muito foi a escrita extremamente rebuscada mesmo quando o momento não pedia por isso. Entendo que o escritor goste de usar a cratividade nas palavras, mas as vezes o uso extremo deste tipo de artefato só polui a leitura ao meu ver. Coisa do tipo: “Cronos comedido devorando sua prole com talheres de prata e guardanapos bordados.

  14. Leda Spenassatto
    16 de fevereiro de 2024

    ,CARAJO!

    já gostei do nome do conto, do cortázar então, amo ele, me apaixonei quando li o conto “a casa tomada”, até escrevi um conto sobre o conto dele.

    Cortázar, inquisição, (ditadura) tribunal com desnível de Pacari, também chamado de Dedaleiro hoje há uma barreira entre juíz (que acredita ser Deus e os julgados )

    muito hilário, o parágrafo, quando o juiz manda cortázar calar a boca e ele pede papel, caneta e que indique alguém que saiba ler. e diz que a última parte será difícil, ele sabe ..

    gostei muito do conto seu tal lucas, super criativo , uma viagem no tempo passado, o julgamento de um morto há mais de 50 anos.

    um escritor descrevendo o julgamento de uma lenda

    muito obrigada pela leitura

    aposto em você, , ,

    abraços! ! !

  15. Emanuel Maurin
    16 de fevereiro de 2024

    Um tal Lucas, beleza?

    Resumo: Num futuro distópico, Cortázar é julgado por um juiz autoritário por conta da sua obra subversiva. A projeção dele, criada por inteligencia artificial, desafia o sistema com ironia e humor. Poetas rebeldes soltam bombas em protesto. A literatura resiste a extinção.

    Pelo que entendi, a trama é inspirada na obra de Cortázar. O conto é fluido e interessante, engraçado e criativo. Tbm gostei dos diálogos, mas na minha opinião vc não explicou qual ano o conto se passou, o lugar, como era o regime político e quais tecnologias eram disponíveis. E como o escritor foi capturado por causa da obra perigosa. O começo, meio e o final do conto estão no mesmo ritmo, achei o final interessante, mas nada que me arrancasse suspiros.

  16. claudiaangst
    16 de fevereiro de 2024

    Oi, Um tal de Lucas, tudo bem?
    Sim, o seu conto aborda o tema proposto pelo desafio. Embora o recomeçar só se apresente no final, lá está. O recomeçar da humanidade, talvez? Onde só seria permitida a presença da besta do Adão, digo, de Adão e suas costelas, ou seja, Eva daria o ar da graça em algum momento. Ah, não, agora percebi que Eva já tinha sido apagada logo na primeira frase do conto. Misoginia?
    O conto nos traz o tom do realismo mágico ou fantástico, característica da obra do argentino, com cidadania também francesa, Julio Cortázar. O seu trabalho de tradução da obra completa do escritor Edgar Allan Poe foi considerado pela crítica o melhor do gênero. Acredito que o autor deste conto, ou seja, um tal de Lucas, você, fez menção a esse fato no desfecho do texto: “nunca mais”.
    Um tal de Lucas, você não é um tal qualquer, mas sim um sujeito (ou seria uma sujeita?) que apresenta repertório cultural considerável e faz bom uso dele. Invejável domínio das palavras e construções imagéticas.
    As bombas explodindo poderiam ser um novo Big Bang? Gostei da resistência dos Poetas, tão teimosa esse povo! Como Cortázar já havia falecido, então o que restou foi apagar a sua obra, deletando o seu legado. Triste isso. Distopia irônica é um conceito possível?
    Não encontrei (verdade seja dita: nem procurei) falhas de revisão. Li e reli por gosto mesmo. Como disse, o tema exigido foi abordado, mas cá entre nós, não foi a estrela do conto. Um recomeço entre(linhas), e diria mais, sob linhas. No entanto, considerarei sim, dever cumprido.
    Sem palavras para comentar tal conto de um tal de Lucas. Talvez porque ele já tenha empregado todas as que eu escolheria.
    Parabéns pela participação no desafio e boa sorte na fuga do tribunal de Inquisição & Penas. Corra!

  17. Antonio Stegues Batista
    14 de fevereiro de 2024

    Olá, Um Tal de Lucas! Teu conto me pareceu uma fantasia burlesca, destacando-se uma arte literária marcante, sobre um fictício julgamento em 2034, de Júlio Florêncio Cortázar. escritor argentino que, depois de morto tem seus livros proibidos, comparece ao julgamento, o seu fantasma, já que ele morreu em 1984. Me pareceu uma sátira ironizando o judiciário num regime político ditatorial, inimigo da cultura, dança e literatura, da liberdade de expressão, mas um sistema apoiado no capitalismo, de captação de lucros, como se vê no comportamento do magistrado, que faz merchandise, propaganda de produtos de suas próprias empresas, mostrando-se corrupto e corruptor. A criação de metáforas, jogos de palavras, citações de pessoas reais e mitológicas, é muito boa, boa a escrita, tem lógica e faz conexões interessantes.
    No fim, vemos que o julgamento é feito por uma IA, transmitida pela televisão. E ali, no fim, a ficção dentro da ficção, tem início uma rebelião contra o regime.
    “Uma nova explosão. Bem mais próxima. A história ensinava, nunca havia sido fácil matar poetas. A tinta fresca no muro preenchia as letras de outrora “nunca mais”.
    A tentativa de um novo recomeço com uma frase de Alan Poe, que pode ter um sentido figurado, como o enredo, onde nada é o que parece, começando pelo título, um palavrão que tem o significado de descontentamento, decepção, talvez porque nada é eterno.

  18. Gustavo Castro Araujo
    13 de fevereiro de 2024

    Numa realidade distópica – ou talvez nem tanto – a inteligência artificial emula o escritor argentino Julio Cortázar para que seja julgado perante um tribunal de costumes. Se estamos na Argentina de Milei, o conto ganha ares de realismo – não fantástico, mas trágico. Pelo que se vê, no entanto, é que a IA conseguiu fazer um bom trabalho. O Cortázar trazido à vida – além de ser um exímio dançarino de Malambo (por favor, leia o fantástico livro da Leila Guerriero, “Uma História Simples”) tem a língua ferina, dá respostas atravessadas, abusa da ironia e desmonta qualquer argumento do pobre magistrado ele mesmo um produto desta era de extremos, preocupadíssimo com sua própria imagem – seria seu nome “Sergio Muero”?

    No fim, o sistema mostra-se bruto, o verbo se foi há tempos. Eva também e logo Adão terá esse destino. Ou não. Talvez essa nova sociedade (ou não tão nova assim) consiga refundar-se nos pilares de deus, pátria e família. Fico imaginando o que o verdadeiro Cortázar diria diante dessa tentativa de regresso ao que qualquer sociedade tem de pior… Enfim, divago. Gostei muito da leitura porque não é tão comum encontrarmos textos como este: rápido, na jugular, com diálogos típicos de um roteiro bem montado.

    Dado o forte componente político e ideológico do texto, creio que despertará paixões diversas – ao menos daqueles que conseguirem compreender as críticas que se despontam em todo lugar. Haverá quem enxergue genialidade na concepção, haverá quem veja sarcasmo desmedido e um conto panfletário. Pessoalmente, me coloco na primeira opção kk até mesmo pela coragem da pessoa que concebeu algo tão original.

    O ponto não-tão-favorável-assim do texto é adesão ao tema do desafio. Creio que o “recomeço” ficou em segundo plano. Vou repetir que gostei muito do produto final, mas nesse quesito algo ficou de fora (essa frase ficou estranha). Não há recomeço, na verdade, mas uma descida nessa ladeira que conduz à danação, onde reinam os salvadores da pátria vestindo verde-e-amar… ops, a camisa albi-celeste.

     Parabéns e boa sorte no desafio.

  19. André Lima
    10 de fevereiro de 2024

    Bom, vamos lá. Desafio iniciado já com um tema acerca do meu movimento literário favorito: o realismo fantástico. E viva Gabriel García Márquez!

    Tenho algumas observações a respeito: o conto é brilhantemente escrito. Gostei do domínio das palavras e da formulação de “imagens” pelo autor. Aliás, essa tal formulação de “imagens” é algo que, atualmente, mais valorizo na literatura. Mas vejo um “inconveniente” que, obviamente, não compromete o conto: as imagens formadas tem um pé no surrealismo mais do que no realismo fantástico, na minha opinião.

    O conto é uma perspicaz “crítica social”, apresentada de forma brilhantemente satírica e engraçadas, flertando, como eu disse anteriormente, com o “surrealismo”. O “tribunal distópico” aqui retratado transcende a mera sátira política para explorar temas mais amplos, como a supressão da liberdade de expressão, a manipulação da verdade e o poder da arte como resistência. Ok, a ideia é boa, tem uma excelente premissa e um ponto de virada que ocorre bem antes da metade do texto. Mas essa ideia foi bem executada?

    Ao meu ver, sim. Explico: a atmosfera é perfeitamente designada com os diálogos rebuscados, satíricos e, por vezes “super-elaborados”. Há um problema, para mim, no ritmo da leitura, principalmente no primeiro terço do conto (Ele se arrasta um pouco até a premissa do conto se desenrolar e o leitor saber do que o texto realmente se trata), mas que é “supercompensada” pelo bom plot.

    Em resumo: é um bom conto, bem elaborado, com uma premissa ótima e, principalmente, com ótimas formações de imagens. Embora, é verdade, esse tipo de crítica não seja das minhas preferências pessoais.

    Boa sorte no desafio e parabéns pelo trabalho!

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Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .