EntreContos

Detox Literário.

A Ordem dos Tratores (Fabio Baptista)

Certa vez meu pai me disse: “a gente tem que aproveitar a vida, antes que o de repente apareça.” Estávamos sentados aos pés de uma árvore baixa, arrancando gomos de mexerica com os dedões e contemplando o sol se esconder atrás de montanhas distantes, numa paisagem que é bem mais bonita nas descrições do que na realidade. Diante da minha cara de interrogação sobre o que seria aquela entidade “Derrepenti” ávida para despedaçar nossos sonhos, ele completou:

— Sabe aquele negócio de “tudo estava bem, até que de repente…”? Então, a gente tem que aproveitar a parte do “tudo estava bem”, porque, mais cedo ou mais tarde, o de repente chega.

Ele abriu um sorriso satisfeito, como se acabasse de revelar a resolução final da equação mais complexa da existência. Retorceu a cara por causa de um gomo azedo e voltou a sorrir, a mão melada de mexerica dando tapas no meu ombro. Eu deveria ter sorrido de volta. Deveria ter demonstrado algum apreço por aquela lição de vida, por mais simplória que fosse. Mas só abaixei a cabeça, pensando: “é, tipo quando a gente finalmente começa a namorar e, de repente, seu pai resolve vir brincar de fazendeiro aqui no cu do mundo.” Sim, aquela tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

A lição banal foi tragicamente reforçada pelo exemplo. Alguns meses depois, o “Derrepenti” chegou para ele, personificado num caminhoneiro com prazo de menos e rebite demais. Minha mãe estava junto e, depois de agonizar algumas horas, compartilhou o mesmo destino. Talvez em uma UTI da cidade grande ela tivesse chance de sobreviver. Talvez, nessa realidade hipotética, minha mãe, viúva cheia de dores e sequelas, tivesse desejado o sono eterno todos os dias desde então. Ou talvez se sentisse afortunada pelo sopro de vida insistir em permanecer em seu corpo e agradecesse a Deus pela dádiva, por anos e anos e anos. Isso eu nunca vou saber. Impossível prever com exatidão pensamentos e sentimentos alheios na vida, quanto menos na morte. Só sei que estava tudo bem e, de repente, fiquei órfão, único herdeiro de terras indesejadas, isolado física e emocionalmente, sem muitas alternativas além de viver um dia depois do outro realizando um sonho que não era meu.

Porém, logo eu perceberia, minha nova realidade não era tão ruim assim. Descobri que possuía o dom da agricultura e, tenho quase certeza, me tornei um fazendeiro muito melhor do que meu pai jamais haveria de ser. Muito melhor do que eu mesmo jamais seria se, como náufrago que aprende a nadar ao cair no mar revolto, não fosse obrigado a ser. Os dias passavam, a chuva molhava e o sol secava, a terra e o tempo se encarregavam de dispersar anseios e saudades, tudo era tão maravilhosamente monótono e previsível. Nos fins de tarde, da varanda eu observava as alcachofras. Elas florescendo e eu travando diálogos imaginários com minhas leituras, ambos sem nenhuma pressa. A felicidade romantizada nos contos de fada era efêmera, o estado de espírito que mais deveríamos buscar e cobiçar, cada vez mais eu me convencia disso, era a paz. Acordar sabendo exatamente o que se precisa fazer para chegar bem ao final do dia, ter a satisfação de colher seu sustento com as próprias mãos, não depender de ninguém e não ter o fardo de ninguém dependendo de você, um pequeno Nirvana de dois alqueires e meio. “Sim!”, eu respondia ao filósofo que questionava se vivíamos hoje uma vida que gostaríamos de viver eternamente. “Nessa você se enganou”, eu zombava ao ler que o homem preferiria desejar o nada a nada desejar. E assim foi por muitos anos.

Tudo estava bem.

***

Àquela altura, eu já vivia no “cu do mundo” mais do que vivera em qualquer outro lugar. Ainda assim, tinha uma sensação de não pertencimento, resquícios da empáfia tola da cidade enraizada na juventude quando eu, na certeza de que a fazenda seria apenas uma estadia temporária, não queria me misturar, desenvolver laços de amizade com os “caipiras”, tampouco adquirir hábitos e sotaques. Dessa forma, só visitava o vilarejo quando precisava comprar alguma coisa no comércio local. Coincidentemente, sempre precisava comprar alguma coisa quando as palavras de filósofos e poetas mortos não ofereciam companhia adequada para me roubar a solidão. Nessas ocasiões, minha excursão ao mundo fora da caverna invariavelmente terminava no bar do Amauri. Sujeito de poucos dentes e modos, sem a menor noção de como tratar os clientes, dono de um vocabulário de fazer corar cafetinas tarimbadas, trapaceiro inveterado no carteado, péssimo parceiro no dominó.

Eu gostava dele.

— A ordem dos fatores não altera o produto – discutíamos sobre a vida e, entre uma talagada e outra de Dreher aguado, joguei essa frase ao vento, muito mais para ver a reação do que para defender qualquer tese.

— Começa que é: “a ordem dos trator não altera o viaduto”, seu Zé Roela. E nesse assunto aqui que a gente tá falando, a ordem importa sim.

— A gente nasce, cresce e morre. No meio disso, não tem bem que sempre dure, nem mal que não se acabe. Quando eu estiver, digamos, preso nas ferragens depois de um caminhão passar por cima do meu carro – nessa parte eu fui pego desprevenido pelas minhas próprias palavras e tive que molhar a garganta e secar os olhos discretamente –, pouco vai importar quantas pingas eu tomei, quantas discípulas aqui da madame Nina eu visitei, quantas vezes eu chorei ou dei risada, nem quantas vezes, nem quando, nem em qual ordem. No final não muda nada, a soma dá sempre zero.

— Puta que pariu, mimadinho da cidade, falando desse jeito, indo lá pro final da história, daí até pode ser que você tenha alguma razão. Mas, escuta o que eu tô te falando, durante a vida faz diferença, sim. É que nem no futebol – Amauri sempre encontrava uma situação do jogo que servia como metáfora para a vida –, de virada é mais gostoso. Quando você tá lá embaixo e dá a volta por cima a satisfação é maior, do mesmo jeito que quando você tá por cima da carne seca e do nada toma uma rasteira e se fode de verde e amarelo, o desgosto é muito maior. Se dúvida disso, dia de domingo você para de empinar pipa no ventilador e vem aqui torcer pro Botafogo comigo.

— Bom, fiquei até sem palavras. Você é muito inteligente, Amauri… atrás de você eu fico igual um jumento.

— Ah, seu paiaço, vai pra casa plantar suas florzin… – percebi o semblante dele mudando, feito guapeca sarnento fingindo ser pastor alemão. – Boa noite, em que posso ajudar? – ele falou para alguém às minhas costas. Mantivesse sempre aquele tom de voz e as três estrelas Michelin seriam questão de tempo.

— Tem Coca zero?

Um vislumbre de soslaio e eu simplesmente soube que estava passando por um daqueles eventos canônicos depois dos quais nunca mais seremos os mesmos. “O pneu da minha moto furou. Vocês conhecem algum hotel por aqui?”, disseram seus lábios. Mas, seus olhos, que agora encaravam-me como se testassem até que ponto eu suportaria contemplar tanta beleza, disseram: “sim, de um jeito ou de outro, sua paz acabou.”

— Olha, minha chácara fica perto daqui e tem uns quartos vazios. Você pode passar a noite lá se quiser, a gente leva a moto na caminhonete – eu sei que não devia ter dito isso, mas aquela lua, mas aquele conhaque…

— Putz, não vou incomodar?

— De jeito nenhum.

Ela foi pegar a moto que havia estacionado do outro lado da rua. Enquanto eu acertava a conta, Amauri não perdeu a oportunidade:

— Semana que vem, minha tia Zéfinha vem me visitar. Ela vai ficar feliz de saber que tem pensão nova na cidade, com estadia na faixa e tudo mais.

Dei uma risada acanhada e segui para a caminhonete.

***

— Aquele lance da ordem dos tratores, acho que vocês dois tinham um pouco de razão… e ao mesmo tempo também estavam totalmente errados – ela disse, depois de alguns minutos de silêncio constrangedor no caminho.

— Você escutou nossa patacoada?

— No tom de voz que vocês estavam conversando, não tive muita opção.

— Olha, aquele negócio de madame Nina, foi só exemplo…

— Ah, larga mão de ser besta! – Ela gargalhou e me deu um soco no braço. – Então, mas é sério, eu curto esses papos que surgem nos botecos da vida. Ficaria ali por horas debatendo com vocês sem chegar à conclusão nenhuma no final da noite. A vida não é uma ciência exata.

Um bacharelado condensado em uma frase.

Seguimos em silêncio, o constrangimento dando lugar à cumplicidade. De súbito, fiquei com medo de que as borboletas estivessem voando só no meu estômago, mas logo Gabriela provaria que não. Mostrei a ela o quarto onde poderia passar aquela noite e quantas mais precisasse, gaguejei um “vou deixar a senhora à vontade, até amanhã” e tentei escapar o mais depressa, mas ela me pegou pela mão. Não sei se dois opostos se atraem, mas dois vazios certamente podem se preencher.

Desnecessário dizer que passamos aquela noite juntos. E a noite seguinte e muitas outras depois. Acostumei-me à presença, passei a depender dela, como o soldado na maca de campanha acostuma-se, depende e anseia pela enfermeira que lhe traz a doce morfina sem a qual não pode mais suportar as dores da guerra. Eu a amava, desde o primeiro vislumbre e de um jeito ou de outro continuaria a amá-la por toda minha vida.

— Como é mesmo o nome disso que você planta? – Gabriela perguntou, segurando uma pétala roxa.

— Alcachofra.

— É ruim.

— Eu também não gosto.

— Então por que planta?

— Porque tem gente que gosta… e me paga bem por isso. Daí eu posso vender e comprar coisas que eu gosto.

— O capitalismo não faz sentido. E rico é bicho besta, hein? Deus me livre pagar por isso.

Tenho convicção de que, ali, naquele recorte de tempo, o amor era recíproco. Mas Gabriela era espírito livre, mais cedo ou mais tarde ficaria farta do campo, das mesmas flores e folhas, das mesmas montanhas e pedras que, molhadas pela chuva, choravam sozinhas no mesmo lugar. Num dia, Gabriela não existia. No dia seguinte, era o centro de todo o universo infinito. Eu fui feliz como jamais imaginei que poderia ser, mas também estava angustiado pelo medo de perder algo que nunca foi e nunca seria meu.

E meus receios não tardaram a se concretizar.

Gabriela foi embora em uma manhã de outubro. Tomou café, beijou minha boca como quem pede desculpas, disse que me amava e que passara seus melhores dias ali comigo, mas que começava a se sentir sufocada e não queria deixar que o tempo me transformasse em mais um vilão na sua história. Meu primeiro ímpeto foi o de me ajoelhar, implorar para que ela ficasse, prometer vender tudo e ir morar em um lugar mais agitado, onde houvesse mais armas para combater o tédio da rotina. Mas eu disse apenas “você que sabe” e dei as costas, recolhendo xícaras e talheres.

***

Se pudesse escolher, em qual posição colocaria o trator Gabriela no viaduto da minha vida? Se depois que a moto sumiu de vista continuasse meus afazeres como se nada tivesse acontecido, se meu coração voltasse a ficar em paz, como o corpo cansado se renova em uma boa noite de sono, a resposta seria “tanto faz”. Mas não era assim. Numa conclusão inicial, motivada menos por razão do que por revolta, pensei que o melhor mesmo seria nunca a ter conhecido. Depois, ponderei que seria melhor deixar esse evento de felicidade extrema como o derradeiro, quando não houvesse mais tempo para surpresas, uma despedida em grande estilo, a virada épica nos acréscimos do segundo tempo e então o apito final. Provavelmente seria menos intenso, mas ao menos eu não sofreria. Desafortunadamente, nem todas as divagações do mundo são capazes de amainar as dores da alma.

Minha dívida no bar do Amauri aumentou mais do que preço de soja em ano de estiagem. As alcachofras perderam a cor e eu, o apetite. As pupilas da madame Nina me geraram repulsa, o arado afigurava-se como uma penitência interminável, o galo tornara-se um carcereiro implacável anunciando que outra noite insone dava lugar a um novo dia de agonia. “O tempo vai curar”, disse o Amauri. “Não há mal que sempre dure”, eu tentava me convencer. Passaram-se dias e semanas. Passaram-se meses e alguns anos. E o tempo não curou. No máximo controlou os sintomas, deixando-me sedado para tudo.

Até que, numa manhã despretensiosa, escutei barulho de moto.

***

“Não estou disposto a nenhum recomeço, vá embora e não volte nunca mais”, foi o que passei seis anos planejando dizer caso Gabriela ousasse bater à minha porta. “Só Deus sabe o quanto senti sua falta”, foi o que meu coração sussurrou ao escutar aquele velho escapamento, feito cão que mesmo privado de alimento recebe o dono com sincera alegria. Porém, o que acabei dizendo, com o semblante e não com palavras, foi: “Quem é esse na garupa?”

— Lucas. É seu filho – disse Gabriela, depois de tirar os capacetes dela e do garoto, como quem diz “entrega Sedex, pode assinar aqui, por favor?”.

A “anestesia” da vida passou num átimo. Meu peito foi invadido por um amálgama de sentimentos, dos mais puros e elevados àqueles tão cruéis e desprezíveis que me deixaram com medo de mim mesmo. O primeiro instinto não me atrevo a confessar. O segundo foi de negação. Mas não era preciso olhar o rosto de Lucas mais do que dois segundos para perceber que ele era eu esculpido em carrara. “É cuspido e escarrado, seu Zé Roela!”, imaginei o que meu bom amigo diria e, em meio ao caos, um sorriso brotou no campo estéril do meu rosto.

— Eu não sabia que tava grávida quando fui embora. Não sei se isso faz alguma diferença pra você.

— Não faz.

Café cheio de açúcar, cigarros, pernas inquietas. A Gabriela que eu conhecera não existia mais. Talvez só tivesse existido nas minhas idealizações, mas essa é mais uma das coisas que eu nunca haverei de saber. Eu estava com muita raiva por ter jogado seis anos da minha vida no lixo, mas, paradoxalmente, eufórico por ter dissipado os fantasmas que me assombravam até nos sonhos. Pensei que ou ela me pediria dinheiro, ou contaria alguma história triste sobre se sentir sufocada com a maternidade e me pediria para ficar com o menino. Após dois cigarros e muitas lágrimas, Gabriela confirmou minhas suspeitas.

***

Alguns anos depois, sentado aos pés de uma árvore baixa, arrancando gomos de mexerica com os dedões e contemplando o sol se esconder atrás de montanhas distantes, eu disse ao meu filho: “é, Lucas… a gente tem que aproveitar a vida, antes que o de repente apareça.” Ele me olhou com a cara franzida, pensou um tempo e perguntou “tipo aquele negócio de estava tudo bem, até que de repente?” Não pude conter a risada orgulhosa do pai que constata a esperteza do filho.

Eu estava em paz outra vez.

Sobre Fabio Baptista

21 comentários em “A Ordem dos Tratores (Fabio Baptista)

  1. fabiodoliveirato
    9 de março de 2024

    Buenas!
    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.
    Vamos lá!
    TÉCNICA
    Um conto mui bem escrito. Frases bem construídas, nenhum erro. Parece tudo impecável. Meu problema foi com o estilo, que, pra mim, beira o prolixo (beira, apenas beira). Um parágrafo inteiro, de 13 linhas, para falar da morte dos pais e que tinha ficado órfão. Isso se repete no conto inteiro: dá muitas voltas, fala muito pra expressar pouco, sabe? É um estilo mais denso, mais rebuscado, porém, que cativa o tédio, que cativa a desatenção. Outra coisa que me incomodou um pouco foram os diálogos, que me soaram um pouco artificiais, como aquela cena de novela ou filme. É tudo muito bonito, mas, exatamente por isso, por terem frases tão bonitas e impecáveis que torna tudo muito irreal. Todos são filósofos, nesse conto, haha.
    CRIATIVIDADE
    A história fala mais sobre ciclos do que recomeços. Tem recomeço ali, mas não é o foco, sabe? Tanto que o final fecha com o começo.
    O conto tem um enredo simples e pouco original. Até as mensagens repassadas no conto é daquele tipo que já cansamos de encontrar em livros, novelas e filmes. Isso não é um problema, em si, apesar da execução também ter sido pouco original. É o tipo de história que vai funcionar para um monte de gente. Mas não brilha de verdade. Não tem aquela pegada: mano, o que foi que acabei de ler? Que coisa magnífica. Não sei se sua intenção é essa, mas se for, vale reavaliar algumas decisões criativas.
    CONSIDERAÇÕES FINAIS
    O conto é bom e está muito bem escrito. Acredito que ele irá bem no desafio. Apenas não é algo que consumiria fora dos desafios. Mas tem seu público-alvo.

  2. mariainezsantos
    5 de março de 2024

    Escrita fabulosa. O valor de saber que a vida é efêmera é incalculável quando se vive num emaranhado entre sonhos, ilusão, expectativas e realidade. Cativante.

  3. Andre Brizola
    2 de março de 2024

    Olá, José R.!

    Conto muito bem estruturado e arrematado sobre o ciclo da vida e os imprevistos que o destino nos impõe. Acredito que o recomeço do desafio foi bem ajustado no enredo, e a leitura é muito agradável e prazerosa, embora tenha ido por um caminho bastante simples.

    O texto está bem certinho. É bonito sem ser pedante, e tem seus momentos de reflexão espalhados aqui e ali. Esse tipo de texto exige um ritmo constante, ágil, e acho que o resultado aqui foi muito satisfatório. A sintonia entre narração e diálogos é bem ajustada e funciona.

    Mas eu acho que faltou algo. Note que meus adjetivos são “certinho”, “satisfatório”, “bem estruturado”, “agradável”, e não “maravilhoso” ou “excepcional”. Isso porque achei o enredo simples demais. Embora formatado de forma realmente bonita e elegante, a trama apresentada não mostra nada além de um cotidiano bastante comum e, não sei se é a minha expectativa de um recomeço do Entrecontos falando, mas eu esperava argumentos com mais punch. Entendo a opção aqui, mas a sensação que tive é a de ficar um pouco decepcionado.

    Mas, minha opinião com relação ao enredo é o de menos pois, tirando isso, é bom. E, tenho certeza, vai agradar em cheio ao leitor médio do EC, o que é garantia de boa colocação.

    Parabéns!

  4. Givago Thimoti
    2 de março de 2024

    A ordem dos tratores (José R.)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

    Impressões iniciais

    + Que conto gostosinho! Doses acertadas de filosofia de campo, dor, amor e recomeço!

    + Linguagem simples, história simples, mensagem simples e ao mesmo tempo poderosa.

    Alma

    De repente, achei um dos meus contos top 5. Conto de linguagem simples, sem grandes floreios vocabulários, mas extremamente competente no que se refere ao contar uma história. Creio que foi um contar de uma história primoroso de tão contado. Escrita equilibrada e que soube conduzir a história com capacidade e carinho.

    Pertinência com o tema? Sim, o recomeço do personagem principal diante dos derrepentís da vida.

    No final, resta parabenizar o autor pelo conto. Irretocável.

  5. Fernanda Caleffi Barbetta
    1 de março de 2024

    Olá, José,

    Seiu texto é muito bom, a história gostosa de ler, vai nos envolvendo.

    Tem várias construções interessantes. Exemplos: Sujeito de poucos dentes e modos / personificado num caminhoneiro com prazo de menos e rebite demais / Diante da minha cara de interrogação sobre o que seria aquela entidade “Derrepenti” ávida para despedaçar nossos sonhos / dono de um vocabulário de fazer corar cafetinas tarimbadas, trapaceiro inveterado no carteado, péssimo parceiro no dominó /  tive que molhar a garganta e secar os olhos discretamente.

    Gostei do final, retomando a cena do início, em um outro momento, agora o filho no papel de pai, diante de um filho que responde de forma diferente à provocação. Muito bom.

    Na minha opinião, talvez para o meu gosto, houve um exagero de citações, comparações, metáforas. Exemplos: como náufrago que aprende a nadar ao cair no mar revolto / Minha dívida no bar do Amauri aumentou mais do que preço de soja em ano de estiagem / não tem bem que sempre dure, nem mal que não se acabe. São apenas exemplos do que me incomoda em exagero e em conjunto /  passei a depender dela, como o soldado na maca de campanha acostuma-se, depende e anseia pela enfermeira que lhe traz a doce morfina sem a qual não pode mais suportar as dores da guerra.   Talvez seja só gosto meu, mas chamo a atenção para o possível exagero.

    Em alguns trechos, o narrador descamba para um tom mais “piegas” (se me permite o termo) que destoa um pouco. “molhadas pela chuva, choravam sozinhas no mesmo lugar” / “era o centro de todo o universo infinito”

    Alguns clichês – dá a volta por cima / por cima da carne seca / toma uma rasteira

    “Estávamos sentados aos pés de uma árvore baixa” – não seria “ao pé”?

    “Se dúvida disso” – duvida

    “à conclusão nenhuma” – a

  6. Priscila Pereira
    1 de março de 2024

    Olá, José! Tudo bem?
    Eu gostei do seu conto… Principalmente pela escrita que é muito boa de ler e ainda tem uma pegada filosófica elegante, que se perdeu um pouco no enredo escolhido. Não sei explicar direito, mas tinha tudo pra ser um conto excelente, se a história fosse mais virtuosa 😁, mas acabou sendo meio óbvio, tipo, o que esperar de um romance que começa em um bar e se desenrola tão rápido, né. Mas isso é uma preferência minha, óbvio, pra mim ficaria melhor se fosse um romance profundo e verdadeiro no lugar de uma parada na vida de uma mulher instável. Os personagens são muito bem embasados e seguem o que foram programados para ser… Ele tão metódico e intenso, e ela tão livre e descuidada. Ele teria sido melhor aproveitado em um romance mais clássico. Do jeito que foi, deu a impressão de uma vida desperdiçada.
    O tema está inserido de forma bem tênue. Ele recomeça quando vai para o campo e depois quando perde a família, depois quado é abandonado por quem ele pensa amar e por último, recomeça quase de onde o pai parou, iniciando uma paternidade tardia. E não é que a vida é cheia de pequenos recomeços?
    Boa sorte no desafio!
    Até mais!

  7. Jowilton Amaral da Costa
    1 de março de 2024

    Bom conto. O conto narra a história de rapaz que foi morar a contragosto numa fazenda com os pais, quando ainda era menino, e acaba herdando as terras após um acidente que matou seus pais. A narrativa e bem-feita e segura, mostrando domínio na escrita. O enredo é bom, passa por várias fases, ele menino, com pai, depois órfão, já adulto, apaixonado e finalmente se tornando pai. Não percebi erros. O impacto foi bom. Boa sorte no desafio.

  8. Felipe Lomar
    24 de fevereiro de 2024

    olá

    gostei muito. O melhor que eu li até agora. Tem tudo. Uma narrativa bem desenvolvida, uma escrita hábil, poética, e uma mensagem profunda. As vezes parece ter um pouco de Parnasianismo nos insights do protagonista, mas nada muito exagerado. Os personagens são complexos, bem construídos, na medida do que o limite de palavras permite. A gabriela me lembra muito a Jenny do livro Forrest Gump. Teve alguma inspiração nela? O final cíclico foi a cereja do bolo. Acho que a única crítica que posso fazer é que talvez não seja perfeitamente dentro do tema, mas uma interpretação mais tangencial.

    parabéns pelo texto. Boa sorte!

  9. claudiaangst
    22 de fevereiro de 2024

    José R., tudo bem?

    Sim, o seu conto abordou o tema proposto pelo desafio. Há um recomeço provocado pelo tal de repente.

    A narrativa segue de forma linear e nos traz uma história ora de amor, ora de desamor, ora de sabedoria, ora de pura bobeira. Um bom enredo que prende a atenção do leitor mais distraído.

    Temos aqui uma coleção de ditados populares, clichês misturados a frases de efeito:

    “A gente tem que aproveitar a vida, antes que o de repente apareça” (frase que conduz a narrativa – Gostei!)

    “esculpido em carrara”, que o amigo corrigiria “É cuspido e escarrado, seu Zé Roela!”

    “Só Deus sabe o quanto senti sua falta” > God Only knows (na voz de David Bowie)

    “O tempo vai curar” > Melhor médico não há. Milagreiro que só.

    “Não há mal que sempre dure” “A gente nasce, cresce e morre. No meio disso, não tem bem que sempre dure, nem mal que não se acabe.” > Não era o contrário? Já sei: a ordem dos tratores não altera o atropelamento.

    “centro de todo o universo infinito” > Síndrome do Umbigo

    “A vida não é uma ciência exata” > Deve ser uma soma descoordenada de estrelas cadentes que só querem uma hipótese para chamar de sua.

    E por aí, vai. Isso é ruim? Claro que não, pois combina com a narrativa desenvolvida. Além disso, a vida é uma sucessão de clichês e o amor é brega, sim.

    Interessante a ambientação no “cu do mundo” – Já ganhou o meu respeito por não ter imposto acento agudo no u do seu cu do mundo, embora fosse do mundo, e de seu só tinha mesmo o … ah, deixa pra lá.

    Achei curiosa a escolha do produto vendido pelo agricultor. Gosto de alcachofra, há toda uma técnica (cirúrgica, eu diria) de arrancar o coração dentro da flor.

    Discordo de algumas vírgulas, mas não considero erros. Só encontrei uma falha: Se dúvida disso > Se duvida disso (mas pode culpar o corretor do Word).

    O conto é bom, traz uma filosofia de vida e um final feliz, com a imagem de pai e filho desfrutando de gomos de tangerina, mexerica, bergamota, seja o que for. Esse final me fez pensar em um certo autor, mas pode ser só coisa da minha cabeça.

    Parabéns pela participação no desafio e boa sorte para se desviar da chuva de alcachofras e dos tratores desgovernados.

  10. Kelly Hatanaka
    22 de fevereiro de 2024

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Atende ao tema. Um homem solitário sofre uma desilusão amorosa e tem a chance de recomeçar com seu filho.

    Escrita
    Linda, muito clara e conduz muito bem a narrativa. Se há erros, não encontrei. A narrativa em primeira pessoa aproxima o protagonista do leitor. Bons diálogos.

    Enredo
    O protagonista perde os pais e vira fazendeiro. Vive uma vida satisfatória e previsível até que conhece Gabriela e se apaixona. Ele sofre quando ela o deixa. Quando ela retorna, com o filho dele, ele consegue fechar sua história com ela e tem um recomeço com o filho.

    Impacto
    O poder de uma história simples bem contada. Bonita, gostosa de ler. A linguagem é direta, sem floreios desnecessários. Tudo serve à história e ela não decepciona. Gostei muito.

  11. Marco Aurélio Saraiva
    22 de fevereiro de 2024

    Um conto que explora os altos e baixos da vida, e o inevitável ciclo que acontece quando se torna pai ou mãe, repetindo tudo outra vez, tentando de alguma forma ser melhor do que foi antes. A leitura é leve e desce fácil pela garganta. Alguns momentos são geniais, como a frase: “Sim, aquela tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos”. O final, confirmando o ciclo eterno, foi gostoso de ler também. Toda a ideia de aceitar os baixos da vida e aproveitar os altos foi muito bem posta, incluindo a incrível alusão à “ordem dos tratores não altera o viaduto”, que me fez rir. Foi uma excelente escolha de título.
    No geral um conto agradável, nem feliz nem triste, que me trouxe um sentimento de paz ao peito.

    Eu queria deixar uma nota (um elogio?) sobre algo que me tocou. Não sei se foi o intuito do autor, mas eu notei uma certa confusão sobre o sentimento do narrador do conto quanto a vida no campo. Inicialmente ele fala que não gosta de lá, inclusive reclamando que a mãe poderia ter sobrevivido se estivessem em algum lugar mais civilizado. Mas em seguida ele abraça o campo e inclusive uma frase narra esta experiência como “…tudo era tão maravilhosamente monótono e previsível”. Ora, se era tão maravilhosamente monótono, como que logo em seguida eu leio uma descrição do que ele sentia como “… tinha uma sensação de não pertencimento”?

    Então me estalou que eu sinto exatamente a mesma coisa. Eu moro no exterior, sozinho. Eu amo esse lugar, mas também sinto que não pertenço. Sinto saudades do Brasil e das pessoas que eu amo, e ao mesmo tempo acho incrível viver em um país tão bom quanto o que eu vivo, e sou muito agradecido por isso. Este paradoxo de “eu amo este lugar mas não me sinto em casa” foi expresso aqui neste conto muito bem. Novamente, não sei se foi esta a intenção do autor, mas me fisgou!

    O que não gostei: o texto, sendo uma narrativa, por vezes foi frio demais. A morte dos pais foi narrada en-passant, como se fosse coisa pouca, já pulando para o que acontece depois. O sentimento foi de ter lido algo do tipo “enfim, meus pais morreram, é isso. Então herdei as terras…”. Ou seja, no geral, o conto usa muito “contar” e pouco “mostrar”. Quando Gabriela surge, por exemplo, em poucas linhas eu vejo que o narrador a ama, porque o escritor disso isso para mim, mas o sentimento que ficou foi o de ter visto uma mulher extremamente inocente, que aceita dormir na casa de uma pessoa aleatória que ela encontrou na estrada, e que de alguma forma resolveu ficar. Não consegui realizar o salto disto para “eu a amo”, e por isso todo o drama dos seis anos de solidão que seguem perdeu o impacto.

    Outra nota (essa menos importante): Eu gostei muito do trecho inicial, dele com o pai conversando sobre o tal do “derrepenti”. Porém, para uma criança não entender o que é “de repente” e imaginá-la como uma entidade chamada “derrepenti”, eu imaginei uma criança muito pequena e inocente, sabe, de cinco anos, talvez seis. Mas logo depois descobrimos que ele já tinha começado a namorar e estava com “…tantos desejos”, o que me leva a ele ser mais velho, com mais de dez anos, provavelmente. Como uma criança de dez anos ou mais não sabe o que é “de repente”?

  12. Jorge Santos
    20 de fevereiro de 2024

    Olá. Li o seu conto duas vezes e das duas vezes achei alguma semelhança com o filme Forrest Gump. Achei também que não prendia a atenção do leitor como deveria. Está bem escrito e tem algumas frases memoráveis, como “beijou minha boca como quem pede desculpas”, mas esperava algo mais forte e uma prosa mais fluída, talvez. Gostei também da forma como exemplificou a passagem do tempo, com o ciclo fechado Avô – Filho – Neto. Está neste ciclo a adequação ao tema, tal como está a ideia de recomeçar a vida. A realidade é assim mesmo, sem darmos por ela fechamos o ciclo, voltamos ao início, revivendo com os nossos filhos o que experenciámos com os nossos pais. Pelo menos no meu caso aconteceu isso. O seu conto recordou-me isso, e esteve a um ponto de ser excelente, mas, pelos motivos que já apresentou, foi apenas “muito bom”.

  13. Vladimir Ferrari
    20 de fevereiro de 2024

    Um quarto parágrafo, na minha opinião, sensacional. Adorei as analogias e toda a sorte de ideias que vicejou em meu raciocínio, ao compreender as palavras. Já no primeiro parágrafo a ideia de “uma paisagem mais bonita nas descrições do que na realidade” (tentarei, humildemente, dizer o mesmo com outras palavras, quando a oportunidade se oferecer) é muito “senior” (no sentido de escritor publicado e aclamado por público e crítica). Um seríssimo candidato a receber todos os loas desse desafio, pois é um conto admirável, bem escrito e bem construído. Eu só trocaria a vírgula por dois pontos, na primeira frase do quinto parágrafo. Como estilo é uma coisa pessoal e intransferível, experimentaria em alguns trechos, usar frases curtas. Mas está “gostoso como gomos de mexerica madura”, com toda a certeza. Parabéns.

  14. Simone
    18 de fevereiro de 2024

    O conto me lembrou o filme Forrest Gump. Temos o relato da vida de um homem desde sua infância, quando o pai ensinou o pessimismo, até ele passar a lição para o filho. Ele se apaixonou pela vida no campo, o que não esperava. Apaixonou-se também por uma mulher que não o quis de verdade, que foi embora, depois de um tempo com ele, e voltou seis anos depois para apresentar o filho. Ele recomeça a vida após a perda dos pais e depois que se torna pai. Talvez prossiga nessa felicidade morna que o conto nos mostra. No subtexto essa apatia de quem vive sem empolgação, herança do pai e das experiências da vida. Gostei das cenas que o escritor ou escritora insere no relato, porque assim não fica apenas um sumário. Essa mulher que desaparece e reaparece com o filho é uma grande estranheza no conto. Como ela tem essa coragem? Não sabemos pois não conhecemos o íntimo dela, pois o conto é escrito em primeira pessoa. A leitura é fluida e agradável. O final é interessante, embora não surpreenda. O que mais esperar dessa mãe? Fiquei com essa pergunta. A gramática está bem correta e o enredo prende a atenção. Parabéns!

  15. Leda Spenassatto
    16 de fevereiro de 2024

    A Ordem dos Tratores (José R.)

    A começar pelo nome, “A Ordem dos Tratores” só pude entender totalmente no final da leitura do último parágrafo.
    Fechou seu conto com a ordem do que se propôs, a história do pai e do filho que se repetiu.
    A mexerica , os dedos lambuzados , a terra e o plantio de alcachofras, tudo estava bem até que estivesse bem, noutro momento ficar órfão e recorrer um bar , reconhecer um amigo na simplicidade daquilo que tem para dar.
    É vida que segue, que se repete de alguma maneira, melhor ou menos pior
    Começa que é: “a ordem dos trator não altera o viaduto”, seu Zé Roela. E nesse assunto aqui que a gente tá falando, a ordem importa sim.

    A Gabriela que se fez terra hospedeira da semente do que é ficar em paz
    Sua narrativa é simplesmente fantástica, a descrição do que é “derepenti” se encaixou perfeitamente no Recomeço.
    Adorei a leitura.

    Nota mil para você

    Abração !

  16. Emanuel Maurin
    16 de fevereiro de 2024

    José R., beleza?

    Resumo: Um jovem órfão se muda para o campo e encontra a paz plantando alcachofras. Ele se apaixona por uma moça que chega de moto, mas ela vai embora grávida sem ele saber. Seis anos depois, ela volta com o filho dele e o deixa com ele. O jovem aceita a situação e cria o menino, reencontrando um novo sentido para a sua vida.

    Gostei da originalidade e a criatividade da trama, não encontrei clichês ou estereótipos e é coerente, esses são pontos positivos. Mas, na minha opinião o conto é um pouco amarrado. Achei os diálogos longos e os pensamentos tbm. E não tem descrições de cenários ou personagens.

    O conflito é simples e quase não chega ao clímax, esses são os pontos negativos do enredo. No mais, gostei do conto. Parabéns!

  17. Antonio Stegues Batista
    16 de fevereiro de 2024

    A ordem dos fatores não altera o produto,  a história é baseada em frases comuns, expressões conhecidas e repetidas na literatura, que não é ruim, mas o autor precisa sempre apresentar originalidade na criação do texto, para dar mais valor a ele. O conto tem um bom enredo, mas a parte que Gabriela aceita ficar na casa de Lucas, é meio forçada  como se ela já tivesse a intenção de chegar na cidade e dormir com ele. Não dá pra acreditar que foi o destino que reuniu os dois naquele bar. Poderia ter sido melhor engendrado o encontro, talvez se Gabriela fosse uma namorada antiga de Lucas, seria mais natural eles passarem a noite juntos e desse encontro Gabriela ficar grávida. Quando ela vai embora, sem explicação, a barriga começa a aparecer.  Voltou depois com um menino de seis anos na garupa de uma moto, quando a lei proíbe crianças com menos de 10 anos na garupa. Não é coincidência o final ser igual ao início. Apesar disso, a maioria das frases é coerente, se conectam perfeitamente e a narrativa tem um seguimento lógico, alguns sentidos resumidos , mas claros e compreensivos. De qualquer modo o conto está bom, em ficção tudo vale. Boa sorte.

  18. Antonio Stegues Batista
    15 de fevereiro de 2024

    A ordem dos fatores não altera o produto, frases como essa se espalham pelo texto, ou seja, a história é baseada em frases comuns, expressões conhecidas e repetidas O conto tem um bom enredo, mas a parte que Gabriela aceita ficar na casa de Lucas, é .meio forçada  como se ela já tivesse intenção de chegar na cidade e dormir com ele. Não dá pra acreditar que foi o destino que reuniu os dois naquele bar. Poderia ter sido melhor engendrado o encontro, talvez se Gabriela fosse uma namorada antiga de Lucas, seria mais natural eles passarem a noite juntos e desse encontro Gabriela ficar grávida. Quando ela vai embora, sem explicação, a barriga começa a aparecer.  Voltou depois com um menino de seis anos na garupa de uma moto, quando a lei proíbe crianças com menos de 10 anos na garupa. Não é coincidência o final ser igual ao início. Apesar disso, a maioria das frases é coerente, se conectam perfeitamente e a narrativa tem um seguimento lógico, alguns sentidos resumidos , mas claros e compreensivos. De qualquer jeito o conto está bom, em ficção tudo vale. Boa sorte.

  19. Gustavo Castro Araujo
    14 de fevereiro de 2024

    Excelente história. A saga do menino que se transforma em homem e que se vê assaltado pelos de repentes da vida ficou muito boa, considerando ainda o pouco espaço que havia para desenvolver a trama. Há um pouco de tudo aí nesse drama com pitadas de comédia, traduzido numa história de amor, ou melhor, na busca pela paz interior.

    A nostalgia do início (e que irá se repetir no fim) é bem demonstrada com a descrição do por do sol, com as montanhas, com o vento, e principalmente com os gomos da mexerica. Isso torna o texto sinestésico. Até cheirei minhas mãos imaginando que tinham se impregnado com aquele odor cítrico que demora seis meses para sair kk

    O encontro da paz, na primeira parte do conto, ficou ótimo e por um instante eu consegui me identificar com esse anseio. Mas, é claro, ninguém quer isso de verdade e o surgimento da Gabriela acaba servindo como colorido numa tela que estava destinada a um cinza opaco e sem graça. É ela que dá vida ao texto. Sim, sabemos que ela irá mexer com o nosso protagonista e sabemos que, ora, vai rolar aquele sentimento, mas de todo modo queremos saber como isso se dará. Talvez esteja aqui um dos poucos defeitos do conto, já que tudo acontece muito rápido. Não há mostrar, mas contar. Recebemos a notícia da paixão de ambos sem que isso seja traduzido em atos. Provavelmente essa opção se deveu ao limite imposto pelas regras, mas, de todo modo, se há intenção em desenvolver mais essa trama, sugiro que foque nesse aspecto.

    A reaparição de Gabriela, com o pequeno Lucas na garupa, fecha bem esse arco narrativo. Na verdade, esse final me lembrou bastante do fim do filme Forrest Gump, onde a Jenny deixa o Forrest Jr com o pai, e some de cena, deixando os dois prontos para aquele convívio cheio de ternura. Sim, aqui segue-se o mesmo roteiro, mas com a mesma perícia, já que não parece forçado nem sentimental demais. Pai e filho unidos no fim. Nosso personagem principal não está condenado a uma existência modorrenta ouvindo as piadas infames do Amauri. Ficamos todos aliviados com isso.

    Gostei de algumas metáforas mais do que outras. A do soldado no campo de batalha não ficou legal, mas a do cãozinho que pede um biscoito ao dono que o ignora ficou excelente.

    Enfim, é um conto muito bom, bem construído, com personagens cativantes e com cheiro de campeão. Dificilmente estará fora do pódio. Parabéns e boa sorte no desafio.

  20. Karina Dantas Nou Hayes
    14 de fevereiro de 2024

    De repente, me senti envergonhada de estar participando de um grupo com tão talentosos escritores! Este conto me prendeu do começo ao fim. Parabéns!

  21. rsollberg
    13 de fevereiro de 2024

    Fala José R.

    Antes de tudo gostaria de deixar claro sou apenas um leitor entusiasmado e meus comentários dizem mais sobre gosto do que qualquer outra coisa.

    O autor rapidamente apresenta os personagens e usando a premissa do “derrepenti” cria em muito pouco espaço uma ótima conexão com o leitor. Nos primeiras parágrafos já comove sem apelação. Há um poder de síntese que impressiona, destaco esse como exemplo: “Os dias passavam, a chuva molhava e o sol secava, a terra e o tempo se encarregavam de dispersar anseios e saudades, tudo era tão maravilhosamente monótono e previsível.”

    Outro exemplo “Sujeito de poucos dentes e modos”, parece que cada palavra é valiosa e merece ser aproveitada da melhor maneira. Quem dera todos os colegas tivessem esse esmero pela construção, essa apreço pelo modo e não só pela história.

    Meu único “porém” vai para o uso de uma analogia que me pareceu deslocada do contexto, “o soldado na maca e a morfina”. Acho que dentro da própria estória podia ter surgido algo com mais conexão, se me permite a ousadia.

    Digo isso porque o conto é tão redondo, veja só, isso é pérola “Se pudesse escolher, em qual posição colocaria o trator Gabriela no viaduto da minha vida?“.

    Os personagens são bem definidos: o protagonista é um “sobrevivente”, um trabalhador esforçado, pragmático e recluso. Gabriela é uma anticapitalista, sem vínculos e inconsequente. Como gosto de dizer, todo texto é político porque é fruto de visão e contexto. Obviamente ele não é panfletário e nem necessariamente reflete a opinião de quem escreve, mas há quem acredite que é possível fazer literatura apolítica… Há ainda quem cite Dostoievsky, Tolstoi, Faukner, Hemingway, Nabokov, Kundera… desconheço obra desses autores sem críticas socias (política, ta dam)! Enfim, isso é uma outra história e peço perdão pela divagação, traço muito comum da minha péssima personalidade.

    Em resumo, é um texto que abusa da qualidade e sustenta uma técnica invejável. Sensibiliza pelo esmero do autor, pelo jeito que conta e não necessariamente pelo mote em si. Creio que uma lição muito importante deixada aqui aos jovens autores é… descanse dessa busca frenética pela “originalidade” rocambolesca, a inventividade pode, e deve, estar nos meios e não necessariamente nos fins.

    Penso que é um forte candidato ao pódio. Estupendo!

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Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .