EntreContos

Detox Literário.

[EM] Um acidente, um morto e muita coisa por explicar. (Ana Maria Monteiro)

— Caramba!

O homem deu um pulo para trás no momento em que quase era atropelado por um automóvel que ia a passar.

Dentro do carro, o condutor vociferava qualquer coisa, mas com alguma calma, pois o uniforme do quase atropelado infundia um certo respeito, ou receio, dependia do ponto de vista de cada um face às autoridades.

O peão fez um gesto de desculpa enquanto ainda tentava retomar a compostura interior e exterior após o choque de adrenalina.

Sorriu ligeiramente ao pensar que precisava de tomar mais atenção para não sofrer um acidente.

O dia estava bonito, o sol brilhava e soprava uma brisa primaveril bastante agradável. A cidade, outrora tão agitada, era agora uma sucessão de ruas aprazíveis e de atividade moderada. Todos viviam com mais calma.

Andava sempre distraído, absorto nos seus pensamentos, em busca de uma pista, de uma resposta; José Fernandes deixava-se absorver pela profissão para não pensar na vida. Não queria comparar o antes com o agora, não queria pensar na família que perdera, durante e também depois que tudo mudou drasticamente, nos anos negros que se seguiram e em que a morte arrastou tantos dos que ficaram, foi como perder a guerra depois de ganhar a batalha.

Chegou ao local de trabalho. As antigas esquadras e delegacias, velhas e escuras, haviam sido substituídas por espaços de trabalho amplos, luminosos e até confortáveis. Bateu à porta, entrou no gabinete do chefe e falou com exaltação:

— Nada, absolutamente nada, chefe, é como espremer pedras. Os tipos dos seguros não pagam à família nem dão explicações, só exigem. Querem prova definitiva de que aquilo a que chamam de “suposto acidente” não o foi, afirmam que na verdade se tratou de um suicídio. E como se pode provar semelhante coisa? Lá porque ele embateu no carro da ex-mulher (e a mim também me parece que não terá sido por acaso) não significa de forma alguma que queria suicidar-se e deixá-la com sentimentos de culpa.

— Homem, você parece zangado!

— E estou!

— Ora – o chefe abanou os ombros – o assunto nem sequer tem nada a ver consigo.

— Não tem? Não tem? Essa é boa! Tem a ver comigo, consigo, tem a ver com todos.

— Ó Fernandes, você não me lixe: é um caso simples, de acidente de automóvel, em que a companhia de seguros não quer pagar a indemnização e vai inventando possibilidades como a do suicídio, qual a novidade? O que é que isto tem a ver consigo, ou comigo, ou seja lá com quem for?

— Tem tudo, Matos, tem tudo – eram bons amigos e, quando estavam a sós, deixavam as formalidades de lado e tratavam-se pelos nomes – nós somos as rodas mais pequeninas da engrenagem: nada se consegue se não existirmos, mas qualquer um nos substitui, essa é que é essa e o resto é conversa.

— Você e a sua grandiloquência, Pato. Até parece que estamos a assistir ao fim do mundo.

— E não estamos? somos meros alimentadores de recolha de meta dados e usam toda a informação que lhes damos voluntariamente para nos estudarem e saber exatamente o que devem dizer-nos e como devem fazer isso. Só servimos para manter a máquina em andamento. Tudo está decidido de antemão. Sabem como levar-nos a fazer de livre vontade aquilo que querem que façamos. Se isto não é o fim do mundo, é o quê?

— Você e as suas ideias malucas de esquerda, que já ninguém sabe o que é. Ficou lá para trás, levada pela pandemia de 19/23. Vive no passado, Fernandes. Um homem novo, quase com idade pra ser meu filho e parece um velho, sempre com essas conversas. Nós agora estamos muito melhor, somos menos, há trabalho para todos e não nos falta nada – nem espaço.

Fernandes levantou-se e sorriu ao superior e amigo: — Certo, Matos, certo, nunca vamos chegar a acordo sobre estas questões. Vou continuar a investigar para tentar provar nem sei o quê. – Saiu.

De novo na rua e sem saber muito bem o que procurar, Fernandes olhou em seu redor (algo que raramente fazia) e percebeu por que seria fácil a qualquer pessoa se acomodar a este novo mundo.

Tinham sido anos difíceis, a década de vinte e quase toda a de trinta, mas, após longuíssimas negociações, a nova ordem social tinha chegado a acordo e não existiam fronteiras, sendo o mundo encarado como um imenso país governado por poderes locais, delegados sucessivamente desde o topo, o invisível Conselho Central de Administração.

Enquanto caminhava a pensar nestes assuntos, Fernandes invocava a imagem da viúva, Marcela, uma loura de cortar a respiração. As seguradoras eram sempre assim, faziam de tudo para nunca pagar e depois era ele, Fernandes, e outros como ele, que tinham de andar ali, a suar as estopinhas, até se verem obrigados a desistir, pois quando a companhia dizia que não pagava, não pagava e escudava-se numa lei qualquer que apoiava a sua teoria de inimputabilidade.

Via as pessoas à sua volta, agora governadas por uma nova hierarquia que não se fazia sentir e o sentimento de satisfação da população era quase palpável e todos se congratulavam (uns mais que outros e Fernandes menos que todos) por terem permitido que o mundo fosse governado pelo megaconsórcio dos cinco grandes gigantes, nascidos da fusão de todas as indústrias tecnológicas, mais as alimentares e de transformação, meios de transporte, serviços financeiros e farmacêuticas.

Recordou-se que o morto (suicida, acidentado ou até – nunca se sabe – assassinado) era uma espécie daquilo a que antes se chamava delegado de informação médica; viajava muito, deixava Marcela sozinha por longos períodos (imperdoável, imperdoável!) e não se sabia nada do seu passado antes de casar com a outra mulher, que trocara por esta maravilha de lamber os beiços…

Tinha sido uma boa opção, acabar com a política e entregar o poder de forma global, diretamente nas mãos das grandes companhias capitalistas. Não havia partidos, não eram necessários, o poder local era exercido por “moderadores” sugeridos pelos órgãos centrais e eleitos democraticamente pela população. O dia das eleições era escolhido ao acaso e calhava muitas vezes em dia normal de trabalho – votar era uma festa, era não ir trabalhar, encontrar velhos amigos, escolher o seu candidato, tudo isto era a nova democracia e motivo de grande alegria.

Mas Fernandes não gostava, aquilo cheirava-lhe tudo muito mal e não perdia uma oportunidade de tentar “abrir os olhos” a mais alguém – com pouco ou nenhum êxito, refira-se.

Entre os amigos, era tido por um pouco excêntrico, já as mulheres, incluindo a sua, gostavam mais de lhe chamar “sonhador romântico”, mas a fama agradava-lhe e sentia-se confortável com aquelas descrições que, sendo algo condescendentes, lhe abriam espaço para ser como queria. Pensou na mulher, a verdadeira, aquela que casara com ele por amor e em liberdade; não esta – que havia conhecido num daqueles encontros de solteiros, apoiados pelo poder central e com aconselhamento quanto aos candidatos mais apropriados a cada um – mas Ana fazia parte dum passado tão jurássico quanto o dos dinossauros que podia ver num museu, ele próprio não era mais o mesmo, todos haviam mudado muito; a luta pela sobrevivência, antes e a crise mundial que lhe sucedera, obrigara-os a adaptar-se mais do que algum dia teriam suposto. O esquecimento e um recomeço tinha sido a saída possível.

Agora, em meados da década de 40, parecia que a paz reinava de novo e vivia-se uma primavera permanente, o estado de espírito era de festa, os dias eram fáceis e seguros, a vida corria límpida como água de rio. Ainda que o Covid tivesse levado quase metade da população e o desespero e a fome que se lhe seguiram propiciado a morte prematura, e muitas vezes voluntária, de uma boa parte dos que sobraram, a verdade é que desde há uns anos que se vivia uma grande acalmia e as pessoas andavam animadas e confiantes, tanto que se viam grávidas e mães com bebés por todo o lado.

Marcela e Octávio (o morto) não tinham filhos, por que seria? Se Fernandes tivesse uma mulher daquelas fazia-lhe pelo menos uma meia dúzia, todos seguidos.

Sem se aperceber, dirigira-se a casa deles, agora só habitada pela viúva. Tocou à campainha e quase ficou sem palavras ao vê-la: Marcela tinha os olhos vermelhos e inchados e exibia umas olheiras dignas de um panda. Fernandes fez algumas perguntas, mas era óbvio que ela amava o marido e não conseguiu acrescentar mais nada ao que já declarara antes: o marido tinha um comportamento normal, nunca dera sinais de tristeza ou preocupação, não lhe conhecia inimigos e a ex-mulher era-lhe indiferente, apenas alguém que tinha conhecido num dos tais encontros de pares recomendados e ambos tinham aceitado a separação, quando perceberam que aquelas indicações nem sempre acertavam e, na verdade, eles não combinavam bem.

Fernandes despediu-se frustrado e revoltado com o que estava a suceder àquela pobre mulher, linda, sozinha e indefesa. Já tinha falado várias vezes com o delegado da companhia de seguros, um homem agradável e simpático, que exprimira até alguma solidariedade, mas não podia fazer nada, obedecia a ordens que vinham de outro delegado superior, que as recebia de um outro e assim por aí fora e ninguém conseguia chegar ao topo, onde se definiam as diretivas. O homem abanava a cabeça, desalentado e Fernandes já desistira de tentar falar de novo com ele.

O caso ainda deu muitas voltas. Pouco tempo depois, Matos decidiu encerrá-lo, pois bem sabia que, no final, sem provas definitivas e impossíveis de encontrar, a seguradora nunca pagaria. Fernandes que, entretanto, sentia crescer pela viúva uma obsessão que ultrapassava toda a lógica das desculpas que encontrava para si mesmo, continuou a investigação conforme podia, por conta própria.

Enquanto investigava, ia encontrando formas de visitar Marcela, que via cada dia mais deslumbrante e que lentamente criou com ele laços de amizade e dependência emocional a que também se agarrou.

Ia descobrindo coisas cada vez mais interessantes, mas nunca conseguia chegar às provas, embora as suas teorias, bastante mutáveis, fossem ganhando substância em direção à única resposta possível, que vivia à vista de todos e de que ninguém se apercebia.

Veio a conseguir provar que tinha razão em muitas das suas teorias, tanto em relação ao caso, quanto aquelas “de esquerda”, mas já não teve o prazer de se exibir ao Matos, pois o chefe, entretanto, tinha-se reformado e morrera pouco depois, de ataque cardíaco.

No funeral, Fernandes opinou que ele tinha morrido devido ao stress provocado por não ter nada para fazer e se sentir inútil, mas ninguém lhe ligou nenhuma – era o Fernandes com as suas excentricidades ou patetices, a depender de quem o ouvia.

Percebeu como o mundo mudava à sua volta e como aparentava ser cada dia mais povoado e semelhante ao que era antes da grande crise.

Aos poucos, os casos de divórcio multiplicavam-se e chegou a equacionar essa possibilidade, mas redescobriu a adrenalina de ter uma vida dupla e de conseguir continuar a amar uma mulher, graças à adrenalina de uma certa clandestinidade e a não ter de acordar todos os dias ao lado dela.

Acabou por conseguir provar quase tudo, mas levou muito tempo e todos os prazos foram prescrevendo. Além disso, o caso ia perdendo importância e conquistara Marcela, que era o que mais desejava.

Havia culpas e culpados, havia um morto, havia uma viúva abandonada à sua sorte – e havia um Fernandes que continuava vivo.

Otávio, o marido de Marcela, ainda que mero funcionário, servira todos os propósitos para que fora enviado e era perfeitamente descartável. O “acidente” que o vitimara fora cuidadosamente encenado e preparado. Ter acontecido como sucedera, indo embater no carro da ex-mulher, fora uma coincidência extraordinária, um contratempo impossível de antecipar e difícil de abafar discretamente.

Para Fernandes, o caso estava arrumado, mas não para o Conselho Central de Administração, que seguia protocolos rígidos e tinha outros planos para ele: uma ameaça era como um vírus, um vírus devia ser exterminado. Fernandes era uma ameaça.

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19 comentários em “[EM] Um acidente, um morto e muita coisa por explicar. (Ana Maria Monteiro)

  1. Jowilton Amaral da Costa
    18 de setembro de 2021

    Ambientação: A ambientação é boa, conseguimos perceber que que se passa num futuro distópico pós Covid.

    Enredo: Achei o enredo médio, meio burocrático. Nem a história e nem os personagens me cativaram, talvez porque tenha mais reflexões do Fernandes sobre este futuro insosso do que uma trama detetivesca.

    Técnica: Achei a técnica boa, a narrativa parece experiente, com sotaque lusitano.

    Considerações Gerais: Um conto que não me cativou.

  2. Fabio D'Oliveira
    15 de setembro de 2021

    Olá, Lagarica!

    AMBIENTAÇÃO

    Explicativa demais.

    Tudo é explicado. Os sentimentos do protagonista, a situação atual do mundo, o enredo. Tudo, tudo, tudo. Dessa forma, a ambientação fica por conta da cabeça do leitor.

    ENREDO

    Interessante.

    Alguns elementos da história são cativantes. Gosto do futuro corporativista. E da sugestão da aproximação de uma nova crise mundial, firmando o ciclo interminável da nossa sociedade.

    Crise, falsa prosperidade, crise, falsa prosperidade.

    O enredo é todo explicado e contado. Sabemos o que o personagem sente, mas não acompanhamos seu crescimento e o desenvolvimento da investigação. Por causa disso, o conto ficou extremamente arrastado e apático.

    ESCRITA

    Muito boa.

    Não costumo sentir prazer lendo textos lusitanos. Coisa minha. A leitura é mais travada. Isso serve para textos brasileiros que sejam complicados. Mas dessa vez foi diferente. Eficiente, com narrativa fácil de acompanhar e fluída, cumpre bem seu papel. O estilo de escrita, porém, acabou me afastando um pouco.

    CONSIDERAÇÕES GERAIS

    O conto está bem escrito. Mas não vou mentir: não gostei dele.

    A história é muito simples, onde o trunfo, que é a revelação final, acabou sendo o tiro do pé. Não há desenvolvimento, não há preparo. O conto parece um relatório policial. A investigação é resumida. E, a toda hora, há a mudança de foco, distraindo o leitor.

    Não sei se o conto se encaixa como FC. É adaptado no futuro. Porém, a ambientação é tão resumida que não consegui vislumbrar quase nada dela. Achei frágil.

    É um conto que não vai agradar a todos, certamente.

  3. Bruno Tavares
    14 de setembro de 2021

    Ambientação: o cenário é sentido mais pela atmosfera policial e na delegacia com os conflitos entre Fernandes e os demais. Sem muitos detalhes, o autor consegue de forma criativa e natural, nos ambientar.

    Enredo: gostei dos traços característicos do detetive e os conflitos com os interesses de seus superiores. Isso é realidade pura, quando nos deparamos com policiais que desejam trabalhar e resolver os casos, mas se deparam com a corrupção ou a omissão dos que trabalham na unidade ou algo do tipo.

    Escrita: Eu atento apenas para a utilização de alguns sinais e travessão. Me confundiu um pouco em partes da narrativa, mas nada que desabone o belíssimo texto.

    Considerações gerais: um tema real, com um misto de charme e romance, tendo em vista a relação da mulher e o detetive. Os conflitos comuns dentro de organizações policiais e por fim um desafio para o próprio Fernandes, que passou a ser o alvo. Muito bom e parabenizo o autor!

  4. maquiammateussilveira
    11 de setembro de 2021

    Ambientação: Interessante como o texto aproveita uma situação real e contemporânea para criar um futuro não muito distante. Mas faltou uma liga entre a “realidade alternativa” e a “trama policial”, já que essa última podia muito bem ser a mesma numa trama que ocorresse em 2021.

    Enredo: O relato futurista acabou ficando em primeiro plano e embotando a trama do personagem central. Parece que faltam elementos para o leitor conseguir se envolver efetivamente com a história policial, com a relação de Fernandes e Marcela, com a morte de Otávio…

    Escrita: Gostei dos trechos que descrevem o mundo no futuro, mas as digressões de Fernandes em relação ao caso ficaram um tanto sem cor. Mesmo assim, as frases são bem trabalhadas, enriquecidas por detalhes e observações, que dão à leitura um corpo sólido e um ritmo fluido.

  5. Kelly Hatanaka
    7 de setembro de 2021

    Ambientação:
    Poderia ter sido mais eficaz. Eu só entendi que a história se passa no futuro porque está descrito, mas nada na descrição do ambiente mostrou isso. Não há nenhuma visão desse novo mundo, somente explicações sobre a maneira como ele funciona. É alguma coisa, mas não o suficiente para levar o leitor para dentro da história.

    Enredo:
    Um investigador trabalha em um caso de acidente que a seguradora insiste ser suicidio e, por fim, se envolve com a viúva. Achei um tanto confuso e, no fim, não entendi. Não foi acidente nem suicídio?
    Talvez tenha faltado saber mais sobre os sentimentos e emoções dos personagens, o bastante para torcer por eles.

    Escrita:
    Bastante detalhista. Porém, fiquei com a impressão de que faltou detalhar o que realmente me interessava, e falo aqui como leitora: é uma questão de preferência pessoal. Gostaria de ter entendido melhor o que se passou com Otávio e Marcela, o ponto central desta história de investigação, ou do que aconteceu com a família de Fernandes, em lugar de saber tanto sobre a estrutura de poder do novo mundo.

    Considerações gerais:
    É uma história de investigação, mas a investigação mesmo, que poderia render uma história excelente, ficou de pano de fundo para uma crítica social que não me cativou.

  6. Anderson Prado
    6 de setembro de 2021

    Ambientação: Mediana. A história se passa em um futuro não muito distante, em que os estados-nações deixaram de existir, dando lugar à administração por corporações capitalista.

    Enredo: Ruim. Embora cheio de potencial, o enredo acaba por decepcionar, pois não possui um foco direcionado: ora prevalecem elementos policialescos, ora foca em questões políticas abstratas ou concretas, ora foca em um futuro distópico que não chega a se tornar uma ficção científica, ora foca no relacionamento amoroso do investigador com a esposa da vítima. Uma verdadeira balbúrdia.

    Escrita: Boa. O domínio da língua em si é bom, mas o domínio das técnicas narrativas ficou a dever, o que se refletiu no enredo errático.

    Considerações gerais: Conto e contista repletos de potencial mal explorado.

  7. Felipe Lomar
    5 de setembro de 2021

    Ambientação: uma ficção científica distopica bem construída, focando mais na organização política e social do que em aspectos tecnológicos. Os personagens também são bem construídos e são críveis, apesar de que senti falta de um pouco mais de complexidade
    Enredo: uma boa história policial. Ótima de se ler, mas senti um pouco de falta de uma incógnita e de mistério. Já sabemos os culpados do crime desde o início, e o detetive tenta então provar sua tese. Nesse sentido, o final não é Muito conclusivo, e o relacionamento extraconjugal acaba sendo mais interessante que a investigação em si.
    Escrita: uma boa escrita, simples, mas que cumpre seu papel. Tem bom ritmo e não deixa o leitor entediado.
    Considerações finais: um ótimo texto, com uma boa história, por mais que falte alguma coisa para ser perfeita. Parabéns!

  8. Jorge Santos
    2 de setembro de 2021

    Ambientação

    Conto policial que se passa numa realidade alternativa pós-pandémica onde o poder é exercido pelas empresas. A ideia é interessante e merece ser mais desenvolvida.

    Enredo

    O enredo é algo ou confuso. Parece que falta uma ligação entre as diversas ideias. Subentende-se o objectivo, o de demonstrar que o livre arbítrio é o maior perigo para o Sistema. Faltou apenas demonstrar as motivações para que Octávio fosse morto.

    Escrita

    O conto foi escrito em Português de Portugal. Aqui e ali, encontro termos que parecem destinados a facilitar o entendimento por parte dos nossos colegas brasileiros. Não encontrei erros.

    Considerações finais

    Conto algo confuso que tem objectivos bem definidos, a luta do indivíduo contra o Sistema.

  9. Angelo Rodrigues
    27 de agosto de 2021

    10 – Um acidente, um morto e muita coisa para explicar

    Ambientação:

    O autor constrói um mundo pós epidemia. O grande estrago explica-se pela amplidão dos espaços e a falta de gente. Provavelmente onde sobram salas (em delegacias e tal), embora faltem pessoas para ocupá-las. A ambientação, que não é única, dado que atravessa diversos ambientes onde se dá a trama, está de acordo com a proposta do texto.

    Enredo:

    Um mundo pós pandemia, mais calmo, mais espaçoso, onde um suposto crime acontece e o investigador Fernandes busca desvendá-lo. Uma mescla de ambiente noir com distopia futurística, onde a pandemia do coronavírus jogou-nos a todos, em breve futuro, embora com velhos hábitos: a viúva bonita, o policial atormentado, o crime confuso, a consequente paixão, a vida que se apresenta como de modo geral se apresenta, independente das transformações impostas pelo tempo e pelas circunstâncias.
    O mote utilizado pelo autor, a pandemia, que durou cerca de quatro anos (talvez) e (parece) foi devastadora, não nos deu um futuro diferente do que temos, ou supostamente temos, no quotidiano.
    Há algo no enredo, entretanto, que me desconcertou. Não vi conexão entre a preocupação de Fernandes, um investigador criminal, que não me pareceu ser de seguros, mas de justiça, ter preocupações acerca do modo como a companhia de seguros encarava a morte do marido da viúva, o senhor Octávio. Se suicídio ou não, não seria da alçada do investigador queimar suas estopinhas em busca dessa decisão.

    Escrita:

    A escrita é correta, sem desvios ou tropeços que dificultem a compreensão. Atende, de certa forma, a um regionalismo, de uma localização espacial, provavelmente típica de Portugal.

    Considerações Gerais:

    Tem um pouco o conteúdo de O Castelo, de Kafka, onde há um labirinto estereotipado do mundo burocrático. Provavelmente uma crítica que se perpetua quando o assunto está ligado ao Estado: a Polícia, a Justiça, os meios cautelosos por onde as regularidades burocráticas tendem ao domínio sobre as necessidades de quem os procura para ter problemas resolvidos.
    Acho que essa parte, onde Fernandes envolve-se em torno do pagamento do seguro à viúva Marcela, ficou um pouco fora de prumo, provavelmente desnecessária. Afinal, o que investigava nosso Sherlock Fernandes?, salvo abusar de sua condição de investigador para assediar a estonteante viúva Marcela.
    Acho que o conto perdeu um pouco o tônus quando o texto envolveu-se com uma série de circunstância distanciadas do objetivo que, creio, seria a investigação – afinal, creio também, trata-se de cumprir o requisito de ser um conto Policial, embora misture-se com Realidades Alternativas.
    Um conto legal de ler.

  10. Antonio Stegues Batista
    23 de agosto de 2021

    Um acidente, Um morto…

    Ambientação= Difícil localizar no tempo e no espaço geográfico. Não entendi a década de 40.

    Enredo=Não muito claro para se dar um veredito satisfatório.

    Escrita = com altos baixos, precisa melhorar as conclusões, algumas frases rebuscadas, outras simples demais.

    Consideraçõe gerais= Caro Inspetor, você teve a ideia de ambientar seu conto num futuro não muito distante, não consegui localizar com precisão. O mundo mudou após a pandemia 19/23, uma nova sociedade surgiu. Nesse mundo um detetive investiga uma morte, se apaixona pela viúva e se torna uma ameaça para o novo Sistema. Esse é o enredo do conto. As ações são na maioria superficiais, o sistema tem pouco conteúdo, é meio confuso, é como o esboço de um desenho que não se enxerga direito o que é. A narração cria uma imagem verbal pouco clara. É necessário melhorar essa parte. Boa sorte.

  11. srosilene
    22 de agosto de 2021

    Penso que a intenção foi boa, mas o conto não me despertou o interesse. Lembrei do livro/filme 1984, um mundo controlado, frio, desumano, ….
    Várias questões pertinentes de reflexões foram abordadas neste conto. Enfim, o
    ser humano não está satisfeito com o mundo e vive criando realidades artificiais, como se a tecnologia e seu universo frio fossem o ideal de vida. Parece que destruir toda forma de vida: animal, vegetal é o seu ideário. Pensamentos que surgiram.

  12. Nelson Freiria
    22 de agosto de 2021

    Ambientação: me senti girando dentro de uma ideia que o autor(a) quis passar, sendo levado de um ponto a outro em seus pensamentos. Até que gostei, mas se girarmos mto tempo, ficamos enjoado.

    Enredo: o conto demora pra engrenar, ficando por tempo demasiado rotacionando em volta de ideias e, apesar de mta coisa ser apresentada assim, pouco é criado em matéria de investigação-policial, que creio ser a temática do conto. Tanto é que no final o caso prescreve aheuaheu anticlímax. Ao final percebemos que giramos em volta de um amontoado de ideias a se passar na cabeça do investigador mas o conto não se agarra a nenhuma delas. É muita indefinição para um só conto.

    Considerações gerais: não quero parecer chato, mas pela maneira como esse futuro é abordado, me parece que o autor(a) tem pouco contato com ficção científica mais moderna. Tanto na forma quanto nas abordagens feitas pelo narrador. Mas pode apenas ser uma sensação minha e eu estar completamente errado.
    Críticas são sempre válidas, mas faltou aquela pitada de pessoalidade no texto nesses momentos.

    “Se Fernandes tivesse uma mulher daquelas fazia-lhe pelo menos uma meia dúzia, todos seguidos.”
    O cara é tão doente que só pensa em fazer 6 boneco na recém viúva.

  13. Welington
    21 de agosto de 2021

    AMBIENTAÇÃO: o conto é ambientado num futuro próximo, onde aparentemente as coisas teriam melhorado. Na contramão da maioria dos contos futurísticos, o autor não fez uma distopia, mas caminhou na direção da utopia. Embora eu tenha achado a ambientação interessante, acho que faltou uma conexão mais robusta com o enredo.

    ENREDO: um conto policial sobre um investigador fechado em valores anacrônicos para o seu tempo, que se vê atraído pela viúva da vítima cuja morte ele investiga.

    ESCRITA: acho que este conto pecou um pouco em coesão. Durante a leitura muita coisa fica solta, “sobrando pelas laterais”. Temos um conto policial sobre a morte do marido de uma mulher que deixou o investigador demasiadamente atraído por ela. Mas qual a relevância da epidemia de covid, do governo mundial das grandes corporações e de todas as outras descrições do cenário? Sinceramente, achei muito legal o teu cenário, mas se o seu foco era desenvolvê-lo deveria ter buscado um tema que demandasse tais informações para o conflito central do conto. Vou falar melhor nas considerações gerais.

    CONSIDERAÇÕES GERAIS: como em toda história futurística – distópica ou utópica – é preciso gastar linhas para revelar o cenário para o leitor. No gênero romance, isto se pode fazer com mais liberdade, o autor desenvolvendo o cenário o quanto quiser, sem necessariamente tais descrições estarem relacionadas ao conflito principal da história. Mas isto, no gênero romance. No gênero conto, tal coisa se torna problemática. Contos sobre futuros distópicos ou, como no seu caso, utópicos, precisam relacionar muito fortemente o conflito principal (e único) do texto com a ambientação. Só assim tudo se torna relevante. Gênero conto tem isso: conflito único, narrativa enxuta. O cenário não é o foco, ele vem a reboque do conflito central do enredo. Nesse conto não consegui perceber a importância das descrições ou do impacto da epidemia de covid 19/23 para o conflito do conto. Tais informações são importantes para oferecer respostas sobre o cenário (Porque a população diminuiu e consequentemente tem emprego e bonança para todos), mas mesmo essas respostas sobre o cenário não são relevantes para o conflito. A sensação que tenho é de que o autor queria desenvolver um cenário futurístico, daí mesclou uma história investigativa a tal cenário. Você está de parabéns pela sua criação e deveria desenvolver teu cenário e tua narrativa no gênero que ela pede, certamente o romance. Ou se for desenvolver um conto nesta ambientação, crie um conflito que demande as informações do cenário.

  14. Priscila Pereira
    20 de agosto de 2021

    Olá, Inspetor!

    Ambientação: Interessante, seria uma utopia ou uma distopia, afinal de contas? Tem um leve toque de investigação criminal, mesmo que o conto gire em torno disso, não sei explicar bem, mesmo sendo, não é.

    Enredo: A investigação é só um pano de fundo para mostrar esse novo mundo pós covid e sua nova ordem mundial. Conheço pessoas que achariam suas teorias muito interessantes…

    Escrita: Me parece que você é estrangeiro, estou certa? Escrita boa, sem percalços.

    Considerações gerais: Não gostei muito do tom conspiracionista do conto, parece que explicou muitas coisas desnecessárias para a história, e nem tem uma história propriamente dita, só um inspetor de polícia que fica obcecado por uma viúva e acaba conquistando ela. Desculpe pelo mau humor 😢

    Boa sorte!
    Até mais!

  15. Simone Lopes de Mattos
    16 de agosto de 2021

    Ambientação: o conto inicia com um quase atropelamento. No final, o leitor volta à cena inicial porque desconfia . Será mesmo que seria um acidente?
    Aos poucos, mesmo com pouca descrição dos cenários, vamos entrando no ambiente da história. Um tempo pós-pandemia, com grande baixa na população. Uma realidade cheia de espaços. Uma sociedade administrada por nova ordem global.
    Enredo: achei adequada a forma como a história é contada. A obsessão dele pela resolução do misterioso acidente, que o seguro tende a considerar suicídio. O envolvimento dele com a viúva muito bonita. Cheguei a considerá-la envolvida, vilã que seria desmascarada. Não era. O vilão era mesmo o novo sistema. No final temos explicações e fica no ar a ameaça à vida do protagonista.
    Escrita: texto fluido e correto.
    Considerações gerais: confesso que me gerou alguma confusão imediata, mas a continuidade da leitura tudo esclarece. O Fernandes foi um personagem bem construído. Acho que fica meio no ar o papel da Marcela.
    Foi ótima leitura. Parabéns

  16. Rubem Cabral
    16 de agosto de 2021

    Olá, Inspetor Lagariça.

    Vamos lá aos

    Ambientação: Regular.

    Creio que um ambiente futuro de vinte anos após uma epidemia de Covid que se prolongou até 2023 geraria algo distinto e interressante, mas que o conto pareceu não aprofundar. Só se nota certo alívio e leveza causado pela diminuição da pressão da superpopulação e seus problemas, mas há pouco mais que isso. Poder-se-iam iventar novas expressões, novos equipamentos, novas filosofias, etc. Até o governo global e supostamente burocrático apareceu muito palidamente.

    Enredo: Regular

    Acompanhamos o inspetor Fernandes, que investiga um suposto suicídio do marido da sra. Marcela (segundo a versão da seguradora), enquanto a viúva alega um acidente.

    Acho que o conto pecou por não investir mais na pesquisa: os fatos relacionados ao suposto acidente/suicídio foram pouco descritos. Não há método ou linha de raciocínio que Fernandes aparentemente siga para tentar provar, Marcela é só beleza, mas também é uma personagem pouco desenvolvida.

    Escrita: Boa

    A escrita é limpa e sem erros aparentes. É correta na descrição dos fatos e nos diálogos. Para meu gosto, poderia ter algumas frases aqui e acolá com construções mais elaboradas, mas, enfim, funciona bem em sua atividade principal: contar a história.

    Considerações gerais:

    Penso que o conto poderia ter explorado mais: se o ponto não era a investigação, pq não detalhou mais o estado burocrático? ou a relação entre Fernandes e Marcela? Se o foco era a investigação, onde estão os detalhes? Pq julgar suicídio o acidente de automóvel? Como o conto foi apresentado, pareceu-me algo leve e quase humorístico, que deu voltas e voltas, sem chegar a uma conclusão ou algo do tipo.

    Boa sorte no desafio!

  17. Victor O. de Faria
    13 de agosto de 2021

    Ambientação: Um conto policial “normal”, com muito cotidiano envolvido em política, caminhando na linha tênue de um texto quase panfletário. Ainda bem que não foi muito a fundo nesse viés.
    Enredo: O tema já diz tudo: muita coisa por explicar. E esse é exatamente o problema. Gostei bastante do início e do fim (apesar de não ter um fim propriamente dito). O problema é o foco. O texto tem dois focos distintos: o protagonista e o mundo. Só que o mundo engole o protagonista. Você poderia ir demonstrando aos poucos como aquele mundo funciona, através das ações do próprio protagonista. Mas o que ocorreu foi o seguinte: “Olha só que interessante esse caso, mas espera um pouquinho que já volto pra ele. Fica aqui com essas explicações da política mundial”… “Beleza, voltamos ao caso. Mas espera mais um pouquinho, assim funciona a administração”. Entende? O conto ficou com o foco prejudicado. Tem muito potencial, mas precisa ser enxugado. Apesar do limite generoso, o que envolve o leitor são os protagonistas. O mundo meio que se constrói “automaticamente” ao redor deles.
    Escrita: Tem certas inseguranças, mas não atrapalhou o andamento. Só tem esses detalhes acima.
    Considerações gerais: Um texto com uma premissa boa, porém mal desenvolvido. Faça alguns cortes, tira a parte panfletária e informe como o mundo funciona através das interações – você fez algumas aqui, que são as melhores partes. Foque nisso e terá um ótimo texto.

  18. ALINE CARVALHO
    9 de agosto de 2021

    Ambientação: Texto longo, mas bem escrito, com uma estrutura e sequencia boa.
    Os personagens refletem bem a situação política brasileira.

    Enredo: O enredo não prende muito a atenção, o climax só foi aparecer no final ( Fernandes era uma ameaça).

    Escrita: Boa ortografia, não encontrei erros de português nem de concordância.

    Considerações Finais: O texto poderia ter uma continuação, Fernandes era uma ameaça, o que aconteceu com ele depois disso?

  19. thiagocastrosouza
    9 de agosto de 2021

    Ambientação: Se passa em um mundo futurista, pós pandemia do COVID-19. Há elementos políticos e tomada do poder por grandes corporações, afundando a narrativa em uma realidade bastante pessimista. Está bem feita.

    Enredo: O conto é bastante casual, inclusive na maneira como apresenta a história. Achei, contudo, que o enredo ficou um pouco inchado, não deixando muitas pistas sobre a história que, de fato, queria contar: passeamos pelos dramas do detetive, sua vida pregressa, os problemas políticos desse futuro incerto, suas amizades, frustrações e obsessões. Todos esses temas se atropelam um pouco, muito pela forma como conduz o texto, de maneira bem explicativa, como se contasse mesmo. Muito é dito e pouco é mostrado. Há, ao longo do texto, poucas ações dos personagens, sendo sempre o narrador a dizer isso ou aquilo sobre eles, o que fadiga um pouco a viagem. O final, entretanto, tem personalidade, mas sem o preparo ideal para recebê-lo, ficou a desejar.

    Escrita: Me repito no que disse sobre o enredo. A escrita é correta, há um tom cômico e irônico, mas ao optar pela descrição, o texto fica carregado demais.

    Considerações Gerais: Gostei do personagem, principalmente, e da forma como enxerga o mundo. Contudo, pela execução, o conto perde um pouco de força e não sabemos qual caminho percorrer com ele, nem qual deseja que percorramos. Isso, num conto policial, acaba ficando muito evidente.

    Grande abraço!

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Publicado às 9 de agosto de 2021 por em EntreMundos - Monstruoso Mistério Aternativo e marcado .
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